Jornalismo cultural no século 21: Literatura, artes visuais, teatro, cinema, música [A história, as novas plataformas, o ensino e as tendências na prática]
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Jornalismo cultural no século 21 - Franthiesco Ballerini
Ficha catalográfica
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B155j
Ballerini, Franthiesco
Jornalismo cultural no século 21 [recurso eletrônico] : literatura, artes visuais, teatro, cinema e música: a história, as novas plataformas, o ensino e as tendências na prática / Franthiesco Ballerini. – São Paulo : Summus, 2015.
Recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-323-0993-8 (recurso eletrônico)
1. Jornalismo – Aspectos sociais. 2. Jornalismo – Estudo e ensino - Brasil. 3. Cultura. 4. Livros eletrônicos. I. Título.
14-17392CDD: 079.81
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Folha de rosto
Jornalismo cultural no século 21
Literatura, artes visuais, teatro, cinema e música
A história, as novas plataformas, o ensino e as tendências na prática
Franthiesco Ballerini
Créditos
JORNALISMO CULTURAL NO SÉCULO 21
Literatura, artes visuais, teatro, cinema e música
A história, as novas plataformas, o ensino e as tendências na prática
Copyright © 2015 by Franthiesco Ballerini
Direitos desta edição reservados por Summus Editorial
Editora executiva: Soraia Bini Cury
Assistente editorial: Michelle Neris
Capa: Alberto Mateus
Projeto gráfico: Crayon Editorial
Ilustrações: MaLou Ballerini
Produção de ePub: Santana
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Dedicatória
A meus pais, Francisco e Lurdinha,
admiráveis companheiros e apoiadores
incondicionais da minha empreitada no jornalismo
Agradecimentos
Agradeço especialmente aos entrevistados
(em ordem alfabética)
Alcino Leite Neto
Ana Salles
Antonio Gonçalves Filho
Armando Antenore
Barbara Heliodora
Beth Néspoli
Bruno Wainer
Bruno Zeni
Celso Curi
Clóvis Garcia
Cristiane Costa
Daniel Castro
Daysi Bregantini
Deborah Bresser
Dib Carneiro Neto
Diego Assis
Edilamar Galvão
Fabio Gomes
Felipe Machado
Fernanda Meneguetti
Fernando Pereira Masini
Gabriel Priolli
Gianni de Paula
Ilda Santiago
Jorge Tarquini
José Salvador Faro
José Wilker (in memoriam)
Josimar Melo
Kleber Mendonça Filho
Lobão
Luiz Roberto Lopreto
Manoel Ricardo de Lima
Marcelo Carneiro da Cunha
Maria Amélia Rocha Lopes
Mario Queiroz
Mário Ramiro
Pablo Miyazawa
Paula Alzugaray
Paulo Pasta
Renato Cruz
Ricardo Viel
Rodrigo Fonseca
Rubens Ewald Filho
Saulo di Tarso
Sergio Niculitcheff
Sérgio Rizzo
Sérgio Roveri
Ubiratan Brasil
Veronica Stigger
Agradeço também:
À minha irmã Louise e ao meu cunhado Rodrigo, grandes parceiros de vida.
Aos docentes, alunos e funcionários da Academia Internacional de Cinema (AIC), da Universidade Mogi das Cruzes (UMC), da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e das Faculdades Integradas Rio Branco, pelo convívio e pelo aprendizado.
À Summus Editorial, pela confiança nesta terceira empreitada editorial.
Aos assessores de imprensa dos entrevistados, pela importante ponte para as entrevistas.
Aos meus professores de graduação e mestrado, cujos ensinamentos nunca esquecerei.
Aos meus amigos de faculdade (os Gonzalitos), primeiros parceiros no jornalismo.
À minha filha, Luisa, minha eterna razão de viver.
Sumário
Capa
Ficha catalográfica
Folha de rosto
Créditos
Dedicatória
Agradecimentos
Prefácio
1. Breve histórico
No mundo
No Brasil Colônia
No século 19
O século 20
Modernismo, Estado Novo e a origem dos suplementos
Regime militar
O jornalismo cultural nos anos 1980 e 1990
O que é cultura?
2. A prática do jornalismo cultural
Um rápido histórico
Só jornalismo ou jornalismo cultural? Algumas definições
A cultura como reflexo da cidade
A importância do crítico
Cultura é mais
Reflexão versus simplificação
Passaralhos e falta de repertório
Na rapidez de um átimo
O furo pelo furo
Sob o ataque do sistema
Cultura ou glamour?
