A Chã da Mourisca na Idade do
Bronze. Um sítio arqueológico
em Refóios do Lima
The Chã da Mourisca in the
Bronze Age. An archaeological
site in Refóios do Lima
A necrópole da Chã da Mourisca foi descoberta acidentalmente em
2010, tendo sido detetadas, na altura, três estruturas arqueológicas
distintas. As primeiras duas encontravam-se nos perfis de um
caminho em terra batida, onde foram visualizadas estruturas em
negativo em cada um dos lados do caminho. Situado a cerca de 50m
a norte deste caminho foi detetado um monumento megalítico de
cariz funerário, e relativamente bem perceptível na paisagem. Após
uma primeira intervenção arqueológica foi necessário realizar uma
segunda escavação. Os dados obtidos durante as duas campanhas
arqueológicas permitiram pôr a descoberto um conjunto de três
sepulturas planas, uma fossa de perfil em “saco” entre outras
estruturas de difícil caracterização com os dados até agora disponíveis.
The Chã da Mourisca necropolis was accidentally discovered in
2010, with three distinct archaeological structures being detected
at the time. The first two were found on the side view of a dirt
path, where they were visualized on each side of the path. Located
about 50m north of this path, a funerary megalithic monument
was detected, and relatively well noticeable in the landscape.
After the first archaeological intervention, a second excavation
was necessary. The data captured during the two archaeological
campains brought to light a set of three flat graves, a “bag” side
view pit and other structures that are difficult to characterize with
the data available so far.
Chã da Mourisca, Idade do Bronze,
Sepulturas Planas,
Vasos de bordo horizontal
Chã da Mourisca, Bronze Age,
Flat graves,
Horizontal edge pots
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 57
Luciano M. M. Vilas Boas
1.
Introdução
A
necrópole da Chã da Mourisca foi acidentalmente descoberta em 2010, tendo sido
detetadas na altura três estruturas arqueológicas distintas.
A mais visível representava um
monumento megalítico funerário,
mais comummente conhecida por
mamoa. Este monumento funerário
dista cerca de 50 m a norte de um
caminho de terra batida. Foi exatamente nos dois perfis do estradão
em terra batida onde foi possível
observar o desenho de outras duas
estruturas. No perfil norte detetaram-se os limites de uma estrutura
que se assemelhava a uma “fossa”
em forma de saco. No perfil sul foi
detetada uma outra estrutura de
contorno sub-retangular.
Face à exposição e degradação
que estas estruturas estavam a ser
sujeitas, provocadas pela erosão
dos sedimentos do seu interior, foi
realizada em 2018, uma intervenção arqueológica de emergência,
com vista à inventariação e salvaguarda das mesmas, evitando assim que estas desaparecessem sem
terem sido estudadas.
Os trabalhos arqueológicos de salvaguarda contemplaram a abertura
de duas sondagens, tendo sido os
resultados desta intervenção posteriormente publicados por Vilas
Boas, L. e Oliveira, L., 2018.
Após a primeira intervenção ficou
claro que a afetação do sítio arqueo-
lógico não tinha incidido apenas sobre as duas estruturas em negativo
patentes em ambos os lados do caminho. Foi possível aferir a existência
de uma outra estrutura de maiores
dimensões, que tinha sido também
ela parcialmente mutilada pela abertura do caminho. Um montículo de
terra ligeiramente saliente parecia indicar a presença de um tumulus. Daí
ter sido solicitado à tutela um alargamento da área de escavação para se
intervencionar o montículo
O presente artigo versará apenas
sobre parte dos dados obtidos nas
duas campanhas de escavação na
Chã da Mourisca e tem por base o
relatório final entregue e aprovado
pela tutela. Serão analizados os dados ainda que de uma forma sumária, aguardando-se um estudo mais
exaustivo das cerâmicas e a realização de análises complementares que
serão publicados posteriormente.
A segunda intervenção foi efetuada em articulação com a Universidade do Minho (Dra. Ana
Bettencourt), tendo feito parte do
programa curricular dos alunos
que nela participaram, como trabalhos práticos. Estiveram presentes na segunda campanha: Margarida Coelho e André Barroso
do 2º ano da licenciatura; Sérgio
Madeira e Luís Coutinho do 3º
ano da licenciatura; David Abreu,
Cláudia Vieira, Elisabete Costa e
Marta Borges alunos de mestrado.
2.
Objetivos
O objectivo das duas intervenções
58 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro!
A necrópole da Chã da
Mourisca foi acidentalmente
descoberta em 2010, tendo
sido detetadas na altura três
estruturas arqueológicas
distintas.
Figura 2.
Localização da necrópole de Chã da Mourisca
em excerto da Carta Militar, nº 28, à escala
1:25000.
Fonte · IGEOE.
foi a caraterização das estruturas
em risco, perceber como se poderiam articular com o monumento
megalítico e prospetar as imediações para detetar novas ocorrências arqueológicas. A avaliação
cronológico-cultural e funcional
das duas estruturas em negativo
foi também um dos nossos focos,
bem como a avaliação do seu valor
científico/patrimonial, de forma a
contribuir para o conhecimento
da Pré-História Recente na bacia
do rio Lima.
3.
