Promontoria Monográica HISTÓRIA DO ALGARVE 03
Coordenação de
A. PAULO DIAS OLIVEIRA
CRISTINA FÉ SANTOS
JOSÉ GONÇALO DUARTE
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
Apontamentos para a História das
CULTURAS DE
ESCRITA:
DA IDADE DO FERRO À ERA DIGITAL
Promontoria Monográica HISTÓRIA DO ALGARVE 03
Apontamentos para a História
DAS CULTURAS DE ESCRITA:
DA IDADE DO FERRO À ERA DIGITAL
EDITOR:
Centro de Estudos em Património, Paisagem e Construção (CEPAC)
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
Universidade do Algarve
Editor:
Centro de Estudos em Património, Paisagem e Construção (CEPAC)
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
Universidade do Algarve
Comissão Coordenadora:
A. Paulo Dias Oliveira
Crisina Fé Santos
José Gonçalo Duarte
Patrícia de Jesus Palma
Introdução:
A. Paulo Dias Oliveira
Patrícia de Jesus Palma
Tiragem:
500
Capa e design:
Lúcia Costa
Depósito Legal:
419839/16
ISBN:
978-989-8859-00-6
Faro, 2016
Impressão:
Gráica Comercial Arnaldo Matos Pereira, Lda
Zona Industrial de Loulé, Lote 18
Apartado 247 - 8100-911 Loulé
www.graicacomercial.com
Agradecimentos:
Muitos foram os que tornaram possível a concreização deste projecto que já vai no número 3. A alguns
deles, que não vêm referidos no corpo da obra, é necessário deixar aqui o nosso agradecimento: a Lúcia
Costa (luciacosta80@gmail.com), a designer que mais uma vez concebeu e deu rosto a esta publicação,
e um especial obrigado a Emanuel Sancho, director do Museu do Trajo de São Brás de Alportel, uma
presença constante e dedicada.
Nota: O uso do Acordo Ortográico de 1990 foi opção de cada autor.
Com o apoio de:
Com o Alto Patrocínio da Direcção Regional
de Cultura do Algarve
ÍNDICE
7
19
Resumos
Introdução
A escrita do Sudoeste:
23
um breve ensaio de síntese
Amílcar Guerral I Pedro Barros I Samuel Melro
45
Epigraia Romana do Algarve
65
Contributos para a catalogação e estudo da epigraia pública na região do
Algarve
José D'Encarnação
Marco Sousa Santos
Projecção documental de poderes:
85
em torno das actas de vereação de Loulé (século XV)
Filipa Roldão
Samuel Gacon, um editor do Talmud, com os olhos postos no Oriente
101
(A edição de Faro do Pentateuco, de Junho de 1487, no contexto da História
da Imprensa incunabular hebraica portuguesa)
Manuel Cadafaz de Matos
A escrita, a informação e a honra:
135
as provas de limpeza de sangue no Algarve setecenista
Nelson Vaquinhas
Contributo para a história da edição contemporânea em Portugal:
155
a emergência da edição impressa na periferia, o caso do Algarve (1808-1910)
Patrícia de Jesus Palma
O laicismo na capital algarvia nos inais de Oitocentos:
183
o célebre processo de Francisco Pereira Salles
Luís Guerreiro
A linguagem visual da Indústria Conserveira do Algarve:
205
225
o caso da Marie Elisabeth Brand
Ana Lúcia Gomes de Jesus
Notas prévias a um estudo das imagens e da importância das vanguardas
arísicas na imprensa algarvia do começo do século XX
Ana Isabel Soares I Mirian Tavares
235
263
Imprensa periódica e propaganda políica:
o caso do Nacional sindicalista de Faro
A. Paulo Dias Oliveira
Escolas de formação de professores do ensino primário no Algarve
João Sabóia
As escolas primárias dos centenários:
289
subsídios para uma história das construções escolares no Algarve
Vítor Ribeiro
Para a História da edição do romanceiro no Algarve:
313
335
protagonistas, textos, suportes e uma falsa questão
Sandra Boto
Notas sobre os autores
Contributo para a história da edição
contemporânea em Portugal:
a emergência da edição impressa na periferia,
o caso do Algarve (1808-1910)
Patrícia de Jesus Palma1
INTRÓITO
A geograia dos centros e periferias da produção
impressa em Portugal é historicamente variável, o que
se explica, em parte, por esta ter sido longamente uma
acividade iinerante. Faro (1487-1494)2, ou Chaves
(1489)3, por exemplo, puderam considerar-se núcleos
impressores no século nascente da arte ipográica, mas
transformaram-se brevemente em periferias do impresso, alimentadas por prelos distantes, não necessariamente nacionais.
Estas paricularidades vernáculas permitem lembrar que a invenção de Johannes Gutenberg (13981468) não se generalizou uniformemente no tempo e
no espaço, nem de forma conínua4. É necessária uma
constante vigilância sobre as alterações que em cada
tempo, geograia e sociedade ocorreram no seio do
designado universo ipográico, a cada passo individua1
O presente arigo baseia-se na invesigação produzida pela autora no âmbito do mestrado, cujos resultados globais podem ser consultados em PALMA (2008).
A autora não segue o Novo Acordo Ortográico.
1
2
De uma perspeciva bibliográica, ANSELMO (1981: p. 235) considerou «indiscuível»
a prioridade farense no estabelecimento da imprensa hebraica portuguesa, considerando-a «uma das mais anigas de todo o Mundo», só antecedida por Itália (1469) e
Espanha (1476). Seguindo o rasto dos caracteres ipográicos, Artur Anselmo pôde
ideniicar o percurso desta oicina, depois do decreto da expulsão dos Judeus, localizando um dos ilhos de Samuel Gacon (ou Porteiro), David, dando coninuidade à
acividade em Pesaro (Itália).
3
Data de 1965, a descoberta do Tratado de Conissom, impresso em Chaves, a 8 de
Agosto de 1489, alterando completamente a geograia portuguesa da proto-imprensa
cristã, cujo estudo se deve a MARTINS (1973: pp. 9-114).
A perda de centralidade produiva de determinado local não signiica de forma correlata a perda de importância nos circuitos de circulação das obras impressas. Para
uma conceptualização sobre os conceitos de pequeno, médio e periférico espaço do
impresso, v. REAL COSTAS (2013).
4
156
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
lizando-se e surpreendendo5. Em Portugal, depois da
fase de implantação quatrocenista, com manifestações
em Faro, Lisboa, Chaves, Leiria, Braga e Porto, a acividade ipográica chegou a Évora, Coimbra, Viseu, Goa e
Macau durante o lorescente século XVI, mas contraiu-se nos séculos XVII e XVIII. Ao longo destes duzentos
anos, concentrou-se nas cidades de Goa (até 1754), Lisboa, Évora, Coimbra, Porto e Braga e nem sempre com a
mesma intensidade produiva.
Tais circunstâncias demonstram-nos que, até Oitocentos, Portugal não possuiu um sistema de produção global, isto é, dispondo de uma generalizada cobertura geográica de estruturas ísicas, técnicas e humanas da arte de
imprimir, que tenham permiido o fácil acesso à expressão
em letra-de-forma. O contexto revolucionário da primeira
metade do século XIX impulsionou fortemente a expansão
geográica e social da ipograia, revelando forte poder da
comunicação nos diferentes contextos bélicos. Não obstante, a história da edição contemporânea portuguesa é a
que menor atenção analíica tem obido dos historiadores,
cujo interesse pelos tempos inaugurais da imprensa e pelas
principais casas impressoras é manifestamente superior6.
Neste arigo, pretende-se contrariar esta tendência7, concentrando-nos, por um lado, no estudo da acividade ipográica contemporânea e, por outro lado,
nos pequenos, médios e, eventualmente, periféricos
espaços do impresso. O objecivo principal é o de acompanhar a expansão das condições que favoreceram o
processo da apropriação dos valores da cultura impressa em Portugal, para o qual a difusão da ipograia foi
um dos factores decisivos.
O espaço regional do Algarve consitui o nosso
estudo de caso, não se aigurando um critério restriivo. Recorrer-se-á, sempre que oportuno, às diferentes
escalas de análise, por forma a diminuir os riscos das
generalizações inconvenientes, ou de entender como
original e extraordinário o que seja uma tendência comummente parilhada8.
5
Cf., a este respeito, CHARTIER (1998), CAVALLO e CHARTIER (2011) e JOHNS (1998).
Sobre este assunto, airma LISBOA (1989, p. 186): «a existência de ipógrafos e encadernadores foi desde o século passado algo que interessou aos eruditos. É a busca dos momentos originais que jusiica em grande medida este interesse: quem foram (famílias,
proveniências, personalidades), onde icavam (bairros, ediícios), como procediam os
primeiros impressores? Daí que a atenção fosse essencialmente dirigida para o Renascimento, e que os séculos ulteriores aparecessem mais como elementos de uma genealogia». Para uma bibliograia da história do livro em Portugal, consulte-se CURTO (2003).
