ESTUDIOS HISTÓRICOS – CDHRPYB - AÑO XI - DICIEMBRE - 2019 - N.º 22 – ISSN: 1688-5317. URUGUAY
O CONTEXTO BRASILEIRO NA CONSOLIDAÇÃO DA
INDEPENDÊNCIA E A EMERGÊNCIA DA REVOLUÇÃO
FARROUPILHA (1835-1845)
THE BRAZILIAN CONTEXT ON CONSOLIDATION OF INDEPENDENCE AND
THE EMERGENCY OF THE FARROUPIL REVOLUTION (1835-1845)
Profa. Dra. Maria Medianeira Padoin1
RESUMEN: Se presenta una síntesis del período histórico desde la llegada de la Familia Real portuguesa a
Brasil, así como la relación política de Portugal y Brasil en el fomento de ideas liberales, en el proceso de
independencia y construcción del estado brasileño. Incluyendo en este contexto la relación de la Carta
Constitucional de 1824, la independencia de la "Cisplatina" y la configuración de la Revolución Farroupilha
(1835-45). Busca demostrar cómo se configuran las relaciones de poder, especialmente en la esfera política,
destacando las acciones de las élites y cómo en este proceso de construcción del estado nacional el tema no
ganador en la Carta Constitucional de 1824 seguirá presente: el federalismo. Es decir, al cuestionar la
estructuración del poder, la región fronteriza del sur de Brasil (que se extendió hasta la Bacia del Plata) fue
escenario de manifestaciones de insatisfacción entre lo que es interés regional y nacional, así como la
relación entre estos.
Palabras Claves: Proceso de Independencia, Federalismo, Historia, Frontera.
RESUMO: Pretendeu-se apresentar uma síntese do período histórico desde a vinda da Família Real
Portuguesa para o Brasil, bem como a relação política de Portugal e do Brasil no fomento das ideias liberais,
no processo de independência e construção do estado brasileiro. Incluindo neste contexto a relação da Carta
Constitucional de 1824, a independência da “Cisplatina” e a configuração da Revolução Farroupilha (183545). Procura-se demonstrar como se configura as relações de poder, especialmente no âmbito político,
destacando a atuação das elites e como neste processo de construção do estado nacional a temática não
vencedora na outorga da Carta Constitucional de 1824, permanecerá presente –o federalismo. Ou seja, que no
questionamento da estruturação do poder, a região fronteiriça do sul do Brasil (que se estendeu até a Bacia do
Prata) foi o palco de manifestações pela insatisfação entre o que seja interesse regional e o nacional, bem
como a relação entre estes.
Palavras Chaves: Processo de Independência, Federalismo, História, Fronteira.
ABSTRACT: It was intended to present a synthesis of the historical period since the arrival of the
Portuguese Royal Family to Brazil, as well as the political relationship of Portugal and Brazil in fostering
liberal ideas, in the process of independence and construction of the Brazilian state. Including in this context
the relation of the Constitutional Charter of 1824, the independence of the “Cisplatina” and the configuration
of the Farroupilha Revolution (1835-45). It seeks to demonstrate how the power relations are configured,
especially in the political sphere, highlighting the actions of the elites and how in this process of building the
national state the non-winning theme in the 1824 Constitutional Charter will remain present - federalism.
That is, that in questioning the structuring of power, the border region of southern Brazil (which extended to
the La Plata Basin) was the scene of manifestations for dissatisfaction between what is regional and national
interest, as well as the relationship between these.
Keywords: Independence Process, Federalism, History, Border
INTRODUÇÃO
Este artigo tem por base um texto produzido para um capítulo que tratava sobre os
duzentos anos da História do Rio Grande do Sul.2 Mas neste momento, visa-se uma maior
1
Professora Titular do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria, Brasil.
Orientadora dos Programas de Pós-Graduações em História e em Patrimônio Cultural. Coordenadora do
Grupo de Pesquisa CNPq/UFSM História Platina: sociedade, poder e instituições. mmpadoin@gmail.com
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divulgação do conteúdo estudado e assim uma reflexão sobre o complexo processo de
independência do Brasil e a relação com o perfil de construção dos movimentos que
questionaram o modelo de estruturação do poder. Motivados talvez, por ainda no século
XXI, a insatisfação com o modelo de estado e da sua administração política e da
estruturação dos poderes, lembrarem ou buscarem no período monárquico base para a
reflexão, e naqueles movimentos que contestavam e/ou propunham outros modelos. Neste
caso, me refiro as ideias já estudadas do federalismo ou confederação presentes na
Confederação do Equador e na Revolução Farroupilha (para exemplificarmos no espaço
brasileiro). Além disso, temos outros movimentos como a Revolta da Armada, a
Revolução Federalistas no período da implantação da República no Brasil que também
questionam o modelo recém implementado.
Porém, neste artigo se restringe a apresentar uma síntese do período histórico do
processo de independência do Brasil, marcado a partir da vinda da Família Real Portuguesa
em 1808, o processo de independência e as relações na estruturação do poder, a expansão
territorial ao sul, chegando na emergência da Revolução Farroupilha, com a contestação do
modelo/estrutura adotado desde a Carta Constitucional de 1824. Destaca-se a relação
política de Portugal e do Brasil no fomento das ideias liberais, no processo de
independência e construção do estado brasileiro, incluindo neste contexto a relação da
Carta Constitucional Outorgada, a independência da “Cisplatina” e a fragmentação do sul,
com a configuração da Revolução Farroupilha (1835-45).
Procura-se demonstrar como se configura as relações de poder, especialmente no
âmbito político, destacando o perfil de configuração de um espaço fronteiriço movido
pelas migrações (internas e externas), pelo comércio e o “contrabando”, pela configuração
de um perfil das elites e como neste processo de construção do estado nacional a temática
não vencedora na outorga da Carta Constitucional de 1824, permanecerá presente – o
federalismo. Ou seja, que no questionamento da estruturação do poder, a região fronteiriça
do sul do Brasil (que se estendeu até a Bacia do Prata) foi o palco de manifestações pela
insatisfação entre o que seja interesse regional e o nacional, bem como a relação entre
estes.
Capítulo publicado do livro “RS: 200 anos: definindo espaços na história nacional”. Passo Fundo: UPF,
2002, que teve por título: A Revolução Farroupilha no contexto de construção do estado nacional brasileiro.
