Eucaristia: Caminho para uma nova humanidade
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Sobre este e-book
A partir do radicalismo do amor proveniente da Eucaristia e da vivência da Palavra, os textos deste volume apontam caminhos de comunhão que podem estar na base da solução dos problemas que afligem os homens e as mulheres do nosso tempo
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Eucaristia - Alexandre Araújo
EUCARISTIA
Caminho para uma nova humanidade
©Editora Cidade Nova – São Paulo – 2010
Coordenação editorial: Alexandre Araújo
Traduções: Christina Stummer, João Batista Florentino
e Siomara Fernandes Costa
Copidesque: Alexandre Araújo, Irami B. Silva,
José Eustáquio Rosa e Klaus Brüschke
Revisão: Antonio Capelesso, Germano van der Meer
e Ignez Maria Bordin
Projeto gráfico e Capa: Tomás de Aquino Reckziegel Bersch
Conversão para Epub: Cláritas Comunicação
Todos os direitos estão reservados
ISBN 978-85-7821-091-5
Agradecemos aos Editores que gentilmente cederam
traduções e textos para esta coletânea
Editora Cidade Nova
Rua José Ernesto Tozzi, 198
Vargem Grande Paulista — São Paulo — Brasil
CEP 06730-000 — Telefax: (11) 4158.2252
www.cidadenova.org.br
editoria@cidadenova.org.br
SIGLAS
CIC - Catecismo da Igreja Católica, 1993
DAp - Documento de Aparecida, 2007
DCE - Carta encíclica de Bento XVI Deus caritas est, 2005
DD - Carta apostólica de João Paulo II Dies Domini, 1998
EdE - Carta encíclica de João Paulo II Ecclesia de Eucharistia, 2003
EN - Exortação apostólica de Paulo VI Evangelii nuntiandi, 1975
LG - Constituição dogmática Lumen gentium sobre a Igreja, 1964
MND - Carta apostólica de João Paulo II Mane nobiscum Domine, 2004
NMI - Carta apostólica de João Paulo II Novo millennio ineunte, 2001
SC - Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, 1963
SCa - Exortação apostólica pós-sinodal de Bento XVI Sacramentum caritatis, 2007
TMA - Carta apostólica de João Paulo II Tertio millennio adveniente, 1994
APRESENTAÇÃO
É pertinente publicar uma coletânea de textos cujo tema central é a Eucaristia como caminho para uma nova humanidade. Numa sociedade em que a concentração dos bens e a exploração dos recursos naturais sem critérios sustentáveis impossibilitam sempre mais a promoção humana, temáticas como essa tornam-se prementes e podem oferecer soluções concretas para os problemas que nos desafiam. A Eucaristia não é uma realidade circunscrita apenas à esfera ritual de um templo cristão, por isso é possível indicá-la como caminho de transformação.
Convidamos a quem ler estas páginas a constatar essas afirmações e outras que certamente irão nascer de uma profunda reflexão e experiência do que significa a Eucaristia para a Igreja e para a sociedade.
Com efeito, os textos compilados neste volume, abrangendo campos diversos, como teologia, espiritualidade, liturgia, testemunho, pastoral e catequese, de grande variedade de estilos e escritos em épocas e contextos diferentes, têm uma nota em comum. De todos eles, emerge o radicalismo do amor proveniente da Eucaristia e da vivência da Palavra que transforma indivíduos, grupos e comunidades, levando-os à comunhão e ao encontro de caminhos que solucionem ou amenizem os problemas que afligem os homens e as mulheres do nosso tempo.
Com este volume, a Editora Cidade Nova quer contribuir com a reflexão suscitada pelo XVI Congresso Eucarístico Nacional de Brasília, cujo tema é Eucaristia, pão da unidade dos discípulos missionários e o lema Fica conosco, Senhor! O nosso desejo é oferecer, aos leitores, um espaço que possibilite uma maior e mais profunda contemplação, adoração e vivência desse sacramento central da vida cristã, que tem uma ampla incidência nos diversos campos da vida humana.
A Eucaristia convoca cada batizado a se tornar caminhante com a comunidade cristã e com todos os homens e mulheres do nosso tempo, tendo em nosso meio o Caminhante por excelência: Jesus Cristo. Mediante a Eucaristia, Ele vem ao nosso encontro, permanecendo conosco sob os véus do ‘pão partido’
(MND, n. 1) e direcionando-nos ao céu novo e uma nova terra, onde habitará a justiça
(cf. 2Pd 3,13).