Cultura de massa, jabá e muito mais
Entrevistas
3. Literatura
4. Artes visuais
5. Teatro
6. Cinema
7. Música
8. Novos universos: TV, informática, games, gastronomia, moda
Televisão
Informática e games
Gastronomia
Moda
9. Novas plataformas: TV, guia, portal, rede social e celular
10. Ensino
Posfácio – Mediações entre arte e consumo
Referências
Prefácio
A história do jornalismo cultural é longa até mesmo no Brasil, onde a imprensa se desenvolveu a partir do século 19. Mas sua prática enfrenta desafios imensos, a começar pela questão geográfica. Somos um país continental, o que exige do jornalismo uma atenção aos regionalismos; ao mesmo tempo, é preciso dar visibilidade ao que se produz em nível nacional.
No dia a dia, porém, os grandes veículos de imprensa quase sempre reduzem sua cobertura cultural ao eixo São Paulo-Rio de Janeiro. E, quando notam a produção de outros estados, seu olhar é pautado pelo release. Assim, apenas quem pode pagar uma assessoria de imprensa consegue chegar às páginas da mídia nacional.
O jornalismo cultural também enfrenta outro grande desafio no Brasil: evitar que haja um nivelamento generalizado por baixo, dando mais espaço a manifestações sem qualidade, criadas pela indústria com o objetivo de fazer dinheiro. É evidente que a indústria do entretenimento não se preocupa com a arte, mas com o bolso, e essa tendência gera um repertório equivocado e pobre. Ou seja, é a redundância impiedosa: tem espaço porque vende e vende porque tem espaço.
A cultura, dessa forma, corre o sério risco de ser reduzida ao mero entretenimento. Iniciativas como a revista Cult, entre outras, que não se pautam por ele, têm dificuldade de sobreviver. Confesso ser um desafio diário produzir dossiês sobre pensadores num país onde cada vez mais as pessoas se rendem à facilidade da produção simplificada – um paradoxo, já que hoje obtemos informações com grande rapidez.
Outro desafio para o jornalismo cultural neste século 21 é resistir à deterioração do mundo do trabalho. Com o enxugamento das redações, as editorias de cultura mínguam e são conduzidas por poucos profissionais; cultura não é prioridade para os grandes veículos. Além disso, as agências de publicidade não se lembram dos veículos e cadernos culturais na hora de anunciar. Certa vez, perguntaram a uma grande fábrica de bebidas por que ela não investia em cultura. O profissional de mídia da agência respondeu: Como não? Investimos no carnaval e no futebol!
Pois bem: cultura não é só carnaval.
Nesse sentido, este livro de Franthiesco Ballerini vem preencher uma lacuna no mercado editorial brasileiro. Analisando a história do jornalismo cultural no Brasil e no mundo, o autor explica a consolidação da crítica em nosso país e em seguida aborda as grandes áreas que ela abarca: literatura, artes visuais, teatro, cinema e música. Antenado com a evolução da tecnologia e também do consumo, Franthiesco fala ainda dos novos universos que têm atraído a atenção do público – moda, gastronomia, games etc. – e das novas plataformas que veiculam esse tipo de conteúdo – portais, blogues, redes sociais etc.
Mas não só: o autor ainda dedica um capítulo especial ao ensino de jornalismo cultural – área de especialização que atrai cada vez mais estudantes – e finaliza com um contraponto entre cultura e consumo. Assim, esta constitui a mais completa obra sobre jornalismo cultural já produzida no Brasil. Recomendo a leitura com entusiasmo.
Daysi Bregantini
Jornalista e diretora da revista Cult
1. Breve histórico
Uma das maiores dificuldades de contar a história do jornalismo cultural no mundo é a documentação inconstante e, às vezes, escassa ou de difícil acesso. Assim, a trajetória dessa prática jornalística se parece com um quebra-cabeça incompleto. Além disso, talvez por questões de viabilidade comercial ou barreiras culturais e linguísticas – embora estas, hoje em dia, sejam facilmente superadas pela tecnologia –, faltam livros e trabalhos acadêmicos sobre o assunto em âmbito mundial. Assim, vastas regiões geográficas, especialmente o Oriente e a África, veem-se mal representadas.