2
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O CONTEXTO HISTÓRICO NA CONSOLIDAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA DO
BRASIL E A EMERGÊNCIA DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA (1835-1845).
A Colônia brasileira e o sistema colonial começaram a sentir fortemente os efeitos
das transformações vivenciadas no palco internacional do final do século XVIII e início do
XIX, como por exemplo: a independência das Treze Colônias inglesas e a configuração
dos Estados Unidos da América; a Revolução Francesa em 1789 e os objetivos
expansionistas de Napoleão Bonaparte ; os efeitos da Revolução Industrial inglesa; a
independência do Haiti e o processo de independência das colônias espanholas; a
influência da Ilustração propagada pela imprensa como pelo ensino nas Universidades e
Seminários religiosos; a Reforma na Universidade de Coimbra provocada por Pombal, a
partir de 1772, e a criação do Seminário de Olinda que foram exemplos de espaços do
desenvolvimento e expansão das ideias liberais.
Neste contexto surgiram na Colônia Portuguesa do Brasil dois movimentos que
demonstraram que, aqui, tais idéias e influências também faziam-se sentir: a Inconfidência
Mineira, em 1788-1789 em Minas Gerais e, a Revolta dos Alfaiates em 1798, na Bahia.
Assim, a crescente interiorização das idéias iluministas nas Américas portuguesa e
espanhola promoveram movimentos regionais e locais contestatórios às duas Coroas
Ibéricas, motivando e acelerando os processos de independência.
Enquanto isso, na Europa, ocorria a expansão das forças comandadas por Napoleão
Bonaparte. Portugal tradicionalmente possuía uma política de neutralidade, e no início do
século XIX procurou mantê-la através de uma certa aproximação à França de Napoleão
Bonaparte. Esta aproximação se deu através da presença no Governo do chamado “partido
francês”, que possuía na pessoa de Antonio Araújo de Azevedo seu representante, como
Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, entre 1804-1807. Esta aproximação
econômica e política entre Portugal e França inquietou o “partido inglês” em Portugal,
representados pelas figuras do Duque de Sussex, filho do Rei da Inglaterra, e de Gomes
Freire de Andrade.
As disputas diplomáticas entre o “partido francês” e o “partido inglês” segundo Ana
Cristina Bartolomeu de Araújo3, refletia o embate pelo domínio entre as influências
francesa e inglesa da Maçonaria. O Grande Oriente Lusitano, fundado em 1802, teve na
pessoa do Duque de Sussex, que residiu em Portugal de 1801 a 1805, seu incentivador.
Mas também, neste período, começou a salientar-se a atuação de Lannes e de Junot,
3
As invasões francesas e a afirmação das ideias liberais.
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representantes da maçonaria francesa, junto ao meio maçônico de Lisboa. Junot, enviado
de Napoleão em sua estada em Madrid, encaminhou o projeto de invasão das tropas
franco-espanholas em Portugal. Enquanto isso, a Inglaterra, em 1806, tentava romper com
o domínio do “partido francês” em Portugal, mas não obteve êxito. Então, Portugal como o
seu Império colonial passam a ser um alvo e joguete na disputa de poder entre as duas
potências, a Inglaterra e a França.
Com isso, o projeto de transferência da Corte Portuguesa para a Colônia do Brasil
como o projeto de ocupação da Ilha da Madeira por forças militares inglesas desenvolveuse nesta conjuntura de 1801 e concretizou-se em 1807. Assim, a Corte portuguesa não
permitiria a sua submissão ao domínio e as exigências de Napoleão Bonaparte. Além disso,
o Império colonial no Brasil e seus benefícios seriam mantidos, bem como aprofundaria as
relações amigáveis com à Inglaterra, e permitiria a esta sua atuação na América do Sul.
O Regente Dom João antes de partir nomeou um Conselho de Regência composto
por nove membros de sua confiança, com o fim de estabelecerem relações pacíficas
durante a ocupação napoleônica, garantindo de certa maneira a soberania regia. Porém em
1808, Junot extinguiu este Conselho e oficialmente proclamou a destituição da Casa Real
de Bragança, tentando assim, um afrancesamento das instituições e das estruturas social e
política portuguesas. Mas, “submeter o povo à dura prova de obedecer sem acreditar foi
tarefa difícil e precária”,como afirma-nos Ana Cristina de Araújo (1998, p.32) e a
evolução histórica.
A família real após ter chegado a Colônia brasileira, em uma de suas primeiras
atitudes, Dom João, assessorado pelo Visconde de Cairú, abriu os portos para todas as
nações que lhes eram simpatizantes, possibilitando um comércio internacional e legalizado.
Tal medida beneficiou de imediato a principal aliada e guardiã, a Inglaterra, que desde o
final do século XVIII marcou presença no litoral brasileiro e na Bacia do Rio da Plata,
como em outros canais de navegação da América espanhola. Assim, com o fim do pacto
colonial, o Rio de Janeiro passou ser
O
grande centro político e econômico da Colônia,
favorecendo e garantindo o estabelecimento da representação diplomática inglesa nesta
parte do Continente americano.
A presença da Corte na Colônia do Brasil a partir de 1808, segundo dados de Ciro
Flamarion Cardoso (1990, p.100), promoveu que a população da Colônia passasse de um
milhão e meio de habitantes em 1754 para dois milhões e meio em 1808, refletidos na
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criação de 162 municípios no período de 1700 a 1820, em comparação aos 56 municípios
criados anteriormente. Foi criado a Imprensa Régia, editora de jornais, revistas e livros; a
Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, o Jardim Botânico, a Academia Militar e de
Marinha, a Academia de Belas Artes, a Escola Médico - cirúrgica, Escolas de Artilharia;
estimulou-se a vinda de missões científicas, artísticas e de exploradores como as do
naturalista francês Auguste Jean-Baptiste Debret; estimulou também instalações de
fábricas e manufaturas.
