Concílio Plenário na Igreja do Brasil: A Igreja no Brasil de 1900 a 1945
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Concílio Plenário na Igreja do Brasil - Dom Irineu Roque Scherer
Índice
Capa
Rosto
Siglas e abreviações
Prefácio
Introdução
I. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
1. A Igreja do Brasil na época colonial
1.1 Situação da sociedade colonial
1.2 A Igreja e o Padroado
1.3 Consequências
1.4 O clero e as ordens religiosas
1.5 A instituição eclesiástica
1.6 O Primeiro Sínodo e o Primeiro Código da Igreja do Brasil
2. O conflito e a separação entre Igreja e Estado
2.1. A Questão Religiosa
2.2 O Positivismo e a Constituição de 1891
2.3. A Constituição Republicana e a Igreja
2.4 O Concílio Plenário Latino-Americano
3. O Brasil político, econômico e social do início do século XX até 1945
3.1. Fase do domínio das oligarquias
3.1.1. Principais Personagens e Obras
3.2 Queda do domínio oligárquico
3.3. A segunda república (1930-1945)
3.3.1. Desafio da revolução de 1930
3.3.2. O governo provisório (1932-1934)
3.3.3. A reconstitucionalização do Brasil (1934-1937)
3.3.4. O Estado Nacional (1937-1945)
4. Cenário religioso da Igreja no Brasil (1900-1939)
4.1. As conferências episcopais
4.2. Documentos coletivos do episcopado brasileiro (1901-1945)
4.2.1 Documentos Coletivos Provinciais
a) Documentos Coletivos das Províncias do Norte:
b) Documentos Coletivos das Províncias do Sul:
4.2.2 Documentos coletivos nacionais
4.2.3 A pastoral coletiva de 1915
4.3 Dom Sebastião Leme de Silveira Cintra (1882-1942)
II. O PRIMEIRO CONCÍLIO PLENÁRIO BRASILEIRO
1. A preparação próxima
Primeira fase
Segunda fase
Terceira fase
2. Decreto de convocação do Concílio Plenário Brasileiro
3. O Concílio Plenário Brasileiro
3.1. A participação e os encargos
1) Padres conciliares
2) Superiores religiosos e das congregações religiosas
3) Representantes dos cabidos de cônegos
4) Promotores
5) Secretários
6) Notários
7) Cerimoniários
8) Porteiros
9) Consultores do legado pontifício
3.2. Sessões solenes, congregações e celebrações
3.2.1. Dinâmica
3.2.2. Congregação preparatória
3.2.3. Primeira sessão solene
3.2.4. Solenes exéquias
3.2.5. Congregações gerais ou plenárias e particulares
3.2.6. Procissão eucarística
3.2.7. Segunda e última sessão solene
3.3. Outras celebrações
4. A Carta Pastoral de 20 de julho de 1939
5. A aprovação dos decretos pela Santa Sé
6. O Documento Concilium Plenarium Brasiliense
I – Decreta
II – Apêndices
III. DEPOIS DO CONCÍLIO PLENÁRIO BRASILEIRO
1. O influxo do concílio plenário na Igreja do Brasil
2. A nova edição da Pastoral Coletiva de 1915
3. A situação da Igreja do Brasil
Conclusão
Apêndices e Anexos
Bibliografia
Sobre o autor
Coleção
Ficha catalográfica
Notas
SIGLAS E ABREVIAÇÕES
PREFÁCIO
Confesso-me profundamente grato a dom Irineu Roque Scherer por confiar-me a incumbência de prefaciar sua obra histórica sobre o septuagésimo quinto aniversário do Primeiro Concílio Plenário Brasileiro – 1939-2014.
Li atentamente toda a obra. Causou-me admiração, alegria e contentamento a minuciosa pesquisa feita para apresentar uma obra de real valor histórico para os leitores.
Dom Irineu, antes de descrever o Concílio Plenário Brasileiro, fez belíssima síntese histórica de toda a situação política e religiosa do Brasil. A maioria absoluta da população era indígena; poucos brancos, exclusivamente portugueses, e mais tarde escravos. A migração de outras etnias só começou em 1808, com dom João VI.
O Brasil nasceu católico, com a primeira missa, em 26 de abril de 1500, celebrada por frei Henrique de Coimbra. Conservou oficialmente a religião católica até 1808, quando dom João VI permitiu o culto de outras denominações religiosas, começando com os imigrantes alemães luteranos.
O Padroado. O Padroado português surgiu com a Associação da Ordem de Cristo para a defesa da religião católica. Depois, o rei de Portugal assumiu a chefia, tendo um duplo poder, civil e religioso. O papa Calixto III, em 13 de março de 1455, concedeu aos reis de Portugal o poder de dilatar a fé católica, implantá-la nos países conquistados dos mulçumanos e novas descobertas, com a indicação de novas dioceses, seus bispos, novas paróquias e párocos; com as vantagens de conservar a fé católica, assegurar a parte econômica aos bispos e sacerdotes, e outras; assim como com as desvantagens de tolher a liberdade da Igreja.
