Referência da publicação :
LAPA, Thaís de Souza. « Flexibilidade (ou rigidez) produtiva, condições de trabalho e subjetividade das
trabalhadoras em indústrias metalúrgicas de eletroeletrônicos ». In : TROPIA, Patricia V.; TOSTA, Tania L.D.
et al (orgs). Mulheres trabalhadoras : (In)visíveis?. Belo Horizonte : Editora Fino Traço, 2016. p. 131-149.
CAPÍTULO 6
FLEXIBILIDADE (OU RIGIDEZ) PRODUTIVA, CONDIÇÕES DE
TRABALHO E SUBJETIVIDADE DAS TRABALHADORAS EM INDÚSTRIAS
METALÚRGICAS DE ELETROELETRÔNICOS
Thaís de Souza Lapa1
Introdução
Os processos de flexibilidade produtiva com transformações tecnológicas e
organizacionais nas empresas, que ocorrem no Brasil sob a égide da reestruturação produtiva
capitalista desde 1980 e com maior ênfase a partir de 1990, são observados neste artigo à luz
da problemática da divisão sexual do trabalho, tomando como campo de análise o setor
eletroeletrônico, o qual possui a mais elevada proporção de mulheres da indústria metalúrgica
brasileira.
Com base em estudo setorial (LAPA, 2015) focado em duas indústrias metalúrgicas
fabricantes de eletroeletrônicos como telefones celulares e computadores, cujas plantas
localizam-se em municípios do interior de São Paulo, apresentam-se, neste artigo, formas
contemporâneas de organização do trabalho e sua divisão sexual na indústria eletroeletrônica
e as condições de trabalho que delas resultam, especialmente para as operárias.
Adicionalmente, são identificados elementos da subjetividade das operárias por meio da
investigação do significado social do trabalho para as mesmas.
Busca-se com este texto visibilizar trabalhadoras como objeto de conhecimento nas
análises sobre a classe trabalhadora, procurando oferecer contribuição à sociologia do
trabalho a partir de reflexão empírica-teórica gendrada sobre o trabalho, sustentando assim
a necessidade do reconhecimento da composição sexuada da classe e reivindicando a
indissociabilidade das dimensões classe e gênero.
Mestre em Sociologia na Universidade de São Paulo (USP), doutoranda em Ciências Sociais pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
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Flexibilidade do trabalho no Brasil
As tendências recentes nas formas de organização e condições de trabalho na indústria
eletroeletrônica apresentadas neste trabalho são compreendidas como consequência do
advento da reestruturação produtiva e do paradigma da flexibilidade na organização da
produção (WOOD, 1989; SALERNO, 1993; HARVEY, 1998; HIRATA, 1998, DURAND,
2003; LEITE, 2003).
Salerno (1993, p. 145) levanta elementos sobre as relações de trabalho no Brasil para
argumentar que, diferente do caso europeu, “a prática brasileira já comportaria um grau
exagerado de flexibilidade”. Segundo Salerno (1993, pp. 143-145), os constrangimentos legais
à demissão no país são muito tênues e possibilitam uma política de altos níveis de rotatividade
de mão de obra. Mesmo que no país existam restrições à alteração formal dos horários de
trabalho, que depende de acordo sindical, haveria muitos fatores atenuantes dessa rigidez: (i)
recurso às horas extras, muitas vezes procuradas pelos próprios trabalhadores devido a terem
baixos salários (ii) não regulamentação de aspectos básicos do processo de trabalho, como
tempos, ritmos, relação volume de trabalho versus volume de produção; (iii) certa
disponibilidade para mão de obra para trabalho noturno; (iv) poucos empecilhos à
transferência de trabalhadores entre linhas ou setores, em geral recaindo em
incompatibilidade entre polifunção e estrutura de remuneração.
A partir destes elementos, sustenta-se haver transformações nas formas de trabalho no
sentido de sua flexibilização, mesmo que não tenham se dado sobre uma situação precedente
de proteções “plenas” sobre o trabalho (CLT ainda por ser aplicada e aspectos do processo
produtivo a serem regulamentados), ou seja, o que valeria observar neste debate seria a
amplitude do distanciamento2 entre as formas de organização, condições de trabalho e proteção
formal e real sobre o trabalho precedentes e as atuais.
Para esta reflexão, referencia-se em Castel (1988), para quem a própria França nunca chegou a ser
verdadeiramente uma social-democracia (com um Estado social pleno), a Alemanha teria tido
características mais próximas dessa forma de Estado e os Estados Unidos eram menos ou nada socialdemocratas, o que significa que “independentemente da realização do tipo, existem traços dessa
forma de Estado que se encontram sob configurações mais ou menos sistemáticas em constelações
sociais diferentes”, e que o relevante é “tentar avaliar a amplitude do deslocamento que se realizou
[...] para medir o tamanho da bifurcação que se produziu quanto à trajetória de então” (CASTEL,
1988, p. 499).
