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Swashbuckler

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Capa e espada)
O quarteto protagonista de Os Três Mosqueteiros.

Swashbuckler é um termo em inglês, surgido no século XV, usado hoje para denotar um tipo particular de personagem de ficção, o herói de ''capa e espada''. Uma possível explicação para a origem da palavra seria uma técnica de esgrima usando uma "espada de lado" (uma antecessora da rapieira)[1] em uma mão e um escudo do tipo "buckler" (broquel em português) em outra, a palavra teria surgido da junção das palavras "sword" (espada) e "buckler".[2][3] Em geral é usado para identificar protagonistas de narrativas que envolvem espadachins exímios e implacáveis, mas também exibidos e orgulhosos.[4] Um swashbuckler demonstra possuir um forte senso de justiça e uma aptidão para apreciar uma luta, além de calma, classe e sagacidade mesmo durante o combate.

Swashbuckler pode ser traduzido também como aventureiro e swashbuckling como fanfarronice.[2] Nesse sentido, o gênero se referia à característica dos heróis clássicos da capa e espada de desenvolverem forte camaradagem com os companheiros (sempre leais)[5] e se divertirem juntos em várias situações envolvendo brigas em bares, prostitutas, apostas e bebidas (a mais comum entre os mosqueteiros é o vinho, os piratas apreciam o rum e alguns pioneiros o uísque e a cerveja).

Origem e definição

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Arte retratando um duelo no século XVIII
The Black Arrow de Robert Louis Stevenson

O termo é usado para definir um romance histórico (também conhecido como romance de capa e e espada), normalmente ambientados na Europa a partir do final da Renascença entre o iluminismo e as Guerras Napoleônicas, que se concentra em aventuras, reviravoltas e suspense,[6] que atribui grande importância a duelos e esgrima. Autores de romances históricos da era vitoriana como Walter Scott e Alexandre Dumas viram a arte da esgrima com rapieira, a origem da esgrima com espadas menores. Os primeiros romances de capa e espada foram publicados em folhetins durante o século XIX. Na Renascença, houve um progresso no campo da metalurgia,[7] nesse período ocorreu a introdução da rapieira como arma civil, e a ascensão do duelo de honra (dando lugar aos antigos duelos judiciais) na sociedade moderna, as rapieiras possuem lâminas ágeis e flexíveis, capazes de causar graves ferimentos penetrantes, substituindo espadas maiores de épocas anteriores, que dependiam da força bruta.[8]

Originalmente, havia a comédia de capa e espada, um gênero teatral de originário da Espanha durante o Século de Ouro (século XVII), nos tempos dos dramaturgos Calderón de la Barca e Félix Lope de Vega, as peças do gênero eram recheadas de intrigas e tragédias, outras influências podem ser rastreadas nos contos de cavalaria da Europa Medieval,[9] como as lendas de Robin Hood e o Rei Arthur.[5]

John Galsworthy dizia que o romance The Black Arrow (1888) de Robert Louis Stevenson, que era "uma imagem mais viva da época medieval que me lembro do que em outras obras na ficção".[10] The Prisoner of Zenda (1894) de Anthony Hope deu início a um subgrupo adicional de o romance de capa e espada, o romance ruritano.[11]

Um personagem swashbuckler geralmente é heroico e idealista ao extremo e resgata donzelas em perigo. Seu adversário é tipicamente caracterizado como um vilão covarde. Há uma longa lista de swashbucklers que combinam coragem excepcional, excelência em combates de esgrima, desenvoltura, cavalheirismo e um distintivo sentido de honra e justiça. Ele costuma insultar e humilhar constantemente os seus adversários.[12]

The Mark of Zorro de 1920, estrelado por Douglas Fairbanks
Instrutores de esgrima são fundamentais nos filmes de capa e espada
Pôster de The Thief of Bagdad (1924)

Desde o advento do cinema, o cinema mudo estava lotado de filmes de capa e espada. As histórias vieram de romances, particularmente dos autores Johnston McCulley (Zorro), Alexandre Dumas (Os Três Mosqueteiros) e Rafael Sabatini (Capitão Blood e Scaramouche), mas também poderiam vir de outras origens como a lenda de Robin Hood e As Mil e uma noites (onde as espadas são as cimitarras).[13][14]

Houve três grandes ciclos de filmes de capa e espada:[9]

A esgrima sempre foi um dos pilares do gênero, e um duelo dramático foi muitas vezes, uma parte fundamental do enredo. Em nenhum outro lugar a esgrima é mais aparente do que no filme de capa e espada. Instrutores de esgrima famosos incluem, Henry Uyttenhove (treinador de Douglas Fairbanks), Fred Cavens (que treinou tanto Douglas Fairbanks, quanto Errol Flynn), Jean Heremans, que treinou Gene Kelly em The Three Musketeers (1948) e Ralph Faulkner que também era ator e trabalhou como Flynn e Douglas Fairbanks, Jr..[15]