A nossa convicção é que a Eucaristia é escola de comunhão e de partilha; portanto, ao celebrarmos a fração do pão com fidelidade, ela nos potencializa a estabelecer relacionamentos que constroem a dinâmica gratuita do dom na política, na economia, na educação, na pastoral, ou seja, onde quer que uma comunidade alimentada pelo pão do Senhor esteja, viva e trabalhe. Com a Eucaristia aprendemos e experimentamos o significado mais profundo da doação.
Como afirmou Bento XVI no seu discurso inaugural da Conferência de Aparecida, só da Eucaristia brotará a civilização do amor que transformará a América Latina e o Caribe para que, além de ser o Continente da esperança, seja também o Continente do amor!
(DAp, n.128).
Alexandre Araújo
Ricardo Pinto
UMA DÉCADA EUCARÍSTICA
Vitor Galdino Feller
A imagem dilacerada de nosso mundo, que iniciou o novo Milênio com o espectro do terrorismo e da tragédia da guerra, mais que nunca, chama os cristãos a viverem a Eucaristia como uma grande escola de paz, onde se formam homens e mulheres que, nos vários níveis de responsabilidade na vida social, cultural e política, se fazem construtores de diálogo e de comunhão. (MND, n. 27)
Vitor Galdino Feller é presbítero diocesano da Arquidiocese de Florianópolis, onde é coordenador de pastoral; doutor em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma; diretor e professor do Instituto Teológico de Santa Catarina — ITESC, onde leciona disciplinas na área de teologia sistemática.
Com o tema Eucaristia, pão da unidade dos discípulos missionários e o lema Fica conosco, Senhor! , o XVI Congresso Eucarístico Nacional insere-se na caminhada de recepção do Documento de Aparecida e, em linhas mais gerais, na recepção de documentos e eventos eucarísticos do início deste Terceiro Milênio, cuja primeira década poderia ser chamada de eucarística.
UM MAGISTÉRIO EUCARÍSTICO
O ano do jubileu bimilenar da Encarnação de Deus em Jesus de Nazaré foi um ano intensamente eucarístico
(TMA, n. 55; NMI, n. 11). Após o jubileu, o papa João Paulo II quis que a Eucaristia continuasse no centro de nossas atenções, como a sugerir que iniciássemos o novo milênio voltados para o sacramento central da fé cristã. Na Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte, pediu que no milênio que se iniciava se pusesse o máximo empenho na liturgia
, dando particular relevo à Eucaristia dominical e ao próprio domingo
(NMI, n. 35). Citando sua própria Carta Apostólica Dies Domini sobre o domingo, propôs que a participação na Eucaristia seja verdadeiramente, para cada batizado, o coração do domingo
(NMI, n. 36) e que a Igreja continue a indicar a cada geração a celebração dominical da Páscoa de Cristo como o eixo fundamental da história, ao qual fazem referência o mistério das origens e o do destino final do mundo
(DD, n. 2; NMI, n. 35).
Dois significativos documentos do final de sua vida referem-se à Eucaristia: a Encíclica Ecclesia de Eucharistia, de 2003, e a Carta Apostólica Mane nobiscum Domine, de 2004; esta última para abrir o Ano da Eucaristia, que seria celebrado de outubro de 2004 a outubro de 2005, quando se deveria realizar o Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia. Pode-se dizer que o chamado à Eucaristia foi uma espécie de testamento do grande Papa da virada de milênio. No final de Ecclesia de Eucharistia, em que propôs a exigência duma espiritualidade eucarística, indicando por modelo Maria como mulher eucarística
(EdE, nn. 53-58), ele conclamava: Na aurora deste terceiro milênio, todos nós, filhos da Igreja, somos convidados a progredir com renovado impulso na vida cristã
que passa pela Eucaristia
(EdE, n. 6). E continuava: Cada esforço de santidade, cada iniciativa para realizar a missão da Igreja, cada aplicação dos planos pastorais deve extrair a força de que necessita do mistério eucarístico e orientar-se para ele como o seu ponto culminante
(EdE, n. 60).
No início de Mane nobiscum Domine, colocando-se no sulco do Concílio Vaticano II e do Grande Jubileu, o Papa revela o desejo de pôr a Eucaristia no centro de suas preocupações sobre o milênio que se iniciava. Lembrando de quando havia anunciado a celebração do jubileu, dizia:
Não tinha ilusões, por certo, de que uma simples data cronológica, apesar de sugestiva, pudesse por si mesma comportar grandes mudanças. Os fatos encarregaram-se, infelizmente, de pôr em evidência, após o início do milênio, uma espécie de crua continuidade com os acontecimentos anteriores e frequentemente com os piores dentre eles. Foi-se delineando assim um cenário que, a par de reconfortantes perspectivas, deixa entrever opacas sombras de violência e de sangue que não cessam de nos entristecer. Mas, ao convidar a Igreja para celebrar o Jubileu dos dois mil anos da Encarnação, eu estava perfeitamente convencido — e ainda o estou mais agora! — de trabalhar para os ‘tempos longos’ da humanidade (n. 6).
