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Contributo para a história da edição contemporânea em Portugal: a emergência da edição impressa na periferia, o caso do Algarve (1808-1910)

Até finais do século XVIII, Portugal possuiu um sistema de produção concentrado em cinco capitais do impresso. Durante esse período, podemos abordar o comércio e a circulação do livro a uma escala nacional, mas a produção com o mesmo alcance só se verificou no decorrer de Oitocentos, quando a indústria tipográfica penetrou a vasta periferia portuguesa aquém e além- -mar. Ao generalizar-se, estando disponível localmente, a cultura tipográfica adquiriu uma dimensão verdadeiramente inédita. Neste artigo, pretende-se contribuir para o aprofundar do conhecimento sobre esta nova cultura da escrita, a partir do exemplo do Algarve.

Promontoria Monográica HISTÓRIA DO ALGARVE 03 Coordenação de A. PAULO DIAS OLIVEIRA CRISTINA FÉ SANTOS JOSÉ GONÇALO DUARTE PATRÍCIA DE JESUS PALMA Apontamentos para a História das CULTURAS DE ESCRITA: DA IDADE DO FERRO À ERA DIGITAL Promontoria Monográica HISTÓRIA DO ALGARVE 03 Apontamentos para a História DAS CULTURAS DE ESCRITA: DA IDADE DO FERRO À ERA DIGITAL EDITOR: Centro de Estudos em Património, Paisagem e Construção (CEPAC) Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Universidade do Algarve Editor: Centro de Estudos em Património, Paisagem e Construção (CEPAC) Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Universidade do Algarve Comissão Coordenadora: A. Paulo Dias Oliveira Crisina Fé Santos José Gonçalo Duarte Patrícia de Jesus Palma Introdução: A. Paulo Dias Oliveira Patrícia de Jesus Palma Tiragem: 500 Capa e design: Lúcia Costa Depósito Legal: 419839/16 ISBN: 978-989-8859-00-6 Faro, 2016 Impressão: Gráica Comercial Arnaldo Matos Pereira, Lda Zona Industrial de Loulé, Lote 18 Apartado 247 - 8100-911 Loulé www.graicacomercial.com Agradecimentos: Muitos foram os que tornaram possível a concreização deste projecto que já vai no número 3. A alguns deles, que não vêm referidos no corpo da obra, é necessário deixar aqui o nosso agradecimento: a Lúcia Costa (luciacosta80@gmail.com), a designer que mais uma vez concebeu e deu rosto a esta publicação, e um especial obrigado a Emanuel Sancho, director do Museu do Trajo de São Brás de Alportel, uma presença constante e dedicada. Nota: O uso do Acordo Ortográico de 1990 foi opção de cada autor. Com o apoio de: Com o Alto Patrocínio da Direcção Regional de Cultura do Algarve ÍNDICE 7 19 Resumos Introdução A escrita do Sudoeste: 23 um breve ensaio de síntese Amílcar Guerral I Pedro Barros I Samuel Melro 45 Epigraia Romana do Algarve 65 Contributos para a catalogação e estudo da epigraia pública na região do Algarve José D'Encarnação Marco Sousa Santos Projecção documental de poderes: 85 em torno das actas de vereação de Loulé (século XV) Filipa Roldão Samuel Gacon, um editor do Talmud, com os olhos postos no Oriente 101 (A edição de Faro do Pentateuco, de Junho de 1487, no contexto da História da Imprensa incunabular hebraica portuguesa) Manuel Cadafaz de Matos A escrita, a informação e a honra: 135 as provas de limpeza de sangue no Algarve setecenista Nelson Vaquinhas Contributo para a história da edição contemporânea em Portugal: 155 a emergência da edição impressa na periferia, o caso do Algarve (1808-1910) Patrícia de Jesus Palma O laicismo na capital algarvia nos inais de Oitocentos: 183 o célebre processo de Francisco Pereira Salles Luís Guerreiro A linguagem visual da Indústria Conserveira do Algarve: 205 225 o caso da Marie Elisabeth Brand Ana Lúcia Gomes de Jesus Notas prévias a um estudo das imagens e da importância das vanguardas arísicas na imprensa algarvia do começo do século XX Ana Isabel Soares I Mirian Tavares 235 263 Imprensa periódica e propaganda políica: o caso do Nacional sindicalista de Faro A. Paulo Dias Oliveira Escolas de formação de professores do ensino primário no Algarve João Sabóia As escolas primárias dos centenários: 289 subsídios para uma história das construções escolares no Algarve Vítor Ribeiro Para a História da edição do romanceiro no Algarve: 313 335 protagonistas, textos, suportes e uma falsa questão Sandra Boto Notas sobre os autores Contributo para a história da edição contemporânea em Portugal: a emergência da edição impressa na periferia, o caso do Algarve (1808-1910) Patrícia de Jesus Palma1 INTRÓITO A geograia dos centros e periferias da produção impressa em Portugal é historicamente variável, o que se explica, em parte, por esta ter sido longamente uma acividade iinerante. Faro (1487-1494)2, ou Chaves (1489)3, por exemplo, puderam considerar-se núcleos impressores no século nascente da arte ipográica, mas transformaram-se brevemente em periferias do impresso, alimentadas por prelos distantes, não necessariamente nacionais. Estas paricularidades vernáculas permitem lembrar que a invenção de Johannes Gutenberg (13981468) não se generalizou uniformemente no tempo e no espaço, nem de forma conínua4. É necessária uma constante vigilância sobre as alterações que em cada tempo, geograia e sociedade ocorreram no seio do designado universo ipográico, a cada passo individua1 O presente arigo baseia-se na invesigação produzida pela autora no âmbito do mestrado, cujos resultados globais podem ser consultados em PALMA (2008). A autora não segue o Novo Acordo Ortográico. 1 2 De uma perspeciva bibliográica, ANSELMO (1981: p. 235) considerou «indiscuível» a prioridade farense no estabelecimento da imprensa hebraica portuguesa, considerando-a «uma das mais anigas de todo o Mundo», só antecedida por Itália (1469) e Espanha (1476). Seguindo o rasto dos caracteres ipográicos, Artur Anselmo pôde ideniicar o percurso desta oicina, depois do decreto da expulsão dos Judeus, localizando um dos ilhos de Samuel Gacon (ou Porteiro), David, dando coninuidade à acividade em Pesaro (Itália). 3 Data de 1965, a descoberta do Tratado de Conissom, impresso em Chaves, a 8 de Agosto de 1489, alterando completamente a geograia portuguesa da proto-imprensa cristã, cujo estudo se deve a MARTINS (1973: pp. 9-114). A perda de centralidade produiva de determinado local não signiica de forma correlata a perda de importância nos circuitos de circulação das obras impressas. Para uma conceptualização sobre os conceitos de pequeno, médio e periférico espaço do impresso, v. REAL COSTAS (2013). 4 156 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 lizando-se e surpreendendo5. Em Portugal, depois da fase de implantação quatrocenista, com manifestações em Faro, Lisboa, Chaves, Leiria, Braga e Porto, a acividade ipográica chegou a Évora, Coimbra, Viseu, Goa e Macau durante o lorescente século XVI, mas contraiu-se nos séculos XVII e XVIII. Ao longo destes duzentos anos, concentrou-se nas cidades de Goa (até 1754), Lisboa, Évora, Coimbra, Porto e Braga e nem sempre com a mesma intensidade produiva. Tais circunstâncias demonstram-nos que, até Oitocentos, Portugal não possuiu um sistema de produção global, isto é, dispondo de uma generalizada cobertura geográica de estruturas ísicas, técnicas e humanas da arte de imprimir, que tenham permiido o fácil acesso à expressão em letra-de-forma. O contexto revolucionário da primeira metade do século XIX impulsionou fortemente a expansão geográica e social da ipograia, revelando forte poder da comunicação nos diferentes contextos bélicos. Não obstante, a história da edição contemporânea portuguesa é a que menor atenção analíica tem obido dos historiadores, cujo interesse pelos tempos inaugurais da imprensa e pelas principais casas impressoras é manifestamente superior6. Neste arigo, pretende-se contrariar esta tendência7, concentrando-nos, por um lado, no estudo da acividade ipográica contemporânea e, por outro lado, nos pequenos, médios e, eventualmente, periféricos espaços do impresso. O objecivo principal é o de acompanhar a expansão das condições que favoreceram o processo da apropriação dos valores da cultura impressa em Portugal, para o qual a difusão da ipograia foi um dos factores decisivos. O espaço regional do Algarve consitui o nosso estudo de caso, não se aigurando um critério restriivo. Recorrer-se-á, sempre que oportuno, às diferentes escalas de análise, por forma a diminuir os riscos das generalizações inconvenientes, ou de entender como original e extraordinário o que seja uma tendência comummente parilhada8. 