6
Apesar de recente, a história da edição contemporânea apresenta bases sólidas, que,
a ítulo exempliicaivo e sob diferentes perspecivas, citamos: NUNES (2001), DURÃO
(2003), ANDRADE (2009), MEDEIROS (2010) e MELO (2015).
7
8
Sobre esta metodologia, v. RICOEUR (2010 [2000]: pp. 276-286) e, para o caso concreto da história do livro, v. BOTREL (1992).
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
AS FONTES
Sendo possível ideniicar aspectos impulsionadores
para a acividade ipográica na segunda metade do
século XVIII e ao longo do século XIX, não dispomos de
inquéritos, ou de levantamentos estaísicos oiciais,
nem é comum a existência de fundos arquivísicos
relaivos às casas de impressão contemporâneas,
como acontece, por exemplo, para o caso francês9,
permiindo-nos adentrar este universo munidos de
fontes documentais seguras. Conquanto a ipograia
não esivesse geralmente disponível, o impresso
não era um objecto completamente desconhecido10,
pelo que a instalação de uma nova oicina também
não gerou, em norma, o ímpeto conservador do seu
espólio11. Esta realidade tanto se aplica aos principais
centros de produção, quanto aos demais. Todavia,
quando nos concentramos em realidades provinciais,
há outras circunstâncias a contemplar. Reiro-me à
natureza e à acessibilidade das fontes, assim como às
suas implicações no objecto de estudo.
Enquanto os repositórios, onde estão depositadas
as fontes documentais relaivas aos principais centros
de produção, são geograficamente coincidentes, pois
coincidem geralmente com os centros de administração
política, económica e cultural, os repositórios relativos
à periferia estão geograficamente dispersos e em
estádios de organização e de acessibilidade muito
distintos, com óbvias consequências na quantidade e
qualidade das fontes disponíveis12 e inevitáveis efeitos
no desenrolar da invesigação.
Cf. BARBIER (1990 [1985]: pp. 67-91). Para o caso português, exceptua-se o uilíssimo
levantamento realizado pelo paricular João José de Sousa Telles, dado à estampa em
1864, oferecendo-nos uma amostra-farol da produção cieníica, literária e arísica
relaiva ao ano de 1863, que contempla o levantamento de ipograias existentes naquela dada. Cf. TELES (1864).
9
É oportuno lembrar que a inexistência de oicinas ipográicas locais não signiicou a
inexistência de acividade editorial. Não obstante, era esta uma acividade muito restrita
pelos dispêndios inanceiros e sociais envolvidos. Caso paradigmáico é o de Damião
António de Lemos Faria e Castro (1715-1789), com intensa acividade editorial a parir
do Algarve, sustentada por uma cómoda situação inanceira e uma boa rede de interlocutores nos principais centros de impressão, como denota a carta enviada ao seu amigo
Fr. Vicente Salgado solicitando-lhe a intervenção no negócio que inha iniciado com o
impressor Simão Tadeu Ferreira, em Lisboa, embora ainda esivesse indeciso quanto ao
melhor local de impressão, que tanto poderia ser em Lisboa como: «França, ou Holanda,
aonde me asseguram se fará a impressão com sumo cómodo (…)». E remata: «que este
negócio se há-de celebrar por Escritura, para a qual mandarei a V. Rm.ª Procuração.»
Carta de 15 de Fevereiro de 1785, transcrita por MENDES (2007: p. 253).
10
11
Exceptuam-se os contextos editoriais que visaram a criação de um órgão de informação periódica, como aconteceu no caso dos Açores. V. a este respeito Arquivo dos Açores. [Em linha]. Ponta Delgada: Tip. do Arquivo dos Açores, 1886, vol. VIII, p. 485-556
e 1887, vol. IX, p. 38-49. Disponível em: htp://arquivodigital.uac.pt/yii/arquivodigital/
index.php?r=site/page&view=aa
12
No Algarve, estão ainda por organizar os arquivos municipais de Aljezur, Monchique,
São Brás de Alportel, Castro Marim e Alcouim.
157
158
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
Ao variar a escala de análise poderão mudar
também as caracterísicas materiais dos objectos
produzidos. Pensemos no catálogo de uma grande
casa impressora, pouco comum na província. Face ao
livro canónico, recorrente nos catálogos dessas casas,
há que colocar aqueles a que Víctor Infantes designou
como os «impressos menores»13, de natureza e de
valor efémeros, tais como os almanaques, os jornais, os
rótulos, os sermões, as orações, os avisos, as circulares,
os editais, as gravuras, etc., produzidos por pequenas
oicinas ipográicas, muitas sem recursos ísicos e
humanos qualiicados, com uma produção desinada a
um consumo imediato e, portanto, sem as caracterísicas
tendentes à preservação e ao inventário.
Não pretendemos que este contexto gere uma
hierarquia e sim um ajuste dos instrumentos teóricometodológicos a uma realidade disinta, também
existente, de resto, nos grandes centros. Nestes casos,
situamo-nos ao nível do quoidiano, do padrão, ou, como
melhor disse Michel Foucault, temos a oportunidade de
escutar e dar conta desse «rumor lateral, dessa escrita
quoidiana e tão rapidamente apagada que nunca
adquire o estatuto de obra ou dele se vê imediatamente
despromovida»14. O desaio pode, por isso, ser
mais aliciante e os resultados proporcionalmente
compensadores, pois, como observou Víctor Infantes:
«Resulta más diícil de localizar un calendario que un
incunable desconocido, pues del segundo es más que
probable que aparezca su cita en el inventario de alguna
biblioteca (…)»15. Como lá chegar?
A história das oicinas ipográicas pode ser
respigada através da pesquisa nos arquivos locais e
municipais; em catálogos bibliográicos de bibliotecas
públicas e pariculares, por critério de local de impressão
(critério secundário na catalogação do impresso
contemporâneo, i.e, posterior a 1800) ou de local de
edição. Seguir-se-á a necessária consulta e descrição
ísica dos exemplares16: livros, jornais, folhetos, folhas
soltas, cartazes, cartões, etc. A encadernação, caso seja
original, o(s) papel(is), as intas, as ilustrações uilizadas
podem dar-nos pistas relevantes sobre a capacidade
técnica, arísica e produiva das oicinas. Os jornais,
em paricular as secções locais, as de paridas e de
chegadas e as de anúncios são fontes preciosas para
13
In INFANTES (1997).
14
In FOUCAULT (2014 [1969]: p. 185).
15
INFANTES – Op. cit., pp. 290-291.
16
Sobre esta etapa, consulte-se o esclarecedor estudo de CASTRO (1977).
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
colher o nome de um ipógrafo contratado; de um
outro que se transferiu; de uma oicina que se alugou
ou vendeu para outra localidade; de um livro prestes a
sair de um prelo local; de um aprendiz que se pretende
recrutar; das diiculdades para imprimir um trabalho
anunciado... Minudências, sim, mas que, na ausência
de fontes oiciais, permitem conhecer paulainamente
o ambiente de uma determinada oicina e, peça a peça,
reconstruir a sua capacidade produiva, ideniicando
o seu parque ipográico, os seus recursos humanos e
técnicos, o seu catálogo, a sua intervenção, enim, nos
textos dados à estampa e postos a circular.
Às dificuldades de, modestamente, conseguirmos
estabelecer uma relação estável, mas provisória
– sempre provisória – , das oicinas existentes em
determinado período e geograia, acresce o facto
de, não raro, as oicinas mudarem frequentemente
de denominação comercial, de proprietário ou de
arrendatário, o que causa imprecisões frequentes nas
relações de atribuição entre obras e respecivas oicinas.
Para o período mais recente, são insubsituíveis as
entrevistas aos proprietários, ipógrafos e clientes, cujo
testemunho ainda podemos recolher.
Feito um primeiro inventário das casas de
impressão e da sua produção é, então, possível começar
a quesioná-las, tentando esclarecer quais as suas
repercussões na sociedade.
DA LEGITIMAÇÃO DO IMPRESSO AO
REAPARECIMENTO DA TIPOGRAFIA NO ALGARVE
Quando, nos primeiros dias de Julho de 1808, o
impressor espanhol D. José María Guerrero se instalou
em Faro, laborando coninuamente até 1811, o impresso
não era ainda um meio habitual de comunicação, nem
um objecto socialmente parilhado17. A sua presença
manifestava-se em algumas bibliotecas e academias,
em livros de médio e grande formato, servindo ins de
estudo e de erudição. As comunicações estabeleciamse por via manuscrita e oral e assim se maniveram
longamente, coexisindo com o material impresso18.
