Box - Sinais do Sagrado: A coleção que transformou a vida de milhões de leitores
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Box - Sinais do Sagrado - Padre Reginaldo Manzotti
© 2016, by Pe. Reginaldo Manzotti
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CIP-Brasil. Catalogação na Publicação. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
M253e
Manzotti, Reginaldo
Encontros : Jesus quer encontrar você para curar frustração, angústia, tristeza, medo, cegueira espiritual, vazio interior, baixa autoestima e decepção / Reginaldo Manzotti. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Petra , 2016.
(Sinais do sagrado)
ISBN 978.85.220.2956-3
1. Vida cristã. 2. Deus. 3. Fé. 4. Técnicas de auto-ajuda. I. Título. II. Série.
16-31077
CDD: 248.4
CDU: 27-584
Sumário
Capa
Folha de rosto
Ficha catalográfica
Introdução
Primeiro encontro. Jesus e a samaritana (joão 4, 5-30)
Segundo encontro. Jesus e Levi (Marcos 2, 13-17)
Terceiro encontro. Jesus e Maria Madalena (Lucas 8, 1-3)
Quarto encontro. Jesus e Pedro (Lucas 5, 1-11)
Quinto encontro. Jesus e Paulo (Atos 9, 1-18)
Sexto encontro. Jesus e Nicodemos (João 3, 1-15)
Sétimo encontro. Jesus e Zaqueu (Lucas 19, 1-10)
Oitavo encontro. Jesus e os discípulos de Emaús (Lucas 24, 13-35)
Conclusão
Leituras recomendadas
Folha de rosto
Agradecimentos
Introdução
Primeiro milagre: Senhor, dá-nos alegria e vontade de viver
Segundo milagre: Senhor, tem compaixão, cura nossas lepras
Terceiro milagre: Senhor, livra-nos do maligno
Quarto milagre: Senhor, cura nossas cegueiras
Quinto milagre: Senhor, liberta do mal a família
Sexto milagre: Senhor, dá-nos a graça da fé
Sétimo milagre: Senhor, cura nossas enfermidades do corpo e da alma
Conclusão
Referências bibliográficas
Folha de rosto
Agradecimento
Apresentação
Introdução
Primeira parábola: Em minha vida, qual solo
ofereço para Deus jogar Suas sementes? - Parábola do Semeador (Mateus 13,1-23)
Segunda parábola: Deus se esqueceu de mim? - Parábola dos Trabalhadores da Vinha (Mateus 20,1-16)
Terceira parábola: Que filho sou eu do Pai da Misericórdia? - Parábola do Filho Pródigo (Lucas 15,11-32)
Quarta parábola: Já fiz a experiência de me sentir perdoado, se não consigo perdoar? - Parábola do Servo Mau (Mateus 18,21-35)
Quinta parábola: Sinto-me ovelha machucada e perdida
? - Parábola da Ovelha Perdida (Lucas 15,4-7)
Sexta parábola: Estou tão voltado para mim que não percebo as necessidades do outro? - Parábola O Bom Samaritano (Lucas 10,29-37)
Sétima parábola: Qual a desculpa de hoje
para não estar com Deus? - Parábola do Banquete Nupcial (Mateus 22,1-14)
Oitava parábola: Tenho combustível
suficiente para concluir a jornada da minha existência? - Parábola das Dez Virgens (Mateus 25,1-13)
Conclusão
Referências bibliográficas
Colofão
Vivemos hoje um momento de crise da fé ou de falta dela. Mas não se trata da posição cômoda daqueles que são cristãos por tradição, por medo ou por superstição. Refiro-me à fé que implica acreditar sem ver e prosseguir pelo caminho reto guiado por Jesus Cristo.
Todo convite a Jesus é bem-vindo. Ele não faz distinção entre as pessoas e nunca se fechou para ninguém. Mas, então, por que alguns conseguiram ter uma experiência pessoal com o Salvador e outros, não?
Jesus nunca se negou a oferecer Sua Boa-nova para todos — pobres e ricos, pescadores e cobradores de impostos, fariseus e saduceus. Porém, quanto mais Cristo mostrava quem era e por que tinha vindo, eram justamente os mais humildes, aqueles que se encontravam no limiar da esperança e em condição de pecado, os primeiros a demonstrar abertura de coração e a aceitação da Sua palavra. Os aristocratas e poderosos que se achavam sadios também tentaram se aproximar de Jesus, mas continuaram doentes, pois não conseguiram se desvencilhar de suas velhas crenças.