Tal constatação é evidente quando se analisam estudos e obras que contam a história do jornalismo cultural no mundo. Na grande maioria deles, a narrativa é eurocêntrica, ou seja, enfoca o pioneirismo desse tipo de jornalismo em países europeus e, posteriormente, nos Estados Unidos – de modo que o discurso jornalístico pautado pelo Norte se repete nos registros mais permanentes da história, ou seja, em livros e trabalhos acadêmicos.
Obviamente, não se pretende aqui esgotar o tema da história do jornalismo cultural no Brasil e no mundo, muito menos considerar que este capítulo abarque tamanha amplitude geográfica. Trata-se apenas de um esboço, baseado em fontes acessíveis e confiáveis, de como o jornalismo cultural se manifestou em alguns pontos do globo e em determinados momentos-chave.
Assim, a ideia é, principalmente, fornecer as bases para entender a prática do jornalismo cultural no século 21, pois, ainda que a tecnologia a tenha revolucionado, é impossível compreender seus reais delineamentos sem um contexto histórico. Afinal, é conhecendo os hábitos, os erros e as estratégias de seus protagonistas ao longo do tempo que se pode propor um futuro mais próspero para o campo.
No mundo
Embora não seja uma data-chave para o jornalismo cultural, não há dúvida de que a invenção do tipo mecânico móvel para impressão por Johannes Gutenberg, por volta de 1450, é um marco indireto dessa área do jornalismo, uma vez que a publicação de livros, poemas e textos teatrais impressos também fez surgir a crítica a essas áreas. Estamo-nos referindo, portanto, ao período que a história denomina Renascença, marcado por transformações profundas nas artes, na filosofia e nas ciências.
É importante salientar que a impressão já era uma prática disseminada na China e no Japão por volta do século 8o, como lembram os pesquisadores Asa Briggs e Peter Burke (2002). Nesses países, produzia-se a chamada impressão em bloco
: bloco de madeira entalhada para imprimir uma única página de texto específico. Os coreanos também criaram um tipo móvel, no século 15, muito parecido com a invenção de Gutenberg, o que alimenta teorias de que a invenção da imprensa ocidental teria ocorrido graças às notícias que chegavam do Oriente. Foi no Ocidente, porém, que a invenção de Gutenberg ajudou a difundir rapidamente as artes, sobretudo a literatura, tornando o terreno fértil para o crescimento do jornalismo cultural. Briggs e Burke (2002) lembram que, por volta do ano 1500, havia cerca de 13 milhões de livros circulando numa Europa com 100 milhões de habitantes. O nascimento do texto crítico só foi possível graças às transformações sociais do século 17, período em que, de acordo com Mendonça (2001), a burguesia ganha força como poder político e constrói espaços de afirmação discursiva de seu poder (jornais, revistas etc.). A crítica nasceu, portanto, para legitimar a condição burguesa contra o Estado absolutista. Todavia, seu exercício só ganhou força no século 18, com a propagação de teatros e museus nas cidades europeias. A crítica tornou-se um prolongamento das conversas travadas entre aristocratas e intelectuais frequentadores desses ambientes. A literatura foi a mãe
da crítica cultural impressa, mas textos críticos de música também foram publicados. Curiosamente – e ao contrário do que acontece hoje –, no século 18 a crítica cultural constituía a quase totalidade do que era publicado em jornais e revistas.
Definições de jornalismo cultural surgiram até mesmo antes de sua institucionalização prática. Anchieta (2007) lembra a frase Que todos entendam e que os eruditos respeitem
, dita em 1696 por um dos primeiros teóricos do jornalismo, o alemão Tobias Peucer, que sentencia a vocação do jornalismo como obra cultural, ou seja, a de dizer coisas complexas por meio de formas muito simples
.
