Orientação familiar Vol 2: Teoria e prática
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Sobre este e-book
Além disso, o livro apresenta um QR Code com atividades práticas que podem ser utilizadas tanto no âmbito profissional quanto no familiar, permitindo que os leitores coloquem em prática as informações e conhecimentos adquiridos. Ao investir em si mesmos e em suas famílias, os leitores serão capazes de construir relacionamentos mais saudáveis e duradouros, promovendo o bem-estar e o desenvolvimento dos seus filhos. Este é um livro essencial para todos os pais e/ou responsáveis que desejam proporcionar uma educação mais consciente e afetiva aos seus filhos.
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Orientação familiar Vol 2 - Cristiane Rayes
© literare books international ltda, 2023.
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diretora comercial
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diretora de projetos
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editor
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editor júnior
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revisores
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capa e design editorial
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Agradecimentos
Sempre aos meus amados pais, Mansur (in memoriam) e Heloisa (que está ao meu lado em todas as horas com carinho e generosidade). Eterna gratidão!
Ao meu querido marido, Marcio Martins, pelos anos de carinho, respeito e incentivo. A toda minha família, irmãos, sobrinhos, cunhada, sogra pelas aprendizagens diárias do que é ter e pertencer a uma família.
À secretaria Débora por seu comprometimento e competência.
Dedico com amor,
Aos meus filhos, Mariana e Vitor, para que levem consigo os bons princípios familiares em suas memórias, corações e atitudes.
introdução
Como tudo começou...
É um grande prazer coordenar o segundo volume do livro Orientação familiar e ver o interesse de tantos profissionais, pais e responsáveis.
Vou contar um pouco sobre como tudo começou. A orientação familiar foi responsável pela minha paixão pela psicologia, tendo encontrado esse propósito em 1998, em uma especialização em Orientação Familiar. De lá pra cá, fui me aprimorando cada vez mais e assim, além dos atendimentos a tantas atividades, abri meu curso de Orientação Familiar, que conta com um método próprio, o AMORES. Não posso deixar de contar sobre o incentivo que recebi das minhas supervisionadas para abrir o curso, me encorajaram a cada dia e ainda formaram um grupo de alunas interessadas. Assim demos início ao curso que acontece até hoje.
Mas, de onde surgiu a ideia de um livro?
Com tantas profissionais e alunas queridas e competentes, tive a ideia de convidá-las a escrever sobre o tema em cima de suas práticas e tive mais uma surpresa: quase todas aceitaram essa missão, formamos uma grande família com o mesmo propósito e com o apoio da Literare Books International, concluímos esse grande projeto.
Será que tem mais?
Pensei em formas de retribuir tanto carinho e confiança e propus, à Literare, fazermos um Congresso sobre o tema com as coautoras como palestrantes, já que contávamos com um time de profissionais empenhadas e competentes. Aqui, quero registrar minha imensa gratidão pela Literare Books International, que, mais uma vez confiou e embarcou nos meus sonhos e assim fizemos com que tudo acontecesse com sucesso e harmonia. Foi incrível e com certeza permanecerá na memória afetiva de muitos que ali estiveram.
E agora, como estamos? Com um grupo ainda maior, mais profissionais unidos com o coração aberto, cheio de alegria e entusiasmo neste segundo livro e Congresso de Orientação Familiar.
Bem, poderia ficar aqui escrevendo muitas páginas sobre esta história e com mais detalhes, porém minha intenção é registrar toda a minha gratidão e deixar a mensagem para que não desistam de seus sonhos e propósitos, certamente, como eu, você encontrará pessoas incríveis e fundamentais em seus caminhos.
A orientação familiar
Falando em orientação familiar, é importante ressaltar que devemos orientar não apenas pais e mães, mas todos os envolvidos no cuidado com a criança e ou adolescente.
Por que orientar famílias e quais são os seus benefícios?
Fiz essa pergunta às coautoras e registrei, aqui, as respostas sem que elas soubessem que usaria nesta introdução, afinal, o livro é nosso. Vamos às respostas:
• Para que cada fase e cada vivência seja feita de maneira acolhedora e saudável por todos os envolvidos.
• Porque a família é a base para o desenvolvimento da criança, a segurança, é o lugar onde a criança vai ter o suporte para seus conflitos e dificuldades.