Localização
administrativa, geológica e
contexto físico e ambiental
A necrópole da Chã da Mourisca
localiza-se no lugar da Vacariça,
freguesia de Refóios do Lima, Con-
celho de Ponte de Lima, Distrito de
Viana do Castelo. As suas coordenadas geográficas em graus decimais
segundo o sistema WGS 84 são:
8º32`16.34`` W e 41º49`30.18``N e
implanta-se à altitude de 697 metros. Este sítio localiza-se numa
plataforma, na base da vertente
norte do monte do Penedo Branco,
situado no prolongamento sudoeste
da serra do Corno do Bico. A nordeste da necrópole existe um alvéo-
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 59
lo designado por Chã da Lagoa de
onde nasce um ribeiro sazonal que
aflui para o ribeiro das Estacas, que
alimenta o rio Cabrão, afluente do
rio Lima. A oeste corre o ribeiro
de Barreiros, afluente do ribeiro de
Pias que desagua no rio Labruja,
também ele afluente do rio Lima.
Segundo a Carta Geológica de Portugal, folha 5A, na escala 1:50000,
o substrato rochoso é composto por granito porfiróide de grão
grosseiro ou médio a grosseiro,
calco-alcalino, biotítico, que aflora
abundantemente à superfície. Nas
proximidades (cerca de 5 e 6 km)
para oeste, existem diversas jazidas
primárias e explorações mineiras
abandonadas de estanho.
O coberto vegetal é composto essencialmente por vegetação arbustiva e herbácea onde o tojo, giestas,
fetos e ervas abundam. Mas a vegetação arbórea também se faz re-
presentar com a presença de eucaliptos, carvalhos e pereiras bravas.
A visibilidade a norte, oeste e a sul
é pouco abrangente e restringe-se
às vertentes que rodeiam o local,
com excepção para este-sudeste
com visibilidade para as serras
Amarela, Gerês e Mezio.
4.
Escavação Arqueológica
4.1. Sondagem 1
Esta sondagem materializou-se
com a implantação de um quadrado de 2m x 2m, tentando abarcar
a restante estrutura e também a
sua área mais limítrofe.
Figura 3.
Localização da necrópole de Chã da Mourisca
Estratigrafia e Espólio
Camada 1 — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração, que
60 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro!
em excerto da Carta Geológica, 5-A (Viana do
Castelo) à escala 1:50000.
Fonte · LNEG.
Figura 4.
Estrutura 1 durante o processo de escavação.
Figura 5.
Estrutura 1 após terminus da escavação.
se revelou castanha escura, de composição areno-argilosa e bastante
orgânica, pouco compactos e com
granulometria média. Revelou inclusões de raízes e de calhaus (nota em
rodapé para classificação de calhau).
Corresponde à camada humosa.
Camada 2 — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração, que se
revelou castanha clara, de composição areno-argilosa, medianamente compactos e de granulometria
média a fina. Revelou inclusões de
raízes e de calhaus angulosos. Corresponde a um solo sob a camada
humosa.
Camada 3 — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração, que se
revelou castanha escura, de composição areno-argilosa, compactos
e de granulometria média a grosseira. Revelou inclusões de carvões
de pequena dimensão. Corresponde ao enchimento da estrutura 1.
Camada 3A — Sedimentos de tonalidade castanha clara, de composição
arenosa, pouco compactos e granu-
lometria média a grosseira. Camada
de contacto com a alterite granítica.
Camada 4 — Alteríte granítica (nível geológico).
Nesta sondagem não foi detetado
qualquer tipo de espólio cerâmico,
lítico ou metálico. Foi recolhida
a totalidade dos sedimentos para
uma posterior flutuação a seco e/
ou análises sedimentares, já que
durante o processo de escavação se
detetaram alguns carvões de reduzidas dimensões.
Estrutura
Esta estrutura, mutilada pela abertura do caminho, encontrava-se
mais destruída e com menos sedimentos do que quando foi encontrada em 2010. Tinha secção oval
com o topo mais estrangulado e
base arredondada. No fundo existia um buraco de poste. A profundidade máxima da secção da fossa escavada era de 1.02 m e a sua
largura máxima era de 0.80 m. O
buraco de poste tinha de profun-
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 61
didade 0, 42 m e um diâmetro de
0,22 m. Não nos foi possível aferir a
relação estratigráfica entre a estrutura e a camada 1 e 2, ainda assim,
pareceu-nos existir um enchimento
único correspondente à camada 3.
A camada 3A pareceu-nos a degradação das paredes da própria fossa
em contacto com os sedimentos que
a preenchiam. A camada 1 parecia
tapar a fossa, ainda que por uma
fina camada de sedimentos.
4.2. Sondagem 2
Na sondagem 2 foram intervencionados um total de 33m2 (quadrículas C-1, C0,C1, C2, C5,C6, C7,
C8, C9, C10, C11, D-2, D-1, D0,
D5, D6, D7, D8, D9, D10, D11,
E-2, E-1, E0, E6, E7, E8, E9, E10,
E11, F-1, F0 e G-1). A escolha das
áreas a intervir baseou-se nos dados do georadar ou pela presença
de blocos graníticos que pudessem
pertencer a uma estrutura.
Estratigrafia e Espólio
O espólio será descrito de uma for-
ma muito sucinta, e aguardará um
estudo mais exaustivo, o qual será
correlacionado com outros dados
culminando numa publicação mais
pormenorizada.
Camada 1 — Sedimentos que foram registados em todos os quadrados intervencionados. Correspondia a um depósito de coloração
castanha escura, de composição
areno-argilosa e compacidade média. A sua granulometria era grosseira. Revelou inclusões de blocos
graníticos, calhaus, carvões, raízes, cerâmica pré-histórica e seixos
rolados. Nos quadrados D-1, D-2,
E-2 e G-1 a camada era arenosa.
Corresponde à camada humosa.
Foram exumados desta camada 11
fragmentos de cerâmica, aparentemente de fabrico manual. Foram
igualmente recolhidos 23 líticos.
Um pequeno fragmento de um objeto plástico foi também recolhido.