Na verdade, isso acontece ainda hoje. Ao longo da vida, desenvolvemos convicções e certezas que vão se cristalizando de uma forma tão intensa que se torna muito difícil se desfazer delas. Algumas funcionam até como uma espécie de mecanismo de defesa; criamos barreiras para nos proteger, mas acabamos nos isolando. Com isso, em vez de avançarmos para uma atitude de conversão, misericórdia e compaixão, acabamos com o coração endurecido, o que resulta em uma indiferença a Deus, à Sua Palavra, ao próximo.
Os encontros com Nosso Senhor Jesus Cristo são impulsionados pela ação de Deus, que vem até nós por meio de Seu Filho. Não obstante, eles também dependem da aceitação, da abertura e da acolhida de cada um de nós.
Este livro nos mostra exatamente isso!
Jesus não mede esforços para atender àqueles que querem uma vida plena ao Seu lado. Isso vale para todos. Porém, a fé consiste em um encontro pessoal com Ele, tal qual experimentaram as pessoas cujos exemplos utilizamos como inspiração neste livro: a mulher samaritana, Mateus, Maria Madalena, Pedro, Paulo, Nicodemos, Zaqueu e os discípulos de Emaús.
À luz desses exemplos, cabe a nós refletir: o que fazemos quando Jesus vem em nossa direção?
Se O convidarmos para vir à nossa casa, Ele virá. Não tenhamos dúvida. Ele virá porque somos preciosos aos Seus olhos. A família de cada um de nós é preciosa. Ele sabe o que vivemos e o quanto precisamos Dele.
Como é importante ter essa intimidade com Jesus! Amar à distância é viver de lembranças que não satisfazem. Se não estivermos próximos de Jesus, a fé não amadurece, porque ela é como o amor: cresce quando estamos na presença da pessoa amada — neste caso, de Jesus, o Amado.
Você quer ter fé e alcançar as curas de que necessita na sua vida?
Aproxime-se de Jesus!
Ele pode curar, libertar, dar-nos todas as bênçãos de que necessitamos.
Sem intimidade com Jesus, nós somos como meros papagaios. De que adiantaria servir muito bem à Igreja e ser um padre que aparece na televisão se não fosse para levar a Palavra e aproximar as pessoas de Cristo? De que adianta sermos grandes conhecedores dos ensinamentos do Senhor, contudo sem uma ligação amorosa com Ele? Jesus pode, sim, fazer algo por cada um de nós, mas precisamos buscar uma intimidade verdadeira com Ele.
Essa experiência de amor altamente poderosa e transformadora é aqui revelada passo a passo, por meio de oito encontros reais que ocorreram há séculos, mas poderiam perfeitamente nos surpreender em uma das esquinas da nossa vida. Não há prazo de validade para pedirmos que Jesus transforme nosso coração, conforme Deus nos prometeu por meio da Profecia de Ezequiel: Derramarei água sobre vós e ficareis puros; sim, purificar-vos-ei de todas as vossas imundícies e de todos os vossos ídolos imundos. Dar-vos-ei um coração novo, porei no vosso íntimo um espírito novo, tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne
(Ezequiel 36,25-26).
Este livro prova que o encontro com Jesus pode ser real e eficaz, transformando, curando e trazendo benefícios concretos para a nossa vida.
Lembro que o Papa Francisco vem insistindo no convite para renovarmos o encontro com Cristo. Quem pode dizer que já fez essa experiência? Eu a fiz ao dar vazão à minha vocação, e acredito que muita gente também já teve esse privilégio. Contudo, o problema é que esquecemos de renovar essa aliança a cada dia.
Sigamos, portanto, o conselho do nosso Santo Padre e refaçamos o nosso encontro com Jesus Cristo a todo instante. Esse é o segredo para termos uma vida restaurada e sermos cristãos autênticos.
Assim como as personagens deste livro, você está convidado a fazer uma viagem transformadora que lhe proporcionará as curas trazidas pela experiência do encontro com Jesus.
Se você tivesse que definir este momento da sua vida por meio de uma cor, qual seria ela?
A pergunta pode parecer estranha, ainda mais com esse corre-corre danado em que nunca temos tempo nem para nós mesmos, quanto mais para atribuir uma cor à nossa vida. Mas eu sou um padre turrão e insisto: já que você parou um pouco a sua rotina para ler este livro, faça um esforço e responda à pergunta. Antes, porém, permita-me deixá-la ainda mais direta:
Será que a sua vida não caiu em uma rotina de frustrações ou insatisfações daquelas bem cinzentas, que o foram afastando de Deus, e agora você necessita de uma fonte de luz que ajude a colorir tudo de novo?
