Lógica de Hoare
Lógica de Hoare (também conhecida como lógica de Floyd–Hoare ou regras de Hoare) é um sistema formal com um conjunto de regras lógicas para um raciocínio rigoroso sobre a corretude na computação. Proposta em 1969 pelo cientista da computação e lógico britânico C. A. R. Hoare; e subsequencialmente aprimorada por Hoare e outros pesquisadores.[1] A idéia original havia sido idealizada pelo trabalho de Robert Floyd, que publicou um sistema similar[2] para fluxogramas.
Tripla de Hoare
[editar | editar código-fonte]O aspecto principal da lógica de Hoare é a Tripla de Hoare. A tripla descreve como a execução de uma parte do código muda o estado da computação. A tripla de Hoare é expressa na forma
onde P e Q são asserções e C é um comando. P é chamado de pré-condição e Q de pós-condição: quando a pré-condição é conhecida, o comando estabelece a pós-condição. Asserções são fórmulas na lógica de predicados.
A lógica de Hoare fornece axiomas e regras de inferência para todas as construções de uma simples linguagem de programação imperativa. Além disso, nas regras para a linguagem simples, das anotações originais de Hoare, regras para construção de outras linguagens foram desenvolvidas desde então, por Hoare e alguns outros pesquisadores. Há regras para concorrência, sub-rotina, salto e ponteiros.
Corretude parcial e total
[editar | editar código-fonte]A lógica de Hoare padrão proporciona apenas corretude parcial; o encerramento do laço precisa ser provado separadamente. Portanto, a leitura intuitiva da tripla de Hoare é: Sempre que P detém o estado antes da execução de C, então Q deterá posteriormente; ou C não encerra. Note que se C não encerra, então não há "posteriormente"; logo, Q pode ser, sem dúvidas, afirmação. Realmente, podemos escolher Q como falso para expressar que C não encerra.
Corretude total também pode ser provada pela versão estendida da Regra do Laço.
Regras
[editar | editar código-fonte]Axioma de declaração vazia
[editar | editar código-fonte]A regra da declaração vazia estabelece que a afirmação skip não muda o estado do programa; portanto, o que detinha verdade antes de skip também deterá verdade após esta afirmação.
Axioma da atribuição
[editar | editar código-fonte]O axioma da atribuição institui que depois da atribuição, qualquer predicado se mantém para a variável que era originalmente verdade no lado direito da atribuição:
Aqui, denota a expressão P em todas as ocorrências livres da variável x que foram substituídas pela expressão E.
O axioma da atribuição indica que a validade de é equivalente à validade na atribuição posterior de . Portanto, se era verdade antes da atribuição, pelo axioma da atribuição, então seria verdade subsequente a isso. Reciprocamente, se era falso antes da afirmação de atribuição, deve ser falso consequentemente.
Isso é equivalente a dizer que para encontrar a pré-condição, primeiro tomamos a pós-condição e substituímos todas as ocorrências no lado esquerdo da atribuição com o lado direito. Cuidado para não tentar executar isso de "trás-para-frente", seguindo a maneira incorreta de pensar:
Exemplos com triplas válidas incluem:
O axioma da atribuição proposto por Hoare não se aplica quando mais de um nome pode se referir ao mesmo valor tomado. Por exemplo,
não é uma afirmação verdadeira se x e y referem-se a mesma variável, porque nenhuma pré-condição A pode implicar y ser 3 depois que x é atribuído como 2.
Regra da composição
[editar | editar código-fonte]A regra da composição de Hoare se aplica a programas S e T executados sequencialmente, onde S é executado anteriormente a T; e é escrito S;T (onde P é a pré-condição, R é a pós-condição e Q a condição intermediária):
Por exemplo, considerando as duas instâncias seguintes do axioma da atribuição:
e
Pela regra sequencial, podemos concluir:
Regra condicional
[editar | editar código-fonte]Regra da consequência
[editar | editar código-fonte]Regra do laço
[editar | editar código-fonte]Aqui P é a "invariável de laço".
Regra do laço para corretude total
[editar | editar código-fonte]Nesta regra, além de manter a invariável de laço, também fornecemos encerramento pela forma do termo, chamado variável de laço, aqui t, cujo valor decai estritamente com respeito à relação bem-fundada durante cada iteração. Note que, dado invariável P, a condição B deve implicar que t não é elemento minimal do seu escopo; caso contrário, a premissa desta regra seria falsa. Porque a relação "<" é bem-formada, cada passo do laço é contado por membros decrescentes de uma sequência finita. Também pode-se notar que colchetes são usados aqui, em lugar de chaves, para denotar corretude total. Ou seja, pode-se definir encerramento bom como corretude parcial (essa é uma das várias notações para corretude total).
Exemplos
[editar | editar código-fonte]Exemplo 1 (Axioma da atribuição) (Regra da consequência) Exemplo 2 (Axioma da atribuição) ( para x, N tipos inteiros) (Regra da consequência)
- ↑ C. A. R. Hoare. "An axiomatic basis for computer programming". Communications of the ACM, 12(10):576–580,583 October 1969. doi:10.1145/363235.363259
- ↑ R. W. Floyd. "Assigning meanings to programs." Proceedings of the American Mathematical Society Symposia on Applied Mathematics. Vol. 19, pp. 19–31. 1967.
Ver também
[editar | editar código-fonte]- CSP (matemática)
- Programação por contrato
- Semântica denotacional
- Dynamic logic
- Edsger Dijkstra
- Verificação formal
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Project Bali has defined Hoare logic-style rules for a subset of the Java programming language, for use with the Isabelle theorem prover
- KeY-Hoare is a semi-automatic verification system built on top of the KeY theorem prover. It features a Hoare calculus for a simple while language.
- j-Algo-modul Hoare calculus — A visualisation of the Hoare calculus in the algorithm visualisation program j-Algo