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O Povoado Pré-histórico do Outeiro Redondo (Sesimbra): resultados das campanhas de escavação de 2013 e 2014

We present the results of the archaeological excavations at the fortified Chalcolithic settlement of Outeiro Redondo, Sesimbra in 2013 and 2014. These two campaigns continued the excavations performed there between 2005 and 2008. The defensive and housing structures were identified. The defensive structures corresponds to two constructive phases belonging to the Full/Late Chalcolithic. The housing structures correspnds also to two constructive phases, one of the Early Chalcolithic, the other of the Full/Late Chalcolithic. Thus, we may conclude that the first moment of this chalcolithic site corresponds to an open, unfortified settlement. An abundant and diversified set of artifacts were recovered during the excavations, pointing out to this settlement’s economic activities and the intensity of the human successive occupations of the place. Copper metallurgy stands out as a main economic activity in this site. A large entrance devoid of functional characteristics facing the sea, suggests the existence of ritual practices. In fact, the importance of the sea is confirmed by a foundational ritual, with the concealment, in a small cavity excavated in the substrate, of a mussel shell of exceptional dimensions. This shell seems to emphasize the importance of marine resources in the economy and daily life of the first community installed there, during the transition from the first to the second half of the 3rd millennium BC.

ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DE OEIRAS Volume 23 • 2016 /2017 A RUI BOAVENTURA HOMENAGEM À SUA MEMÓRIA Editores Científicos: João Luís Cardoso e Rui Mataloto CÂMARA MUNICIPAL DE OEIRAS 2016 / 2017 Estudos Arqueológicos de Oeiras é uma revista de periodicidade anual, publicada em continuidade desde 1991, que privilegia, exceptuando números temáticos de abrangência nacional e internacional, a publicação de estudos de arqueologia da Estremadura em geral e do concelho de Oeiras em particular. Possui um Conselho Assessor do Editor Científico, assim constituído: – Dr. Luís Raposo (Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa) – Professor Doutor Nuno Bicho (Universidade do Algarve) – Professor Doutor João Zilhão (Universidade de Barcelona e ICREA) – Doutora Laure Salanova (CNRS, Paris) – Professor Doutor Martín Almagro Gorbea (Universidade Complutense de Madrid) – Professor Doutor Rui Morais (Universidade do Minho) ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DE OEIRAS Volume 23 • 2016/2017 ISSN: 0872-6086 EditorEs CiEntífiCos dEstE VolumE dEsEnho E fotografia Produção CorrEsPondênCia – – – – João Luís Cardoso e Rui Mataloto Autores ou fontes assinaladas Gabinete de Comunicação / CMO Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras Fábrica da Pólvora de Barcarena Estrada das Fontainhas 2745-615 BARCARENA Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos Autores. Aceita-se permuta On prie l’échange Exchange wanted Tauschverkhr erwunscht oriEntação gráfiCa E rEVisão dE ProVas – João Luís Cardoso e Autores Paginação – M. Fernandes imPrEssão E aCabamEnto – Graficamares, Lda. - Amares - Tel. 253 992 735 dEPósito lEgal: 97312/96 Índice Geral / contents PAULO VISTAS Prefácio Foreword . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 JOãO LUíS CARDOSO & RUI MATALOTO Apresentação Presentation . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 RUI MATALOTO & JOãO LUíS CARDOSO Rui Boaventura (1971-2016), apontamento biográfico e bibliografia Rui Boaventura (1971-2016), biographical note and bibliography . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 RUI MATALOTO, MARCO ANTÓNIO ANDRADE & ANDRé PEREIRA O Megalitismo das pequenas antas: novos dados para um velho problema The Megalithism of small dolmens: new data to an old problem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 ANDREA MARTINS Entre o Atlântico e o Maciço Calcário Estremenho: a arte rupestre da Estremadura Between the Atlantic and the Maciço Calcário Estremenho: the rock art of Estremadura . