Manuel Mamicônio
Manuel Mamicônio (em latim: Manuel; em grego: Μανουήλ; romaniz.: Manouḗl; em armênio: Մանվել; romaniz.: Manvel; m. 385/[1]386[2]) foi um nobre armênio da família Mamicônio, que tornou-se regente da Armênia entre 378 e 385/386. Inicialmente preso na corte imperial sassânida, após ser libertado depois duma derrota persa decisiva frente ao Império Cuchana, retorna à Armênia onde trava guerra contra o então rei Varasdates (r. 374–378) pelo direito de posse do título de asparapetes.
Manuel Mamicônio | |
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Regente armênio | |
Reinado | 378 - 385/386 |
Antecessor(a) | Varasdates (rei) |
Sucessor(a) | Ársaces III (rei) Vologases III (rei) |
Morte | 385/[1]386[2] |
Cônjuge | Vardanois |
Casa | Arsácida |
Pai | Artaxias,[3] Vasaces I[2] ou Musel I[4] |
Religião | Catolicismo |
Com a derrota e posterior fuga de Varasdates, Manuel se auto-proclama regente e eleva ao trono Zarmanducte (r. 378–384), a viúva do rei Papa (r. 370–374), e seus filhos Ársaces III (r. 378–389)[nt 1] e Vologases III (r. 378–386). Nesta posição, após desentender-se com o xá Sapor II (r. 309–379), consegue repelir os ataques sassânidas no país. Mais tarde, quando falece em decorrência de grave doença, lhe sucede no poder Ársaces III.
Biografia
editarA primeira menção a Manuel surge na obra História da Armênia de Fausto, o Bizantino, na qual é citado como filho de Artaxias;[3] segundo Cyril Toumanoff era irmão de Musel I, o filho de Vasaces I,[2] enquanto que para Vahan M. Kurkjian era filho de Musel.[4] Foi preso, junto com seu irmão Comes, por Sapor II, xá do Império Sassânida, e assim permaneceu até a morte de Musel I, em algum momento entre 374 e 378;[3] Entrementes, Manuel e Comes travaram uma batalha em nome dos sassânidas contra o Império Cuchana, mas foram derrotados decisivamente.[9]
Segundo Fausto, ao retornarem à Armênia, a pé, os irmãos foram encontrados por Vache II, que concedeu a Manuel todas suas devidas honrarias, dando-lhe o direito de reivindicar o título de asparapetes, até então ostentado pelos membros de sua família, porém este havia sido concedido pelo rei armênio Varasdates (r. 374–378) para Bátis, seu pai adotivo. Após trocarem cartas hostis, Manuel e Varasdates entraram em guerra e travaram batalha na planície de Carim, onde Varasdates foi decisivamente derrotado.[10] No rescaldo do conflito, o rei foi forçado a fugir[3] ao Império Romano e Bátis, por estar envolvido com o assassinato de Musel I, foi sentenciado a presenciar a execução de seus filhos e a ser decapitado.[9]
Não se atrevendo a abolir a monarquia, Manuel se intitulou regente com o consentimento do xá da Pérsia, proclamando Zarmanducte (r. 378–384), a então viúva do rei Papa (r. 370–374), e seus filhos Ársaces III (como líder sênior) e Vologases III (como líder júnior). Para trazer a paz para o país, Manuel conseguiu reunir diante de si todos os nacarares da Armênia.[9][11] Em seguida, para se aproximarem da Pérsia, a rainha e o regente enviaram à corte sassânida vários nacarares levando presentes para Sapor II que, em retribuição, enviou o marzobã Surena com 10 000 cavaleiros para defender a Armênia, além duma coroa, um manto e o emblema dos reis para Zarmanducte e coroas para Ársaces e Vologases.[12][nt 2]
Contudo, o equilíbrio que lograram alcançar com os dois poderes vizinhos rivais foi precário.[14] Meruzanes I, um membro da família Arzerúnio, invejando o apreço que Sapor II nutria por Manuel, bem como dos inúmeros presentes que ele recebia da Pérsia, tramou um plano contra o príncipe Mamicônio. Fez com que ele acreditasse que Surena planejava matá-lo, o que levou Manuel a atacar e destruir o destacamento de 10 000 cavaleiros persas na Armênia, embora tenha permitido que Surena fosse embora.[12] Como resposta, o oficial Gumando Sapor foi enviado com 48 000 soldados para tomar e arruinar a Armênia, porém quando ainda estava na fronteira foi derrotado e morto por um exército armênio de 20 000 efetivos.[15] Outro oficial, chamado Varazes, foi enviado em seguida com 180 000 tropas, porém este teve o mesmo destino de seu predecessor: com um exército de 10 000, Manuel logrou destruir a parte principal do exército persa e matar Varazes.[16]
