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Cross Roads

Summary:

Yuri acha a escola um lugar massante e quase não aparece nas aulas. Otabek sempre estudou muito e teve poucos amigos. Agora esses dois deveram lidar não só com as dificuldades acadêmicas, mas também com o estranho impulso que os coloca lado a lado.

Notes:

(See the end of the work for notes.)

Chapter 1: Não mais desconhecidos

Chapter Text

Otabek apertou a campainha e esperou que alguém viesse atender. Após cerca de dois minutos a porta foi aberta.

_Boa noite, você deve ser Otabek Altin, não é? Estava te esperando. Muito prazer, sou Katsuki Yuuri.

O homem em sua frente tinha traços asiáticos, usava óculos e possuía um semblante calmo. Em sua cintura estava amarrado uma avental. Enquanto abria espaço para que o menino em sua porta entrasse, continuou

_ Foi com Viktor, meu marido, que você conversou ontem. Mas você chegou em um ótimo momento, estou terminando de preparar o jantar. Seria ótimo se esperasse e comesse aqui enquanto conversamos.

Otabek deixou-se levar até a sala de estar e não precisou fazer mais do que concordar com a cabeça para que um sorriso se instalasse no rosto do outro. Antes de desaparecer pela porta do que parecia ser a cozinha, Katsuki pediu para que ele ficasse a vontade.

Na noite anterior Otabek havia recebido uma ligação, já era a terceira vez que ele fingia não ouvir o toque insistente de seu celular para que continuasse a leitura do livro em suas mãos. "Aarg" Bufou o menino enquanto fechava o livro e pegava o celular que vibrava em sua mesa de cabeceira.

"_Li no jornal seu anúncio sobre estar disponível para ser tutor e dar algumas aulas particulares. Você parece exatamente o que nosso Yurio precisa... - Um homem que se apresentara como Viktor falava animadamente enquanto deixava pouco espaço para que Otabek o respondesse - Bom, seria ótimo se você viesse à nossa casa e assim nó podemos ver os detalhes de como isso tudo pode funcionar..."

Depois de anotar o endereço do homem que havia ligado Otabek agradeceu a ligação e finalizou a chamada. Quando anunciou no jornal seus "serviços" Otabek não imaginou que alguém realmente viria até ele. Não postar em redes sociais era quase o mesmo que não anunciar, mas ele não usava muito seu celular e também não se incomodava em adicionar mais do que sua família e poucos conhecidos.

Morar sozinho durante a faculdade as vezes o fazia gastar mais do que o esperado, no mês anterior tinha sido difícil pagar todas as contas. Durante uma conversa no Skype com sua irmã sobre as aulas extras que ela estava tendo a ideia surgiu. Ele já estava na faculdade e sempre fora bom com os estudos. Sua personalidade fechada e expressão quase sempre indecifrável não o ajudavam a ter muitos amigos, então ele havia passado bastante tempo durante sua adolescência com a cara nos livros.

Otabek viu-se sozinho na sala de estar de pessoas desconhecidas. Enquanto pensava no porque havia aceitado entrar naquela casa seus olhos vagavam pelo ambiente. A estante repleta de livros prendeu a atenção do jovem, rapidamente havia escolhido um dos volumes e começado a ler. Após alguns minutos o aroma vindo da cozinha estava fazendo com que seu estômago tornasse difícil concentrar-se na leitura.

Antes que precisasse realmente tomar alguma atitude o homem que havia lhe aberto a porta reapareceu, já sem o avental em volta de sua cintura e com as bochechas e pescoço vermelhos.

_Desculpe a demora...

Katsuki, como havia se apresentado, passava nervosamente a mão pelos cabelos como que tentando reajustá-los. Otabek percebeu que sua fala estava um pouco entrecortada devido a respiração pesada.

_A comida está pronta. Yurio deve estar chegando e Viktor já saiu do banho, então podemos arruma-

_Mal te deixei escapar e já esta falando de mim, meu YUUrii?

Pela porta da cozinha outro homem surgiu. Com cabelos prateados, molhados e desalinhados, detalhe que Katsuki não deixou passar e mesmo com as bochechas vermelhas, tentou arrumar o cabelo do outro. Otabek não conhecia aqueles dois, mas era óbvio que se amavam.

_Viktor! Eu não te disse para secar o cabelo antes de encontrar com visitas? - A voz do homem de óculos demonstrava que ele queria dar uma bronca em seu marido, contudo, seus olhos e gestos não podiam ser mais delicados e carinhosos.

Quando Viktor colocou a própria mão sobre aquela que tentava alinhar seu cabelo e a trouxe até a boca, beijando-a, Otabek desviou o olhar. Aquele momento tão simples, mas tão íntimo o fez sentir-se desconfortável. Ele nunca foi bom em expressar sentimentos e ver outras pessoas apenas transbordando deles o fazia tremer um pouco.