Há a observar que o impresso – tal como
acontece actualmente com o digital – passou por um
longo processo de legiimação e de condições extra
17
Sobre a acividade do impressor D. José María Guerrero em Faro, v. PALMA (2013:
pp. 231-255).
18
Reiro, a ítulo exempliicaivo, os casos das edições manuscritas dos jornais lacobrigenses O Papaguedor: Jornal Políico, Comercial e Noicioso, Pedro Tello (red.), Lagos:
1865; e O Paricular, Lagos, 1898.
159
160
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
tecnológicas que conduziram à sua apropriação19. Desde
logo, acções legais20, mas também acções concretas de
distribuição, de pedagogia ou de criação da necessidade
social do uso. Neste domínio, é imperioso recordar para
o caso português o notável contributo da Congregação
do Oratório21, ao defender de modo pioneiro a
aprendizagem por via dos escritos impressos em língua
vernácula. Em 1759, airmava na sua Instrução de
principiantes:
A primeira casta de letras que pomos diante
dos olhos aos principiantes é a da estampa, ou
impressão; e isto por duas principais razões. Primeira,
porque em qualquer arte, ou faculdade se deve
começar pelo mais fácil e é fora de controvérsia que
esta casta de letra é mais fácil de aprender, porque
toda é uniforme, sem a variedade de caracteres que
se encontram nas letras de diversas mãos.
Segunda, porque a lição da letra redonda põe
expeditos os principiantes para lerem muitos livros,
pelos quais se adquire erudição; e com esta, mais
facilidade para conhecer depois, pelo contexto, as
letras e palavras que encontrarem mais embaraçadas
na letra de mão; […]22
19
Aplica-se o conceito seguindo CHARTIER (1988).
V. Alvará de 30 de Setembro de 1770, introdutor dos materiais impressos nas escolas
de Ler, Escrever e Contar, hoje designadas escolas do primeiro ciclo.
20
21
É geralmente conhecida a acção e o presígio pedagógico alcançado em Portugal
pela Congregação do Oratório. A acividade intelectual, o trabalho em torno da organização de bibliotecas e os estudos ministrados, impulsionados ainda mais pela
determinação de D. João V de facultar aos estudantes que frequentassem as aulas
dos Oratorianos o acesso directo à Universidade (privilégio até então exclusivo dos
Jesuítas), conferiram-lhe um estatuto privilegiado na sociedade portuguesa.
A Congregação entrou em Portugal pela mão do padre Bartolomeu de Quental (16271698), tendo obido o reconhecimento políico em 1668. Consituiu-se como uma
família de padres seculares, cuja união era sustentada na obediência aos estatutos
e ao senimento de fraternidade que ligava os seus membros, tendo cada uma das
casas fundadas completa autonomia, como esclarece Eugénio Francisco dos Santos:
«formavam apenas uma comunidade secular, não uma ordem. O que nisso avulta é,
predominantemente, o apelo (e o apego) à liberdade individual e coleciva.» In SANTOS (2001: vol. J-P, p. 330). A proximidade e a envolvência com o século disinguiram
os congregados, que desenvolveram «obras de solidariedade social, o contacto permanente com as camadas sociais mais carentes, a abertura da igreja à paricipação
diária dos iéis, a pregação, o ensino, a assistência religiosa constantes.» (Id., p. 329),
sendo, contudo, no âmbito pedagógico que a acividade desenvolvida mais tem sido
notada como inovadora e relevante. O ensino das ciências, para o que possuíram um
gabinete de Física, a adopção metodológica do experimentalismo, ou o uso da língua
vernácula para ministério das aulas e redacção das suas obras foram factores que impuseram os Congregados na evolução cultural portuguesa registada ao longo do século XVIII. Entre os seus discípulos contam-se personalidades de reconhecido mérito intelectual, tais como Manuel de Azevedo Fortes (1660-1749), Diogo Barbosa Machado
(1682-1772), Luís António Verney (1713-1792), P.e Teodoro de Almeida (1722-1804),
D. Manuel do Cenáculo de Vilas-Boas Anes de Carvalho (1724-1814), José Anastácio
da Cunha (1744-1787), D. Francisco Gomes do Avelar (1739-1816) ou D. José Maria de
Melo (1756-1818).
22
Subls. meus. «Advertência». In [CONGREGAÇÃO DO ORATÓRIO] (1780 [1759]: pp.
[III]-IV).
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
Neste âmbito, foi dado à estampa um conjunto
signiicaivo de compêndios impressos, desinados
ao ensino elementar e aos Estudos Menores (hoje
designado Ensino Secundário)23, indo ao encontro da
desejada facilitação e uniformização do ensino, como
defendera, o porventura mais conhecido da plêiade
Oratoriana, Luís António Verney (1713-1792), em
Verdadeiro Método de Estudar24.
Desta campanha fez parte Francisco Gomes do
Avelar (São Marcos de Calhandriz, 17.1.1739 – Faro,
16.12.1816), cuja formação intelectual decorreu na
Congregação do Oratório (1757-1789)25. Aqui, foi
lente de Retórica, Filosoia, Moral e Escritura, foi
Mestre-de-Cerimónias e, depois, Capelão da Real Casa
das Necessidades. Durante este período, paricipou
acivamente no movimento editorial de compêndios
escolares, em língua vernácula, preparando, pelo
menos, quatro trabalhos, nos quais se propôs desterrar a
«ignorância, que por algumas partes reina e juntamente
a uniformidade se promover»26, como confessou ao seu
amigo D. Fr. Manuel do Cenáculo (1724-1814).
Embrenhado na reforma do ensino de índole
humanísica e cieníica que a Congregação levou a
cabo, quando bispo do Algarve, D. Francisco Gomes do
Avelar (1789-1816) moveu, quanto pôde, os recursos
à sua disposição em beneício da instrução dos iéis.
Para isso, distribuiu gratuitamente manuais impressos,
que requereu à sua Congregação logo que chegou ao
Algarve, designadamente, o ABC, o catecismo, pautas,
ortograia, sintaxe, etc.27, levando a cabo o primeiro
esforço consistente para a integração dos iéis na
cultura escrita. De entre as estratégias persuasoras,
destacamos a da naturalização do impresso, concebido,
preparado e divulgado para o público-leitor regional e
desinado a uma uilização quoidiana. Como forma de
incenivar a oração mental, D. Francisco Gomes criou
as condições necessárias para o uso diário e individual
de textos impressos, autorizando a emancipação do
culto da vertente coleciva, do intermediário clerical e
do espaço litúrgico por excelência, a Igreja. Ofereceu
aos diocesanos a possibilidade de viver, aprofundar
e documentar a fé diariamente, por meio da leitura
individual e domésica de orações, máximas e exercícios
23
Cf. ANDRADE (1981, v. 2: pp. 415-418) e ADÃO (1997: pp. 217-275).
24
[VERNEY] (1746).
25
A sua biograia consulta-se em OLIVEIRA (1902).
26
Apud OLIVEIRA (1902: p. 6).
AVELAR, D. Francisco Gomes do – [Carta] 16.10.1789, Faro [a] P.e João Andrade.
[Ms]. 1789. Acessível na Biblioteca da Ajuda, 54-XI-35, n.º 32.
27
161
162
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
devotos, os quais, impressos e distribuídos pelo
bispado, obiveram o estatuto de objecto de culto
privado e autorizado28. Simultaneamente, produziu
escritos de uilidade e proveito para a vida material do
povo, pois, como declarou: «os instruídos têm Autores,
que o povo não pode haver, nem ler, nem entender.»29.
D. Francisco Gomes interveio, do ponto de vista
editorial, na ariculação entre a erudição cieníica e
a difusão dos conhecimentos mais úteis30, redigindo
ele próprio Instrucções adequadas ao «homem do
campo» algarvio. Ateve-se na expressão linguísica, na
apresentação conceptual, nos exemplos e no formato
mais justo à instrução popular.
Nas suas mãos, formava-se um novo conceito de
biblioteca, a que poderemos designar por «biblioteca
popular regional», formada por um núcleo de 1 a
5 pequenos livros ou folhetos, contendo os textos
essenciais à salvação do espírito e da matéria, com a
paricularidade de serem especiicamente preparados
para o público regional, tão amplo quanto o grupo de
«iéis» permite considerar31.
Estas e outras iniciaivas levadas a cabo pelo
bispo D. Francisco Gomes do Avelar, não abordadas
pela necessária brevidade que nos impõe a escrita do
arigo, evidenciam o convergir de acções orientadas para
um senido geral de valorização da cultura ipográica,
penetrando diferentes contextos da vida em sociedade,
ora assumindo funções pedagógicas, ora espirituais, ora
proissionais, mas cada vez mais próximas da realidade
de leitores comuns e anónimos, que nos colocam
perante uma nova concepção e novos usos da cultura
impressa.
