Microbiologia Geral e de Alimentos
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Sobre este e-book
Como ciência, a microbiologia tem grande importância como ciência aplicada devido a sua participação em diversos processos industriais, produção de alimentos, controle de pragas, controle de qualidade de alimentos, produção de antibióticos, hormônios, enzimas, e despoluição entre muitas outras aplicações.
Dentre as aplicações da microbiologia, a microbiologia de alimentos estuda de que forma os microrganismos influenciam as características dos alimentos, seus processos de produção, a biotecnologia e ecologia microbiana. O modo como os microrganismos afetam os alimentos pode ser benéfico ou prejudicial. Esta obra aborda os microrganismos de maior relevância na microbiologia de alimentos, os quais podem afetar de modo benéfico os alimentos quando utilizados na produção de alimentos, chamados de transformadores. Ou quando causam deterioração no alimento, chamados de deteriorantes ou os patogênicos por causarem as toxiinfecções.
São 7 capítulos organizados sobre temas considerados relevantes e cada capítulo inicia com um mapa para que o leitor possa identificar cada tópico do capítulo.
O livro é direcionado aos acadêmicos da área de microbiologia, ciência dos alimentos, tecnologia de alimentos e outras áreas afins em nível de graduação e pós-graduação. Contém alguns aspectos básicos da microbiologia, mas aprofunda-se nos aspectos microbiológicos dos alimentos.
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Microbiologia Geral e de Alimentos - Rosemeri Inês Dams
Rosemeri InÊs Dams
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ISBN 978-65-5675-332-4
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Sumário
CAPÍTULO 1: O MUNDO MICROBIANO E OS ALIMENTOS
ALIMENTOS E O MUNDO MICROBIANO
Microrganismos de importância na indústria de alimentos
Fungos
Bactérias de importância em alimentos
Leveduras de importância industrial
O mundo microbiano
Morfologia bacteriana: a célula procariota
Fungos: bolores e leveduras
Morfologia dos fungos
Leveduras
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 2: FATORES QUE AFETAM O CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS
Fatores intrínsecos
1. pH
2. Atividade de água (Aw)
3. Potencial de Oxirredução – Redox (Eh)
4. Composição química: Nutrientes
5. Fatores de crescimento e fatores antimicrobianos
6. Interação entre os microrganismos
Fatores extrínsecos
1. Temperatura ambiental
2. Umidade Relativa do Ar (UR)
3. Atmosfera gasosa
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 3: FONTES DE CONTAMINAÇÃO EM ALIMENTOS
Fontes de origem natural: Vegetais e Frutas
Fontes de origem natural: animais
Microrganismos de fonte humana
Fontes ambientais: ar, água, solo
Microrganismos presentes na atmosfera
Microrganismos presentes no solo
Microrganismos presentes na água
Como evitar a contaminação
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 4: INDICADORES DA QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA EM ALIMENTOS
Critérios microbiológicos na escolha de indicadores de qualidade higiênico-sanitários de alimentos
Enumeração de Unidades Formadoras de Colônias (UFC)
Contagem de Bolores e Leveduras
Coliformes
Enterococos
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 5: MICRORGANISMOS PATOGÊNICOS CAUSADORES DE DOENÇAS
PRINCIPAIS DOENÇAS DE ORIGEM BACTERIANA VEICULADAS POR ÁGUA E ALIMENTOS
Doenças Microbianas de origem alimentar
Botulismo: Associação com alimentos
Envenenamento alimentar por C. perfringens: Associação com alimentos
Síndrome emética e diarreica por Bacillus cereus: Associação com alimentos
Envenenamento por Staphylococcus aures ou Intoxicação estafilocócica: Associação com alimentos
Infecções alimentares
Listeria monocytogenes: Associação com alimentos
Salmonelas: Associação com alimentos
Gênero Shigella: Associação com alimentos