Os filmes não retratavam fielmente a arte da esgrima, The Adventures of Robin Hood com Errol Flynn apresentava técnicas inexistentes na Idade Média.[15] Na década de 1970, houve um interesse maior em filmes de capa e espada, na esteira de Os Três Mosqueteiros (1973). Nesta fase, os diretores, buscavam um pouco mais de precisão histórica, embora, como afirma a edição de 2007 da Encyclopædia Britannica diz, "A esgrima dos filmes continua a ser uma má representação da técnica de esgrima real". O principal coreógrafo deste período foi William Hobbs.[16]

As rapieiras apresentadas nos filmes não correspondem à realidade e são mais parecidas com floretes e épeés, que são tipos de espadas criadas muito tempo depois e usadas em competições. Filmes como The Princess Bride (1987), The Mask of Zorro (1998) e Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl (2003) modificam o arquétipo clássico com o intuito de atrair um grande público.[17]

Na série de filmes de animação Shrek, iniciada na década de 2000, Antonio Banderas, que interpretou o Zorro em The Mask of Zorro e Legend of Zorro, dubla o Gato de Botas, e na animação há várias referências ao Zorro.[18]

O parque Texas Hollywood na Espanha, serviu de cenário para a série de televisão Queen of Swords
A Revolução Francesa inspirou a telenovela Que rei sou eu?

A televisão seguiu os filmes, especialmente no Reino Unido com The Adventures of Robin Hood, Sword of Freedom, The Buccaneers, e Willam Tell.[19]

No Brasil, houve algumas tentativas no gênero, em 1954, a TV Tupi lançou a série de televisão O Falcão Negro,[20] ambientada na França medieval, o herói guardava semelhanças com Zorro e foi interpretado por dois atores diferentes: Em São Paulo era interpretado por José Parisi e no Rio de Janeiro por Gilberto Martinho (iniciada em 1957).[21] Em 1969, a Rede Bandeirantes lança As Aventuras do Zorro, estrelada pelo radialista José Paulo de Andrade.[22]

Em 1989, a Rede Globo lançou a telenovela Que rei sou eu?, ambientada no fictício país europeu Avilan, a trama misturava humor e aventura e se passava antes da Revolução Francesa (que naquela época, completava duzentos anos) e era uma crítica ao governo do então presidente José Sarney.[23] Em 1999, a emissora planejou a série de televisão ''D'Artagnan e Os Três Mosqueteiros'', inspirada em uma peça de teatro homônima de Pedro Vasconcelos e Marcelo Faria lançada no ano anterior,[24] contudo, o projeto foi cancelado e os quatro episódios gravados foram exibidos como um especial de natal,[25] em 2010, a dupla produziu a peça A Marca do Zorro, estrelada por Thierry Figueira, que interpretou D'Artagnan nas duas versões de Os Três Mosqueteiros.[26][27]

Nos Estados Unidos foram produzidos três séries de Zorro. Com o sucesso do filme The Mask of Zorro de 1998, foi lançada um série de TV sobre uma espadachim feminina, Queen of Swords, produzida pelas empresas Fireworks Ent. Group., Paramount Pictures e a Mercury Entertainment, o que levou a Sony Pictures, TriStar Pictures e a Zorro Productions, Inc. entrarem com um processo por plágio, contudo, o tribunal decidiu que como Zorro já é de domínio público, não houve violação de direitos autorais.[28] Em 2007, a RTI Colombia-Telemundo em parceria com Sony, lança a telenovela colombiana, Zorro, la espada y la rosa baseado no romance "Zorro, começa a lenda" de Isabel Allende, publicado em 2005.[29]

Em 1975, a Game Designers' Workshop lançou o primeiro RPG com inspiração em swashbuckler, En Garde! de Frank Chadwick e Darryl Hanny, o jogo era ambientado na França do século XVII.[30]

O sistema genérico GURPS da Steve Jackson Games, possui o suplemento "Swashbucklers", publicado orginalmente em 1988, o jogo é ambientando entre os anos de 1559 e 1815,[31] e no ano seguinte, uma adaptação de Pimpinela Escarlate,[32] uma série literária iniciada em 1908, escrita pela Baronesa Orczy que conta a história do nobre inglês Percy Blakeney, que durante a Revolução Francesa, se disfarça de Pimpinela Escarlate para salvar nobres franceses de serem mortos pela guilhotina, as histórias de Orczy é uma apontada como uma das origens de heróis mascarados como Zorro (1919).[5]