2
Levando em conta tais reflexões, no contexto contemporâneo, as relações de trabalho no
Brasil estariam sofrendo processos de modificação em sentidos distintos. De um lado,
formalização do emprego, de outro, a não qualidade do emprego. No primeiro aspecto,
verificou-se, ao menos até 2014, aumento do emprego formal e de renda média, redução do
desemprego a 5% (DIEESE, 2014), proporcionando “fortalecimento das classes populares
assentadas no trabalho” (POCHMANN, 2012, p. 10). No segundo aspecto, entende-se haver
formas distintas de analisar a qualidade no emprego. O Dieese (2014, p. 6) baseia-se em
critérios relacionados com a temática do trabalho decente, como: “as questões de gênero
(traduzidas em indicadores de escolaridade segundo o sexo dos trabalhadores e diferenças
de remuneração entre homens e mulheres); as formas de admissão e de desligamento do
emprego formal; o tempo de permanência no emprego; e a evolução da remuneração do
trabalho”.
Outra maneira de análise da qualidade do emprego pode ser realizada a partir do olhar sobre
o processo de trabalho e as condições de trabalho dele derivadas, sendo este nosso enfoque.
Humphrey (1982), inspirado no referencial marxiano3, sustenta que os processos de produção
no capitalismo são tanto processos de trabalho como processos de valorização, o que torna
imperativo para o capital controlar o trabalho para que a produção seja lucrativa e converte a
organização do processo de trabalho em campo de disputa entre a valorização do capital
versus as condições de trabalho e vida dos trabalhadores. Pena (1981, p.78) analisa que, sendo
o ambiente onde se organiza o processo de trabalho o lócus da valorização para o capitalista,
trata-se também de espaço de confronto entre trabalhadores e capitalistas, no qual “o
capitalismo não é cego ao sexo”. Assim, as formas de organização do processo de trabalho
pela gerência são, em nosso entendimento, fundamentais para a compreensão das condições
de trabalho, por fornecerem uma maior aproximação do real conteúdo do trabalho realizado.
Características gerais do processo de trabalho nas eletroeletrônicas
A apreensão de informações sobre o processo de trabalho nas indústrias eletroeletrônicas
(LAPA, 2015), a fim de revelar o “trabalho real” realizado (WOOD, 1989), foi obtida por meio
de entrevistas qualitativas semi-estruturadas com trabalhadoras/es e dirigentes sindicais das
3 Segundo Marx (1985, pp 201-220), sob o capital o processo de trabalho ou processo de produção
possui um “duplo caráter”, expressando-se de forma diferenciada ao produzir valores de uso e valor,
ou seja, ao produzir os pressupostos necessários da vida humana e ao recompor o equivalente ao valor
da força de trabalho e, ultrapassando este ponto, produzir mais valia (valor excedente).
empresas LG Eletronics e Samsung Eletronics4. As/os entrevistados são predominantemente da
produção direta, sendo 13 atuais ou ex-funcionárias/os (11 mulheres e 2 homens), 8 dirigentes
sindicais (4 mulheres e 4 homens) e 3 integrantes da CIPA (todas mulheres) que representavam
trabalhadoras/es das duas empresas. Estas/es informantes relataram tanto as mudanças na
organização produtiva que vivenciaram nos setores em que trabalharam como as que
observaram em outros setores das empresas.
No que concerne ao processo de produção de monitores, notebooks, telefones celulares e
tablets, nos quais as/os entrevistadas/os trabalhavam, pode-se dizer que todos têm
características similares e a diferença central, em primeiro momento, é o tamanho dos
aparelhos. Assim, o processo de trabalho similar na fabricação de todos estes produtos
possui, de forma simplificada, as seguintes características e etapas:
(i) inserção automática ou SMT5: nesta primeira parte do processo produtivo, linhas
são abastecidas com placas de circuito impresso (PCIs) nas quais são inseridos ou “impressos”
componentes eletrônicos, por meio de máquinas que são operadas e abastecidas por um/a
funcionária/o. Tais placas são revisadas e se necessário reparadas por funcionárias/os do posto
de reparo de linha. Se aprovadas, seguem para corte e são encaminhadas para a etapa seguinte
do processo de trabalho, a de inserção manual de componentes. Estas linhas possuem técnicos
de manutenção e de qualidade externos, que intervém nos processos quando necessário. O
setor tem líderes e por vezes sub-líderes.
(ii) inserção manual ou PBCA6: placas que já receberam componentes menores são
colocadas por abastecedores na linha, na qual operadoras de produção realizam manualmente
a colocação de novos componentes, bem como as soldas necessárias. O processo de inspeção
de qualidade foi embutido também ao interior deste processo de inserção manual de
componentes, deixando de ser função exclusiva de inspetoras/es de qualidade ao final da
linha. As linhas possuem líderes e sub-líderes.
