A economia solidária como alternativa produtiva para o atual modelo econômico
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A economia solidária como alternativa produtiva para o atual modelo econômico - Ana Raquel Araujo Cavalcante
Bibliografia
CAPÍTULO I O MODELO ECONÔMICO ATUAL
1.1 - A crise da sociedade e a exclusão Social como fenômeno global
Em todo o mundo, e não só no Equador, lugar em que me encontro hoje e defendo minha tese de mestrado, ou no Brasil onde retornarei após este trabalho de investigação, estamos vivenciando uma época de incertezas e inseguranças, onde a economia global, marca o passo da dança ficando difícil mudar o ritmo.
América Latina, Europa, África, China, EUA, ou seja, todo o mundo, sem exceção encontra-se sobre o manto da economia globalizada, onde milhões de seres humanos vivem e respiram as consequências desta globalização, compartilhando a dor que acerca a humanidade e a nossa Pachamama¹.
Claro que em toda regra há exceções e, portanto, existe uma grande minoria, satisfeita com esta situação, seja no plano individual, e daí teremos desde uma questão financeira pessoal satisfatória à subjetividade individual neste processo, como também coletivamente a situação econômica e social diferenciada em alguns países como exemplo, os países nórdicos – Islândia, Noruega, Dinamarca, Suécia e Finlândia.
Sendo assim, resta evidenciado que mesmo vivendo em um mundo com economia globalizada, cada um dos países possui níveis diferentes de desenvolvimento, no entanto, a humanidade, deve entender que deve pensar em uma economia macro, ou seja, uma economia mais equitativa para todos os seres humanos existentes e para as futuras gerações.
O prêmio Nobel de Economía no ano de 2001 e vice-presidente do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, comenta que "la creciente división entre los poseedores y los desposeídos ha dejado a una masa creciente en el Tercer Mundo sumida en las más abyecta pobreza y viviendo con menos de un dólar por día. A pesar de los repetidos compromisos sobre la mitigación de la pobreza en la última década del siglo XX."²
Os seres humanos do planeta já superam os 7 bilhões de pessoas. Em 2015, estudos da ONU³, já constavam com esta conta, e esta mesma Organização nos posiciona, citando estudos no Banco Mundial que destas pessoas, cerca de 12,8% (doze ponto oito por cento), vivem em extrema pobreza⁴, ou seja, cerca de 900 milhões de pessoas. Trata-se de uma pobreza genuinamente opressiva, e não uma pobreza americana
, em que os pobres possuem celulares e ar-condicionado.
A boa notícia é que conforme esta mesma fonte do Banco Mundial, este projeta que a extrema pobreza global terá caído de 902 milhões de pessoas, ou 12,8% da população global, em 2012, para 702 milhões de pessoas, ou 9,6% da população global, este ano, no entanto, nos adverte que as "crises econômicas, no entanto, podem prejudicar esse progresso. "
A nível de América Latina, o mesmo Banco Mundial também informa e não nos deixa esquecer que a América Latina está entrando no quinto ano consecutivo de retração, devido principalmente a redução dos preços das matérias-primas, estas responsáveis por impulsionar o crescimento econômico entre 2002 e 2012, significando com isso uma desaceleração no crescimento econômico.
A princípio, esta desaceleração econômica não está aumentando a extrema pobreza da região, isto se deve, em alguns casos, como no caso brasileiro, em consequência de políticas públicas, como o bolsa família
⁵ que não resolve a situação da pobreza absoluta mas consegue retirar das estatísticas o percentual de pobres. Conforme fontes do Banco Mundial, "apesar do menor crescimento da renda para os 40% mais pobres da América Latina, a taxa de pobreza continuou a cair, passando de 24,1% em 2013 para 23,3% em 2014", e ainda outra boa notícia é que "o percentual de latino-americanos de classe média não diminuiu: 35% da população em 2014, ante os 34,8% do ano anterior" 6
Sendo assim, a pergunta que não quer calar é: Se houve uma diminuição da pobreza e a classe média está estagnada, o que está acontecendo com a maior parte dos latino-americanos? Segundo dados do Banco Mundial, eles estão se juntando aos vulneráveis, nome dado a quem ganha entre US$ 4 e US$ 10 por dia,e este é o grupo que mais tem crescido nos ultimos anos.