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157 ANTÓNIO CARLOS VALERA & LINO ANDRé Aspectos da interacção transregional na Pré-história Recente do Sudoeste Peninsular: interrogando as conchas e moluscos nos Perdigões Views on the transregional interaction in Iberian Southwest Recent Prehistory: questioning the shells and molluscs from Perdigões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 ANA MARIA SILVA & MARIA TERESA FERREIRA Perscrutando espólios antigos 5: Contributo da análise dos restos ósseos humanos Examining old remains 5: the contribution of the study of human bones . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219 JOãO LUíS CARDOSO & FILIPE MARTINS O povoado pré-histórico do Outeiro Redondo (Sesimbra): Resultados das campanhas de escavação de 2013 e 2014 The chalcolithic fortified settlement of Outeiro Redondo (Sesimbra): Results of 2013 and 2014 field seasons . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233 5 JOãO LUíS CARDOSO Correspondência epistolar remetida por eminentes pré-historiadores espanhóis ou que trabalharam essencialmente em Espanha a José Leite de Vasconcelos (1853-1941) Correspondence sent by eminent Spanish pre-historians or who worked mainly in Spain to José Leite de Vasconcelos (1853-1941) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 393 ANA CATARINA SOUSA Os tempos do Neolítico na região de Lisboa: o povoamento Times in the Neolithic from the region of Lisbon: the settlements . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 459 DIRk BRANDhERM, MIChAł kRuEGER & JOãO LuíS CARDOSO um novo método para a datação absoluta de ossos humanos cremados: a cabana 2 do Monte de São Domingos (Malpica do Tejo, Portugal) A new method for the absolute dating of cremated human bones: hut 2 at Monte de São Domingos (Malpica do Tejo, Portugal) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 519 JOãO LUíS CARDOSO A ocupação do Bronze Final do Centro Histórico de Oeiras. Os materiais da Rua das Alcássimas Late Bronze materials recovered in the Historic Center of Oeiras. The artifacts of Rua das Alcássimas . . . . . . . . 531 CENTRO DE ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DO CONCELHO DE OEIRAS Relatório das actividades desenvolvidas em 2016 Report on activities carried out in 2016 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 555 6 Estudos Arqueológicos de Oeiras 23, Oeiras, Câmara Municipal, 2016 / 2017, p. 233-392 ISSN: 0872-6086 o povoado pré-histórico do outeiro redondo (sesimbra): resultados das campanhas de escavação de 2013 e 2014 * The chalcoliThic forTified seTTlemenT of ouTeiro redondo (sesimbra): resulTs of 2013 and 2014 field seasons João Luís Cardoso ¹, ² & Filipe Martins ² Abstract We present the results of the archaeological excavations at the fortified Chalcolithic settlement of Outeiro Redondo, Sesimbra in 2013 and 2014. These two campaigns continued the excavations performed there between 2005 and 2008. The defensive and housing structures were identified. The defensive structures corresponds to two constructive phases belonging to the Full / Late Chalcolithic. The housing structures corresponds also to two constructive phases, one of the Early Chalcolithic, the other of the Full / Late Chalcolithic. Thus, we may conclude that the first moment of this chalcolithic site corresponds to an open, unfortified settlement. An abundant and diversified set of artifacts were recovered during the excavations, pointing out to this settlement’s economic activities and the intensity of the human successive occupations of the place. Copper metallurgy stands out as a main economic activity in this site. A large entrance devoid of functional characteristics facing the sea, suggests the existence of ritual practices. In fact, the importance of the sea is confirmed by a foundational ritual, with the concealment, in a small cavity excavated in the substrate, of a mussel shell of exceptional dimensions. This shell seems to emphasize the importance of marine resources in the economy and daily life of the first community installed there, during the transition from the first to the second half of the 3 rd millennium BC. Keywords: Chalcolithic settlement, Copper metallurgy, Fortification, Foundational ritual, Portugal. 