5 Cf., a este respeito, CHARTIER (1998), CAVALLO e CHARTIER (2011) e JOHNS (1998). Sobre este assunto, airma LISBOA (1989, p. 186): «a existência de ipógrafos e encadernadores foi desde o século passado algo que interessou aos eruditos. É a busca dos momentos originais que jusiica em grande medida este interesse: quem foram (famílias, proveniências, personalidades), onde icavam (bairros, ediícios), como procediam os primeiros impressores? Daí que a atenção fosse essencialmente dirigida para o Renascimento, e que os séculos ulteriores aparecessem mais como elementos de uma genealogia». Para uma bibliograia da história do livro em Portugal, consulte-se CURTO (2003). 6 Apesar de recente, a história da edição contemporânea apresenta bases sólidas, que, a ítulo exempliicaivo e sob diferentes perspecivas, citamos: NUNES (2001), DURÃO (2003), ANDRADE (2009), MEDEIROS (2010) e MELO (2015). 7 8 Sobre esta metodologia, v. RICOEUR (2010 [2000]: pp. 276-286) e, para o caso concreto da história do livro, v. BOTREL (1992). PATRÍCIA DE JESUS PALMA CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL AS FONTES Sendo possível ideniicar aspectos impulsionadores para a acividade ipográica na segunda metade do século XVIII e ao longo do século XIX, não dispomos de inquéritos, ou de levantamentos estaísicos oiciais, nem é comum a existência de fundos arquivísicos relaivos às casas de impressão contemporâneas, como acontece, por exemplo, para o caso francês9, permiindo-nos adentrar este universo munidos de fontes documentais seguras. Conquanto a ipograia não esivesse geralmente disponível, o impresso não era um objecto completamente desconhecido10, pelo que a instalação de uma nova oicina também não gerou, em norma, o ímpeto conservador do seu espólio11. Esta realidade tanto se aplica aos principais centros de produção, quanto aos demais. Todavia, quando nos concentramos em realidades provinciais, há outras circunstâncias a contemplar. Reiro-me à natureza e à acessibilidade das fontes, assim como às suas implicações no objecto de estudo. Enquanto os repositórios, onde estão depositadas as fontes documentais relaivas aos principais centros de produção, são geograficamente coincidentes, pois coincidem geralmente com os centros de administração política, económica e cultural, os repositórios relativos à periferia estão geograficamente dispersos e em estádios de organização e de acessibilidade muito distintos, com óbvias consequências na quantidade e qualidade das fontes disponíveis12 e inevitáveis efeitos no desenrolar da invesigação. Cf. BARBIER (1990 [1985]: pp. 67-91). Para o caso português, exceptua-se o uilíssimo levantamento realizado pelo paricular João José de Sousa Telles, dado à estampa em 1864, oferecendo-nos uma amostra-farol da produção cieníica, literária e arísica relaiva ao ano de 1863, que contempla o levantamento de ipograias existentes naquela dada. Cf. TELES (1864). 9 É oportuno lembrar que a inexistência de oicinas ipográicas locais não signiicou a inexistência de acividade editorial. Não obstante, era esta uma acividade muito restrita pelos dispêndios inanceiros e sociais envolvidos. Caso paradigmáico é o de Damião António de Lemos Faria e Castro (1715-1789), com intensa acividade editorial a parir do Algarve, sustentada por uma cómoda situação inanceira e uma boa rede de interlocutores nos principais centros de impressão, como denota a carta enviada ao seu amigo Fr. Vicente Salgado solicitando-lhe a intervenção no negócio que inha iniciado com o impressor Simão Tadeu Ferreira, em Lisboa, embora ainda esivesse indeciso quanto ao melhor local de impressão, que tanto poderia ser em Lisboa como: «França, ou Holanda, aonde me asseguram se fará a impressão com sumo cómodo (…)». E remata: «que este negócio se há-de celebrar por Escritura, para a qual mandarei a V. Rm.ª Procuração.» Carta de 15 de Fevereiro de 1785, transcrita por MENDES (2007: p. 253). 10 11 Exceptuam-se os contextos editoriais que visaram a criação de um órgão de informação periódica, como aconteceu no caso dos Açores. V. a este respeito Arquivo dos Açores. [Em linha]. Ponta Delgada: Tip. do Arquivo dos Açores, 1886, vol. VIII, p. 485-556 e 1887, vol. IX, p. 38-49. Disponível em: htp://arquivodigital.uac.pt/yii/arquivodigital/ index.php?r=site/page&view=aa 12 No Algarve, estão ainda por organizar os arquivos municipais de Aljezur, Monchique, São Brás de Alportel, Castro Marim e Alcouim. 157 158 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 Ao variar a escala de análise poderão mudar também as caracterísicas materiais dos objectos produzidos. Pensemos no catálogo de uma grande casa impressora, pouco comum na província. Face ao livro canónico, recorrente nos catálogos dessas casas, há que colocar aqueles a que Víctor Infantes designou como os «impressos menores»13, de natureza e de valor efémeros, tais como os almanaques, os jornais, os rótulos, os sermões, as orações, os avisos, as circulares, os editais, as gravuras, etc., produzidos por pequenas oicinas ipográicas, muitas sem recursos ísicos e humanos qualiicados, com uma produção desinada a um consumo imediato e, portanto, sem as caracterísicas tendentes à preservação e ao inventário. Não pretendemos que este contexto gere uma hierarquia e sim um ajuste dos instrumentos teóricometodológicos a uma realidade disinta, também existente, de resto, nos grandes centros. Nestes casos, situamo-nos ao nível do quoidiano, do padrão, ou, como melhor disse Michel Foucault, temos a oportunidade de escutar e dar conta desse «rumor lateral, dessa escrita quoidiana e tão rapidamente apagada que nunca adquire o estatuto de obra ou dele se vê imediatamente despromovida»14. O desaio pode, por isso, ser mais aliciante e os resultados proporcionalmente compensadores, pois, como observou Víctor Infantes: «Resulta más diícil de localizar un calendario que un incunable desconocido, pues del segundo es más que probable que aparezca su cita en el inventario de alguna biblioteca (…)»15. Como lá chegar? A história das oicinas ipográicas pode ser respigada através da pesquisa nos arquivos locais e municipais; em catálogos bibliográicos de bibliotecas públicas e pariculares, por critério de local de impressão (critério secundário na catalogação do impresso contemporâneo, i.e, posterior a 1800) ou de local de edição. Seguir-se-á a necessária consulta e descrição ísica dos exemplares16: livros, jornais, folhetos, folhas soltas, cartazes, cartões, etc. A encadernação, caso seja original, o(s) papel(is), as intas, as ilustrações uilizadas podem dar-nos pistas relevantes sobre a capacidade técnica, arísica e produiva das oicinas. Os jornais, em paricular as secções locais, as de paridas e de chegadas e as de anúncios são fontes preciosas para 13 In INFANTES (1997). 14 In FOUCAULT (2014 [1969]: p. 185). 15 INFANTES – Op. cit., pp. 290-291. 16 Sobre esta etapa, consulte-se o esclarecedor estudo de CASTRO (1977). PATRÍCIA DE JESUS PALMA CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL colher o nome de um ipógrafo contratado; de um outro que se transferiu; de uma oicina que se alugou ou vendeu para outra localidade; de um livro prestes a sair de um prelo local; de um aprendiz que se pretende recrutar; das diiculdades para imprimir um trabalho anunciado... Minudências, sim, mas que, na ausência de fontes oiciais, permitem conhecer paulainamente o ambiente de uma determinada oicina e, peça a peça, reconstruir a sua capacidade produiva, ideniicando o seu parque ipográico, os seus recursos humanos e técnicos, o seu catálogo, a sua intervenção, enim, nos textos dados à estampa e postos a circular. Às dificuldades de, modestamente, conseguirmos estabelecer uma relação estável, mas provisória – sempre provisória – , das oicinas existentes em determinado período e geograia, acresce o facto de, não raro, as oicinas mudarem frequentemente de denominação comercial, de proprietário ou de arrendatário, o que causa imprecisões frequentes nas relações de atribuição entre obras e respecivas oicinas. Para o período mais recente, são insubsituíveis as entrevistas aos proprietários, ipógrafos e clientes, cujo testemunho ainda podemos recolher. Feito um primeiro inventário das casas de impressão e da sua produção é, então, possível começar a quesioná-las, tentando esclarecer quais as suas repercussões na sociedade. DA LEGITIMAÇÃO DO IMPRESSO AO REAPARECIMENTO DA TIPOGRAFIA NO ALGARVE Quando, nos primeiros dias de Julho de 1808, o impressor espanhol D. José María Guerrero se instalou em Faro, laborando coninuamente até 1811, o impresso não era ainda um meio habitual de comunicação, nem um objecto socialmente parilhado17. A sua presença manifestava-se em algumas bibliotecas e academias, em livros de médio e grande formato, servindo ins de estudo e de erudição. As comunicações estabeleciamse por via manuscrita e oral e assim se maniveram longamente, coexisindo com o material impresso18. Há a observar que o impresso – tal como acontece actualmente com o digital – passou por um longo processo de legiimação e de condições extra 17 Sobre a acividade do impressor D. José María Guerrero em Faro, v. PALMA (2013: pp. 231-255). 