A partir de 1808, as diferenças entre os nativos ou “filhos da terra” e os portugueses
natos na Europa começam a ser conflitantes. Os portugueses europeus compunham os altos
cargos administrativos e desejavam retornar, afortunados, para a Europa. Havia também os
portugueses que exerciam cargos temporários como os funcionários públicos e os militares,
ou ainda existiam os que se dedicavam ao comércio. Enquanto que a elite brasileira dos
“filhos da terra” era na sua maioria composta por proprietários de grandes extensões de
terras ou filhos destes, no qual muitos iam estudar na Europa, especialmente na
Universidade de Coimbra, e também alguns iam para Buenos Aires (a partir do final dos
anos 20 do século XIX)4. Os seus objetivos em ascender a cargos políticos e a repulsa a
idéia de que o Brasil pudesse retornar a condição de Colônia, fizeram com que o
sentimento separatista evoluísse. Sentimento fomentado, astuciosamente pelos ingleses.
Neste contexto surgiu no Brasil, em 1817 a Revolução Pernambucana que possuía um
caráter anti-português e republicano-federalista, movida pela crise provocada com a
concorrência dos baixos preços do algodão e do açúcar dos Estados Unidos no mercado
europeu; mercado esse que no momento se estabilizou devido a pacificação européia
promovido pelo Congresso de Viena. Entre seus líderes temos Domingos José Martins que
“instituíra no Recife uma loja maçônica, ao regressar de Londres em 1804” (LUCAS,
1998, v.5- p.290).
O ensino superior do Direito no Brasil iniciou apenas em 1826, com a criação de
dois cursos, o de São Paulo e o de Olinda, que em 1854 foi transferido para Recife. Tanto o
currículo quanto os professores desses cursos serão oriundos da Universidade de Coimbra
ou terão formação coimbrã. A faculdade de São Paulo, marcada pelas tendências liberais,
objetivou a formação da liderança política para o Brasil enquanto que, a de Olinda/Recife
preocupou-se com a formação teórica, dedicando-se ao desenvolvimento da civilização e
da nação brasileira, centrados nos estudos da questão da raça (SILVA, 1997, p.92). A
4
Exemplificando: Pe. Caldas colocou o grau de Doutor em Direito em 8 de junho de 1828 em Buenos Aires.
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faculdade de Recife, a partir da década de 70 do século XIX, com uma característica
eclética, marcou o direito brasileiro, dando a ele, segundo Mozar Linhares da Silva uma
“fisionomia própria” (1997, p.98).
Em Portugal o movimento restaurador contra o domínio francês iniciou na cidade
do Porto e logo se propagou, evoluindo da periferia para o centro, contando, em seu
andamento com o apoio das forças militares inglesas. As tropas inglesas, sob o comando de
Wellington e Beresford saem-se vitoriosas e a Restauração é proclamada. Em março de
1809 houve uma nova tentativa de invasão de Portugal pelos franceses, mas foram
derrotados. Assim, o processo de reconstrução do poder central contou com o apoio e com
uma forte influência inglesa. Tanto que em 1810, Beresford, chefe do Exército, assumiu o
comando das questões militares e financeiras em Portugal, 4 de forma despótica, segundo
Ana Cristina Bartolomeu de Araújo (1998).
Enquanto isso, os portugueses sentiam-se abandonados pelo seu monarca, Dom
João VI, e reclamavam dos investimentos feitos no Brasil, como da decadência do
comércio e conseqüente desequilíbrio orçamentário, da excessiva influência inglesa que
tinha na pessoa do Marechal Beresford (o principal alvo das críticas dos liberais).
Esta realidade, a oposição à Regência, a permanência da sede da Corte no Brasil e o
triunfo do Liberalismo na Espanha desde 1812 (com a expulsão das forças napoleônicas e a
promulgação da Constituição Liberal de Cádiz), fez com que Beresford fosse para o Brasil
com o objetivo de ampliar os seus poderes. Enquanto isso, em sua ausência, o Exército se
rebelou no Porto, em 24 de agosto de 1820, com o apoio do Norte, formando uma Junta
Provisional do Governo Supremo do Reino, no qual teve como presidente o Brigadeiro –
General Antônio da Silveira. Também em Lisboa, em 15 de setembro, houve uma rebelião
que expulsou os regentes, criando um governo interino sob a presidência de Freire de
Andrade. Assim, em 28 de setembro Norte e Sul uniram-se numa Junta Provisional, onde
Freire de Andrade ficou como presidente e Antônio da Silveira de vice-presidente.
Em dezembro de 1820 realizou-se uma eleição que exigia o retorno de Dom João
VI para Portugal, e em Janeiro em 1821 constituíram uma nova Regência, presidida pelo
Conde de Sampaio.
Dom João VI retornou em julho de 1821 e prestou juramento perante a futura
Constituição portuguesa, tornando-se o primeiro monarca constitucional de Portugal. Um
dos objetivos era com que, as relações entre Portugal e Brasil, retornassem aos seus
primeiros tempos de domínio-colonial, dividindo o seu território como as antigas feitorias,
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retirando do Brasil a autonomia política de Reino Unido e ao mesmo tempo enfraquecer o
poder e a influência inglesa.
Ao preceder a volta de Dom João VI para Lisboa, o clima no Rio de Janeiro ficou
tumultuado, pois os liberais, receosos das intenções das Cortes de Lisboa, reunidos em
assembléia queriam a permanência do Rei no Brasil e que em seu lugar fosse enviado seu
filho, D. Pedro. No entanto, D. João prestou juramento a Constituição espanhola, conforme
desejo dos mesmos, mas dissolveu a assembléia dos eleitores, perseguindo os seus
integrantes, que tiveram que exilarem-se para Buenos Aires ou Londres; nomeou D. Pedro
como Príncipe Regente e partiu para Portugal (MONTEIRO, 2000, p.114-115).
João Camilo de Oliveira Torres (1961) explica este contexto e processo que levará
à independência, destacando as motivações expressas acima. Para ele as Cortes
portuguesas não aceitavam o apoio que D. João VI e D. Pedro davam ao Brasil, pois
pretendiam que o Reino Unido do Brasil retornasse à condição de colônia, e que dividisse
o território em governos autônomos (TORRES, 1961, p.12-14), impedindo assim a unidade
de apoio em torno destes personagens, como também enfraquecesse a possibilidade de
independência de um único bloco, que faria frente aos interesses portugueses. Ou seja, se
houver fragmentação, esta se processaria como as colônias espanholas. Porém, acreditamos
que a pressão inglesa e o apoio velado desta ao processo de independência do Brasil era
nos moldes pensado tanto pelo grupo radical como pelo conservador: conservar a unidade
territorial como estado “irmão” de Portugal. Com isso o Brasil tornou-se dependente
diretamente da Inglaterra, conforme o objetivo desta e a evolução dos fatos históricos
demonstram isso.
