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Vilas Boas, Luciano (2020) - A Chã da Mourisca na Idade do Bronze. Um sítio arqueológico em Refóios do Lima, Ponte de Lima: do passado ao presente rumo ao futuro 6: 57-77.

2020, Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro

A necrópole da Chã da Mourisca foi descoberta acidentalmente em 2010, tendo sido detetadas, na altura, três estruturas arqueológicas distintas. As primeiras duas encontravam-se nos perfis de um caminho em terra batida, onde foram visualizadas estruturas em negativo em cada um dos lados do caminho. Situado a cerca de 50m a norte deste caminho foi detetado um monumento megalítico de cariz funerário, e relativamente bem perceptível na paisagem. Após uma primeira intervenção arqueológica foi necessário realizar uma segunda escavação. Os dados obtidos durante as duas campanhas arqueológicas permitiram pôr a descoberto um conjunto de três sepulturas planas, uma fossa de perfil em "saco" entre outras estruturas de difícil caracterização com os dados até agora disponíveis. The Chã da Mourisca in the Bronze Age. An archaeological site in Refóios do Lima The Chã da Mourisca necropolis was accidentally discovered in 2010, with three distinct archaeological structures being detected at the time. The first two were found on the side view of a dirt path, where they were visualized on each side of the path. Located about 50m north of this path, a funerary megalithic monument was detected, and relatively well noticeable in the landscape. After the first archaeological intervention, a second excavation was necessary. The data captured during the two archaeological campains brought to light a set of three flat graves, a "bag" side view pit and other structures that are difficult to characterize with the data available so far.

A Chã da Mourisca na Idade do Bronze. Um sítio arqueológico em Refóios do Lima The Chã da Mourisca in the Bronze Age. An archaeological site in Refóios do Lima A necrópole da Chã da Mourisca foi descoberta acidentalmente em 2010, tendo sido detetadas, na altura, três estruturas arqueológicas distintas. As primeiras duas encontravam-se nos perfis de um caminho em terra batida, onde foram visualizadas estruturas em negativo em cada um dos lados do caminho. Situado a cerca de 50m a norte deste caminho foi detetado um monumento megalítico de cariz funerário, e relativamente bem perceptível na paisagem. Após uma primeira intervenção arqueológica foi necessário realizar uma segunda escavação. Os dados obtidos durante as duas campanhas arqueológicas permitiram pôr a descoberto um conjunto de três sepulturas planas, uma fossa de perfil em “saco” entre outras estruturas de difícil caracterização com os dados até agora disponíveis. The Chã da Mourisca necropolis was accidentally discovered in 2010, with three distinct archaeological structures being detected at the time. The first two were found on the side view of a dirt path, where they were visualized on each side of the path. Located about 50m north of this path, a funerary megalithic monument was detected, and relatively well noticeable in the landscape. After the first archaeological intervention, a second excavation was necessary. The data captured during the two archaeological campains brought to light a set of three flat graves, a “bag” side view pit and other structures that are difficult to characterize with the data available so far. Chã da Mourisca, Idade do Bronze, Sepulturas Planas, Vasos de bordo horizontal Chã da Mourisca, Bronze Age, Flat graves, Horizontal edge pots Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 57 Luciano M. M. Vilas Boas 1. Introdução A necrópole da Chã da Mourisca foi acidentalmente descoberta em 2010, tendo sido detetadas na altura três estruturas arqueológicas distintas. A mais visível representava um monumento megalítico funerário, mais comummente conhecida por mamoa. Este monumento funerário dista cerca de 50 m a norte de um caminho de terra batida. Foi exatamente nos dois perfis do estradão em terra batida onde foi possível observar o desenho de outras duas estruturas. No perfil norte detetaram-se os limites de uma estrutura que se assemelhava a uma “fossa” em forma de saco. No perfil sul foi detetada uma outra estrutura de contorno sub-retangular. Face à exposição e degradação que estas estruturas estavam a ser sujeitas, provocadas pela erosão dos sedimentos do seu interior, foi realizada em 2018, uma intervenção arqueológica de emergência, com vista à inventariação e salvaguarda das mesmas, evitando assim que estas desaparecessem sem terem sido estudadas. Os trabalhos arqueológicos de salvaguarda contemplaram a abertura de duas sondagens, tendo sido os resultados desta intervenção posteriormente publicados por Vilas Boas, L. e Oliveira, L., 2018. Após a primeira intervenção ficou claro que a afetação do sítio arqueo- lógico não tinha incidido apenas sobre as duas estruturas em negativo patentes em ambos os lados do caminho. Foi possível aferir a existência de uma outra estrutura de maiores dimensões, que tinha sido também ela parcialmente mutilada pela abertura do caminho. Um montículo de terra ligeiramente saliente parecia indicar a presença de um tumulus. Daí ter sido solicitado à tutela um alargamento da área de escavação para se intervencionar o montículo O presente artigo versará apenas sobre parte dos dados obtidos nas duas campanhas de escavação na Chã da Mourisca e tem por base o relatório final entregue e aprovado pela tutela. Serão analizados os dados ainda que de uma forma sumária, aguardando-se um estudo mais exaustivo das cerâmicas e a realização de análises complementares que serão publicados posteriormente. A segunda intervenção foi efetuada em articulação com a Universidade do Minho (Dra. Ana Bettencourt), tendo feito parte do programa curricular dos alunos que nela participaram, como trabalhos práticos. Estiveram presentes na segunda campanha: Margarida Coelho e André Barroso do 2º ano da licenciatura; Sérgio Madeira e Luís Coutinho do 3º ano da licenciatura; David Abreu, Cláudia Vieira, Elisabete Costa e Marta Borges alunos de mestrado. 