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O Espírito amplia nossa tenda: Pneumatologia e famílias carismáticas
O Espírito amplia nossa tenda: Pneumatologia e famílias carismáticas
O Espírito amplia nossa tenda: Pneumatologia e famílias carismáticas
E-book258 páginas3 horas

O Espírito amplia nossa tenda: Pneumatologia e famílias carismáticas

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Sobre este e-book

Nesta obra, o padre claretiano José Cristo Rey García Paredes adentra as nuances da história da vida religiosa e consagrada, desde os turbulentos anos após o Concílio Vaticano II até os dias atuais. Neste período de crise e renovação, vemos não apenas a sobrevivência, mas o florescimento de uma nova compreensão do papel do Espírito Santo na vida da Igreja e na missão dos fiéis. Padre Paredes, por meio de sua já consagrada escrita envolvente e erudita, nos apresenta o conceito de "carisma compartilhado", desafiando as fronteiras tradicionais da vida religiosa e se estendendo a todos os cristãos, de todas as formas de vida e confissões. Esta obra lança luz sobre como os carismas concedidos à vida consagrada não se limitam apenas a seus membros, mas se estendem a uma ampla gama de fiéis, criando uma rede interconectada de "famílias carismáticas". Analisando profundamente a pneumatologia bíblica e histórica, o autor nos conduz à redescoberta do Espírito Santo, desde os primórdios do cristianismo até os dias atuais, examinando o papel vital dos fundadores e fundadoras na formação e transmissão dos carismas que permeiam a vida consagrada, ao passo que nos convida a contemplar o chamado do Espírito para ampliar nossas tendas e abraçar uma nova visão de comunidade eclesial.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de jun. de 2024
ISBN9786557071052
O Espírito amplia nossa tenda: Pneumatologia e famílias carismáticas

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    Pré-visualização do livro

    O Espírito amplia nossa tenda - José Cristo Rey García Paredes

    Sumário

    Lista de siglas

    Introdução

    Capítulo 1 – A sagrada ruah – Do Gênesis aos profetas e aos salmistas

    Capítulo 2 – O Espírito de Jesus é derramado sobre toda a carne

    Capítulo 3 – Eu creio no Espírito Santo – A Pneumatologia do Primeiro Milênio e da Idade Média

    Capítulo 4 – Pneumatologia desde o Vaticano II – Implantação e modalidades

    Capítulo 5 – O Espírito Santo no diálogo ecumênico e inter-religioso

    Capítulo 6 – Liderança carismática – Perspectiva antropológica

    Capítulo 7 – Fundadores e seguidores – Perspectiva pneumatológica

    Capítulo 8 – O carisma ampliado na missão: ministério colaborativo

    Capítulo 9 – Espiritualidade compartilhada com outras formas de vida

    Capítulo 10 – A terra continua seca! O sonho de um novo amanhecer

    Conclusão

    Siglas

    AA Apostolicam Actuositatem

    AG Ad Gentes

    CIC Catecismo da Igreja Católica

    DV Dei Verbum

    GS Gaudium et Spes

    LG Lumen Gentium

    PO Presbyterorum Ordinis

    SC Sacrosanctum Concilium

    UR Unitatis Redintegratio

    VC Vita Consecrata

    VD Dominum et Vivificantem

    Introdução

    Um estranho fenômeno está ocorrendo na vida da Igreja contemporânea pós-conciliar e, dentro dela, na vida consagrada. O que, por um lado, parece ser decadência, crise, perda de sentido, abandono, está sendo compensado por novos horizontes que estão se abrindo. Aqueles anos imediatamente após a conclusão do Concílio Vaticano II foram terríveis, quando a vida religiosa entrou em uma profunda crise. Muitos religiosos e religiosas deixaram seus institutos ou, conforme o caso, o sacerdócio, e até mesmo se separaram da Igreja. Depois desses anos críticos, nos acostumamos a ser uma minoria, a envelhecer e também a desaparecer.¹ Essa foi uma verdadeira revolução. E o motivo foi – e isso pode ser uma surpresa, especialmente para aqueles que mais criticaram o Concílio e se opuseram a ele – que a Igreja era, é e continuará sendo uma sociedade forte: Sociedades fracas e decadentes estão livres de revoluções… As revoluções são, perversamente, um sintoma de força e juventude nas sociedades