No Brasil as idéias liberais espalhadas com a divulgação e entrada dos livros e
folhetos especialmente por meio do contrabando, ou trazidos na bagagem dos que iam
estudar na Europa, apesar da censura aos que eram considerados nocivos á ordem pública,
contribuíram para a eclosão de diversos movimentos e revoluções que questionavam a
política adotada pela Coroa portuguesa. A maioria desses movimentos tiveram como foco
de organização as sociedades secretas. Estas sociedades ou por alguns já consideradas lojas
maçônicas possibilitavam, em uma época de censuras e perseguições político-ideológicas,
um espaço de liberdade de pensamento e aceso a uma bibliografia política e filosófica
atualizada, que fazia com que os seus leitores se sentissem partícipes de um processo
“mundial” de modernização da sociedade através da defesa dos ideais liberais,
especialmente. Como também a oportunidade de ascensão social e econômica. Assim, ser
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maçon, na época, era uma condição de “status” social e cultural, pois os que pertenciam
aos quadros da maçonaria e/ou sociedades secretas na maioria eram letrados (leigos e do
clero), militares e pessoas de posse.
A liderança política e na maioria, como já afirmamos, pertencente a maçonaria,
contribuiu para provocar a reação as intenções da obediência a Carta Constitucional
portuguesa, pois acreditavam que “absurdos, injustos, ilegais e maquiavélicos
procedimentos de alguns membros da Corte que só tem em mira escravizar o Brasil”
(COSTA, 1982, p.114). Apesar dos liberais, na maioria aceitarem a União dos Reinos de
Portugal e do Brasil, querendo a permanência de D. Pedro no Brasil, não aceitavam voltar
a condição de colônia, assim propunham a autonomia administrativa ou mesmo a
independência, mas com objetivo de garantir a unidade territorial e a preservação da ordem
estabelecida.
As províncias do Norte, como Maranhão, Pará, Piauí e Bahía posicionaram-se a
favor de permanecerem sob obediência as Cortes de Lisboa e não se submeter a D. Pedro e
mais, aos interesses do Rio de Janeiro. Aqui aparecem as divergências entre as elites
provinciais. Enquanto que o Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo preferiam apoiar D.
Pedro para fazer a independência, garantindo a unidade territorial e o domínio de seus
interesses regionais(cafeicultores). Explica João Camilo de Oliveira Torres:
“o objetivo principal dos estadistas brasileiros de 1822, não estava tanto na separação
entre Brasil e Portugal, mas na conservação do Brasil, como um todo, assim como na
manutenção do ‘status’ de nação soberana e na adoção do sistema representativo (...) A
independência surge, assim, como um movimento unificador”. (1961, p.90)
Essas diferenças também estão permeadas em divergências quanto a organização do
Estado, em unitário centralizado ou em “desmembrar” o Reino em províncias ou estados
membros federados, com autonomia seguindo modelo dos Estudos Unidos. Tanto a
Constituição outorgada de 1824, quanto o Ato Adicional de 1834 e a criação da Guarda
Nacional em 1831 procuraram controlar “o patriotismo local” e garantir os interesses da
elite da região centro-sudeste.
Em 9 de janeiro de 1822, D. Pedro fez saber que permaneceria no Brasil apesar da
pressão política e militar de Portugal. E, em maio, o Senado conferiu-lhe o título de
Defensor Perpétuo do Brasil e instalou um Conselho de Procuradores das províncias. Em
junho, os Procuradores da Província do Rio de Janeiro e do Estado da Cisplatina
solicitaram a organização de uma Assembléia Geral e Legislativa de representantes das
províncias do Brasil.
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Neste período, há debates e pressão para que fosse organizada uma Assembleia
Constituinte, acentuam-se as divergências políticas, especialmente entre o grupo de José
Bonifácio, que representava a tendência absolutista-conservadora (independência, mas
como “Reino irmão do português”) e o grupo de Joaquim Gonçalves Ledo, da tendência
liberal-radical.
Gonçalves Ledo foi o grande influenciador na decisão de D. Pedro de não
abandonar as terras brasileiras (o “Fico”), como de convocar a Assembléia Constituinte e
do encaminhamento para a proclamação da independência. Porém, tão logo este fato
transcorra, José Bonifácio passará a ditar as regras do processo de consolidação desta
Independência, mas ambos serão logo afastados, temporariamente, do poder.
Em meio a diversos acontecimentos contestatórios à insegurança do destino do
Brasil, que vivia em meio a uma recessão econômica mundial, como das pressões para a
volta de D. Pedro para Portugal, em 7 de setembro de 1822, este príncipe rompe com a
Corte Portuguesa e proclama a independência do Brasil, sob forte influência da princesa ,
sua esposa, Dina Leopoldina.
No dia 9 de setembro de 1822 na 14ª Sessão do Grande Oriente do Brasil, dirigido
por Gonçalves Ledo, os maçons decidiram como forma de garantir a emancipação política
do Brasil de Portugal, que deveria ser realizado festejos em todas as províncias, como sinal
de unidade e para tanto proclamar D. Pedro como Imperador do Brasil, e assim tentar
impedir a influência conservadora de José Bonifácio (COLUSSI, 1998, p.104).
Em 12 de outubro de 1822, D. Pedro foi aclamado Imperador do Brasil, tornando-se
D. Pedro I do Brasil. Registrou em nossa história que a “monarquia e o imperador
preexistissem a constituinte e a própria independência”, como afirmou Raymundo Faoro,
citado por Helga Piccolo (1985, p.36).
No entanto, a divergência política era sentida também dentro do Grande Oriente do
Brasil levando José Bonifácio a romper com Ledo. Bonifácio organizou uma sociedade aos
moldes maçônico, o Apostolado, com o objetivo de opor-se aos liberais-radicais
predominantes no Grande Oriente do Brasil, levando com ele D. Pedro.
