Jung e a interpretação dos sonhos
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Sobre este e-book
Este livro prático e abrangente é uma excelente introdução para a compreensão dos sonhos com base nos princípios da psicologia analítica. O modelo da psique segundo Jung é discutido de modo conciso, com muitos exemplos clínicos de sonhos e da forma como podem ser interpretados em seu contexto.
Uma atenção particular é dada aos temas comuns e repetidos (quedas, perseguições, casas, carros, mortes, mágoas, casamentos, o fim do mundo, símbolos sexuais etc.) e também aos sonhos traumatizantes e sua função intencional e compensatória, incluindo os que prognosticam doenças ou mudanças físicas, e os que se relacionam às etapas da vida e ao processo de individuação.
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Jung e a interpretação dos sonhos - James A. Hall
JUNG E A
INTERPRETAÇÃO
DOS SONHOS
Biblioteca Cultrix
de Psicologia Junguiana
James A. Hall
JUNG E A
INTERPRETAÇÃO
DOS SONHOS
Um Guia Prático e Abrangente para a Compreensão dos Estados Oníricos à Luz da Psicologia Analítica
M
Tradução
Álvaro Cabral
Logotipo editora cultrixTítulo do original: Jugian Dream Interpretation – A Handbook of Theory and Practice.
Copyright © 1983 James A. Hall.
Copyright da edição brasileira © 1985, 2021 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.
2ª edição 2021.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou artigos de revistas.
A Editora Cultrix não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados neste livro.
Editor: Adilson Silva Ramachandra
Gerente editorial: Roseli de S. Ferraz
Gerente de produção editorial: Indiara Faria Kayo
Editoração eletrônica: Join Bureau
Revisão: Adriane Gozzo
Produção de ebook: S2 Books
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Hall, James A.
Jung e a interpretação dos sonhos: um guia prático e abrangente para a compreensão dos estado oníricos à luz da psicologia analítica / James A. Hall; tradução Álvaro Cabral. – 2. ed. – São Paulo: Editora Cultrix, 2021. – (Biblioteca Cultrix de psicologia junguiana)
Título original: Jungian dream interpretation
ISBN 978-65-5736-125-2
1. Interpretação de sonhos 2. Jung, C. G. (Carl Gustav), 1875-1961 3. Psicologia analítica 4. Psicologia junquiana 5. Sonhos – Interpretação I. Título II. Série.
21-80709
CDD-154.63
Índices para catálogo sistemático:
1. Jung: Sonhos: Interpretação: Psicologia 154.63
Maria Alice Ferreira – Bibliotecária – CRB-8/7964
1ª Edição degital 2021
eISBN 9786557361306
Direitos de tradução para a língua portuguesa adquiridos com exclusividade pela
EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a
propriedade literária desta tradução.
Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270-000 — São Paulo, SP – Fone: (11) 2066-9000
http://www.editoracultrix.com.br
E-mail: atendimento@editoracultrix.com.br
Foi feito o depósito legal.
Para SUZANNE
marita, amatrix, soror
SUMÁRIO
M
Capa
Folha de rosto
Créditos
Dedicatória
Prefácio
Capítulo 1. Conceitos Básicos da Psicologia Junguiana
Estruturas gerais
Relação entre psique pessoal e psique objetiva
Complexo e arquétipo
Estruturas de identidade: ego e sombra
Estruturas relacionais: anima/animus e persona
O processo de individuação
Capítulo 2. A Natureza do Processo Onírico
Os sonhos como compensação
Usos não interpretativos dos sonhos
Interpretação dos sonhos e técnicas imaginativas
Identidade do ego e a estrutura dos complexos
Capítulo 3. A Abordagem Junguiana dos Sonhos
Ampliação de imagens
Contexto do sonho
Capítulo 4. Os Sonhos Como Instrumentos de Diagnóstico
Sonhos iniciais em análise
Imagens relacionadas numa série onírica
Diagnóstico diferencial
Princípios a Recordar
Capítulo 5. Questões de Técnica
Transferência e contratransferência
Medicação em análise
Análise redutiva e análise prospectiva
O ego afetado e os sonhos
Interpretação retardada e não interpretação
Terapia de grupo concomitante à terapia individual
Pontos a Recordar
Capítulo 6. Imagens do Ego e Complexos em Sonhos
Identificação de complexos
Mudanças estruturais: limites e fronteiras
Estruturas relacionais e estruturas de identidade
O Si-mesmo e o eixo ego-Si-mesmo
Ampliação arquetípica
Capítulo 7. Temas Oníricos Comuns
Incesto
Luto
Casas
Automóveis
Álcool e drogas
Morte
Serpentes
Capítulo 8. A Moldura do Sonho
O sonho dentro de um sonho
Sonhos com a realidade como ela é
Referências temporais e espaciais
Fenômenos sincronísticos
Capítulo 9. O Simbolismo em Alquimia
Motivos alquímicos em sonhos
Conjunctio: imagens de união
Capítulo 10. Sonhos e Individuação
A natureza da neurose
A relativização do ego
O ego individuante
O ego onírico e o ego vígil
Conhecimento focal e conhecimento tácito
Capítulo 11. As Duas Tensões da Interpretação dos Sonhos
Objetiva e subjetiva
Pessoal e arquetípica
Resumo
Notas
Glossário de Termos Junguianos
PREFÁCIO
M
Durante os primeiros dois anos de minha prática psiquiátrica, tentei manter atitude neutra em relação às diferentes teorias de interpretação dos sonhos. Eu esperava que, ao considerar todas essas teorias igualmente válidas, me acharia em condições de discriminar as vantagens e desvantagens de cada uma delas, com base na minha observação clínica. Alimentava a esperança de decidir racionalmente, por mim mesmo, qual teoria de interpretação dos sonhos me pareceria a preferível.