Escherichia coli: Associação com alimentos
Campylobacter sp.: Associação com alimentos
Yersinia enterocolitica: Associação com alimentos
Gênero Vibrio spp.: Associação com alimentos
Doenças DTA emergentes e reemergentes
Patógenos Oportunistas
Patógenos Bacterianos oportunistas
Infecções e Intoxicações de origem alimentar: não bacterianas
Fungos toxigênicos
Viroses de origem alimentar
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 6: DETERIORAÇÃO EM ALIMENTOS E CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS
DETERIORAÇÃO
Tipos microbianos
Microrganismos predominantes: Fungos e leveduras deteriorantes
Microrganismos predominantes: Bactérias
Tipos de Alimentos
DETERIORAÇÃO DE GRUPOS ESPECÍFICOS DE ALIMENTOS
LEITE
Produtos Lácteos derivados
Produtos lácteos concentrados
Produtos Lácteos fermentados
Prevenção e Conservação
Processos de conservação: Uso do calor
Processos de conservação: Uso do frio
Outros processos de conservação
CARNE
Carne moída ou em pedaços
Carnes curadas
Preservação e Métodos de conservação
Métodos de Conservação: uso do calor
Métodos de Conservação: uso do frio
Outros métodos
FRANGOS
PESCADOS: PEIXES, MOLUSCOS E CRUSTÁCEOS
Peixes
Crustáceos
Moluscos
Preservação e Métodos de conservação
Métodos de conservação: uso do frio
Outros métodos
OVOS
Preservação e Métodos de conservação
CEREAIS E PRODUTOS DE PANIFICAÇÃO
Cereais
Farinha de trigo
Preservação e conservação
Deterioração
Grãos de cereais e farinhas de cereais
Pão
Massas
Tortas, Doces e Produtos de panificação
PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL
Frutas e vegetais
Métodos de Conservação
Uso do calor
Uso do frio
Sucos Naturais ou Concentrados
Vegetais minimamente processados
ALIMENTOS ENLATADOS
Tipos de Deterioração
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 7: ALIMENTOS SEGUROS: CRITÉRIOS MICROBIOLÓGICOS PARA A AVALIAÇÃO DA QUALIDADE EM ALIMENTOS
ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS: PRINCÍPIOS E DEFINIÇÕES
Classificação dos microrganismos de acordo com o risco
Planos de amostragem (ICMSF, 2018)
Critérios Microbiológicos: Microrganismos indicadores e patogênicos
Perigo Microbiológico de acordo com o Risco
Análise microbiológica de alimentos
Análises microbiológicas: procedimentos
Técnicas de cultivo: métodos quantitativos
Confirmação: Testes bioquímicos para identificação de bactérias
SISTEMAS DE CONTROLE NO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS
Os 7 princípios do HACCP:
Princípio 7: Estabelecer os procedimentos de registro
AGÊNCIAS DE FISCALIZAÇÃO E CONTROLE
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 1:
O MUNDO MICROBIANO E OS ALIMENTOS
O microscópio é considerado como uma das grandes invenções da medicina. Em 1674, o naturalista holandês Antony van Leeuwenhoek criou o primeiro microscópio com apenas uma lente e fez as primeiras observações de seres vivos os quais ele chamou de animálculos
. E com essa descoberta iniciou-se a Microbiologia como a conhecemos hoje como ciência.
Antes de sua invenção os microrganismos, assim denominados por não serem vistos a olho nu, mas somente ao microscópio, eram desconhecidos pelos cientistas.
A imagem abaixo mostra a maior bactéria do mundo que pode ser vista a olho nu. Thiomargarita magnifica possui pérolas de enxofre em seu interior, e é mais de mil vezes maior do que uma bactéria típica, também é mais longa do que muitos animais multicelulares.
Figura 1. Thiomargarita magnifica
Fonte: Jean-Marie Volland
https://static.nationalgeographicbrasil.com/files/styles/image_3200/public/xbd-202206-068-032.webp?w=380&h=570
A microbiologia é o estudo dos microrganismos, de sua biologia, sua ecologia e suas aplicações. Possui 3 aspectos fundamentais: como a preservação dos alimentos pelo emprego de microrganismos, a detecção e prevenção de intoxicações e infecções produzidas pela ação de microrganismos em alimentos e o controle da transmissão de doenças através deles.