D. Pedro distanciou-se em primeiro lugar de Ledo, fechando o Grande Oriente do
Brasil em 25 de outubro, e perseguindo os maçons liberais exaltados, por considerá-los
republicanos, sob influência de José Bonifácio (COLUSSI,1998, p.105-106). Assim, o
Apostolado definiu a orientação nos primeiros momentos da independência. Contavam
entre seus participantes altos funcionários, fazendeiros e comerciantes de relevo, ligados de
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uma maneira ou outra a Portugal; ou eram nascidos em Portugal ou eram filhos de
portugueses nascidos no Brasil. Entre eles citamos : Joaquim Carneiro de Campos
(Marquês de Caravelas), José Egídio Álvares de Almeida(Marquês de Santo Amaro),
Joaquim José Pereira de Faro(Barão do Rio Bonito), Maciel da Costa (Marquês de
Queluz), entre outros (COSTA, 1982,p.118).
Em 23 de julho de 1823, D. Pedro I fechou também o Apostolado, dissolveu a
Assembleia Constituinte de 1823 de tendência federalista e outorgou a Carta
Constitucional de 1824. Tanto Ledo como Bonifácio são afastados do cenário político,
retornando no período da abdicação e com a restruturação do Grande Oriente do Brasil
(1831) e da criação do Grande Oriente Nacional Brasileiro ou do Passeio (1831).
A independência do Brasil em 7 de setembro de 1822 criou um sentimento de
derrota à Corte portuguesa e especialmente aos liberais portugueses, pois o objetivo do
retorno do Brasil à condição de Colônia havia sido frustrado. Com isso, a burguesia liberal
portuguesa não passou mais contar com o apoio que anteriormente possuía da população,
do clero e da nobreza. Assim, em 1823, o partido anti-liberal e anticonstitucional, tendo
como mentor o infante D. Miguel e sua mãe, provocou uma revolta chamada de “Vila
francada”, no qual levou D. João VI a, diplomaticamente, rejeitar a volta do Absolutismo,
e prometer uma nova Constituição, além de decretar a dissolução das Cortes. Nesta luta
pelo poder, representado pela Coroa, em 1824, houve a conhecida “Abrilada” no qual D.
Miguel conspirou novamente contra D. João VI, e este com o apoio da Inglaterra, saiu-se
vitorioso junto ao absolutismo com caráter moderado.
No Brasil, o período da proclamação da independência à outorga da Constituição de
1824, vivenciou-se a reação à independência por parte das províncias da Bahía, Piauí,
Maranhão e Pará e suas incorporações pela força; como as discussões que traduziram
posicionamentos diferentes ao encaminhamento político do Estado Imperial Brasileiro em
construção: federalismo X unitarismo, como também muito bem se observa nos antigos
vice-reinos espanhóis da América e no processo de independência das colônias inglesas.
Um exemplo, no Brasil, o foi a Confederação do Equador.
A Confederação do Equador foi o questionamento da centralização do Império,
especialmente ao predomínio dos interesses da região formada pelo Rio de Janeiro, Minas
Gerais e São Paulo. Ou seja, o Estado Nacional brasileiro se organizava a partir de um
projeto político unitário, comandado pela elite cafeeira em ascensão. Assim, a revolta do
Nordeste, que produzia então cerca de 68 % da renda nacional, levanta a bandeira em prol
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ao Federalismo, tendo em Frei Caneca e no Pe. José Antônio de Caldas5 alguns nomes de
sua liderança. Assim, defendia Frei Caneca: “uma província não tinha o direito de obrigar
outra província a coisa alguma, por menor que fosse; nem província alguma, por mais
pequena e fraca, carregava o dever de obedecer a outra qualquer por maior e mais
potentada” (FREITAS, 1985, p.113).
Nestas palavras observa-se a disputa existente pelo poder central do recente estado
independente, o estado imperial brasileiro, que se deu também na luta entre províncias,
representadas nas elites (interna e externamente – em relação a província) divididas
conforme suas alianças e interesses. Assim, observa-se também que a elite econômica
interna de uma província apresentava divisões enquanto pensamento/posicionamento
político, como a existência de alianças com elites de outras províncias, motivadas por
interesses econômicos e políticos comuns ou por laços maçônicos. Estes vínculos também
percebemos, como veremos, no Rio Grande do Sul. Este panorama, com peculiaridades,
também é encontrado no processo de independência e formação da Argentina, por
exemplo, no qual a força e interesses de Buenos Aires disputava projetos com as
províncias do interior do antigo vice-reino do Prata.
Em março de 1826 morreu D. João VI e com isso criou-se um problema na disputa
pela sucessão do Trono português, no qual D. Pedro I, Imperador do Brasil era o primeiro
na hierarquia sucessória. Dom Pedro I tão logo proclamado D. Pedro IV, rei de Portugal,
abdicou do Trono em favor de sua filha, Maria da Glória, que tinha apenas 7 anos. Dom
Pedro outorgou à Portugal uma Carta Constitucional conservadora e concedeu a seu irmão,
D. Miguel casar-se com sua filha tornando-se o Regente do Reino.
Isso fez com que se acirrasse a luta entre os portugueses liberais, que se sentiam
vitoriosos, e os absolutistas. Este últimos, com o argumento que D. Pedro era traidor de
Portugal, por declarar o Brasil independente, insuflaram a Dom Miguel a não aceitar a
condição de Regente e, sim de legítimo herdeiro. Esboçou-se assim, uma guerra civil entre
1826 e 1827, com o apoio dos governos espanhóis e austríaco.
Em 1828, D. Miguel dissolveu as Cortes e recria-as como Ordens, que em julho o
proclamaram Rei de Portugal. Os liberais se rebelaram, mas foram derrotados. Nos seis
5
Pe. Caldas fora membro do Apostolado possuindo o cognome ateniense de Codros II. Foi preso na fortaleza
de Santa Cruz, mas fugiu com auxilio de seus “irmãos”, exilando-se em Buenos Aires. Nesta Província colou
o grau de Doutor em Direito em 8 de junho de 1828, na Faculdade Maior de Jurisprudência. Filiou-se a Lojas
maçônicas no Uruguai e no Rio Grande do Sul. Atuou mais tarde na na Revolução Farroupilha. Estes dados
podem serem encontrados na Separata do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, volume 312, julhosetembro de 1976, de autoria de Raul LIMA.
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anos, do chamado “regresso absolutista”, os liberais considerados como “ateus
empedernidos, pedreiros livres, inimigos da Nação e culpados dos piores crimes”
(MARQUES, 1998, p.451) foram perseguidos, executados, expulsos ou fugiram de
Portugal.
