A Rebelião de 1924 em Manaus
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A Rebelião de 1924 em Manaus - Eloína Monteiro dos Santos
Sumário
CAPA
FOLHA DE ROSTO
PREFÁCIO
APRESENTAÇÃO – 4ª edição
INTRODUÇÃO
MANAUS, POLO ECONÔMICO DO ESTADO DO AMAZONAS
A coleta das drogas do sertão
A borracha na vida econômica de Manaus (1880 -1920)
A crise da borracha: Suas manifestações em Manaus, na década de vinte
A POLÍTICA NO AMAZONAS (1910-1924)
As facções em disputa pelo poder: debates por meio dos periódicos
As sucessões no governo do estado
A sucessão de 1920
A sucessão de 1924
A REBELIÃO NO PROCESSO DAS CONTESTAÇÕES TENENTISTAS
As articulações do movimento de 1924
Os militares aquartelados na Amazônia
A REBELIÃO, SUA EXPANSÃO – ADMINISTRAÇÃO DO TENENTE RIBEIRO JÚNIOR
A eclosão da rebelião em Manaus: A liderança militar
A expansão da rebelião para a região de óbidos
A administração do tenente Ribeiro Júnior (24 de Jul. - 28 Ago. 1924)
AS RELAÇÕES MILITARES-CIVIS DURANTE O CONFLITO
A Atuação e o apoio civil ao movimento
O comportamento da imprensa de Manaus: Jornal do Povo e a liberdade
Jornal do Povo
A Liberdade
A REPRESSÃO E A INTERVENÇÃO FEDERAL
A repressão – Forças do destacamento do norte
A intervenção federal no Amazonas (1924-1925)
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Mensagens do Governo do Estado
Discursos dos líderes militares rebeldes
Discursos de civis contemporâneos à rebelião
Relatórios militares do exército e da marinha
Boletins e correspondências das forças do destacamento do norte, 1ª secção do Estado-maior
TELEGRAMAS – 2ª seção do Estado-Maior
PERIÓDICOS
REFERÊNCIAS GERAIS
REFERÊNCIAS ESPECÍFICAS
ANEXO BIOGRÁFICO
DISCURSOS
Proclamação (dos oficiais da Rebelião de 1924, em Manaus)
Discurso proferido pelo 1º tenente Cardoso Barata ao Bacharel Mário do Rego Monteiro
1º Discurso proferido pelo 1º tenente Alfredo Augusto Ribeiro Júnior – Ao Povo Amazonense
2º Discurso proferido pelo 1º tenente Alfredo Augusto Ribeiro Júnior – Palavras Necessárias
NOTAS
CRÉDITOS
Ao Paulo Martins Dias,
meu companheiro, cujo incentivo foi
determinante para que este trabalho
assumisse a forma de livro.
PREFÁCIO
Este trabalho, originalmente uma dissertação de mestrado, representa um resultado do esforço que vem sendo desenvolvido no país, com a finalidade de promover a pesquisa histórica e sua necessária divulgação. Nesse particular, os cursos de pós-graduação, ao incentivarem a pesquisa, têm desempenhado um papel relevante, favorecendo um conhecimento mais amplo de nossa história a partir de uma metodologia científica e elaborada dentro dos padrões estabelecidos pela comunidade acadêmica.
A Rebelião de 1924 em Manaus, de autoria de Eloína Monteiro dos Santos, no entanto, não é apenas um exercício acadêmico; trata-se, também, de uma contribuição efetiva para o conhecimento de um momento da história da República. Constitui um trabalho original, desenvolvido segundo os rigores de uma metodologia fundada na seleção, análise e interpretação de fontes históricas pouco divulgadas. Tem a autora o cuidado de fundamentar suas proposições em fontes históricas, as quais são dadas a conhecer ao leitor. Tem, ainda, a qualidade de despertar a atenção para uma série de questões que preocupam atualmente a historiografia brasileira.