As primeiras constituições. O arcebispo da Bahia, dom Sebastião Monteiro da Vide, reagiu contra os abusos do Padroado. Convocou, em 1707, um sínodo e promulgou as primeiras constituições que vigoraram no Brasil até o Primeiro Concílio Latino-Americano, em 1899, entrando em vigor em 1907, com 1.318 artigos sobre a fé, os sacramentos, a vida do clero com seu apostolado e as heresias, penas e censuras.
A questão religiosa entre a Igreja e a maçonaria. A maçonaria desenvolveu-se muito no Brasil, havendo sacerdotes e membros das irmandades maçons. O bispo do Rio de Janeiro, dom Pedro de Maria Lacerda, dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira e dom Antônio Macedo Costa reagiram fortemente. Reação que culminou com a prisão de dom Vital e dom Macedo, em 1874, com pena de quatro anos de trabalhos forçados. Os bispos presos foram colocados em liberdade no ano seguinte. A questão religiosa foi o grito de separação da Igreja em relação ao Estado, com o agravante dos fazendeiros sem indenização por causa da libertação dos escravos e o fortalecimento dos militares depois da Guerra do Paraguai, em 1870.
A Proclamação da República. A Proclamação da República constituiu a separação definitiva entre Igreja e Estado. A primeira Constituição de 1891, redigida pelos positivistas, começou com a bandeira brasileira, tendo sido aprovado o lema Ordem e Progresso
em 19 de novembro. O decreto de 7 de janeiro de 1890 declara abertamente a separação da Igreja e do Estado. Os doze bispos do Brasil reúnem-se em 19 de março seguinte; escrevem uma Carta Pastoral acolhendo o que o governo provisório assegura à Igreja católica: certa soma de liberdades que nunca logrou antes.
O positivismo adotou uma atitude de tolerância à Igreja católica, impedindo a perseguição, embora ameaçada pelos maçons. Em 15 de agosto seguinte, reúnem-se de novo os bispos, pedindo ao papa Leão XIII a criação de novas dioceses, o que aconteceu em 27 de abril de 1892: Manaus, Paraíba, Niterói e Curitiba, com a elevação da diocese do Rio de Janeiro a arquidiocese.
Concílio Plenário Latino-Americano. O papa Leão XIII teve uma iniciativa digna de louvor para unir os bispos da América Latina, onde havia grande número de católicos. O Concílio foi de 28 de maio a 10 de julho de 1899, com a participação de treze arcebispos e quarenta bispos, sendo onze do Brasil. No discurso final, disse o papa: Roma admirou vossa reunião, ciência e piedade como uma das joias de nossa coroa
.
Pastoral Coletiva de 1915. Os bispos das províncias eclesiásticas meridionais apresentaram ao clero e fiéis normas sábias, sendo aprovadas em 1915. Os bispos das províncias do Norte também planejaram uma assembleia para redigir suas normas. Quando receberam as resoluções e determinações das províncias meridionais, eles as encontraram tão prudentes, sólidas e oportunas que as adotaram integralmente. Praticamente traziam os mesmos títulos das primeiras Constituições de 1707, com as modificações necessárias, dois séculos depois.
O cardeal dom Sebastião Leme, líder nato do Episcopado Nacional. Deve-se a dom Leme o apostolado leigo organizado influindo na política. Com os amigos intelectuais Jackson de Figueiredo, Alceu de Amoroso Lima (Tristão de Ataide) e outros, fundou a Liga Eleitoral Católica (LEC), com o objetivo de informar e formar os católicos para que votassem em qualquer candidato católico, aprovado pela LEC, com o compromisso de defender a indissolubilidade do matrimônio, o ensino religioso nas escolas públicas e a assistência às Forças Armadas. Assim, na eleição de 1934, muitos candidatos católicos venceram nas eleições, apesar da oposição ferrenha dos inimigos da Igreja. Desta maneira, na Constituição de 1934, entraram a indissolubilidade do matrimônio contra o divórcio, o ensino religioso nas escolas públicas, a assistência às Forças Armadas, além da invocação de Deus nas assembleias, a subvenção a escolas católicas. Esses pontos foram conservados na Constituição de 1937 e para a Constituição de 1946 e 1950.
O cardeal Leme é também considerado o fundador da Ação Católica no Brasil. Foi no pontificado do papa Pio XI que Nossa Senhora Aparecida foi declarada Padroeira do Brasil, em 16 de julho de 1930, e foi inaugurada a imagem de Cristo Redentor no Corcovado em 12 de outubro de 1931.
O Concílio Plenário Brasileiro – 1939. Dom Irineu dedica toda a segunda parte de sua obra ao Concílio Plenário Brasileiro. A preparação remota começou com a primeira fase, em 1919, e é interrompida em 1928, por causa da publicação do Código de Direito Canônico e a doença do cardeal dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, arcebispo do Rio de Janeiro.
