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4 FOICE MARTELO Número 147 • 6 DE NOVEMBRO DE 2019 NACIONAL Como perdemos a luta pela Previdência REUTERS MICHEL GOULART DA SILVA N o dia 22 de outubro o Senado aprovou, em segundo turno, a Reforma da Previdência em meio à passividade quase silenciosa das principais direções sindicais, em especial do PT e da direção majoritária da CUT. Essa foi uma das mais duras derrotas dos trabalhadores no período recente, comparada à aprovação da Reforma Trabalhista. Embora se busquem explicações das mais variadas, a responsabilidade direta por essa derrota se deve à traição por parte da esquerda e das direções sindicais. Embora a base do PT tenha se envolvido em algumas mobilizações, o partido deixou claro desde o começo que estava combatendo “somente” a reforma de Bolsonaro. Não se trata de um mero jogo textual, mas da denúncia de uma estratégia: para o PT, é necessária uma reforma na Previdência. Em 2015, Miguel Rossetto, então ministro de Dilma, falava da necessidade de garantir a “sustentabilidade” da Previdência, destacando “problemas” a serem resolvidos com o aumento da expectativa de vida. Para solucionar isso, a receita era a de sempre: elevar a idade mínima e o tempo de contribuição. O PT e os seus sindicatos atuaram ao longo do ano com o objetivo de garantir a aprovação de modificações no texto apresentado ao Congresso Nacional, o que não altera o fundamental, que é a espo- 0LQLVWURGD&DVD&LYLO2Q\[/RUHQ]RQLDEUDoDSDUODPHQWDUHVHPFRPHPRUDomRjDSURYDomRGRÀPGDDSRVHQWDGRULDGRVWUDEDOKDGRUHVHMXYHQWXGH liação da aposentadoria de milhões de brasileiros pelos fundos de pensão privados. Esse é o objetivo da “reforma”, ainda que a imprensa e o governo insistentemente falem que essas medidas permitirão “economizar” com a diminuição de “despesas”. O PT assumiu a postura de negociar mudanças no texto. Os governadores do partido, ainda que apontassem críticas no projeto então em tramitação, defendiam a necessidade de que fosse feita uma reforma. Os parlamentares do PT se dedicaram a negociar emendas, dando a falsa impressão de que havia a possibilidade de disputa, festejando a cada emenda “conquistada”. Essa postura traidora lembra o papel da CUT na aprovação da reforma da Previdência de Lula em 2003. Os sindicatos dirigidos pelo PT também tinham um papel nisso. Fizeram ações, como abordar parlamentares nos aeroportos ou fazer panfletos com a foto dos deputados e senadores que votassem a favor da reforma em cada uma de suas etapas. Eventualmente também deveriam chamar atos em capitais ou cidades de grande porte, verdadeiros espetáculos com cobertura da imprensa, mas sem qualquer enraizamento na base dos trabalhadores. A possibilidade de uma greve geral virou discurso para os dias de festa. Enquanto os parlamentares faziam uma disputa inócua no Congresso Nacional e os sindicatos chamavam manifestações isoladas e estéreis, a militância do PT jogava suas forças na campanha do “Lula livre”. Somos contra a prisão de Lula, produto de uma fraude jurídica comandada pelo imperialismo, mas querer levar esta luta defendendo a Lava-Jato, a justiça brasileira e o respeito às normas legais é condená-la a mais um fracasso. O PT não apenas se mostra adaptado às instituições burguesas, como o parlamento corrupto e os sindicatos atrelados ao Estado, como coloca seu esforço na recomposição da democracia. Para eles, o objetivo é conseguir que Lula seja candidato em 2022, o que significaria que a democracia estaria restabelecida no Brasil. Nesse processo o PT contou com dois aliados fundamentais. Por um lado, em sua ilusão eleitoral, a maioria das tendências do PSOL basicamente se colocou como um braço do PT, privilegiando a construção de uma “frente democrática” que inclui também partidos como o PCdoB e o PCB e os burgueses PDT e PSB. Seu papel na luta contra a reforma da previdência não foi muito além do discurso de seus deputados na tribuna. Por outro lado, o PSTU, por meio da Conlutas, deu um verniz de radicalidade aos chamados inócuos a “dias de mobilização” feitos pela CUT, mas sem possibilidade de ser uma alternativa real. Diante do ataque à aposentadoria dos trabalhadores, as principais direções não fizeram outra coisa a não ser trair os interesses da classe. O PT entregou a Previdência em nome da defesa da ordem burguesa, sonhando desesperadamente com o dia em que os capitalistas voltem a pedir por seus serviços em um novo governo. Enquanto isso, os trabalhadores seguirão sofrendo com os ataques de Bolsonaro. Esse processo mostra, diante do drama da crise de direção, a necessidade de construir novas organizações, principalmente um partido revolucionário que organize os trabalhadores e combata frontalmente o capitalismo e a democracia burguesa. MEC Universidades receberam as verbas de volta? O Ministro anunciou com estardalhaço que as verbas das universidades foram liberadas. A UNE comemorou. As greves e manifestações que tinham sido isoladas pela direção da UNE (PCdoB) refluíram. Weintraub, ministro da educação responsável pelo contigenciamento E tudo está como antes, certo? Certo nada. Primeiro, o governo cortou as verbas de custeio das universidades de duas formas: através do “contingenciamento” e através do “corte”. Isso foi feito junto. Agora, metade do que foi cortado voltou...”descontigenciando”. A outra metade continua cortada. E no orçamento do ano que vem já são previstas somente as verbas realizadas este ano. Ou seja, os cortes vão perdurar para o ano que vem.