Estas empresas transnacionais têm em comum o país de origem, a Coréia do Sul, integram os
chamados de chaebols, grandes conglomerados econômicos sul coreanos que estão entre os maiores
conglomerados econômicos mundiais, lideram mercado no Brasil e contratam predominantemente
trabalhadoras, em especial para a produção de telefones celulares e tablets.
5 SMT – Surface Mount Technology (Tecnologia para montagem em superfície) .
6 PCBA – Printed Circuit Board Assembly (Linha de placa de circuito impresso).
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(iii) montagem final: as placas com os componentes testados são inseridas nos
invólucros a depender da natureza do produto. Em seguida os produtos são testados e, se
apresentam defeitos, passam por uma reparadora ou são descartados.
(iv) embalagem ou packing: os produtos finais são acomodados em caixas junto a
“kits” que vão com o produto, como carregadores, manuais e outros. Os produtos embalados
são acomodados em pallets ao final das linhas e estes são também inspecionados por técnicos
de qualidade antes de sua expedição.
Há também processos realizados fora de linha, quais sejam: reparo, inspeção de
qualidade e manutenção.
Formas de organização produtiva na indústria eletroeletrônica
A análise sobre a indústria eletroeletrônica permite identificar permanências e
transformações na organização produtiva, isto é, a manutenção de métodos taylorizados
combinados com formas flexibilizadas de gestão. Tal combinação é analisada à luz da teoria
do processo de trabalho7.
As empresas do ramo eletroeletrônico que fabricam produtos de informática e
telecomunicações são intensivas em tecnologia de base microeletrônica e focam o processo
produtivo em operações de montagem. Tais características, em contexto de competitividade
internacional, contribuem para que os ciclos de vida dos equipamentos sejam cada vez
menores e colocam a necessidade de grande dinamismo setorial, traduzido em elevados
esforços nas áreas de desenvolvimento e projeto de produto, assim como qualidade e
produtividade (FLEURY, 1993, p. 129-130). No que se refere à organização do trabalho, o
enfoque sobre o setor eletroeletrônico permite, contudo, identificar que inovações técnicas
e organizacionais convivem com a persistência de modos ditos “antigos”, como o trabalho
A teoria do processo de trabalho teve como foco principal, ao ser concebida, a análise sobre o
taylorismo e as implicações desta forma de organização produtiva para o trabalho e para os /as
trabalhadores/as. Reivindica-se que a teoria do processo de trabalho contribui também no avanço da
compreensão das novas formas de organização e gestão do trabalho, que assimilam “o novo” (formas
produtivas e relações de trabalho flexibilizadas) sem abandonar inteiramente os métodos anteriores de
produção. Tal teoria traz contribuições em especial no desvelamento dos elementos que
“permanecem”, mesmo que de forma renovada, na organização do trabalho no contexto de
flexibilidade produtiva, a exemplo da necessidade do controle (coercitivo ou não) sobre as/os
trabalhadoras/es em nome da produtividade e lucro capitalistas. Algumas referências para este debate
são: Burawoy (1985), Wood (1989), Thompson (1989), Hirata (1994), Meikisins (1996) e Garza (2011).
7
industrial taylorizado, no que tange ao controle gerencial rígido, trabalho prescrito, em
esteiras, com qualificação não reconhecida e a incidência considerável do trabalho que requer
habilidades manuais.
Nas indústrias eletroeletrônicas pesquisadas foi possível identificar algumas destas
formas contemporâneas de organização produtiva que combinam mecanismos considerados
inovadores com “antigos”. Cabe registrar que a maior parte das entrevistas foi com
trabalhadoras/es antigas/os nas empresas que puderam acompanhar, por vezes em mais um
setor, práticas de inovação tecnológica e organizacional das empresas e mesmo aspectos nos
quais a inovação pouco ou nãon ocorre.
Para efeitos de análise, as formas de organização produtiva identificadas foram assim
divididas: (i) flexibilidade de contrato (ii) flexibilidade do volume de trabalho; (iii)
flexibilidade de salários; (iii) trabalho em equipe/teamwork; (iv) polivalência e
multifuncionalidade.
(i) A flexibilidade de contrato nas empresas foi identificada na prática de amplo
recurso às terceirizações, inclusive terceirizações de atividade-fim8 por meio de contratação
de empresas terceiras para realizar partes do mesmo processo de trabalho realizado na fábrica,
no interior da própria empresa (modularização) ou fora dela. Tais terceirizações implicam
em rebaixamento de salários e de direitos das trabalhadoras. As funcionárias de terceirizadas
estão sujeitas a empregos mais instáveis e a formas de trabalho mais intensivas e extensivas
(horas extras conforme as demandas repentinas da empresa contratante). As que estão em
período de experiência, em geral, se submetem a tais constrangimentos na expectativa de
serem efetivadas.
