Chapter Text
1998, Mystic Falls, Virgínia.
O vento bufou violentamente adentro das portas do Mystic Grill, trazendo consigo um ar gélido que congelou seus ossos, cortando seus lábios. Mystic Fall nunca teve uma noite tão fria como essa, ao menos, se havia tido, essa havia sido a pelo menos quinze anos atrás. Agora era tudo muito diferente. As pessoas, o ambiente, o clima. Era tudo muito superficial e muito quente, o verão ilustrava os líderes de torcida, o tempo da escola do centro da cidade, as pessoas focadas em suas próprias vidas de sempre. Tudo parecia animado, mas tudo também parecia muito... idêntico a todo o resto.
— Boa noite, o que o senhor deseja? Tenho de avisar, estamos quase fechando. — Você alertou atrás do balcão, ajustando o avental azul de sempre no corpo.
Diante de seus olhos, havia um homem completamente desconhecido, nunca visto antes por você. Ele era alto, forte, seus olhos eletrizantes traziam um tom azul intenso, tão forte que poderia fazer suas pernas virarem geleia. O cabelo dele era um emaranhado de fios lisos negros, aparentemente sedosos, mais crescidos do que curtos, e a pele dele era pálida, como se houvesse feito por porcelana pura e limpa. Ele era um homem estranho, tinha um olhar muito penetrante, muito vivo. O homem vestia jaqueta preta de couro, botas da mesma cor, calças surradas e uma camisa branca por baixo. Na mão dele, havia um anel azul extremamente bonito e elegante.
— Apenas um pouco do seu melhor bourbon, anjo. — O homem cantando, os olhos fixos nos seus.
Droga, você se amaldiçoou mentalmente, a voz dele trazia arrepios. Era aveludada, ao mesmo tempo áspero e zombeteira. Ele não parecia daqui, será de onde havia vindo? Inglaterra, França ou Alemanha? Talvez devesse desconsiderar a Inglaterra, não carregava rastros de nenhum sotaque forte. Ao menos, não era evidente apenas naquele momento.
— Sim, senhor. — Você respondeu, afastando cada pensamento inquieto e curioso sobre o homem.
Agarrando uma garrafa da bebida escocesa, despejou o líquido quente sobre o copo quadrado de tamanho médio. Você se afastou e colocou um cubo de gelo bem cortado dentro da dose, empurrando o copo em direção ao homem. Agora ele sorriu, mas diretamente em sua direção.
— Eu agradeço, amor. — Ele murmurou, os olhos deslizando por cada detalhe do seu rosto.
— Por nada, senhor estranho. — Você disse divertidamente, cravando o próprio dente sobre os lábios inferiores macios.
— Vou considerar isso como um flerte. O que faz uma alma tão pura e genuína nesse lugar no meio da noite sombria? — Questionou o homem estranho, e você quase riu da pergunta.
— Trabalhando...? — Você olhou ao redor, buscando clientes.
Mas realmente estava tarde da noite, seu amigo Matt já havia saído de seu expediente e se ofereceu para levá-lo pra casa, mas você gentilmente aceitou a oferta pois não queria que ele ficasse muito tarde. Nem que ele tivesse muito trabalho em lhe levar pra casa.
— Sei disso, estou perguntando por que esse lugar? De todos no mundo. — Ele insistiu, curvando os lábios num sorriso.
Belo sorriso, bonitão.
— Digamos que essa é a cidade em que eu cresci a maior parte da minha vida e tenho família, amigos... eu simplesmente não vejo porque sair daqui ou escolher outro lugar. — Você respondeu, e o homem ficou em silêncio por segundos.
— E você, lindo, é daqui? — Cruzando os braços e erguendo as sobrancelhas, você se inclina lentamente sobre o balcão.
O homem deu um gole na dose antes de encarar seus olhos. Havia algo no olhar dele. Algo intenso, algo proibido.... e certamente também havia algo muito errado por trás da aura sombria desse homem.
— Eu cresci por aqui, grande Mystic Falls. Mas isso não importa quando as memórias não são exatamente agradáveis de um certo lugar. — Ele respondeu avidamente, parecendo perdido em uma nuvem de escuridão.
– Ah, certo. Perdão pela pergunta. — Você segura a mão, pegando as notas no balcão que ele deixou.
- S/n. É um belo nome. Mas eu prefiro anjo. — Ele disse, os olhos azuis inquietos seguindo até o nome na placa do seu avental.
— Obrigado, senhor estranho. Eu posso dizer que me sinto especial em ouvir isso. E o senhor como se chama? — O homem enviou, e houve algum brilho incomum nos olhos dele.
- Salvatore. Apenas Salvatore. — Ele disse, a voz tão calma quanto uma melodia de ninar um recém-nascido.
Você deu um sorriso e se virou para colocar as notas na caixa registradora, quando notou, o homem havia sumido. Apenas um copo seco de bourbon estava presente no balcão, e um cheiro forte, masculino e tão viril. O tal Salvatore havia se ido, ele nem ao menos disse um "tchau" ou algo do tipo, parecia um tanto galante. Ignorando os pensamentos, você se arrumou, tirando o avental e finalmente fechando as portas do local, deixando tudo em seu devido lugar.
Era hora de ir pra casa.
Você sentiu um arrepio no estômago ao lembrar do olhar daquele homem, mas era ainda mais estranho pensar que um pássaro estava todas as noites do lado da sua janela. Era um corvo, penas totalmente pretas e largas, com o bico longo e refinado como uma navalha. Mesmo com medo, ele sempre voltava para sua janela. Para você.
E quando você finalmente caiu em sua cama depois de um banho longo, se afundando em exaustão e finalizando mais um dia de trabalho, você olhou pela janela para encontrar o corvo preto assustador. Mas ele não estava lá.
Não havia sinais do corvo, mas do outro lado da sua janela entreaberta, do outro lado daquela rua fria e escura, próximo ao poste iluminando toda a Mystic Falls, havia algo a mais. Havia a figura de um homem, e ele estava olhando diretamente para sua janela, para você.
Você não acreditou no que seus olhos viram, mas antes mesmo que pudesse ter noção do rosto daquele homem, ele também havia sumido. Tal como Salvatore.
Hoje seria uma noite estranha, você pensou.
O corvo e o homem estranho fariam parte dos seus sonhos.