1 – INTRODUÇÃO O povoado fortificado calcolítico do Outeiro Redondo (Sesimbra) localiza-se numa elevação isolada, constituída por calcários duros jurássicos de coloração branca (“Calcários da Azóia”) dominando a baía de Sesimbra, atingindo a cota de 210 m, constituindo, com o morro do Castelo de Sesimbra e o morro do Moinho da Forca, uma linha de relevos de calcários duros do Jurássico Superior (“Calcários de Azóia”) com orientação *O primeiro autor, responsável pelo Projecto de Investigação aprovado pela DGPC em 2013 ao abrigo do qual se realizaram as quatro campanhas anuais de escavação no Outeiro Redondo (2013-2016), que dirigiu no terreno, assegurou a redacção do presente trabalho e a sua coordenação, tendo ao segundo autor sido cometido o tratamento estatístico do espólio recolhido e a execução da totalidade dos desenhos que o ilustram. ¹Universidade Aberta (Lisboa). Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (Câmara Municipal de Oeiras). cardoso18@netvisao.pt ²Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (Câmara Municipal de Oeiras). 233 Nordeste-Sudoeste, tendo as seguintes coordenadas: 38o 27´ 16´´ lat. N; 9o 06´ 02´´ long. W de Greenwich (CARDOSO, 2009 a). Da área culminante, avista-se para Norte um vasto território, até Almada; para Este, a vista encontra-se limitada a nascente pelo anticlinal do Risco, que se destaca ao longe; a poente avista-se o Castelo; a Sul, a vista é dominada pelo mar. A sua relação directa com a costa atlântica é evidente, constituindo ponto de vigia do litoral adjacente, no qual a baía de Sesimbra seria o único espaço favorável ao desembarque e acostagem de pequenas embarcações, uma vez que o litoral, tanto para Este como para Oeste da baía, é rochoso e escarpado. Para quem vem do mar, o povoado seria um marco visível e monumental, o qual era corporizado pela presença do recinto fortificado, com particular desenvolvimento do lado Sul, implantado no topo da elevação já em si isolada e destacada. A importância da visibilidade observada no Outeiro Redondo encontra-se plenamente confirmada nas implantações dos principais povoados calcolíticos da região. é o caso de Moita da Ladra, Vila Franca de Xira (CARDOSO, 2014 a); tal como no Outeiro Redondo, a vista espraia-se, no caso, pelo vasto estuário interior do Tejo, dominando a circulação fluvial nele realizada, em particular o movimento de embarcações vindas da margem esquerda. Nos povoados da Penha Verde, Sintra (CARDOSO, 2010-2011), do Penedo do Lexim, Mafra (SOuSA, 2010) e de Leceia (CARDOSO, 1997), verifica-se idêntica preocupação, relacionada com o controle das rotas terrestres então já existentes na já então densamente povoada Baixa Península de Lisboa. Além das condições geomorfológicas oferecidas pelo local, a implantação do povoado foi determinada pela existência de água doce na base da elevação, onde se observa uma captação datada do século XIX. A história das escavações sistemáticas realizadas no local, identificado pelo Arq. Gustavo Marques em 1966 (MARQUES, 1967) e por ele sondado, em vários locais e ao longo de diversos anos (CARDOSO, 2009 a), pode subdividir-se em três etapas principais: – A primeira etapa corresponde à identificação e publicação sistemática dos espólios recolhidos por Gustavo Marques, então conservados no Museu Nacional de Arqueologia (CARDOSO, 2009 a), acções que permitiram informações sobre as sucessivas fases culturais presentes na estação. – A segunda etapa dos trabalhos resultou da verificação da existência de espólios importantes e diversificados, que comprovavam uma importante presença pré-histórica no local, ocupando parte importante do 3.º milénio a.C., e sobretudo a identificação, à superfície, de importantes alinhamentos de grandes blocos calcários, que prenunciavam a presença de estruturas arqueológicas. Tais constatações foram realizadas pelo primeiro dos signatários em 1994, quando ali se deslocou para um primeiro reconhecimento das potencialidades do sítio, desconhecendo ainda o esboço feito em 1967 por O. da Veiga Ferreira no seu caderno de campo, depois publicado (CARDOSO, 2000), impunha-se a organização de um programa de escavações, suportado por um Projecto de Investigação quadrienal próprio e coordenado pelo primeiro signatário. O mesmo foi submetido para aprovação ao extinto Instituto Português de Arqueologia em 2004, tendo sido aprovado para financiamento plurianual pelo mesmo Instituto. Deste, modo, estavam reunidas as condições para se iniciarem as escavações, cujos bons resultados já se prenunciavam. Entre Maio de 2005 e Novembro de 2008, foram realizadas sucessivas campanhas de escavações em extensão, de duração variável ao abrigo