• Precisamos cuidar de nós para então cuidarmos dos nossos filhos.
• Para entender e ter consciência de cada fase do desenvolvimento.
• Para auxiliar no olhar de cada um para si e para todos da família, podendo, assim, construir uma relação leve e cheia de amor.
• A cultura está em constante movimento e se transforma com o tempo e, com isto, os diversos sistemas que dela participam, atuam e interagem. A orientação familiar diz respeito a referências e direções possíveis para pais e filhos no contexto cultural.
• Para cuidar de quem cuida.
• A orientação familiar traz a possibilidade de conscientizar sobre as dinâmicas, aborda as dificuldades, os pontos fortes, e auxilia na resolução de problemas, buscando saídas pertinentes a cada membro e a cada sistema, trazendo desenvolvimento individual e coletivo.
• Para um caminho com sabedoria e amor.
• A criança é o reflexo da dinâmica familiar.
• Auxiliar os pais a entenderem qual seu estilo parental é crucial para verem seus erros e acertos.
• Encorajamento dos pais para os desafios da parentalidade é importante para a conexão e rotina familiar
• É um processo de autoconhecimento dos pais e uma grande oportunidade de revisitar suas vivências para construir os caminhos que desejam trilhar baseados nos valores da nova
família. Quando os pais se abrem para esse caminho, deixam o melhor presente que poderiam para seus filhos: pais emocionalmente saudáveis.
• Favorece o preparo, direcionamento e autoconfiança para garantir o equilíbrio e o bem-estar da família.
• Trilhar, ajustando suas práticas aos seus valores e habilidades que deseja desenvolver em seus filhos.
• Ajudar os pais e contribuir para um desenvolvimento saudável e uma dinâmica familiar funcional.
• Nós construímos toda a nossa existência com base nos laços e vínculos que tecemos ao longo dos anos no ambiente familiar.
• A orientação familiar é o momento mais importante do processo de psicoterapia, pois acolhemos esses pais com todo amor. No trabalho conjunto com psicoterapia, repensamos e criamos um caminho saudável para essa família seguir! E com união a saúde emocional acontece!
• Para que os pais prestem atenção em seus próprios comportamentos diante dos comportamentos do filho.
• Ajudar a família em relação às suas dores, minimizando seus conflitos e sofrimentos.
• Família é base de sustentação, crescimento físico, psíquico, emocional e espiritual.
• A orientação familiar é um caminho para a saúde mental do grupo familiar.
• Orientar é acolher e iluminar caminhos!
Enfim, peço para você, caro leitor, independentemente de ser pai, responsável ou profissional, que também responda a essa pergunta e reflita sobre a importância da orientação para sua família, afinal, todas as famílias precisam de atenção e cuidados.
Que você possa aproveitar este livro, visando seu crescimento pessoal, profissional e familiar.
Um grande abraço carinhoso e recheado de gratidão,
Cristiane Rayes
Dores e amores da parentalidade: a importância do olhar para sua própria história
1
Traumas e crenças podem passar de geração para geração. Olhar para si e para sua história traz a consciência de suas dores e potencialidades, favorecendo o desenvolvimento pessoal e a parentalidade efetiva e afetiva. Este capítulo enfoca a importância da interiorização como caminho de sabedoria e algumas dores
vivenciadas pelos pais. Espero que a leitura favoreça muitas reflexões e atitudes.
por cristiane rayes
A vida é cheia de dores e AMORES. No livro Orientação familiar I, escrevi sobre alguns temas e habilidades contidos na palavra AMORES, meu programa de habilidades socioemocionais e de orientação familiar com objetivo de favorecer autoconhecimento, afeto e vínculos seguros para que todos possam ser conscientes e viver e conviver cada vez melhor. AMORES envolve:
A autoconhecimento
M manter-se em equilíbrio
O olhar para si e para o outro
R resiliência, resolução de conflitos
E expressão e comunicação
S sociabilidade
Neste capítulo, darei ênfase à letra O, ressaltando o poder do nosso eu interior e de algumas dores da parentalidade.