O termo alimento deriva do latim alimentum e permite referir-se a cada uma das substâncias sólidas ou líquidas que nutrem os seres humanos, as plantas ou os animais. A OMS define alimento como Material nutritivo introduzido no organismo e que preenche as necessidades de manutenção, crescimento, funcionamento e restauração dos tecidos
(Codex Alimentarius, FAO/OMS, 1962).
Dentro da grande área de Microbiologia, a Microbiologia de Alimentos estuda os processos que influenciam as características dos produtos consumidos tanto por humanos como animais de modo a abranger os aspectos da ecologia microbiana e da biotecnologia para a produção dos alimentos. Os efeitos dos microrganismos sobre os alimentos podem ser tanto de natureza benéfica quanto prejudicial. O estudo da microbiologia de alimentos permite a utilização de diversos processos os quais podem controlar a contaminação dos alimentos, de modo a garantir a qualidade dos produtos alimentícios consumidos.
Os grupos de microrganismos mais importantes estudados na microbiologia de alimentos são os organismos eucariotos e os procariotos. Entre os microrganismos eucariotos estão incluídos os protozoários, fungos e algas. Organismos eucariotos são aqueles em cujas células se pode diferenciar um núcleo delimitado pela membrana nuclear e contém o material genético separado de um citoplasma no qual se encontram diferentes organelas celulares. O grupo de maior importância são os fungos unicelulares (leveduras) e os pluricelulares (mofos) que desempenham um importante papel na produção de alimentos, como a levedura Saccharomyces, por exemplo. Nos organismos procarióticos não existe a separação entre núcleo e citoplasma e neste grupo estão incluídas as bactérias as quais são responsáveis pela produção de alimentos como as bactérias lácticas, mas também provocam alterações nos alimentos como as bactérias entéricas e podem ser patogênicas ao causar as doenças de origem alimentar como o botulismo, intoxicação estafilocócica, entre outras.
O tema geral desse livro é a importância dos microrganismos em alimentos do ponto de vista microbiológico: sua estrutura, a importância que exercem nos alimentos seja no aspecto benéfico como a produção de alimentos ou no aspecto negativo quando irão causar toxinfecções alimentares ao se consumir alimentos contaminados. Nesse capítulo apresentaremos os principais grupos de organismos de importância em alimentos, com foque principal em bactérias e fungos. Posteriormente será mostrada a estrutura morfológica e sua relação com as funções celulares.
Veja o mapa do capítulo:
ALIMENTOS E MICRORGANISMOS
Microrganismos de importância na indústria de alimentos:
Fungos
Bactérias
Leveduras.
O MUNDO MICROBIANO
Morfologia bacteriana: a célula procariota
Estrutura da célula bacteriana
Fungos: bolores e leveduras
Morfologia dos fungos
Reprodução e condições de crescimento
Leveduras
ALIMENTOS E O MUNDO MICROBIANO
São três os principais grupos de organismos de importância na microbiologia de alimentos (FRANCO; LAWNDGRAF, 2008, FRAZIER; WESTHOFF; VANITHA N M, 2014):
Microrganismos que deterioram os alimentos através de alterações químicas, enzimáticas e biológicas prejudiciais, resultando na deterioração microbiana, resultando em alterações de cor, odor, sabor, textura e aspecto do alimento.
Microrganismos causadores de doenças e que podem apresentar risco à saúde por serem patogênicos e podem afetar tanto o homem como os animais.
Microrganismos que causam alterações benéficas no alimento ao modificarem as características originais do alimento de forma a transformá-lo em um novo alimento através da fermentação. Neste grupo estão todos os microrganismos utilizados na fabricação de alimentos fermentados como queijos; bebidas lácteas fermentadas; cervejas, vinhos, pães, picles, chucrute, azeitonas etc.
No primeiro sistema de classificação dos seres vivos, o Sistema de Haeckel (1866), os seres vivos eram classificados em Plantae, Animalia e Protista (organismos unicelulares). Em 1969 Whittaker sugeriu cinco reinos: Plantae – Animalia – Monera – Protista – Fungi. No sistema de Whittaker, as bactérias pertenciam ao reino dos procarióticos e os eucarióticos (com núcleos). Mofos e leveduras estavam agrupados como fungi. Em 1990, com o desenrolar dos eventos evolutivos, três linhagens principais de células microbianas – Bacteria, Archaea e Eukarya, denominados de Domínios foi sugerido por Carl Woese (FADER, 2021) (Fig. 2).
