Grupo de Trabalho em Estudos Célticos - SILEL 2013
Universidade Federal de Uberlândia
20 e 21 de novembro de 2013
Uberlândia - Minas Gerais - Brasil
DESENHANDO NOVAS FRONTEIRAS
RESUMO DE TRABALHOS E PROGRAMAÇÃO
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RESUMO
GT Estudos Celtas – Literaturas, Línguas e Cultura
ANA MARIA DONNARD
UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
E-mail: ana.donnard@gmail.com
ADRIENE BARON TACLA
UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
E-mail: adrienebt@yahoo.com.br
ELAINE CRISTINE DOS SANTOS PEREIRA FARRELL
UCD – UNIVERSITY COLLEGE DUBLIN
E-mail: elainepereirafarrell@gmail.com
O primeiro GT de Estudos Célticos do SILEL ocorreu em 2006. De lá para cá, muitas
outras pesquisas se fizeram e novos grupos internacionais se organizaram, apontando
novas perspectivas. A partir da expansão colonial iniciada nos setecentos, a migração
de povos oriundos de diversos países célticos para as Américas constituiu um
movimento migratório não só de homens, mas também de culturas. Desde o sertão do
cerrado até a Península Ibérica, passando pela Península Armoricana e seguindo em
direção às ilhas do Atlântico norte, um mundo pode ser evocado. O panorama
internacional para os Estudos Célticos hoje facilita a abordagem das nossas próprias
heranças culturais célticas através de estudos literários e linguísticos. Tanto na Galiza
quanto em Portugal pode-se notar uma movimentação em direção a uma nova história
cultural da península, que leva em consideração de forma concreta este novo mundo
muito antigo – os Celtas Atlânticos. Se falarmos de culturas célticas, podemos
trabalhar tanto com nossas literaturas de língua portuguesa e galega, como com as
literaturas estrangeiras, do período medieval ao contemporâneo. Se falarmos de
Linguística Histórica, podemos pensar nas novas teorias sobre a difusão das línguas do
tronco indo-europeu. Se falarmos em Sociolingüística, podemos observar as línguas
minoritárias célticas e seus múltiplos contextos. Se falarmos em Estudos Culturais ou
Etnográficos, podemos pensar nos estudos sobre as consequências da recepção, no
campo cultural do Brasil, dos traços identitários celtas. Como é ainda uma área em
desenvolvimento no Brasil, ficamos sujeitos a ampliar o leque de opções de
apresentação de trabalhos. Trata-se, de fato, de uma área multidisciplinar, mas isso não
impediria obviamente um recorte estrito. Porém nossa intenção é a de gerar um painel
com os pesquisadores e alunos que estão trabalhando com os Celtas a fim de organizar
um maior contato interuniversitário. Portanto, estudos que estejam conectados com o
mundo céltico serão acolhidos no âmbito deste GT. Desde a Antiquidade até os nosso
dias atuais.
Palavras-chave: Estudos Antigos e Medievais, Arqueologia e História Social,
Antropologia Cultural, Folclore e Cultura Popular, Literatura Comparada, Linguística
Histórica, Linguísticas Aplicadas.
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PROGRAMAÇÃO
Dia 20 das 16:30 às 16:50
“O nome Nodens” de J.RR. Tolkien: novas interpretações
BRUNNO OLIVEIRA ARAUJO
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Dia 20 das 16:50 às 17:10
As mulheres celtas e os textos antigos: algumas perspectivas
PEDRO VIEIRA DA SILVA PEIXOTO
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Dia 20 das 17:10 às 17:30
Celtas e Gálatas de Gordion: uma comparação
BIANCA MIRANDA CARDOSO
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Dia 20 das 17:30 às 17:50
Panteões na Gália-Romana, pilares e "colunas de Júpiter"
TATIANA BINA
EMAE-USP - MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Dia 20 das 17:50 às 18:10
Religiosidade e Hibridismo - A função das deusas-mães nos séculos I e II
d.C.