18 Reiro, a ítulo exempliicaivo, os casos das edições manuscritas dos jornais lacobrigenses O Papaguedor: Jornal Políico, Comercial e Noicioso, Pedro Tello (red.), Lagos: 1865; e O Paricular, Lagos, 1898. 159 160 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 tecnológicas que conduziram à sua apropriação19. Desde logo, acções legais20, mas também acções concretas de distribuição, de pedagogia ou de criação da necessidade social do uso. Neste domínio, é imperioso recordar para o caso português o notável contributo da Congregação do Oratório21, ao defender de modo pioneiro a aprendizagem por via dos escritos impressos em língua vernácula. Em 1759, airmava na sua Instrução de principiantes: A primeira casta de letras que pomos diante dos olhos aos principiantes é a da estampa, ou impressão; e isto por duas principais razões. Primeira, porque em qualquer arte, ou faculdade se deve começar pelo mais fácil e é fora de controvérsia que esta casta de letra é mais fácil de aprender, porque toda é uniforme, sem a variedade de caracteres que se encontram nas letras de diversas mãos. Segunda, porque a lição da letra redonda põe expeditos os principiantes para lerem muitos livros, pelos quais se adquire erudição; e com esta, mais facilidade para conhecer depois, pelo contexto, as letras e palavras que encontrarem mais embaraçadas na letra de mão; […]22 19 Aplica-se o conceito seguindo CHARTIER (1988). V. Alvará de 30 de Setembro de 1770, introdutor dos materiais impressos nas escolas de Ler, Escrever e Contar, hoje designadas escolas do primeiro ciclo. 20 21 É geralmente conhecida a acção e o presígio pedagógico alcançado em Portugal pela Congregação do Oratório. A acividade intelectual, o trabalho em torno da organização de bibliotecas e os estudos ministrados, impulsionados ainda mais pela determinação de D. João V de facultar aos estudantes que frequentassem as aulas dos Oratorianos o acesso directo à Universidade (privilégio até então exclusivo dos Jesuítas), conferiram-lhe um estatuto privilegiado na sociedade portuguesa. A Congregação entrou em Portugal pela mão do padre Bartolomeu de Quental (16271698), tendo obido o reconhecimento políico em 1668. Consituiu-se como uma família de padres seculares, cuja união era sustentada na obediência aos estatutos e ao senimento de fraternidade que ligava os seus membros, tendo cada uma das casas fundadas completa autonomia, como esclarece Eugénio Francisco dos Santos: «formavam apenas uma comunidade secular, não uma ordem. O que nisso avulta é, predominantemente, o apelo (e o apego) à liberdade individual e coleciva.» In SANTOS (2001: vol. J-P, p. 330). A proximidade e a envolvência com o século disinguiram os congregados, que desenvolveram «obras de solidariedade social, o contacto permanente com as camadas sociais mais carentes, a abertura da igreja à paricipação diária dos iéis, a pregação, o ensino, a assistência religiosa constantes.» (Id., p. 329), sendo, contudo, no âmbito pedagógico que a acividade desenvolvida mais tem sido notada como inovadora e relevante. O ensino das ciências, para o que possuíram um gabinete de Física, a adopção metodológica do experimentalismo, ou o uso da língua vernácula para ministério das aulas e redacção das suas obras foram factores que impuseram os Congregados na evolução cultural portuguesa registada ao longo do século XVIII. Entre os seus discípulos contam-se personalidades de reconhecido mérito intelectual, tais como Manuel de Azevedo Fortes (1660-1749), Diogo Barbosa Machado (1682-1772), Luís António Verney (1713-1792), P.e Teodoro de Almeida (1722-1804), D. Manuel do Cenáculo de Vilas-Boas Anes de Carvalho (1724-1814), José Anastácio da Cunha (1744-1787), D. Francisco Gomes do Avelar (1739-1816) ou D. José Maria de Melo (1756-1818). 22 Subls. meus. «Advertência». In [CONGREGAÇÃO DO ORATÓRIO] (1780 [1759]: pp. [III]-IV). PATRÍCIA DE JESUS PALMA CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL Neste âmbito, foi dado à estampa um conjunto signiicaivo de compêndios impressos, desinados ao ensino elementar e aos Estudos Menores (hoje designado Ensino Secundário)23, indo ao encontro da desejada facilitação e uniformização do ensino, como defendera, o porventura mais conhecido da plêiade Oratoriana, Luís António Verney (1713-1792), em Verdadeiro Método de Estudar24. Desta campanha fez parte Francisco Gomes do Avelar (São Marcos de Calhandriz, 17.1.1739 – Faro, 16.12.1816), cuja formação intelectual decorreu na Congregação do Oratório (1757-1789)25. Aqui, foi lente de Retórica, Filosoia, Moral e Escritura, foi Mestre-de-Cerimónias e, depois, Capelão da Real Casa das Necessidades. Durante este período, paricipou acivamente no movimento editorial de compêndios escolares, em língua vernácula, preparando, pelo menos, quatro trabalhos, nos quais se propôs desterrar a «ignorância, que por algumas partes reina e juntamente a uniformidade se promover»26, como confessou ao seu amigo D. Fr. Manuel do Cenáculo (1724-1814). Embrenhado na reforma do ensino de índole humanísica e cieníica que a Congregação levou a cabo, quando bispo do Algarve, D. Francisco Gomes do Avelar (1789-1816) moveu, quanto pôde, os recursos à sua disposição em beneício da instrução dos iéis. Para isso, distribuiu gratuitamente manuais impressos, que requereu à sua Congregação logo que chegou ao Algarve, designadamente, o ABC, o catecismo, pautas, ortograia, sintaxe, etc.27, levando a cabo o primeiro esforço consistente para a integração dos iéis na cultura escrita. De entre as estratégias persuasoras, destacamos a da naturalização do impresso, concebido, preparado e divulgado para o público-leitor regional e desinado a uma uilização quoidiana. Como forma de incenivar a oração mental, D. Francisco Gomes criou as condições necessárias para o uso diário e individual de textos impressos, autorizando a emancipação do culto da vertente coleciva, do intermediário clerical e do espaço litúrgico por excelência, a Igreja. Ofereceu aos diocesanos a possibilidade de viver, aprofundar e documentar a fé diariamente, por meio da leitura individual e domésica de orações, máximas e exercícios 23 Cf. ANDRADE (1981, v. 2: pp. 415-418) e ADÃO (1997: pp. 217-275). 24 [VERNEY] (1746). 25 A sua biograia consulta-se em OLIVEIRA (1902). 26 Apud OLIVEIRA (1902: p. 6). AVELAR, D. Francisco Gomes do – [Carta] 16.10.1789, Faro [a] P.e João Andrade. [Ms]. 1789. Acessível na Biblioteca da Ajuda, 54-XI-35, n.º 32. 