A França, a Inglaterra e a Áustria reconheceram a realeza miguelina, mas a partir de
1831, devido seu despotismo perdeu o apoio estrangeiro. Neste contexto os liberais
organizaram-se em um governo provisório na Ilha Terceira, para fazer frente ao
absolutismo miguelino.
No sul Brasil, em 1828, ocorrerá a independência da Cisplatina/Banda Oriental do
Uruguai. As forças brasileiras que ali lutaram eram compostas na maioria por riograndenses. Porém, os cargos de alto comando eram estranhos a realidade da província do
sul e, com isso, das estratégias de guerras praticadas na região platina eram desconhecidas,
de certa forma, por estes homens. Este desconhecimento colaborou, segundo as lideranças
locais sulinas, para a perda da Província Cisplatina. Fato que colaborará pelas constantes
instabilidades e reivindicações das elites do Rio Grande do Sul, que transcorrerá em todo o
século XIX.
Acrescida pela perda da Cisplatina, D. Pedro I enfrentava no Brasil, desde a
Constituição outorgada por ele em 1824, constantes confrontos com os deputados
brasileiros. Com isso, acrescido das pressões para o seu retorno a Portugal, D. Pedro I, em
7 de abril de 1831, abdicou o trono brasileiro em favor de seu filho de cinco anos de idade,
sob tutoria de José Bonifácio, e instalou um governo regencial.
D. Pedro I do Brasil, D. Pedro IV de Portugal, apoiado pela Inglaterra e França
assumiu a direção da causa liberal. E em 1832, da Ilha Terceira, com auxílio destes países
dirigiu-se ao Porto. Os liberais tinham ao seu lado a chamada inteligência portuguesa, que
desejavam retornar para Portugal (MARQUES, 1998, p.453).
Foram dois anos de uma sangrenta guerra civil, que em 26 de maio de 1834, fez
com que D. Miguel se rendesse e em junho abandonasse Portugal. Porém, a vitória dos
liberais não fez com que cessasse as divergências e instabilidade pois a disputa pelos
cargos e pelo poder fizeram com que o conflito permanecesse. O regente D. Pedro foi
acusado de traidor e, em setembro de 1834 morre de tuberculose. Foi concedida a
maioridade a D. Maria II, com 15 anos e foi nomeado o Duque de Palmela para o governo,
garantindo os conservadores no poder até 1836. Este governo teve o apoio dos ricos
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comerciantes, dos banqueiros, dos terratenentes, da Igreja e da maioria dos antigos
aristocratas portugueses.
No Brasil , após a abdicação se definem três tendências políticas principais: os
restauradores ou Caramurus, reunidos em torno da Sociedade Conservadora da
Constituição Brasileira, que desejavam o retorno de D. Pedro I para o Brasil; os liberais
exaltados ou farroupilhas, reunidos na Sociedade Federal, que desejavam mudanças na
estrutura política estatal; e os moderados ou chimangos, através da Sociedade Defensora da
Liberdade e da Independência Nacional, que não desejavam a volta do Imperador . Neste
contexto se deu a reorganização do Grande Oriente do Brasil, em 1831, referendada pela
possibilidade da liberdade de organização às sociedades secretas garantida no Código
Criminal de 1830 (COLUSSI, 1999, p.112). Também instalou-se o Grande Oriente
Nacional Brasileiro ou do Passeio, sob a chefia de Gonçalves Ledo. As lojas que a esses
pertenciam, trabalhavam somente com os três primeiros graus maçônicos, sendo
consideradas corpos maçônicos simbólicos (COLUSSI,1999,p.114).
O Grande Oriente do Brasil sob a direção do conservador José Bonifácio, foi
considerado regular, pois ficou com as “alfaias e livros” do primeiro Grande Oriente,
tendo ressurgido “a partir da reinstalação das três lojas que atuavam em 1822: a
Comércio e Artes, a União e Tranqüilidade e a Esperança de Niterói” (COLUSSI, 199,
p.114). José Bonifácio tinha por objetivo aparente que o Grande Oriente não tivesse uma
atuação político-partidária, mas não descartamos suas intenções pessoais de ascensão ao
poder.
Também neste período, foi introduzida no Brasil, em 1832, a chamada maçonaria
filosófica, ou os Altos Graus maçônicos, através da fundação do Supremo Conselho6 de
Montezuma, fundado pelo Visconde de Jequitinhonha, Francisco Gé de Acaiba
Montezuma que permaneceu autônomo até 1883 (COLUSSI, 1999, p.118).
O Grande Oriente do Passeio com um grande número de adeptos espalhados por
quase todas as províncias possuiu uma forte tendência política, predominando a liberalradical. Mas, aos poucos sua ação começam a assumir feições mais voltadas a organização
internacional da ordem e em 1842, uniu-se ao Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e
6
O Supremo Conselho dos Soberanos Grandes Inspectores Gerais do 33 º e último grau do Rito Escocês
Antigo e Aceito(REAA), é o órgão máximo, com plenos poderes para dirigir e regulamentar esse rito. Em
Portugal o primeiro Supremo Conselho foi instalado em dezembro de 1841, dirigido por Silva Carvalho que
recebeu autorização para se formar pelo Supremo Conselho do Brasil, presidido por Francisco Montezuma,
em 28 de julho de 1840. (Oliveira Marques. Dicionário de Maçonaria Portuguesa, vol. II, p.1398-1399).
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Aceito do Império do Brasil. A partir disso, deu-se um período de restruturação, com
separações e integrações da maçonaria no Brasil (BASILE, 2000).
A divisão e complexidade da organização maçônica no Brasil refletiam as
divergências políticas no contexto brasileiro e/ou vice-versa. Sendo que, nestes primeiros
anos após a Abdicação, a tendência liberal predominou, fazendo com que houvesse uma
tentativa de reformulação à Constituição de 1824.
