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CAPÍTULO 30 DIAGNÓSTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO ASSENTAMENTO NOVA JERUSALÉM, MUNICÍPIO DE MARAGOGI - AL RESUMO Mônica Lima Alves Pôrto IFAL A agricultura familiar, historicamente, tem se constituído em fonte de geração de alimentos, emprego e renda. O objetivo deste trabalho foi realizar um diagnóstico das culturas produzidas, bem como as culturas que apresentam potencial para o desenvolvimento econômico, social e sustentável do Jailson do Carmo Alves IFAL Izailque Carolino de Oliveira IFAL Jonathas da Silva Santos IFAL assentamento Nova Jerusalém, no município de Maragogi - AL. A pesquisa foi realizada durante o mês de setembro 2016. Foram realizadas visitas in loco no assentamento, onde foram coletadas informações quantitativas e qualitativas junto a 20 famílias assentadas, com a aplicação dos questionários semiestruturados. A presente pesquisa constatou que existe a presença de agentes que dificultam e restringem a produção agrícola e geração de renda no assentamento Nova Jerusalém, tais como: correção e adubação do solo ineficientes, baixa utilização de irrigação, pouca assistência técnica, produção de culturas restritas. A utilização de uma maior diversidade de culturas, com maior produtividade e de maior retorno financeiro é uma alternativa para a sustentabilidade da produção agrícola e aumento da renda dos agricultores do assentamento Nova Jerusalém. Palavras-chave: Agricultura Familiar; Geração de Renda; Sustentabilidade. 10.37885/200500335 1. INTRODUÇÃO A agricultura familiar, historicamente, tem se constituído em fonte de geração de alimentos, emprego e renda no meio rural. Dentre as alternativas rurais, os assentamentos de agricultores familiares em terras produtivas são empreendimentos de retorno imediato para o desenvolvimento municipal (ROSA; GUIMARÃES, 2011). A agricultura familiar é responsável por mais de 80% da ocupação no setor rural do Brasil, gerando sete de cada dez empregos no campo e em torno de 40% da produção agrícola nacional (CONAB, 2012). expectativas e desafios quanto às organizações econômica e social nos assentamentos e em relação à sociedade como um todo (SANGALLI; SCHLINDWEIN; CAMILO, 2014). O assentamento Nova Jerusalém vem sendo assistindo pelo Programa de Extensão Minha Comunidade, iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão do IFAL, programa esse abraçado pelo IFAL/Campus Maragogi que numa perspectiva interdisciplinar desenvolvem atividades de pesquisa e extensão na localidade, cujo o objetivo é qualificar os potenciais existente, geração de renda, bem-estar social e sustentável, dentro do segmento da produção agrícola. A maior parte dos alimentos que abastecem a mesa dos brasileiros, na atualidade, é oriunda dos pequenos lotes. Essa modalidade de agricultura favorece a utilização de práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, como a diversificação de cultivos, o menor uso de insumos industriais e a preservação do patrimônio genético (SANGALLI; SCHLINDWEIN; CAMILO, 2014). Ao produzir alimentos para seu próprio consumo, o agricultor familiar garante uma segurança alimentar a sua família e também complementa sua renda com a comercialização do excedente da colheita, proporcionando à comunidade local maior acesso a alimentos de qualidade (ABREU et al., 2013). A compreensão dos mecanismos de produção e geração de renda dentro das unidades produtivas dos agricultores assentados é uma importante ferramenta para a promoção do desenvolvimento das famílias assentadas (SANGALLI; SCHLINDWEIN; CAMILO, 2014). O termo “assentamento” surgiu, inicialmente, no vocabulário jurídico e sociológico da reforma agrária da Venezuela, em 1960, difundindo-se para outros países. Pode ser definido como a criação de novas unidades de produção agrícola, através de políticas governamentais que visam o reordenamento do uso da terra, a fim de beneficiar trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra (BERGAMASCO; NORDER, 1996). 