Os dois principais rivais nessa competição de teorias eram Freud e Jung, com suas respectivas abordagens da interpretação dos sonhos. Durante os anos de minha formação médica e psiquiátrica, as teorias freudianas eram exclusivamente enfatizadas quando se mencionavam os sonhos, se é que chegavam a sê-lo alguma vez. Durante a residência psiquiátrica no Duke University Medical Center, minha análise pessoal foi realizada com o Dr. Bingham Dai, um sullivaniano, que ressaltou a relação do material onírico com os padrões familiares iniciais e as identidades do ego baseadas nesses relacionamentos. Ainda me lembro de que, após 75 horas de análise com ele, observei com impaciência: "Conheço meu complexo materno; não temos de descobrir isso, novamente, num sonho!". Ele riu amavelmente, sabedor (como mais tarde vim a perceber) da diferença entre conhecer como conteúdo cognitivo e conhecer na acepção de sabedoria de vida. Quando saí da Duke University para regressar ao Texas, o último conselho que o Dr. Dai me deu foi: Não mergulhe fundo demais, com excessiva pressa, na teoria junguiana
. Ele pressentiu, ao que parece, minha profunda atração subsequente pelas concepções junguianas.
Finalmente, para mim tornou-se impossível lidar com os sonhos, de maneira satisfatória, a partir de uma perspectiva não junguiana. Todas as outras teorias dos sonhos pareciam ser casos especiais da concepção junguiana, mas eu não conseguia encaixar a ampla visão de Jung em qualquer outra teoria existente. Tornei-me junguiano convicto.
Minha própria análise junguiana foi o mestre básico acerca do significado dos sonhos, motivo pelo qual serei sempre grato a meus analistas Rivkah Scharf Kluger, Dieter Baumann, Marie-Louise von Franz e Edward Whitmont. O trabalho com inúmeros analisandos ao longo de muitos anos de prática clínica proporcionou-me a confirmação desses dados. Em 1977, publiquei um texto básico sobre interpretação dos sonhos intitulado Clinical Uses of Dreams: Jungian Interpretations and Enactments, no qual comparei a teoria junguiana dos sonhos a outras teorias significativas, sublinhando diferenças e semelhanças. Também incluí uma modesta tentativa de relacionar a teoria onírica junguiana ao estudo de laboratório do sono e do sonho.
O presente volume não reexamina essas várias comparações, mas oferece conselhos práticos e honestos quanto à interpretação dos sonhos e seu uso à luz dos princípios básicos da psicologia junguiana. Destaquei constantes problemas clínicos, apresentando exemplos e discussões dos motivos pelos quais certas interpretações são preferidas, e, na maioria dos casos, demonstrei como essas interpretações se relacionam com mudanças clínicas. São indicadas algumas referências úteis, mas não há a intenção de voltar a fornecer uma recapitulação exaustiva da crescente literatura sobre a interpretação dos sonhos.
Podem-se fornecer diretrizes gerais para a interpretação dos sonhos, mas não é possível apontar regras estanques de procedimento. Não existe substituto para a análise pessoal e para a experiência clínica de um indivíduo sob supervisor qualificado, ambos elementos essenciais de qualquer treinamento psicanalítico em qualquer escola de qualquer ênfase.
Os sonhos utilizados aqui como ilustrações clínicas não são apresentados com toda gama de ampliação que pode ocorrer numa hora de análise. Nem tampouco, na maioria dos casos, tentei mostrar a rica matriz de um significado pessoal em que um sonho pode ser acomodado durante a análise. Essas omissões são necessárias por questão de brevidade e para permitir que nos concentremos no problema clínico ilustrado.
Todos os sonhos foram utilizados com a autorização das pessoas que os tiveram, embora se possa argumentar que motivos e tipos semelhantes de sonhos ocorrem frequentemente em muitos indivíduos. Por conseguinte, nenhum dos meus analisandos identificará qualquer dos sonhos como seu, nem deverá tomar os comentários sobre um exemplo de sonho referentes a qualquer dos seus. Esses sonhos são extraídos da rica matriz de análise clínica junguiana e apresentados com fins ilustrativos especiais.