    A esse estranho fenômeno, quase imperceptivelmente, juntou-se outro: a percepção gradual de que os carismas com os quais a vida religiosa foi agraciada não foram dados apenas a essa forma de vida cristã, mas também a indivíduos de outras formas de vida cristã (casados, leigos, de todos os continentes…), ou de confissão cristã (anglicanos, luteranos…), ou mesmo de outras religiões. Gradualmente, esse fenômeno, que batizamos de carisma compartilhado, começou a tomar forma.

    Os institutos de vida consagrada que, por um lado, se viam diminuídos, menos capazes de tornar presente e continuar no mundo o carisma de seus fundadores e fundadoras, descobriram com alegria e esperança esse grupo crescente de leigos e até de sacerdotes diocesanos, que se identificavam com o carisma de um ou outro instituto religioso, desejavam aderir à sua espiritualidade e colaborar em seus diaconatos ou serviços missionários. Assim, chegamos ao momento atual, em que não falamos mais apenas de institutos religiosos ou de congregações de vida consagrada, mas também de famílias carismáticas.

    É um fenômeno eclesial crescente, a ponto de o grupo de leigos que aderem ao nosso modo carismático de entender a vida e servir à sociedade ser numeroso e crescente. Até mesmo aqueles que deixaram nossos institutos estão retornando para continuar vivendo e agindo de acordo com o carisma, a partir de uma perspectiva diferente.

    Nos institutos de vida consagrada, o nós carismático está crescendo. E descobre-se que os carismas concedidos à vida consagrada (ou seja, à forma de vida caracterizada pela profissão dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência) e que a configuraram como ordens, congregações ou sociedades religiosas, também têm outros destinatários (leigos, casais, ministros ordenados e até mesmo pessoas de outras religiões ou crenças que se identificam com eles).

    A profecia de Isaías, que serve como leitmotiv para o atual processo sinodal sobre sinodalidade, ilumina e dá ímpeto ao fenômeno do carisma compartilhado e do ministério colaborativo. Trata-se de Isaías 54,2-7:

    Amplia o espaço da tua tenda, desdobra sem constrangimento as telas que te abrigam, alonga tuas cordas, consolida tuas estacas, pois deverás estender-te à direita e à esquerda; teus descendentes vão invadir as nações, povoar as cidades desertas. Nada temas, não serás desapontada. Não te sintas perturbada, não terás do que te envergonhar, porque vais esquecer-te da vileza de tua mocidade. Já não te lembrarás do opróbrio de tua viuvez, pois teu esposo é o teu Criador: chama-se o Senhor dos exércitos; teu Redentor é o Santo de Israel: chama-se o Deus de toda a terra. Como uma mulher abandonada e aflita, eu te chamo. Pode-se repudiar uma mulher desposada na juventude? – diz o Senhor, teu Deus. Por um momento eu te havia abandonado, mas com profunda afeição eu te recebo de novo.

    Está chegando a hora de uma nova esperança para a Igreja e para a vida consagrada (ordens, congregações e comunidades): ampliem o espaço de sua tenda! Tinjam o rosto de toda a Igreja com carismas! Não somos os únicos herdeiros do carisma dado pelo Espírito aos nossos fundadores e fundadoras. Há outros destinatários, com os quais precisamos nos conectar. Esse é o nosso desafio. Ainda podemos acender outras fogueiras com o nosso fogo. Não se trata de uma questão de amizade, de simples colaboração, mas de impregnação carismática pela presença e pelo poder do Espírito Santo.