Olhar para si
Somos a nossa história e a carregamos na memória, no coração e, às vezes, em marcas no corpo. Carregamos da infância tanto lembranças e experiências boas como ruins e traumáticas. Muitas pessoas não se lembram de tais experiências negativas, doloridas, as reprimem ou evitam, para não sentir as mágoas e os medos que guardam em si; outras podem ter vivido uma infância saudável, sem tantos desafios, mas em ambos os casos é preciso consciência. Vivências negativas nos causam dificuldades quando somos adultos, pois a nossa criança interior faz de tudo para que as dores vividas não se repitam, buscando amor e segurança. Essas experiências difíceis da infância, quando não superadas, afetam a confiança e a autoestima.
Assim, para entendermos e resolvermos nossos problemas atuais, precisamos compreender no que esses consistem, entrando em contato com nossa própria história e com a criança que nos habita, reconhecendo as dificuldades, pontos fracos, fortes e gatilhos.
É comprovado pela ciência que o inconsciente é uma instância psíquica poderosa, que determina 80% de tudo que fazemos e vivenciamos, e que a experiência traumática pode ser transmitida de uma geração para a geração, se não ressignificada. Entretanto, fatos passados, traumas não resolvidos e sinais de angústia dos pais podem afetar as relações e formas de educar, desencadeando sintomas nos filhos.
Quanto às crenças e padrões de comportamentos, esses são transmitidos por nossos familiares, cultura, religião e conceitos formados em nossas vivências ou por nós mesmos. Segundo pesquisas, há transmissão intergeracional do comportamento das mães em relação aos seus filhos. Lundberg, Perris, Schlette e Adolfsson (2000) concluíram que há correlação entre valores experienciados e repassados às outras gerações. Bowlby (1990) apontou que as pessoas internalizam as experiências com seus significantes na forma de modelos de relacionamento e que estes, uma vez formados, são resistentes a mudanças. As escolhas de parceiros, geralmente, validam as estratégias internas e, quando nos tornamos pais, estabelecemos com os filhos a repetição de padrões. De acordo com Webber (2005), a não transmissão de padrões pode dar-se pelas mudanças socioculturais, maior divulgação de informações científicas a respeito de educação de filhos, relações mais afetivas e suporte dos companheiros.
Então, o que é possível fazer para não repetir padrões e superar traumas?
Conhecer a história e revisitá-la, ser sábio e consciente, silenciar, olhar para dentro de si, ter a possibilidade de significar e ressignificar, compreender situações, comportamentos, fatos, traumas, crenças negativas e positivas que interiorizamos no decorrer da infância e por toda a vida e que impactam as relações. É preciso refletir sobre a forma de se viver, ser resiliente compassivo, descobrir lições únicas que precisam ser aprendidas, aprender com erros, se fortalecer e possibilitar abertura de novos significados, resoluções e caminhos.
Quanto à parentalidade, esta nos traz transformações emocionais e psicológicas, altera nossa vida, nossa capacidade de amar e de se superar. Exige muito de nós: tempo, dedicação, paciência, renúncia, perdão, entre outras habilidades. Não podemos romantizá-la, pois envolve dores
, incertezas e também busca por respostas que muitas vezes estão dentro de nós e não sabemos ou não valorizamos. É preciso sua interiorização, autoconhecimento, adquirir conhecimentos, ter repertório, questionar seus comportamentos, não temer mudanças, aceitar e respeitar a individualidade e necessidades de cada um, praticar o autocuidado e, claro, amor e vínculos seguros, além de agradecer aos seus próprio pais e não julgá-los.
Dê a você a possibilidade de cuidar da sua história, de suas relações e de sua parentalidade.
Dentre tantas exigências e dúvidas, cito aqui algumas dores
frequentes relatadas pelos pais, num breve questionário que realizei. Algumas vivenciadas desde a infância, outras ao longo da caminhada da vida. São elas:
O boletim
dos pais e filhos: a (in)satisfação parental
Quando os pais se autoavaliam pelas conquistas e desempenho dos filhos, têm expectativas não supridas e passam a crer que não estão sendo bons pais. Fazem aos filhos atribuições com expectativas sobre seus comportamentos e previsões de futuro. Passam a fornecer excesso de estímulos, exigir atitudes muitas vezes irreais ou não de acordo com a idade, esquecendo o que faz parte do desenvolvimento normal e saudável. Acabam por não validar o que está bom e sempre estão à procura do que é melhor, com constante insatisfação. Assim, deixam de olhar para a individualidade e a particularidade de cada filho e não os aceitam como realmente são.