Se essa é uma queixa sua ou de alguém conhecido – um familiar ou amigo –, prepare-se para este encontro com Jesus. Se você tem consciência disso e até já se conformou, está partindo atrasado...
Sua companheira de jornada é a mulher samaritana, alguém que, não por acaso, vivia a mesmice do dia a dia sem motivação alguma e, por isso, não esperava muito da vida:
Chegou, então, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região que Jacó tinha dado a seu filho José. Ali se achava a fonte de Jacó. Fatigado da caminhada, Jesus sentou-se junto à fonte. Era por volta da hora sexta. Uma mulher da Samaria chegou para tirar água. Jesus lhe disse:
Dá-me de beber!
Seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimento.
Diz-lhe, então, a samaritana:
Como, sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana?
(Os judeus, com efeito, não se dão com os samaritanos.)
Jesus lhe respondeu:
Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!
Ela lhe disse:
Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde, pois, tiras essa água viva? És, porventura, maior que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, assim como seus filhos e seus animais?
Jesus lhe respondeu:
Aquele que bebe desta água terá sede novamente; mas quem beber da água que eu lhe darei, nunca mais terá sede. Pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna.
Disse-lhe a mulher:
Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir mais aqui para tirá-la!
Jesus disse:
Vai, chama teu marido e volta aqui.
A mulher lhe respondeu:
Não tenho marido.
Jesus lhe disse:
Falaste bem: ‘Não tenho marido’, pois tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido; nisso falaste a verdade.
Disse-lhe a mulher:
Senhor, vejo que és um profeta... Nossos pais adoraram sobre esta montanha, mas vós dizeis: ‘É em Jerusalém que está o lugar onde é preciso adorar.’
Jesus lhe disse:
Crê, mulher, vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora — e é agora — em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.
A mulher lhe disse:
Sei que vem um Messias (que se chama Cristo). Quando ele vier, nos anunciará tudo.
Disse-lhe Jesus:
Sou eu, que falo contigo.
Naquele instante, chegaram os seus discípulos e admiravam-se de que falasse com uma mulher; nenhum deles, porém, lhe perguntou Que procuras?
ou O que falas com ela?
.
A mulher, então, deixou seu cântaro e correu à cidade, dizendo a todos:
Vinde ver um homem que me disse tudo o que fiz. Não seria ele o Cristo?
Eles saíram da cidade e foram ao seu encontro.
João 4,5-30
Esse encontro de Jesus com a samaritana é surpreendente. Primeiramente, porque não era costume de um judeu passar pela região chamada de Samaria. Em segundo lugar, pelo fato de ter ocorrido ao meio-dia, horário em que era pouco provável aparecer alguém para retirar água de um poço. Simples coincidência? Não creio. Na minha interpretação, podemos dizer que Jesus e a samaritana estavam no lugar certo, na hora certa.
Cristo chegou àquele local cansado, com fome, sede, e logo ficou sozinho, pois os discípulos foram à cidade para comprar comida. Sem uma vasilha, não conseguiria tirar água do poço, que evidentemente era fundo. Diante dessa situação, Ele não hesita em pedir água. Perceba que é sempre Ele, em todos os encontros, quem toma a iniciativa.
Jesus inicia um diálogo colocando-Se em situação de pedinte: Dá-me de beber.
A mulher, por sua vez, mostra-se queixo duro
, como se diz popularmente, e questiona como Ele pedia isso a uma samaritana sendo um judeu. Conforme já expliquei nos outros livros desta trilogia, os samaritanos eram considerados hereges pelo povo judaico.
Jesus não Se incomoda e revela à samaritana a existência de uma água viva
, isto é, uma nova água ou nova vida, o dom de Deus. Ela, por sua vez, começa a alimentar o desejo de saciar sua sede, porém agora com uma nova fonte, a água viva
que está diante de si e lhe permite superar as suas próprias limitações. O fato de a samaritana ter ido buscar água ao meio-dia é bastante sintomático, pois significa que ela está na metade da vida, que é justamente a hora da mudança. Mais do que simplesmente buscar água, ela está à procura de uma água diferente, um encontro capaz de mudar sua vida, da qual traremos mais alguns detalhes.