Camada 2 — Sedimentos que foram registados na quase totalidade
dos quadrados intervencionados.
A excepção foi o quadrado G-1.
62 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro!
Figura 6.
Perfil da estrutura 1 da sondagem 1.
Figura 7.
Plano final da estrutura 1 da sondagem 1.
Figura 8.
Plano inicial da sondagem 2 (1ª campanha).
Figura 9.
Plano inicial do alargamento (2ª campanha).
Sedimento que se manifestou homogéneo quanto à sua coloração,
que se revelou castanha escura.
A sua composição era areno-argilosa, de granulometria média a
fina. Verificou-se que esta camada
era mais escura junto à estrutura
4. Nos quadrados D-1, D-2, E-2
e G-1, apresentava uma coloração
negra, de grão fino, com a presença de alguns calhaus, nomeadamente sobre as estruturas 2 e 3.
Cobria a camada 4 e era coberta
pela camada 1.
Foram exumados 8 fragmentos de
cerâmica, aparentemente 7 são de
fabrico manual e o restante é de
fabrico a torno. Também foram
recuperados 12 líticos, dos quais
se destaca 1 fragmento de moinho
movente em granito, 2 possíveis
moventes em granito, 1 resto de
talhe em sílex, 1 seixo, 4 fragmentos de seixo e 3 lascas em quartzo.
Camada 3 — Sedimentos heterogéneos quanto à sua coloração,
essencialmente castanha escura,
apresentando algumas manchas
mais negras e mais orgânicas e ou-
tras mais claras e arenosas. A sua
composição era areno-argilosa e
a sua compacidade média, assim
como a granulometria. Esta camada localizava-se na zona central da
estrutura. A base desta camada era
constituída por sedimentos homogéneos, mais negros e orgânicos.
Revelou a inclusão de cerâmica e
de líticos. Camada de enchimento
da estrutura e de reutilização.
Foram exumados 5 fragmentos
de cerâmica aparentemente de fabrico manual e 3 líticos, sendo 2
fragmentos corticais de seixos e o
restante um micrólito em quartzo
hialino.
Camada 3’ — Sedimentos mais
claros do que a camada 3, revelando-se castanhos claros. A sua
composição era areno-argilosa e a
sua compacidade média tal como
a sua granulometria. Revelou inclusões de alguns carvões. Foram
recolhidas amostras de sedimentos para possíveis análises sedimentares. Esta camada corresponde ao enchimento da estrutura
na sua reutilização.
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 63
Não foi detectado espólio lítico ou
cerâmico.
Camada 3A — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração revelando-se acinzentados, de composição arenosa, medianamente
compactos e de granulometria média a grosseira. Estavam presentes
junto às paredes laterais da estrutura e existiam desde o topo à
base, nomeadamente na área onde
se encontrava o bloco granítico,
isto é, na extremidade noroeste da
estrutura. Revelou inclusões de radículas e de cerâmica. Trata-se do
enchimento mais antigo da estrutura, isto é, corresponde à utilização primária da estrutura.
Foi exumado um vaso de largo
bordo horizontal, um fragmento
de cerâmica de fabrico manual e
um lítico.
Camada 3B — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração
revelando-se castanhos muito escuros, de composição orgânica,
medianamente a pouco compactos, granulometria média a fina.
Esta camada estava presente na
área central da estrutura e na sua
base. Corresponderá à zona onde
se terá depositado o corpo durante a reutilização da sepultura. Não
revelou a presença de espólio arqueológico, mas foram recolhidas
amostras de solo para possíveis
análises sedimentares.
Camada 4 — Sedimentos presentes
em todos os quadrados escavados
na totalidade e correspondia a um
depósito de coloração amarelada,
por vezes acinzentada, de composição areno-argilosa, de granulometria média a fina, muito compacta
e com inclusões de carvões e raízes. Corresponde possivelmente ao
contacto da base da camada 2 com
o substrato geológico.
Foram exumados 6 fragmentos
de cerâmica, sendo que 4 deles
aparentam um fabrico manual e
os restantes 2 fragmentos aparentam um fabrico a torno. Também
foram recolhidos 3 líticos, um
fragmentos de moínho movente
em granito, um resto de núcleo
em sílex e um outro atípico. Foi
64 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro!
Figura 10.
Perfil estratigráfico da sepultura plana.
Figura 11.
Largo bordo horizontal exumado da estrutura 1.
encontrado um fragmento de um
possível colorante.
Camada 5 — Sedimentos que
correspondem ao enchimento da
estrutura 2 e caracterizava-se por
ser um depósito de coloração castanho escuro.
Não foi detectado espólio lítico ou
cerâmico.
Figura 12.
Largo bordo horizontal exumado da estrutura 3
(sepultura plana).
Camada 6 — Sedimentos que estavam circunscritos ao interior da
estrutura 4, nos quadrados C6,
C7, D7, C8, D8,C9, D9,C10, C11
e D11. Eram homogéneos quanto à sua coloração que se revelou
castanho escuro, de composição
areno-argilosos, de granulometria
fina e pouco compacta. Revelou
inclusões de areão, calhaus, carvões muito frequentes, raízes e
ainda cerâmica comum de fabrico
manual. Possível nível de circulação associado à estrutura 4.
Foram recolhidos 5 fragmentos de cerâmica aparentemente de fabrico manual, bem como também 10 líticos.
Camada 7 — Sedimentos heterogéneos quanto à sua coloração,
ora apresentavam uma tonalidade
castanha clara ora uma tonalidade
bastante escura. A sua composição
era arenosa apresentando uma granulometria média e compactação
também ela média. Revelou inclusões de areão e raízes. Corresponde ao enchimento da estrutura 3.
