Batalha de Zela (47 a.C.)
A Batalha de Zela foi uma batalha travada em 47 a.C. entre as forças da República Romana, lideradas por Júlio César, e as do Reino do Bósforo, lideradas pelo rei Fárnaces II, filho de Mitrídates VI do Ponto, o antigo inimigo de Roma nas Guerras Mitridáticas.
Batalha de Zela | |||
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Segunda Guerra Civil da República Romana | |||
Campanha de César até Zela | |||
Data | 2 de agosto de 47 a.C. | ||
Local | Zela, Reino da Capadócia | ||
Coordenadas | |||
Desfecho | Vitória decisiva dos cesarianos | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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Localização de Zela no que é hoje a Turquia | |||
Contexto
editarDepois de sua vitória na Batalha do Nilo, César viajou com uma de suas legiões veteranas, a VI Ferrata[3], bastante experiente por anos de contínuas batalhas[4], na época com apenas 1 000 homens[3][5], para enfrentar Fárnaces II, do Reino do Bósforo, que aproveitou a guerra civil romana para invadir o Reino da Capadócia, a Armênia Parva e a província romana do Ponto[6], um território que no passado havia sido de seu pai, o rei Mitrídates VI do Ponto, derrotado décadas antes por Pompeu e Lúculo na Terceira Guerra Mitridática[7].
Ao saber que o governador romano da Ásia, Cneu Domício Calvino, havia sido forçado a enviar duas de suas três legiões para ajudar César no Egito[8] no final de 48 a.C., Fárnaces invadiu o território romano e derrotou Calvino na Batalha de Nicópolis[9][10], ocupando posteriormente todo o território, uma ocupação marcada por saques e abusos contra a população e, especialmente, contra os romanos[1][11].
César partiu do Egito em 7 de junho de 47 a.C., zarpando de Alexandria rumo a Antioquia e dali para a Anatólia[12]. No caminho, César soube que a situação era crítica em Roma, administrada pelo seu legado Marco Antônio, e, por isso, tinha pressa para terminar a campanha no oriente[13]. Seu exército foi reforçado por tropas alistadas entre os reinos aliados na região[13], como foi o caso da Legio XXII Deiotariana, formada por recrutas do Reino da Galácia (Deiótaro foi obrigado a ajudar por ter se aliado antes aos pompeianos)[1][14]. César conseguiu resolver facilmente os conflitos latentes na Síria, Cilícia e Ásia, intocadas pela invasão de Fárnaces[13], e deixou a região sob o comando de seu parente Sexto Júlio César[15]. Chegando ao Ponto, César unificou sua legião (a VI Ferrata) com os auxiliares locais e os sobreviventes da Batalha de Nicópolis[3]. Fárnaces ainda tentou negociar uma saída diplomática, mas foi rechaçado por César[16].
Fárnace então ocupou e fortificou as colinas perto de Zela[17], um local onde seu pai havia vencido uma batalha em 67 a.C., esperando repetir o mesmo sucesso. César acampou a cerca de oito quilômetros de distância e, na noite de 31 de julho, ordenou que suas forças se aproximassem secretamente das posições inimigas[1][18].
Batalha de Zela
editarDepois de dias de mútua vigilância, Fárnaces, alardeando seu desprezo pelas tropas romanas, dispôs em formação seu exército enquanto César e sua primeira linha estavam de frente para suas trincheiras e o resto estava trabalhando nas fortificações do acampamento, deixando sua forte posição defensiva nas colinas que circundavam o vale[10]. César ordenou que os trabalhos fossem abandonados e dispôs todo seu exército em formação de batalha[19]. A batalha começou e a VI Ferrata conseguiu defender sua posição na ala direita romana; pouco depois, o flanco esquerdo e o centro do exército de Fárnaces foram postos em fuga com pesadas baixas; o flanco direito foi cercado. Todas as forças de Fárnaces foram mortas ou capturadas e somente suas coortes mais leais permaneciam na reserva em seu acampamento fortificado. Contudo, elas pouco puderam fazer diante do poderoso assalto romano que se seguiu[20] e uns poucos sobreviventes fugiram em desordem colina abaixo[21].