ÉRIKA VITAL PEDREIRA
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (BOLSISTA CNPQ)
Dia 20 das 18:10 às 18:30
Discussões e Comunicados
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Dia 21 das 16:30 às 16:50
Caligrafia iluminada: as carpet pages do livro de Kells (Irlanda século
VIII-IX)
LEILA RANGEL DA SILVA
UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO
Dia 21 das 16:50 às 17:10
Cruzando, construindo e atenuando fronteiras: identidades, formação do
Estado, e o fim da Irlanda Gaélica
EOIN O NEILL
Indenpendent Researcher
Dia 21 das 17:10 às 17:30
Dos milésios aos gaélicos: Memória e etnicidade
ERICK CARVALHO DE MELLO
UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Dia 21 das 17:30 às 17:50
De Cornubia para Cornwall: Um estudo etimológico com base em
motivações religiosas célticas do culto à divindade com chifres
ISABELA MENEZES FORMIGONI
UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
Dia 21 das 17:50 às 18:10
A Ilha Brasil: entre o mito e a geologia histórica
FRANCISCO JAVIER RIOS
CDTN/CNEN - CENTRO DESENVOLVIMENTO TECNOLOGIA NUCLEAR
LORYEL ROCHA
IMB - INSTITUTO MUKHARAJJ BRASILAN - RJ - BRASIL
Dia 21 das 18:10 às 18:30
DISCUSSÕES E COMUNICADOS
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RESUMOS
“O nome Nodens” de J.RR. Tolkien: novas interpretações
BRUNNO OLIVEIRA ARAUJO
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
E-mail: brunno.o.araujo@gmail.com
A comunicação pretende analisar o apêndice escrito pelo filólogo J.R.R. Tolkien em
1932, chamada “The name ‘Nodens’, parte integrante do trabalho de escavação
arqueológica de um complexo de cura ritual romano-bretã do Baixo Império Romano,
mais especificamente entre os séc. IV-V d.C, situado no oeste da atual Inglaterra
contido na obra “Excavation of the Prehistoric, Roman, and Post-Roman Site in
Lydney Park, Gloucestershire”. No material arqueológico do templo, são encontradas
inscrições votivas (defixiones), estátuas de cães de caça e um mosaico de tema aquáticos
onde encontramos dedicações a uma divindade identificada como "Nodens". O texto de
Tolkien procura traçar a etimologia do nome “Nodens”, através de proposições em
contraste com as línguas de tronco céltico medieval, línguas germânicas e textos
medievais irlandeses e galeses, onde os sentidos de "Prosperidade" e "caçador"
aparecem, além de associações com os personagens mitológicos Nuada Airgetlám
(Nuada da Mão de Prata, personagem importante da mitologia irlandesa medieval) e
Llud (rei mítico das Ilhas Britânicas presente no conto "Llud e Llefelys", compilado
nos manuscritos galeses o séc. XIII d.C). O objetivo deste trabalho é o de revisar as
interpretações propostas pelo prof. Tolkien e sua reprodução na literatura acadêmica,
que não sofreu sem maiores problematizações nos últimos 80 anos. Pretendo ainda
levantar propostas complementares de interpretação baseada em estudos de
iconografia e dos textos medievais do País de Gales.
As mulheres celtas e os textos antigos: algumas perspectivas.
PEDRO VIEIRA DA SILVA PEIXOTO
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
E-mail: ito_pedro@hotmail.com
Atualmente, as mulheres celtas são constantemente retratadas como rainhas,
guerreiras, bruxas e amazonas. Este modelo, por sua vez, encontra-se presente e
divulgado através de diferentes meios: na Literatura, no Cinema, em HQs, na Internet
e até mesmo por uma parte da produção historiográfica contemporânea. O objetivo
desta comunicação é propor uma discussão a respeito das representações das mulheres
celtas na Antiguidade, atentando para a hipótese defendida de que boa parte da
imagética ainda hoje associada à figura destas mulheres foi construída a partir de
antigos relatos gregos e latinos. Serão, portanto, debatidas questões envolvendo a
construção de identidades a alteridades, dinâmica entre gêneros, contatos e
(des)encontros entre as populações europeias da Idade do Ferro e do Mediterrâneo
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Antigo. A partir de um olhar histórico e de um diálogo com os estudos de gênero,
partindo-se, portanto, de um entendimento teórico que busca pensar e trabalhar a
categoria de gênero como uma construção sociocultural dinâmica ao invés de algo
estático, binário e imposto, serão discutidas diferentes representações das “mulheres
celtas” em textos gregos e latinos chamando-se a atenção para como essas mulheres
foram utilizadas pelos autores antigos como um importante elemento discursivo,
permitindo a construção de valores de alteridades e de atributos de gênero na
Antiguidade. Espera-se, assim, que o público possa ter um contato inicial com a
temática dos estudos célticos e das mulheres nas sociedades celtas, despertando seu
interesse por um tema relativamente novo à historiografia e produção acadêmica
brasileira, e que, ao mesmo tempo, a reflexão sirva como um próprio ponto de partida
para um questionamento mais crítico a respeito de como as relações de gênero e
construções identitárias podem ser dar de modo complexo e dinâmico (inclusive, nos
dias atuais).