Uma das datas mais emblemáticas do jornalismo cultural no Ocidente é o ano de 1711, quando os ingleses Joseph Addison e Richard Steele lançaram a revista The Spectator, cujo objetivo era levar a filosofia dos gabinetes e bibliotecas, escolas e faculdades para clubes, assembleias, casas de chá e café
(Piza, 2003). Com um corpo de colaboradores que assinava sob pseudônimo, a publicação popularizou-se rapidamente em Londres, incentivando o hábito da leitura de produtos culturais em uma das maiores cidades do mundo. Isso não quer dizer que não houvesse manifestações igualmente claras de jornalismo cultural antes dessa data. Briggs e Burke (2002) mencionam os jornais semanais ou bissemanais acadêmicos do século 17, como The Transactions of the Royal Society of London (1665) e News of the Republic of Letters (1684), que difundiam tanto informações de novas descobertas quanto novos livros. Os pesquisadores ressaltam que resenhas de livros existiam desde o final do século 17, quando uma forma de impresso anunciava e reforçava a outra
. É também nesse período que começam a surgir os princípios de divisão do jornalismo, os chamados gêneros jornalísticos
. Como diz José Marques de Melo (1987), que propôs uma divisão de gêneros jornalísticos no Brasil,
[...] quando o editor inglês Samuel Buckley decidiu pela separação entre news e comments no Daily Courant, ele iniciou a classificação dos gêneros jornalísticos, já no princípio do século 18. Desde então, a mensagem jornalística vem experimentando mutações significativas, em decorrência das transformações tecnológicas que determinam as suas formas de expressão, mas, sobretudo, em função das alterações culturais com que se defronta e às quais se adapta a informação jornalística em cada país [...].
No entanto, como a ideia de gêneros jornalísticos ainda não se consolidara nem mesmo na Europa, a revista abordava não só literatura, música e teatro como também política e economia, sempre com o tom irônico tipicamente inglês, tirando a cultura do pedestal e tornando-a mais acessível ao homem urbano. No século 18, na França, Denis Diderot já atuava como crítico de arte. Ele abriu caminho para poetas como Charles Baudelaire, no século seguinte, também crítico de artes visuais. Na Alemanha, nesse mesmo período, houve nomes atuantes no jornalismo cultural como Gotthold Ephraim Lessing, que escreveu sobre teatro, artes visuais e literatura para veículos como Berlinische Privilegierte Zeitung. Na Áustria, na passagem do século 19 para o 20, um nome fundamental da crítica foi Karl Kraus, cuja revista fundada por ele, Die Fackel (A Tocha), misturava ironia política e análise estética de obras de arte. Poeta e autor de obras como Os últimos dias da humanidade, viu sua publicação fechada pelos nazistas em 1936.
Outros nomes importantes começaram a se juntar a essa prática jornalística nesse mesmo período, como Samuel Johnson, um dos primeiros críticos literários europeus, atuante em publicações como The Rambler, o polemista político William Hazlitt (The Examiner) e Charles Lamb (London Magazine). Posteriormente, no século 19, entram em cena nomes como John Ruskin, amado e odiado em sua época por suas análises estéticas de tal modo que se tornou influência fundamental na literatura de franceses como Marcel Proust, ele também um crítico atuante em jornais como Le Figaro. Na França, outro nome importante do jornalismo cultural foi o crítico Charles Augustin Sainte-Beuve, detestado por Proust devido às suas críticas em jornais como Le Globe e Le Constitutionnel. Neste último jornal, Sainte-Beuve destacou-se por meio de uma coluna semanal intitulada Causeries du Lundi
(Bate-papo de segunda), que, segundo Piza (2003), foi precursora dos rodapés literários e alçou o jornalismo cultural a status de profissão. Na Inglaterra, temos a presença do irlandês George Bernard Shaw, que escrevia como crítico de artes visuais, teatro, música e literatura para publicações como The World e Saturday Review. Contemporâneo de Shaw era o polêmico Oscar Wilde, que tumultuava a opinião pública e o conservadorismo britânico não só como dramaturgo e escritor, mas também como crítico cultural. Seu texto O crítico como artista (1891) defende que a crítica de arte era também uma forma de arte, autônoma em relação à obra criticada.
Alfred Nettemen (apud Ortiz, 1994) diz que o folhetim é a principal marca da instauração do jornalismo cultural na Europa no século 19. De origem francesa (feuilleton), significa pequeno caderno
. Segundo ele,
[...] o Journal des Débats logo nas suas primeiras edições sairia com uma espécie de boletim de anúncios, um caderno contendo avisos e similares. Pouco antes de 1800, esse boletim viria acrescido de um espaço para crítica teatral e relatos de viagem, entre outros temas mais amenos. A partir daí, os leitores – e consequentemente os jornais – também passaram a se interessar por esse tipo de literatura, que migrou então para o corpo principal do jornal, dessa vez separado (ou demarcado) por um fio horizontal no rodapé de suas páginas. Apesar de o pequeno caderno
ter dado lugar aos rodapés, estes continuaram com a rubrica que lhes deu popularidade: folhetim.