2. Objetivos O objectivo das duas intervenções 58 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! A necrópole da Chã da Mourisca foi acidentalmente descoberta em 2010, tendo sido detetadas na altura três estruturas arqueológicas distintas. Figura 2. Localização da necrópole de Chã da Mourisca em excerto da Carta Militar, nº 28, à escala 1:25000. Fonte · IGEOE. foi a caraterização das estruturas em risco, perceber como se poderiam articular com o monumento megalítico e prospetar as imediações para detetar novas ocorrências arqueológicas. A avaliação cronológico-cultural e funcional das duas estruturas em negativo foi também um dos nossos focos, bem como a avaliação do seu valor científico/patrimonial, de forma a contribuir para o conhecimento da Pré-História Recente na bacia do rio Lima. 3. Localização administrativa, geológica e contexto físico e ambiental A necrópole da Chã da Mourisca localiza-se no lugar da Vacariça, freguesia de Refóios do Lima, Con- celho de Ponte de Lima, Distrito de Viana do Castelo. As suas coordenadas geográficas em graus decimais segundo o sistema WGS 84 são: 8º32`16.34`` W e 41º49`30.18``N e implanta-se à altitude de 697 metros. Este sítio localiza-se numa plataforma, na base da vertente norte do monte do Penedo Branco, situado no prolongamento sudoeste da serra do Corno do Bico. A nordeste da necrópole existe um alvéo- Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 59 lo designado por Chã da Lagoa de onde nasce um ribeiro sazonal que aflui para o ribeiro das Estacas, que alimenta o rio Cabrão, afluente do rio Lima. A oeste corre o ribeiro de Barreiros, afluente do ribeiro de Pias que desagua no rio Labruja, também ele afluente do rio Lima. Segundo a Carta Geológica de Portugal, folha 5A, na escala 1:50000, o substrato rochoso é composto por granito porfiróide de grão grosseiro ou médio a grosseiro, calco-alcalino, biotítico, que aflora abundantemente à superfície. Nas proximidades (cerca de 5 e 6 km) para oeste, existem diversas jazidas primárias e explorações mineiras abandonadas de estanho. O coberto vegetal é composto essencialmente por vegetação arbustiva e herbácea onde o tojo, giestas, fetos e ervas abundam. Mas a vegetação arbórea também se faz re- presentar com a presença de eucaliptos, carvalhos e pereiras bravas. A visibilidade a norte, oeste e a sul é pouco abrangente e restringe-se às vertentes que rodeiam o local, com excepção para este-sudeste com visibilidade para as serras Amarela, Gerês e Mezio. 4. Escavação Arqueológica 4.1. Sondagem 1 Esta sondagem materializou-se com a implantação de um quadrado de 2m x 2m, tentando abarcar a restante estrutura e também a sua área mais limítrofe. Figura 3. Localização da necrópole de Chã da Mourisca Estratigrafia e Espólio Camada 1 — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração, que 60 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! em excerto da Carta Geológica, 5-A (Viana do Castelo) à escala 1:50000. Fonte · LNEG. Figura 4. Estrutura 1 durante o processo de escavação. Figura 5. Estrutura 1 após terminus da escavação. se revelou castanha escura, de composição areno-argilosa e bastante orgânica, pouco compactos e com granulometria média. Revelou inclusões de raízes e de calhaus (nota em rodapé para classificação de calhau). Corresponde à camada humosa. Camada 2 — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração, que se revelou castanha clara, de composição areno-argilosa, medianamente compactos e de granulometria média a fina. Revelou inclusões de raízes e de calhaus angulosos. Corresponde a um solo sob a camada humosa. Camada 3 — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração, que se revelou castanha escura, de composição areno-argilosa, compactos e de granulometria média a grosseira. Revelou inclusões de carvões de pequena dimensão. Corresponde ao enchimento da estrutura 1. Camada 3A — Sedimentos de tonalidade castanha clara, de composição arenosa, pouco compactos e granu- lometria média a grosseira. Camada de contacto com a alterite granítica. Camada 4 — Alteríte granítica (nível geológico). Nesta sondagem não foi detetado qualquer tipo de espólio cerâmico, lítico ou metálico. Foi recolhida a totalidade dos sedimentos para uma posterior flutuação a seco e/ ou análises sedimentares, já que durante o processo de escavação se detetaram alguns carvões de reduzidas dimensões. Estrutura Esta estrutura, mutilada pela abertura do caminho, encontrava-se mais destruída e com menos sedimentos do que quando foi encontrada em 2010. Tinha secção oval com o topo mais estrangulado e base arredondada. No fundo existia um buraco de poste. A profundidade máxima da secção da fossa escavada era de 1.02 m e a sua largura máxima era de 0.80 m. O buraco de poste tinha de profun- Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 61 didade 0, 42 m e um diâmetro de 0,22 m. Não nos foi possível aferir a relação estratigráfica entre a estrutura e a camada 1 e 2, ainda assim, pareceu-nos existir um enchimento único correspondente à camada 3. A camada 3A pareceu-nos a degradação das paredes da própria fossa em contacto com os sedimentos que a preenchiam. A camada 1 parecia tapar a fossa, ainda que por uma fina camada de sedimentos. 