Esse mar de exigências, expectativas e busca de reconhecimento desencadeiam perfeccionismo, autocrítica exagerada, sentimentos de incompetência, quadros psicossomáticos, ansiedade e depressão, tanto nos pais como nos filhos. A autocrítica e as autocobranças elevadas fazem com que as pessoas depositem sua hostilidade sobre si e sintam-se sobrecarregados, temendo não satisfazer as expectativas, com sensação de desesperança e a crença de que só serão aceitos se tiverem bom rendimento.
Lembre-se de que as conquistas e as realizações dos filhos não são a avaliação da sua eficácia como pais, não devendo ser base da satisfação parental. Entenda as necessidades de cada um, reveja a visão de si e de seus filhos e encoraje-os sempre.
Corre que o futuro vem aí: as angústias do fazer
Aqui estão os pais que não conseguem ver os filhos sem fazer nada
. Transmitem a mensagem de que, se você não estiver fazendo algo, não será ninguém na vida. Acham que os filhos estão perdendo tempo e temem pelo seu futuro. Lotam tanto suas agendas como as dos filhos, desencadeando estresse que se manifesta no corpo e na mente, desencadeando desenvolvimento de doenças, alterações de comportamentos e psicopatologias. Crianças estressadas podem se tornar adultos fragilizados e vulneráveis. Além disso, pais estressados podem ter filhos estressados, pois o ambiente, as relações e os modelos são fortes influenciadores. Pais estressados são mais irritados e sem paciência, não sensíveis às necessidades de seus filhos, e não conseguem manejar as situações ou alterar a rotina.
Pesquisas neurocientíficas mostram que crianças que sofreram muito estresse nos primeiros anos de vida apresentam níveis elevados dos hormônios do estresse durante a vida inteira, sendo mais propensas ao estresse na vida adulta, com maior dificuldade para lidar com pressão emocional e constante sensação de insegurança e desproteção.
As crianças precisam brincar, os jovens e adultos precisam sonhar. O tempo livre é necessário para todos, tanto para descanso quanto para desenvolvimento de criatividade e interiorização. Dê a você e a seu filho a oportunidade de ter tempo livre para viver situações prazerosas nesse mundo onde muitas vezes corremos sem saber atrás de quê. Olhe para o ser
e não apenas para o fazer
. Reorganize o seu tempo, sua rotina, sinta-se merecedor de autocuidado, de fazer por e para você algo que não seja obrigação. Quem não se permite muitas vezes não permite aos outros.
A casa do vizinho: comparações que nos fazem perder referências
Nesse caminho vamos seguindo, muitas vezes nos sentindo sozinhos, achando que certas coisas só acontecem na nossa casa e que tudo na casa do vizinho é melhor. Participamos de rodas de conversas nem sempre sinceras, onde muitas vezes os assuntos se baseiam nos dons, habilidades e progressos dos filhos, gerando até competições entre os próprios pais, aprofundando o senso de incompetência, insuficiência, comparação e sentimentos de inferioridade e baixa autoestima.
Sei que é humanamente impossível não nos compararmos. A comparação é favorável quando enxergamos fatos reais e vemos no outro algo admirável que podemos desenvolver em nós, mas é desfavorável quando se torna ilusória, excessiva e depreciativa, levando a frases e pensamentos frequentes como: Não consigo
, Não sou boa mãe/pai
, Na casa do fulano dá certo
, O filho dele já consegue
, e por aí vai. Essas ideias são acompanhadas de sentimentos de vergonha, depreciação, dificuldade de autoaceitação e autoconhecimento, além da falta de percepção da realidade. Frente aos sentimentos de inferioridade e referências baseadas nos outros, os pais acabam por utilizar comparações frequentes com o intuito de motivar e mudar comportamentos dos filhos, desencadeando sentimentos de raiva, depreciação e perda de referências internas.
Reflita sobre sua forma de se ver e de se comunicar, elas afetam suas relações e o desenvolvimento psíquico. Talvez você tenha vivido o mesmo com seus pais e esteja repetindo esse modelo que não traz benefícios a ninguém.
