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Capítulo 6
Índices do mercado
acionário
As estatísticas sobre o comportamento das ações negociadas no
mercado de capitais são importantes parâmetros para avaliar o desempenho do mercado. Os índices de ações são a principal estatística produzida no ambiente de negociação de uma bolsa de valores.
O indicador do comportamento das principais ações negociadas em
uma determinada bolsa de valores é construído com base em critérios
estatísticos. Os índices são a ferramenta estatística usada para, a partir
de um único número, descrever o comportamento de um conjunto de
valores.
Na impressa especializada em economia, é comum afirmar que o
mercado de ações é o termômetro da economia. Isso é possível por
conta da existência dos índices de preços.
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ços das ações ao longo do tempo, pois é possível construir uma série
histórica de valores e observar o desempenho do mercado.
Tendências futuras, acerca do mercado de ações, também podem
ser avaliadas com o uso dos índices e ferramentas de análise gráfica.
Além disso, os índices são referenciais para contratos derivativos,
como futuros e opções de compra ou venda.
Neste capítulo, descreveremos como são construídos os índices de
ações em bolsas de valores, analisando sua importância e suas funções.
1 Significado dos índices e suas
propriedades
Os índices são ferramentas estatísticas com que, a partir de um único
número, medimos o comportamento de um conjunto de informações.
Aplicamos, na construção de um índice de ações, o conceito estatístico
dos números-índices. Segundo Spiegel (1985, p. 397):
Um número índice é uma medida estatística idealizada para mostrar as variações de uma variável, ou de um grupo de variáveis,
correlacionadas ao tempo, à localização geográfica, ou a outras
características, como rendimento, profissão etc. Uma coleção de
números-índices de diversos anos, localidades etc. é frequentemente denominada série de índices.
Desse modo, aplicamos as técnicas estatísticas para, no caso dos
mercados de ações, observar o comportamento, ao longo do tempo, de
um grupo de ações.
Esse tipo de ferramenta é usada para indicar uma variação relativa no preço, na quantidade ou no valor de um conjunto de ações. Por
exemplo, podemos indagar se as cotações de um grupo selecionado de
empresas aumentaram ou diminuíram no decorrer de um certo período.
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Os índices tornaram-se um parâmetro do comportamento dos pre-
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Os números-índices estão divididos em dois grupos:
I. Números-índices simples.
II. Números-índices compostos.
O primeiro serve para avaliar a variação relativa de um único item, ou
variável econômica entre dois períodos de tempo, e o segundo, os compostos, servem para indicar a variação relativa no preço, na quantidade
ou no valor de um grupo de itens.
Os números-índices simples são comparações de valores em dois
diferentes períodos, conceitualmente denominadas de relativo (relação). Matematicamente, trata-se da razão entre um valor de um período
em relação a outro, ou seja, uma base. Assim:
P(0, t) =
Pt
×100
P0
Em que: P(0,t) = relativo de preço do período “t”, tomando-se como
base o período “0”.
pt = preço do período “t” e p0 = preço do período “0”.
Por exemplo, se o preço de uma determinada ação no fechamento do
pregão de 11/08/2016 foi igual a R$ 34,50 e no pregão de 15/05/2018
a cotação foi igual a R$ 44,80, o relativo de preço da cotação em
11/08/2016, tomando-se como base 15/05/2018, será:
P(15/05/2018,11/08/2016) =
44,80
×100 = 129,86
34,50
O relativo de 129,86 significa que, se considerarmos a cotação
em 11/08/2016, data base, como equivalente a 100,00, a cotação em
15/05/2018 seria de 129,86.
Na forma de números relativos, a identificação da variação percentual
no período é mais simples. Nesse caso, o preço da ação variou + 29,86%
Índices do mercado acionário
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em sua data considerada como base tem sempre um valor igual a 100.
Com os valores absolutos da ação no período, o resultado é mais difícil de
determinar, para isso, temos que fazer o seguinte cálculo*:
(11/08 /2016,15/05/2018) =
(R$44,80 – R$34,50)
× 100
R$34,50
= 29,86%
IMPORTANTE
*A variação percentual é:
t, 0) =
(Vt – V0)
V0
⋅ 100
Na construção dos índices do mercado de ações, a metodologia aplicada é a dos números-índices compostos.