4.2. Sondagem 2 Na sondagem 2 foram intervencionados um total de 33m2 (quadrículas C-1, C0,C1, C2, C5,C6, C7, C8, C9, C10, C11, D-2, D-1, D0, D5, D6, D7, D8, D9, D10, D11, E-2, E-1, E0, E6, E7, E8, E9, E10, E11, F-1, F0 e G-1). A escolha das áreas a intervir baseou-se nos dados do georadar ou pela presença de blocos graníticos que pudessem pertencer a uma estrutura. Estratigrafia e Espólio O espólio será descrito de uma for- ma muito sucinta, e aguardará um estudo mais exaustivo, o qual será correlacionado com outros dados culminando numa publicação mais pormenorizada. Camada 1 — Sedimentos que foram registados em todos os quadrados intervencionados. Correspondia a um depósito de coloração castanha escura, de composição areno-argilosa e compacidade média. A sua granulometria era grosseira. Revelou inclusões de blocos graníticos, calhaus, carvões, raízes, cerâmica pré-histórica e seixos rolados. Nos quadrados D-1, D-2, E-2 e G-1 a camada era arenosa. Corresponde à camada humosa. Foram exumados desta camada 11 fragmentos de cerâmica, aparentemente de fabrico manual. Foram igualmente recolhidos 23 líticos. Um pequeno fragmento de um objeto plástico foi também recolhido. Camada 2 — Sedimentos que foram registados na quase totalidade dos quadrados intervencionados. A excepção foi o quadrado G-1. 62 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! Figura 6. Perfil da estrutura 1 da sondagem 1. Figura 7. Plano final da estrutura 1 da sondagem 1. Figura 8. Plano inicial da sondagem 2 (1ª campanha). Figura 9. Plano inicial do alargamento (2ª campanha). Sedimento que se manifestou homogéneo quanto à sua coloração, que se revelou castanha escura. A sua composição era areno-argilosa, de granulometria média a fina. Verificou-se que esta camada era mais escura junto à estrutura 4. Nos quadrados D-1, D-2, E-2 e G-1, apresentava uma coloração negra, de grão fino, com a presença de alguns calhaus, nomeadamente sobre as estruturas 2 e 3. Cobria a camada 4 e era coberta pela camada 1. Foram exumados 8 fragmentos de cerâmica, aparentemente 7 são de fabrico manual e o restante é de fabrico a torno. Também foram recuperados 12 líticos, dos quais se destaca 1 fragmento de moinho movente em granito, 2 possíveis moventes em granito, 1 resto de talhe em sílex, 1 seixo, 4 fragmentos de seixo e 3 lascas em quartzo. Camada 3 — Sedimentos heterogéneos quanto à sua coloração, essencialmente castanha escura, apresentando algumas manchas mais negras e mais orgânicas e ou- tras mais claras e arenosas. A sua composição era areno-argilosa e a sua compacidade média, assim como a granulometria. Esta camada localizava-se na zona central da estrutura. A base desta camada era constituída por sedimentos homogéneos, mais negros e orgânicos. Revelou a inclusão de cerâmica e de líticos. Camada de enchimento da estrutura e de reutilização. Foram exumados 5 fragmentos de cerâmica aparentemente de fabrico manual e 3 líticos, sendo 2 fragmentos corticais de seixos e o restante um micrólito em quartzo hialino. Camada 3’ — Sedimentos mais claros do que a camada 3, revelando-se castanhos claros. A sua composição era areno-argilosa e a sua compacidade média tal como a sua granulometria. Revelou inclusões de alguns carvões. Foram recolhidas amostras de sedimentos para possíveis análises sedimentares. Esta camada corresponde ao enchimento da estrutura na sua reutilização. Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 63 Não foi detectado espólio lítico ou cerâmico. Camada 3A — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração revelando-se acinzentados, de composição arenosa, medianamente compactos e de granulometria média a grosseira. Estavam presentes junto às paredes laterais da estrutura e existiam desde o topo à base, nomeadamente na área onde se encontrava o bloco granítico, isto é, na extremidade noroeste da estrutura. Revelou inclusões de radículas e de cerâmica. Trata-se do enchimento mais antigo da estrutura, isto é, corresponde à utilização primária da estrutura. Foi exumado um vaso de largo bordo horizontal, um fragmento de cerâmica de fabrico manual e um lítico. Camada 3B — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração revelando-se castanhos muito escuros, de composição orgânica, medianamente a pouco compactos, granulometria média a fina. Esta camada estava presente na área central da estrutura e na sua base. Corresponderá à zona onde se terá depositado o corpo durante a reutilização da sepultura. Não revelou a presença de espólio arqueológico, mas foram recolhidas amostras de solo para possíveis análises sedimentares. Camada 4 — Sedimentos presentes em todos os quadrados escavados na totalidade e correspondia a um depósito de coloração amarelada, por vezes acinzentada, de composição areno-argilosa, de granulometria média a fina, muito compacta e com inclusões de carvões e raízes. Corresponde possivelmente ao contacto da base da camada 2 com o substrato geológico. Foram exumados 6 fragmentos de cerâmica, sendo que 4 deles aparentam um fabrico manual e os restantes 2 fragmentos aparentam um fabrico a torno. Também foram recolhidos 3 líticos, um fragmentos de moínho movente em granito, um resto de núcleo em sílex e um outro atípico. Foi 64 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! Figura 10. Perfil estratigráfico da sepultura plana. Figura 11. Largo bordo horizontal exumado da estrutura 1. encontrado um fragmento de um possível colorante. Camada 5 — Sedimentos que correspondem ao enchimento da estrutura 2 e caracterizava-se por ser um depósito de coloração castanho escuro. Não foi detectado espólio lítico ou cerâmico. Figura 12. Largo bordo horizontal exumado da estrutura 3 (sepultura plana). Camada 6 — Sedimentos que estavam circunscritos ao interior da estrutura 4, nos quadrados C6, C7, D7, C8, D8,C9, D9,C10, C11 e D11. Eram homogéneos quanto à sua coloração que se revelou castanho escuro, de composição areno-argilosos, de granulometria fina e pouco compacta. Revelou inclusões de areão, calhaus, carvões muito frequentes, raízes e ainda cerâmica comum de fabrico manual. Possível nível de circulação associado à estrutura 4. Foram recolhidos 5 fragmentos de cerâmica aparentemente de fabrico manual, bem como também 10 líticos. Camada 7 — Sedimentos heterogéneos quanto à sua coloração, ora apresentavam uma tonalidade castanha clara ora uma tonalidade bastante escura. A sua composição era arenosa apresentando uma granulometria média e compactação também ela média. Revelou inclusões de areão e raízes. Corresponde ao enchimento da estrutura 3. Foi exumado 1 lítico. Camada 8 — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração que se manifestava castanha es- cura, composição areno-argilosa de granulometria média e pouco compacta. Revelou inclusões de carvões e raízes frequentes. Inserido neste depósito foi recolhido um recipiente cerâmico in situ, do tipo largo bordo horizontal, um arranque de asa e um grande bloco granítico, possivelmente a servir de marcador. Esta camada preenchia a zona central da estrutura 3. Foram exumados 5 fragmentos de cerâmica, aparentemente de fabrico manual, sendo um deles um arranque de asa. Foi igualmente detectado um vaso de largo bordo horizontal fragmentado em três partes. Camada 9 — Sedimentos de coloração amarelada, composição arenosa, granulometria grosseira e medianamente compacta. Revelou inclusões de carvões e raízes. Este depósito encontrava-se apenas junto aos limites da estrutura, parecendo ser uma degradação da alterite granítica misturada com o sedimento de enchimento da estrutura. Camada de enchimento da estrutura 3. Não foi identificado espólio lítico ou cerâmico. Camada 10 — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração, que se revelou castanha mais escura do que a camada que se sobrepunha. A sua composição era areno-argilosa de granulometria fina e compactação média. Revelou inclusões de calhaus, carvões e raízes. Verificou-se também a presença de cerâmica comum Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 65 pré-histórica, de líticos polidos e outros talhados. Sedimento que preenchia o interior da estrutura 4, nos quadrados C6, C7, D7, C8, D8, C9, D9, C10, C11 e D11. Foram exumados 6 fragmentos de cerâmica de fabrico manual de reduzidas dimensões. Foi recolhido um nódulo possivelmente de colorante. Foram também encontrados 9 líticos. Destes, um corresponde a 1 fragmento de moinho manual (movente), 1 seixo de reduzidas dimensões, 3 fragmentos corticais de seixos, 3 possíveis restos de talhe em quartzo e uma lasca em quartzo hialino. Camada 10A — Sedimentos de coloração acinzentada, composição arenosa e de granulometria grosseira, por vezes composta por areão e calhaus pequenos de compactação friável. Este depósito continha pequenos fragmentos de cerâmica comum pré-histórica. Este sedimento manifestou-se nos quadrados C7, C8, D7, D8 e E8. Foram exumados 4 fragmentos de cerâmica aparentemente de fabri- co manual. Foi igualmente recolhido 1 lítico. Camada 11 — Sedimentos de coloração castanha clara, composição areno-argilosa, de granulometria média e medianamente compacta. Possivelmente corresponde à camada 4 no exterior da estrutura 4, isto é, camada de contacto com a alterite granítica. Foram exumados 3 pequenos fragmentos de cerâmica aparentemente de fabrico manual. Também foi recuperado um fragmento cortical de seixo quartzítico. Camada 11A — Sedimentos de coloração acinzentada, de composição arenosa e granulometria grosseira revelando uma fraca compacidade. Este sedimento preenchia a fossa 1. Camada 12 — Sedimento de coloração acinzentada, composto por areias de granulometria grosseira e compacidade fraca. Este depósito ao nível do topo continha grande quantidade de blocos graníti- 66 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! Figura 13. Camada 7 (enchimento da estrutura 3). Figura 14. Camada 8 e 9 (enchimento da estrutura 3). Figura 15. Camada 10 e 12 (estrutura 4). Figura 16. Camada 11A (estrutura 4). cos, entre os quais alguns polidos. Foram exumados 11 fragmentos cerâmicos. Sendo que apenas 3 deles parecem ser de fabrico manual. Os restantes 8 parecem apresentar marcas de torno, sendo que destes, 4 pertencem a partes de bordo. Os materiais de época histórica poderão ter migrado por fenómenos de bioturbação. Foi ainda recuperado um pequeno fragmento de moinho manual em granito e outros dois de maior dimensão. Camada 13 — Sedimentos de coloração castanha de tonalidade escura, sendo a sua composição areno-argilosa, de compacidade média e granulometria mais fina do que a anterior. Revelou inclusões de areias, carvões e cerâmica comum. Corresponde a um segundo enchimento da estrutura 5. Foram exumados dois fragmentos de cerâmica, sendo um deles de fabrico manual e o outro a torno. Foi ainda recolhido um lítico. Camada 14 — Sedimentos de coloração castanha de tonalidade escura, composição areno-argilosa, pouco compacta e de granulometria fina. Revelou inclusões de areias. Esta camada foi parcialmente cortada pela estrutura 5. Corresponde ao enchimento da estrutura 6. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Camada 15 — Sedimentos de coloração castanha de tonalidade clara, composição areno-argilosa, medianamente compacta e de granulometria média. Apresentava-se sobre a estrutura 7. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Camada 16 — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade escura, composição arenosa, compacidade friável e granulometria grosseira. O topo encontrava-se muito compacto, podendo corresponder à selagem da estrutura. Esta camada preenche a estrutura 8. Foi exumado um pequeno fragmento de um moinho movente em granito. Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 67 Camada 16A — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade escura, composição areno-argilosa, pouco compacta e de granulometria fina. Revelou inclusões de fragmentos de cerâmica de fabrico manual. Corresponde ao primeiro enchimento da estrutura 8. Foram exumados dois fragmentos de cerâmica de fabrico manual de reduzidas dimensões. Camada 17 — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade escura, composição areno-argilosa, pouco compactos e de granulometria fina. Corresponde ao enchimento da estrutura 9. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Camada 18 — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade escura, composição heterogénea. Por vezes apresentava-se arenosa, outras areno-argilosa. Era medianamente compacta e de granulometria média. Corresponde ao último enchimento da estrutura 13. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Camada 19 — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade escura, composição heterogénea. Apresentava zonas areno-argilosas outras mais limosas apenas, de compactação média e granulometria fina. Revelou inclusões de carvões. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Camada 19A — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade escura, composição heterogénea. Apresentava zonas areno-argilosas outras mais limosas, de compactação média e granulometria fina. Revelou inclusões de carvões. Sedimento muito semelhante à camada 19. Esta foi individualizada por encher um corte de contorno sub-circular nas paredes da estrutura 13. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Camada 20 — Sedimentos de coloração amarelada e tonalidade 68 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! Figura 17. Camada 12 (enchimento da estrutura 5). Figura 18. Camada 13 (enchimento da estrutura 5). Figura 19. Secção da estrutura 13. Figura 20. Perfil da estrutura 13. clara, composição arenosa, pouco compactos e de granulometria grosseira. Esta camada corresponderá a um pequeno abatimento na parede da estrutura 13. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Figura 21. Topo da camada 24. Camada 21 — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade escura, composição areno-argilosa, medianamente compacta e granulometria média. Revelou inclusões de carvões. Corresponde a outro momento do enchimento da estrutura 13. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Camada 22 — Sedimentos de coloração amarelada e tonalidade clara, composição arenosa, pouco compacta e granulometria grosseira. Corresponderá a outro momento de abatimento da parede da estrutura 13. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Camada 23 — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade es- cura, composição areno-argilosa, medianamente compactos e granulometria média. Revelou inclusões de carvões. Corresponde ao primeiro momento do enchimento da estrutura 13. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Camada 24 —Sedimentos de coloração castanha e tonalidade mais escura do que a camada 10. A sua composição era limosa, medianamente compacta e granulometria fina. Revelou inclusões de carvões. Sedimentos registados apenas no quadrado C11. Não foi totalmente escavado pois parece prolongar-se para os cortes. Não foi exumado espólio lítico nem cerâmico. Estruturas Estrutura 1 — Esta estrutura revelou-se particularmente peculiar. A observação do corte deixado pela abertura do caminho parecia revelar uma estrutura com um enchimento único e de secção sensi- Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 69 velmente sub-retangular. Isto não se verificou durante a escavação, tendo a estrutura revelado quatro camadas de enchimento: a camada 3, a camada 3`, camada 3A e a camada 3B. A planta desta estrutura revelou-se sub-retangular com os cantos arredondados e com uma orientação noroeste-sudeste. O perfil deixado pela abertura do caminho revelava que teria uma profundidade máxima de 0,55m e 0,72m de largura máxima. No entanto, após a finalização da escavação verificou-se que a estrutura alargava e se tornava mais profunda, atingindo 0,61m de profundidade, 1,18m de largura na base e 1,10m ao nível do topo. O fundo era aplanado e tinha 2,30m de comprimento. Perante estas características, parte-se do princípio de que a área exposta no corte do caminho correspondia à extremidade noroeste da estrutura. Uma das suas particularidades é o facto de estar assinalada por um bloco de granito local, junto da sua extremidade norte. Este bloco, apesar de ligeiramente inclinado, parecia estar in situ, tendo sido im- plantado durante a primeira fase de construção e utilização da estrutura. O bloco sem qualquer gravura, tem secção poligonal e mede cerca de 0,85m de largura. Estrutura 2 — Esta estrutura, em negativo, apresenta uma planta, em plano sub-retangular com os cantos arredondados, de paredes ligeiramente oblíquas e fundo plano. A sua orientação era nordeste-sudoeste. Apresenta uma largura