Faço tudo por eles: a necessidade constante de aprovação e a dedicação aos outros
Pais que necessitam de aprovação dos outros perdem sua autenticidade e espontaneidade. Não olham para as próprias necessidades, temem magoar ou serem julgados e desaprovados, se dedicam e se sacrificam para satisfazer às necessidades dos outros. Sentem-se culpados por fazer algo por si e não se sentem merecedores de prazer, estando o tempo todo fazendo algo para alguém. Esforçam-se em fazer tudo certo e, assim, tornam-se dependentes em suas decisões e incapazes de encontrar suas vocações.
A autoestima e o reconhecimento de sua parentalidade dependem principalmente das reações alheias e não das suas inclinações naturais. Se perdem frente a tantas opiniões familiares na criação dos filhos, deixam de lado a sensibilidade para sentir a si, reprimem emoções como raiva e indignação e evitam comportamentos hostis e desentendimentos, reagindo às ofensas com tristeza. Os medos constantes de julgamento desencadeiam quadros ansiosos, depressivos, distanciamentos sociais e sintomas intensos da angústia e desamparo.
Esses pais também acreditam que a dedicação é sua obrigação e atuam dessa forma na dinâmica familiar. Transmitem aos filhos que é necessário agradar aos outros para serem amados e aceitos, e que não é possível ser livre para tomar decisões e viver sua própria vida.
Grandes passos para a libertação e autonomia são, além da consciência, pensar com sua própria cabeça, se livrar do medo, se permitir errar, olhar e agir em função de suas necessidades e ser assertivo. Questionamentos que você pode fazer são: Qual minha opinião sobre esse assunto?
, O que eu gostaria de fazer?
, Quais são minhas necessidades?
. Lembre-se: a aprovação está dentro de você. Dedique-se a si também
Nosso espelho: enxergando as próprias dificuldades nos filhos
Identificar as próprias dificuldades nos filhos pode levar a sentimentos de medo, culpa e frustração, fazendo com que os pais enxerguem os filhos como frágeis e vulneráveis e, por consequência, desenvolvam comportamentos de superproteção e relações de dependência. Por outro lado, existem os pais que frente à identificação das suas próprias dificuldades nos filhos acabam por desprezar
, minimizar ou não aceitar tais dificuldades, sendo negligentes e/ou até displicentes, relatando que passaram por isso sem consequências em sua vida ou que isso não é nada.
Negar, não aceitar a realidade ou superproteger pode gerar nos filhos a crença de incapacidade, preconceitos, dificuldades em cuidar de si, de enfrentamento, de manejo das próprias dificuldades e problemas ao tomar decisões.
Reveja sua história, encare-a de frente, acolhendo suas próprias dificuldades e, assim, as do seu filho. Pessoas não passam da mesma forma pelas experiências, existem as necessidades de cada um e a influência de fatores de personalidade, genéticos, hereditários e ambientais.
Forte como uma rocha: não demonstrar fraquezas e tristezas
Muitos pais não querem demonstrar suas dificuldades e tristezas, por encararem isso como um sinal de fraqueza. Sentem-se vulneráveis, reprimem suas emoções, disfarçam ou racionalizam.
Reprimir emoções é ir contra seu bem-estar, despende energia, faz com que você não desenvolva formas de lidar com as causas dessas dores e ainda aumenta sua sensação de fragilidade. As emoções desagradáveis precisam ser aceitas e vividas, elas têm funções, nos ensinam e dão possibilidade de pensarmos e agirmos.
Talvez isso venha da sua história, assim como guardar segredos e não contar para seus filhos sobre fatos frustrantes, desafiadores e dificuldades, tornando você uma pessoa mais contida, pouco espontânea e até distante nas relações, devido ao desejo de não perder a admiração dos filhos ou até mesmo protegê-los de decepções e sentimentos negativos.
As repressões e segredos têm um grande peso e, como consequência, os pais acabam por desencorajar ou inibir a expressão dos sentimentos de seus filhos, passando a impressão de que sua vida é perfeita. Pais que se mostram perfeitos
não trazem a realidade e criam filhos incapazes e insuficientes frente às próprias emoções e dificuldades. É essencial olhar para a realidade e expressar emoções para que possamos desenvolver a capacidade de sentir, dominar impulsos, flexibilizar, resolver e superar desafios.