O recorte regional deste estudo pode proporcionar ao leitor a sugestão da realização de trabalhos comparativos com eventos da mesma natureza ocorridos em outras regiões. Oferece, além do mais, subsídios à questão da história regional, cujo debate se renova constantemente entre os historiadores. O tema, pela sua natureza, não tem a característica de ser propriamente regional
. O movimento de 1924 teve amplitude nacional, uma vez que o questionamento maior, proposto pelos seus dirigentes, era feito contra o Estado como um todo, na sua excessiva centralização de poder e na preponderância de suas oligarquias. Tanto é assim que as lideranças militares que participaram da Rebelião de Manaus não estavam vinculadas à sociedade amazonense por laços de origem e a sua atuação em Manaus deve ser entendida mais como decorrente de sua condição de militares do que visando à concretização de uma política local. No entanto, a Rebelião de Manaus adquiriu uma expressão regional, não só por razões estratégicas que são demonstradas pela autora, mas também pela participação de forças sociais locais. Dessa maneira, ocorreu uma relação entre o local e o nacional, conforme está demonstrado neste texto, permitindo o enriquecimento do debate da questão regional.
Quanto à temática, o estudo de uma rebelião de militares, que, de certa maneira, encontrou eco no interior da população amazonense, permite que sejam tratadas questões de interesse vital para o conhecimento histórico da Primeira República. Entre tais questões, situa-se a do lugar ocupado pelos militares na sociedade brasileira, seu papel diante do Estado, bem como a da própria organização do Estado brasileiro nesse momento histórico. A autora, ao tratar da questão não se ateve ao evento na sua expressão meramente factual, mas, analisou-o no seu contexto histórico, ou seja, no contexto da sociedade amazonense da década de 1920. A Rebelião de Manaus adquire assim um significado específico. Vista desta maneira, a análise do evento de 1924, que colocou momentaneamente os militares no poder do Estado do Amazonas, possibilita o aprofundamento de algumas questões relativas à administração estadual e ao relacionamento do Estado com a Federação.
Os discursos pretensamente revolucionários dos militares rebeldes, utilizados no texto, podem ter um caráter meramente reformista, às vezes com caráter populista. O revelador, no entanto, é que suas proposições, dirigidas em geral aos próprios militares, continham também um apelo às classes populares ao povo amazonense
; havia, de resto, uma preocupação em divulgar essas proposições não apenas entre militares, utilizando-se, para tanto, dos meios de divulgação existentes na época. É importante lembrar o efeito produzido pela divulgação das informações expedidas por boletins, ordens do dia e notícias de jornal. Apesar das limitações de tais leituras, decorrentes da situação vivida pela sociedade brasileira do momento histórico em estudo, elas eram acompanhadas pela rápida circulação das informações orais, muitas vezes geradoras de boatos, favorecidos pelos ajuntamentos de pessoas, próprios de momentos de tensão social. Nesse particular, a documentação utilizada permite identificar a presença e a atuação da massa popular, não apenas como receptora daquelas informações mas como a destinatária de apelos nelas existentes, por se tratar de um setor importante, apesar de desarmado e não organizado e cujo apoio era necessário para o sucesso do movimento. Aqui se situa uma certa originalidade do movimento de Manaus. Os discursos, impregnados de apelos ao povo amazonense
, podem ainda proporcionar ao leitor subsídios para o conhecimento daquilo que se passa em nível local, no que se refere à história da população urbana diante dos eventos da década de 1920, e, de modo particular, da cidade de Manaus, centro de destaque pelas suas funções comerciais e político-administrativas e cuja importância estratégica é reafirmada pelos acontecimentos de 1924.
Por tais razões, A Rebelião de 1924 em Manaus, embora analise um acontecimento local, trata de forma mais abrangente a um evento nacional, merecendo assim a sua ampla divulgação, não apenas junto à comunidade acadêmica, mas entre todos aqueles que se interessam pelo estudo da História do Brasil Contemporâneo.
Assis, 19 de abril de 1985.
Anna Maria Martinez Corrêa
APRESENTAÇÃO – 4ª edição
Em tempos remotos cabia aos rapsodos manter a memória de seu povo. Num exercício de grande esforço intelectual , assimilavam, contavam e cantavam os fatos e feitos de sua história, como uma forma de manter vivo o passado – especialmente a lembrança daqueles homens que se destacaram pela coragem e nobreza de seus atos. O poeta grego Homero personifica a figura desses aedos – guardiões das reminiscências de sua gente. Sua obra é um testemunho dos triunfos e fracassos de uma civilização para se firmar e manter viva.