2. O município de Maragogi, estado de Alagoas, apresenta o maior número de assentamentos do Estado, com dezoito no total (LIMA et al., 2015). O assentamento Nova Jerusalém fica localizado no distrito de Peroba em Maragogi-AL, possuindo hoje aproximadamente 60 famílias (INCRA, 2012). No passado, o assentamento Nova Jerusalém foi uma fazenda de produção de coco, a qual foi vendida para o INCRA, sendo que após um ano de aguardo, de acampamento para assentamento, as famílias conquistaram o direito de suas parcelas de terra (LIMA et al., 2015). A coleta dos dados ocorreu no mês de setembro de 2016. Foram realizadas visitas in loco no assentamento Nova Jerusalém, onde foram coletadas informações quantitativas e qualitativas junto aos agricultores, com a aplicação de um questionário semiestruturado para análise das atividades agrícolas e a reflexão sobre a realidade local. Diante desse aspecto, o objetivo deste trabalho foi realizar um diagnóstico da produção agrícola, bem como as culturas que apresentam potencial para o desenvolvimento econômico, social e sustentável no assentamento Nova Jerusalém no município de Maragogi-AL. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada no Assentamento Nova Jerusalém, que fica localizado no distrito Peroba, zona rural do município de Maragogi-AL, cuja sede fica localizada nas coordenadas geográficas 08º 56’S de latitude e 35º 17’W de longitude, confrontando com a rodovia AL-101 NORTE (Figura 1). Figura 1. Localização do assentamento Nova Jerusalém, Maragogi-AL. IFAL, 2016. Para os assentados obterem êxito na sua produção e geração de renda, alguns aspectos devem estar bem trabalhados e acessíveis, como acesso a orientação técnica, disponibilidade de água, aquisição de sementes, adubação e nutrição das plantas e políticas públicas. Entretanto, após conquistarem o direito à terra, o que vem sendo observado é que os assentados se defrontam com novas incertezas, Fonte: Google Earth. 228 Extensão Rural em Foco: Apoio à Agricultura Familiar, Empreendedorismo e Inovação - Volume 1 Os questionários foram aplicados pelos Bolsistas de Extensão do Programa Minha Comunidade do IFAL/Campus Maragogi, para 20 famílias escolhidas aleatoriamente, sendo aplicado para um membro de cada família. O questionado continha perguntas que possibilitaram identificar a situação atual das atividades agrícolas dos assentados, considerando aspectos como: aspectos de cultivo, assistência técnica, dificuldade e facilidades na produção, entre outros aspectos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As informações e análises a seguir foram obtidas através da avaliação dos dados levantados pelo questionário para 20 famílias do Assentamento Nova Jerusalém, no município do Maragogi-AL. agentes externos, como clima, pragas e doenças e está sujeito às condições de mercado (MOREIRA; BINOTTO, 2014). Como sugestão para diversificar a produção e aumentar a renda familiar, a produção de hortaliças surge como uma excelente alternativa, pois, dentre os alimentos produzidos na agricultura familiar, há destaque para a produção das hortaliças, que são geralmente de ciclo curto e podem ser cultivadas em pequenos espaços a exemplo das hortas caseiras (FILGUEIRA, 2008). A sua produção, tanto é destinada para alimentação da família como seu excedente pode ser comercializado em feiras locais, além de estimular um hábito alimentar mais saudável e seguro das famílias. A sua produção ainda pode ser absolvida pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, contribuindo para geração de renda do município. 3.1 PRINCIPAIS CULTURAS PRODUZIDAS As principais culturas produzidas no assentamento são coco, banana, mangaba e macaxeira (Figura 2). Observa-se que a cultura do coco se destaca na produção, sendo responsável por 61% da produção, em seguida vem a cultura da mandioca e mangaba com 17% da produção para ambas frutíferas. A cultura da banana representa 5% de produção. Observa-se um maior potencial para produção de frutíferas, principalmente para a cultura do coqueiro, este fato está relacionado ao histórico de produção da área, onde anteriormente era uma fazenda destinada a produção de coco. Dentro das culturas regionais, a cultura da mandioca é a única que vem sendo produzida, esse fato pode estar relacionado a sua boa adaptação e desenvolvimento em solos com baixa fertilidade. 