Figura 2. Árvore da vida: classificação dos seres vivos nos 3 domínios.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=three+domains+of+living+organisms&title=Special:MediaSearch&go=Go&type=image
Outra divisão leva em conta a estrutura celular e os seres em acelulares como viroides, os príons e os vírus. Os celulares incluem os procariontes menos complexos (Archaea e bactérias) e os eucariontes mais complexos como algumas algas, todos os protozoários e fungos (FADER, 2021) (Fig. 3).
Figura 3. Micróbios acelulares e celulares.
Fonte: FADER, 2021
Os procariotos compõem um vasto grupo de organismos unicelulares muito pequenos, que incluem as bactérias e as arqueias. A maioria dos procariotos faz parte do grupo das bactérias. Embora bactérias e arqueias pareçam semelhantes, a sua composição química é diferente. Os milhares de espécies de bactérias são diferenciadas por muitos fatores, incluindo a morfologia (forma), composição química, necessidades nutricionais, atividades bioquímicas e fontes de energia.
As bactérias são procariontes e são os organismos mais estudados devido a sua importância médica. São unicelulares e podem ser encontrados na forma isolada ou em colônias.
As bactérias foram descobertas por Anton van Leeuwenhoek em 1683 e classificados entre as plantas e posteriormente incluídas no reino Protista por Ernst Haeckele. Atualmente as bactérias compõem um dos três Domínios do sistema de classificação cladístico (Fig. 2).
Os fungos (bolores e leveduras) são seres eucariontes e apresentam grande importância na microbiologia de alimentos por serem produtores de alimentos. Leveduras como Saccharomyces são conhecidas na produção de pão, cerveja e vinho. Fungos do gênero Penicillium são produtores de queijos como brie, roquefort e gorgonzola.
Contudo, os fungos também produzem micotoxinas e espécies do gênero Aspergillus podem produzir aflatoxinas em alimentos que são responsáveis pelas micotoxicoses.
Bactérias e arqueias possuem muitos aspectos estruturais semelhantes, contudo, são filogeneticamente distintas e arqueias são mais estreitamente relacionadas com eucariotos do que com bactérias. Os extremófilos (Fig. 4), pertencentes ao Domínio Archaea, são os organismos com habilidade de viverem em ambientes extremos, como as regiões vulcânicas ou os polos, altas concentrações salinas como as encontradas no Mar Morto e não apresentam relevância à microbiologia de alimentos.
Figura 4. Pyrococcus furiosus com temperatura ótima de crescimento de 100 °C, tempo de geração 37 min. Um dos poucos organismos com enzimas contendo tungstênio.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Pyrococcus_furiosus.png
As bactérias estão presentes em quase todos os lugares como solos, água, ar, nos organismos e estão classificadas dentro do Domínio Bacteria. O domínio Bacteria engloba a maioria das bactérias e as cianobactérias que são fotossintetizantes, também conhecidas como algas azuis, pois ao microscópio apresentam uma coloração azul esverdeada.
No domínio Eukarya estão incluídos os reinos Animalia (Metazoa), Plantae, Fungi, Protozoa e Chromista. São seres eucariontes por possuírem um núcleo verdadeiro. Fungos e parasitas pertencem ao Domínio Eukarya e são responsáveis por muitas doenças de origem alimentar ou deterioração de alimentos.
Os vírus não estão incluídos nessa classificação por serem acelulares.