Como tantas mulheres mal-amadas, a samaritana buscava a felicidade. Passou por cinco relacionamentos, teve cinco maridos, e, no entanto, não tinha ninguém. Hoje em dia muitas pessoas desconhecem a realidade de uma mulher naquela época. Não era nada fácil, e a condição da samaritana equivalia a uma sentença de rejeição. Ela também era estigmatizada pelo simples fato de ser mulher, cuja posição na sociedade era bem inferior à do homem. A exclusão social das mulheres ocorria de uma forma muito mais ostensiva do que hoje, e a maioria delas vivia em reclusão doméstica.
Outro fardo que pesava sobre a samaritana era ser uma pecadora. Por essa razão que a samaritana foi até o poço com o sol a pino, um horário flagrantemente impróprio para uma região seca, comum aos desertos. O recomendado seria fazer isso pela manhã ou no fim da tarde, quando as temperaturas são mais baixas. Contudo, ela queria evitar o confronto com as chamadas mulheres de boa índole
, pois não gozava de boa fama e acabaria por sofrer julgamentos ou receber críticas.
Uma terceira infração estava na sua origem samaritana, o que despertava inimizade por uma série de acontecimentos concernentes à história do povo de Israel. Por último, ela vivia em situação de pobreza, afinal não cabia às mulheres de famílias ricas a tarefa de buscar água no poço, e sim às suas criadas. Em síntese, a samaritana é uma mulher pecadora, estrangeira e pobre que, ao buscar água no poço de Jacó, encontra-se com Jesus, e é a partir daí que são quebrados todos esses preconceitos.
O poço de Jacó, na verdade, simboliza o Antigo Testamento. A samaritana busca a fonte do Antigo Testamento, a antiga Lei, mas Jesus a instiga a compreender que aquela água não vai matar a sua sede e lhe oferece outra, que se revela como a água viva. Então, podemos fazer a seguinte reflexão: quantas vezes procuramos matar a sede com uma água que até pode suprir nossa necessidade naquele momento, contudo não é capaz de saciar realmente a sede de vida, esperança e fé que todos nós temos?
Trata-se de um tipo de equívoco muito comum, e a prova disso é o número infindável de pessoas que se sentem perdidas. Desesperadas, bebem todo tipo de água
, buscando fontes
que prometem soluções mágicas e até mesmo a cura total ou uma vida sem problemas. Ora, isso não tem cabimento. Deus não é mágico e a religião não é um supermercado de bênçãos.
Não posso oferecer uma água e dizer que não haverá mais problemas e doenças, ou que todas as dificuldades financeiras serão resolvidas. Eu estaria sendo leviano e agiria como profeta de mim mesmo se prometesse esse tipo de intervenção da parte de Deus. Nem Seu Filho prometeu que não teremos cruzes, e quem diz o contrário é charlatão, pois Jesus orientou-nos a tomarmos a nossa cruz e O seguirmos (cf. Mateus 16,24). Ele próprio, água viva capaz de nos levar à vida eterna, não diz à samaritana que ela jamais terá problemas dali em diante, e sim que sempre estará lá para matar a sua sede.
Errar na escolha da fonte que nos abastece traz incontáveis prejuízos, e não é à toa que muitos hoje sofrem com problemas relacionados à depressão. Essa é a maior doença do século XXI e sua incidência aumenta assustadoramente, assim como os quadros de ansiedade e o número de mortes por suicídio. Nos programas de rádio e TV, tenho recebido partilhas muito preocupantes de pessoas que atentaram contra a própria vida. Meu livro Feridas da alma contém uma abordagem completa desse assunto, incluindo os caminhos para cura e libertação, por isso fiz questão de mencioná-lo aqui para reforçar a importância de nos encontrarmos o quanto antes com Jesus Cristo.
Para isso, antes de mais nada, temos de checar direitinho qual é a água que bebemos e se permanecemos insatisfeitos. Mesmo que a resposta não seja positiva, devemos comemorar a boa notícia trazida pelo exemplo da mulher samaritana, indicando que nunca é tarde para esse encontro com Jesus. Perceba que Ele não a cobra por seus desatinos e descaminhos; apenas Se refere aos seus relacionamentos anteriores e ao marido atual, que, na verdade, não é seu marido.