Depois desta segunda derrota outro oficial foi enviado, Mircã (Mrhkan), com um exército de 40 000 soldados. Parte da Armênia foi capturada pelos persas e o exército ariano acampou na planície Artandã onde, num ataque noturno, Manuel matou Mircã e capturou muito butim.[17] Essa nova vitória garantiu sete anos de paz à Armênia[18] que só terminaria quando ocorreu uma nova invasão, desta vez sob o comando de Meruzanes. Este rebelou-se contra o rei armênio, convertendo-se ao zoroastrismo e pondo-se a disposição dos persas à captura ou destruição de Manuel. Muitas vezes guiou as tropas iranianas contra a Armênia, trazendo grandes males para o país. Sem a autorização do então xá Sapor III (r. 383–388), organizou um grande exército e marchou contra a Armênia. Uma grande batalha ocorreu no distrito de Bagrauandena, onde Manuel mais uma vez saiu vitorioso e Meruzanes foi decapitado.[19]
Com a conclusão dos combates, a Armênia entra em novo período de paz. Aproveitando a situação, Manuel casou sua própria filha Vardanducte com Ársaces III[20] e uma bagrátida, filha de Isaque I, com Vologases III.[4][21][22] Pouco depois ficou fatalmente doente e veio a falecer em 385[1] ou 386.[2] Após sua morte, Ársaces III assumiu o trono sem regência.[23]
Casamento e filhos
editarCasou-se com Vardanois (Vardanoyš), que Christian Settipani considera uma filha de Vasaces I, que deu-lhe:[3]
- Artaxias, oficial citado em 378;
- Maictes, oficial citado em 378;
- Vardanductex, que casou-se com Ársaces III.
Segundo Cyril Toumanoff, Manuel foi pai de quatro filhos:[2]
- Artaxias / Artavasdes III, que ocupou o ofício de asparapetes de 386 até data desconhecida;
- Maictes, morto c. 386;
- Vardanducte, que casou-se em 379 com Ársaces III;
- Amazaspes I.
- ↑ a b c Sarkisyanz 1975, p. 9.
- ↑ a b c d e f Toumanoff 1990, p. 330.
- ↑ a b c d e Settipani 2006, p. 132.
- ↑ a b c Kurkjian 2008, p. 107.
- ↑ Lenski 2002, p. 185.
- ↑ Hacikyan 2000, p. 184.
- ↑ Kurkjian 2008, p. 113.
- ↑ Adalian 2010, p. 177.
- ↑ a b c Fausto, o Bizantino 1989, V.XXXVII.
- ↑ Yarshater 1983, p. 531.
- ↑ Khazinedjian 2002, p. 116.
- ↑ a b Fausto, o Bizantino 1989, V.XXXVIII.
- ↑ Kurkjian 2008, p. 266.
- ↑ Grousset 1973, p. 158-159.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, V.XXXIX.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, V.XL.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, V.XLI.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, V.XLII.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, V.XLIII.
- ↑ Dédéyan 2007, p. 177.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 339.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, V.XLIV.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, VI.I.
Bibliografia
editar- Adalian, Rouben Paul (2010). Historical Dictionary of Armenia. Lanham, Marilândia: Scarecrow Press. ISBN 0810874504
- Dédéyan, Gérard (2007). História do povo armênio. Tolosa: Éd. Privat. ISBN 978-2-7089-6874-5
- Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachusetts: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvard
- Grousset, René (1973) [1947]. Histoire de l'Arménie: des origines à 1071. Paris: Payot
- Hacikyan, Agop Jack (2000). The Heritage of Armenian Literature: From the Oral Tradition to the Golden Age. Detroit: Wayne State University. ISBN 0-8143-3023-1
- Khazinedjian, Albert (2002). L'Église arménienne dans l'église universelle: De l'Evangélisation au Concile de Chalcédoine. Paris: Editions L'Harmattan. ISBN 2296295630
- Kurkjian, Vahan M. (2008). A History of Armenia. Los Angeles: Indo-European Publishing. ISBN 1604440120
- Lenski, Noel Emmanuel (2002). Failure of Empire: Valens and the Roman State in the Fourth Century A.D. Berkeley e Los Angeles: California University Press. ISBN 978-0-520-23332-4
- Sarkisyanz, Manuel (1975). A Modern History of Transcaucasian Armenia: Social, Cultural, and Political. Leida: Brill (Distribution)
- Settipani, Christian (2006). Continuité des élites à Byzance durant les siècles obscurs. Les princes caucasiens et l'Empire du vie au ixe siècle. Paris: de Boccard. ISBN 978-2-7018-0226-8
- Toumanoff, Cyril (1963). Studies in Christian Caucasian History. Washington: Georgetown University Press
- Toumanoff, Cyril (1990). Les dynasties de la Caucasie chrétienne de l'Antiquité jusqu'au xixe siècle : Tables généalogiques et chronologiques. Roma: Edizioni Aquila
- Yarshater, Ehsan (1983). The Cambridge History of Iran. The Seleucid, Parthian and Sasanid periods. 3(I). Cambridge: Cambridge University Press