de um Projecto-quadrienal aprovado e financiado pelo extinto Instituto Português de Arqueologia, no quadro do Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos, tendo a ultima campanha (2008) sido financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian. O conjunto dos trabalhos de campo e do espólio arqueológico recuperado permitiu a aquisição de informação essencial sobre a cronologia absoluta, as fases 234 de ocupação e as fases construtivas do povoado. Os resultados obtidos têm sido prontamente divulgados em diversas apresentações públicas, em várias reuniões científicas e por via da publicação de artigos científicos em revistas da especialidade (CARDOSO, 2010; CARDOSO, 2013; COELhO & CARDOSO, 2010-2011; CARDOSO, SOARES & MARTINS, 2010-2011). – A terceira e última etapa das investigações iniciou-se em 2013 e terminou em 2016. Com efeito, as escavações suspensas em 2008 deixaram boa parte da estação por investigar, afigurando-se que o prosseguimento das mesmas iria providenciar a compreensão global da estratégia de ocupação do espaço habitado por via da identificação no terreno do desenvolvimento das estruturas defensivas e habitacionais, incluindo o faseamento construtivo de umas e de outras. Ao mesmo tempo, o enriquecimento do registo da cultura material iria permitir aprofundar o conhecimento das actividades económicas ali desenvolvidas ao longo de toda a segunda metade do 3.º milénio a.C., bem como a caracterização das redes de circulação e do estatuto social das sucessivas comunidades ali sediadas no decurso daquele longo intervalo de tempo. Assim, importava elaborar um novo Projecto de Investigação, na sequência do anterior, tendo as escavações arqueológicas realizadas entre 2013 e 2016 no povoado pré-histórico fortificado do Outeiro Redondo sido realizadas no âmbito do Projecto de Investigação “Povoado Calcolítico do Outeiro Redondo – OUTRED”, vigente durante os quatro anos referidos, o qual foi superiormente aprovado pela Direcção Geral do Património Cultural, tendo sido coordenado, como o anterior, pelo primeiro signatário. O presente texto pretende dar continuidade à divulgação atempada dos resultados obtidos, com a apresentação exaustiva dos respeitantes aos dois primeiros anos da vigência do Projecto, respeitantes às campanhas de escavações realizadas em 2013 e em 2014. Pelo excepcional empenho demonstrado, tanto nos trabalhos de campo, como nos de gabinete, considerou o primeiro signatário, na qualidade de responsável das escavações e de coordenador do Projecto de Investigação que as suportaram, que era de toda a justiça associar o Dr. Filipe Martins como co-autor da presente publicação. 2 – METODOLOGIA E DESCRIÇÃO GERAL DOS TRABALHOS REALIZADOS (Fig. 1) Os trabalhos de campo da campanha de escavações de 2013 decorreram entre os dias 5 e 23 de Agosto de 2013, num total de 15 dias úteis de trabalho e corresponderam ao alargamento da área escavada até 2008 para nascente, em direcção a uma plataforma ou rechã existente desse lado da elevação. As escavações foram dirigidas em permanência pelo primeiro signatário, tendo nelas participado activamente os seguintes estudantes de Licenciatura em Arqueologia das universidades de Letras e Nova de Lisboa: Ana Catarino Salgado Basílio, Ana Filipa Marques Pereira, Ana Marta Anastácio, Andrés Alejandro Léon Carrillo, António José dos Santos, Catarina Gil, Fernando Soares Ferreira, Liliana Monteiro da Costa, Nireide, Pereira Tavares, Pedro Gascão, Ricardo Russo, Richard Peace, Tiago Filipe Duarte, Tiago Pires e Tomé Silva. A campanha de 2013 teve como objectivo primordial prosseguir a escavação da Muralha G para Este, a partir da área investigada até 2008, de modo a poder confirmar o seu prolongamento, que certamente envolvia originalmente toda a elevação. No primeiro dia dos trabalhos foi realizada a desmatação da área circundante, o que permitiu evidenciar a existência de alinhamentos de blocos aflorantes no terreno, já anteriormente identificados, em bom estado de conservação. A área seleccionada para escavação abarcou assim o desenvolvimento do suposto dispositivo defensivo, abrangendo a rechã situada do lado interno do referido alinhamento de blocos, onde se presumia que ocorresse importante conjunto de estruturas de carácter habitacional. 