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Reincidência da gravidez na adolescência

Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe da Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Luiza Gualhano, Editora assistente da Revista Ciência & Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Logo do periódico Ciência & Saúde ColetivaA edição de nº 8 de 2022  do periódico Ciência & Saúde Coletiva privilegia o tema da Reincidência da gravidez na adolescência, a partir do artigo de Assis, et al, (2022). Gestar filhos nessa etapa da vida sempre foi um tema de preocupação no campo da saúde no Brasil e no mundo (OPAS, et al., 2018; WHO, 2021). Primeiro, por questões biológicas relativas ao crescimento e desenvolvimento do corpo das meninas não suficientemente maduro para levar a bom termo esse evento tão importante da vida humana. Depois por razões sociais, culturais, psicológicas e familiares.

A menina grávida assume precocemente o papel de adulta, prejudica seus estudos e tende a comprometer sua futura entrada no mercado de trabalho. Ter filho precocemente lhe tolhe a liberdade de sair, brincar, se enturmar e se divertir, movimentos próprios dessa etapa da vida. Muitas criam filhos sem pais e há as que deixam o bebê a cargo dos avós, renunciando à responsabilidade materna. Não menos importante, o estudo em pauta mostra que há um elevado percentual de meninas grávidas reincidentes e na imensa maioria, pobres. Portanto, a maternidade precoce prenuncia dificuldades econômico-sociais na sua vida e na do filho.

Os resultados do trabalho sobre gravidez reincidente entre meninas de 12 e 19 anos provêm de uma grande pesquisa nacional denominada Nascer no Brasil (Leal, et al., 2012) que trabalhou com mais de 500 partos/ano feitos em 266 hospitais públicos, privados e mistos das cinco macrorregiões do país, nas capitais e no interior. Dele, participaram 4.571 puérperas adolescentes, sendo 3.721 primíparas (gestantes do primeiro filho) e 850 multíparas (gestantes com mais de um filho). Foram considerados todos os recém-nascidos de mães com 12 a 19 anos entre 2011 e 2012. Não se encontraram gestantes com menos de 12 anos.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e outras organizações internacionais (2018), o Brasil tem uma das maiores taxas de gravidez na adolescência da América Latina (68,4 nascidos vivos para cada mil meninas). Embora esse tipo de gestação tenha diminuído ao longo dos anos, a reincidência permanece estável em torno de 20%. O fenômeno traz contornos locais e por regiões. (Zanchi, et al., 2017) mencionam, por exemplo, o caso do Rio Grande, um município do extremo sul do país onde a taxa de reincidência foi de 53,6%, sendo que, dois anos após o primeiro parto, metade das adolescentes estava grávida novamente e, três anos depois, 80% delas.

Ao comparar as que estavam na primeira gestação com as reincidentes Assis, et al., (2022) observaram que as múltiplas gravidezes acontecem, em maiores proporções, no grupo com 17-19 anos, em condições socioeconômicas desfavoráveis; como escolaridade inadequada para a idade; das classes C, D e E; que não planejaram a gestação; vivem com companheiros chefes da família; e são, em maioria, moradoras das capitais.

Recém-nascidos de mães adolescentes quando comparados aos de mães adultas apresentam maior chance de desfechos negativos como parto prematuro, baixo peso ao nascer e mortalidade neonatal (Rosseto, et al., 2014). Para as gestantes adolescentes, há maior chance de intercorrências como infecções urinárias, abortamento, pré-eclâmpsia, doença hipertensiva associada à ruptura prematura de membranas durante a gravidez. No grupo de multíparas encontram-se, principalmente, problemas de hipertensão (apesar da idade precoce) e de crescimento uterino restrito (CIUR), indicando que o crescimento do bebê está menor do que o esperado (Brandão, et al., 2021).

Constatou-se, uma vez mais, que a escolaridade adequada é um potente fator protetivo para que a adolescente não reincida na gravidez. Estudo realizado no Rio de Janeiro mostra que meninas com escolaridade inadequada têm duas vezes mais chance de engravidar do que suas colegas com os anos de estudo em dia (Almeida, 2018).

A conclusão é que, para onde se olha no mapa social brasileiro, a desigualdade estrutural vai corroendo as bases de um futuro próspero e responsável já antes do nascimento de uma grande porção de brasileiros. Mais uma frente importante para que a atuação do SUS persista!

Para ler o artigo, acesse

ASSIS, T.S.C., et al. Reincidência de gravidez na adolescência: fatores associados e desfechos maternos e neonatais. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 8, pp. 3261-3271 [viewed 17 August 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-81232022278.00292022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/XnT756cTfWKzG66Zjh8jt7b/

Referências

ALMEIDA, A.H.V. Gravidez e parto em adolescentes no Brasil: desigualdades raciais e socioeconômicas na assistência pré-natal e associação com nascimento prematuro. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, 2018.

BRANDÃO, E.R. and CABRAL, C.S. Juventude, gênero e justiça reprodutiva: iniquidades em saúde no planejamento reprodutivo no Sistema Único de Saúde. Ciênc. Saúde Colet. [online]. 2021, vol. 26, no. 7, pp. 2673-2682 [viewed 17 August 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-81232021267.08322021. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/wDjVt3n5DNQGPtZ7qHr9x7M/

LEAL, M.C., et al. Birth in Brazil: national survey into labour and birth. Reprodutive Health, [online]. 2012, vol. 9, no. 1, pp. 15 [viewed 17 August 2022]. https://doi.org/10.1186/1742-4755-9-15. Available from: https://reproductive-health-journal.biomedcentral.com/articles/10.1186/1742-4755-9-15

OPAS Organización Panamericana de la Salud. Fondo de Población de las Naciones Unidas y Fondo de las Naciones Unidas para la Infancia. Acelerar el progreso hacia la reducción del embarazo en la adolescencia en América Latina y el Caribe. Informe de consulta técnica. Washington: OPAS, 2018.

ROSSETTO, M.S., SCHERMANN, L.B. and BÉRIA, J.U. Maternidade na adolescência: indicadores emocionais negativos e fatores associados em mães de 14 a 16 anos em Porto Alegre, RS, Brasil. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2014, vol. 19, no. 10, pp. 4235-46 [viewed 17 August 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320141910.12082013. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/3sXWG8Zr8TCDZDZrZx7sjdz/

WHO World Health Organization. Adolescent pregnancy. Fact sheet. WHO, 2020.

ZANCHI, M., et al. Pregnancy recurrence in adolescents in Southern Brazil. Rev. Assoc. Med. Bras. [online]. 2017, vol. 63, no. 7, pp. 628-635 [viewed 17 August 2022]. https://doi.org/10.1590/1806-9282.63.07.628. Available from: https://www.scielo.br/j/ramb/a/GkWZ7qqpv3Zw53nwvVJmpjm/

Links externos

Para ler a edição temática completa acesse: https://www.scielo.br/j/csc/i/2022.v27n8/

Ciência & Saúde Coletiva: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

MINAYO, M.C.S. and GUALHANO, L. Reincidência da gravidez na adolescência [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2022 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2022/08/17/reincidencia-da-gravidez-na-adolescencia/

 

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