Nos Estados Unidos, um dos primeiros nomes que marcaram o jornalismo cultural foi Edgar Allan Poe. Embora conhecido como grande escritor de contos, ele foi um crítico atuante no meio intelectual norte-americano. A prática desse tipo de jornalismo difundiu-se pelos Estados Unidos, no entanto, especialmente no Norte industrializado, pelas mãos de romancistas como Henry James (New York Tribune). No século seguinte, foi a vez dos poetas Ezra Pound e Thomas Stearns Eliot, que também contribuíram para a crítica literária atuando como editores em publicações como Poetry e Criterion.
Com a passagem para o século 20, o jornalismo cultural praticado no Ocidente tornou-se menos opinativo, mais focado em reportagens e notícias, com uma clara divisão de gêneros jornalísticos e enfoque maior no entretenimento de consumo de bens culturais. Nos Estados Unidos, surgiram profissionais que se formavam e constituíam uma trajetória no jornalismo cultural – ou seja, não mais apenas dramaturgos, poetas e músicos que se aventuravam na escrita crítica. Entre esses profissionais destacamos Edmund Wilson, Henry Louis Mencken e George Jean Nathan, que colaboraram com revistas como Smart Set, American Mercury, Vanity Fair, The New Republic e a própria The New Yorker. Alguns, como Mencken, começaram como repórteres para depois migrar para o jornalismo cultural opinativo, caminho que se tornaria bastante corriqueiro no Ocidente a partir desse período. Piza (2003) ressalta a importância da revista The New Yorker como referência. Criada em 1925, revelou críticos como Dorothy Parker e Alexander Woollcott e articulistas como Elwyn Brooks White e Abbott Joseph Liebling. Na área cinematográfica, a revista lançou Pauline Kael, cujas críticas se tornaram referência para os próprios cineastas. A revista ajudou a popularizar escritores como Irwin Shaw, Jerome David Salinger, John Updike e John Cheever e impulsionou o chamado jornalismo literário – que se apropria de recursos da literatura (diálogos, descrições minuciosas) para prender a atenção do leitor, tal qual num livro de ficção. É também na The New Yorker que Truman Capote entra para a história com uma forma inovadora de jornalismo literário ao lançar, em 1959, a obra de não ficção moderna A sangue frio (1959), um relato envolvente sobre dois assassinos condenados à morte.
É importante esclarecer, porém, que nem Capote nem a The New Yorker são criadores do jornalismo literário, subgênero praticado anteriormente por romancistas ingleses como Charles Dickens, Daniel Defoe, Jack London, James Agee e Ernest Hemingway. Concorria com a The New Yorker a revista Esquire, também casa de grandes jornalistas culturais como Aldous Huxley (literatura), George Jean Nathan (teatro) e Scott Fitzgerald (literatura). Nos anos 1960, o jornalismo literário ganha reforço por meio da escrita envolvente de Norman Mailer e Gay Talese, que seduziam o leitor ao narrar temas que iam da marcha de protesto contra a Guerra do Vietnã (Mailer) a perfis de famosos jogadores de beisebol como Joe DiMaggio (Talese). Piza (2003) aponta que ambos são associados ao que se chamou de new journalism (novo jornalismo), estilo que mescla ao máximo história verídica ao ritmo ficcional
.
No século 20, o jornalismo cultural era sistematicamente influenciado por questões políticas, econômicas e sociais. Nos Estados Unidos dos anos 1930 e 1940, publicações do porte da Partisan Review reuniam críticos como Philip Rahv e Lionel Trilling (literatura), Dwight McDonald (cinema) e Harold Rosenberg e Clement Greenberg (artes visuais), cujos textos eram fortemente enviesados por grandes temas ideológicos do momento, como o embate capitalismo e comunismo.
Ainda que com uma virada maior para a informação e o entretenimento, o jornalismo cultural desse período manteve-se fortemente marcado pela crítica (gênero opinativo) em diversas regiões do mundo. Na França, publicações como Le Monde de la Musique, Magazine Littéraire e Cahiers du Cinéma eram referência. Esta última revista é considerada, até hoje, a mais importante do mundo na área de cinema, tendo lançado o movimento cinematográfico da nouvelle vague – encabeçado por André Bazin, François Truffaut e Éric Rohmer. Os críticos tornaram-se referência cultural em vários países, como Octavio Paz, no México, e Giulio Carlo Argan e Roberto Longhi, na Itália, além do australiano Robert Hughes, que escreveu durante décadas para a revista Time.