Foi exumado 1 lítico.
Camada 8 — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração
que se manifestava castanha es-
cura, composição areno-argilosa
de granulometria média e pouco
compacta. Revelou inclusões de
carvões e raízes frequentes. Inserido neste depósito foi recolhido um
recipiente cerâmico in situ, do tipo
largo bordo horizontal, um arranque de asa e um grande bloco granítico, possivelmente a servir de
marcador. Esta camada preenchia
a zona central da estrutura 3.
Foram exumados 5 fragmentos
de cerâmica, aparentemente de fabrico manual, sendo um deles um
arranque de asa. Foi igualmente
detectado um vaso de largo bordo
horizontal fragmentado em três
partes.
Camada 9 — Sedimentos de coloração amarelada, composição
arenosa, granulometria grosseira
e medianamente compacta. Revelou inclusões de carvões e raízes.
Este depósito encontrava-se apenas junto aos limites da estrutura,
parecendo ser uma degradação da
alterite granítica misturada com o
sedimento de enchimento da estrutura. Camada de enchimento
da estrutura 3.
Não foi identificado espólio lítico
ou cerâmico.
Camada 10 — Sedimentos homogéneos quanto à sua coloração,
que se revelou castanha mais escura do que a camada que se sobrepunha. A sua composição era
areno-argilosa de granulometria
fina e compactação média. Revelou inclusões de calhaus, carvões
e raízes. Verificou-se também
a presença de cerâmica comum
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 65
pré-histórica, de líticos polidos e
outros talhados. Sedimento que
preenchia o interior da estrutura
4, nos quadrados C6, C7, D7, C8,
D8, C9, D9, C10, C11 e D11.
Foram exumados 6 fragmentos
de cerâmica de fabrico manual de
reduzidas dimensões. Foi recolhido um nódulo possivelmente de
colorante. Foram também encontrados 9 líticos. Destes, um corresponde a 1 fragmento de moinho
manual (movente), 1 seixo de reduzidas dimensões, 3 fragmentos
corticais de seixos, 3 possíveis
restos de talhe em quartzo e uma
lasca em quartzo hialino.
Camada 10A — Sedimentos de
coloração acinzentada, composição arenosa e de granulometria
grosseira, por vezes composta
por areão e calhaus pequenos de
compactação friável. Este depósito continha pequenos fragmentos
de cerâmica comum pré-histórica.
Este sedimento manifestou-se nos
quadrados C7, C8, D7, D8 e E8.
Foram exumados 4 fragmentos de
cerâmica aparentemente de fabri-
co manual. Foi igualmente recolhido 1 lítico.
Camada 11 — Sedimentos de coloração castanha clara, composição
areno-argilosa, de granulometria
média e medianamente compacta.
Possivelmente corresponde à camada 4 no exterior da estrutura
4, isto é, camada de contacto com
a alterite granítica.
Foram exumados 3 pequenos
fragmentos de cerâmica aparentemente de fabrico manual. Também foi recuperado um fragmento
cortical de seixo quartzítico.
Camada 11A — Sedimentos de
coloração acinzentada, de composição arenosa e granulometria
grosseira revelando uma fraca
compacidade. Este sedimento
preenchia a fossa 1.
Camada 12 — Sedimento de coloração acinzentada, composto por
areias de granulometria grosseira
e compacidade fraca. Este depósito ao nível do topo continha grande quantidade de blocos graníti-
66 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro!
Figura 13.
Camada 7 (enchimento da estrutura 3).
Figura 14.
Camada 8 e 9 (enchimento da estrutura 3).
Figura 15.
Camada 10 e 12 (estrutura 4).
Figura 16.
Camada 11A (estrutura 4).
cos, entre os quais alguns polidos.
Foram exumados 11 fragmentos
cerâmicos. Sendo que apenas 3 deles parecem ser de fabrico manual.
Os restantes 8 parecem apresentar
marcas de torno, sendo que destes,
4 pertencem a partes de bordo. Os
materiais de época histórica poderão ter migrado por fenómenos
de bioturbação. Foi ainda recuperado um pequeno fragmento de
moinho manual em granito e outros dois de maior dimensão.
Camada 13 — Sedimentos de coloração castanha de tonalidade
escura, sendo a sua composição
areno-argilosa, de compacidade
média e granulometria mais fina
do que a anterior. Revelou inclusões de areias, carvões e cerâmica
comum. Corresponde a um segundo enchimento da estrutura 5.
Foram exumados dois fragmentos
de cerâmica, sendo um deles de
fabrico manual e o outro a torno.
Foi ainda recolhido um lítico.
Camada 14 — Sedimentos de coloração castanha de tonalidade
escura, composição areno-argilosa, pouco compacta e de granulometria fina. Revelou inclusões de
areias. Esta camada foi parcialmente cortada pela estrutura 5.
Corresponde ao enchimento da
estrutura 6.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Camada 15 — Sedimentos de coloração castanha de tonalidade
clara, composição areno-argilosa,
medianamente compacta e de granulometria média. Apresentava-se
sobre a estrutura 7.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Camada 16 — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade escura,
composição arenosa, compacidade
friável e granulometria grosseira.
O topo encontrava-se muito compacto, podendo corresponder à selagem da estrutura. Esta camada
preenche a estrutura 8.
Foi exumado um pequeno fragmento de um moinho movente em
granito.
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 67
Camada 16A — Sedimentos de
coloração castanha e tonalidade
escura, composição areno-argilosa, pouco compacta e de granulometria fina. Revelou inclusões de fragmentos de cerâmica
de fabrico manual. Corresponde
ao primeiro enchimento da estrutura 8.