O que estamos ensinando aos filhos quando, diante de um luto, não demonstramos nossa tristeza? Diante de uma demissão, por que não contar às crianças e não falar sobre seus sentimentos e até mesmo as estratégias de superação?
Os filhos aprendem muito com as experiências de seus pais e com suas formas de lidar com os desafios, tornando-se mais confiantes para enfrentar a própria vida, pertencentes por conhecer e participar das vivências familiares e, o melhor, descobrem que somos humanos, dotados de sentimentos e falhas, e que ninguém é perfeito e nem precisa ser.
Enfim, com tantas outras citações recebidas dos pais, poderia escrever um livro sobre as dores e amores
da parentalidade, e espero fazê-lo. Deixo aqui a possibilidade de reflexão sobre sua história, suas dores e comportamentos com a intenção de que vivam com AMORES e evoluam tanto no âmbito pessoal como familiar, mantendo as relações mais conscientes e afetivas.
Orientações para seu crescimento pessoal e familiar
• Viva com AMORES: amor, afeto, conexão e inteligência emocional.
• Conheça sua história e conte para seu filho, assim como a história dele. Elas criam lindas memórias e sensação de pertencimento.
• Pratique a autoaceitação, reveja seu autoconceito e rótulos, assim como expectativas em torno de sua pessoa.
• Abrace sua criança interior: permita-se se acolher, perdoar e sorrir internamente.
• Acolha seus pais afetivamente e internamente, no sentido de aceitar e valorizá-los em suas perfeições e imperfeições.
• Investigue suas crenças, fortalecendo as positivas. Eu sou capaz
, eu consigo
, eu mereço
, etc.
• Avalie suas necessidades não supridas: observe em que áreas da vida elas influenciam e como impactam sua parentalidade. Supra suas necessidades de forma consciente.
• Valorize suas necessidades supridas: elas te fortalecem e conduzem seus caminhos e valores.
• Expresse suas necessidades, vá em busca de suas aspirações. Quando não expressamos o que desejamos, desenvolvemos a sensação de mal-estar, de solidão, exaustão e desamparo. Sentir-se bem consigo mesmo faz bem para sua autoestima, autovalor e repercute nas atitudes e na saúde mental da família.
• Quebre padrões: isso exige autoconhecimento, compreensão, reflexão, disciplina e persistência.
• Seja menos exigente e mais amável consigo mesmo. Expresse suas opiniões e desejos, seja espontâneo. Livre-se da autocrítica e medos excessivos.
• Busque formas de superar seus traumas, reprocessar as vivências que deixaram marcas. Busque ajuda profissional.
• Escreva e reescreva suas experiências dolorosas: estudos apontam que expressar pensamentos, sentimentos e experiências perturbadoras em palavras (sejam faladas ou escritas) melhora significativamente sua saúde física, mental, comportamental, social e biológica (PENNEBAKER & CHUNG, 2007).
• Tenha coragem para encarar de frente e não fugir ou negar as situações, mesmo as mais difíceis. Porém, caminhe no seu tempo.
• Conhecer-se para educar: autoconhecimento traz ambições, desejos e relações mais harmônicas.
• Valorize o pai/mãe que você é: reforce sua autoconfiança. Não existem relações perfeitas com os filhos. Olhe para suas conquistas e vitórias.
• Sonhe e sonhem juntos.
Referências
BOWLBY, J.CABRAL, A. Apego e perda. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
DE AZEVEDO, L. J. C. Sintoma infantil: do trauma à transmissão. Revista da SPAGESP, 2019.
LIPP M. L. N. Crianças estressadas. Campinas: Papirus: 2000
PENNEBAKER, J. W.; EVANS, J. F. Expressive Writing: Words That Heal. Seatle: Idyll Arbor, 2014.
STAHL, S. Acolhendo sua criança interior: uma abordagem inovadora para curar as feridas da infância. Ucrânia: GMT, 2022.
WEBER, L. N. D. et al. Continuidade dos estilos parentais através das gerações: transmissão intergeracional de estilos parentais. Ribeirão Preto: Paidéia, 2006.
