Chapter Text
Todas as vezes que Kirishima olhava sua coleção de Crocs, seu rosto iluminava-se. Ele sabia que suas Crocs vermelhas da sorte seriam essenciais para o sucesso daquele dia, e, certamente, cairiam muito bem com seu terno verde-limão.
Buscou a pasta no meio da bagunça de seu quarto. A última compra no brechó havia sido ontem e não dera conta de guardar tantas roupas, afinal, mesmo com a falta de dinheiro, no brechó, cada centavo valia a pena. E não eram muitos.
Pegou o elevador, apressado. Kaminari disse que tinha a vaga certa para ele devido a experiência vasta em secretariado. Ele não sabia o motivo dos risinhos contidos do amigo ao oferecer-lhe o trabalho, mas qualquer emprego serviria naquele momento, após gastar uma quantia enorme com sua especialização no exterior. Sabia que quando voltasse a Nova York, a cidade ainda estaria de braços abertos para ele.
O terno chamativo e colorido, obviamente, não combinava nada com o dia frio e chuvoso. Muito menos com seus cabelos vermelhos que apenas casavam com suas Crocs. Mas Kirishima achava seu visual único. E realmente era. Inesquecível para todos que olhassem. E ele realmente orgulhava-se de ter feito tão boas escolhas. Nada poderia pará-lo. Colocou sua música tema favorita para ouvir nos fones de ouvido: Stayin’ Alive.
Seus pés se moviam conforme a música, seus dedos estalavam de acordo com o ritmo e algumas vezes, até estendia seu dedo como se vê nos filmes de dança dos anos 80. Tudo parecia ir muito bem. Logo estava diante do enorme prédio onde residia a sede da revista U.A, a qual Kirishima nunca havia ouvido falar.
Mas nem seu ânimo o ajudou a escapar do grande banho de lama dado por um ônibus que passou rente demais à calçada. Seu visual milimetricamente ajustado estava arruinado. Mas o ruivo era duro na queda. Indestrutível. Entrou no prédio mesmo ameaçado pelo segurança. Aquele emprego era dele. Nada o tiraria dali.
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- Só pode ser brincadeira… O departamento de pessoal está me pregando uma peça.
Disse um jovem de cabelos verdes e macios.
- Ao que se refere, senhor? Fui indicado para…
Kirishima abriu sua pasta, e leu a anotação.
- U.A Fashion, com o senhor Midoriya Izuku. É o senhor?
- Queria que não fosse...
Respondeu Midoriya de forma dramática.
- Desculpe pelo estado de minha roupa. Infelizmente meu visual foi totalmente estragado pelo banho de lama que tomei na frente do prédio.
“Pelo menos a lama está combinando com a roupa…”
Pensou o jovem, mas preferiu manter seus pensamentos para si.
- Ao menos você foi pontual. Kacchan preza muito por pontualidade.
- Kacchan?
Midoriya levanta-se como se tentasse impedir um desastre.
- SHIIII. Se ele te ouvir, já era. Ele odeia ser chamado assim.
- Então por que você…
- Não vem ao caso, está bem?
- Mas o senhor não me explicou quem é esse… “Kacchan”.
Eijirou fez o sinal das aspas com os dedos.
- Katsuki Bakugou é simplesmente o maior editor de moda da atualidade! Como você nunca ouviu falar dele?
Falou Midoriya com certa admiração.
- Então vamos nos dar muito bem! Eu entendo tudo de moda!
Respondeu o ruivo de forma positiva.
- Deixemos que ele julgue isso… Agora aprume-se.
- Ok…
Kirishima achava aquilo tudo muito estranho, entretanto, um emprego era um emprego, e se alguém poderia fazer aquilo, esse alguém era ele.
“DEKUUUUUU”
O secretário ouviu o grito vindo da sala do chefe e levantou em um pulo.
- Venha comigo e tente não falar bobagem na frente do Kacchan.
Os dois foram em direção à porta de vidro fosco e quando ela foi aberta, deu margem ao escritório enorme. Bakugou estava completamente imerso em sua xícara de café e nas anotações e sobreposições que montava sobre a mesa.
- Deku, a porra da entrevista com o assistente novo não era hoje? Eu preciso que você vá buscar aquelas amostras que enviaram e verifique como está a minha agenda pro dia 17. Tenho uma viagem importante e não quero perder tempo com aqueles idiotas. E na volta, traz um café.
O secretário anotava tudo com a maior agilidade que podia.
- Vai ficar calado, Deku?
Katsuki levantou os olhos e encarou as duas figuras à sua frente.
- Mas que... PORRA... É essa?
- Deixe-me apresentar! Seu Kacchan, sou Eijirou Kirishima e eu vim para a entrevista. Esse aqui é o meu currículo, mas você já deve estar ciente. Se quiser, começo hoje mesmo. Sei que iremos nos entender muito bem. Eu também adoro moda!