235 Fig. 1 – Outeiro Redondo. Ortofotomapa com implantação das curvas de nível e das áreas escavadas até 2016. Destaque para as áreas escavadas em 2013 e 2014, correspondentes a rechã ou plataforma situado do lado nascente do sítio arqueológico, cuja escavação se concluiu em 2015. Os trabalhos realizados seguiram a metodologia adoptada nos anos anteriores, com a escavação em extensão de uma área previamente delimitada, subdividida por vários sectores, de modo a permitir localização dos espólios recolhidos em planta, em função do desenvolvimento das estruturas referenciadas no terreno. A escavação foi aprofundada por níveis artificiais de 20 cm de potência, tomando por base a sequência estratigráfica já conhecida, tendo-se registado por métodos fotográficos todos os pormenores considerados significativos observados tanto no decurso da escavação, como, sobretudo, no final dos trabalhos. No final da escavação procedeu-se, como habitualmente, ao levantamento da planta geral da área escavada com as respectivas estruturas arqueológicas identificadas, tarefa realizada no decurso do mês de Outubro. Em 2014 as investigações realizaram-se em duas fases. A primeira fase dos trabalhos de campo decorreu entre os dias 3 de Agosto a 22 de Agosto de 2014, num total de 15 dias úteis de trabalho de campo. A área explorada correspondeu ao alargamento para nascente da escavação realizada no ano anterior, por forma a dar seguimento à escavação integral da plataforma ali existente, cuja conclusão só foi conseguida em 2015. Os trabalhos decorreram, tal como em 2013, sob direcção permanente do signatário, tendo neles participado activamente os seguintes alunos universitários: Ana henriques, Filipe Santos Martins, hélder Fonseca, Rodrigo Cristóvão e Tiago Costa. Participaram ainda, antes e durante as escavações, desmatando o terreno e removendo algumas raízes sobre a área que se pretendia investigar, sob orientação directa do arqueólogo responsável, uma equipa de funcionários da Câmara Municipal de Sesimbra, constituída por quatro elementos. 236 Numa segunda fase dos trabalhos, que decorreu entre os dias 6 de Outubro e 6 de Novembro de 2014, concluiu-se a escavação de um sector caracterizado por espessa camada de cinzas, e procedeu-se ao desenho das estruturas arqueológicas postas a descoberto. O prosseguimento dos trabalhos no ano de 2014 traduziu-se no alargamento da área investigada no ano anterior para Este da elevação, continuando a escavação da rechã existente, delimitada e protegida pela linha muralhada. Procurou-se alcançar a Muralha G, que se supunha acompanhar as curvas de nível, delimitando a plataforma, como se veio a demonstrar, apoiando-se em parte nos afloramentos geológicos, conferindo-lhe estabilidade em sector onde o declive é acentuado. No interior do recinto muralhado, escavou-se a camada de cinzas, que já tinha sido identificada no limite Este da área escavada de 2013, e que se iria revelar, como resultante de um grande incêndio que atingiu diversas estruturas habitacionais, entre as quais uma cabana de planta subcircular construída na base da sequência estratigráfica, assente no substrato geológico. Foi nesta espessa camada de cinzas assim formada, que se edificaram, após um curto interregno, outras cabanas de planta elipsoidal, no Calcolítico Pleno / Final, conforme é indicado pela tipologia dos espólios cerâmicos recuperados. Tal como em 2013, os trabalhos de escavação realizaram-se em extensão, seguindo a metodologia adoptada nos anos anteriores e os espólios recolhidos foram reportados às estruturas arqueológicas adjacentes mais próximas, por forma s ser possível a suma localização em planta. 3 – ESTRATIGRAFIA Com base nas observações baseadas nos diversos cortes estratigráficos realizados em 2013 e 2014, foi possível confirmar a sequência estratigráfica observada anteriormente, detalhando-a, a qual foi recentemente publicada no trabalho dedicado à apresentação exaustiva dos resultados obtidos até 2008 (CARDOSO, 2013), a qual, de cima para baixo pode ser descrita do seguinte modo: Camada 1 – Terra vegetal castanho-chocolate, pouco compacta, com elementos pedregosos calcários muito abundantes. Os materiais arqueológicos integram-se em várias épocas do Calcolítico Inicial e do Calcolítico Pleno / Final, incluindo alguns raríssimos fragmentos campaniformes, o que se explica por transporte gravítico das peças, oriundas da zona mais alta da estação (acrópole), actualmente