Isto acontece, segundo Fonseca, Martins e Toledo (1988, p. 164),
porque a maioria dos índices econômicos, e neles incluímos os índices
de ações, envolve a avaliação simultânea de variações de preços ou de
quantidades de mais de um item.
Nesse sentido, há várias formas de avaliação da variação de preços
entre dois diferentes períodos. Temos os índices agregativos simples e
os ponderados.
Os índices agregativos simples utilizam-se de critérios de média para
definir o valor do índice. Assim, pode-se calcular o índice usando uma média aritmética, harmônica ou geométrica do conjunto de relativos simples.
Por sua vez, os índices agregativos ponderados tomam critérios de
ponderação para os itens de sua composição, nesse caso, cada item
tem um peso aplicado ao relativo simples.
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no período (129,86 – 100,00). Isso é possível porque um número relativo
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Matematicamente, os números-índices têm quatro propriedades:
a. Identidade;
b. Reversibilidade no tempo;
c. Propriedade cíclica;
d. Propriedade cíclica modificada.
Quando a construção é simples, ou seja, observa-se o comportamento temporal de um único item, o relativo atende a todas as propriedades
matemáticas. No entanto, quando se trata de números-índices compostos, as propriedades não são plenamente atendidas. Segundo Fonseca,
Martins e Toledo (1988, p. 160), a respeito dos índices compostos:
Não existe um índice considerado perfeito, ou uma fórmula definitiva para quantificar, de modo inequívoco e exato, as variações
de preço e de quantidades, especialmente quando os índices se
referem não a um, mas a um conjunto de bens.
Quanto aos índices de ações, as principais metodologias ponderadas estão descritas no quadro a seguir:
Tabela 1 – Índices agregativos ponderados
ÍNDICE
CRITÉRIO DE PONDERAÇÃO
EQUAÇÃO ÍNDICE DE PREÇOS
L0,t =
n
i =1
n
i =1
P0,t =
n
i =1
n
i
i =1 0
Média ponderada de relativos, sendo os fatores de
Laspeyres
ponderação determinados com base em preços e
em quantidades da época base.
Média harmônica ponderada de relativos, sendo
Paasche
os pesos calculados com base nos preços e nas
quantidades dos bens na época atual.
Fisher
Drobish
Média geométrica dos resultados obtidos nos
índices de Laspeyres e Paasche.
Média aritmética dos resultados obtidos nos
índices de Laspeyres e Paasche.
pti × q0i
p0i ×q0i
p ×q
p ×qti
I = L ⋅ P
Dr0,t =
L0,t + P0,t
2
Fonte: Adaptado de Fonseca (1988).
Índices do mercado acionário
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aplicadas na construção dos índices compostos. O critério de escolha
metodológica deve levar em consideração as vantagens e as limitações
de cada um deles.
2 Ibovespa
Desde 1968, o Ibovespa é um indicador tradicional da lucratividade
média do mercado, utilizando, para tanto, uma carteira teórica de ações,
composta pelos papéis de maior representatividade em termos de volume e número de negócios, na B3.
O modo de seleção das ações que compõem o Ibovespa leva em
consideração apenas aquelas que, em conjunto, representem 80% do
volume negociado à vista na Bolsa, nos 12 últimos meses, e tenham
presença mínima em pelo menos 80% de seus pregões.
Estabelecidas as ações componentes da carteira, define-se a participação relativa (peso) de cada uma, com base em seu volume negociado
nos 12 meses anteriores. Portanto, ações com maior volume têm maior
peso no índice, o que quer dizer que, se o mercado à vista é mais ou menos concentrado em poucos papéis, essa situação reflete-se no índice.