Izuku sentiu sua espinha gelar ao ouvir o novato chamando Bakugou pelo apelido. A veia saltitante na testa do editor era visível. Esse passou a mão sobre o rosto, tentando se acalmar e Kirishima sorria como se tivesse certeza que a vaga era sua.
- E esse terno verde é devido à ocasião?
- Tenho que me vestir para impressionar o chefe. Peço desculpas pela lama, não pude evitar. Mas posso provar que sou o mais competente que há para o cargo.
Sentindo que o editor iria explodir, o secretário cochichou algumas palavras em seu ouvido.
- Vamos testar sua lendária competência agora mesmo. Todas as tarefas que dei ao Deku, agora são suas. Você tem 30 minutos e não me incomode com perguntas.
Izuku puxou Eijirou pelo braço até fora da sala. Antes que a porta fosse completamente fechada, o novato falou:
- Nossa, mas ele é muito másculo!
Izuku pode ver o olhar do editor pela última brecha, mas esse olhar ele não conseguira decifrar.
- Olha, eu não sei porque, mas o Kacchan decidiu te dar uma chance. Deve ser porque só nos últimos 15 dias ele tentou contratar 5 assistentes sem sucesso. A maioria saiu chorando na primeira conversa.
- Então o assistente tem que ser alguém tão resistente quanto eu!
Falou apontando o polegar para si.
- Essas amostras que ele quer não ficam muito longe daqui. Esse é o endereço. E o café dele, bem, é o expresso, extra forte, orgânico, 500 mL. A cafeteria é aqui embaixo. A agenda dele está aqui. Você não vai anotar nada?
Kirishima admirou o gordo caderno cheio de stickers, marcações e post-its que Midoriya cultivava com tanto cuidado. Aquela agenda era loucura. A deixaria por último.
- Minha memória é muito boa. Volto o mais rápido que puder!
Kirishima saiu correndo para o elevador, repassando suas tarefas na mente e calculando como poderia maximizar sua eficiência. Desceu, procurou a rota mais rápida até o ateliê no qual buscaria as amostras. Nem precisaria pegar o metrô, correr seria mais rápido.
Ao chegar no local, apresentou-se como assistente de Bakugou e recebeu olhares de estranhamento, entretanto, não tinha tempo para aquilo. Passou na cafeteria mais próxima à sede da revista, a fim de não permitir que o café esfriasse.
Já de volta ao escritório, Eijirou tomou em mãos a agenda de Bakugou, que mais parecia um livro, e revisou os compromissos do dia 17, memorizando cada um com afinco.
- Estou realmente impressionado, você conseguiu fazer tudo em 26 minutos! Isso certamente vai agradar ao Kacchan. Sobre a agenda, avise que Todoroki irá recebê-lo na USS. E POR FAVOR, NÃO O CHAME DE KACCHAN.
O outro acenou bateu na porta e adentrou a sala de Katsuki com o café em mãos. O loiro olhou para o relógio em seu pulso e deu um pequeno sorriso de canto de boca, o qual Kirishima não teve tempo de notar.
- Senhor Katsuki, aqui está seu café. Dia 17 o senhor tem uma reunião com a United States of Smash, entretanto, será Todoroki ao recebê-lo e não o Sr. All Might. Recomendo que tome um carro na saída, assim terá tempo de chegar ao aeroporto. Me certificarei de fazer seu Check-in online para que a estadia no hotel seja mais agradável.
Bakugou, sem nem olhá-lo, sinalizou para que saísse da sala. O sorriso orgulhoso de Kirishima murchou naquele mesmo instante. A vaga não era dele. Mas tinha se esforçado tanto! Comprou o terno justamente para aquela ocasião. Realmente ele não era tão bom assim. Recolheu a pasta e rastejou até a saída. Tinha gostado do ambiente e do colega assistente de cabelos verdes. Mas era raro que não gostasse de alguma coisa.
Quando estava para passar da roleta, Midoriya o gritou.
- Ô pequena sereia, para onde você tá indo? O tritão te contratou! Bora assinar os papéis!
Kirishima correu e abraçou Izuku, levantando-o.
- É meu? Mas ele nem me olhou.
- Se ele não gritou com você, está tudo certo. Onde você comprou esse terno tão… Exótico.
- Gostou? Foi 5 dólares. Comprei em um brechó ontem. Foi um achado! E ficaria ótimo com as minhas crocs vermelhas da sorte.
- Tenta não usar muito essas crocs.
- Eu posso usar de outras cores. Tenho quase todas. Inclusive a furta-cor, para ocasiões especiais.
Respondeu piscando um dos olhos.