Embora seja inicialmente um RPG de fantasia medieval, Dungeons & Dragons, lançado originalmente em 1974 e considerado o primeiro RPG da história,[33] também permite jogar com swashbucklers, em 1989, a classe foi incluída no suplemento "The Complete Fighter's Handbook" da segunda edição de Advanced Dungeons & Dragons,[34] Na terceira edição de Dungeons & Dragons, é possível jogar com as classe de prestígio, Duelista e Dread Pirate.[35][nota 1] Em 2002, a Mongoose Publishing publicou a série de livros The Quintessential (publicados no Brasil pela Jambô com o título de A Quintessência),[35] com as classes, Esgrimista e Agente da Coroa, os livros da Moongose são compatíveis com a terceira edição de Dungeons & Dragons, uma vez que também usa o Sistema d20, que depende dos livros básicos de D&D.[37][38]

Em 2005, o designer de jogos, Skip Williams, publicou um artigo sobre a classe swashuckler no site oficial do Dungeons & Dragons 3.5.[39]

Mesmo sendo um RPG de fantasia medieval, Dungeons & Dragons também possui regras para personagens swashbucklers.

Em 1999, a Alderac Entertainment Group lançou 7th Sea para o sistema da editora baseado em dados de 10 lados (o mesmo usado em Legend of the Five Rings), o cenário permite jogar com piratas, mosqueteiros e duelistas, e se passa em Théa, um mundo parecido com a Europa renascentista composto por nações inspiradas em países reais: Avalon (Inglaterra), Castille (Espanha), Montaigne (França), Eisen (Alemanha), Ussura (Rússia), Vendel / Vestenmanavnjar (Holanda/Escandinávia) e Vodacce (Itália), em 2004, a editora também lançou Swashbuckling Adventures, uma versão para o Sistema d20.[37]

Em 2001, foi publicado The Legacy of Zorro pela Gold Rush Games, uma adaptação para o sistema genérico Fuzion produzida por Mark Arsenault.[40] No RPG brasileiro Tormenta, que também tem inspiração medieval, há regras para swashbucklers descritas nos livros, Tormenta d20 - Guia do Jogador v. 3.5,[41] Tormenta 3.5 - Piratas & Pistoleiros e Tormenta RPG.[42] Em Tormenta, swashbucklers podem ser devotos de Hyninn (deus dos ladrões), Valkaria (deusa da aventura) ou de Nimb (deus da sorte e do azar),[8] além de humanos, o cenário permite elfos swashbucklers,[43] o nome rapieira não é usado, as espadas dos swahshbuclkers podem ser sabres, floretes ou espadins.[44][nota 2]