máxima ao nível do topo de 0,52m e 0,40m ao nível da base e uma profundidade máxima de 0,26m. A vista em secção evidenciava um contorno sub-retangular. Foi possível identificar a deposição de calhaus graníticos nas suas paredes. Provavelmente funcionando como delimitação, visto estes se encontrarem na extremidade nordeste, outro na extremidade sudoeste e ainda dois na lateral. Estrutura 3 — Esta estrutura, em negativo, apresentava uma planta, em plano, sub-retangular com cantos arredondados, de paredes retas 70 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! Figura 22. Estrutura 1 totalmente escavada. Figura 23. Plano final com localização do vaso. Figura 24. Estrutura 2 com as pequenas lages no interior. Figura 25. Planos e perfis da estrutura 2. na lateral este e ligeiramente oblíqua na lateral oeste e um fundo plano. A sua orientação era nordeste-sudoeste. Quanto às suas dimensões apresentava 0,50m de profundidade máxima, 1m de largura ao nível do topo e 0,90m ao nível da base. Uma das sua particularidades é o facto de estar assinalada por um bloco de granito local, sensivelmente no centro da estrutura. Este bloco, encontrava-se bastante inclinado mas a sua base estaria próxima da sua posição original. Estrutura 4 — Esta estrutura é formada por calhaus e blocos graníticos de formato irregular, colocados na vertical e adossados uns aos outros, sem argamassa. Aparentemente parece formar um recinto arredondado, mas não estará já completo. Por um lado foi mutilado pela abertura do caminho de terra batida, por outro lado, alguns dos blocos graníticos parecem já ter desaparecido. O granito é local e nenhum dos blocos apresentava gravuras ou polimento. Ainda assim, um dos blocos apresentava uma forma fálica. Estrutura 5 — Esta estrutura consistia numa vala aberta na camada 4 e que aparentemente circunda exteriormente a estrutura 4. Esta estrutura estava colmatada ao nível do topo por calhaus e blocos graníticos angulosos e de forma irregular. Entre estes blocos foi recolhido um fragmento de moinho movente. Sob esta camada pétrea foram registadas as camadas 12 e 13, ambas preenchiam a estrutura. Estrutura 6 — Esta estrutura vista em plano, tem uma planta sub-retangular com os cantos arredondados. Revelou as paredes ligeiramente oblíquas e fundo irregular. A sua secção era trapezoidal, mais estreita na base. Quanto às suas dimensões apresentava 0,94m de comprimento, 0,24m de largura e 0,38m de profundidade. A camada 14 preenchia esta estrutura, tendo sido esta cortada pela estrutura 5. Estrutura 7 — Durante o processo de escavação percebeu-se que aquilo que foi inicialmente dado como estrutura, não o era de facto. Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 71 Estrutura 8 — Esta estrutura vista em plano, tem uma planta sub-retangular, com cantos arredondados, paredes côncavas e fundo plano, com orientação noroeste-sudeste. Vista em secção apresentava um contorno oval com base ligeiramente arredondada e um pequeno estrangulamento ao nível do topo. Quanto às suas dimensões apresentava 0,70m de largura máxima no topo, 0,90m de comprimento e 0,40m de profundidade. Ao nível do topo existia um depósito bastante compacto, talvez a selá-la. Preenchida pelas camadas 16 e 16a. Possível fossa. Estrutura 9 — Esta estrutura, da sua leitura parcial, apresenta uma planta em plano sub-retangular com paredes ligeiramente oblíquas. A sua vista em secção era retangular, embora a sua base fosse ligeiramente convexa. Quanto às suas dimensões apresentava 0,40m de profundidade. Esta estrutura não foi escavada na sua totalidade, uma vez que estava parcialmente sob a estrutura 4, a qual não foi desmontada. Estrutura 10, 11 e 12 — Após a escavação percebeu-se não se tratar de nenhuma estrutura mas sim de perturbações de raízes ou animais (bioturbação). Estrutura 13 — Esta estrutura revelou uma planta subretangular, com paredes um pouco irregulares, e uma orientação norte-sul. Em secção assumia um contorno em forma de V, mais larga no topo, com 1m de largura, do que na base, com 0,10m de largura. A profundidade máxima escavada foi de 1,44m. Esta estrutura foi preenchida por vários depósitos, separados por camadas de alterite granítica, provavelmente causados pelo abatimento da parede. A estrutura não foi escavada nem registada na sua totalidade, pois prolongava-se para o corte sul. Trata-se de um possível valado que delimitaria uma área, faria a separação entre uma área interior e outra exterior. 72 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! Figura 26. Plano final da estrutura 3. Figura 27. Plano da estrutura 3 evidenciando os diferentes depósitos. Figura 28. Vista parcial da estrutura 4. Figura 29. Alçado da estrutura 4, 6 e 9. Estrutura 14 — Esta estrutura prolongava-se para lá do corte este do quadrado C11, no entanto, foi possível verificar que correspondia a um conjunto de blocos graníticos de pequenas dimensões a formar um contorno ligeiramente sub-circular, sob a camada 24. 