Foram exumados dois fragmentos
de cerâmica de fabrico manual de
reduzidas dimensões.
Camada 17 — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade escura, composição areno-argilosa,
pouco compactos e de granulometria fina. Corresponde ao enchimento da estrutura 9.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Camada 18 — Sedimentos de
coloração castanha e tonalidade
escura, composição heterogénea.
Por vezes apresentava-se arenosa,
outras areno-argilosa. Era medianamente compacta e de granulometria média. Corresponde ao último enchimento da estrutura 13.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Camada 19 — Sedimentos de
coloração castanha e tonalidade
escura, composição heterogénea.
Apresentava zonas areno-argilosas outras mais limosas apenas,
de compactação média e granulometria fina. Revelou inclusões de
carvões.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Camada 19A — Sedimentos de
coloração castanha e tonalidade
escura, composição heterogénea.
Apresentava zonas areno-argilosas
outras mais limosas, de compactação média e granulometria fina.
Revelou inclusões de carvões. Sedimento muito semelhante à camada
19. Esta foi individualizada por encher um corte de contorno sub-circular nas paredes da estrutura 13.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Camada 20 — Sedimentos de coloração amarelada e tonalidade
68 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro!
Figura 17.
Camada 12 (enchimento da estrutura 5).
Figura 18.
Camada 13 (enchimento da estrutura 5).
Figura 19.
Secção da estrutura 13.
Figura 20.
Perfil da estrutura 13.
clara, composição arenosa, pouco compactos e de granulometria
grosseira. Esta camada corresponderá a um pequeno abatimento na
parede da estrutura 13.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Figura 21.
Topo da camada 24.
Camada 21 — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade escura,
composição areno-argilosa, medianamente compacta e granulometria
média. Revelou inclusões de carvões. Corresponde a outro momento do enchimento da estrutura 13.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Camada 22 — Sedimentos de coloração amarelada e tonalidade
clara, composição arenosa, pouco
compacta e granulometria grosseira. Corresponderá a outro momento de abatimento da parede da
estrutura 13.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Camada 23 — Sedimentos de coloração castanha e tonalidade es-
cura, composição areno-argilosa,
medianamente compactos e granulometria média. Revelou inclusões de carvões. Corresponde ao
primeiro momento do enchimento
da estrutura 13.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Camada 24 —Sedimentos de coloração castanha e tonalidade
mais escura do que a camada 10.
A sua composição era limosa, medianamente compacta e granulometria fina. Revelou inclusões de
carvões. Sedimentos registados
apenas no quadrado C11. Não foi
totalmente escavado pois parece
prolongar-se para os cortes.
Não foi exumado espólio lítico
nem cerâmico.
Estruturas
Estrutura 1 — Esta estrutura revelou-se particularmente peculiar.
A observação do corte deixado
pela abertura do caminho parecia
revelar uma estrutura com um enchimento único e de secção sensi-
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 69
velmente sub-retangular. Isto não
se verificou durante a escavação,
tendo a estrutura revelado quatro
camadas de enchimento: a camada
3, a camada 3`, camada 3A e a camada 3B. A planta desta estrutura
revelou-se sub-retangular com os
cantos arredondados e com uma
orientação noroeste-sudeste. O perfil deixado pela abertura do caminho revelava que teria uma profundidade máxima de 0,55m e 0,72m
de largura máxima. No entanto,
após a finalização da escavação verificou-se que a estrutura alargava e
se tornava mais profunda, atingindo 0,61m de profundidade, 1,18m
de largura na base e 1,10m ao nível
do topo. O fundo era aplanado e
tinha 2,30m de comprimento. Perante estas características, parte-se
do princípio de que a área exposta
no corte do caminho correspondia à
extremidade noroeste da estrutura.
Uma das suas particularidades é o
facto de estar assinalada por um
bloco de granito local, junto da
sua extremidade norte. Este bloco,
apesar de ligeiramente inclinado,
parecia estar in situ, tendo sido im-
plantado durante a primeira fase de
construção e utilização da estrutura. O bloco sem qualquer gravura,
tem secção poligonal e mede cerca
de 0,85m de largura.
Estrutura 2 — Esta estrutura, em
negativo, apresenta uma planta,
em plano sub-retangular com os
cantos arredondados, de paredes
ligeiramente oblíquas e fundo plano. A sua orientação era nordeste-sudoeste. Apresenta uma largura
máxima ao nível do topo de 0,52m
e 0,40m ao nível da base e uma
profundidade máxima de 0,26m.
A vista em secção evidenciava um
contorno sub-retangular.
Foi possível identificar a deposição de calhaus graníticos nas suas
paredes. Provavelmente funcionando como delimitação, visto estes se encontrarem na extremidade nordeste, outro na extremidade
sudoeste e ainda dois na lateral.
Estrutura 3 — Esta estrutura, em
negativo, apresentava uma planta,
em plano, sub-retangular com cantos arredondados, de paredes retas
70 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro!
Figura 22.
Estrutura 1 totalmente escavada.
Figura 23.
Plano final com localização do vaso.
Figura 24.
Estrutura 2 com as pequenas lages no interior.
Figura 25.
Planos e perfis da estrutura 2.
na lateral este e ligeiramente oblíqua
na lateral oeste e um fundo plano.
A sua orientação era nordeste-sudoeste. Quanto às suas dimensões
apresentava 0,50m de profundidade
máxima, 1m de largura ao nível do
topo e 0,90m ao nível da base.
Uma das sua particularidades é
o facto de estar assinalada por
um bloco de granito local, sensivelmente no centro da estrutura.