_GROSS! Parece que vocês esperam eu estar presente para que possam ser o mais nojentos possível!

Otabek estava com os olhos fixos na estante de livros ao seu lado, portanto não tinha percebido o menino parado na porta de entrada. Assustado pelo súbito grito irritado vindo de suas costas Otabek levantou com um pulo e quase trombou no casal ainda de mãos dadas na porta da cozinha.

Otabek não sabia em que reparar primeiro no outro. O cabelo loiro na altura dos ombros, a jaqueta de estampa de animal, camiseta com um tigre rosnando na frente ou o olhar duro e irritado. Sua atenção estava direcionada para a nova figura que havia aparecido, o menino devia ser cerca de 15 centímetros mais baixo, mas de maneira alguma parecia mais frágil por isso. Otabek pensou nunca ter visto um olhar tão forte "são olhos de um soldado" considerou. Foi tirado de seu devaneio quando percebeu que o olhar do outro menino também estava sobre ele, avaliando-o, medindo-o.

_E você? O que está fazendo na minha sala derrubando esses livros velhos? - O menino começou a tirar a jaqueta mas logo parou, olhando para o casal na porta - Esse cheiro... Você esta fazendo Katsudon, velho nojento?! Mas não é aniversário de ninguém... Que. Porra. Vocês. Estão. Tramando?

_Nosso dia também foi ótimo Yurio, obrigado por perguntar. - O homem de cabelos prata abraçava seu marido por traz enquanto apontava com a cabeça para Otabek - Por mais que ame seu espírito, temos visitas então cuidado com as palavras. Yuuri, você está vendo como nosso filho fala na frente dos convidados?

_A-ah, Eu n-não ligo. - Otabek pegou rapidamente o livro que não havia percebido ter derrubado e o recolocou no lugar. Seus olhos indo do sorriso de Viktor, para o rosto assustado de Katsuki e então para o rosto vermelho do menino, parado com metade da jaqueta sobre seus ombros. Otabek conseguia sentir as ondas de raiva emanando do corpo do dito "Yurio" enquanto esse falava.

_Primeiro: Meu nome não é Yurio, quantas vezes vou ter que repetir? Segundo: Não sou filho de vocês, seu casal irritante! E não falem comigo enquanto estão... ASIM! Abraçados ASSIM, É VERGONHOSO!

Enquanto pronunciava sua frase, a voz do menino foi se elevando até ele estar praticamente berrando.

Só nesse momento Katsuki pareceu perceber o quão grudado ele estava a frente do corpo de seu noivo, afastando-se e sorrindo para o menino loiro e para Otabek disse:

_Não estamos tramando nada. Esse é Otabek Altin, o tutor que comentamos com você na última semana. Vimos seu último boletim ontem, e o acordo era você ir bem ou ter a ajuda de alguém, então... - O homem falava calmamente, sempre com um olhar animado. Se Katsuki viu o ódio emanando dos olhos do menino a sua frente, não demonstrou. - Ele veio jantar conosco para que vocês se conhecessem, e possam combinar horários e tudo o mais. Claro, primeiro se ele aceitar jantar conosco e depois aceitar lidar com nosso gatinho nervoso...

O homem sorriu para Otabek e tendo sua mão entrelaçada nas de seu marido, fez com que todos fossem em direção a mesa de jantar.

O menino com a camiseta de tigre estava reclamando sobre ser chamado de gatinho e sobre como ele não precisava, "com todo respeito, mas na verdade não", "da merda de um tutor", mas também sentou-se e logo que começou a devorar a comida em seu prato Otabek pode perceber como sua expressão suavizara-se. Depois de alguns minutos todos estavam comendo e a maior parte da conversa era realizada pelo casal, pontuada por alguns comentários do menino e poucos "sim", "não", "obrigado", de Otabek.

_Huum, Otabek sim? - Viktor começou a falar ainda com a boca cheia, mas depois de uma leve cotovelada e de um guardanapo oferecido por seu marido, terminou de mastigar antes de continuar. - Obrigado por vir aqui hoje. Você quase não falou ao telefone, então estávamos com medo de não ter entendido algo ou não estar interessado na proposta...

Otabek pousou a colher que usava para tomar o caldo de seu prato e acenou com a cabeça, indicando para que o outro terminasse sua fala.

_Portanto ficamos felizes por você ter vindo. - foi a vez de seu marido continuar "eles completam as frases um do outro, interessante" Otabek pensou, ainda observando em silêncio. Ele viu quando o menino loiro revirou os olhos, sabendo que ele devia ter pensado em algo semelhante, mas com certeza havia chamada esse gesto de algo pior do que apenas "interessante".