Caligrafia iluminada: as carpet pages do livro de Kells (Irlanda século VIII-IX)
LEILA RANGEL DA SILVA
UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
E-mail: lerangel.artes@gmail.com
O “Livro” ou “Evangelho de Kells” é uma obra de extrema complexidade técnica e
artística cuja criação credita-se aos monges columbanos do monastério de Iona Escócia, acredita-se que foi transferido para a vila de Kells na Irlanda durante o século
VIII, onde foi roubado durante um saque viking e recuperado meses depois, sem capa e
ornamentos. Encontra-se atualmente em exposição no acervo da Trinity College
Library em Dublin, Irlanda. Apesar de não ter sido finalizado, o Evangelho de Kells
possui uma série de características que o torna único entre os manuscritos iluminados
da época como a quantidade e variedade das iluminuras, as diversas influências
presentes nas mesmas, e a complexidade na execução caligráfica e imagética. O volume
apresenta uma série de páginas de execução caligráfica de design complexo e
elaborado, conhecidas como carpet pages, consistem em páginas preenchidas com
imagens iluminadas e pouco ou nenhum texto, sendo letras capitulares representadas
principalmente através de padrões geométricos e em sua maioria simétricos. As letras
capitulares são um exemplo das diversas influências continentais da arte insular entre
os séculos VII e X, entre elas romanas, cópticas, bizantinas e saxônicas, não apenas nas
imagens mas também na escrita. O presente trabalho revisa a identificação e descrição
das carpet pages presentes no Livro de Kells com enfoque nas carpet pages que
apresentam motivos visuais híbridos que dissolvem em seus padrões ricos, coloridos e
intrincados os limites entre imagem e caligrafia.
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Celtas e Gálatas de Gordion: uma comparação
BIANCA MIRANDA CARDOSO
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
E-mail: kanuae@hotmail.com
A apresentação pretende demonstrar os resultados ainda parciais de uma pesquisa de
mestrado em curso que se utiliza das contribuições da teoria pós-colonial e dos estudos
de cultura material para analisar o caso específico de interação entre populações em
Gordion, um terreno localizado no platô central da Península da Anatólia, hoje
Turquia. Este terreno, explorado como sítio arqueológico pelo PENN MUSEUM
apresenta um conjunto de esqueletos e aglomerados de ossos datados dos períodos
helenístico (século III), momento de assentamento de tribos celtas na região; e do
período romano (século II), momento de anexação do território como província. A
interpretação dos achados do período de assentamento das tribos celtas é feita por meio
de comparação com outras tribos celtas europeias, já estudadas extensivamente. No
processo de comparação entre essas tribos são, de fato, verificadas diversas
continuidades; no entanto, é possível observar também diferenças que podem ser
interpretadas como características específicas locais, denominadas aqui gálatas.
Pretende-se com essa apresentação elucidar questões sobre os celtas da Europa oriental
e demonstrar, através da interpretação da cultura material encontrada em Gordion,
estas características próprias locais, como as mesmas auxiliaram a interpretação
arqueológica, e, em contrapartida, o quanto é preciso ser cauteloso em comparações e
atentar para as especificidades locais.