Este bloco, encontrava-se bastante
inclinado mas a sua base estaria
próxima da sua posição original.
Estrutura 4 — Esta estrutura é
formada por calhaus e blocos
graníticos de formato irregular,
colocados na vertical e adossados
uns aos outros, sem argamassa.
Aparentemente parece formar um
recinto arredondado, mas não
estará já completo. Por um lado
foi mutilado pela abertura do caminho de terra batida, por outro
lado, alguns dos blocos graníticos
parecem já ter desaparecido. O
granito é local e nenhum dos blocos apresentava gravuras ou polimento. Ainda assim, um dos blocos apresentava uma forma fálica.
Estrutura 5 — Esta estrutura consistia numa vala aberta na camada
4 e que aparentemente circunda
exteriormente a estrutura 4. Esta
estrutura estava colmatada ao nível do topo por calhaus e blocos
graníticos angulosos e de forma
irregular. Entre estes blocos foi recolhido um fragmento de moinho
movente. Sob esta camada pétrea
foram registadas as camadas 12 e
13, ambas preenchiam a estrutura.
Estrutura 6 — Esta estrutura vista
em plano, tem uma planta sub-retangular com os cantos arredondados. Revelou as paredes ligeiramente oblíquas e fundo irregular.
A sua secção era trapezoidal, mais
estreita na base. Quanto às suas
dimensões apresentava 0,94m de
comprimento, 0,24m de largura e
0,38m de profundidade. A camada
14 preenchia esta estrutura, tendo
sido esta cortada pela estrutura 5.
Estrutura 7 — Durante o processo
de escavação percebeu-se que aquilo que foi inicialmente dado como
estrutura, não o era de facto.
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 71
Estrutura 8 — Esta estrutura vista em plano, tem uma planta sub-retangular, com cantos arredondados, paredes côncavas e fundo
plano, com orientação noroeste-sudeste. Vista em secção apresentava um contorno oval com
base ligeiramente arredondada
e um pequeno estrangulamento
ao nível do topo. Quanto às suas
dimensões apresentava 0,70m de
largura máxima no topo, 0,90m
de comprimento e 0,40m de profundidade. Ao nível do topo existia um depósito bastante compacto, talvez a selá-la. Preenchida
pelas camadas 16 e 16a. Possível
fossa.
Estrutura 9 — Esta estrutura,
da sua leitura parcial, apresenta
uma planta em plano sub-retangular com paredes ligeiramente
oblíquas. A sua vista em secção
era retangular, embora a sua base
fosse ligeiramente convexa. Quanto às suas dimensões apresentava
0,40m de profundidade. Esta estrutura não foi escavada na sua
totalidade, uma vez que estava
parcialmente sob a estrutura 4, a
qual não foi desmontada.
Estrutura 10, 11 e 12 — Após a
escavação percebeu-se não se tratar de nenhuma estrutura mas sim
de perturbações de raízes ou animais (bioturbação).
Estrutura 13 — Esta estrutura revelou uma planta subretangular,
com paredes um pouco irregulares, e uma orientação norte-sul.
Em secção assumia um contorno
em forma de V, mais larga no topo,
com 1m de largura, do que na base,
com 0,10m de largura. A profundidade máxima escavada foi de
1,44m. Esta estrutura foi preenchida por vários depósitos, separados
por camadas de alterite granítica,
provavelmente causados pelo abatimento da parede. A estrutura não
foi escavada nem registada na sua
totalidade, pois prolongava-se para
o corte sul. Trata-se de um possível
valado que delimitaria uma área,
faria a separação entre uma área
interior e outra exterior.
72 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro!
Figura 26.
Plano final da estrutura 3.
Figura 27.
Plano da estrutura 3 evidenciando os diferentes
depósitos.
Figura 28.
Vista parcial da estrutura 4.
Figura 29.
Alçado da estrutura 4, 6 e 9.
Estrutura 14 — Esta estrutura
prolongava-se para lá do corte
este do quadrado C11, no entanto,
foi possível verificar que correspondia a um conjunto de blocos
graníticos de pequenas dimensões
a formar um contorno ligeiramente sub-circular, sob a camada 24.
5.
Os dados e interpretação
A necrópole de Chã da Mourisca
foi alvo de duas intervenções arqueológicas de emergência, que
incidiram, inicialmente, sobre
duas estruturas em negativo, que
se encontravam nos cortes de um
caminho em terra batida. Para
tal foram implantadas duas sondagens de 2x2m, cada uma delas
sobre as estruturas até então detetadas. Mais tarde foi necessário
proceder a um alargamento, visto
uma outra estrutura ter sido mutilada pela abertura do estradão e
complementar a escavação de uma
das estruturas inicialmente intervencionadas. Nesta segunda in-
tervenção foi necessário fazer um
alargamento significativo da área
inicialmente intervencionada.
A sondagem 1 implantada sobre
uma possível fossa permitiu encontrar uma estrutura desse tipo,
de perfil oval, em forma de “saco”,
apesar de estar já numa fase avançada de destruição. Esta estrutura
tinha a particularidade de conter
aquilo que interpretamos como
sendo um buraco de poste, de
contorno circular e relativamente profundo, o que é muito raro
neste tipo de realidades, podendo
pela sua profundidade e largura
(0,42m por 0,22m) ter contido
um tronco de madeira de alguma
envergadura. A inexistência de espólio artefactual no interior desta
estrutura, também não nos permite aferir a sua cronologia mesmo
que de forma relativa. Ainda assim, a existência de carvões poderá contribuir para uma melhor
compreensão da sua cronologia se
datados por radiocarbono. Contudo, como hipótese de trabalho
não nos parece descabido pensar
que esta foi construida durante
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 73
a Pré-História Recente tendo em
conta a existência, nas imediações, de um monumento megalítico e outras estruturas (algumas
inserindo-se na Idade do Bronze).