Os microrganismos são assim chamados por não serem vistos a olho nu (como indivíduos), somente através do microscópio, mas coletivamente formam colônias e estas são visualizadas quando crescem em meios de cultura. Contudo, a ideia geral é a de que os microrganismos somente nos fazem mal quando, na verdade, eles exercem várias funções no meio ambiente quando mantêm o equilíbrio, fazem parte da base da cadeia alimentar de mares e rios. No solo os organismos heterotróficos são responsáveis pela degradação da matéria orgânica e as bactérias nitrificantes fazem a reciclagem do nitrogênio. Os organismos fotossintetizantes, além das plantas, como certas algas e bactérias geram oxigênio para a manutenção da vida na Terra. Sem falar na microbiota natural presente em humanos e animais, a qual exerce papel fundamental no equilíbrio (homeostasia) e proteção do organismo de agentes agressores estranhos. A microbiota intestinal, além de fortalecer e manter a imunidade efetiva, é responsável pela digestão de nutrientes e produção de vitaminas como as do complexo B essenciais ao metabolismo do organismo e a vitamina K, necessária para a coagulação sanguínea.
São muitas as aplicações biotecnológicas dos microrganismos como a produção de inseticidas, vacinas, antibióticos, etanol, ácidos orgânicos, aminoácidos, enzimas, solventes, polissacarídeos, entre outros (FRAZIER; WESTHOFF; VANITHA N M, 2014).
Sendo assim, podemos ver que os microrganismos em sua grande maioria são benéficos, e apenas, uma minoria causa malefícios. Alguns microrganismos são patógenos (primários e/ou oportunistas) e causam infecções em humanos, animais e plantas. Nos alimentos os microrganismos podem levar o alimento à deterioração com alterações em sua estrutura, aspecto, odor, sabor e consequentemente a rejeição por parte do consumidor. Outros causam toxinfecções alimentares, comumente gastroenterites, geralmente autolimitantes. Contudo, fungos também são causadores de micotoxicoses quando alimentos como cereais são mantidos em condições não adequadas de armazenamento.
Microrganismos de importância na indústria de alimentos
Fungos
Os fungos são organismos heterotróficos, eucarióticos e uni ou multicelulares. Os fungos constituem o Reino Fungi, no qual se enquadram espécies como os cogumelos, bolores e leveduras. Geralmente quando há o crescimento de fungos nos alimentos, estes são considerados impróprios para o consumo. E normalmente apresentam uma aparência felpuda ou algodoada
e até algumas vezes coloridos. Contudo, muitos destes fungos são utilizados na produção de alimentos, como os queijos, por exemplo.
Os fungos formam um grupo muito heterogêneo e são divididos em dois grandes grupos: os bolores (fungos filamentosos e carnosos) e as leveduras. Os bolores ou fungos filamentosos são multicelulares enquanto as leveduras são unicelulares. Em termos evolutivos, os fungos já foram considerados plantas e atualmente o reino Fungi faz parte do Domínio Eukarya e sua origem se deu a partir de eucariotos, assim como as plantas e os animais. O protista que originou as plantas era completamente diferente do que deu origem ao ancestral dos animais e fungos.
Importância dos bolores na indústria de alimentos
O gênero Mucor está envolvido tanto na produção de alimentos como na deterioração. Fungo filamento cujas colônias são tipicamente brancas, bege ou cinzentas quando já mais envelhecidas devido ao desenvolvimento dos esporos. Amplamente distribuído na natureza sendo encontrado no solo, esterco, frutas, vegetais, grãos e muitos outros alimentos. As espécies desse gênero são bem conhecidas como produtores de proteinases com amplas utilidades tecnológicas. Espécies como as M. racemosus e M. rouxii são utilizadas nos processos de amilação para a sacarificação do amido. M. racemosus utilizado na produção do queijo camembert. Devido a sua habilidade em produzir grandes quantidades da enzima fitase tem sido muito utilizado industrialmente. Também muito utilizado na manufatura de tofu, na fermentação fúngica de soja e sufu, produto fermentado à base de soja comum na China e Vietnã (FRAZIER; WESTHOFF; VANITHA N M, 2014) (Fig. 5).
Figura 5. Aplicações biotecnológicas de M. Racemosus.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f1/Cheese_camembert_on_a_plate_02.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5b/Doufuru.JPG/800px-Doufuru.JPG
O gênero Aspergillus possui mais de 100 espécies e é amplamente encontrado na natureza. Muitas espécies estão envolvidas na produção de ácidos orgânicos e enzimas enquanto muitas espécies são responsáveis pela deterioração de alimentos.