Cruzando, construindo e atenuando fronteiras: identidades, formação do Estado,
e o fim da Irlanda Gaélica
Nome: EOIN O NEILL
Indenpendent Researcher
E-mail: eoneill@oi.com.br
Neste trabalho, gostaria de apresentar um estudo de caso que, embora concerna à uma
área (ou a um povo) que está definitivamente no âmbito de Estudos célticos, se
aproxima de um foco e de um tempo que se encontram fora desse assunto, pelo menos
no que diz respeito a como ele é tradicionalmente tratado e enquadrado. Por alguma
razão, enquanto a história medieval parece se encaixar dentro do rótulo dos Estudos
célticos, não se pode dizer o mesmo sobre o início do período moderno, ainda que o fato
de que as dificuldades com o rótulo Celta, cuja aplicação é feita usualmente a povos que
definitivamente não se veem como pertencentes a ta cuja aplicação, sejam as mesmas
em ambos os períodos - tanto o medieval quanto o moderno. Além de identidades,
minha pesquisa trata da formação do Estado - mais uma vez, algo que soa estranho aos
Estudos célticos. No entanto, acredito que minha pesquisa tem muito a contribuir para
a área, especialmente para a proposta deste grupo temático. Minha pesquisa se
concentra no final da Irlanda Gaélica, (1590 – 1650). Este período testemunhou a
derrota política e militar dos senhorios gaélicos autônomos, que abriu o caminho para a
reconstrução, muitas vezes selvagem, da sociedade irlandesa, bem como para a
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destruição da Irlanda Gaélica. Embora a cultura gaélica tenha sido capaz de incorporar
e acomodar invasores anteriores, no século XVII isso não ocorreu. O "Gaeltacht",
vínculo cultural entre a Irlanda Gaélica e a Escócia Gaélica, quebrou-se. Além disso, os
grupos de identidade étnica dos Antigos Ingleses e dos Irlandeses Gaélicos fundiramse - não sem muitas dificuldades, como mostra as guerras da Confederação - em uma
nova identidade (católica) irlandesa, a qual, por vezes, foi contrastada com a nova
identidade confessional inglesa protestante que estava surgindo. Ao mesmo tempo, em
meio aos destroços dos senhorios irlandeses autônomos, um novo Estado centralizado
e colonial foi construído. O fim da Irlanda Gaélica não foi um processo unilinear
simples. Ao invés disso, foi extremamente complexo e dinâmico - na década de 1590 as
forças gaélicas chegaram perto de alcançar a vitória. Esta é, possivelmente, a lição mais
importante da minha pesquisa para os Estudos célticos: as sociedades, não importa o
quão tradicionais ou primitivas possam ser retratadas, são complexas, confusas e estão
em constante mutação, repletas de atores sociais que constantemente se cruzam e
ofuscam as muitas fronteiras artificiais construídas para eles na academia.
De Cornubia para Cornwall: Um estudo etimológico com base em motivações
religiosas célticas do culto à divindade com chifres
ISABELA MENEZES FORMIGONI
UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
E-mail: m.f.isabela@gmail.com
No paradigma oferecido pela convergência das obras arqueológicas sobre o condado
inglês da Cornualha, deparamo-nos com a significativa presença da iconografia relativa
ao chifre e à divindade com chifres, que sobrevive no nome da tribo Cornovii [povo
adorador do deus com chifres, tradução nossa de versão sugerida por arqueóloga
consagrada], que habitara a região da Cornualha. Tantas outras concomitâncias entre
a arqueologia e a linguística alinham-se sugerindo a correlação entre o culto da deidade
com chifres e a presença da raiz latina cornu ou da raiz Indo-Europeia/Proto-Celta
korno em diferentes itens lexicais verificados na história da localização. A acompanhar,
pois, a evolução do topônimo em Inglês Cornwall, é interessante perceber a possível
presença de tais raízes em Cornwall e também em Cornubia, termo reconhecido como
primeiro topônimo, referindo-se ao condado inglês, a ser documentado em Latim no
séc. VIII; e em Cornovii. A aparente existência de uma ou outra raiz nos itens lexicais
supracitados e destacados, coexistindo com evidências de culto a divindade com chifres,
desperta-nos, pois, para a necessidade de análise aprofundada, buscando cumprir a
proposta presente no título desse trabalho. Sendo assim, pareceu-nos primeiramente
imprescindível a apreciação do culto ao deus com chifres na região, o que nos levou à
seleção de obras que pudessem contribuir com a construção deste panorama. Nesse
sentido, obtivemos resultados escassos, e parece-nos perceptível que as pesquisas
arqueológicas sobre a divindade com chifres nessa região são incomuns ou de difícil
acesso; cremos, pois, que pesquisas in locu deverão ser executadas posteriormente.
Dentro do panorama linguístico, as observações em andamento apontam para a
probabilidade de a raiz presente em tais topônimos (Cornwall, Cornubia, Cornovii) ser
latina (cornu) e provir de empréstimo ou ser Indo-Europeia/Proto-Celta (korno) e ter
persistido no léxico do Córnico, como parece ter ocorrido nas outras línguas britônicas;
solucionar tal dicopodia requere a continuidade desse estudo e a concentração em
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ambas as possibilidades. Posteriormente, cabe à Etimologia traçar a análise diacrônica
do topônimo Cornwall com base na consideração dos itens Cornovii e Cornubia e outros
possíveis que se provarem também úteis, culminando na correlação final entre a
Arqueologia do deus com chifres na região da Cornualha e as análises linguísticas
acima expostas.