A sondagem 2 veio a tornar-se numa
área de escavação significativa após
o alargamento. Aqui foram detectadas diversas estruturas. A estrutura 1, aberta na alterite, tinha uma
planta, em plano, sub-rectangular e
secção também ela sub-rectangular
com uma orientação noroeste-sudeste, com cerca de 2.30m de comprimento, 1,10m de largura (ao nível
do topo) e de 1,18m de largura (ao
nível da base), e 0,61m de profundidade. Esta estava sinalizada com
um bloco de granito local. A forma,
contexto e a deposição do vaso de
bordo horizontal levam a considerar
que se está perante uma estrutura de
enterramento do tipo das sepulturas
planas, embora algo atípica.
A ter em conta que para a Idade
do Bronze do noroeste Português
se tem defendido a existência de
marcadores de sepulturas planas.
Tal é o que parece ocorrer no sítio
do Pego, freguesia de Cunha, em
Braga, onde “the angular pebble
identified at the south-west top the
grave 11, interpreted as a marking
element, lead us to hypothesize
that some of these structures may
have been marked with perishable
materials and or additional structures” (Sampaio & Bettencourt,
2014:54).
Tendo em conta a cronologia atribuída a este tipo de vasos é de
todo aceitável enquadrar a abertura desta estrutura durante o 2º
milénio AC, muito provavelmente, no Bronze Médio (Bettencourt,
1997, 2010, 2011, 2013; Sampaio,
2014a, 2017).
A reutilização desta “eventual sepultura plana”, está bem patente na camada 3, 3`e 3b e assume
um carácter particular pois parece
que quem a reabriu conhecia a sua
localização e orientação exacta.
Tal pode ser explicado se o monólito granítico tivesse sido um
claro marcador da sepultura ali
existente, o que teria tornado visível a “invisibilidade” da estrutura
enterrada, para aqueles que por ali
passassem. A reutilização não se
74 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro!
Figura 30.
Plano inicial/topo da estrutura 5.
Figura 31.
Plano final das estruturas 5, 6, 8 e 9.
Figura 32.
Plano final da estrutura 8.
Figura 33.
Perfil da estrutura 8. (por Luis Coutinho).
estende pela totalidade da sepultura e a sua funcionalidade é desconhecida, dadas as características
de enchimento e dos materiais aí
encontrados. No entanto, as suas
características técnicas, formais e
decorativas, inserem-nos na Idade
do Bronze, como por exemplo, a
presença de um bordo com um lábio serrilhado que é conhecido no
Noroeste de Portugal em contextos
do Bronze Médio ou Bronze Final
(Bettencourt & Fonseca, 2011).
A estrutura 2, uma possível sepultura plana também ela aberta na
alterite, apresentava quando vista
em planta, um plano e secção sub-rectangulares, com fundo plano.
Embora não tivesse sido exumado
qualquer espólio artefactual ou
osteológico, a presença de blocos
graníticos a delimitá-la e a presença de outras sepulturas planas neste contexto, permitiu-nos
equacionar essa mesma hipótese.
Também poderia ter tido uma outra função devido às suas reduzidas dimensões, como por exemplo
o depósito de cinzas resultantes
de uma cremação. Esta estrutura
encontra-se nas imediações das
estruturas 1 e 3.
A estrutura 3, uma sepultura plana aberta na alterite, apresentava
quando vista em planta, um plano
sub-retangular com os cantos arredondados, secção também sub-retangular e fundo plano.
À semelhança das outras estruturas
não foram detectados restos osteológicos no seu interior. Este estava
preenchido por duas camadas sedimentares, a camada 9 mais clara e
junto às paredes da estrutura e a camada 8 mais escura na área central,
sugerindo o contorno de um corpo.
Tal como na estrutura 1 deste sector,
esta revelou a deposição de um vaso
do tipo largo bordo horizontal (Bettencourt, 1999). O recipiente estava
fragmentado possivelmente devido
a fenómenos naturais como a acção
de raízes ou o peso dos próprios sedimentos sobre a peça. Curioso é
o facto desta estrutura também se
apresentar sinalizada por um bloco
de granito local. O monólito encontrava-se tombado no sentido do centro da sepultura, mas com a sua base
in situ. De facto, durante o processo
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 75
de decomposição, o cadáver perde
volume pela degradação dos tecidos
moles, sendo os espaços preenchidos
pelos sedimentos que lhe estão ao redor (Ferreira, 2012), o que de certa
maneira poderá explicar o tombar
do monólito. A cronologia desta
sepultura deverá situar-se na Idade
do Bronze, possivelmente no Bronze Médio ou então no Bronze Inicial
(Bettencourt, 2010; Sampaio, 2014).
Importa salientar que os dois vasos
exumados, apresentavam características diferentes um do outro.
Enquanto o vaso da estrutura 1 se
apresentava com decoração incisa
metopada na zona interna da aba e
sem asa, o vaso da estrutura 3 não
tinha qualquer decoração e exibia
duas asas. Correspondem estas diferenças a algum significado do
ritual de enterramento? Embora
não tenhamos uma resposta para
esta questão, não será absurdo colocá-la. Alguns autores tinham já
levantado a hipótese de as decorações dos vasos de largo bordo
horizontal, associados a contextos
funerários, poderem não ter sido
escolhidas ao acaso, como é o caso
do sítio do Pego, em Braga, onde foi
possível detectar algumas recorrências estilísticas (Sampaio, 2014).