ocupada por afloramento rochoso. Esta Camada atinge a espessura máxima de 0,20 m; sublinhe-se a total exclusividade de materiais pré-históricos, indício de que o local não voltou a ser ocupado ulteriormente, pelo menos de forma susceptível de deixar vestígios. Camada 2 – Camada terrosa mais clara e compacta que a anterior devido a uma maior percentagem de argila, com elementos pedregosos dispersos, mais raros e, em geral, de menores dimensões que os anteriores. Contém materiais cerâmicos que, pela tipologia e decoração, são quase exclusivamente reportáveis ao chamado Calcolítico Pleno / Final da Estremadura, desenvolvendo-se entre os 0,20 m e os 0,60 m de profundidade; Camada 3 – Camada castanho-clara, argilo-margosa, com pequenos elementos calcários e inúmeras partículas carbonosas dispersas, com materiais cerâmicos dos quais se encontram ausentes as produções do grupo “folha de acácia / crucífera” característicos do Calcolítico Pleno / Final da Estremadura. Esta Camada está por vezes representada por depósito espesso de cinzas amarelo-acinzentadas, que 237 corresponde a um incêndio generalizado que atingiu a cabana ou cabanas situadas na área escavada em 2014 e em parte da de 2015, no prolongamento da área anterior. Trata-se, deste modo, de depósito correspondente à degradação ou mesmo à destruição pelo fogo das estruturas habitacionais implantadas em áreas mais regulares do topo da elevação no decurso da fase final do Calcolítico Inicial. Na parte inferior desta camada, directamente assente no substrato geológico ou em Camada arqueológica quase sem espólio, observou-se o embasamento das cabanas acima referidas, constituídas por estruturas de combustão e alinhamentos delimitadores dos próprios recintos, de contorno subcircular. No conjunto, atinge cerca de 0,40 m de potência, sendo os espólios associados com valor discriminante (cerâmicas com decorações caneladas) exclusivamente do Calcolítico Inicial. Camada 4 – De coloração castanho-avermelhada, com abundantes blocos de pequeno tamanho, possui potência média de 0,10 m, podendo atingir potência máxima da ordem de 0,30 m, relacionada com o preenchimento de anfractuosidades rochosas. Resultante em parte da desagregação química e mecânica do substrato rochoso, apresenta-se quase desprovida de espólio arqueológico, sendo este exclusivamente reportável ao Calcolítico Inicial. Corresponde à primeira ocupação humana do sítio arqueológico, directamente sobre o substrato geológico, anterior à construção do dispositivo defensivo. é possível que esta Camada constitua, simplesmente, uma variação lateral da anterior, nos espaços da estação que não foram ocupados por estruturas habitacionais. Camada 5 – Corresponde ao embasamento rochoso, muito irregular, aflorante aquando da primeira ocupação arqueológica, constituído por calcários brancos e duros do Jurássico (“Calcários de Azóia”). As anfractuosidades destes calcários encontram-se pontual e parcialmente preenchidas por depósito arenoargiloso avermelhado, resultante de processo de lapialização incipiente, ocorrido em época em que tais formações rochosas afloravam. A sequência cronológico-cultural observada em 2015, é condizente com a anteriormente descrita – a que se juntou a informação decorrente das análises de radiocarbono realizadas – em 2013 (CARDOSO, SOARES & MARTINS, 2010-2011), com base nas escavações realizadas entre 2005 e 2008 e em 2013 e 2014, configurando apesar das variações laterais referidas, uma assinalável coerência na sucessão das ocupações observadas nas áreas da estação até agora escavadas, independentemente da sua localização específica no terreno. Assim, a correlação com as diversas fases cronológico-culturais e construtivas identificadas pode estabelecer-se, de forma segura, do seguinte modo: Camadas 3 e 4 – Final do Calcolítico Inicial situável cerca 2600 / 2500 a.C. para cerca de 95% de probabilidade, correspondente a uma única fase construtiva de carácter habitacional. Camada 2 – Calcolítico Pleno / Final, situável entre cerca de 2500 e 2100 a.C., para cerca de 95% de probabilidade, correspondente a duas fases construtivas de carácter defensivo e a uma fase construtiva de carácter habitacional. Importa também justificar a terminologia arqueológica utilizada. Assim, se o termo Calcolítico Inicial se encontra de há muito estabelecido, correspondendo, na Estremadura, às