A segunda fase foi retomada em 1928. O núncio apostólico dom Aloisi Masella, em 19 de março de 1929, comunicou a todos os bispos que o papa Pio XI aprovou o Concílio para 1931, pedindo que revissem a Pastoral Coletiva de 1915, em conformidade com o Código de Direito Canônico, para o esquema, devendo responder dentro de quatro meses. De cem bispos, responderam 26, apresentando 489 observações. Não foi possível a realização, por causa das duas Revoluções de 1930 e 1932, sendo interrompida em 1934.
A terceira fase iniciou em 1935. O cardeal Leme vai a Roma e pede um perito para o esquema do Concílio. É nomeado monsenhor Giuseppe Bruno, que preparou o esquema e o enviou ao cardeal Leme, para que o revisse e remetesse aos bispos para as devidas observações enviadas a monsenhor Bruno. Este remeteu ao cardeal Leme o texto definitivo para o Concílio, devendo começar em 11 de maio de 1939, com a aprovação do papa Pio Xl. Em 10 de fevereiro de 1939, morreu Pio XI. Foi eleito Pio XII, que convocou o Concílio para 2 a 20 de julho de 1939.
Compareceram 103 padres conciliares (catorze por procuração), quarenta superiores religiosos (um por procuração) e representantes de doze cabidos de cônegos. Foram realizadas duas sessões solenes, seis congregações gerais e plenárias e nove congregações particulares.
Os pontos do Concílio foram:
1) Grande necessidade da Igreja: a formação religiosa.
2) A causa principal da ignorância: penúria de sacerdotes e de vocações e ignorância dos fiéis.
3) Para um Brasil melhor.
4) Cristo, única salvação.
Em 20 de julho de 1939, todos os padres conciliares assinaram os Decretos enviados a Roma.
Em 8 de março de 1940, o papa Pio XII aprovou todos os Decretos do Concílio. Monsenhor Giuseppe Bruno, secretário da Congregação dos Bispos, enviou a aprovação dos Decretos ao cardeal dom Sebastião Leme, Legado Pontifício do Concílio, afirmando que foram os Decretos examinados pelos cardeais e consultores com os mais amplos elogios.
Os Decretos do Concílio Plenário Brasileiro não foram tão bem aceitos e aplicados como deviam, por serem abstratos e em língua latina, e porque, em 1948, foi reeditada a Pastoral Coletiva de 1915, em língua portuguesa, bem mais pastoral do que o Concílio.
Dom Irineu merece os melhores louvores pela publicação desta obra de real valor histórico e pastoral.
Curitiba, 18 de novembro de 2013
01.tifDom Pedro Antonio Marchetti Fedalto
Arcebispo Emérito de Curitiba
INTRODUÇÃO
Estamos comemorando setenta e cinco anos do Primeiro Concílio Plenário Brasileiro, infelizmente pouco conhecido e pouco lembrado na história da Igreja do Brasil. Foi, porém, um acontecimento de grande importância, marcado pela expectativa, preparação e desenvolvimento.
A expectativa foi longa. A ideia do Concílio nasceu logo após a divulgação do Código de Direito Canônico, em 1917, como uma necessidade de adaptações à Pastoral Coletiva de 1915. A preparação, remota e próxima do Concílio como tal, foi celebrada com grande solenidade e influiu positivamente na caminhada da Igreja do Brasil.
De lá para cá, muitos acontecimentos importantes já ocorreram no âmbito da Igreja Universal, na Igreja da América Latina e do Brasil. Foi celebrado o Concílio Vaticano II, diversos Sínodos Episcopais, as Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano e Caribenho do Rio de Janeiro, em 1955; Medellín, em 1968; Puebla, em 1979; Santo Domingo, em 1992; e Aparecida, em 2007.
Nasceu a CNBB e, com ela, sua estrutura orgânica e dinâmica com a participação ampla do povo de Deus. Nasceram as CEBs e a Teologia da Libertação. Nasceram muitos movimentos eclesiais e as novas comunidades. E o que a Providência Divina nos reserva ainda para o futuro?
O motivo que me levou a elaborar este estudo sobre um Concílio Plenário na Igreja do Brasil foi fazer com que houvesse, por meio de um estudo, uma visão mais clara dos passos dados pelo episcopado brasileiro ao longo da história da Igreja do Brasil, desde o seu nascimento até a criação da CNBB, período normalmente pouco conhecido. Tenho certeza de que o caro leitor deve ter a mesma curiosidade.
Em vista da comemoração dos setenta e cinco anos do Primeiro Concílio Plenário Brasileiro, esta obra quer ser uma homenagem sincera e profunda aos que, no passado, pela sua dedicação e esforço, contribuíram para aquele grande acontecimento sem precedentes. Homenagens especiais ao