(ii) Foram identificadas também formas de flexibilidade ligada ao volume de trabalho:
(a) rotatividade: característica marcante do setor eletroeletrônico, na pesquisa apareceu
especialmente como prática de não efetivação de trabalhadoras/es temporários/as, bem
como recorrência de demissões, que acabava compensando financeiramente os acordos
salariais conquistados para o conjunto de trabalhadores com emprego mantido (b)
flexibilidade ligada a mau funcionamento do sistema produtivo: ajuste da força de trabalho
Existe entendimento, a partir da Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, que podem ser
terceirizadas no Brasil atividades consideradas subsidiárias nas empresas (ex: limpeza, segurança),
mas não as chamadas atividades-fim. A Samsung chegou a ser condenada pela prática de terceirização
irrestrita pela Justiça do Trabalho. No Congresso Nacional brasileiro, há projeto de lei (PL 4330/04)
que prevê justamente ampliar a possibilidade de terceirização para todas atividades, ou seja, torná-la
irrestrita.
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de forma extensiva e abusiva para, em geral, retrabalhos decorrentes de falhas na produção,
prática que com a implantação dos programas de qualidade no processo produtivo, viria
sendo substituída por (c) flexibilidade relacionada a sazonalidades: ajuste do volume de
trabalho conforme a demanda de produção, por meio das demissões nos casos de queda e
intensificação de força de trabalho quando está em alta (tensionamento dos fluxos). Utilizase ainda as horas extras, mas em menor proporção.
(iii) Flexibilidade de salários: Foi possível identificar na pesquisa que mecanismos
como a remuneração de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) (atrelada a metas) e o
pagamento de abonos ao invés de aumentos salariais acabam funcionando como
mecanismos de flexibilização do cálculo dos salários. Enquanto os aumentos salariais
consistem em um direito que, quando firmado, que não pode ser rebaixado, a PLR e os
pagamentos de abonos, por não serem incorporados ao salário, são “volúveis”, isto é, podem
ser concedidos ou retirados quando a empresa bem entender, ou variáveis conforme a
capacidade de pressão e negociação dos sindicatos.
(iii) Trabalho em equipe/teamwork: estímulo ao trabalho em grupo e autocontrole,
fazendo com que as próprias trabalhadoras se cobrem e se pressionem para alcançar metas.
Mesmo com a manutenção do trabalho seriado em linha de montagem nas duas fábricas, tais
formas de organização puderam ser identificadas: isso porque há metas aplicadas às/aos
trabalhadores/as individualmente, mas também metas aplicadas às linhas grupos de
trabalhadoras/es, e estas últimas constrangem as trabalhadoras a “partilhar tempos” de
produção (ex: trabalhadoras se organizam para “cobrir” ausências em um posto com
intensificação do trabalho em outro, para manutenção do ritmo do fluxo produtivo).
(iv) Polivalência e multifuncionalidade: persistência de trabalhos repetitivos em linha
(taylorizados), porém com estímulo à relativa polivalência (rotação entre estas tarefas
repetitivas e aprendizado da função de vários postos de linha), o que gera maior
intercambialidade das trabalhadoras nos postos, que deixam de ser fixos. Cabe ponderar que
a polivalência ou multifuncionalidade podem se efetivar de formas diferenciadas e com
distintas consequências para as condições de trabalho de acordo com o sexo de quem trabalha
e o lugar que este sexo costuma ocupar na divisão sexual do trabalho. Conforme Leite (1997,
p. 19), a polivalência costuma significar enriquecimento9 do trabalho (para os homens) ou
9 Segundo Thompson (1989, p. xiv), “Enriquecimento do trabalho: uma forma de humanização do
trabalho pelos empregadores. É usado frequentemente como uma descrição genérica de um número
diferente de processos de ampliação, agregação e rotação de tarefas”.
intensificação do trabalho (para as mulheres); pode haver o apelo a tipos opostos de
multifuncionalidade, com a integração das atividades mais complexas para os operadores e
daquelas mais simples para as operadoras.
Evidencia-se, assim, que a flexibilização organizativa do trabalho não é sinônimo de
menor rigidez nas relações de trabalho: as contradições em seu seio apenas se complexificam.
Tais formas de flexibilização do trabalho são maneiras não somente de organizar a produção,
mas também de controlar a força de trabalho. Em ambas as empresas foi possível notar um
processo de relativa transição entre o que seria um regime despótico para um despóticohegemônico (BURAWOY, 1985), ou de um sistema de gestão disciplinar para um
gerencialista (GAULEJAC, 2007), no sentido de terem prevalecido em anos anteriores
práticas de assédio moral como forma de controle de chefias masculinas sobre trabalhadoras,
sendo que em período mais recente, com maiores regulações (denúncias, fiscalização do
Ministério Público do Trabalho), passam a prevalecer mecanismos de envolvimento com o
trabalho (controle pelo tensionamento do fluxo, estímulos por prêmios e bonificações, PLR
associada ao cumprimento de metas, entre outros).