Eles terminaram o jantar e enquanto comiam sobremesa definiram que Otabek iria vir até a casa do menino para que o ajudasse com os estudos. O pequeno, mas bravo, loiro não ficou feliz com essa decisão, mas como já havia feito esse acordo com o casal não voltou atrás com sua palavra.

Após retirar os pratos de sobremesa Katsuki pediu para que Viktor servisse chá aos dois meninos e logo após os dois sumiram na cozinha. O menino continuou dizendo, agora um pouco mais alto para que o escutassem da cozinha, que podia ser muitas coisas, mas só covardes não cumpriam com o que prometiam. Essas palavras, aliadas ao olhar forte estampado no rosto do garoto fizeram com que Otabek sentisse algo estranho. Um súbito desejo de sorrir. Mas assim que viu como o outro garoto olhava para ele, fechou novamente a expressão.

_Pode rir, você pensa que eu sou uma criança não é, idiota? Você pode até ser meu "professor", mas não esqueça que você não manda em mim. - o menino fuzilava Otabek com o olhar. O copo de chá em sua mão quase derrubando seu conteúdo.

_Ah, n-nã...

Otabek ficou chocado, não era a primeira vez que o menino dirigia-se a ele, mas o peso negativo de suas palavras o pegou de surpresa novamente. Contudo, desta vez se recompôs rapidamente e foi capaz de responder antes que o menino o atacasse novamente.

_ De qualquer modo, tenho certeza que você não permite simplesmente que mandem em você. A força que vejo em seus olhos não me deixa pensar o contrario.

Isso fez com que o outro parasse antes de concluir o que quer que seja que estivesse prestes a falar. Sua expressão ficou em branco por alguns segundos. Os dois apenas se encarando. Otabek podia praticamente ver o cérebro do outro menino trabalhando, pesando o que ele acabara de falar. Subitamente o outro menino desviou o olhar e com um leve subor falou, já mais calmo.

_OK, talvez você não seja uma perda de tempo completa. Está em 80% de perda de tempo. - O menino terminou sua bebia em um gole só.

Antes que pudesse continuar sua frase Viktor entrou novamente na sala, a camiseta um pouco fora do lugar e novamente com o cabelo em desalinho.

_Que bom que vocês já se entenderam. Eu não tinha percebido que você havia gostado tanto do professor que consegui para você, filhote.

O homem retirou o copo dos meninos ainda sentados a mesa, Otabek não havia terminado sua bebida mas apenas agradeceu enquanto assistia Viktor dar as costas e caminhar para a cozinha, ignorando o pequeno grito e espasmo de raiva que vieram do loiro.

- Pode não parecer um elogio, mas pelo padrão do nosso Yurio a maioria das pessoas está em "130% de perda de tempo". -Viktor tentou imitar o modo como o menino falava, e realmente conseguiu certa semelhança.

Nesse momento ele desapareceu pela porta da cozinha cantarolando algo como "Voltei meu amor, sentiu minha falta? Senti a sua.", seguido de pequenos risinhos vindos de seu marido. O menino em frente a Otabek parecia prestes a vomitar ou roubar um carro e atropelar alguém.

_Eu poderia atropelar esses dois. Depois voltar de ré por cima de Viktor até me sentir cansado ou com fome. Então eu pararia, faria um lanche e voltaria para terminar com eles. - Ele fala alto, e os dois sabiam que o casal poderia ouvi-lo da cozinha. Mas ambos duvidavam que eles fossem prestar atenção ou ficar realmente bravos com as palavras do menino.

Otabek podia ver os pontos onde o rosto e pescoço do outro menino estavam vermelhos. Ele só não sabia se por vergonha ou raiva do que o homem mais velho havia dito. Provavelmente raiva.

_Hey, a menos que você espere que eu te chame de Yurio...

Otabek sabia que era uma aproximação arriscada, e pelos seus próprios padrões era quase inacreditável que ele estivesse falando com tanta confiança com alguém praticamente desconhecido. Os olhos do menino estreitaram-se e ele abriu a boca para, provavelmente, proferir algum xingamento. Mas Otabek não se deixou interromper.

_Talvez você queira me dizer seu nome. Você já sabe o meu, minha idade e que eu provavelmente estudo mais do que deveria, para estar aceitando um emprego desse....

A súbita coragem de Otabek chegou só até ai. Sua voz se manteve firme até o final, mas as últimas palavras foram ditas sem olhar nos olhos do outro menino. Onde ele estava com a cabeça quando veio até aqui? Conversar com estranhos, ainda mais jantar com eles, era extremamente desgastante e ele não devia ter ficado até agora. Depois de alguns segundo de um estranho silêncio, no qual Otabek ignorava os sons vindos da cozinha e pensava em apenas levantar-se e ir embora, o outro começou a falar.