Wikcionário
Wikcionário
O Wikcionário tem o verbete en:Swashbuckler.
Notas
  1. A classe é erroneamente traduzida como duelista (o que pode causar confusão com a classe de prestígio)[36] e espadachim.[2]
  2. A palavra inglesa "rapier" raramente é traduzida corretamente em textos sobre RPGs,[37] em GURPS Lite (versão reduzida e gratuita do sistema disponibilizada em formato pdf) traduzido pela Devir Livraria, é chamada erroneamente de florete[45][46]
Referências
  1. «Spada da Lato». Academia da Espada 
  2. a b c «Samurai Vs Swashbuckler». Editora Escala. Dragon Slayer (9): 34 a 37 
  3. Oxford English Dictionary assinala uma primeira utilização em 1560.
  4. «The Buckler». The Sussex Rapier School 
  5. a b c Marcos Archanjo [et al.]. «Heróis de capa e espada». Editora Escala. Arkan - RPG (3). 13 páginas 
  6. Marcos Santiago [et al.]. «Os Três Mosqueteiros - Uma incrível aventura para sistema d20». Editora Escala. Arkan - RPG (3): 18 a 24 
  7. Gabriel (2003). «Aventuras de Capa e Espada». O Universo Fantástico do RPG (3). Barueri, São Paulo, Brasil: Camargo & Moraes Editora 
  8. a b Marcelo Cassaro (2003). «Touché». Trama Editorial. Dragão Brasil (98). 40 páginas 
  9. a b Jeffrey Richards (2014). Swordsmen of the Screen: From Douglas Fairbanks to Michael York. [S.l.]: Routledge. 9781317928645 
  10. Citado em Cavalcade of the English Novel (New York, 1943), 377
  11. Lancelyn Green, Roger. Introduction to Prisoner of Zenda & Rupert of Hentzau, Everyman's Library. J. M. Dent & Sons, 1966
  12. Marcelo Cassaro. «Touché». Trama Editorial. Dragão Brasil (98). 43 páginas 
  13. Antonio Carlos Gomes de Mattos (2 de Setembro de 2011). «Douglas Fairbanks». Histórias de Cinema 
  14. Antonio Carlos Gomes de Mattos (13 de junho de 2014). «Escapismo Em Glorioso Technicolor». Histórias de Cinema 
  15. a b Antonio Carlos Gomes de Mattos (21 de fevereiro de 2010). «Espadachins de Hollywood e seus treinadores». Histórias de Cinema 
  16. The Encyclopedia of the Sword. [S.l.]: Greenwood Publishing Group. 1995. 295 páginas. 9780313278969 
  17. John Clements. «Questions and Answers About the Rapier». Association for Renaissance Martial Arts 
  18. «Antonio Banderas vive Gato de Botas em filme solo do personagem fofo». Rede Globo. 30 de março de 2014 
  19. "Swashbuckling Women of Movies, TV, Theatre, etc."
  20. Mauro Gianfrancesco, Eurico Neiva (2007). De Noite Tem - Um Show De Teledramaturgia Na Tv: Pioneira. [S.l.]: Giz Editorial. 55 páginas. 9788578550332 
  21. Bia Braune, Rixa (2007). Almanaque da TV. [S.l.]: Ediouro Publicações. 228 páginas. 9788500020704 
  22. Fernanda Furquim (24 de junho de 2010). «Zorro, o Musical Estreia em São Paulo». Revista Veja. Arquivado do original em 30 de outubro de 2014 
  23. Bruno Filippo (17 de julho de 2012). «A originalidade de Que rei sou eu?». Observatório da Imprensa 
  24. Cristiano Cipriano Pombo (28 de agosto de 1998). «Mosqueteiros de Dumas chegam em versão "entertainment"». Folha Online 
  25. «'Três Mosqueteiros' sai dos palcos e chega à tela da Globo». Folha Online. 25 de Dezembro de 1999 
  26. «O espectador no meio da aventura». ISTOÉ Gente 
  27. Heliodora Carneiro de Mendonça (7 de janeiro de 2010). «A marca do Zorro». O Globo 
  28. "Sony Pictures Entertainment v. Fireworks Ent. Group." no Google Scholar, recuperado em 4 de Dezembro de 2010.
  29. Mitzi M. Brunsdale (2010). Icons of Mystery and Crime Detection: From Sleuths to Superheroes. [S.l.]: ABC-CLIO. 757 páginas. 9780313345302 
  30. Appelcline, Shannon (2011). Designers & Dragons. [S.l.]: Mongoose Publishing. p. 53. ISBN 978-1-907702-58-7 
  31. Schick, Lawrence (1991). Heroic Worlds: A History and Guide to Role-Playing Games. Prometheus Books. 392 p. ISBN 0-87975-653-5.
  32. «Swashbucklers». Steve Jackson Games 
  33. Gilsdorf, Ethan (10 de janeiro de 2012). «Jogadores controlam os dados em nova edição de Dungeons & Dragons». O Globo 
  34. Marcelo Cassaro. (1994). "The Complete Fighter's Handbook" (em português). Dragão Brasil (1). São Paulo, Brasil: Trama Editorial.
  35. a b Marcelo Cassaro (2003). «Touché». Trama Editorial. Dragão Brasil (98). 39 páginas 
  36. Domingos “Onslaught” Santin Neto (12 de agosto de 2006). «Livro Completo do Guerreiro (resenha)». RedeRPG 
  37. a b c Marcelo Telles. (2003). "7 Mares - Conheça 7th Sea, um clássico de capa e espada!". RedeRPG
  38. Dei Svaldi, Rafael (11 de maio de 2003). «Série Quintessência». RedeRPG 
  39. Williams, SKip (14 de julho de 2005). «Swashbucklers with Class». Wizards of the Coast 
  40. «The Legacy of Zorro». RPG.net 
  41. Comunicado de imprensa (9 de abril de 2005). «Tormenta D20 - Guia do Jogador». RedeRPG 
  42. Leonel Caldela (2010). «Tormenta RPG - Preview». Dragon Slayer (28). São Paulo, Brasil: Escala 
  43. Marcelo Cassaro (2003). «Touché». Trama Editorial. Dragão Brasil (98): 41 
  44. Leonel Caldela, Marcelo Cassaro e Guilherme Dei Svaldi (2007). Tormenta 3.5 - Piratas & Pistoleiros. [S.l.]: Jambô. 5 páginas. 978858913425-5 
  45. «GURPS Lite Quarta Edição» (PDF). Devir. Arquivado do original (PDF) em 28 de outubro de 2014 
  46. «GURPS Lite Third Edition» (PDF). Steve Jackson Games