Capítulo 1
CONCEITOS BÁSICOS DA PSICOLOGIA JUNGUIANA
M
Jung empregou determinados termos para descrever as diferentes partes da psique, tanto a consciente quanto a inconsciente. Esses conceitos foram empiricamente deduzidos da observação de uma considerável quantidade de material clínico, incluindo os primeiros trabalhos de Jung com associação de palavras, que formaram a base para o teste de polígrafo (o moderno detector de mentiras) e para o conceito de complexos psicológicos. (Jung já estava profundamente envolvido nos estudos de associação de palavras quando leu, pela primeira vez, A interpretação dos sonhos, de Freud, publicado em 1900.)
É útil considerar os conceitos junguianos básicos em várias categorias, embora nos cumpra lembrar que as divisões são mais ou menos arbitrárias e por conveniência de descrição e discussão; na psique vivente, níveis diferentes e estruturas várias funcionam como um todo organizado. Existem duas divisões topográficas básicas: a consciência e o inconsciente. O inconsciente, por sua vez, está dividido em inconsciente pessoal e psique objetiva. A primitiva designação junguiana da psique objetiva foi inconsciente coletivo
; esse ainda é o termo mais amplamente utilizado quando se discute a teoria de Jung. O termo psique objetiva
foi introduzido para evitar confusão com os grupos coletivos heterogêneos da espécie humana, uma vez que Jung quis enfatizar, de modo especial, que as profundezas da psique humana são objetivamente tão reais quanto o universo real
, exterior, da experiência consciente coletiva.
Há, pois, quatro níveis da psique:
consciência pessoal, ou percepção consciente ordinária;
inconsciente pessoal, exclusivo de uma psique individual, mas não consciente;
psique objetiva, ou inconsciente coletivo, que possui estrutura aparentemente universal na humanidade; e
mundo exterior da consciência coletiva, mundo cultural de valores e formas compartilhados.
Nessas divisões topográficas básicas, há estruturas gerais e especializadas. As estruturas gerais são de dois tipos: imagens arquetípicas e complexos. As estruturas especiais das partes pessoais da psique, tanto conscientes como inconscientes, são quatro: o ego, a persona, a sombra e a sizígia (grupamento pareado) de animus/anima. Na psique objetiva, existem arquétipos e imagens arquetípicas cujo número não pode ser estabelecido com precisão, embora haja um notável arquétipo: o Si-mesmo, que também pode ser referido como o arquétipo central de ordem.
Estruturas gerais
Os complexos são grupamentos de imagens afins que se conservam juntas por meio de um tom emocional comum. Jung descobriu a presença de complexos emocionalmente harmonizados quando notou a regularidade nas associações dos indivíduos a respostas omitidas ou retardadas, no experimento de associação de palavras. Verificou que, em cada indivíduo, a tendência dessas associações era a de se aglomerarem em torno de certos temas, como as associações com a mãe – complexo materno
. O termo complexo
passou, desde muito tempo, para o uso cultural geral, de modo mais ou menos vago e impreciso. Os complexos são o conteúdo básico do inconsciente pessoal.
As imagens arquetípicas são o conteúdo básico da psique objetiva. Os próprios arquétipos não são diretamente observáveis, mas, à semelhança de um campo magnético, são discerníveis por sua influência sobre o conteúdo visível da mente, as imagens arquetípicas e os complexos personificados ou mentalmente representados. O arquétipo é, em si mesmo, uma tendência para estruturar as imagens de nossa experiência, de maneira particular, mas não é a própria imagem. Ao examinar o conceito de arquétipo, Jung comparou-o à formação de um cristal numa solução saturada: a estrutura treliçada de determinado cristal obedece a certos princípios (o arquétipo), ao passo que a forma concreta que ele tomará (imagem arquetípica) não pode ser prevista. Todos nascemos com tendência a formar certas imagens, mas não com as próprias imagens. Há uma tendência humana universal, por exemplo, para formar uma imagem de mãe, mas cada indivíduo forma certa imagem materna com base nesse arquétipo humano universal.
As imagens arquetípicas são imagens profundas e fundamentais, que se formam pela ação dos arquétipos sobre a experiência que vai se acumulando na psique individual. Elas diferem das imagens dos complexos à medida que possuem significado mais generalizado, mais universal, muitas vezes com qualidade afetiva de profundo efeito espiritual ou místico. As imagens arquetípicas significativas a um grande número de pessoas, durante longo período de tempo, tendem a se inserir culturalmente no consciente coletivo. Exemplos de forma cultural são as imagens do rei, da rainha, da Virgem Maria e de figuras religiosas como Jesus ou Buda. Muitas figuras e situações coletivas comportam imagens arquetípicas sem que as pessoas se apercebam ordinariamente da projeção. Fortes reações emocionais após o assassinato ou a morte de uma figura pública, como um presidente, um