Observe-se que o hibridismo entre taylorismo e toyotismo, associado à problemática
da divisão sexual do trabalho, permite identificar que não somente modelos de organização
rígidos e flexíveis convivem, como que são as mulheres que predominam nos trabalhos
taylorizados, estando, portanto, “mais frequentemente submetidas a um controle disciplinar:
normas exigentes, vigilância constante do ritmo de trabalho pela hierarquia, regulação de
pausas” (GOLLAK, VOLKOFF, 2007, p.52). Neste sentido, admite-se que os diferentes
cenários de organização do trabalho podem implicar em formas de controles do trabalho
também sexuadas, pois não ignoram o sexo da/o trabalhadora/or.
Tal controle, muitas vezes efetivo, tem como uma das principais consequências a
intensificação do trabalho nas dimensões física e psíquica, que muitas vezes se desdobra com
adoecimento físico e mental das trabalhadoras, muitas delas, nas indústrias eletroeletrônicas
estudadas, acometidas por lesões por esforços repetitivos, distúrbios osteomoleculares
relacionados ao trabalho e, também, acometidas de depressão. Assim, enquanto não sentem
sintomas de adoecimento, em geral as trabalhadoras se submetem aos ritmos intensivos e
por vezes extensivos da fábrica (afinal, bater metas pode significar satisfação de “ficar bem”
perante chefias, ganhar bônus, garantir uma boa PLR). Algumas somente se dão conta dos
malefícios que tais condições de trabalho acarretam quando já estão doentes e, para piorar,
não têm das empresas o reconhecimento das mesmas como doenças do trabalho. Somente
então as contradições aparecem e o trabalho intensivo não parece tão recompensador.
Divisão sexual do trabalho no setor eletroeletrônico
A teoria da divisão sexual do trabalho10 fornece as bases para compreender o lugar de
mulheres na divisão social do trabalho e suas práticas sociais a partir das dimensões de classe e
gênero da divisão social do trabalho (KERGOAT, 2010, p. 93), considerando que “classes sociais
são, desde sua gênese, um fenômeno gendrado” (SAFFIOTI, 2011, p. 115).
Lobo (2011) aborda a questão da divisão sexual no processo de trabalho
apresentando critérios apontados em pesquisa pioneira de Madeleine Guilbert (1966),
associados ao trabalho feminino, que fundam esta divisão e caracterizam o trabalho realizado
pelas mulheres: “menor intensidade do esforço físico, menor grau de dificuldade ou
complexidade, caráter repetitivo mais nitidamente marcado, predominância de tarefas
manuais, necessidade de maior rapidez, caráter mais sedentário” (LOBO, 2011, p. 155-156).
Embora estes critérios não sejam modelos e possam ser discutíveis, o que parece
efetivamente ocorrer, segundo Lobo (2011, p. 156), é que “uma vez feminizada, a tarefa
passa a ser considerada ‘menos complexa’ ”, ou seja, a feminização afeta a percepção do que
é ou não um trabalho qualificado.
Nas duas empresas, LG e Samsung, há média de 65% de trabalhadoras considerando
a fabricação de todos os produtos (máquinas de lavar, impressoras, notebooks, monitores,
celulares, tablets) e incluídos os cargos técnicos. Contudo, esta proporção aumenta ou diminui
conforme o setor produtivo, chegando a aproximadamente 80% em linhas de fabricação de
celulares e tablets, as mais feminizadas. No que se refere à divisão sexual no processo de
trabalho, verificou-se haver setores quase exclusivamente masculinos ou femininos na fábrica,
O conceito de divisão sexual do trabalho, conforme Hirata e Kergoat (2008, p. 263), recobre duas
acepções de conteúdos distintos: de um lado, a “distribuição diferencial de homens e mulheres no
mercado de trabalho, nos ofícios e nas profissões, as variações no tempo e no espaço dessa
distribuição e a análise de como ela se associa com a repartição desigual do trabalho doméstico entre
os sexos, uma análise que se ocupa a constatar as desigualdades”. De outro lado, o termo tem a
acepção de “mostrar que essas desigualdades são sistemáticas” e “articular essa descrição do real com
uma reflexão sobre os processos mediante os quais a sociedade utiliza esta diferenciação para
hierarquizar as atividades, e portanto os sexos, em suma, para criar um sistema de gênero”. Empregase o conceito nesta segunda acepção, isto é, em sua dimensão crítica. Reconhece-se, ademais, que a
divisão sexual do trabalho é um dos desafios centrais das relações sociais de sexo (KERGOAT, 2009,
p. 71) e que as relações sociais de sexo, classe e raça-etnia são consubstanciais e coextensivas, ou seja,
há um “entrecruzamento dinâmico e complexo do conjunto das relações sociais, cada uma
imprimindo sua marca nas outras, ajustando-se às outras e construindo-se de maneira recíproca”
(KERGOAT, 2010, p. 100).