A este das sepulturas planas, foi
possível identificar uma série de
estruturas muito peculiares. A estrutura 4 evidencia um alinhamento de blocos graníticos de grandes
dimensões, formando um contorno sub-circular. Inicialmente foi
colocada a hipótese de estarmos
na presença de um tumulus muito baixo. Mas com o decorrer da
escavação percebeu-se estarmos
na presença de outro tipo de estrutura o que nos leva a descartar
a primeira hipótse. Esta estrutura
estava associada à camada 6, muito escura e com a presença de carvões muito frequentes, bem como
à presença de cerâmicas pré-históricas. Esta camada existia apenas no interior do alinhamento de
blocos graníticos. Um dos blocos
que compõe o alinhamento apresenta uma forma fálica mas não
apresentava qualquer gravura. A
escolha deste monólito não pareceu aleatória mas sim intencional.
A estrutura 5 contorna a estrutura
4 pelo seu lado externo. Manifestou-se como sendo uma pequena
vala preenchida pelas camadas 12
e 13. O topo desta estrutura estava
colmatado parcialmente por um
imbricado de calhaus em granito
local, entre eles um fragmento de
moinho polido. A cronologia desta
estrutura não foi definida, ainda
assim pode ser enquadrada no lato
período da Pré-História Recente,
tendo em conta que estará relacionada com a estrutura 4. A sua funcionalidade pareceu-nos apontar
no sentido de delimitador de espaço, exprimindo um interior e um
exterior. Teria funcionado como
um local de execução de rituais
de cremação ou de tratamento do
corpo? Estaria antes relacionado
com ritos ligados à fertilidade devido à presença de um bloco fálico?
Não existem respostas, ainda que
futuras análises aos carvões e sedimentos possam vir a revelar mais
dados por agora desconhecidos.
As estruturas 6 e 9 pela sua semelhança morfológica, pois em
76 Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro!
O conjunto das duas
intervenções arqueológicas
realizadas na Chã da Mourisca
tiveram como objectivo perceber
que tipo de estruturas tinham
sido afetadas pela abertura de
um caminho de terra batida
e delas exumar o máximo de
informação possível antes do
seu desaparecimento.
planta e secção são sub-retangulares com comprimentos, larguras
e profundidades idênticas, faz-nos
levantar a hipótese de serem alvéolos dentro dos quais terão estado inseridos monólitos pétreos.
A estrutura 10 é uma pequena
“fossa” escavada no substrato
geológico revelando mais uma vez
a grande quantidade e diversidade
tipológica das estruturas existentes na Chã da Mourisca.
Finalmente a estrutura 13 que foi
apenas parcialmente escavada, sugere ser um valado de secção em
V, tendo sido preenchido por vários depósitos, alguns dos quais
com carvões. Importa salientar
que esta estrutura parece ser anterior à estrutura 4 e 5.
Torna-se evidente que este sítio
teve uma larga ocupação, com sucessivas adições/reformulações de
estruturas. Fica também claro que
este espaço se relacionou com os
mortos. Por um lado as sepulturas
planas fazem-nos crer que aí foram
depositados corpos e ou cinzas. Por
outro lado as estruturas 4, 5, 6, 9
e 13 parecem indiciar outra funcionalidade. Talvez algumas estruturas
tivessem um cariz mais simbólico e/
ou ritual. Mas os dados disponíveis
até ao momento apenas nos permitem levantar algumas hipóteses.
O conjunto das duas intervenções arqueológicas realizadas na
Chã da Mourisca tiveram como
objectivo perceber que tipo de estruturas tinham sido afetadas pela
abertura de um caminho de terra
batida e delas exumar o máximo
de informação possível antes do
seu desaparecimento.
Bibliografia
BETTENCOURT, A.M.S. 1999. A paisagem e o homem na bacia do Cávado durante o II e o I milénios AC. Braga: Universidade do Minho.
BETTENCOURT, A.M.S. 2010. “La
Edade del Bronce en el Noroeste de la Península Ibérica: una análisis a partir de las
prácticas funerárias”, Trabajos de Prehistoria 67 (1): 139-173.
BETTENCOURT, A.M.S.; FONSECA,
J. (2011). “O povoado da Idade do Bronze
de Lavra, Matosinhos. Contributos para o
estudo do Bronze Médio no litoral Norte”,
Centro de Investigação Transdisciplinar.
Cultura, Espaço e Memória – CITCEM.
SAMPAIO, H.H.; MACIEL, T.; BETTENCOURT, A.M.S.; SIMÕES, P.P.
(2013). “A Mamoa do Carreiro da Quinta,
Laje, Vila Verde, NO de Portugal: resultados de uma escavação de emergência”.
Conimbriga 52: 37-65.
SAMPAIO,
H.A.;
BETTENCOURT,
A.M.S. (2014). Between the valley and the
hill top. Discoursing on the spatial importance of the Pego´s Bronze Age necropolis,
Braga (NW Portugal)”. Estudos do Quaternário 10:45-57.
SAMPAIO, H.A. (2014). A Idade do Bronze
na bacia do rio Ave (Noroeste de Portugal).
Braga: Universidade do Minho (PhD. Thesis).
SAMPAIO, H.A. (2017). A necrópole da
Idade do Bronze do Corvilho (Santo Tirso): novos dados para a sua contextualização cronológica. Arqueologia em Portugal.
Estado da Questão. Lisboa: Associação de
Arqueólogos Portugueses, pp. 801-809.
Ponte de Lima: do passado ao presente, rumo ao futuro! 77