Com a participação relativa de cada ação, determina-se a quantidade
teórica que permanecerá inalterada durante todo um quadrimestre, salvo na hipótese de distribuição de proventos – dividendos, bonificação
e subscrição. Nesse caso, ajusta-se a quantidade teórica, mantendo o
mesmo valor aplicado na ação. O procedimento, por conseguinte, equivale a vender as ações com direito e aplicar a totalidade dos recursos
nas mesmas ações, porém, sem o direito. Dessa maneira, o procedimento não modifica o peso de uma ação no índice.
Entretanto, para manter a carteira teórica consistente com a filosofia de que o índice deve refletir o perfil do mercado à vista, a cada quatro
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Considerando-se esse aspecto, há uma variedade de metodologias
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meses é realizada uma revisão da carteira, sempre com base no volume e
na quantidade de negócios efetuados nos 12 meses precedentes. Nesse
procedimento, são revistas não só as ações componentes do índice – podendo ocorrer, portanto, inclusões ou exclusões em relação à carteira teórica anterior – como também a participação relativa de cada uma.
Desse modo, considera-se que toda a carteira é vendida no mercado,
no último dia de cada quadrimestre, e com os recursos obtidos – o valor
do índice na data de sua atualização – são compradas novas ações.
Portanto, o percentual de recursos a serem aplicados em cada ação
deve ser exatamente igual à nova participação relativa estabelecida.
Então, as novas quantidades teóricas são determinadas dividindo-se
o valor investido em cada ação pela última cotação praticada.
Embora ocorra a reconstituição da carteira a cada quatro meses, no
curto prazo, não são observadas modificações radicais em sua composição, seja quanto às ações, seja quanto às suas participações relativas. Contudo, ao longo dos anos, observamos uma evidente concentração no mercado de ações do índice – para ilustrar, em 1968, a primeira
carteira teórica era composta de 18 ações; em 1986, faziam parte do
Ibovespa 131 papéis; atualmente, a carteira é composta por 67 ações.
Por fim, a partir de 2012, a BM&FBOVESPA1 criou um grupo de trabalho para estudar modificações na metodologia de cálculo do Bovespa
e, segundo documento publicado pela bolsa, as alterações eram assim
justificadas:
Em meados de 2012, entretanto, a BM&FBOVESPA, tendo em vista a grande evolução do mercado de capitais brasileiro em todos
os seus aspectos, experimentada, principalmente, nos dez anos
anteriores, iniciou um processo de reavaliação da metodologia do
1 Na ocasião de 2012, a bolsa em operação no Brasil era a BM&FBOVESPA, que, após fusão com a Cetip, em
2017, teve sua denominação alterada para B[3] Brasil, Bolsa Balcão.
Índices do mercado acionário
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Ainda de acordo com o documento (p. 4), as principais alterações
introduzidas foram:
forma de ponderação, que, anteriormente, era em função da liquidez, passou a ser realizada pelo “free float” com cap de liquidez
(Índice de Negociabilidade) de duas vezes a partir da carteira de
janeiro de 2014;
o cálculo do Índice de Negociabilidade (IN) passou a considerar 1/3
da participação no número de negócios e 2/3 da participação de
volume financeiro;
o corte do IN, para efeito da seleção dos ativos para a carteira do
índice, foi elevado de 80% para 85%;
a exigência de presença mínima nos pregões foi alterada de 80%
para 95%;
foi incluída previsão de inclusão antecipada de ativos de emissão
de empresas listadas durante o período de vigência das duas carteiras anteriores à vigente;
foi incluída a determinação de não inclusão de ativos classificados
como “Penny Stocks”;2
foi incluída a previsão de exclusão quando o ativo estiver classificado acima dos 90% do IN na ocasião das reavaliações periódicas;
foram explicitados os critérios de inclusão e permanência na carteira em caso de suspensão da negociação de ativo;
foi introduzido um limite de participação por empresa na carteira.
2 Penny Stock é uma denominação usada no mercado para ações cuja cotação é inferior a uma unidade
monetária, ou seja, tem preço em centavos.
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Ibovespa, o qual culminou na criação de um grupo de trabalho composto de integrantes de diversos segmentos da indústria, como
gestores de recursos financeiros, empresas, sociedades corretoras
de valores mobiliários, bancos múltiplos, entre outros, para estudar e debater a nova realidade do mercado e essa metodologia
(B3, 2014a).