10
predominando as mulheres ainda nos setores de montagem – como em estudos realizados em
décadas anteriores – enquanto há maioria absoluta de homens em postos de chefia e na maioria
dos cargos considerados semi-qualificados ou intermediários. As/os trabalhadoras/es
entrevistadas/os eram dos setores que fabricavam notebooks, monitores, celulares e tablets.
Em todos estes setores, no interior do processo de trabalho pôde-se identificar um
critério de distinção da alocação de mulheres ou homens de acordo com a necessidade ou não
de força para a atividade realizada. Foi levantado por um supervisor de RH que as mulheres
teriam “movimento fino e mais atenção para detalhe que é muito bom para o negócio”. Assim,
em uma linha de montagem de celulares, chega a ocorrer que por vezes 100% das pessoas que
atuem diretamente na montagem são mulheres. Homens atuam de forma indireta nestas linhas,
como abastecedores, técnicos de qualidade ou de manutenção, na expedição. Nas linhas de
tablets a maioria era feminina, embora houvesse maior mixagem. As mulheres, neste caso,
permanecem nos trabalhos taylorizados, com funções repetitivas, trabalho prescrito e
considerado desqualificado.
Porém, mudanças de posição das mulheres no processo de trabalho também
puderam ser verificadas: foi possível identificar trabalhadoras em postos intermediários,
como o de líder de produção, o que inexistia décadas atrás. Encontram-se também, mesmo
que ainda de forma minoritária, em postos onde eram praticamente ausentes, as que
requerem experiência e/ou qualificações formais (curso técnico ou superior) como a
operação de máquinas de inserção automática, reparo de linha ou a inspeção de qualidade,
funções cujo trabalho seria menos “robô”, como descreve uma das reparadoras
entrevistadas. Há, de modo geral, mais mulheres técnicas, engenheiras, líderes de produção e
operárias em funções que escapam à atividade predominantemente feminina, que é a
montagem. Há mulheres, também, oriundas da base das fábricas que chegaram a direção dos
sindicatos dos dois metalúrgicos representantes da categoria. Contudo, uma das dirigentes do
sindicato afirma que tais avanços estariam situados na visão da trabalhadora como
“cuidadora”, delicada e detalhista. De outro lado, as mulheres estão praticamente ausentes
nos cargos máximos de chefia.
Uma outra tentativa também tentou ser implementada, esta sem sucesso: a
contratação de homens para a realização dos trabalhos de montagem. Neste caso, a força
que em geral homens possuem é prejudicial ao trabalho, uma vez que seu excesso “screpa”11
os equipamentos. Assim, pode-se dizer que as mulheres passam a ocupar, em alguma medida,
postos antes ditos masculinos, mas que o inverso parece não ocorrer.
Vale ressaltar que as condições de trabalho e de vida das trabalhadoras não são
plenamente captadas com o olhar apenas sobre o espaço do trabalho assalariado, reflexão
esta trazida pela teoria da divisão sexual do trabalho: “As relações na esfera de produção
remetem inevitavelmente às esferas de reprodução” (LOBO, 2011, p. 128).
Neste aspecto, identificou-se entre as entrevistadas o predomínio de mulheres chefes
de família, algumas divorciadas, que além de serem provedoras financeiras são também as
que realizam o trabalho doméstico e de cuidados. Mesmo com tal sobrecarga, algumas delas
se mantém, enquanto podem, em turnos noturnos – para “melhorar” salários com o
adicional noturno. Neste sentido, verificou-se haver trabalhadoras que praticamente não
dormem. As que conseguem “conciliar” trabalho doméstico, assalariado e estudos são as
solteiras ou as com filhos maiores, adolescentes (que por vezes precisam esperar filhos
crescerem para retomar estudos interrompidos).
Significado social do trabalho para as operárias
Se, conforme Marx, o ser dos indivíduos “depende de suas condições materiais de
produção” 12 , há de se levar em conta que homens e mulheres (portanto, trabalhadores e
trabalhadoras) são produzidos socialmente de forma diferenciada, embora enfrentem desafios
comuns no que se refere à divisão social do trabalho e às relações de classe.