    A lógica do Espírito não é a nossa lógica. A pobreza pneumatológica da teologia e até mesmo da espiritualidade pode nos transformar em uma Igreja binária, e não em uma Igreja trinitária. É por isso que o objetivo deste livro é recuperar, juntamente com a teologia e a cristologia, a pneumatologia, ou o tratado sobre o Espírito Santo. Tentei antecipar esse projeto em três de meus últimos livros: Cúmplices do Espírito, o novo paradigma da Missão; Outra comunidade é possível sob a liderança do Espírito; O que o Espírito uniu: casamento e família no século XXI.

    O projeto atual tenta se concentrar em dois momentos: a revelação do Espírito Santo na Palavra de Deus (Antigo e Novo Testamentos) e a receptio da revelação e da presença do Espírito nos dois mil anos de história da Igreja, desde os tempos pós-apostólicos até os dias atuais, com ênfase especial no hoje.

    Em um segundo momento, analisaremos a vida consagrada de hoje e o fenômeno das famílias carismáticas sob o olhar e o instinto do Espírito Santo. O Espírito Santo está remodelando a Igreja e as comunidades humanas. Ele sonha com o nosso planeta como a casa comum. Por essa razão, na Igreja, agora, normalmente falamos de diálogo de vida, seja em termos ecumênicos, inter-religiosos ou culturais; e também de carisma compartilhado, de ministério carismático colaborativo ou de diaconias carismáticas.

    Ou é apenas uma adaptação astuta e estratégica aos novos tempos, ou talvez a misteriosa Presença do Espírito de Deus Pai e de Jesus esteja por trás de todo esse movimento?

    * * *

    É a essa misteriosa Presença que quero me referir neste livro. Sem percebermos isso tão claramente, estamos entrando na era dos cúmplices do Espírito.³ Além do batismo sacramental, nos é proposto um batismo carismático com várias modalidades, e uma delas – a que afeta a vida consagrada na Igreja – é o batismo que gera famílias em um determinado carisma e seus diaconatos ou ministérios.

    A vida consagrada em suas formas mais antigas – como o monasticismo – tinha seu centro em Deus: a paixão por Deus. A vida consagrada em suas formas medievais e modernas colocava o seu centro em Cristo Jesus, sob as mais variadas perspectivas: a paixão por Cristo. A vida consagrada contemporânea descobre cada vez mais a presença e a ação do Espírito que renova tudo: a paixão pelo Espírito dá origem a novas formas de missão, de experiência espiritual e ao fenômeno específico das famílias carismáticas.

    Com este livro, pretendo recuperar a memória do Espírito em toda a sua extensão. Convido os leitores a não terem pressa, mas a contemplarrem a revelação do Espírito de Deus e de Jesus do início ao fim. Para relerem toda a nossa teologia a partir da Pneumatologia ou do tratado sobre o Espírito e o santo. O Espírito Santo pode ser encontrado no mundo espiritual, invisível, mas não menos real por isso.

    A vida consagrada também sofre de anemia espiritual quando, por ser muito cristocêntrica, se esquece daquele movimento em direção ao Espírito que Jesus nos pediu na Última Ceia: Convém a vós que eu vá! (Jo 16,7).

    Depois de muita reflexão, intitulei este livro como O Espírito amplia nossa tenda: pneumatologia e famílias carismáticas. Nossa tenda sempre foi muito estreita. Era a tenda da Regra, das Constituições. Depois do Concílio, nos acostumamos a dizer a nós mesmos que a norma última da vida religiosa é o seguimento de Cristo como nos é proposto no Evangelho, e que essa norma deve ser aceita por todos os Institutos como sua regra suprema (Perfectae Caritatis, 2, a).

    Sem negar isso, acredito que precisamos ampliar ainda mais a tenda. O Evangelho hoje está nas mãos do nosso Conselheiro do Evange lho, do nosso Paráclito do Evangelho, que é o Espírito Santo de Deus Pai e de Jesus. Um certo cristomonismo levou a vida consagrada – em seus processos formativos, espirituais e apostólicos – à unilateralidade e ao esquecimento do Espírito Santo. Por exemplo, os conselhos evangélicos eram mais como normas constitucionais a serem obedecidas do que como encontros com o Espírito de Jesus, nosso Conselheiro. A vida evangélica que afirmávamos viver, pessoal, comunitária e apostolicamente, tinha pouco a ver com a presença e a ação do Espírito Santo.