Assim em 12 de agosto de 1834 foi aprovado o Ato Adicional que estabeleceu
importantes reformas à Constituição de 1824, garantindo maior autonomia para as
províncias através de medidas que pretenderam, na realidade, uma descentralização
administrativa do Império, mas garantindo a estrutura do Estado unitário. Em suas medidas
transformou os Conselhos Gerais das províncias em Assembléias Legislativas, com
competência em relação a fixação de despesas, impostos, ao estabelecimento de foça
policial, a demissão ou suspensão de magistrados, estabeleceu a Regência una, eletiva
(pelo conjunto do país através do voto censitário) e quadrienal, suprimiu o Conselho de
Estado. Porém, esta tendência federalista não evoluiu, pois logo, em 1840, a Lei n. 105, de
12 de maio simbolizará a reação conservadora e centralista. Neste tema Paulo Bonavides
opina:
“De qualquer modo, o Ato Adicional representou uma afirmação institucional de
sobrevivência das teses liberais, reiterando, com o pouco que fez, a vocação legítima da
sociedade brasileira para a democracia, a liberdade e o federalismo. Se outra houvesse
sido, porém, a interpretação dada àquela Emenda, o destino do Império teria sido muito
diferente”. (1995, p.113)
Segundo José Murilo de Carvalho (1993) esses objetivos federalistas se manifestaram
através dos diversos movimentos7 de tendências “centrífugas” que eclodiram nos anos 30 e
40, “ bajo la forma de liderazgos regionales que no tenían la experiencia de elite nacional
y sin fuerte compromisso com la unidad nacional” (CARVALHO, 1993, p.61)
demonstrando a aparente unidade e estabilidade do Império como habilidade diplomática e
política de mantê-lo. E nesse, encontra-se a Revolução Farroupilha, ocorrida no Rio
Grande do Sul de 1835 a 1845.
Assim, a Revolução Farroupilha foi um dos exemplos de demonstração de
inconformidade com o processo em que estava se desenvolvendo a estruturação do estado
7
Balaiada, no Maranhão (1838-1841), Sabinada, na Bahía (1837), Cabanagem, no Pará (1835-1840), a
Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul(1835-1845), rebeliões em São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro (1842).
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nacional brasileiro, motivada também pelas influências e relações (sociais, econômicas,
políticas) do mesmo processo histórico vivenciado no Prata (PADOIN, 2001).
A Revolução Farroupilha foi a temática que maior atenção recebeu por parte da
historiografia brasileira, se tratando da História do sul do Brasil. Isto para não falarmos da
sua predominância na produção historiográfica do Rio Grande do Sul, ou como temática
principal ou como contexto histórico privilegiado. Também é um dos temas do século XIX
mencionado na historiografia externa/internacional, que vem demonstrar que o processo de
formação do estado independente brasileiro não foi tranquilo.
Esta temática enquanto fato histórico foi transformado com o passar dos anos, em
um dos principais instrumentos discursivos na constituição de uma identidade regional,
como representação de um passado glorioso, onde os ideais de democracia, liberdade e
igualdade estavam presentes juntamente a imagem de uma sociedade que pela força de sua
união e da coragem teria construído um dos “estados mais prósperos” do Brasil e precursor
dos ideais republicanos e federalistas.
Este discurso se percebe presente nos documentos (discursos, diários,
correspondências, jornais), no processo conflituoso da implantação da República no Brasil,
como no período da “Revolução Federalista” (1892-95), nas críticas ao governo do Partido
Republicano Rio-Grandense(PRR), na implantação do governo de Vargas em nível
nacional, e, em vários outros momentos.
A sociedade rio-grandense formou-se a partir de um contínuo processo migratório
em um território fronteiriço. Desde a economia do mate na região missioneira que
propiciou o desenvolvimento da criação do gado bovino e cavalar que serão a base das
grandes estâncias ou fazendas de criação e das charqueadas. Do gado bovino até o final do
século XVIII utilizava-se especialmente o couro, o sebo e a banha, e mais tarde o charque,
que eram comercializados a nível interno e externo da Colônia. O cavalo e as mulas eram
principalmente destinados para tração como foram importantes e essenciais instrumentos
nas lidas campeiras e nas batalhas e guerras e conquistas.
As charqueadas desenvolveram-se no Rio Grande do Sul a partir do final do século
XVIII utilizando-se basicamente da mão de obra escrava, visando o mercado externo,
destinado principalmente para a alimentação dos escravos em diversas regiões do Brasil.
Neste mesmo período desenvolveu-se a lavoura do trigo através dos imigrantes açorianos
que chegaram ao Rio Grande. Junto a economia ganadeira de exportação havia uma
subsidiária, a agricultura colonial, praticada para a manutenção das estâncias, como a
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cultivada em zonas próximas as vilas e cidades. Tal economia complementar vai ser
desenvolvida especialmente pela vinda de imigrantes europeus promovidos pelo Império
brasileiro.
A economia pecuária também contribuiu para o surgimento de cidades e vilas e de
corredores de comunicação. Mas muitas cidades originaram-se da criação dos fortes,
guardas, presídios e acampamentos militares, como as cidades de Rio Grande, Alegrete,
Rio Pardo, Jaguarão, Santa Maria da Boca do Monte, entre outras.
Vinculado a essa economia pecuária (e aos seus derivados), como a utilização da
mão de obra escrava, desenvolveu-se também o comércio de contrabando, ilegal e/ou
oficial, tanto dos produtos como de mão de obra, possibilitados pela existência de centros
portuários como Montevidéu, Rio Grande e Buenos Aires.
Neste contexto definiu-se a elite da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul,
ou seja, o grupo social e econômico que, em parte, detinha o saber cultural e científico e a
propriedade da terra, do gado, dos escravos e das charqueadas. Nestes incluímos
principalmente os comerciantes, os militares e os sacerdotes. Muitos destes qualificativos
sociais coincidem, em muitos casos, no mesmo personagem, fazendo com que chamemos
de elite os que possuíam uma condição mais privilegiada, enquanto proprietários ou
possuidores de uma cultura mais letrada.
É necessário registrar, mais uma vez, que se levarmos em consideração apenas os
personagens nascidos no espaço rio-grandense, teremos um número reduzido de pessoas
que possuam o grau do ensino superior, ou seja, considerados “letrados” (CARVALHO,
1996). Mas se considerarmos que a elite do Rio Grande do Sul foi formada também por
pessoas vindas de outras províncias e países e, que, possuíam um curso superior ou
formação acadêmica, o perfil da elite local adquire outra perspectiva. Além disso, a
presença de sacerdotes de diversas “nacionalidades” e com curso superior, também deve
ser lembrado. Entre os líderes farroupilhas, exemplificamos dois nomes, o de Mariano
Mattos e de Domingos José de Almeida um nascido no Rio de Janeiro e o outro em Minas
Gerais (PADOIN, 2001).