3.2 ASSISTÊNCIA TÉCNICA Quanto a assistência técnica (Figura 3), verifica-se que a grande maioria dos assentados (67%) não dispõem atualmente de nenhum tipo orientação técnica em seus cultivos. Esse fato é bastante preocupante, pois a carência de assistência técnica resulta na dificuldade de planejamento, na regularidade de produção e na quantidade e qualidade dos produtos agrícolas (SILVA; BACCARIN, 2014). Figura 3. Utilização de assistência técnica no Assentamento Nova Jerusalém, Maragogi-AL. IFAL, 2016. Figura 2. Principais culturas produzidas no Assentamento Nova Jerusalém, Maragogi-AL. IFAL, 2016. 3.3 IRRIGAÇÃO Verifica-se uma situação de baixa diversificação de culturas exploradas pelos assentados, o que é um fato preocupante. Seria interessante uma exploração de maior número de culturas, com o com o intuito de reduzir os riscos de se ter apenas uma atividade como principal fonte de renda e manutenção familiar, tais como risco de perder sua produção devido a Com relação aos sistemas de irrigação, verificou-se que 94% dos assentados não fazem a utilização do sistema de irrigação (Figura 4A), pelo fato do alto custo de implantação, bem como a falta de assistência técnica nessa área. Apenas cerca de 6% fazem uso de irrigação (Figura 4A), esse percentual de irrigação pode e deve ser aumentado, mas antes deve ser avaliado a quantidade e qualidade da água disponível. A água utilizada para irrigação é proveniente de poços artesianos e córregos existente nas Extensão Rural em Foco: Apoio à Agricultura Familiar, Empreendedorismo e Inovação - Volume 1 229 parcelas (Figura 4B). A irrigação é uma das práticas agrícolas que mais contribuem para o incremento das produtividades das culturas agrícolas, sendo proposta como uma estratégia para aumento da produção de forma sustentável (MANTOVANI; BERNARDO; PALARETTI, 2006). Assim, a baixa utilização da irrigação pelos produtores pode ser definida como um dos principais fatores limitantes para a exploração agrícola no assentamento Nova Jerusalém. Figura 4. Uso (A) e fonte (B) do sistema de irrigação no Assentamento Nova Jerusalém, Maragogi-AL. IFAL, 2016. as culturas (CEFSPE, 2008). A adubação é uma prática extremamente importante para a exploração racional das culturas agrícolas, sendo fundamental para a obtenção de bons rendimentos. A adubação adequada e bem equilibrada, traz ao produtor não só ganhos em produtividade, mas também a melhoria da qualidade da produção, estado fitossanitário das plantas, entre outras (PÔRTO et al., 2012). Diante dos dados, verifica-se a necessidade de trabalhos voltados para a conscientização dos agricultores assentados da importância da calagem e adubação para a melhoria da produção de suas culturas. 3.5 ROTAÇÃO DE CULTURAS 3.4 CALAGEM E ADUBAÇÃO Com relação a correção do solo, a grande maioria dos assentados (96%) não fazem uso da prática de calagem, enquanto apenas 4% utilizam fazem correção do solo em seus plantios (Figura 5A). Associado a isso, cerca de 67% dos produtores do assentamento Nova Jerusalém não fazem uso de nenhum tipo de fertilizante em suas culturas, enquanto 33% utilizam o sistema de adubação convencional (com adubos químicos solúveis) em suas parcelas (Figura 5B). Com relação a prática de rotação de culturas a maioria, cerca de 56% não fazem rotação de cultura e penas 44% fazem rotação de culturas (Figura 6). Esse fato pode estar relacionado com principais culturas plantadas pelos assentados (principalmente espécies frutíferas), as quais apresentam ciclo longo, dificultando o emprego da pratica de rotação. Figura 6. Utilização de rotação de culturas no Assentamento Nova Jerusalém, Maragogi-AL. IFAL, 2016. Figura 5. Utilização de calagem (A) e adubação (B) no Assentamento Nova Jerusalém, Maragogi-AL. IFAL, 2016. A correção do solo através da prática da calagem elimina os problemas de acidez do solo, reduzindo a toxidade de Al3+ e outros elementos tóxicos e elevando a disponibilidade dos nutrientes essenciais para as culturas, sendo