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Desse modo, a B3, atendendo à demanda dos participantes, ajustou
a metodologia do Ibovespa e de outros índices importantes como referenciais (benchmark) do mercado (B3, 2015a).
3 IBrX100
O IBrX100 começou a ser calculado em dezembro de 1994 e passou
a compor uma nova categoria de índices de ações amplos do mercado.
Esse índice é construído com base na cotação dos 100 ativos com
maior negociabilidade e representatividade do mercado de ações brasileiro. Seu objetivo é indicar o desempenho das principais empresas
negociadas na B3.
Todas as ações que compõem o IBrX100 são negociadas na B3 e
não estão incluídas empresas em regime de administração temporária
especial, em recuperação judicial ou extrajudicial e também os BDRs
(recibos de ações de empresas estrangeiras).
4 IBrX50
O IBrX50 é um índice da mesma categoria ampla construída pela B3.
Ele começou a ser calculado em janeiro de 1998 e seu objetivo é indicar
o desempenho das 50 principais empresas negociadas na B3.
Embora utilize os mesmos critérios do IBrX100, é um indicador do
mercado de ações de um grupo menor e mais simples de ser replicado
pelos administradores de fundos de investimento.
Portanto, assim como o Ibovespa e o IBrX100, são benchmarks úteis
para a montagem de carteiras de investimentos.
5 Itag
O mercado de ações brasileiro conta com diversos indicadores de
preços (índices) calculados e divulgados pela B3. Atualmente, a B3
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plos, de governança, de segmentos, de sustentabilidade, setoriais, de
mercado (renda fixa, commodities, futuros, etc.), entre outros.
Entre essas categorias, temos os índices de governança, e um dos
principais é o Índice de Ações com Tag Along Diferenciado (Itag). Sua
série histórica começou a ser calculada em janeiro de 2003.
O Tag Along é uma prática de tratamento diferenciada para proteger
os acionistas minoritários nas empresas. Normalmente, acionistas de
companhias com controle acionário dividido em majoritário (grupo de
controle) e minoritário (público) enfrentam problemas relacionados principalmente à extensão de direitos quando a empresa muda de controle.
Nas regras de adesão aos critérios de governança corporativa existentes no mercado de ações e mantidos pela B3, algumas empresas oferecem tratamento diferenciado a seus sócios minoritários. Essas empresas
são elegíveis, pela questão da governança, a fazer parte do Itag.
Atualmente, o Itag é composto por 193 ações de empresas com práticas de governança corporativa (B3, 2015c).
6 ISE
O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) foi criado em 2005
e faz parte de uma iniciativa pioneira na América Latina de mensurar
empresas com práticas sustentáveis.
Ele mede o desempenho de empresas listadas na B3 sob o aspecto
de práticas de sustentabilidade corporativa, eficiência econômica, justiça social, governança corporativa e equilíbrio ambiental.
A iniciativa de criação desse índice é fruto de uma parceria entre
o Internacional Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco
Mundial, entidades do mercado de capitais – compondo um conselho
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calcula e divulga índices em sete categorias diferentes. São índices am-
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deliberativo –, e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a partir do Centro de
Estudos sobre Sustentabilidade.
A composição do ISE é definida pelo conselho deliberativo, que seleciona no máximo 40 empresas (B3, 2015b).
Considerações finais
Os índices do mercado de capitais atualmente são bastante abrangentes e atendem a diversas demandas de participantes.
Além de apresentar o desempenho de um grupo selecionado de
ações, o índice pode ser utilizado como referencial para formação de
carteiras de investimento.
Baseado nas composições de um determinado índice, administradores de recursos podem lançar produtos de investimento, conhecidos
como fundos de gestão passiva, cujos objetivos são replicar o desempenho do seu benchmark.
Além disso, os índices promovem um melhor entendimento sobre
o comportamento de vários aspectos do mercado de ações, como o
desempenho de segmentos específicos, de empresas com práticas de
governança, sustentabilidade, etc.
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