28
«[…] os Sumos Poníices e Bispos da Santa Igreja têm trabalhado por introduzir
nos fiéis o uso quoidiano da Oração mental […]. Nós pois, que desejamos seguir
os passos dos nossos predecessores, vos oferecemos, amados ilhos, o dom deste
livrinho, que tem por ítulo o Caminho do Ceu, para que useis dele, considerando
cada dia uma das verdades que encerra. Os que não puderdes ir às igrejas ou aos
lugares públicos, onde se praica este santo exercício, recolhei-vos na vossa mesma
casa, ou ajuntai a vossa família, e ao menos por um quarto, ou meia hora, lede ou
fazei ler, e considerai atentamente o que lerdes, desejando se imprima na vossa
alma e concluí com suplicar a Deus, que vos ilustre o entendimento, e inlame o
coração para abraçardes o que é tão necessário para a vossa salvação.» Subls. meus.
In Caminho do Céu… (1795).
29
AVELAR (1813). Corrigimos a data apresentada por OLIVEIRA (1902, p. 217) que
deu a publicação como póstuma, datada de 1819, certamente por desconhecer a
edição de 1813.
30
A propósito da disseminação dos «conhecimentos úteis» em Portugal, cf. NUNES
(1990: pp. 319-328).
31
Eugénio Francisco dos Santos, estudando as casas oratorianas do Porto e de Braga,
sublinhou precisamente a capacidade de adequação às condições envolventes, como
uma marca da acção Oratoriana: «[…] uma perfeita adaptação às condições do meio
e à economia dominante das populações em que se inseriam. Essa lexibilidade e
capacidade de ajustamento serão, sem dúvida, um dos traços mais marcantes da
família oratoriana portuguesa no Século das Luzes.» In SANTOS (1982: p. 215).
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
163
Compreendemos, assim, que não só o contexto
políico, mas também o contexto cultural coevo
legiimaram a reintrodução da acividade ipográica,
recolocando Faro na geograia ibérica da impressão,
onde foi dada à estampa, por exemplo, a primeira
publicação periódica da actual província de Huelva, a
Gazeta de Ayamonte (Faro: 18.7.1810-13.3.1811)32.
Nesses dias, a imprensa excedia-se enquanto
instrumento de transmissão rápida e alargada de
ideias, transformando-se em agente do processo de
transformação políica, social e cultural. Pela primeira
vez, história e imprensa tornavam-se indestrinçáveis,
naturalizando o texto escrito e estabelecendo uma
interdependente relação entre processo políico, opinião
pública e cultura ipográica, que cesurava fronteiras.
A EXPANSÃO DA ACTIVIDADE TIPOGRÁFICA NO
ALGARVE
Não obstante o facto de a imprensa de D. José
María Guerrero (Faro, 1808-1811) ter contribuído
acivamente para o desenrolar dos acontecimentos,
não estavam ainda reunidas as condições indispensáveis
para o desenvolvimento duradouro de uma acividade,
cuja sobrevivência comercial dependeu sempre da
possibilidade de manter uma produção conínua. O
processo foi longo e, por vezes, desconínuo, como
podemos observar no Quadro I – Cronologia e distribuição
geográica da ipograia no Algarve (1808-1910). Aí
elencamos a sua evolução, registando os anos em que
surgiram novas oicinas. Os recorrentes pontos de
interrogação no campo «período de acividade» revelam
a diiculdade e a provisoriedade dos dados recolhidos, tal
como aludimos na secção relaiva às fontes.
Quadro I – Cronologia e distribuição geográica da
ipograia no Algarve (1808-1910)
Ano
1808
1833
1835
1840
32
Local
Faro
Faro
Tavira
Faro
Faro
Lagos
Cf. PALMA (2013: pp. 231-255).
Designação da Tipograia
D. José Maria Guerrero
Manuel António Ferreira Portugal
Carmelitas Descalços
Governo Civil
Governo Civil
Francisco Xavier Bapista Xula
Período
de acividade
1808-1811
1833
<1833
1835 - ?
1835 - ?
1840
N.º
Tipograias
acivas
1
2
1
2
164
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
1846
1864
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Henrique Lamim
Divisão Militar
Governo Civil
Eduardo Henrique Lamim
184?-187?
<1846
1835 - ?
184?-187?
Lacobrigense [I]
1864?-1873?
Governo Civil
Eduardo Henrique Lamim
Lacobrigense [I]
António Joaquim Correia Júnior
Governo Civil
1835 - ?
184?-187?
1864?-1873?
1869-1873
1835 - ?
Paz Furtado
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Henrique Lamim
Lacobrigense [I]
António Joaquim Correia Júnior
Gazeta do Algarve
Governo Civil
Paz Furtado
Eduardo Henrique Lamim
Lacobrigense [I]
António Joaquim Correia Júnior
Gazeta do Algarve
184?-187?
1864?-1873?
1869-1873
1872-1883
1835 - ?
184?-1863; 187?-1913?
184?-187?
1864?-1873?
1869-1873
1872-1883
Porimonense [I]
1873-1879?
Governo Civil
1835 - ?
Faro
Paz Furtado
184?-1863; 187?-1913?
Vila Nova de
Porimão
Eduardo Henrique Lamim
Gazeta do Algarve
Porimonense [I]
Liberdade
184?-187?
1872-1883
1873-1879?
1874-1878?
Governo Civil
1835 - ?
Faro
Faro
Lagos
Faro
1869
Lagos
Faro
1872
Lagos
Faro
1873
Lagos
Vila Nova de
Porimão
1874
Paz Furtado
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Henrique Lamim
Eduardo Seraim
184?-187?
1875-197?
Lagos
Gazeta do Algarve
1872-1883
Vila Nova de
Porimão
Porimonense [I]
Liberdade
1873-1879?
1874-1878?
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro, 1876]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Henrique Lamim
Eduardo Seraim
O Comércio do Sul
António Manuel Henriques
184?-187?
1875-197?
1876-1878
1876?-1880?
Lagos
Gazeta do Algarve
1872-1883
Vila Nova de
Porimão
Porimonense [I]
Liberdade
1873-1879?
1874-1878?
Faro
1875
Faro
1876
4
3
4
6
7
6
7
9
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
Governo Civil
Faro
1878
Lagos
Vila Nova de
Porimão
Silves
Faro
1879
Lagos
Vila Nova de
Porimão
Silves
Faro
1880
Lagos
Vila Nova de
Porimão
Silves
Faro
1882
Tavira
Lagos
Vila Nova de
Porimão
Faro
1883
Tavira
Lagos
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro, 1876]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Henrique Lamim
Eduardo Seraim
O Comércio do Sul
António Manuel Henriques
Gazeta do Algarve
Porimonense [I]
Liberdade
A Defesa do Povo
184?-187?
1875-197?
1876-1878
1876?-1880?
1872-1883
1873-1879?
1874-1878?
1878-1880
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
António Manuel Henriques
J. F. Tavares Belo & C.ª
Gazeta do Algarve
1875-197?
1876?-1880?
1879-1885
1872-1883
Porimonense [I]
1873-1879?
A Defesa do Povo
Governo Civil
1878-1880
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
António Manuel Henriques
J. F. Tavares Belo & C.ª
Luís Mascarenhas
Gazeta do Algarve
1875-197?
1876?-1880?
1879-1885
1880-2011872-1883
A Independência
1880-1882
A Defesa do Povo
Governo Civil
1878-1880
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
J. F. Tavares Belo & C.ª
Luís Mascarenhas
Agosinho Ferreira Chaves
Burocráica
Gazeta do Algarve
1875-197?
1879-1885
1880-201188?-1895
1882-1912
1872-1883
A Independência
1880-1882
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
J. F. Tavares Belo & C.ª
Luís Mascarenhas
Agosinho Ferreira Chaves
Burocráica
Gazeta do Algarve
Moderna
1875-197?
1879-1885
1880-201188-?-1895
1882-1912
1872-1883
1883-1890
10
8
9
9
9
165
166
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
Faro
1885
Tavira
Lagos
Faro
1888
Tavira
Lagos
Olhão
Governo Civil
Paz Furtado[>Districto de Faro]
Eduardo Seraim
J. F. Tavares Belo & C.ª
Luís Mascarenhas
Agosinho Ferreira Chaves
Burocráica
Democráica [I]
1835 - ?
184?-1863; 187?-1913?
1875-197?
1879-1885
1880-201188-?-1895
1882-1912
1885-1888
Moderna
1883-1890
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Agosinho Ferreira Chaves
Burocráica
Democráica [I]
Moderna
1875-197?
1880-201188-?-1895
1882-1912
1885-1888
1883-1890
Democráica
Governo Civil
1888-1891
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Faro
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Agosinho Ferreira Chaves
1875-197?