    Dividirei a minha reflexão em quatro partes: as duas primeiras se referem à pneumatologia bíblica e histórica – desde os primeiros séculos do cristianismo até o presente; e as duas últimas tratam da origem dos carismas da vida religiosa ou consagrada, sob a inspiração e o protagonismo do Espírito Santo e da sua extensão no fenômeno – até certo ponto já antigo, mas agora muito atual – das famílias carismáticas. Nesse fenômeno, descobrimos uma nova reconfiguração eclesial, que o Espírito Santo nos oferece.

    I. Revelação progressiva do Espírito Santo: Do Gênesis ao Apocalipse.

    II. A receptio eclesial da revelação do Espírito Santo: Desde o início até hoje.

    III. O Espírito na vida consagrada: Fundadores, seguidores, carisma.

    IV. Ampliar a tenda – Famílias carismáticas na missão e na diaconia.

    Na Igreja Católica, acreditamos firmemente que o principal e grande autor de todos os livros que compõem a Sagrada Escritura ( Antigo e Novo Testamentos) é o Espírito Santo. Os vários autores particulares escreveram Divino Afflante Spiritu.⁴ A chave interpretativa para compreender o significado de cada texto bíblico deve, portanto, ser hermenêutica do Espírito. Ele é o autor principal, que nos permitirá entender o que há de mensagem divina em cada texto para cada época e também para o nosso tempo atual. O Espírito torna contemporâneos textos, mensagens, profecias e orações que surgiram em espaços culturais estranhos a nós e em épocas muito distantes. Essa convicção nos permite ir além da mera hermenêutica arqueológica e ter acesso à hermenêutica do Espírito hoje.

    O recurso à Sagrada Escritura – a partir da harmonia dos dois Testamentos – enriquece e remodela a vida consagrada. A visão holística nos ajuda a descobrir o escondido, a encontrar a pérola de grande valor ou tesouro. É assim que a Palavra de Deus amplia os nossos horizontes e perspectivas e nos leva a captar com maior discernimento e entusiasmo o fenômeno contemporâneo das famílias carismáticas, que reconfigura a Igreja e a sociedade.

    Passemos da arqueologia bíblica para a hermenêutica do Espírito. O importante para nós não é o que Deus disse em tempos passados, mas o que Ele nos diz hoje com base nesses textos! Foi isso o que Jesus fez na sinagoga de Nazaré: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir (Lc 4,21).

    Como ouvimos hoje a voz do Espírito nas Escrituras? O que é próprio da hermenêutica do Espírito é que nós, crentes, leiamos os textos como Escritura. Uma vez que tenhamos feito uma exegese responsável (ou que estejamos no processo de fazê-la), como podemos esperar que o Espírito aplique o texto a nossas vidas e comunidades?

    Capítulo 1

    A sagrada ruah

    Do Gênesis aos profetas e aos salmistas

    Há muitas gêneses na história humana e em nossas histórias pessoais. A vida consagrada emerge na história da Igreja com as características de uma pequena gênese, que, pouco a pouco, se consolida e dá origem, com o passar do tempo, a um dos institutos de vida consagrada que a Igreja posteriormente reconhece e aprova. O Espírito é sempre o Espírito das origens, o Espírito criador. É assim que o Espírito se revela a nós em todos os processos criativos. Este capítulo nos mostra como o Espírito é o Spiritus Creator e está sempre presente na origem, mas também é o Espírito que torna a existência sustentável e impede que ela caia no nada. Foi assim que os profetas o apresentaram. É assim que os orantes rezavam em seus salmos.

    I. O espírito da origem

    De acordo com o livro do Gênesis, o Espírito Santo estava presente no início da criação: O Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gn 1,2); e o salmista confirmou isso quando exclamou: Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e pelo sopro (ruah) de sua boca todo o seu exército (Sl 32,6).