27 161 162 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 devotos, os quais, impressos e distribuídos pelo bispado, obiveram o estatuto de objecto de culto privado e autorizado28. Simultaneamente, produziu escritos de uilidade e proveito para a vida material do povo, pois, como declarou: «os instruídos têm Autores, que o povo não pode haver, nem ler, nem entender.»29. D. Francisco Gomes interveio, do ponto de vista editorial, na ariculação entre a erudição cieníica e a difusão dos conhecimentos mais úteis30, redigindo ele próprio Instrucções adequadas ao «homem do campo» algarvio. Ateve-se na expressão linguísica, na apresentação conceptual, nos exemplos e no formato mais justo à instrução popular. Nas suas mãos, formava-se um novo conceito de biblioteca, a que poderemos designar por «biblioteca popular regional», formada por um núcleo de 1 a 5 pequenos livros ou folhetos, contendo os textos essenciais à salvação do espírito e da matéria, com a paricularidade de serem especiicamente preparados para o público regional, tão amplo quanto o grupo de «iéis» permite considerar31. Estas e outras iniciaivas levadas a cabo pelo bispo D. Francisco Gomes do Avelar, não abordadas pela necessária brevidade que nos impõe a escrita do arigo, evidenciam o convergir de acções orientadas para um senido geral de valorização da cultura ipográica, penetrando diferentes contextos da vida em sociedade, ora assumindo funções pedagógicas, ora espirituais, ora proissionais, mas cada vez mais próximas da realidade de leitores comuns e anónimos, que nos colocam perante uma nova concepção e novos usos da cultura impressa. 28 «[…] os Sumos Poníices e Bispos da Santa Igreja têm trabalhado por introduzir nos fiéis o uso quoidiano da Oração mental […]. Nós pois, que desejamos seguir os passos dos nossos predecessores, vos oferecemos, amados ilhos, o dom deste livrinho, que tem por ítulo o Caminho do Ceu, para que useis dele, considerando cada dia uma das verdades que encerra. Os que não puderdes ir às igrejas ou aos lugares públicos, onde se praica este santo exercício, recolhei-vos na vossa mesma casa, ou ajuntai a vossa família, e ao menos por um quarto, ou meia hora, lede ou fazei ler, e considerai atentamente o que lerdes, desejando se imprima na vossa alma e concluí com suplicar a Deus, que vos ilustre o entendimento, e inlame o coração para abraçardes o que é tão necessário para a vossa salvação.» Subls. meus. In Caminho do Céu… (1795). 29 AVELAR (1813). Corrigimos a data apresentada por OLIVEIRA (1902, p. 217) que deu a publicação como póstuma, datada de 1819, certamente por desconhecer a edição de 1813. 30 A propósito da disseminação dos «conhecimentos úteis» em Portugal, cf. NUNES (1990: pp. 319-328). 31 Eugénio Francisco dos Santos, estudando as casas oratorianas do Porto e de Braga, sublinhou precisamente a capacidade de adequação às condições envolventes, como uma marca da acção Oratoriana: «[…] uma perfeita adaptação às condições do meio e à economia dominante das populações em que se inseriam. Essa lexibilidade e capacidade de ajustamento serão, sem dúvida, um dos traços mais marcantes da família oratoriana portuguesa no Século das Luzes.» In SANTOS (1982: p. 215). PATRÍCIA DE JESUS PALMA CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL 163 Compreendemos, assim, que não só o contexto políico, mas também o contexto cultural coevo legiimaram a reintrodução da acividade ipográica, recolocando Faro na geograia ibérica da impressão, onde foi dada à estampa, por exemplo, a primeira publicação periódica da actual província de Huelva, a Gazeta de Ayamonte (Faro: 18.7.1810-13.3.1811)32. Nesses dias, a imprensa excedia-se enquanto instrumento de transmissão rápida e alargada de ideias, transformando-se em agente do processo de transformação políica, social e cultural. Pela primeira vez, história e imprensa tornavam-se indestrinçáveis, naturalizando o texto escrito e estabelecendo uma interdependente relação entre processo políico, opinião pública e cultura ipográica, que cesurava fronteiras. A EXPANSÃO DA ACTIVIDADE TIPOGRÁFICA NO ALGARVE Não obstante o facto de a imprensa de D. José María Guerrero (Faro, 1808-1811) ter contribuído acivamente para o desenrolar dos acontecimentos, não estavam ainda reunidas as condições indispensáveis para o desenvolvimento duradouro de uma acividade, cuja sobrevivência comercial dependeu sempre da possibilidade de manter uma produção conínua. O processo foi longo e, por vezes, desconínuo, como podemos observar no Quadro I – Cronologia e distribuição geográica da ipograia no Algarve (1808-1910). Aí elencamos a sua evolução, registando os anos em que surgiram novas oicinas. Os recorrentes pontos de interrogação no campo «período de acividade» revelam a diiculdade e a provisoriedade dos dados recolhidos, tal como aludimos na secção relaiva às fontes. Quadro I – Cronologia e distribuição geográica da ipograia no Algarve (1808-1910) Ano 1808 1833 1835 1840 32 Local Faro Faro Tavira Faro Faro Lagos Cf. PALMA (2013: pp. 231-255). Designação da Tipograia D. José Maria Guerrero Manuel António Ferreira Portugal Carmelitas Descalços Governo Civil Governo Civil Francisco Xavier Bapista Xula Período de acividade 1808-1811 1833 <1833 1835 - ? 1835 - ? 1840 N.º Tipograias acivas 1 2 1 2 164 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 1846 1864 Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Henrique Lamim Divisão Militar Governo Civil Eduardo Henrique Lamim 184?-187? <1846 1835 - ? 184?-187? Lacobrigense [I] 1864?-1873? Governo Civil Eduardo Henrique Lamim Lacobrigense [I] António Joaquim Correia Júnior Governo Civil 1835 - ? 184?-187? 1864?-1873? 1869-1873 1835 - ? Paz Furtado 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Henrique Lamim Lacobrigense [I] António Joaquim Correia Júnior Gazeta do Algarve Governo Civil Paz Furtado Eduardo Henrique Lamim Lacobrigense [I] António Joaquim Correia Júnior Gazeta do Algarve 184?-187? 1864?-1873? 1869-1873 1872-1883 1835 - ? 184?-1863; 187?-1913? 184?-187? 1864?-1873? 1869-1873 1872-1883 Porimonense [I] 1873-1879? Governo Civil 1835 - ? Faro Paz Furtado 184?-1863; 187?-1913? Vila Nova de Porimão Eduardo Henrique Lamim Gazeta do Algarve Porimonense [I] Liberdade 184?-187? 1872-1883 1873-1879? 1874-1878? Governo Civil 1835 - ? Faro Faro Lagos Faro 1869 Lagos Faro 1872 Lagos Faro 1873 Lagos Vila Nova de Porimão 1874 Paz Furtado 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Henrique Lamim Eduardo Seraim 184?-187? 1875-197? Lagos Gazeta do Algarve 1872-1883 Vila Nova de Porimão Porimonense [I] Liberdade 1873-1879? 1874-1878? Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro, 1876] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Henrique Lamim Eduardo Seraim O Comércio do Sul António Manuel Henriques 184?-187? 1875-197? 1876-1878 1876?-1880? Lagos Gazeta do Algarve 1872-1883 Vila Nova de Porimão Porimonense [I] Liberdade 1873-1879? 1874-1878? Faro 1875 Faro 1876 4 3 4 6 7 6 7 9 PATRÍCIA DE JESUS PALMA CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL Governo Civil Faro 1878 Lagos Vila Nova de Porimão Silves Faro 1879 Lagos Vila Nova de Porimão Silves Faro 1880 Lagos Vila Nova de Porimão Silves Faro 1882 Tavira Lagos Vila Nova de Porimão Faro 1883 Tavira Lagos 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro, 1876] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Henrique Lamim Eduardo Seraim O Comércio do Sul António Manuel Henriques Gazeta do Algarve Porimonense [I] Liberdade A Defesa do Povo 184?-187? 1875-197? 1876-1878 1876?-1880? 1872-1883 1873-1879? 1874-1878? 1878-1880 Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim António Manuel Henriques J. F. Tavares Belo & C.ª Gazeta do Algarve 1875-197? 1876?-1880? 1879-1885 1872-1883 Porimonense [I] 1873-1879? A Defesa do Povo Governo Civil 1878-1880 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim António Manuel Henriques J. F. Tavares Belo & C.ª Luís Mascarenhas Gazeta do Algarve 1875-197? 1876?-1880? 1879-1885 1880-2011872-1883 A Independência 1880-1882 A Defesa do Povo Governo Civil 1878-1880 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim J. F. Tavares Belo & C.ª Luís Mascarenhas Agosinho Ferreira Chaves Burocráica Gazeta do Algarve 1875-197? 1879-1885 1880-201188?-1895 1882-1912 1872-1883 A Independência 1880-1882 Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim J. F. Tavares Belo & C.ª Luís Mascarenhas Agosinho Ferreira Chaves Burocráica Gazeta do Algarve Moderna 1875-197? 1879-1885 1880-201188-?-1895 1882-1912 1872-1883 1883-1890 10 8 9 9 9 165 166 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 Faro 1885 Tavira Lagos Faro 1888 Tavira Lagos Olhão Governo Civil Paz Furtado[>Districto de Faro] Eduardo Seraim J. F. Tavares Belo & C.ª Luís Mascarenhas Agosinho Ferreira Chaves Burocráica Democráica [I] 1835 - ? 184?-1863; 187?-1913? 1875-197? 1879-1885 1880-201188-?-1895 1882-1912 1885-1888 Moderna 1883-1890 Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Agosinho Ferreira Chaves Burocráica Democráica [I] Moderna 1875-197? 