Grupo Aspergillus: dentre as espécies desse grupo, o A. niger tem grande importância nos alimentos (Fig. 6). Muito utilizado na produção de ácido cítrico, ácido glucônico, pectinases, lipases. Contudo, também muito conhecido como mofo negro responsável pela degradação em grãos, sementes e outros materiais vegetais armazenados, principalmente quando a umidade está elevada (FRAZIER; WESTHOFF; VANITHA N M, 2014).
Figura 6. A. niger responsável pelo mofo negro em algumas frutas e legumes como uvas, cebolas e amendoim, e é um contaminante comum de alimentos.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ae/Aspergillus_niger_Micrograph.jpg
Grupo Aspergillus orizae: espécies como A. orizae, A. repens são bolores filamentosos com alta tolerância osmofílica, que varia de acordo com a espécie. Portanto, crescem bem em alimentos com altas concentrações de açúcar e sal e baixo conteúdo em água.
Penicillium – este gênero também de ampla distribuição e importância em alimentos com numerosas espécies. A divisão em grandes grupos baseia-se na ramificação dos esporos.
A espécie P. expansum, conhecido como bolor azul, responsável pela deterioração de frutas na fase pós-colheita, principalmente maçãs e peras. P. digitatum, bolor verde, ataca principalmente os citros e milho e podem levar à podridão de sementes e a morte de plântulas. Outras espécies são muito utilizadas na produção de queijos, como P. roqueforti e P. camemberti (Fig. 7). Seus conídios cinzentos (P. camemberti) e azulados no caso do P. roqueforti auxiliam na maturação desses queijos.
Figura 7. Queijos produzidos a partir de fungos: O Penicillium roqueforti (à esquerda) é um vulgar fungo saprófito, que aparece na natureza e pode ser isolado do solo, degradando substâncias orgânicas e partes vegetais. Penicillium camemberti utilizado na fabricação de queijo como nomeadamente o Brie e o Camembert (à direita).
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f6/Blue_Stilton_Penicillium.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f6/Blue_Stilton_Penicillium.jpg
A tabela 1 apresenta alguns fungos de importância em alimentos. Contudo, muitos outros fungos têm relevância em alimentos, principalmente devido às deteriorações que podem causar em alimentos ou pela produção de micotoxinas:
Tabela 1. Fungos de importância em alimentos.
Bactérias de importância em alimentos
As bactérias de maior importância em alimentos são aquelas deteriorantes de alimentos e as patogênicas, causadoras de toxinfecções.
Características culturais e fisiológicas
O desenvolvimento de bactérias no alimento pode levar a alterações na coloração, textura e aspecto do alimento. Certas bactérias causam a descoloração na superfície de alimentos ou o desenvolvimento de biofilmes. O crescimento de bactérias no alimento também pode acarretar alterações químicas como a hidrólise de carboidratos, proteínas, formação de amônia e aminas (FRAZIER; WESTHOFF; VANITHA N M, 2014). Estas alterações tornam o alimento não atrativo para seu consumo.
Bactérias lácticas
Nas indústrias de alimentos os gêneros mais utilizados são: Lactobacillus, Streptococcus, Lactococcus e Leuconostoc.
As bactérias lácticas, também denominadas de bactérias do ácido láctico, são Gram positivas, desprovidas de citocromos e multiplicam-se melhor em condições anaeróbias e convertem o ácido pirúvico em ácido láctico. Estão naturalmente presentes no trato digestivo de humanos e animais, na superfície de plantas e no leite. São utilizadas na indústria alimentícia para a obtenção de muitos produtos, dentre eles queijos, iogurtes, picles e salsichas curadas. O gênero Leuconostoc é responsável pela produção do sabor no chucrute, laticínios: iogurtes, leites acidificados, queijos, manteiga; Leuconostoc, S. lactis, S. diacetilactis e L. cremoris: são usados como fontes de flavorizantes na indústria de lacticínios e são responsáveis pelas diferentes características conferidas à manteiga, queijos e iogurtes (produção de diacetil) (FRAZIER; WESTHOFF; VANITHA N M, 2014).