Segundo o economista Oscar Calvo-González do Banco Mundial, que encabeza el Laboratorio Latinoamericano de Equidad (LAC Equity Lab)⁷, " Los llamados vulnerables, aquellos que han salido de la pobreza pero aún no logran formar parte de la clase media, siguen siendo el grupo socio-económico más grande de América Latina" añadiendo el economista que " y esta nueva clase de personas, son más propensos a caer en la pobreza que la clase media e ainda agrega que
justo cuando este grupo se aproximaba a la clase media, la desaceleración global golpea la región. Ahora, la pregunta es: aún si este grupo no recae en pobreza, ¿cuándo podrán convertirse en parte de la clase media?.⁸
Portanto, todos estes estudos dos organismos internacionais como ONU, CEPAL e Banco Mundial, nos deixam apreensivos, não só a nível de América Latina, onde se passou uma década de ouro, onde milhões de pessoas saíram da linha de pobreza extrema, e muitas outras ascenderam a classe média, e agora novamente estão retornando a pobreza, bem como a nível mundial⁹.
1.2 - Erradicar a pobreza e diminuir desigualdades são fundamentais para o desenvolvimento
Segundo o presidente do Banco Mundial, o Sul Coreano, Jim Yong Kim¹⁰, as altas taxas de crescimento em países em desenvolvimento nos últimos anos, incluindo investimentos em educação, saúde e a ampliação das redes de seguridade social ajudaram a prevenir que pessoas não voltem à situação de extrema pobreza, afirma ainda que "Essas projeções mostram que somos a primeira geração na história da humanidade que pode acabar com a extrema pobreza".
Destaca, no entanto, que com a redução do crescimento econômico mundial, o objetivo do Banco Mundial de acabar com a pobreza até 2030 se torna mais difícil, mas com certo otimismo também afirma que "mas continua ao nosso alcance desde que nossas altas aspirações estejam em sintonia com o plano dos líderes dos países que ajudam aos milhões que continuam em situação de extrema pobreza".
O prêmio Nobel de economia do ano de 2001 e professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, Joseph Stiglitz, em seu livro O preço da Desigualdade
¹¹, diz que a desigualdade crescente não é algo inevitável e que são os interesses financeiros que, no processo de criação da riqueza, sufocam o verdadeiro e dinâmico capitalismo.
Em seu livro explica como a crise financeira americana de 2008 e a Grande Recessão que se seguiu " pôs à deriva um grande número de norte -americanos no meio dos destroços e do entulho de uma cada vez mais disfuncional forma de capitalismo. Cinco anos depois, um em cada seis norte -americanos que gostariam de ter um emprego a tempo inteiro não conseguia arranjá-lo; cerca de oito milhões de famílias perderam as suas casas, e milhões esperavam receber avisos de despejo; e muitas pessoas viram as suas poupanças de toda uma vida aparentemente a evaporar -se." ¹²
Para Stiglitz, "um dos lados mais negros da economia de mercado que veio à luz do dia"13 foi a grande e crescente desigualdade americana, deixando a sustentabilidade econômica do país à beira do precipício, os ricos cada vez mais ricos e o restante da população em uma grande crise econômica e consequentemente social. Explica, ainda que a existência de ricos e pobres nos Estados Unidos já era um fato conhecido, e que embora esta desigualdade não tenha sido provocada somente pela crise do subprime14 e da retratação económica que se seguiu, e que esta já vinha se sentindo há mais de 30 anos, " a crise piorou tudo, ao ponto de já não poder ser mais ignorada"
No caso americano, segundo o professor, a classe média vinha sendo esmagada de diversas formas, e o sofrimento da classe mais baixas "era palpável, à medida que as fragilidades na rede de segurança norte -americana cresciam e à medida que os programas de apoio público, no mínimo inadequados, sofriam ainda mais cortes; porém, enquanto tudo isto acontecia, os 1% do topo asseguravam para si uma grande fatia da riqueza nacional."¹⁵
O caso americano, não está isolado, muito pelo contrário, o cenário mundial não está bonito, encontra-se caótico. Estamos pagando um preço muito alto por esta desigualdade.
As pessoas que estão no topo creem na sua superioridade econômica e consequentemente pessoal, e pensam que graças ao seu trabalho árduo, possuem uma recompensa justa, no entanto, nenhuma pessoa constrói a vida do zero, as pessoas são concebidas e são frutos da sociedade que vivem, é esta que nos beneficia para mais ou para menos.