5. Os dados e interpretação A necrópole de Chã da Mourisca foi alvo de duas intervenções arqueológicas de emergência, que incidiram, inicialmente, sobre duas estruturas em negativo, que se encontravam nos cortes de um caminho em terra batida. Para tal foram implantadas duas sondagens de 2x2m, cada uma delas sobre as estruturas até então detetadas. Mais tarde foi necessário proceder a um alargamento, visto uma outra estrutura ter sido mutilada pela abertura do estradão e complementar a escavação de uma das estruturas inicialmente intervencionadas. Nesta segunda in- tervenção foi necessário fazer um alargamento significativo da área inicialmente intervencionada. A sondagem 1 implantada sobre uma possível fossa permitiu encontrar uma estrutura desse tipo, de perfil oval, em forma de “saco”, apesar de estar já numa fase avançada de destruição. Esta estrutura tinha a particularidade de conter aquilo que interpretamos como sendo um buraco de poste, de contorno circular e relativamente profundo, o que é muito raro neste tipo de realidades, podendo pela sua profundidade e largura (0,42m por 0,22m) ter contido um tronco de madeira de alguma envergadura. A inexistência de espólio artefactual no interior desta estrutura, também não nos permite aferir a sua cronologia mesmo que de forma relativa. Ainda assim, a existência de carvões poderá contribuir para uma melhor compreensão da sua cronologia se datados por radiocarbono. Contudo, como hipótese de trabalho não nos parece descabido pensar que esta foi construida durante Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 73 a Pré-História Recente tendo em conta a existência, nas imediações, de um monumento megalítico e outras estruturas (algumas inserindo-se na Idade do Bronze). A sondagem 2 veio a tornar-se numa área de escavação significativa após o alargamento. Aqui foram detectadas diversas estruturas. A estrutura 1, aberta na alterite, tinha uma planta, em plano, sub-rectangular e secção também ela sub-rectangular com uma orientação noroeste-sudeste, com cerca de 2.30m de comprimento, 1,10m de largura (ao nível do topo) e de 1,18m de largura (ao nível da base), e 0,61m de profundidade. Esta estava sinalizada com um bloco de granito local. A forma, contexto e a deposição do vaso de bordo horizontal levam a considerar que se está perante uma estrutura de enterramento do tipo das sepulturas planas, embora algo atípica. A ter em conta que para a Idade do Bronze do noroeste Português se tem defendido a existência de marcadores de sepulturas planas. Tal é o que parece ocorrer no sítio do Pego, freguesia de Cunha, em Braga, onde “the angular pebble identified at the south-west top the grave 11, interpreted as a marking element, lead us to hypothesize that some of these structures may have been marked with perishable materials and or additional structures” (Sampaio & Bettencourt, 2014:54). Tendo em conta a cronologia atribuída a este tipo de vasos é de todo aceitável enquadrar a abertura desta estrutura durante o 2º milénio AC, muito provavelmente, no Bronze Médio (Bettencourt, 1997, 2010, 2011, 2013; Sampaio, 2014a, 2017). A reutilização desta “eventual sepultura plana”, está bem patente na camada 3, 3`e 3b e assume um carácter particular pois parece que quem a reabriu conhecia a sua localização e orientação exacta. Tal pode ser explicado se o monólito granítico tivesse sido um claro marcador da sepultura ali existente, o que teria tornado visível a “invisibilidade” da estrutura enterrada, para aqueles que por ali passassem. A reutilização não se 74 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! Figura 30. Plano inicial/topo da estrutura 5. Figura 31. Plano final das estruturas 5, 6, 8 e 9. Figura 32. Plano final da estrutura 8. Figura 33. Perfil da estrutura 8. (por Luis Coutinho). estende pela totalidade da sepultura e a sua funcionalidade é desconhecida, dadas as características de enchimento e dos materiais aí encontrados. No entanto, as suas características técnicas, formais e decorativas, inserem-nos na Idade do Bronze, como por exemplo, a presença de um bordo com um lábio serrilhado que é conhecido no Noroeste de Portugal em contextos do Bronze Médio ou Bronze Final (Bettencourt & Fonseca, 2011). A estrutura 2, uma possível sepultura plana também ela aberta na alterite, apresentava quando vista em planta, um plano e secção sub-rectangulares, com fundo plano. Embora não tivesse sido exumado qualquer espólio artefactual ou osteológico, a presença de blocos graníticos a delimitá-la e a presença de outras sepulturas planas neste contexto, permitiu-nos equacionar essa mesma hipótese. Também poderia ter tido uma outra função devido às suas reduzidas dimensões, como por exemplo o depósito de cinzas resultantes de uma cremação. Esta estrutura encontra-se nas imediações das estruturas 1 e 3. A estrutura 3, uma sepultura plana aberta na alterite, apresentava quando vista em planta, um plano sub-retangular com os cantos arredondados, secção também sub-retangular e fundo plano. À semelhança das outras estruturas não foram detectados restos osteológicos no seu interior. Este estava preenchido por duas camadas sedimentares, a camada 9 mais clara e junto às paredes da estrutura e a camada 8 mais escura na área central, sugerindo o contorno de um corpo. Tal como na estrutura 1 deste sector, esta revelou a deposição de um vaso do tipo largo bordo horizontal (Bettencourt, 1999). O recipiente estava fragmentado possivelmente devido a fenómenos naturais como a acção de raízes ou o peso dos próprios sedimentos sobre a peça. Curioso é o facto desta estrutura também se apresentar sinalizada por um bloco de granito local. O monólito encontrava-se tombado no sentido do centro da sepultura, mas com a sua base in situ. De facto, durante o processo Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 75 de decomposição, o cadáver perde volume pela degradação dos tecidos moles, sendo os espaços preenchidos pelos sedimentos que lhe estão ao redor (Ferreira, 2012), o que de certa maneira poderá explicar o tombar do monólito. A cronologia desta sepultura deverá situar-se na Idade do Bronze, possivelmente no Bronze Médio ou então no Bronze Inicial (Bettencourt, 2010; Sampaio, 2014). Importa salientar que os dois vasos