Lobo (2011), a partir de pesquisas de campo realizadas com operárias de São Bernardo
do Campo entre o final da década de 1970 e início da década de 1980, analisa que em geral as
condições materiais de vida das operárias, invisibilizadas quando a análise recai somente sobre
“Screpa” é neologismo que vem do termo em inglês scrap e foi utilizado por algumas trabalhadoras
entrevistadas para explicar a situação em que equipamentos trincam, amassam ou sofrem algum outro
tipo de dano durante o processo de montagem que os estraga ou inutiliza, virando “sucata” (scrap).
12 “Ao produzirem seus meios de vida, os homens produzem, indiretamente, sua própria vida material
[...] Esse modo de produção não deve ser considerado meramente sob o aspecto de ser a reprodução
da existência física dos indivíduos. Ele é, muito mais, uma forma determinada de sua atividade, uma
forma determinada de exteriorizar sua vida, um determinado modo de vida desses indivíduos. Tal como
os indivíduos exteriorizam sua vida, assim são eles. O que eles são coincide, pois, com sua produção,
tanto com o que produzem como também o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto,
depende das condições materiais de sua produção”. (MARX; ENGELS, 2007 [1848], p. 87).
11
o espaço da produção, tornam-se visíveis quando os espaços de produção e reprodução são
considerados:
Significativamente, é na discussão sobre trabalho e não trabalho que aparecem mais
detidamente as condições de vida das operárias: a dupla jornada de trabalho, o não
reconhecimento do trabalho doméstico pelos homens/maridos, o preconceito com a mulher que
ganha salário. As relações na esfera de produção remetem aqui inevitavelmente às esferas de
reprodução (LOBO, 2011, p. 128).
Além destas especificidades que se colocam como desafios para as trabalhadoras (às
quais outras poderiam ser elencadas), outra questão trazida por Saffioti (1969, p. 63), relativa
ao significado positivo do trabalho para a mulher, parece também fundamental: “para a mulher,
ter um emprego significa, embora isso nem sempre se eleve a nível de consciência, muito mais
do que perceber um salário. Ter um emprego significa participar da vida comum, ser capaz de
construí-la, sair da natureza para fazer a cultura, sentir-se menos insegura na vida”.
Na investigação sobre o significado social do próprio trabalho para as operárias nas
indústrias eletroeletrônicas entrevistadas – isto é, simultaneamente o significado do trabalho
imbuído nas relações sociais que vivenciam e o significado deste trabalho para estas mulheres
operárias não como casos particulares, mas enquanto grupo social – foi possível identificar
que seu trabalho enquanto metalúrgicas trouxe realizações de diversas ordens, materiais e
simbólicas: possibilitou desde a aquisição de bens como casa, carro, pagamento de estudos
(valorização da atividade como emprego), o desenvolvimento da identidade com o trabalho
realizado (valorização do trabalho), até experiência de lutas, superação de limites e espaços
socialmente impostos e conquista de liberdade enquanto mulher (dimensão da subjetividade
das trabalhadoras como sujeitos sexuados).
No que se refere a como as trajetórias profissionais das trabalhadoras afetam sua
percepção sobre o trabalho, vale registrar que apenas uma delas via o trabalho em indústria
eletroeletrônica como pior dos que exerceu anteriormente, uma vez que havia trabalhado em
uma indústria automobilística por 10 anos, ganhando mais do que na LG, mas foi demitida.
Todas as outras operárias entrevistadas valorizaram o emprego como uma grande
oportunidade de vida, ou por virem de trabalhos pior (ou não) remunerados e sem benefícios,
como em vendas, trabalho doméstico, donas de casa ou empregadas de indústrias menores,
eletroeletrônicas ou não. Os benefícios de um emprego formal na indústria, neste sentido,
fazem diferença.
O que se evidencia é que trabalhadoras vivenciam a experiência do trabalho a partir de
diferentes desafios e enfrentamentos sociais particulares. Como o espaço assalariado e
doméstico não são dimensões apartadas, a vida pública e privada se entrelaçam e para as
trabalhadoras, estar nesta vida pública (ainda) coloca o desafio de “provar” que não se está no
lugar errado. Há ainda muitas mulheres não são socializadas para encarar a vida pública
(trabalho, representação sindical, etc), mas direcionadas a conquistas prioritariamente no
âmbito privado (família, casamento), estas últimas, diferente das primeiras, valorizadas. Há de
se refletir que de modo geral, também há ainda muitos homens não socializados para aceitar
este adentramento da mulher à vida pública.
Apreender o significado do trabalho industrial para a mulher é, pois, tarefa complexa,
pois pode se apresentar como uma forma de realização contraditória, uma vez que abre a
possibilidade de vivenciar o coletivo, a atividade pública, avanços em sua autonomia
econômica, a representação dos pares, a amizade, a política, a transformação a partir de lutas.