_PUUFT! Você realmente fala como um homem velho, HAHAHAH - o menino suavizou a expressão enquanto soltava uma gargalhada - Bom, já que você não foi tão repugnante e até tolerante, acho que posso te falar algumas coisas... Bom, meu nome é Yuri Plisetsky. Obviamente não Yurio. Se você decorar essa, acho que talvez possamos conversar.

Os dois começaram então a trocar algumas frases rápidas, falando de si mesmos. Depois de alguns minutos Yuri estava tagarelando livremente, esperando apenas por algumas interjeições ou acenos de Otabek para se sentir incentivado a continuar. Ele Falou sobre seu avô, que era sua única família de sangue, deixando implícito para Otabek que ele possuía uma que não era. Falou como ele gostava de morar com seu avô, até o momento que ele começou a necessitar de cuidados diários e a única saída foi ser internado em um "hospital legal, que me deixa visitá-lo a praticamente qualquer hora e deixa que ele me ligue, também". Otabek ouviu sobre as aulas que o outro menino matava e sobre sua gata, muito sobre sua gata. Otabek falou também. Sobre sua moto, e a saudade que sentia de sua irmã mais nova, assim como Yuri sentia de seu avô.

Enquanto os dois conversavam Otabek podia sentir as emoções que flutuavam pelo corpo do outro menino. Ele mostrava um olhar bravo, mas inconscientemente cheio de carinho, quando falava do casal com o qual morava. Um tom de voz doce ao se referir a seu avô e um sorriso animado enquanto gesticulava e falava sobre sua gata. Algo na facilidade com que Yuri mostrava como se sentia, e em como Otabek conseguia perceber isso o assustou. O menino mais velho falava pouco e tinha problemas se expressando, mas mesmo usando poucas palavras ele percebeu que Yuri entendia como ele se sentia e algumas vezes evitava comentários maldosos quando percebia que isso poderia desestimulá-lo de falar.

Pouco antes das 23h o casal reapareceu na sala, apenas para encontrar Otabek sentado no sofá enquanto Yuri, de pernas cruzadas no chão, narrava sua última aventura ao tentar dar banho em Óreo, sua gata.

_Bem, odeio atrapalhar. Mas está ficando tarde e um jovem de 16 anos precisa dormir cedo para ir pra escola. - Otabek percebeu que o homem de óculos já estava de pijamas e pode perceber o de cabelos prata forçar um bocejo enquanto falava - Você precisa dirigir até sua casa e nós velhos precisamos, bem... dormir.

Ao seu lado Yuri revirava novamente os olhos enquanto Viktor forçava outro bocejo, apertando o bumbum de seu marido. Oque fez o homem de pijamas ficar subitamente vermelho. Com isso os dois deram boa noite e foram para seu quarto. Otabek sentiu novamente o impulso de rir, mas conteve-se.

_Nojentos, "dormir" sei. Eles parecem não saber o quão fina as paredes são e o quão não pesado é meu sono... -Yuri disse levantando-se.

Os dois foram até a porta, e depois de sair da casa de seu novo aluno, mas sem ir definitivamente embora, Otabek olhou para Yuri. O menino também não fechou a porta imediatamente. Otabek nunca pensou que gostaria de conversar por mais tempo com alguém.

_Bom, presumo que você vá me falar para ir na primeira aula amanha e me dizer para dormir cedo. Já aviso que provavelmente não farei nenhum dos dois... Mas talvez eu estude um pouco de alguma matéria que eu não ache completamente inútil antes de você vir, semana que vem.

Otabek apenas acenou com a cabeça como se realmente fosse dizer isso, em vez de pedir o número do menino. Mas é melhor assim, no que ele estava pensando? Claro que o outro não gostaria de trocar informações de contato. Ele mesmo não gostava de usar o próprio celular.

A porta foi fechada e Otabek montou em sua moto. O caminho de volta para casa foi silencioso e rápido, apenas pontuado por partes da conversa de mais cedo que apareciam na mente de Otabek.

Depois de tomar banho ele estava novamente com um livro nas mãos. Quando a tela de seu celular acendeu e ele pode ler a notificação, não percebeu o momento no qual fechou imediatamente o livro e pegou o celular.

"@Plisetsky.Yuri Começou a seguir você"
"@Plisetsky.Yuri Curtiu sua foto"
"@Plisetsky.Yuri Curtiu sua foto"

Otabek abriu pela primeira vez em meses o aplicativo do instagram e até o momento que realmente precisou dormir ficou navegando pelas postagens de Yuri, o menino tinha realmente muitas fotos. A maioria de Óreo ou Selfies onde pedia socorro por ter que aguentar as demonstrações públicas de afeto entre "@Nikiforov.Yuuri e @V1k.Katsuki"

PLIM.
PLIM.

Seu celular apitou novamente e a última coisa que Otabek viu antes de bloquear a tela e dormir foi.

"@Plisetsky.Yuri Curtiu sua foto"