As bactérias do ácido láctico são consideradas probióticos juntamente com as bifidobactérias. A maioria das bactérias láticas potencialmente probióticas pertence ao filo Firmicutes, e que inclui os gêneros Aerococcus, Enterococcus, Lactobacillus, Lactococcus, Leuconostoc, Oenococcus, Pediococcus, Streptococcus, Carnobacterium, Tetragenococcus, Vagococcus e Weissella. Estes microrganismos são fastidiosos, ácido-tolerantes e estritamente fermentativos, e seu produto principal é o ácido láctico (RIBEIRO, 2018).
Embora o gênero Bifidobacterium compartilhe algumas características típicas como a produção de ácido lático, as bifidobactérias pertencem ao filo Actinobacteria, são anaeróbias, Gram-positivas, não formadoras de esporos, sem motilidade e catalase-negativa, com uma via metabólica que permite que esses microrganismos produzam ácido acético e ácido lático na proporção molar de 3:2. Assim como as bactérias lácticas, os membros do gênero Bifidobacterium são fastidiosos, o isolamento e a multiplicação dessas bactérias em laboratório pode apresentar dificuldades (RIBEIRO, 2018).
De acordo com o metabolismo de carboidratos, as bactérias do ácido láctico podem ser divididas em dois grandes grupos (FRANCO; LAWNDGRAF, 2008):
Homofermentativos – fazem parte desse grupo espécies dos gêneros Lactococcus,Pediococcus, Enterococcus, Streptococcus e alguns lactobacilos que utilizam a via Embden-Meyerhof-Parnas (glicolítica) para transformar a fonte de carbono em ácido lático;
Heterofermentativos – bactérias que produzem quantidades equimolares de lactato, gás carbônico, etanol ou acetato a partir da glicose por meio da via da fosfoacetolase.
Fazem parte deste grupo espécies dos gêneros Leuconostoc, Weissella e alguns lactobacilos como Lactobacillus brevis e Lactobacillus fermentum.
Gênero Lactobacillus
Os lactobacilos são bastonetes, Gram positivos, longos e delgados e formam cadeias (Fig. 8). A maioria é microaerofílica, alguns são anaeróbios estritos. O principal produto da fermentação de açúcares é o ácido láctico nas espécies homofermentativas e pequenas quantidades de ácido acético, dióxido de carbono e alguns produtos residuais. As espécies heterofermentativas produzem, além do ácido láctico, quantidades apreciáveis de produtos voláteis como álcool (FRAZIER; WESTHOFF; VANITHA N M, 2014).
Figura 8. Lactobacilos produtores de ácido lático.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5f/Lattobacilli.jpg
Os lactobacilos são muito utilizados na indústria de produtos lácteos devido a sua capacidade de fermentar açúcares com uma considerável produção de ácido láctico. Contudo, podem estar envolvidos na deterioração de vinho e cerveja, por exemplo. Outra característica importante destes organismos é a produção de gás e produtos voláteis pelas espécies heterofermentativas. Em queijo suíço, vinhos, por exemplo, esta característica pode resultar em danos a estes produtos. A maioria dos lactobacilos são termorresistentes e, portanto, sobrevivem a pasteurização e outros processos térmicos utilizados no processamento do queijo suíço e similares (FRAZIER; WESTHOFF; VANITHA N M, 2014).
Gênero Leuconostoc
Membros desse gênero fermentam açúcares e produzem consideráveis quantidades de ácido láctico, além de ácido acético, álcool etílico e dióxido de carbono. L. dextranicum e L. cremoris são considerados culturas starter
devido a sua habilidade em fermentar ácido cítrico do leite e produzir flavour desejável, o diacetil, e estimular os estreptococos lactobacilos em manteiga e queijos. (FRAZIER; WESTHOFF; VANITHA N M, 2014; FRANCO; LAWNDGRAF, 2008).
A Tabela 2 apresenta alguns gêneros de maior importância na bacteriologia de alimentos.
Tabela 2. Principais gêneros bacterianos de importância em alimentos.