No que diz respeito aos cinco maridos passados da samaritana e ao atual, as interpretações se dividem. Uma exegese mais antiga e conservadora acredita tratar-se de uma mulher de má reputação devido aos seus relacionamentos amorosos, que a fazem ser vista quase como uma prostituta. Já uma linha mais contemporânea de estudiosos entende a referência aos maridos
da samaritana não como pecados morais, e sim pecados de idolatria. Na linguagem profética do Antigo Testamento, os baalim (falsos deuses) eram chamados de maridos e a idolatria, de prostituição e adultério, como neste trecho da Profecia de Jeremias: E eu dizia: ‘Vós me chamareis
Meu Pai, e não vos afastareis de mim.’ Mas como uma mulher que trai o seu companheiro, assim vós me traístes, casa de Israel. Oráculo de Iahweh
(Jeremias 3,19-20). Com qualquer desses dois enfoques percebemos que o coração da samaritana não pertencia ao verdadeiro Deus, mas a seus maridos ou a seus vários e falsos deuses.
Então, a pergunta que devemos nos fazer é: Quem é que tem desposado a minha alma? Quantas vezes entreguei meu coração a um falso deus ou a um ídolo?
Ao afirmar que não tem marido, a samaritana deixa transparecer sua imensa frustração. E quanto a nós, quantas desilusões colecionamos ao nos entregarmos a falsas doutrinas, que podem ser tanto de ordem espiritual quanto material, como fama, sucesso, poder. Um dos falsos deuses mais cultuados é o dinheiro, que acaba possuindo nosso coração e leva ao cometimento de grandes atrocidades. Outro é a sexualidade, com a qual não sabemos lidar e sobre a qual temos até dificuldade de rezar. Acreditamos ser melhor não falar a respeito e fazemos vista grossa, mas eu pergunto: por que não trabalhar esse assunto diante de Deus e assumirmos as nossas limitações?
Jesus nos oferece a oportunidade de adentrarmos um caminho de cura e libertação por meio da água viva que é Ele próprio, mas precisamos liberar espaço para receber essa dádiva.
A samaritana teve a felicidade de estar com o jarro vazio, enquanto a maior parte de nós está com o jarro entupido e prestes a transbordar. Às vezes, estamos em um estado de irritação tão intenso que ninguém nos suporta, e basta um único revés para sairmos dando coice em todo mundo. São dias em que deveríamos nos esforçar para esvaziar um pouco o jarro.
Para isso, é preciso ter coragem de dizer:
Senhor, eu me esvazio de tudo o que me dá segurança hoje, pois quero beber desta água. Eu quero que meu coração tenha um único marido, que nunca vai me frustrar: Jesus Cristo. Eu quero entregar minha alma a quem nunca vai ser motivo de minhas lágrimas. Eu me esvazio, Senhor. Eu derramo o que tem dentro de mim para receber a água viva que me ofereces.
Outro ponto a favor da samaritana é o fato de ela saber exatamente qual era o poço no qual não queria mais buscar água. Muitas pessoas até já sabem, mas têm dificuldade de admitir por medo ou vergonha, como é o caso das compulsões e dos vícios. Outras querem posar de fortes o suficiente para reverter a situação a qualquer momento, mas quando se dão conta já é tarde demais. Costumo dizer que para combater uma espiral de problemas e confusões é preciso criar uma espiral de cuidados. Então, cuidado com os pensamentos, porque eles podem virar palavras. Cuidado com as palavras, porque elas podem virar ações. Cuidado com as ações, porque elas podem virar hábitos. Cuidado com os hábitos, porque eles podem forjar o caráter. E cuidado com o caráter, porque ele pode determinar o destino.
Quanto mais tempo passamos sem saber em qual poço estamos buscando água equivocadamente, maior a probabilidade de transformá-lo em uma muleta que usamos para sobreviver. De fato, são inúmeras as muletas que incorporamos sem precisarmos verdadeiramente delas e, assim, nos autocondenamos a passar a vida inteira capengando de um lado para o outro. Algumas dessas muletas podem proporcionar uma sensação inicial de alívio e até de conforto, mas certamente não há experiência mais poderosa e libertadora do que caminhar com as próprias pernas.
Lembro-me de um rapaz recém-casado que contou ter sido tentado por uma amiga de sua esposa e resistiu. Ele confessou: Padre, até que valia a pena, só que eu não tive coragem, porque não queria esse tipo de vida para mim
. Com essa atitude, ele demonstrou claramente que não queria beber água de um poço que conhecia bem, o qual poderia até se transformar em uma muleta para a vida inteira; antes, optou pela água cristalina do matrimônio, da lealdade e do respeito à família.
Por isso, volto a insistir: é primordial identificar o poço ruim, constatar os seus efeitos maléficos e não procurá-lo mais. Antigamente, não havia sistema de encanamento e era necessário cavar um buraco até encontrar água; depois, para fechá-lo, construía-se um piso