1880-201188-?-1895
Tavira
Burocráica
1882-1912
Lagos
Moderna
1883-1890
Olhão
Loulé
Democráica
O Algarvio
Governo Civil
1888-1891
1889-1896
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Olhão
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Agosinho Ferreira Chaves
Pequeno em Tudo
Burocráica
Minerva
Afonso Cañet de Castro
Democráica
1875-197?
1880-201188-?-1895
1891-1893
1882-1912
1891
1891-1893?
1888-1891
Loulé
O Algarvio
1889-1896
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Agosinho Ferreira Chaves
Pequeno em Tudo
Burocráica
Afonso Cañet de Castro
O Olhanense
O Algarvio
1875-197?
1880-201188-?-1895
1891-1893
1882-1912
1891-1893?
1892-2011889-1896
1889
Faro
1891
Tavira
Lagos
Faro
1892
Tavira
Lagos
Olhão
Loulé
9
9
9
11
10
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
Faro
1893
Tavira
Lagos
Olhão
Loulé
Vila Real de
Santo António
Faro
1894
Tavira
Lagos
Olhão
Loulé
Vila Real de
Santo António
Faro
1897
Tavira
Lagos
Vila Nova de
Porimão
Olhão
Loulé
Vila Real de
Santo António
Faro
1902
Tavira
Vila Nova de
Porimão
Olhão
Loulé
Vila Real de
Santo António
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL)
Governo Civil
Paz Furtado[>Districto de Faro]
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Agosinho Ferreira Chaves
Pequeno em Tudo
Burocráica
Afonso Cañet de Castro
O Olhanense
O Algarvio
O Louletano
1835 - ?
184?-1863; 187?-1913?
1875-197?
1880-201188-?-1895
1891-1893
1882-1912
1891-1893?
1892-2011889-1896
1893-201-
Guadiana [I]
1893-1961
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Agosinho Ferreira Chaves
Burocráica
Guadiana
O Olhanense
O Algarvio
O Louletano
1875-197?
1880-201188-?-1895
1882-1912
1894-1897
1892-2011889-1896
1893-201-
Guadiana [I]
1893-1961
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Burocráica
Correio do Algarve
Guadiana
1875-197?
1880-2011882-1912
1897
1894-1897
Rocha
1897
O Olhanense
O Louletano
1892-2011893-201-
Guadiana [I]
1893-1961
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
1 8 4 ? - 1 8 6 3 ;
187?-1913?
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Burocráica
1875-197?
1880-2011882-1912
Arade
1902-190?
O Olhanense
O Louletano
Folha do Sul
1892-2011893-2011902-1905
Guadiana [I]
1893-1961
12
11
11
10
167
168
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
Faro
Tavira
1903
Vila Nova de
Porimão
Olhão
Loulé
Vila Real de
Santo António
Faro
1905
Tavira
Lagos
Vila Nova de
Porimão
Olhão
Loulé
Vila Real de
Santo António
Faro
Tavira
1908
Lagos
Vila Nova de
Porimão
Olhão
Loulé
Vila Real de
Santo António
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
O Sul
Burocráica
1875-197?
1880-2011903-1905
1882-1912
Arade
1902-190?
O Olhanense
Minerva Olhanense
O Louletano
Folha do Sul
Guadiana [I]
1892-2011903?-1907?
1893-2011902-1905
1893-1961
Guadiana [II]
1903-1912
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
O Sul
Nova Minerva
Burocráica
Lacobrigense [II]
1875-197?
1880-2011903-1905
1905-1921
1882-1912
1905-1927
Arade
1902-190?
O Olhanense
Minerva Olhanense
1892-2011903?-1907?
O Louletano
1893-201-
Folha do Sul
1902-1905
Folha de Loulé
1905-1907
Guadiana [I]
1893-1961
Guadiana [II]
1903-1912
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Nova Minerva
Burocráica
Democráica [II]
Lacobrigense [II]
1875-197?
1880-2011905-1921
1882-1912
1908-1923
1905-1927
Arade
1902-190?
O Olhanense
O Louletano
Guadiana [I]
1892-2011893-2011893-1961
Guadiana [II]
1903-1912
13
16
13
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
Faro
1909
Tavira
Lagos
Vila Nova de
Porimão
Olhão
Loulé
Vila Real de
Santo António
Faro
Tavira
1910
Lagos
Vila Nova de
Porimão
Silves
Olhão
Loulé
Vila Real de
Santo António
Lagoa
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
Governo Civil
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
184?-1863; 187?-1913?
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Nova Minerva
União
Burocráica
Democráica [II]
Lacobrigense [II]
1875-197?
1880-2011905-1921
1909?-2013
1882-1912
1908-1923
1905-1927
Arade
1902-190?
O Olhanense
O Louletano
Guadiana [I]
Guadiana [II]
Governo Civil
1892-2011893-2011893-1961
1903-1912
1835 - ?
Paz Furtado[>Districto de Faro]
Eduardo Seraim
Luís Mascarenhas
Nova Minerva
União
Burocráica
Democráica [II]
Lacobrigense [II]
184?-1863; 187?-1913?
1875-197?
1880-2011905-1921
1909?-2013
1882-1912
1908-1923
1905-1927
Prazeres
1910?-1928?
Silvense
O Olhanense
O Louletano
Guadiana [I]
Guadiana [II]
João Crisóstomo Freitas Barros
1910-1912
1892-2011893-2011893-1961
1903-1912
1910?-1912
Fonte: PALMA (2008: vol. 1, pp. 8-177).
O desenvolvimento aqui registado acompanhou
um conjunto de condições favoráveis à dinâmica da cultura ipográica. Destas destacamos as melhorias nas
condições dos estabelecimentos de educação e o seu
aumento; o ambiente de paz políico-social alcançado
na década de 1850 e o plano Fonista de modernização
do país que começou lentamente a produzir os seus
efeitos na província; a melhoria nas vias de comunicação, com o início das carreiras de navegação a vapor a
2 de Junho de 1853, as quais em acumulação com as
embarcações ligeiras (caíques e iates), aumentaram não
só o trânsito, mas também a regularidade, a segurança
e a rapidez entre os portos do Algarve e Lisboa, alcançando-se em 24 horas33; a densiicação, a regularidade
e a segurança da rede dos serviços de Correiro nacio33
Cf. SANTOS (1995: pp. 11-32).
14
16
169
170
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
nal e regional, que permiiu a interacção regular com
os clientes e uma distribuição eicaz das publicações34; a
organização, um pouco por toda a província, de espaços
formais e informais de leitura, denotando um crescente
apeite por materiais de leitura; a lei de 17 de Maio de
1866, abolindo as restrições impostas à imprensa periódica, o que representou um real esímulo para a expansão da acividade ipográica.
O ritmo da expansão da acividade no Algarve foi
ímida até inais da década de 1860, embora, desde as
décadas de 1830 e 1840, exisissem oicinas a laborar na
capital do distrito de forma ininterrupta (casos das ipograias do Governo Civil, Paz Furtado e Lamim). No total,
entre 1808 e 1910, funcionaram 48 oicinas ipográicas.
O alargamento a outros concelhos fez-se progressivamente a parir de 1860, ocorrendo nos concelhos mais
povoados e comercialmente mais acivos. O crescimento da indústria piscatória e conserveira, no virar do século, favoreceu o crescimento e a actualização tecnológica da indústria ipográica e jusiicou a introdução
das primeiras litograias na região (Vila Real de Santo
António e Porimão). Os efeitos relaivos à inexistência
de ipograias nas zonas semi-rurais ou rurais poderão
maizar-se, atendendo à comprovada presença de correspondentes de ipograias, como podemos testemunhar pelo anúncio que se segue, feito pelo Almanach de
S. Braz d’Alportel (Algarve) para o anno de 1893:
Manuel Marins Domingues […] (Vulgo Loja
Nova) Com estabelecimento de fazendas de lã, linho,
seda, algodão, quinquilharias, mercearias, tabacos,
chapéus e leitos de ferro […]. Encarrega-se de despachos de mercadorias pelo caminho-de-ferro para
todas as estações do país e de qualquer encomenda
ipográfica.35
Entre 1870 e 1890, por exemplo, surgiram doze novas
oicinas com moivações políicas, cujos intuitos se revelaram na edição periodísica. A saber: 4 militantes do Parido
Progressista, 1 do Parido Regenerador e 7 afectas ao Parido Republicano. Da década de 1860 para a de 1870, quase
triplicaram as publicações criadas (de 5 para 14) e, num
34
No mesmo ano de 1853 passou a ser expedida diariamente correspondência oicial
de Lisboa para Faro e Loulé, intensiicando-se as interacções entre as estruturas centrais e regionais, a que a conclusão da linha telegráica, em Julho de 1858, deu maior
impulso. No ano de 1877, o Algarve possuía uma rede de correios densa, pondo em
correspondência a administração central em Faro com as várias direcções de correio
instaladas em Alcouim, Vila Real de Santo António, Castro Marim, Tavira, São Brás de
Alportel, Olhão, Loulé, Albufeira, Silves, Lagoa, Vila Nova de Porimão e Lagos, e ainda
as delegações que serviam as localidades mais pequenas como Vila do Bispo, Ferragudo, Monchique, Alcantarilha, Algoz, São Bartolomeu de Messines, Fuzeta ou Estoi.