Ao mesmo tempo, esta atividade produz uma série de impactos físicos e psíquicos por conta
das condições de trabalho intensivas nas quais as mulheres estão inseridas, além dos conflitos
familiares, que por vezes (ainda) fazem com que elas tenham que optar entre marido ou
trabalho, não tenham tempo para estudos. Assim, cabe a reflexão de que as lutas das quais as
mulheres falam quando afirmam que “mulher é guerreira” são lutas atinentes aos
enfrentamentos gerais que a vida coloca, isto é, dizem respeito tanto ao espaço privado como
o público.
Considera-se que não há análises simplificadoras para este tipo de contradições,
assim, admitir e expor os conflitos e as barreiras a serem superadas parece ser o caminho
mais adequado para construir sua transformação.
Considerações finais
Dar voz às operárias e operários para apreender sua condição de trabalho e suas
percepções sobre a atividade laboral que realizam fornece contribuição aos estudos sobre
relações de trabalho industrial contemporâneas, no que se refere (i) à análise sobre o que
permanece e o que muda em relação à organização do trabalho e à divisão sexual no interior
do processo de trabalho, (ii) a como são suas condições de trabalho e também (iii) ao
significado social que este trabalho adquire, como influencia em suas condições de vida.
De um lado, frente ao trabalho informal do setor de serviços, o emprego industrial
pode ser visto como “de qualidade”, considerando que contempla gama de benefícios
atinentes ao emprego formal, em especial para a trabalhadora e sua família. Esta dimensão
do emprego de qualidade se soma ao significado social positivo dado por quase todas as
trabalhadoras entrevistadas, que eram gratas por este emprego proporcionar condições de
vida que não teriam em outros ou em seus anteriores.
Por outro lado, em análise sobre o conteúdo do trabalho realizado, observa-se que,
sob as atuais formas organizativas, o trabalho possui natureza intensiva, repetitiva, com
trabalho prescrito que dá pouco espaço para “autonomia”, controle estrito sobre o tempo,
sob pressão por metas e intensificação de fluxos. Somem-se a estes elementos a pouca
perspectiva de progressão de carreira para as mulheres e a subvalorização do trabalho por
ser realizado predominantemente por mulheres e tem-se um conjunto de fatores que pesam
negativamente na análise da qualidade destes empregos.
E apesar de se tratar de trabalho industrial, na prática, não há estabilidade no
emprego, uma vez que as oscilações de produção (flexibilidade por sazonalidades) implicam
em períodos de demissão recorrentes, “inclusive de bons e antigos funcionários”, conforme
relatam algumas operárias. Este outro lado, das condições precárias no interior do processo
de trabalho, revela que as relações de trabalho dentro da indústria nem sempre significam
que se trata de um emprego de qualidade.
A elevada competitividade do setor e busca de garantia de lucros máximos norteiam
o ritmo intensivo de trabalho e mesmo a garantia ou não do emprego. Além disso, o olhar
sobre a divisão sexual do trabalho traz a perspectiva de que mulheres operárias não são
somente exploradas no trabalho e nem somente oprimidas no ambiente doméstico: estas
relações se entrecruzam e se co-produzem.
As condições de trabalho, vistas como parte das condições de vida das trabalhadoras,
permitem observar, de um lado, condição de vida precária (acumulando tempo de trabalho
doméstico e assalariado, sem tempo para dormir, adoecendo por conta do processo de
trabalho), enquanto de outro, condição de vida “dignificante” (com relativo avanço na
autonomia econômica, que proporciona condições para cuidar da família e de si mesmas,
buscar estudos e melhores posições dentro ou fora da fábrica).
Porém, é destas contradições entre o que de positivo e de negativo este trabalho tem
a oferecer às trabalhadoras que podem ser identificadas fissuras nas relações de trabalho
organizadas sob a dominação-exploração do capitalismo-patriarcado (SAFFIOTI, 2009):
fissuras que permitem lentas mudanças na divisão sexual no interior do processo de trabalho,
com é o caso de mulheres nas indústrias eletroeletrônicas chegando a postos de trabalho
onde nunca estiveram – como o de líderes de produção, engenheiras – além de as funções
nas quais eram absoluta minoria e passam a ocupar em relativo equilíbrio com os homens –
como a função de operadoras de máquinas de inserção automática de componentes.
Estas fissuras permitem também a transformação da visão de que a força de trabalho
feminina é resignada ou naturalmente submissa, uma vez que o espaço público e coletivo da
fábrica permite que estas mulheres se organizem para reagir, ocupem postos de direção em
sindicatos e lutem por melhores condições de trabalho e de vida. Restaria, contudo, colocar
no norte a luta pela valorização do trabalho destas operárias, visto que o setor
eletroeletrônico tem os salários mais baixos da indústria metalúrgica brasileira, bem como
colocar no norte a luta que integre as demandas das trabalhadoras em suas dimensões de
classe e gênero, vislumbrando superar as atuais divisões social e sexual do trabalho.
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