Dos milésios aos gaélicos: Memória e etnicidade
ERICK CARVALHO DE MELLO
UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
E-mail: carvalho.mello@gmail.com
Neste trabalho nos propomos a comparar a construção mnemônica acerca do celtismo
na Galicia e na Irlanda. Analisamos estas formações por meio das diferentes leituras
nacionalistas do início do século XX e como isso ainda hoje influência as diferentes
noções de celticidade e celtitude (Michael Dietler) na formação de uma identidade
social galega e irlandesa contemporâneas. Por meio da análise iconográfica feita em
campo em comparação aos textos estruturadores deste celtismo tanto na Galicia
quanto na Irlanda, levantamos o debate das diferentes formas de celtitude forjadas nos
variados grupos étnicos (Fredrik Barth) atlânticos e como os diferentes aportes
culturais célticos são trabalhos nesse mosaico que se pretende homogêneo em sua
postura identitária resistente (Manuel Castells), mas que lidam estruturalmente com as
tensões e rupturas causadas justamente por sua heterogeneidade céltica em suas
formações históricas e étnicas (David Harvey). Esta formação identitária céltica
diferenciada e conflitante é associada aos diferentes aportes culturais mantenedores de
uma memória coletiva e constitutiva de uma fronteira étnica céltica inserida na
legitimação de uma identidade pan-céltica atlântica, ou seja, uma franja céltica
imaginada (Murray Pittock) e com diferentes formas de representatividade, afirmação e
reconhecimento que obtêm melhor êxito analítico ao se discorrer e problematizar junto
ao campo da Memória Social e sua transversalidade no seio dos demais campos das
ciências sociais.
Panteões na Gália-Romana, pilares e "colunas de Júpiter"
TATIANA BINA
MAE-USP - MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA,
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
E-mail: tatiana.bina@gmail.com
Nossa apresentação tem por objetivo discutir o conceito de panteão e verificar se
efetivamente há uma transposição religiosa dessa ideia na iconografia dos pilares e
“colunas de Júpiter” na Gália durante o período da conquista romana. A questão é
particularmente relevante pois o próprio uso do termo pela historiografia estabelece
um padrão que mais que romano, é helenístico, e tende a mascarar a complexidade da
religiosidade na Gália Romana. Entre as inúmeras possibilidades interpretativas da
associação das divindades, indo desde as propostas de sincretismo até as idéias recentes
de “hibridização” e “emaranhamento cultural”, a questão também passa pela
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compreensão de como a História da Arte tem lidado com lidado com o assunto, através
de semelhanças e diferenças estilísticas entre diferentes “tradições” culturais de
representação. Apresentamos aqui a proposta de reconstituição iconográfica e
iconológica dessas divindades que chegam à Gália para uma recuperação do seu sentido
visual no período imperial, em contexto provincial. A arqueologia se destaca como
ciência fundamental para a restituição do contexto material dos monumentos em
questão e, desta maneira, a compreensão de seu uso. Trabalhamos com a hipótese de
que esses blocos com representações não constituiriam um “panteão regional” no
sentido "greco-romano", antes seriam mais uma associação de divindades diversas
reunidas, dentro de um de um conjunto de regras simbológicas, para garantir o seu
funcionamento religioso. A sua forma também poderia indicar uma constituição hibrida
galo-romana, entre o pilar, o altar e a coluna, indicando a capacidade de produção de
novas realidades religiosas, particulares à Gália-Romana. Por muito tempo
interpretados como a prova da soberania de Júpiter – em associação com o imperador sobre os demais deuses romanos ou galo-romanos, os pilares e “colunas de Júpiter”, e
portanto, a prova da transplantação de um padrão iconográfico helenístico para a Gália,
nosso trabalho procurar mostrar que essa ligação é problemática e a importância de
Júpiter deve ser revista, bem como a ideia de “panteão”.
Religiosidade e Hibridismo.
A função das deusas-mães nos séculos I e II d.C.
ÉRIKA VITAL PEDREIRA
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
(BOLSISTA CNPQ)
E-mail: erikavitalp@yahoo.com.br
O presente trabalho tem como objetivo apresentar alguns resultados parciais de nossa
pesquisa de mestrado. A qual consiste no estudo das estatuetas e relevos
representativos das deusas-mães da Britânia Romana, entre os séculos I e II d.C.