35
Subls. meus. Almanach de S. Braz d’Alportel (Algarve)… (1892).
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
período inferior a 10 anos, triplicou o número de jornais
em circulação por ano (3 em 1869; 10 em 1877)36, valores
que, no entender de José Manuel Tengarrinha, integraram
a região na «tendência geral do País quanto ao movimento
jornalísico»37, como se veriica nas oicinas que assumiram a designação do próprio jornal.
Com efeito, o Periodismo tornou-se o protagonista
da edição à escala nacional (i.e., incluindo os espaços
infranacionais), manifestando a dimensão actuante da
imprensa na nova cultura políica do país. Este dado autoriza-nos a contestar a ideia de o Algarve e de outras
províncias estarem ausentes da formação e do debate
públicos, como manifestamente evidenciou o recrudescer da acividade editorial na década de 1870, com
publicações relacionadas com a divulgação dos ideais
republicanos, ou os primeiros anos da década de 1890,
associadas ao Ulimatum.
CAPACIDADE TECNOLÓGICA: o parque ipográico
É de todos os tempos e lugares a ipograia modesta […].
A indubitável deiciência em face de instalações modelares não signiica de modo nenhum menos uilidade de
serviços. Pelo contrário. Como toda a comunidade, nem
tudo se movimenta no mais elevado nível social, são as
oicinas e casas comerciais mais modestas exactamente
as que melhor servem as camadas mais populares […]38.
Até à década de 1870, a acividade caracterizou-se pela exiguidade estrutural. Eram pequenas unidades
de produção, compostas por um ou dois aristas não
qualiicados, prelos usados e ipo gasto. A ipograia do
Governo Civil é disso exemplo. Fornecida pela Imprensa
Nacional, a degradação do seu estado de conservação limitava a produção exigida pelos serviços, como reiteradamente expôs o governador civil e aqui se exempliica:
Sendo de maior import[ânci]ª e uilidade ao
Serviço Público e à pronta expedição dos diferentes
objectos desta Secret[ari]ª que grande número de
papéis precisos sejam convenientemente impressos,
mormente depois da nova organização das Reparições da Fazenda, tornando-se este objecto tão mister
e proícuo, que já tem sido m[ui]tas vezes recomendado em Portaria do Tribunal do Tesouro Público:
cumpre ponderar a V. Ex.ª q[u]e um único prelo que
36
A contagem fez-se com recurso ao trabalho de MESQUITA (1988-1989), 2 vols.
37
TENGARRINHA (1999: p. 593).
38
Povo Algarvio. Tavira, n.º 1510, 2.6.1963, p. 2.
171
172
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
existe nesta Secr[ari]ª se acha tão daniicado e cheio
de defeito (q[u]e já trouxe da Imprensa Nacional) que
se torna impossível imprimir nele qualq[ue]r papel por
insigniicante que seja, rogando por isso a VEx.ª haja
de expedir as suas ordens a im de que ele seja com a
possível brevidade trocado por um outro em bom uso
e capaz de servir, o que sem dúvida se tornará uma
aquisição importante e proícua ao bom regime e andam[en]to dos negócios desta Repart[iç]ão.39
As expectaivas do governador civil foram goradas,
tendo de recorrer, em alternaiva, ao emprésimo
do prelo existente na Secretaria da 1.ª Divisão Militar
«muito pequeno e insigniicante»40. O seu sequestro,
por ocasião guerra da Patuleia, para edição do jornal O
Popular41 infringiu-lhe mais estragos. Apesar de ter sido
devolvido e reintegrado nos serviços da Secretaria do
Governo Civil, o prelo não saisfazia a procura, como se
atesta na clareza dos argumentos expostos na resposta
a um pedido de impressão que a seguir transcrevemos:
Ao General
Il.mo e Ex.mo Snr. = Em resposta ao oício de V.
Ex.ª de 11 do corrente, relaivo à impressão de um
Escrito sobre o Monte Pio do Exército; tenho a honra de dizer a V. Ex.ª que o prelo que foi entregue a
este Governo Civil pela Secretaria da Guerra de nada
tem servido de, por pequeno e incompleto, que o ipo
que com ele se recebeu foi tão pouco, tão baralhado e
tão gasto que nunca serviu, que as pequenas obras de
impressão, como Editais, conhecimentos, recibos que
aqui se têm feito, o têm sido com um outro prelo dado
pelo Ministério do Reino a este Governo Civil, que o
ipo que com este prelo foi dado se acha estragado
e com muitas faltas, porque no tempo da revolta o
desencaminharam; que neste Governo Civil não há
um compositor habilitado para aprontar impressão de
escritos de mais vulto do que aqueles de que acima
se faz menção, e quando mesmo se não desse tudo
quanto deixo ponderado, não valeria a pena do grande
trabalho da composição, a iragem de 20 exemplares;
pelo que devolvo o escrito que V. Ex.ª me remeteu.42
39
ALGARVE. Governo Civil; ABOIM, Marçal Henriques de Azevedo e Silva Lobo de –
[Oício] n.º 315, 9.11.1844, Faro [a] Ministério do Reino. [Ms.] 1844. Acessível em ADF,
fundo Governo Civil, lv. 465.
40
ALGARVE. Governo Civil; ABOIM, Marçal Henriques de Azevedo e Silva Lobo de
– [Oício] n.º 104, 26.4.1845 [a] Ministério do Reino. [Ms.] 1845. Acessível em ADF,
fundo Governo Civil, lv. 465.
41
O Popular: Jornal do Algarve. Faro: Secretaria do Governo Civil, 12.3.1847-18.6.1847.
ALGARVE. Governo Civil; COUCEIRO, António Maria – [Oício] n.º 2, 12.1.1850, Faro
[a] General. [Ms.] 1850. Acessível em ADF, fundo Governo Civil, lv. 496.
42
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
No campo da experiência paricular, as condições
não divergiam do retrato aqui traçado. A indústria
caracterizou-se por pequenas unidades de produção,
cujo parque foi quase sempre adquirido em segunda
mão. O parque ipográico era geralmente consituído
por uma máquina de impressão manual, usada
para trabalhos de pequenas dimensões, material de
composição – três a cinco cavaletes fornecidos com
ipo – uma máquina de coser, uma de cantear e uma
guilhoina, todas manuais. Nas oicinas que também
imprimiam jornais, há a considerar uma máquina de
impressão para formatos grandes.
No início dos anos de 1880, começaram a surgir
sinais de actualização tecnológica, acentuando-se a
economia e a rapidez dos trabalhos, em sintonia com
as exigências de uma sociedade em ritmo cada vez mais
acelerado, como se comprova neste anúncio da casa de
Tavares Bello & C.ª:
Recebeu-se também a MÁQUINA MINERVA
começando desde já a funcionar e garanindo-se
a perfeição e economia que oferece para todos
os impressos cujo formato não exceda a 0,25 e
mui principalmente para bilhetes de visita, onde
a excelência do cartão, a niidez e economia se
manifestam claramente. Máquina Minerva – 6000
bilhetes/hora.43
A modésia dos estabelecimentos não deve
confundir-se, bem-entendido, com a sua uilidade,
como bem lembrou o redactor do Povo Algarvio, citado
em epígrafe.
OS TIPÓGRAFOS
A classe tipográica é a primeira que está ligada aos
homens cieníicos e literatos, por ser os primeiros homens a
quem estas transmitem as suas ideias.44
Não é por acaso que Robert Darnton classiicou
os ipógrafos como os «intermediários esquecidos»
do sistema livresco45. Apesar da posição privilegiada
que lhe reconheceu o português Custódio José Vieira,
na primeira reunião da Sociedade de Socorros dos
Tipógrafos Portuenses em 1853, que citámos acima,
os dados sobre os membros desta classe são escassos.
43
O Gráis: Annunciario Semanal. Faro, n.º 10, 18.1.1880, p. 4.
44
OLIVEIRA (1853: p. 23).
45
DARNTON (1990: p. 78).
173
174
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
A esta circunstância não é alheio o processo de
canonização dos autores, associado a uma críica e
história que longamente baseou a sua análise na dupla
autor-obra, dispensando o estudo das condições de
circulação das obras.
No caso do Algarve, as reclamações devidas à
insuiciência técnica dos operários, a quem escasseava
formação proissionalizante, não foi rara. Os primeiros,
apesar de minimamente instruídos, vinham de outras
áreas proissionais, o que diicultava a adaptação e
uma transmissão idedigna dos textos, como deixou
registado o redactor do Echo do Algarve (09/09/1868 –
23/05/1869?), José Teixeira Simões:
O Echo do Algarve tem um só e único redactor,
que acumula as funções de administrador, revisor, e
até já compôs como ipógrafo!