Se alguns poucos estão no topo e muitos estão na base é porque estes primeiros estão se beneficiando de alguma forma do sistema e melhor sorte
não tiveram a grande maioria. E estes poucos ricos deveriam entender que quando a sociedade tem mais coesão e igualdade, até o 1% mais rico se beneficiaria.
A desigualdade prejudica a economia, as pesquisas, inclusive de órgão internacionais como FMI e a OCDE já divulgaram estudos que mostram que países desiguais apresentam desempenho mais baixo, crescem mais devagar e com menos estabilidade, ou seja, todos perdem com a desigualdade.
Quando a desigualdade é grande, sobretudo em termos de oportunidade, isto significa que as camadas mais baixas estão ficando abaixo do potencial social, não tem uma educação adequada, ocorrendo um mau uso, um sub aproveitamento do recurso mais importante, que é o humano. Outra fator que prejudica a economia em sociedades desiguais é o monopólio, quando presidentes de grandes empresas ficam com uma grande fatia da renda desta para enriquecer seus gordos salários, não sobra mais nada para investir, e se não há investimento não há crescimento. Outra fonte de desigualdade é o setor financeiro, pois tem tirado o dinheiro das empresas ao invés de investi-lo. (Stiglitz)¹⁶
Neste cenário assustador, os ricos vivem em comunidades fechadas, servidos por multidões de trabalhadores de baixos rendimentos, e sistemas políticos instáveis onde os governos populistas, principalmente aqui na América Latina prometem às massas uma vida melhor apenas para as desiludirem.
Em consequência desta "disfunção do capitalismo", encontramos sociedades divididas e solidariamente enfraquecidas, onde a economia está ficando cada dia mais lenta e imediatista.
1.3 - A crise mundial além da globalização econômica
A Revolução técnico-cientifica no final do século XX e começo do século XXI, mudou o mundo. Através da tecnologia, o acesso à informação e comunicação ficaram mais acessíveis e rápidos. O mundo ficou muito pequeno, não existe mais isolamento, vivemos todos em uma grande aldeia global.
O processo de globalização aproxima as pessoas e os países, e seus benefícios são ilimitados. Através dela há um fluxo internacional de ideia e conhecimento em diversas áreas, como a medicina por exemplo, onde pode ajudar a salvar muitas vidas, ou ainda em uma sociedade civil global que luta por mais democracia e justiça social ou ainda na integração em movimentos de defesa ao meio ambiente. Também temos o exemplo do leste asiático que logrou grandes benefícios em oportunidades ao comércio, quanto ao acesso aos mercados e tecnologia.
Segundo Stiglitz la globalización ha reducido la sensación de aislamiento experimentada en buena parte del mundo en desarrollo y ha brindado a muchas personas de esas naciones acceso a un conocimiento que hace un siglo ni siquiera estaba al alcance de los más ricos del planeta. Las propias protestas antiglobalización son resultado de esta mayor interconexión.
Muitos culpam o livre comércio para as mazelas econômicas e sociais do mundo contemporâneo, no entanto, desde o começo dos tempos que as pessoas têm se dedicado ao comercio, e onde tem duas ou mais pessoas, é bem provável que elas continuem se dedicando a tão antiga prática. A atividade comercial global e conceitos como libre comércio existem há muitos séculos, no entanto, a escala, a velocidade e a forma das versões anteriores eram muito distintas da que vislumbramos atualmente.
Se voltarmos um pouco o tempo vamos lembrar não faz mais do que duas décadas que uma grande parte do mundo não fazia parte da globalização e uma grande maioria de pessoas de todo o mundo viviam da terra, com sementes produzidas naturalmente, e distribuídas dentro da comunidade.
Hoje, estas mesmas pessoas, quase em sua totalidade, compram sementes geneticamente modificadas de basicamente dois grandes grupos multinacionais, onde além dos impactos ao meio ambiente e na saúde, imprevisíveis, que essas sementes podem causar ao transportar o novo gene, estas empresas cobram o preço das patentes sobre Organismos Geneticamente Modificados 17.
"En muchas zonas rurales, se intercambiaban las semillas como propiedad colectiva de la comunidad, y no propiedad privada de Monsanto o Cargill.18 Muchos de los trescientos millones de indígenas del mundo vivían completamente aislados de la actividad comercial global. La mayor parte de