O assistente não soube reagir. Apenas concordou com a cabeça. Talvez trabalhar na revista trouxesse algum senso de moda para o outro.
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Kaminari Denki, Ashido Mina e Sero Hanta aguardavam ansiosamente por Kirishima em um bar famoso na cidade. O primeiro era dono de uma agência de empregos e tinha muitos contatos com pessoas poderosas na cidade. E quando soube daquele cargo, não podia deixar de pregar uma peça no amigo de cabelos avermelhados.
- Eu quero ver a cara dele! Deve ter sido impagável quando ele entrou no escritório do Katsuki Bakugou, o queridinho do mundo da moda, usando aquele terno verde que comprou ontem.
Disse Kaminari
- E a Mina ainda deu o maior apoio para que ele comprasse. Isso foi muita zoeira.
Afirmou Sero.
- Você sabe que é impossível fazer o Kirishima desistir de comprar uma coisa quando ele gosta muito. Eu só disse que ele ficava interessante. E, realmente, é interessante pensar que ele colocaria o terno verde com aquelas crocs vermelhas. Ele deve estar tão parecido com o Grinch, que devem ter contratado ele para roubar o Natal!
Completou Mina.
Todos riram.
- Mas será que você não pegou pesado não, Kaminari? Ainda mais pela má fama do Katsuki...
Ashido apoiou os cotovelos sobre a mesa e alcançou o copo com o drink.
- Ele já fez pior comigo e eu tenho um emprego garantido para ele. Vai ficar tudo bem.
Mal terminaram de falar e um muito sorridente Eijirou, ainda trajando o terno verde-limão sujo de lama, entra no restaurante, apressando-se para sentar à mesa com seus amigos.
- E aí, turma? Como vão meus bons? Especialmente esse pestinha aqui…
Cumprimentou Kirishima, enquanto dava pequenos cascudos na cabeça de Kaminari.
- Desculpa, amigão! Eu não pude resistir! Aquele emprego era tudo que não combinava com você!
Respondeu Denki.
- Não liga pra ele, Kiri! Foi uma pegadinha de muito mau gosto. Você está bem?
Perguntou Mina.
- Do que você está falando? Eu estou ótimo! Terei dinheiro para comprar minhas Crocs, isso é tudo que importa.
- Hã?
Estranharam os três amigos.
- Sou um homem empregado, meus senhores!
Exclamou o ruivo no meio do restaurante, chamando mais atenção do que sua roupa.
- Estou completamente em choque.
Disse Kaminari.
- Mas… Mas… Isso era para ser uma pegadinha…
- O que? Como assim pegadinha?
- E-Eu te indiquei para a U.A porque é uma revista de moda e… Bom… Não costumam contratar pessoas as quais eles não “gostam” do look. Achei que fosse ser engraçado e eu já tinha um emprego certo para você.
- Pera… Você me mandou para lá achando que eu não ia passar nem da porta? Que filho da puta!
Respondeu Kirishima, chocado.
- Veja bem… Você também já pregou peças em mim e foram bem piores do que essa. Além do mais, conseguiu o emprego, o que é o mais impressionante, dada a fama do seu chefe.
Mina e Sero riam, quase cuspindo o vinho que bebiam.
- Kaminari tem razão. Katsuki Bakugou é infâme no mundo da moda. Quem trabalha para ele consegue o emprego que quiser depois.
Disse Sero.
- É… Mas ele também é conhecido como o “O Rei Demônio”. Tem uma personalidade horrenda e só os melhores conseguem se manter ao seu lado.
Completou Mina.
- Bom… Ele é mesmo exigente. Durão, sabe? Acho que vamos nos dar bem. Ele é tão másculo quanto eu!
Os kirimigos se entreolharam boquiabertos.
- Amigo… Eu não tenho ideia de como isso aconteceu, mas creio que essa vaga era para ser sua.
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O Diário do Midoriya
Querido Diário,
Hoje me deparei com o maior dos desafios, até agora, na minha jornada para me tornar o estilista Número 1, assim como o meu ídolo, All Might, dono da United States of Smash: Eijirou Kirishima. Um total desastre. Mas creio que existe salvação! E eu o salvarei.
Apesar do conjunto totalmente desarrojado, o corte do terno verde limão que ele usava não era de todo ruim. E, é claro, tinham aquelas Crocs. Tudo bem que é uma das peças mais controversas da história da moda. E olha existem muitas, mas é quase inaceitável. O terno poderia, talvez, com muita sorte, ter dado certo com outro sapato. Mas aquelas Crocs estragam qualquer look. Não sei como Kacchan não o atirou pela janela do último andar. Afinal, não há nada que ele odeie mais do que Crocs.
Vou fazer dele o meu projeto pessoal. Se eu for capaz de salvar o Kirishima, serei capaz de ser o estilista Número 1.