É impresso numa tipografia, que foi fundada
por um cavalheiro, que ainda até então, não havia
visto uma imprensa! O jornal é composto por dois
tipógrafos, inventados pelo seu redactor e instruídos
pelo dono da tipografia, - um alfaiate e um carpinteiro,
e mais dois rapazes aprendizes já destes, não tendo
aqueles, de sua vida, visto se quer um ipo!
Dos impressores não falamos; foram recrutados
pelo mesmo sistema.46
Em norma, o ipógrafo algarvio formava-se
proissionalmente na própria oicina através do
«aprender-fazendo». A sua entrada no mundo das letrasde-forma fazia-se com uma idade média compreendida
entre os 10 e os 12 anos e aí podia especializar-se nas
categorias de compositor, impressor ou acabamentos.
Todavia, considerando a modésia das oicinas algarvias,
os ipógrafos deveriam adquirir polivalência técnica,
dominando as três especialidades. A acividade foi
essencialmente masculina. O mais anigo anúncio que
localizei desinado a aprendizes do sexo feminino data
de 1922 e foi lançado pela Tipograia Central (19191924), de Olhão, no seguintes termos: «meninas que
desejem aprender a arte ipográica, sabendo ler e
escrever bem.»47.
A introdução da especialização ipográica
ocorreu durante a década de 1870. Disso é exemplo o
invesimento paricular do médico Augusto Feio Soares
de Azevedo (Coimbra, 1838 – Lisboa, 1907), fundador
da ipograia Gazeta do Algarve em 1872, na cidade de
46
Echo do Algarve. Lagos, n.º 33, 18/04/1869.
47
Gazeta de Olhão. Olhão, n.º 103, 17/9/1922, p. 2.
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
Lagos. Augusto Azevedo adquiriu ipograia própria e
contratou, em Lisboa, dois ipógrafos proissionais para
compor e imprimir o jornal Gazeta do Algarve (1.1.187325.12.1877). Ao reunir condições que assegurassem
a longevidade do periódico, introduziu na região dois
mestres da arte, Jaime Quirino Chaves (n. Lisboa, 1848;
f. Olhão, 1921) e Francisco Soares Franco Ferreira
Lisboa (Lisboa, 18--? – Paris, 19--?), que protagonizaram
mudanças ao nível do aperfeiçoamento da impressão,
da edição e da formação local de ipógrafos, tornando
as oicinas que inauguraram, ou por onde passaram,
verdadeiras escolas da arte ipográica. A sua acção
repercuiu-se na acividade editorial regional até à
década de 1920, na qual colaboraram acivamente e,
em alguns casos de forma pioneira, enquanto leitores,
ipógrafos, mestres, editores e «escritores públicos».
A PRODUÇÃO
Enquanto instrumentos de poder e de contra-poder
as ipograias abriram, encerraram, foram deslocadas,
arrendadas ou vendidas consoante as necessidades de
intervenção pública dos seus proprietários. Esta situação
foi comum e manteve-se até uma mais sólida ancoragem
da acividade na vida industrial e comercial no início
do século XX, proliferando então as designadas casasde-obras, desinadas a uma produção essencialmente
comercial, tais como contas, bilhetes de convite, recibos,
talões, anúncios, cartas, bilhetes de visita, facturas,
programas ou avisos. São obras não canónicas e de
carácter efémero que respondiam às necessidades de
uma vida social, comercial e burocratico-administrativa
em ascensão, capaz de sustentar, primeiro parcialmente,
depois integralmente, o negócio do impresso que
progressivamente se propagou.
Numa perspeciva diacrónica, podemos falar de
duas fases na história contemporânea do impresso
neste espaço infranacional. Numa primeira fase, as
oicinas resultaram de circunstâncias e de interesses
muito especíicos, como os de cariz religioso (Tavira,
ipograia da ordem dos Carmelitas Descalços), políico
(invasões francesas e guerra civil) ou administraivo
(civil e militar), não se alterando o peril de quem
inha capacidade para editar os seus textos, quando
comparado com o do Anigo Regime (Religião, Estado
e Administração). Apesar do carácter episódico
que evidenciam, o impresso obteve uma aplitude
considerável, em certas circunstâncias, sendo
apresentado como meio de combate e de «verdade»
175
176
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
(campo políico e religioso). Concebido este espaço
cultural, a variação do peril daqueles que produziram
e usaram o impresso vincou-se a parir da década de
1860, momento a parir do qual podemos falar de uma
segunda fase da cultura ipográica, onde é claro o desejo
socialmente parilhado de paricipar e interferir no
mundo organizado pelo discursividade textual impressa.
Neste processo de maturação do mundo impresso, o
Periodismo desempenhou um efeito catalizador sobre
a promoção da cultura escrita, adequando-se a públicos
social e culturalmente disintos. Esta paricipação
no espaço cultural da escrita originou fenómenos
de reorganização social muito consideráveis, como
podemos acompanhar, por exemplo, através da acção
desencadeada pelo Jornal dos Aristas (11/11/187520/9/1877), em que a escrita e a leitura são práicas
manifestamente actuantes, interferindo, por exemplo,
na criação de diversos espaços associaivos.
O livro, materialmente entendido, não foi um
objecto assíduo entre as edições regionais, embora
ele esivesse presente na hibridez e na versailidade
editorial do periódico, por exemplo, na secção do
folheim, pensada para ser recortada, coleccionada e
encadernada, dando origem a um novo formato; ou
no estatuto deste enquanto laboratório textual, usado
para experimentar a reacção dos leitores e introduzir
variantes nos textos seguidamente editados em livro48.
Na verdade, mais do que uma relação de exclusão,
os objectos jornal e livro estabeleceram uma forte
ligação de interdependência e de mútua promoção. A
emergência do Periodismo provincial consituiu um
elemento-chave para a estrutura do sistema editorial
nacional, ao representar um conjunto inédito de canais
abertos para distribuir e dilatar o mercado livreiro.
O PÚBLICO-LEITOR
A diversidade genológica detectada no período em
apreço é um indício sólido da crescente diversiicação
social e literária de públicos; mas poderemos, com maior
rigor, conceber a dimensão deste universo cultural?
No quadro II, sinteizamos os dados que relacionam
a evolução da acividade ipográica com os números
relaivos à população alfabeizada.
48
Não se pense que esta foi uma práica provincial exclusiva. Lembremos a este propósito, a fortuna editorial de obras de Camilo Castelo Branco, Almeida Garret ou Eça
de Queirós, por exemplo. Sobre o tema, cfr. RODRIGUES (1998).
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
177
Quadro II: Evolução do número de ipograias no
Algarve: 1808-1910
Data
Tipograias
População
1808
1
103 307≅
População
alfabeizada
---
1833
2
114 499≅
1837
1
127 446
1840
2
1846
4
1850
1864
Alfab./Tip.
Tipógrafos
Prelos
---
1
1
---
---
1
1
---
---
1
1
---
---
---
2
2
---
---
---
4
4
3
---
---
---
4
4
3
172 660
---
---
4
5
1878
10
199 142
28 544
2 854
8
6
1880
9
---
---
---
14
10
1890
9
228 635
34 067
3 785
12
10
1900
11
255 191
42 416
3 856
13
10
1910
16
272 861≅
48 789≅
3 049≅
27
22
Fonte: Quadro I, Recenseamentos Gerais da População, LOPES (1841: vol. II, mapa n.º 2) e SOUSA (1979).
Os números apresentados, embora úteis, levantam
questões relacionadas com os conceitos de «população
alfabeizada», subjacentes a cada um dos censos49 e
com o número provável de público-leitor. Certamente,
nem todos os que sabiam ler, liam, e nem todos os
considerados «analfabetos» estavam alienados do
mundo das letras, como demonstram os testemunhos
de leituras oralizadas para públicos «analfabetos»,
que alcançam os nossos dias e que foram cruciais
para o fenómeno das formações de opinião pública,
desde o início do século XIX50. Vejamos que esimaivas
permitem traçar algumas informações colhidas na
imprensa periódica da época.
Em 1875, o Jornal dos Aristas (Porimão, 18751877) declarava imprimir 3 600 exemplares; em 1880,
o Gráis (Faro, 1880) dava à estampa 1 000 exemplares,
o Jornal de Annuncios (Faro, 1880) imprimia 800
exemplares, e, em Tavira, o Jornal de Annuncios, que
se publicou entre 1883-1900, irava ordinariamente
2 000 exemplares semanais e 2 500 em situações
extraordinárias.
Como média plausível, consideremos os 1500
exemplares por jornal. Atentemos no ano de 1878.