uma prática de grande importância para a produção agrícola (CEFSPE, 2008). O fato de pouco assentados empregarem essa prática em seus cultivos é fato que pode ter sido como muito negativo a produção agrícola do assentamento. Boa parte das parcelas apresentam solo arenoso. Esse tipo de solo apresenta baixa fertilidade natural, requerendo uma constante aplicação de uma matéria orgânica e nutrientes para melhorar suas características e elevar a disponibilidade de nutrientes para 230 A rotação de culturas é uma pratica de extrema importância para ser adotado em áreas de produção agrícola sustentável, pois possibilita um equilíbrio da diversidade de microrganismo no solo e rompe o ciclo de algumas pragas que comprometem a produção (PRIMAVESI, 2002). No que diz respeito as práticas agrícolas desenvolvidas no assentamento verifica-se que ainda são incipientes, precisando de um plano de assistência técnica, voltado para práticas sustentáveis. Um plano eficiente de estratégias para os assentados refere-se à diversificação da produção nos lotes, aliados à conservação e melhoria ambiental e bem-estar humano. Extensão Rural em Foco: Apoio à Agricultura Familiar, Empreendedorismo e Inovação - Volume 1 4. CONCLUSÕES Através do diagnóstico foi possível verificar o potencial produtivo do assentamento, bem como propor estratégias e planos de trabalho para melhorar a produção das culturas produzidas no assentamento nova Jerusalém e diversificar a sua produção, sugerindo outras culturas para serem implantadas. Constatou também que existe a presença de agentes que dificultam e restringem a produção agrícola e geração de renda, tais como: falta de preparo do solo, correção e adubação do solo ineficientes, baixa utilização de irrigação, pouca assistência técnica, produção de culturas restritas. A utilização de uma maior diversidade de culturas e com maior retorno financeiro e maior produtividade é uma alternativa para o aumento da renda e sustentabilidade dos agricultores do assentamento Nova Jerusalém. Agradecimentos Ao IFAL, em especial ao Campus Maragogi, pelo apoio para a viabilização da realização deste trabalho. A PROEX/IFAL, pela concessão da Bolsa de Extensão aos dois últimos autores. Aos agricultores do Assentamento Nova Jerusalém, por sua paciência e colaboração no momento do questionário. REFERÊNCIAS ABREU, M. J.; TRIVELLA, R. B. B.; MELO, L. G.; CORDEIRO, A.; MAESTRI, J. C. Horta Comunitária Vida Nova - Relatos Agroecológicos em Espaços Urbanos. Cadernos de Agroecologia, v.8, n.2, p. 1-5, 2013. BERGAMASCO, S. M.; NORDER, L. A. C. O que são assentamentos rurais. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1996. 87p. FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 3 ed. Viçosa: UFV, 2008. 402 p. INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Maragogi/Al terá Assentamento com campus de Instituto Federal. 2012. Disponível em <www.incra.gov.br/maragogi.> Acessado em: 20 de setembro de 2016. MANTOVANI, E. C.; BERNARDO, S.; PALARETTI, L. F. Irrigação: princípios e práticas. Viçosa: UFV, 2006. 318p. MOREIRA, F. G.; BINOTTO, F. A diversificação de culturas agronômicas como forma sustentável na agricultura familiar: uma análise para o Estado/MS. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v.9, n.5, p.68-75, 2014. PÔRTO, M. L. A.; PUIATTI, M.; FONTES, P. C. R.; CECON, P. R.; ALVES, J. C. A.; ARRUDA, J. A. Produtividade e acúmulo de nitrato nos frutos de abobrinha em função da adubação. Bragantia, v. 71, n. 2, p.190-195, 2012. PRIMAVESI, A. Manejo ecológico do solo: agricultura nas regiões tropicais. São Paulo: Nobel, 2002. 552p. ROSA, L. A. B.; GUIMARÃES, M. F. Diagnóstico socioeconômico em assentamentos rurais no município de Tamarana-PR. Semina: Ciências Agrárias, v. 32, n. 3, p.809-828, 2011. SANGALLI, A. R.; SCHLINDWEIN, M. M.; CAMILO, L. R. Produção e geração de renda na agricultura familiar: um diagnóstico do Assentamento Rural Lagoa Grande em Dourados, Mato Grosso do Sul. Ciência e Natura, v.36, n.2, p.180192, 2014. CEFSPE. Comissão Estadual de Fertilidade do Solo de Pernambuco. 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