Optamos pelas deusas-mães por sua ligação com o culto às águas céltico e sua
recorrente representação tripla ou relacionada ao triplismo. Acreditamos serem estas
imagens transmissoras de mensagens não verbais, as quais comunicam a formação de
uma religiosidade híbrida. Logo interessamo-nos não só pelas possíveis mensagens,
mas também pelos produtores e receptores destas imagens, que estão inseridos em um
dado contexto cultural. Como nossos estudos tem por base a Teoria Pós-colonial,
concordamos com autores como E. Said e H. Bhabha, o qual desenvolveu o conceito de
Hibridismo que aplicamos. Também utilizamos os achados de cultura material, com
amplo auxílio da Arqueologia e da Epigrafia, a fim de compreender a dinâmica social
romano-bretã através da análise das práticas religiosas. Para tanto, observamos a
manutenção de atributos e emblemas célticos na produção iconográfica e epigráfica
romano-bretã, a fim de identificarmos a formação de uma religiosidade híbrida a partir
da interação de práticas religiosas romanas e bretãs. Por fim, para auxiliar em nossas
pesquisas sobre religiosidade, também damos ênfase às práticas rituais a partir dos
estudos de C. Bell sobre o tema.
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A Ilha Brasil: entre o mito e a geologia histórica
FRANCISCO JAVIER RIOS
CDTN/CNEN – CENTRO DE DESENVOLVIMENTO
DA TECNOLOGIA NUCLEAR
E-mail: franciscojavier1414@hotmail.com
LORYEL ROCHA
IMB - INSTITUTO MUKHARAJJ BRASILAN - RJ
E-mail: loryel@brasilan.com.br
O Brasil aparece em vários mapas antigos como uma ilha localizada a oeste da Europa.
Na mitologia Celta, e no imaginário medieval irlandês e europeu, essa ilha representava
o Paraíso Terrestre. Surge, agora, uma pergunta chave: do ponto de vista geológico, a
Ilha Brasil existiu? Nossa pesquisa conclui que a resposta é sim. Entre 10 e 5 milhões
de anos, antes do presente, foram registradas algumas das maiores ingressões marinhas
na atual América do Sul. Esses avanços do mar sobre o continente ocuparam extensas
áreas. Assim, formou-se formou uma gigantesca ilha que ocupava boa parte do atual
território brasileiro, exceto a Amazônia e Mato Grosso. Avanços do mar mais recentes
foram registrados no Brasil entre 5000 e 500 anos AC, e são importantes do ponto do
vista histórico por um motivo simples: já existiam culturas que possuíam
conhecimentos de navegação marítima. Os Fenícios, comprovadamente, tinham
atingido o setor equatorial do continente africano. Após superar as armadilhas do Cabo
Bojador, principal obstáculo enfrentado pelos portugueses antes de 1450, teriam
notado a existência de correntes que se orientavam para o oeste, puxando as naves para
um horizonte desconhecido. Não seria surpreendente que algum barco fenício tivesse
sido “capturado” pelas correntes, sendo trazido diretamente ao nordeste do Brasil,
seguindo a Rota do Largo, “redescoberta” pelos portugueses na viagem de Vaso da
Gama. A expedição Atlantis comprovou, em 1982, que uma balsa pode ser levada pelas
correntes até o norte do Brasil em 40 dias. O hipotético barco fenício, ou de outro
predecessor do mundo antigo, teria encontrado um Brasil um tanto diferente. Sobre
tudo se tivesse navegado a costa desde o nordeste até o Amazonas. Por causa da
elevação do nível do mar, imensas áreas da bacia amazônica estavam,
comprovadamente, inundadas. Entre as atuais Belém e Macapá existia um mar de
quase 300 km. Sendo assim, um visitante daquela época, naquele ponto, não teria
condições de divisar a continuidade do continente ao norte, e ao oeste. Teria,
provavelmente, a impressão de estar contornando uma gigantesca Ilha. Seguido a costa
para o sul, poderia ter a mesma impressão ao chegar até o estuário do Rio da Prata: na
desembocadura do Rio Uruguai, não seria possível enxergar a margem oposta. Dessa
forma, se conhecesse a rota de volta para Europa, teria voltado para sua terra com um
novo conceito: o da existência duma grande ilha tropical, localizada ao oeste, a Ilha
Brasil.
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