Na Europa, o século 20 contou com inúmeros intelectuais na imprensa cultural. Piza (2003) cita, por exemplo, André Malraux, Jean-Paul Sartre, Ortega y Gasset, Mario Paz, Walter Benjamin, Umberto Eco, Mario Vargas Llosa, Roberto Cotroneo, Robert Maggiori, James Wood, Frank Kermode, David Sylvester etc., atuantes em veículos como Le Monde, La Repubblica, L’Espresso, Der Spiegel, The Observer, Sunday Times, London Review of Books etc.
Ao final desse século, diversos pesquisadores começam a se debruçar sobre as especificidades do jornalismo cultural, a citar: os espanhóis Iván Tubau, Amparo Tuñón San Martín e José Martinez Albertos e o alemão Emil Dovifat. Para San Martín, por exemplo, o jornalismo cultural calcou-se em três paradigmas básicos: cultura/informação; cultura/conhecimento e cultura/acontecimento. Por cultura/informação, entendemos que o autor se refere aos cadernos diários de cultura e às notícias instantâneas na internet. Por cultura/conhecimento, ao perfil das revistas culturais e dos cadernos dominicais. E, por cultura/acontecimento, aos chamados roteiros, guias e serviços, publicados principalmente às sextas-feiras.
No Brasil Colônia
Se havia manifestações do jornalismo cultural no Brasil antes de 1808, ou seja, antes da chegada da Família Real portuguesa ao país, tais manifestações foram pouco preservadas e registradas, o que nos obriga a dizer que sua história é apenas um recorte bem incompleto do que provavelmente foi ao longo dos últimos cinco séculos.
A imprensa no Brasil tardou a se desenvolver. Os holandeses, que dominavam o Nordeste – área próspera da colônia no século 17 –, não se empenharam em implantar a imprensa, uma vez que esta não faria o menor sentido em um país essencialmente escravocrata. Iniciativas isoladas apareciam, mas não duravam muito tempo. Oficialmente, o primeiro jornal brasileiro foi publicado no exterior. O Correio Braziliense, impresso em Londres, surgiu em 1o de junho de 1808. Segundo Travancas (1993), o jornal era feito em Londres para driblar a censura prévia vigente no Brasil e chegava ao país clandestinamente. Com o fim da censura, outros periódicos apareceram, como o Diario do Rio de Janeiro, o Reverbero Constitucional Fluminense e a Sentinella da Liberdade, todos a favor da independência.
No século 19
O nascimento oficial
do jornalismo cultural no país se deu no século 19. Silva (1997) destaca que a primeira seção com assuntos culturais nasceu no Correio Braziliense, na seção Armazém Literário
– que trazia subdivisões como Comércio e Artes
, Literatura & Ciência
e Miscelânea
, com assuntos variados.
Aqui, quem primeiro falou de cultura foi o jornal As Variedades ou Ensaios de Literatura, com apenas duas edições, em fevereiro e junho de 1812. Segundo Sodré (1966), o veículo propunha divulgar extratos de história antiga e moderna, viagens, trechos de autores clássicos, anedotas etc.
. Tinha poucas características de jornal, mas foi um ensaio – mesmo que frustrado – para a implantação do jornalismo de cultura no Brasil. Isso porque a imprensa como um todo ainda era frágil, pois até as vésperas da Independência circulavam por todo o país apenas a Gazeta do Rio de Janeiro, a Idade d’Ouro do Brazil, na Bahia, e O Patriota (1813), no Sudeste.
Em 1822, uma tentativa de implantar o jornalismo cultural surgiu com Anais Fluminenses de Ciências, Artes e Literatura, criado por José Vitorino dos Santos e Sousa, o qual ficou no primeiro número. Ainda segundo a valiosa pesquisa de Sodré, outros veículos – especialmente em formato revista – apareceram: O Beija-Flor (1830), O Amigo das Letras (1830), Revista Brasiliense (1836), Minerva Brasiliense (1843), Ostentor Brasileiro (1845), O Americano (1847), A Marmota (1849), Guanabara (1849), Jornal das Senhoras (1852), Revista Bibliográfica do Correio Mercantil (1854), Revista Popular (1859), Revista Dramatica (1860), O Mequetrefe (1875), Mosquito (1876), A Semana (1885), Vida Moderna (1886),