1880-201188-?-1895 1882-1912 1885-1888 1883-1890 Democráica Governo Civil 1888-1891 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Faro Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Agosinho Ferreira Chaves 1875-197? 1880-201188-?-1895 Tavira Burocráica 1882-1912 Lagos Moderna 1883-1890 Olhão Loulé Democráica O Algarvio Governo Civil 1888-1891 1889-1896 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Olhão Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Agosinho Ferreira Chaves Pequeno em Tudo Burocráica Minerva Afonso Cañet de Castro Democráica 1875-197? 1880-201188-?-1895 1891-1893 1882-1912 1891 1891-1893? 1888-1891 Loulé O Algarvio 1889-1896 Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Agosinho Ferreira Chaves Pequeno em Tudo Burocráica Afonso Cañet de Castro O Olhanense O Algarvio 1875-197? 1880-201188-?-1895 1891-1893 1882-1912 1891-1893? 1892-2011889-1896 1889 Faro 1891 Tavira Lagos Faro 1892 Tavira Lagos Olhão Loulé 9 9 9 11 10 PATRÍCIA DE JESUS PALMA Faro 1893 Tavira Lagos Olhão Loulé Vila Real de Santo António Faro 1894 Tavira Lagos Olhão Loulé Vila Real de Santo António Faro 1897 Tavira Lagos Vila Nova de Porimão Olhão Loulé Vila Real de Santo António Faro 1902 Tavira Vila Nova de Porimão Olhão Loulé Vila Real de Santo António CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL) Governo Civil Paz Furtado[>Districto de Faro] Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Agosinho Ferreira Chaves Pequeno em Tudo Burocráica Afonso Cañet de Castro O Olhanense O Algarvio O Louletano 1835 - ? 184?-1863; 187?-1913? 1875-197? 1880-201188-?-1895 1891-1893 1882-1912 1891-1893? 1892-2011889-1896 1893-201- Guadiana [I] 1893-1961 Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Agosinho Ferreira Chaves Burocráica Guadiana O Olhanense O Algarvio O Louletano 1875-197? 1880-201188-?-1895 1882-1912 1894-1897 1892-2011889-1896 1893-201- Guadiana [I] 1893-1961 Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Burocráica Correio do Algarve Guadiana 1875-197? 1880-2011882-1912 1897 1894-1897 Rocha 1897 O Olhanense O Louletano 1892-2011893-201- Guadiana [I] 1893-1961 Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 1 8 4 ? - 1 8 6 3 ; 187?-1913? Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Burocráica 1875-197? 1880-2011882-1912 Arade 1902-190? O Olhanense O Louletano Folha do Sul 1892-2011893-2011902-1905 Guadiana [I] 1893-1961 12 11 11 10 167 168 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 Faro Tavira 1903 Vila Nova de Porimão Olhão Loulé Vila Real de Santo António Faro 1905 Tavira Lagos Vila Nova de Porimão Olhão Loulé Vila Real de Santo António Faro Tavira 1908 Lagos Vila Nova de Porimão Olhão Loulé Vila Real de Santo António Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim Luís Mascarenhas O Sul Burocráica 1875-197? 1880-2011903-1905 1882-1912 Arade 1902-190? O Olhanense Minerva Olhanense O Louletano Folha do Sul Guadiana [I] 1892-2011903?-1907? 1893-2011902-1905 1893-1961 Guadiana [II] 1903-1912 Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim Luís Mascarenhas O Sul Nova Minerva Burocráica Lacobrigense [II] 1875-197? 1880-2011903-1905 1905-1921 1882-1912 1905-1927 Arade 1902-190? O Olhanense Minerva Olhanense 1892-2011903?-1907? O Louletano 1893-201- Folha do Sul 1902-1905 Folha de Loulé 1905-1907 Guadiana [I] 1893-1961 Guadiana [II] 1903-1912 Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Nova Minerva Burocráica Democráica [II] Lacobrigense [II] 1875-197? 1880-2011905-1921 1882-1912 1908-1923 1905-1927 Arade 1902-190? O Olhanense O Louletano Guadiana [I] 1892-2011893-2011893-1961 Guadiana [II] 1903-1912 13 16 13 PATRÍCIA DE JESUS PALMA Faro 1909 Tavira Lagos Vila Nova de Porimão Olhão Loulé Vila Real de Santo António Faro Tavira 1910 Lagos Vila Nova de Porimão Silves Olhão Loulé Vila Real de Santo António Lagoa CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL Governo Civil 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] 184?-1863; 187?-1913? Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Nova Minerva União Burocráica Democráica [II] Lacobrigense [II] 1875-197? 1880-2011905-1921 1909?-2013 1882-1912 1908-1923 1905-1927 Arade 1902-190? O Olhanense O Louletano Guadiana [I] Guadiana [II] Governo Civil 1892-2011893-2011893-1961 1903-1912 1835 - ? Paz Furtado[>Districto de Faro] Eduardo Seraim Luís Mascarenhas Nova Minerva União Burocráica Democráica [II] Lacobrigense [II] 184?-1863; 187?-1913? 1875-197? 1880-2011905-1921 1909?-2013 1882-1912 1908-1923 1905-1927 Prazeres 1910?-1928? Silvense O Olhanense O Louletano Guadiana [I] Guadiana [II] João Crisóstomo Freitas Barros 1910-1912 1892-2011893-2011893-1961 1903-1912 1910?-1912 Fonte: PALMA (2008: vol. 1, pp. 8-177). O desenvolvimento aqui registado acompanhou um conjunto de condições favoráveis à dinâmica da cultura ipográica. Destas destacamos as melhorias nas condições dos estabelecimentos de educação e o seu aumento; o ambiente de paz políico-social alcançado na década de 1850 e o plano Fonista de modernização do país que começou lentamente a produzir os seus efeitos na província; a melhoria nas vias de comunicação, com o início das carreiras de navegação a vapor a 2 de Junho de 1853, as quais em acumulação com as embarcações ligeiras (caíques e iates), aumentaram não só o trânsito, mas também a regularidade, a segurança e a rapidez entre os portos do Algarve e Lisboa, alcançando-se em 24 horas33; a densiicação, a regularidade e a segurança da rede dos serviços de Correiro nacio33 Cf. SANTOS (1995: pp. 11-32). 14 16 169 170 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 nal e regional, que permiiu a interacção regular com os clientes e uma distribuição eicaz das publicações34; a organização, um pouco por toda a província, de espaços formais e informais de leitura, denotando um crescente apeite por materiais de leitura; a lei de 17 de Maio de 1866, abolindo as restrições impostas à imprensa periódica, o que representou um real esímulo para a expansão da acividade ipográica. O ritmo da expansão da acividade no Algarve foi ímida até inais da década de 1860, embora, desde as décadas de 1830 e 1840, exisissem oicinas a laborar na capital do distrito de forma ininterrupta (casos das ipograias do Governo Civil, Paz Furtado e Lamim). No total, entre 1808 e 1910, funcionaram 48 oicinas ipográicas. O alargamento a outros concelhos fez-se progressivamente a parir de 1860, ocorrendo nos concelhos mais povoados e comercialmente mais acivos. O crescimento da indústria piscatória e conserveira, no virar do século, favoreceu o crescimento e a actualização tecnológica da indústria ipográica e jusiicou a introdução das primeiras litograias na região (Vila Real de Santo António e Porimão). Os efeitos relaivos à inexistência de ipograias nas zonas semi-rurais ou rurais poderão maizar-se, atendendo à comprovada presença de correspondentes de ipograias, como podemos testemunhar pelo anúncio que se segue, feito pelo Almanach de S. Braz d’Alportel (Algarve) para o anno de 1893: Manuel Marins Domingues […] (Vulgo Loja Nova) Com estabelecimento de fazendas de lã, linho, seda, algodão, quinquilharias, mercearias, tabacos, chapéus e leitos de ferro […]. Encarrega-se de despachos de mercadorias pelo caminho-de-ferro para todas as estações do país e de qualquer encomenda ipográfica.35 Entre 1870 e 1890, por exemplo, surgiram doze novas oicinas com moivações políicas, cujos intuitos se revelaram na edição periodísica. A saber: 4 militantes do Parido Progressista, 1 do Parido Regenerador e 7 afectas ao Parido Republicano. Da década de 1860 para a de 1870, quase triplicaram as publicações criadas (de 5 para 14) e, num 34 No mesmo ano de 1853 passou a ser expedida diariamente correspondência oicial de Lisboa para Faro e Loulé, intensiicando-se as interacções entre as estruturas centrais e regionais, a que a conclusão da linha telegráica, em Julho de 1858, deu maior impulso. No ano de 1877, o Algarve possuía uma rede de correios densa, pondo em correspondência a administração central em Faro com as várias direcções de correio instaladas em Alcouim, Vila Real de Santo António, Castro Marim, Tavira, São Brás de Alportel, Olhão, Loulé, Albufeira, Silves, Lagoa, Vila Nova de Porimão e Lagos, e ainda as delegações que serviam as localidades mais pequenas como Vila do Bispo, Ferragudo, Monchique, Alcantarilha, Algoz, São Bartolomeu de Messines, Fuzeta ou Estoi. 