Neste ano circularam simultaneamente 8 periódicos
provinciais, o que oferece um total de 12 000 exemplares
a serem distribuídos. Se considerarmos que cada
49
Cf. CANDEIAS (2004).
50
ALVES (2000: p. 59).
178
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
exemplar aingia em média 5 leitores51, alcançamos um
público-leitor (leitor, auditor, espectador) possível de 60
000 pessoas, o que representa 30% da população total
da região (199 142) e o dobro da população alfabeizada,
que, nesse ano, ascendeu a 28 544 pessoas.
Os números não traduzem a qualidades das
leituras concretas e individuais, mas sugerem relações
mais complexas entre os indivíduos e a imprensa do
que as que derivam exclusivamente do critério da
alfabeização.
NOTA FINAL
O século XIX produziu uma nova cultura ipográica,
que se diferenciou face aos padrões da edição moderna
por ancorar-se em valores tais como os de actualidade,
de efemeridade, de reproduibilidade industrial, de
diversidade de públicos e de produtos: da familiaridade,
enim, com o texto impresso.
O exemplo do Algarve, a que idealmente
acrescentaremos os demais espaços infranacionais,
demonstrou-nos que o processo não foi conínuo e teve
esímulos contextuais díspares. Porém, evidenciou de
igual modo que tais iniciaivas coniveram o gérmen da
contemporaneidade, permiindo uma maior integração
e reelaboração do lugar da província no espaço cultural
desenhado pela imprensa. Seguindo o universo das
pequenas e médias oicinas ipográicas, reconhecemos
a topograia de uma nova autoridade histórica, quase
sempre exterior aos poderes oiciais, que urdiu, alargou
e modelou a esfera pública nacional. Nesta cartograia
abre-se, inalmente, um amplo campo de possibilidades
para o estudo da história da cultura escrita impressa,
cujos limites não são forçosamente nacionais. Mas essa
é matéria para outras linhas.
51
TENGARRINHA – Op. cit., 1989, p. 150 aponta cautelosamente para que, em 1830,
um exemplar aingisse entre 15 a 20 pessoas, reduzindo a audiência para «um índice
médio mínimo de 4 a 5 leitores por exemplar», quando se refere à década de 70.
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
179
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ALGARVE. Governo Civil; ABOIM, Marçal Henriques de Azevedo e Silva Lobo de – [Oício] n.º 104,
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180
PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03
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PATRÍCIA DE JESUS PALMA
CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL
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13
Contributo para a história da edição contemporânea em Portugal:
a emergência da edição impressa na periferia, o caso do Algarve (1808-1910)
Contribuion to the history of the contemporary ediion in Portugal:
the emergence of the printed ediion in the periphery, the case of the Algarve (1808-1910)
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
Resumo: Até inais do século XVIII, Portugal possuiu
um sistema de produção concentrado em cinco capitais
do impresso. Durante esse período, podemos abordar o
comércio e a circulação do livro a uma escala nacional,
mas a produção com o mesmo alcance só se veriicou
no decorrer de Oitocentos, quando a indústria ipográica penetrou a vasta periferia portuguesa aquém e além-mar. Ao generalizar-se, estando disponível localmente,
a cultura ipográica adquiriu uma dimensão verdadeiramente inédita. Neste arigo, pretende-se contribuir
para o aprofundar do conhecimento sobre esta nova
cultura da escrita, a parir do exemplo do Algarve.
Palavras-chave:
Tipograia
Edição
Cultura Escrita Impressa
Século XIX
Algarve-Portugal
Abstract: Unil the end of the 18th century, Portugal had
a print system concentrated in ive capitals. Book producion
only reached naional level in the 19th century, when the printing industry started to expand beyond outskirts of the ive print
capitals. The trade and circulaion of the book was naionwide
since the end of 18th century to present day. By becoming generalised and locally available, the typographic culture acquired
a truly unprecedented dimension. In this aricle, we intend to
contribute to the deepening of knowledge about this new writing culture, from the example of the Algarve.
Keywords:
Typography
Ediion
Writen and Print Culture
19th Century
Algarve-Portugal
O laicismo na capital algarvia nos inais de Oitocentos:
Num quadro de aniclericalismo crescente
ao longo de todo o século XIX, que alastrava a todo o
território nacional, assumindo diversas expressões e
envolvendo vários sectores da sociedade, um barbeiro,
estabelecido em Faro, de seu nome Francisco Pereira
Salles, correspondente da Semana de Loyola, publicou
no inal da década de 80 um folheto initulado
de Geograia Astronómica, onde negava a existência
de Deus. O folheto foi apreendido e o seu autor preso,
Ani clericalismo
Diocese Algarve
Processo Salles
Perseguição religiosa
Laicismo
the PhD Programme in Informaion and
Documentaion Sciences taught at the same
university and beneiing from an individual
grant awarded by the FCT (Portuguese
Foundaion for Science and Technology).
Research member of CIDEHUS/UE –
Interdisciplinary Centre for History, Culture
and Socieies from the Évora University.
o Programa de Doutoramento em Ciências da Informação
e da Documentação, ministrado pela mesma insituição
académica, tendo-lhe sido concedida bolsa individual pela
FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Invesiga
dor membro do CIDEHUS/UE - Centro Interdisciplinar de
História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora.
PATRÍCIA DE JESUS PALMA
pajepa@fcsh.unl.pt
Patrícia de Jesus Palma holds a degree
in Modern Languages and Literatures Portuguese Studies, from the University
of the Algarve (2003). She has a Master’s
degree in Portuguese Studies - specializing
in Contemporary Portuguese Literature,
at the School of Humaniies and Social
Sciences, NOVA University of Lisbon.
Dissertaion is about The literary producion
printed in the Algarve during the 19th and
20th Centuries (2008), and she as a PhD in
Portuguese Studies – with a specializaion
in Book History and Textual Criicism by the
same Faculty, with the thesis The Reyno
das Letras. The Literary Culture in the
Periphery: the Algarve, 1759-1910 (2015).
She is an integrated researcher at the CHAM
(Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar
/ Portuguese Centre for Global History),
FCSH-NOVA University of Lisbon/University
of the Azores and as such has paricipated in
naional and internaional scieniic meeings,
has lectured, and has also published the
parial results of her research in magazines
and specialty books and has promoted
cultural outreach aciviies in collaboraion
with other insituions. She is a collaborator
of the Manuel Viegas Guerreiro Foundaion.
Patrícia de Jesus Palma é licenciada em Línguas e
Literaturas Modernas – variante Estudos Portugueses,
pela Universidade do Algarve (2003), é mestre em
Estudos Portugueses – especialidade de Literatura
Portuguesa Contemporânea, pela Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa com
a dissertação A produção literária impressa no Algarve
durante os Séculos XIX e XX (2008), e é doutora em
Estudos Portugueses – especialidade de História do
Livro e Críica Textual pela mesma Faculdade, com a
tese O Reyno das Letras. A Cultura Literária na Periferia:
o Algarve, 1759-1910 (2016).
É invesigadora integrada do grupo «Leitura e
formas de escrita» do CHAM, FCSH-Universidade
NOVA de Lisboa, Universidade dos Açores e como tal
tem paricipado em encontros cieníicos nacionais
e internacionais, tem proferido conferências, tem
publicado os resultados parciais da sua pesquisa em
revistas e livros da especialidade e tem promovido
acividades de divulgação cultural em colaboração com
outras insituições. É colaboradora da Fundação Manuel
Viegas Guerreiro.
LUÍS GUERREIRO
luisguerreiro2011@gmail.com
Has a degree in Civil Engineering by
the Insituto Superior Técnico. Works in the
Câmara Municipal de Loulé as Coordinator
of the Gabinete de Eventos, Comunicação
e Imagem, and is responsible for the
organizaion of the Carnaval de Loulé. Up
unil the end of 2013 was Chief of the Divisão
de Cultura e Turismo. Board of Directors
Chairman of the Fundação Manuel Viegas
Guerreiro. President of the General Meeing
of the CEUPA- Cooperaiva Proprietária of
INUAF- Insituto Universitário D. Afonso III.
Has several professional courses related with
Licenciado em Engenharia Civil pelo Insituto
Superior Técnico. É quadro superior da Câmara
Municipal de Loulé, desempenhando actualmente
as funções de Coordenador do Gabinete de Eventos,
Comunicação e Imagem, responsável pela organização
do Carnaval de Loulé. Até ao inal de 2013 foi Chefe de
Divisão de Cultura e Turismo. Presidente do Conselho de
Administração da Fundação Manuel Viegas Guerreiro.
Presidente da Assembleia Geral da CEUPA – cooperaiva
proprietária do INUAF- Insituto Universitário D. Afonso
Com o apoio de:
Com o Alto Patrocínio da Direcção Regional
de Cultura do Algarve