Assim, a Eucaristia, centro, fonte e cume da vida da Igreja (SC, n. 10), é também o centro, a fonte e o cume dos tempos longos da história da humanidade, e mesmo do cosmos, no início desse milênio que já nasce conturbado, mas marcado por grandes esperanças.
O papa Bento XVI quis que esta primeira década do novo milênio continuasse com o timbre eucarístico. Logo no início do pontificado, deu continuidade à realização do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia. E na conclusão da década, instituiu o Ano Sacerdotal que, embora não seja diretamente ligado à Eucaristia, está ligado à pessoa e ao ministério sacerdotal, os quais têm como centro a presidência da assembleia eucarística.
Na Exortação Pós-Sinodal Sacramentum caritatis, publicada em 2007, sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja, colhendo as proposições dos padres sinodais, o Papa apresenta a Eucaristia como mistério acreditado no qual se aglutinam todas as verdades da fé cristã, como mistério celebrado, novo culto espiritual, harmonicamente estruturado na paixão pela beleza, no respeito à tradição e na abertura à inculturação, e, por fim, como mistério vivido, núcleo da ação pastoral e evangelizadora da Igreja.
Na sua primeira encíclica, Deus caritas est, do final de 2005, já se havia diversas vezes referido à Eucaristia como sacramento do amor de Deus que, encarnando-se, nos atrai a si: Assim se compreende por que motivo o termo ágape se tenha tornado também um nome da Eucaristia; nessa, a ágape de Deus vem corporalmente a nós, para continuar a sua ação em nós e através de nós
(DCE, n. 14).
Como sabemos há uma íntima relação entre Eucaristia e Caridade, palavras que vêm do grego cháris, que significa graça, encanto, brilho, apontando para o amor de Deus que nos olha com seu favor misericordioso. Foi a palavra usada por são Paulo para falar do grande amor de Deus manifestado em Jesus Cristo que, em sua morte e ressurreição, nos deu a graça da salvação. É significativo que o atual Papa tenha escolhido o termo caritas para compor o título de diversos de seus documentos. Nesse sentido, pode-se dizer que Caritas in veritate, sua encíclica social, de 2009, é profundamente eucarística. Ao tratar do desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade, visa indiretamente à economia da partilha que celebramos em cada missa, na forma estilizada de banquete e de sacrifício, quando fazemos memória da caridade máxima de Jesus para conosco, em sua morte e ressurreição. De fato, em nossa caridade cristã, em nossas ações sociais, transbordamos a força recebida da Eucaristia, tornando-nos eucaristia para os irmãos e fermento para uma nova sociedade.
O Documento de Aparecida, pondo-se na linha da grande tradição latino-americana, também põe a Eucaristia no centro das atenções. Reconhece, por diversas vezes, as presenças do Senhor Jesus em muitos lugares, como na comunidade viva, na Palavra, nos sacramentos, nos pastores da Igreja, nos pobres, na religiosidade popular, na devoção a Maria e aos santos, mostrando sempre que entre todos esses lugares sobressai a Eucaristia. Põe sempre a Eucaristia como fonte onde se alimentar para a caminhada evangelizadora, nos cinco passos — encontro, conversão, discipulado, comunhão e missão — a serem seguidos pelos discípulos missionários no grande afã de apresentar Jesus como Caminho, Verdade e Vida plena para nossos povos.
Particularmente significativa é a preocupação pastoral dos bispos latino-americanos que incentivam o povo a viver uma pastoral do domingo
, e se manifestam especialmente próximos às comunidades que não têm acesso à celebração dominical:
Com profundo afeto pastoral, queremos dizer às milhares de comunidades com seus milhões de membros que não têm a oportunidade de participar da Eucaristia dominical, que também elas podem e devem viver segundo o domingo
. Elas podem alimentar seu já admirável espírito missionário participando da celebração dominical da Palavra
, que faz presente o Mistério Pascal no amor que congrega (cf. 1Jo 3,14), na Palavra acolhida (cf. Jo 5,24-25) e na oração comunitária (cf. Mt 18,20). Sem dúvida, os fiéis devem desejar a participação plena na Eucaristia dominical, para a qual também os motivamos a orar pelas vocações sacerdotais (DAp, n. 253).
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