Eventos posteriores
editarA parte de seu exército estava morto ou capturada, mas ainda assim Fárnaces conseguiu fugir[20] com mil cavaleiros para Sinope. Fárnaces recrutou mercenários citas e sármatas em Teodósia e Panticapeu, mas foi derrotado e morto por Asandro depois de quinze anos no trono[1][22]. Calvino foi incumbido de perseguir os sobreviventes com a cavalaria ligeira[23][24] enquanto César repartia o butim amealhado entre seus soldados. Depois de dispensar os auxiliares de Deiótaro, César enviou a VI Ferrata de volta para a Itália e deixou duas legiões no Ponto sob o comando de Célio Vinciano[23]. Depois disto, marchou pela Galácia e pela Bitínia reorganizando o governo destas regiões. Mitrídates de Pérgamo, seu fiel aliado na campanha do Egito, recebeu o trono do Reino do Bósforo, que era de Fárnaces II. Terminada a reforma, César finalmente voltou para Roma[25][26].
A campanha contra Fárnaces durou apenas cinco dias. Foi tão rápida e contundente que Plutarco conta que César teria dito "Veni, vidi, vici", uma de suas frases mais famosas[27].
Porém, a guerra civil ainda não havia acabado, pois os pompeianos sobreviventes da Batalha de Farsalos formaram um novo exército na África Velha.
- ↑ a b c d e f Overy, Richard (2014). A History of War in 100 Battles. Oxford University Press, pp. 90. ISBN 9780199390717.
- ↑ a b Brice, Lee L. (2014). Warfare in the Roman Republic: From the Etruscan Wars to the Battle of Actium. Santa Bárbara: ABC-CLIO, pp. 38. ISBN 9781610692991.
- ↑ a b c Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 69.
- ↑ Sheppard, 2009: 84-85
- ↑ Sheppard, 2009: 30
- ↑ Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, caps. 34, 41.
- ↑ Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 35.
- ↑ Sheppard, 2009: 23, 84-85, 87
- ↑ Sheppard, 2009: 87
- ↑ a b Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 74.
- ↑ Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 41.
- ↑ Sheppard, 2009: 20, 86-87
- ↑ a b c Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 65.
- ↑ Aulo Hírcio, De bBello Alexandrino, cap. 67.
- ↑ Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 66.
- ↑ Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 70.
- ↑ Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 72.
- ↑ Aulo Hírcio, De bBello Alexandrino, cap. 73.
- ↑ Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 75.
- ↑ a b Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 76.
- ↑ Goldsworthy, 2007: 446-447
- ↑ Apiano, De Bello Mithridatico, cap. 120.
- ↑ a b Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 77.
- ↑ Sheppard, 2009: 23
- ↑ Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 78.
- ↑ Tucker, Spencer C. (2009). A Global Chronology of Conflict: From the Ancient World to the Modern Middle East. Santa Bárbara: ABC-CLIO, pp. 127. ISBN 9781851096725.
- ↑ Plutarco, Vidas Paralelas, Vida de Júlio César 50.
Bibliografia
editar- Aulo Hírcio (1982). Muniáin, José Goya; Balbuena, Manuel, eds. Julio César: La guerra civil. De bello Alexandrino (em espanhol). Barcelona: Ediciones Orbis
- Goldsworthy, Adrian (2007). Lorenzo, Teresa Martínez, ed. César: la biografía definitiva (em espanhol). Madrid: Editorial La Esfera de los Libros
- Sheppard, Si (2009) [2006]. Ros, Eloy Carbó, ed. César contra Pompeyo. Farsalia (em espanhol). Barcelona: Osprey Publishing
Ligações externas
editar- «Zela» (em inglês). Livius.org