35 Subls. meus. Almanach de S. Braz d’Alportel (Algarve)… (1892). PATRÍCIA DE JESUS PALMA CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL período inferior a 10 anos, triplicou o número de jornais em circulação por ano (3 em 1869; 10 em 1877)36, valores que, no entender de José Manuel Tengarrinha, integraram a região na «tendência geral do País quanto ao movimento jornalísico»37, como se veriica nas oicinas que assumiram a designação do próprio jornal. Com efeito, o Periodismo tornou-se o protagonista da edição à escala nacional (i.e., incluindo os espaços infranacionais), manifestando a dimensão actuante da imprensa na nova cultura políica do país. Este dado autoriza-nos a contestar a ideia de o Algarve e de outras províncias estarem ausentes da formação e do debate públicos, como manifestamente evidenciou o recrudescer da acividade editorial na década de 1870, com publicações relacionadas com a divulgação dos ideais republicanos, ou os primeiros anos da década de 1890, associadas ao Ulimatum. CAPACIDADE TECNOLÓGICA: o parque ipográico É de todos os tempos e lugares a ipograia modesta […]. A indubitável deiciência em face de instalações modelares não signiica de modo nenhum menos uilidade de serviços. Pelo contrário. Como toda a comunidade, nem tudo se movimenta no mais elevado nível social, são as oicinas e casas comerciais mais modestas exactamente as que melhor servem as camadas mais populares […]38. Até à década de 1870, a acividade caracterizou-se pela exiguidade estrutural. Eram pequenas unidades de produção, compostas por um ou dois aristas não qualiicados, prelos usados e ipo gasto. A ipograia do Governo Civil é disso exemplo. Fornecida pela Imprensa Nacional, a degradação do seu estado de conservação limitava a produção exigida pelos serviços, como reiteradamente expôs o governador civil e aqui se exempliica: Sendo de maior import[ânci]ª e uilidade ao Serviço Público e à pronta expedição dos diferentes objectos desta Secret[ari]ª que grande número de papéis precisos sejam convenientemente impressos, mormente depois da nova organização das Reparições da Fazenda, tornando-se este objecto tão mister e proícuo, que já tem sido m[ui]tas vezes recomendado em Portaria do Tribunal do Tesouro Público: cumpre ponderar a V. Ex.ª q[u]e um único prelo que 36 A contagem fez-se com recurso ao trabalho de MESQUITA (1988-1989), 2 vols. 37 TENGARRINHA (1999: p. 593). 38 Povo Algarvio. Tavira, n.º 1510, 2.6.1963, p. 2. 171 172 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 existe nesta Secr[ari]ª se acha tão daniicado e cheio de defeito (q[u]e já trouxe da Imprensa Nacional) que se torna impossível imprimir nele qualq[ue]r papel por insigniicante que seja, rogando por isso a VEx.ª haja de expedir as suas ordens a im de que ele seja com a possível brevidade trocado por um outro em bom uso e capaz de servir, o que sem dúvida se tornará uma aquisição importante e proícua ao bom regime e andam[en]to dos negócios desta Repart[iç]ão.39 As expectaivas do governador civil foram goradas, tendo de recorrer, em alternaiva, ao emprésimo do prelo existente na Secretaria da 1.ª Divisão Militar «muito pequeno e insigniicante»40. O seu sequestro, por ocasião guerra da Patuleia, para edição do jornal O Popular41 infringiu-lhe mais estragos. Apesar de ter sido devolvido e reintegrado nos serviços da Secretaria do Governo Civil, o prelo não saisfazia a procura, como se atesta na clareza dos argumentos expostos na resposta a um pedido de impressão que a seguir transcrevemos: Ao General Il.mo e Ex.mo Snr. = Em resposta ao oício de V. Ex.ª de 11 do corrente, relaivo à impressão de um Escrito sobre o Monte Pio do Exército; tenho a honra de dizer a V. Ex.ª que o prelo que foi entregue a este Governo Civil pela Secretaria da Guerra de nada tem servido de, por pequeno e incompleto, que o ipo que com ele se recebeu foi tão pouco, tão baralhado e tão gasto que nunca serviu, que as pequenas obras de impressão, como Editais, conhecimentos, recibos que aqui se têm feito, o têm sido com um outro prelo dado pelo Ministério do Reino a este Governo Civil, que o ipo que com este prelo foi dado se acha estragado e com muitas faltas, porque no tempo da revolta o desencaminharam; que neste Governo Civil não há um compositor habilitado para aprontar impressão de escritos de mais vulto do que aqueles de que acima se faz menção, e quando mesmo se não desse tudo quanto deixo ponderado, não valeria a pena do grande trabalho da composição, a iragem de 20 exemplares; pelo que devolvo o escrito que V. Ex.ª me remeteu.42 39 ALGARVE. Governo Civil; ABOIM, Marçal Henriques de Azevedo e Silva Lobo de – [Oício] n.º 315, 9.11.1844, Faro [a] Ministério do Reino. [Ms.] 1844. Acessível em ADF, fundo Governo Civil, lv. 465. 40 ALGARVE. Governo Civil; ABOIM, Marçal Henriques de Azevedo e Silva Lobo de – [Oício] n.º 104, 26.4.1845 [a] Ministério do Reino. [Ms.] 1845. Acessível em ADF, fundo Governo Civil, lv. 465. 41 O Popular: Jornal do Algarve. Faro: Secretaria do Governo Civil, 12.3.1847-18.6.1847. ALGARVE. Governo Civil; COUCEIRO, António Maria – [Oício] n.º 2, 12.1.1850, Faro [a] General. [Ms.] 1850. Acessível em ADF, fundo Governo Civil, lv. 496. 42 PATRÍCIA DE JESUS PALMA CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL No campo da experiência paricular, as condições não divergiam do retrato aqui traçado. A indústria caracterizou-se por pequenas unidades de produção, cujo parque foi quase sempre adquirido em segunda mão. O parque ipográico era geralmente consituído por uma máquina de impressão manual, usada para trabalhos de pequenas dimensões, material de composição – três a cinco cavaletes fornecidos com ipo – uma máquina de coser, uma de cantear e uma guilhoina, todas manuais. Nas oicinas que também imprimiam jornais, há a considerar uma máquina de impressão para formatos grandes. No início dos anos de 1880, começaram a surgir sinais de actualização tecnológica, acentuando-se a economia e a rapidez dos trabalhos, em sintonia com as exigências de uma sociedade em ritmo cada vez mais acelerado, como se comprova neste anúncio da casa de Tavares Bello & C.ª: Recebeu-se também a MÁQUINA MINERVA começando desde já a funcionar e garanindo-se a perfeição e economia que oferece para todos os impressos cujo formato não exceda a 0,25 e mui principalmente para bilhetes de visita, onde a excelência do cartão, a niidez e economia se manifestam claramente. Máquina Minerva – 6000 bilhetes/hora.43 A modésia dos estabelecimentos não deve confundir-se, bem-entendido, com a sua uilidade, como bem lembrou o redactor do Povo Algarvio, citado em epígrafe. OS TIPÓGRAFOS A classe tipográica é a primeira que está ligada aos homens cieníicos e literatos, por ser os primeiros homens a quem estas transmitem as suas ideias.44 Não é por acaso que Robert Darnton classiicou os ipógrafos como os «intermediários esquecidos» do sistema livresco45. Apesar da posição privilegiada que lhe reconheceu o português Custódio José Vieira, na primeira reunião da Sociedade de Socorros dos Tipógrafos Portuenses em 1853, que citámos acima, os dados sobre os membros desta classe são escassos. 43 O Gráis: Annunciario Semanal. Faro, n.º 10, 18.1.1880, p. 4. 44 OLIVEIRA (1853: p. 23). 45 DARNTON (1990: p. 78). 