exumados, apresentavam características diferentes um do outro. Enquanto o vaso da estrutura 1 se apresentava com decoração incisa metopada na zona interna da aba e sem asa, o vaso da estrutura 3 não tinha qualquer decoração e exibia duas asas. Correspondem estas diferenças a algum significado do ritual de enterramento? Embora não tenhamos uma resposta para esta questão, não será absurdo colocá-la. Alguns autores tinham já levantado a hipótese de as decorações dos vasos de largo bordo horizontal, associados a contextos funerários, poderem não ter sido escolhidas ao acaso, como é o caso do sítio do Pego, em Braga, onde foi possível detectar algumas recorrências estilísticas (Sampaio, 2014). A este das sepulturas planas, foi possível identificar uma série de estruturas muito peculiares. A estrutura 4 evidencia um alinhamento de blocos graníticos de grandes dimensões, formando um contorno sub-circular. Inicialmente foi colocada a hipótese de estarmos na presença de um tumulus muito baixo. Mas com o decorrer da escavação percebeu-se estarmos na presença de outro tipo de estrutura o que nos leva a descartar a primeira hipótse. Esta estrutura estava associada à camada 6, muito escura e com a presença de carvões muito frequentes, bem como à presença de cerâmicas pré-históricas. Esta camada existia apenas no interior do alinhamento de blocos graníticos. Um dos blocos que compõe o alinhamento apresenta uma forma fálica mas não apresentava qualquer gravura. A escolha deste monólito não pareceu aleatória mas sim intencional. A estrutura 5 contorna a estrutura 4 pelo seu lado externo. Manifestou-se como sendo uma pequena vala preenchida pelas camadas 12 e 13. O topo desta estrutura estava colmatado parcialmente por um imbricado de calhaus em granito local, entre eles um fragmento de moinho polido. A cronologia desta estrutura não foi definida, ainda assim pode ser enquadrada no lato período da Pré-História Recente, tendo em conta que estará relacionada com a estrutura 4. A sua funcionalidade pareceu-nos apontar no sentido de delimitador de espaço, exprimindo um interior e um exterior. Teria funcionado como um local de execução de rituais de cremação ou de tratamento do corpo? Estaria antes relacionado com ritos ligados à fertilidade devido à presença de um bloco fálico? Não existem respostas, ainda que futuras análises aos carvões e sedimentos possam vir a revelar mais dados por agora desconhecidos. As estruturas 6 e 9 pela sua semelhança morfológica, pois em 76 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! O conjunto das duas intervenções arqueológicas realizadas na Chã da Mourisca tiveram como objectivo perceber que tipo de estruturas tinham sido afetadas pela abertura de um caminho de terra batida e delas exumar o máximo de informação possível antes do seu desaparecimento. planta e secção são sub-retangulares com comprimentos, larguras e profundidades idênticas, faz-nos levantar a hipótese de serem alvéolos dentro dos quais terão estado inseridos monólitos pétreos. A estrutura 10 é uma pequena “fossa” escavada no substrato geológico revelando mais uma vez a grande quantidade e diversidade tipológica das estruturas existentes na Chã da Mourisca. Finalmente a estrutura 13 que foi apenas parcialmente escavada, sugere ser um valado de secção em V, tendo sido preenchido por vários depósitos, alguns dos quais com carvões. Importa salientar que esta estrutura parece ser anterior à estrutura 4 e 5. Torna-se evidente que este sítio teve uma larga ocupação, com sucessivas adições/reformulações de estruturas. Fica também claro que este espaço se relacionou com os mortos. Por um lado as sepulturas planas fazem-nos crer que aí foram depositados corpos e ou cinzas. Por outro lado as estruturas 4, 5, 6, 9 e 13 parecem indiciar outra funcionalidade. Talvez algumas estruturas tivessem um cariz mais simbólico e/ ou ritual. Mas os dados disponíveis até ao momento apenas nos permitem levantar algumas hipóteses. O conjunto das duas intervenções arqueológicas realizadas na Chã da Mourisca tiveram como objectivo perceber que tipo de estruturas tinham sido afetadas pela abertura de um caminho de terra batida e delas exumar o máximo de informação possível antes do seu desaparecimento. Bibliografia BETTENCOURT, A.M.S. 1999. A paisagem e o homem na bacia do Cávado durante o II e o I milénios AC. Braga: Universidade do Minho. BETTENCOURT, A.M.S. 2010. “La Edade del Bronce en el Noroeste de la Península Ibérica: una análisis a partir de las prácticas funerárias”, Trabajos de Prehistoria 67 (1): 139-173. BETTENCOURT, A.M.S.; FONSECA, J. (2011). “O povoado da Idade do Bronze de Lavra, Matosinhos. Contributos para o estudo do Bronze Médio no litoral Norte”, Centro de Investigação Transdisciplinar. Cultura, Espaço e Memória – CITCEM. SAMPAIO, H.H.; MACIEL, T.; BETTENCOURT, A.M.S.; SIMÕES, P.P. (2013). “A Mamoa do Carreiro da Quinta, Laje, Vila Verde, NO de Portugal: resultados de uma escavação de emergência”. Conimbriga 52: 37-65. SAMPAIO, H.A.; BETTENCOURT, A.M.S. (2014). Between the valley and the hill top. Discoursing on the spatial importance of the Pego´s Bronze Age necropolis, Braga (NW Portugal)”. Estudos do Quaternário 10:45-57. SAMPAIO, H.A. (2014). A Idade do Bronze na bacia do rio Ave (Noroeste de Portugal). Braga: Universidade do Minho (PhD. Thesis). SAMPAIO, H.A. (2017). A necrópole da Idade do Bronze do Corvilho (Santo Tirso): novos dados para a sua contextualização cronológica. Arqueologia em Portugal. Estado da Questão. Lisboa: Associação de Arqueólogos Portugueses, pp. 801-809. Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 77