    Toda vida brota do Espírito criador de Deus (Zc 12,1). A vida não é posse do homem, é posse de Deus, e sua duração depende dele: Meu espírito não permanecerá para sempre no homem, porque todo ele é carne, e a duração de sua vida será só de cento e vinte anos (Gn 6,3).

    É por isso que Ele também está presente na origem da vida consagrada e quando a vida consagrada precisa emergir do caos sem forma. E o Espírito é também o Espírito de liderança, que conduz seu povo por meio de seus líderes. E é também o Espírito profético, que conecta o Mistério de Deus com a história humana e liberta o seu Povo da pior escravidão e do exílio, quando foi chamado a possuir a terra.

    A vida consagrada e as famílias carismáticas já encontram na revelação da primeira Aliança as chaves decisivas para interpretar seu momento histórico e animar suas esperanças.

    Estamos interessados nos textos bíblicos não apenas por causa do que eles nos ensinam sobre história ou ideias antigas, mas porque esperamos compartilhar o tipo de experiência espiritual e relacionamento com Deus que descobrimos nas Escrituras.

    II. O nome do Espírito

    Precisamos, porque é assim que somos, imaginar o Espírito. É por isso que a revelação do primeiro ao último livro do Antigo Testamento emprega a melhor pedagogia: pouco a pouco nos é revelado quem é o Espírito. E para isso é escolhido um nome: ruah. E então nos são dados exemplos da ação do Espírito nos seres humanos.

    1. O termo hebraico ruah

    O nome do Espírito, na língua hebraica, é ruah. É um termo muito frequente nos livros do Antigo Testamento: aparece 398 vezes. Os estudiosos atribuem vários significados fundamentais a ele: vento, força vital – ou princípio vital – e o poder vivificante de Deus, por meio do qual Ele age e faz agir.

    Desde sua origem etimológica, a palavra hebraica ruah aponta para a relação íntima entre espírito e vida. ruah significa um movimento de ar surpreendentemente forte, o ímpeto do vento ou da respiração e, portanto, o ar para respirar ou a atmosfera necessária para a vida. Sem ruah, há morte. O mero significado lexical não é suficiente para determinar o significado real de ruah. É necessário conhecer o uso real da palavra. A palavra espírito tem significados diferentes na Bíblia, de acordo com o contexto em que é usada: ora significa vento (Jo 3,8; At 2,1-4.6); ora o sopro de Deus, que transmite a vida (Ex 15,8-10; Sl 33,6); ora o sopro da pessoa, princípio e sinal de vida (Gn 7,22).

    Ruah também se refere à inspiração necessária para realizar uma criação artística. Para os hebreus, era o princípio vital dos corpos ou da realidade criada, a energia da vida.

    Na mesma linha, os filósofos gregos do estoicismo entendiam o pneuma (espírito) não como uma realidade separada dos corpos ou da matéria, mas como aquela realidade que tem um fantástico poder de penetração na matéria, concebida como porosa: No estoicismo, o próprio Deus, ou o divino, é concebido como um espírito que parece às vezes impessoal e às vezes personalizado.

    É interessante notar, além disso, que a palavra hebraica ruah é um substantivo feminino, embora às vezes seja usada como masculino, especialmente quando a ruah é uma força violenta, como o vento destruidor do Oriente, ou o poder que domina o profeta. Como diz uma das maiores especialistas nesse assunto, Helem Schüngel-Straumann: Um poder violento e destrutivo não poderia ser expresso no feminino.⁹ Onde quer que o significado esteja relacionado à ação criativa, à vida, à energia criativa e espiritual, ruah é, sem dúvida, usado em sua forma feminina.¹⁰ O Espírito Santo que aparece no Salmo 51,13 se refere ao Espírito de Deus. Em quase todos os contextos teológicos, ruah significa energia vital, dinâmica, criativa e entusiasmada.¹¹

    2. Um ser divino sem definição

    Na revelação bíblica, o Espírito Santo aparece como um ser divino sem definição. Seu nome é ruah, pneuma, spiritus. Essas palavras – em diferentes idiomas – falam não apenas do vento ou do sopro, mas, acima de tudo, da força e da

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