173 174 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 A esta circunstância não é alheio o processo de canonização dos autores, associado a uma críica e história que longamente baseou a sua análise na dupla autor-obra, dispensando o estudo das condições de circulação das obras. No caso do Algarve, as reclamações devidas à insuiciência técnica dos operários, a quem escasseava formação proissionalizante, não foi rara. Os primeiros, apesar de minimamente instruídos, vinham de outras áreas proissionais, o que diicultava a adaptação e uma transmissão idedigna dos textos, como deixou registado o redactor do Echo do Algarve (09/09/1868 – 23/05/1869?), José Teixeira Simões: O Echo do Algarve tem um só e único redactor, que acumula as funções de administrador, revisor, e até já compôs como ipógrafo! É impresso numa tipografia, que foi fundada por um cavalheiro, que ainda até então, não havia visto uma imprensa! O jornal é composto por dois tipógrafos, inventados pelo seu redactor e instruídos pelo dono da tipografia, - um alfaiate e um carpinteiro, e mais dois rapazes aprendizes já destes, não tendo aqueles, de sua vida, visto se quer um ipo! Dos impressores não falamos; foram recrutados pelo mesmo sistema.46 Em norma, o ipógrafo algarvio formava-se proissionalmente na própria oicina através do «aprender-fazendo». A sua entrada no mundo das letrasde-forma fazia-se com uma idade média compreendida entre os 10 e os 12 anos e aí podia especializar-se nas categorias de compositor, impressor ou acabamentos. Todavia, considerando a modésia das oicinas algarvias, os ipógrafos deveriam adquirir polivalência técnica, dominando as três especialidades. A acividade foi essencialmente masculina. O mais anigo anúncio que localizei desinado a aprendizes do sexo feminino data de 1922 e foi lançado pela Tipograia Central (19191924), de Olhão, no seguintes termos: «meninas que desejem aprender a arte ipográica, sabendo ler e escrever bem.»47. A introdução da especialização ipográica ocorreu durante a década de 1870. Disso é exemplo o invesimento paricular do médico Augusto Feio Soares de Azevedo (Coimbra, 1838 – Lisboa, 1907), fundador da ipograia Gazeta do Algarve em 1872, na cidade de 46 Echo do Algarve. Lagos, n.º 33, 18/04/1869. 47 Gazeta de Olhão. Olhão, n.º 103, 17/9/1922, p. 2. PATRÍCIA DE JESUS PALMA CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL Lagos. Augusto Azevedo adquiriu ipograia própria e contratou, em Lisboa, dois ipógrafos proissionais para compor e imprimir o jornal Gazeta do Algarve (1.1.187325.12.1877). Ao reunir condições que assegurassem a longevidade do periódico, introduziu na região dois mestres da arte, Jaime Quirino Chaves (n. Lisboa, 1848; f. Olhão, 1921) e Francisco Soares Franco Ferreira Lisboa (Lisboa, 18--? – Paris, 19--?), que protagonizaram mudanças ao nível do aperfeiçoamento da impressão, da edição e da formação local de ipógrafos, tornando as oicinas que inauguraram, ou por onde passaram, verdadeiras escolas da arte ipográica. A sua acção repercuiu-se na acividade editorial regional até à década de 1920, na qual colaboraram acivamente e, em alguns casos de forma pioneira, enquanto leitores, ipógrafos, mestres, editores e «escritores públicos». A PRODUÇÃO Enquanto instrumentos de poder e de contra-poder as ipograias abriram, encerraram, foram deslocadas, arrendadas ou vendidas consoante as necessidades de intervenção pública dos seus proprietários. Esta situação foi comum e manteve-se até uma mais sólida ancoragem da acividade na vida industrial e comercial no início do século XX, proliferando então as designadas casasde-obras, desinadas a uma produção essencialmente comercial, tais como contas, bilhetes de convite, recibos, talões, anúncios, cartas, bilhetes de visita, facturas, programas ou avisos. São obras não canónicas e de carácter efémero que respondiam às necessidades de uma vida social, comercial e burocratico-administrativa em ascensão, capaz de sustentar, primeiro parcialmente, depois integralmente, o negócio do impresso que progressivamente se propagou. Numa perspeciva diacrónica, podemos falar de duas fases na história contemporânea do impresso neste espaço infranacional. Numa primeira fase, as oicinas resultaram de circunstâncias e de interesses muito especíicos, como os de cariz religioso (Tavira, ipograia da ordem dos Carmelitas Descalços), políico (invasões francesas e guerra civil) ou administraivo (civil e militar), não se alterando o peril de quem inha capacidade para editar os seus textos, quando comparado com o do Anigo Regime (Religião, Estado e Administração). Apesar do carácter episódico que evidenciam, o impresso obteve uma aplitude considerável, em certas circunstâncias, sendo apresentado como meio de combate e de «verdade» 175 176 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 (campo políico e religioso). Concebido este espaço cultural, a variação do peril daqueles que produziram e usaram o impresso vincou-se a parir da década de 1860, momento a parir do qual podemos falar de uma segunda fase da cultura ipográica, onde é claro o desejo socialmente parilhado de paricipar e interferir no mundo organizado pelo discursividade textual impressa. Neste processo de maturação do mundo impresso, o Periodismo desempenhou um efeito catalizador sobre a promoção da cultura escrita, adequando-se a públicos social e culturalmente disintos. Esta paricipação no espaço cultural da escrita originou fenómenos de reorganização social muito consideráveis, como podemos acompanhar, por exemplo, através da acção desencadeada pelo Jornal dos Aristas (11/11/187520/9/1877), em que a escrita e a leitura são práicas manifestamente actuantes, interferindo, por exemplo, na criação de diversos espaços associaivos. O livro, materialmente entendido, não foi um objecto assíduo entre as edições regionais, embora ele esivesse presente na hibridez e na versailidade editorial do periódico, por exemplo, na secção do folheim, pensada para ser recortada, coleccionada e encadernada, dando origem a um novo formato; ou no estatuto deste enquanto laboratório textual, usado para experimentar a reacção dos leitores e introduzir variantes nos textos seguidamente editados em livro48. Na verdade, mais do que uma relação de exclusão, os objectos jornal e livro estabeleceram uma forte ligação de interdependência e de mútua promoção. A emergência do Periodismo provincial consituiu um elemento-chave para a estrutura do sistema editorial nacional, ao representar um conjunto inédito de canais abertos para distribuir e dilatar o mercado livreiro. O PÚBLICO-LEITOR A diversidade genológica detectada no período em apreço é um indício sólido da crescente diversiicação social e literária de públicos; mas poderemos, com maior rigor, conceber a dimensão deste universo cultural? No quadro II, sinteizamos os dados que relacionam a evolução da acividade ipográica com os números relaivos à população alfabeizada. 48 Não se pense que esta foi uma práica provincial exclusiva. Lembremos a este propósito, a fortuna editorial de obras de Camilo Castelo Branco, Almeida Garret ou Eça de Queirós, por exemplo. Sobre o tema, cfr. RODRIGUES (1998). PATRÍCIA DE JESUS PALMA CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL 177 Quadro II: Evolução do número de ipograias no Algarve: 1808-1910 Data Tipograias População 1808 1 103 307≅ População alfabeizada --- 1833 2 114 499≅ 1837 1 127 446 1840 2 1846 4 1850 1864 Alfab./Tip. Tipógrafos Prelos --- 1 1 --- --- 1 1 --- --- 1 1 --- --- --- 2 2 --- --- --- 4 4 3 --- --- --- 4 4 3 172 660 --- --- 4 5 1878 10 199 142 28 544 2 854 8 6 1880 9 --- --- --- 14 10 1890 9 228 635 34 067 3 785 12 10 1900 11 255 191 42 416 3 856 13 10 1910 16 272 861≅ 48 789≅ 3 049≅ 27 22 Fonte: Quadro I, Recenseamentos Gerais da População, LOPES (1841: vol. II, mapa n.º 2) e SOUSA (1979). Os números apresentados, embora úteis, levantam questões relacionadas com os conceitos de «população alfabeizada», subjacentes a cada um dos censos49 e com o número provável de público-leitor. Certamente, nem todos os que sabiam ler, liam, e nem todos os considerados «analfabetos» estavam alienados do mundo das letras, como demonstram os testemunhos de leituras oralizadas para públicos «analfabetos», que alcançam os nossos dias e que foram cruciais para o fenómeno das formações de opinião pública, desde o início do século XIX50. Vejamos que esimaivas permitem traçar algumas informações colhidas na imprensa periódica da época. Em 1875, o Jornal dos Aristas (Porimão, 18751877) declarava imprimir 3 600 exemplares; em 1880, o Gráis (Faro, 1880) dava à estampa 1 000 exemplares, o Jornal de Annuncios (Faro, 1880) imprimia 800 exemplares, e, em Tavira, o Jornal de Annuncios, que se publicou entre 1883-1900, irava ordinariamente 2 000 exemplares semanais e 2 500 em situações extraordinárias. Como média plausível, consideremos os 1500 exemplares por jornal. Atentemos no ano de 1878. Neste ano circularam simultaneamente 8 periódicos provinciais, o que oferece um total de 12 000 exemplares a serem distribuídos. Se considerarmos que cada 49 Cf. CANDEIAS (2004). 