Por ocasião da Revolução Farroupilha a maioria da elite encontrava-se nos quadros
de sociedades secretas e maçônicas; fator que colaborou grandemente no perfil e atuação
desta elite, porque além de muitos dos nossos personagens serem membros ou
simpatizantes maçons, estas entidades foram fundamentais na divulgação de idéias, através
da edição de obras e periódicos (O Continentino, O Correio Brasiliense, O Povo, ...) como
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sua distribuição e divulgação. Pois, foi por meio dos agentes maçônicos8, principalmente,
que foi possível uma relação mais aproximada entre a Europa, o Brasil, os EUA e os
Estados pertencentes ao espaço platino. Temos como exemplo, a amizade entre Bento
Gonçalves da Silva e Lavalleja; como de Bento Gonçalves e os italianos Zambeccari e
Garibaldi. Este exemplo vem concordar com o que Spencer Leytman (1979, p.61) afirmou:
“Na fronteira Bento Gonçalves organizou lojas maçônicas aprendendo rapidamente todos
os meandros da organização, e usando o serviço postal maçônico como uma alternativa
para sua correspondência secreta”.
A divulgação e expansão da maçonaria se deu através dos comerciantes-viajantes,
da marinha, do ensino e da imprensa. E no qual a região de fronteira foi ponto chave para a
entrada, a penetração e distribuição destas informações, idéias e organização. Sendo neste
sentido, o espaço fronteiriço platino um espaço qualificado e estratégico. E neste estava
inserido o Rio Grande do Sul. Assim, o perfil da elite rio-grandense insere-se neste cenário
político e nas relações estabelecidas.
A elite rio-grandense, no período da Revolução Farroupilha, como nos lembra
Helga Piccolo, nem toda foi farroupilha. Haviam os “legalistas” que estavam ao lado do
Império e a oposição a este, os farroupilhas que estavam descontentes com a política
nacional e desejosos de mudança e de ascensão política. Tais idéias e ambições foram
motivadas pela decepção com a Constituição Imperial de 1824, pela perda da Cisplatina,
pelos resultados da abdicação de D. Pedro I e pelos poucos resultados obtidos com o Ato
Adicional de 1834, além das altas taxas alfandegárias e impostos, como a concorrência
“autorizada”, no mercado brasileiro, da venda do charque dos produtores “argentinos” e
uruguaios . Todos estes fatores somaram-se ao exemplo recebido dos novos Estados
republicanos que estavam se conformando na vizinhança do Rio Grande do Sul, nos quais
a liderança desses movimentos de independência foi formada pelos estancieiros e criadores
de gado e comerciantes que se tornaram a base da estrutura econômica e de poder destes
Estados Nacionais.
Estes fatores agregados a formação cultural9 da elite sulina levou a organização de
um grupo que se nomeou como sendo “os representantes do povo rio-grandense” perante
um governo tirânico, e que são conhecidos como os farroupilhas. Era formado pelos
8
A grande importância da marinha e dos comerciantes que circulavam por todos esses territórios, muitos
deles maçons.
9
Entendida na sua amplitude do significado: formação acadêmica, e/ou acesso as bibliografias, participação
em agremiações, sociedades literárias... Ver o capítulo O que liam os farrapos , no livro A epopéia
farroupilha, de Walter Spading.
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estancieiros, charqueadores, militares, sacerdotes, comerciantes que articulavam, por meio
das relações caudilhescas sua força armada, formada pelos peões, agregados, escravos,
índios, mestiços e soldados, entre outros.
Neste contexto, a Revolução Farroupilha foi o deflagar de uma guerra civil
motivada pelos interesses econômicos e políticos da elite regional vinculada e localizada
no espaço fronteiriço platino e as relações que esse espaço possibilitou.
“A Guerra que sustentamos não é uma guerra de caprichos, mas sim de princípios e a
garantia desses princípios é uma condição sine quanon. Uma opressão acintosa pesava
sobre o Povo Rio-Grandense; eram a cada passo postergados seus direitos, violada sua
liberdade e a influência lusitana que deveria acabar com o glorioso 7 de abril dominava por
toda a parte”.10
Observa-se a referência a influência lusitana e a cultura colonial de submissão.
Assim, a revolução em seus princípios caracterizou-se por ser uma guerra civil travada por
uma elite regional contra o centralismo/unitarismo do Estado Imperial, que representava
principalmente os interesses de uma elite da região sudeste, que encontravam-se no poder.
E, neste sentido, o projeto da elite rio-grandense tinha uma fundamentação teórica que
justificava a guerra e a tornava legal. Assim, a Revolução Farroupilha é entendida por nós
como mais uma variável e expressão no contexto brasileiro, platino e americano da
propagação das ideias liberais e federalistas que não conseguiram ter força com a
Assembleia Constituinte logo após a independência do Brasil, tendo o Império sido
instalado baixo uma Carta Constitucional outorgada e unitarista. Além disso, esse Estado
recém criado foi derrotado na Guerra Cisplatina (na chamada segunda Guerra da Cisplatina
– 1825-1828), atingindo diretamente os objetivos de expansão11 e de domínio das terras e
do comércio da elite do Rio Grande do Sul.
Assim, a defesa do federalismo presente na Revolução Farroupilha levantava a
questão não resolvida da falta de percepção da complexidade que era administrar aquele
imenso território tendo por base apenas interesses de uma região e do cooptação política de
outras regiões. Perceber que a defesa do federalismo impunha uma outra percepção, tanto
interna como externa, na relação dos poderes entre o que é o poder central e o poder das
10
Bento Gonçalves da SILVA, Quartel General na Vila Setembrina ,15 de março de 1840, Correspondência a
Gaspar Francisco Menna Barreto.
11
Conforme Miriam Dolhnikoff (2017, p.136), Para o Rio de Janeiro, a perda era de uma província
estratégica, tanto pelo acesso a Bacia do Prata, quanto as comunicações para o Mato Grosso e prejudicando
aos proprietários de terras brasileiros naquele território do Uruguai.
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regiões/províncias e do local/municípios, tendo na autonomia, tanto no aspecto político
como econômico e administrativo, um desafio.
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