Escribas da memória, os historiadores ocuparam o lugar dos velhos rapsodos. Desenvolveram métodos e técnicas de pesquisa para estudar de forma rigorosa os acontecimentos históricos, despojando-os dos elementos fantasiosos e mágicos. Apesar dessas mudanças, não é outra missão dos estudiosos da História senão salvar o passado do esquecimento – documentá-lo e recuperá-lo para iluminar o presente, para que sirva de reflexão e exemplo no processo de construção do futuro.
O trabalho da professora Eloína Monteiro dos Santos é afirmativo desse compromisso que todo historiador deve ter com o fazer histórico de seu país. A Rebelião de 1924 em Manaus é um testemunho vívido de um dos episódios sociais mais importantes do século XX no Brasil, especialmente por suas consequências históricas. O país não foi mais o mesmo depois da saga tenentista. Não seria exagerado afirmar que a sociedade brasileira contemporânea nasceu das entranhas desse tempo de conflitos e esperanças, em que o novo e o velho se entrecruzaram gerando uma nova realidade política.
O mérito da pesquisa da professora Eloína Monteiro está em recuperar para a memória histórica nacional um dos momentos mais edificantes e generosos da vida política brasileira. O triunfo dos revolucionários de 1924 em Manaus é exemplar – afirmativo o anseio de mudanças personificado pelos jovens tenentes que aceitam o desafio da transformação social do país. A autora situa o movimento liderado por Ribeiro Júnior no contexto histórico da Primeira República e seus vínculos com a sociedade amazonense, como esclarece a professora Anna Maria Martinez Corrêa no texto que abre o livro:
... O movimento de 1924 teve amplitude nacional, uma vez que o questionamento maior, proposto pelos seus dirigentes, era feito contra o Estado como um todo, na sua excessiva centralização de poder e na preponderância de suas oligarquias. Tanto é assim que as lideranças militares que participaram da Rebelião de Manaus não estavam vinculadas à sociedade amazonense por laços de origem e a sua atuação em Manaus deve ser entendida mais como decorrente de sua condição de militares do que visando à concretização de uma política local... Dessa maneira, ocorreu uma relação entre o local e o nacional...
Outro aspecto que merece destaque é a riqueza e autenticidade da documentação pesquisada – contribuindo para a recomposição dos cenários, dos debates, disputas políticas e interesses dos personagens que protagonizaram esse momento de nossa história. A veracidade do trabalho, como esclarece a autora, é assegurada pela recorrência à "documentação fornecida pelos agentes do movimento, militares rebeldes, legalistas e civis contemporâneos. Nesse sentido, há de se destacar o acervo de Solon Henriques Gonçalves, testemunha da rebelião de 1924, os álbuns de Álvaro Leite de Oliveira, guardados por Ilson Guimarães de Oliveira, e por fim o esforço de Ornan B. Corrêa em organizar o material fotográfico que ilustra o livro.
Comprometida com o rigor e seriedade da pesquisa histórica, o trabalho da professora Eloína Monteiro dos Santos representa importante contribuição da memória histórica regional.
Tenório Telles
INTRODUÇÃO
Este estudo procura enfocar o regional, aqui compreendido como o patamar intermediário entre a sociedade nacional e as comunidades locais.¹ Trata-se de um procedimento de investigação que não pode ser isolado e só faz sentido se interligado com os outros âmbitos de pesquisa da organização social: o nacional e o comunitário local.
Como se sabe, o estudo de cada um destes domínios é enriquecedor, na medida que se efetue a inserção nos outros campos do conhecimento. Os estudos de comunidades locais seriam insuficientes se não complementados pelos estudos regionais, e estes deixariam a desejar se não complementados pelos estudos sobre a sociedade nacional.
O estudo em questão trata-se de uma rebelião que, tendo início a 23 de julho de 1924, em Manaus, deflagrada por militares da guarnição aí sediada, logo se estendeu até a região de Óbidos, no Estado do Pará, onde os rebeldes concentraram suas operações militares, dada a posição estratégica da cidade e do Forte de Óbidos. Pretendiam os sediciosos chegar a Belém do Pará e se unir a outras guarnições que esperavam estivessem sublevadas. Mas, dado os imprevistos, ficaram circunscritos à região de