50 ALVES (2000: p. 59). 178 PROMONTORIA MONOGRÁFICA HISTÓRIA DO ALGARVE 03 exemplar aingia em média 5 leitores51, alcançamos um público-leitor (leitor, auditor, espectador) possível de 60 000 pessoas, o que representa 30% da população total da região (199 142) e o dobro da população alfabeizada, que, nesse ano, ascendeu a 28 544 pessoas. Os números não traduzem a qualidades das leituras concretas e individuais, mas sugerem relações mais complexas entre os indivíduos e a imprensa do que as que derivam exclusivamente do critério da alfabeização. NOTA FINAL O século XIX produziu uma nova cultura ipográica, que se diferenciou face aos padrões da edição moderna por ancorar-se em valores tais como os de actualidade, de efemeridade, de reproduibilidade industrial, de diversidade de públicos e de produtos: da familiaridade, enim, com o texto impresso. O exemplo do Algarve, a que idealmente acrescentaremos os demais espaços infranacionais, demonstrou-nos que o processo não foi conínuo e teve esímulos contextuais díspares. Porém, evidenciou de igual modo que tais iniciaivas coniveram o gérmen da contemporaneidade, permiindo uma maior integração e reelaboração do lugar da província no espaço cultural desenhado pela imprensa. Seguindo o universo das pequenas e médias oicinas ipográicas, reconhecemos a topograia de uma nova autoridade histórica, quase sempre exterior aos poderes oiciais, que urdiu, alargou e modelou a esfera pública nacional. Nesta cartograia abre-se, inalmente, um amplo campo de possibilidades para o estudo da história da cultura escrita impressa, cujos limites não são forçosamente nacionais. Mas essa é matéria para outras linhas. 51 TENGARRINHA – Op. cit., 1989, p. 150 aponta cautelosamente para que, em 1830, um exemplar aingisse entre 15 a 20 pessoas, reduzindo a audiência para «um índice médio mínimo de 4 a 5 leitores por exemplar», quando se refere à década de 70. PATRÍCIA DE JESUS PALMA CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA EDIÇÃO CONTEMPORÂNEA EM PORTUGAL 179 FONTES E BIBLIOGRAFIA CITADAS Fontes manuscritas ALGARVE. Governo Civil; ABOIM, Marçal Henriques de Azevedo e Silva Lobo de – [Oício] n.º 315, 9.11.1844, Faro [a] Ministério do Reino. [Ms.] 1844. Acessível em ADF, fundo Governo Civil, lv. 465. ALGARVE. Governo Civil; ABOIM, Marçal Henriques de Azevedo e Silva Lobo de – [Oício] n.º 104, 26.4.1845 [a] Ministério do Reino. [Ms.] 1845. Acessível em ADF, fundo Governo Civil, lv. 465. ALGARVE. Governo Civil; COUCEIRO, António Maria – [Oício] n.º 2, 12.1.1850, Faro [a] General. [Ms.] 1850. Acessível em ADF, fundo Governo Civil, lv. 496. AVELAR, D. 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Neste arigo, pretende-se contribuir para o aprofundar do conhecimento sobre esta nova cultura da escrita, a parir do exemplo do Algarve. Palavras-chave: Tipograia Edição Cultura Escrita Impressa Século XIX Algarve-Portugal Abstract: Unil the end of the 18th century, Portugal had a print system concentrated in ive capitals. Book producion only reached naional level in the 19th century, when the printing industry started to expand beyond outskirts of the ive print capitals. The trade and circulaion of the book was naionwide since the end of 18th century to present day. By becoming generalised and locally available, the typographic culture acquired a truly unprecedented dimension. In this aricle, we intend to contribute to the deepening of knowledge about this new writing culture, from the example of the Algarve. Keywords: Typography Ediion Writen and Print Culture 19th Century Algarve-Portugal O laicismo na capital algarvia nos inais de Oitocentos: Num quadro de aniclericalismo crescente ao longo de todo o século XIX, que alastrava a todo o território nacional, assumindo diversas expressões e envolvendo vários sectores da sociedade, um barbeiro, estabelecido em Faro, de seu nome Francisco Pereira Salles, correspondente da Semana de Loyola, publicou no inal da década de 80 um folheto initulado de Geograia Astronómica, onde negava a existência de Deus. O folheto foi apreendido e o seu autor preso, Ani clericalismo Diocese Algarve Processo Salles Perseguição religiosa Laicismo the PhD Programme in Informaion and Documentaion Sciences taught at the same university and beneiing from an individual grant awarded by the FCT (Portuguese Foundaion for Science and Technology). Research member of CIDEHUS/UE – Interdisciplinary Centre for History, Culture and Socieies from the Évora University. o Programa de Doutoramento em Ciências da Informação e da Documentação, ministrado pela mesma insituição académica, tendo-lhe sido concedida bolsa individual pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Invesiga dor membro do CIDEHUS/UE - Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora. PATRÍCIA DE JESUS PALMA pajepa@fcsh.unl.pt Patrícia de Jesus Palma holds a degree in Modern Languages and Literatures Portuguese Studies, from the University of the Algarve (2003). She has a Master’s degree in Portuguese Studies - specializing in Contemporary Portuguese Literature, at the School of Humaniies and Social Sciences, NOVA University of Lisbon. Dissertaion is about The literary producion printed in the Algarve during the 19th and 20th Centuries (2008), and she as a PhD in Portuguese Studies – with a specializaion in Book History and Textual Criicism by the same Faculty, with the thesis The Reyno das Letras. The Literary Culture in the Periphery: the Algarve, 1759-1910 (2015). She is an integrated researcher at the CHAM (Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar / Portuguese Centre for Global History), FCSH-NOVA University of Lisbon/University of the Azores and as such has paricipated in naional and internaional scieniic meeings, has lectured, and has also published the parial results of her research in magazines and specialty books and has promoted cultural outreach aciviies in collaboraion with other insituions. She is a collaborator of the Manuel Viegas Guerreiro Foundaion. Patrícia de Jesus Palma é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – variante Estudos Portugueses, pela Universidade do Algarve (2003), é mestre em Estudos Portugueses – especialidade de Literatura Portuguesa Contemporânea, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa com a dissertação A produção literária impressa no Algarve durante os Séculos XIX e XX (2008), e é doutora em Estudos Portugueses – especialidade de História do Livro e Críica Textual pela mesma Faculdade, com a tese O Reyno das Letras. A Cultura Literária na Periferia: o Algarve, 1759-1910 (2016). É invesigadora integrada do grupo «Leitura e formas de escrita» do CHAM, FCSH-Universidade NOVA de Lisboa, Universidade dos Açores e como tal tem paricipado em encontros cieníicos nacionais e internacionais, tem proferido conferências, tem publicado os resultados parciais da sua pesquisa em revistas e livros da especialidade e tem promovido acividades de divulgação cultural em colaboração com outras insituições. É colaboradora da Fundação Manuel Viegas Guerreiro. LUÍS GUERREIRO luisguerreiro2011@gmail.com Has a degree in Civil Engineering by the Insituto Superior Técnico. Works in the Câmara Municipal de Loulé as Coordinator of the Gabinete de Eventos, Comunicação e Imagem, and is responsible for the organizaion of the Carnaval de Loulé. Up unil the end of 2013 was Chief of the Divisão de Cultura e Turismo. Board of Directors Chairman of the Fundação Manuel Viegas Guerreiro. President of the General Meeing of the CEUPA- Cooperaiva Proprietária of INUAF- Insituto Universitário D. Afonso III. Has several professional courses related with Licenciado em Engenharia Civil pelo Insituto Superior Técnico. É quadro superior da Câmara Municipal de Loulé, desempenhando actualmente as funções de Coordenador do Gabinete de Eventos, Comunicação e Imagem, responsável pela organização do Carnaval de Loulé. Até ao inal de 2013 foi Chefe de Divisão de Cultura e Turismo. Presidente do Conselho de Administração da Fundação Manuel Viegas Guerreiro. Presidente da Assembleia Geral da CEUPA – cooperaiva proprietária do INUAF- Insituto Universitário D. Afonso Com o apoio de: Com o Alto Patrocínio da Direcção Regional de Cultura do Algarve