Sobre a autora
Cristiane Rayes
CRP 06/40025
Mãe dos amados Mariana e Vitor. Psicóloga clínica e educacional há 30 anos, atuando no atendimento de crianças, adolescentes, adultos e orientação familiar. Terapeuta EMDR. Especialista em Orientação Familiar e Processos Psicoterapêuticos, Terapia Cognitivo-comportamental, Distúrbios de Aprendizagem e Mediação de Conflitos. Desenvolvimento de projetos de habilidades socioemocionais e treinamento de professores. Palestrante. Responsável pelo curso de Orientação Familiar. Coordenadora do curso de especialização em Orientação familiar e Educação parental no InTCC Rio. Idealizadora de jogos e materiais terapêuticos: Prumo das emoções, Coleção feelings, Dinâmica e comunicação familiar, Luva 5 AS; Jogo da coragem e confiança; Eu sou... eu posso ser; Caixinha da amizade e Baralho do divórcio. Autora do Baralho animação, Corujas em ação e dos livros Autoestima de A a Z e Superando os medos de A a Z, da editora Literare Books International. Coordenadora dos livros Educação e afeto e Orientação Familiar vol. 1, organizadora, em parceria com a editora Literare Books International, do 1° Congresso de Orientação Familiar.
Contatos
cristianerayes@gmail.com
Instagram: @crisrayes
1198573 0444
11 96346 6078 / 11 5071 1331 (Clínica)
O mágico de oz: Adolescência e suas simbologias
2
(Re)estabelecer a conexão entre pais e filhos adolescentes tem sido uma grande necessidade na dinâmica das famílias. Durante a jornada pela adolescência, os símbolos presentes nos contos de fadas auxiliam a compreensão de atitudes e de sentimentos que emergem na dinâmica familiar. Neste capítulo, você encontrará dicas valiosas de como usar figuras presentes no conto O Mágico de Oz para conectar os jovens com eles mesmos e com seus pais/responsáveis. Embarque nessa viagem com carinho, calce os sapatinhos da personagem Dorothy e aproveite o encantamento da transformação!
por alessandra ruy perna malinverni e lilian vendrame fonseca
"Algum dia farei um pedido a uma estrela
Acordar onde as nuvens estão muito atrás de mim
Onde problemas derretem como balas de limão
Bem acima dos topos das chaminés é onde você me encontrará"
(ISRAEL KAMAKAWIWO’OLE, Somewhere Over The Rainbow)
O que é a adolescência?
Não brinca mais de boneca. Quer ficar mais com os amigos. Sente vergonha da presença dos pais na escola. O quarto está uma bagunça. Dorme muito. Conversa pouco com os pais. Diz que os pais e os professores não o entendem.
Reconhece esses comportamentos? Bem-vindo à adolescência!
Nem criança, nem adulto. O adolescer é um processo de construção com mudanças hormonais, emocionais e sociais. Afinal, o cérebro do adolescente está em desenvolvimento. O córtex frontal, responsável pelo raciocínio e pelos limites, ainda não está totalmente formado e, por isso, fica mais propenso ao confronto e à experimentação de novos comportamentos. Esses novos comportamentos são parte do processo de individuação com seus pares (da mesma idade, por favor!), e nessas interações os adolescentes constroem os próprios valores e crenças, sem, necessariamente, desfazerem-se dos valores internalizados desde a infância.
Como os contos de fadas ajudam a compreender essas transformações por meio das figuras – O Mágico de Oz
As histórias ajudam, há milênios, o ser humano a compartilhar sonhos e preocupações, a transmitir ensinamentos e conhecimentos. No processo terapêutico, por exemplo, os contos de fadas podem ser usados para perceber as alegrias e as angústias de um indivíduo. Isso porque as histórias usam símbolos, imagens e ações que ajudam o paciente a fazer conexões com a sua própria história. É comum que, ao falar de uma personagem, o indivíduo fale de si mesmo, fazendo-se reconhecer naquela figura. Assim, além de encantadores, os contos de fadas são facilitadores da terapia, na medida em que abrem caminhos de diálogo entre o profissional da psicologia e seu paciente e familiares.
Relacionando o adolescer com O Mágico de Oz
Vocês conhecem ou se lembram da história de O Mágico de Oz? Vamos fazer um resumo da história e depois uma analogia com o processo de adolescer e as expectativas que pais e jovens têm sobre isso. O Mágico de Oz, escrito por Lyman Frank Baum em 1900, conta a história da Dorothy, uma menina de 11 anos que vivia numa fazenda do Kansas com seus tios e seu cachorro chamado