ocupações habitacionais caracterizadas, ao nível do registo ceramográfico, pela presença dominante das decorações caneladas, aplicadas sobretudo a recipientes cilíndricos (os conhecidos “copos”), já o termo Calcolítico Pleno Final carece de esclarecimentos mais desenvolvidos. Com efeito, é ainda hoje usual, no faseamento do Calcolítico da Estremadura, considerar o Calcolítico Pleno como caracterizado pela presença das conhecidas decorações em “folha de acácia” e na sua 238 variante “crucífera”, correspondentes a folículos aplicados por impressão de matriz na pasta mole, reservando o termo Calcolítico Final à afirmação das manifestações campaniformes. Ora, como ficou cabalmente demonstrado na região em apreço, correspondente à Baixa Estremadura, a emergência das produções campaniformes acompanharam as produções do grupo “folha da acácia / crucífera”, sendo dele independentes (CARDOSO, 2014 b), o que explica, em alguns casos, a total ausência das produções campaniformes, apesar das tardias datas de ocupação dos sítios, dentro do 3.º milénio a.C., como é exemplarmente documentado no Outeiro Redondo, onde as produções campaniformes são vestigiais, apesar de a ocupação ter atingido quase o final do referido milénio. Por outras palavras, o critério da presença / ausência de produções campaniformes, não é factor discriminante de faseamento entre as ocupações atribuíveis ao Calcolítico Pleno e ao Calcolítico Final da Estremadura. Assim sendo, adoptando um critério coerente, alicerçado na cronologia absoluta, todas as ocupações ulteriores a cerca de 2500 a.C., possuam ou não presença campaniforme, devem reportadas ao Calcolítico Pleno / Final, e não apenas ao Calcolítico Pleno ou ao Calcolítico Final. 4 – ESTRUTURAS ARQUEOLÓGICAS Em 2013 e 2014, a escavação centrou-se no sector leste do povoado (Fig. 2), incidindo na plataforma que ali se observou, desde logo atribuída a uma das áreas mais propícias para se identificarem estruturas de carácter habitacional, como de facto se veio a verificar. As estruturas ali identificadas foram as seguintes: Muralha G – esta estrutura, identificada em todas as campanhas de escavação desde 2005, corresponde à muralha periférica do povoado, envolvendo boa parte do topo da elevação, talvez com excepção da parte desta virada a Norte, onde o declive é abrupto, afigura-se como a mais importante da estação. Foi construída em um único momento construtivo, do Calcolítico Pleno / Final. Com efeito, encontra-se assente em depósitos mais ou menos potentes já atribuíveis a esta fase cultural, já ao Calcolítico Inicial, enquanto noutros sectores da estação, a mesma assenta no substrato geológico. De planta arqueada (Fig. 3), por forma a acompanhar as curvas de nível do topo da elevação, a sua melhor expressão observa-se do lado Sul e Leste, sendo evidenciada pelo alinhamento duplo de grandes blocos que definem os paramentos externo e interno. O enchimento intermédio é assegurado, como é costume neste tipo de estruturas defensivas observadas em diversos povoados da mesma época, por enrocamento de bloco angulosos de menores dimensões, engrenados uns nos outros e com pouco ligante entre si (Fig. 4). Nos sectores de maior declive observa-se o apoio dos blocos que constituem a Camada basal no afloramento geológico, por forma a assegurar a estabilidade; nos sectores em que a curvatura da estrutura teve de ser mais apertada, evidencia-se, com igual propósito, que os blocos são de dimensões acrescidas (Fig. 5). Estrutura H – trata-se de uma estrutura ortogonal, aproveitado um dos lados da Entrada L. Constituída por dois muros ortogonais, integrando blocos de dimensões médias, formando os paramentos interno e externo de ambos. É interessante verificar a existência desta particularidade construtiva em época calcolítica, a qual, até ao presente era, ao que se saiba, desconhecida. O Outeiro Redondo viria a fornecer exemplos desta arquitectura ortogonal nas campanhas de 2015 e de 2016, associados aos últimos momentos de ocupação do local, no Calcolítico Pleno / Final, confirmando-se que não se trata de um caso isolado, cuja importância importa desde já sublinhar. 239 Fig. 2 – Outeiro Redondo. Planta da área escavada em 2013 e 2014, com a indicação das estruturas arqueológicas identificadas. Desenho original de Filipe Martins. Tintagem e tratamento digital de Bernardo Ferreira. 240 Fig. 3 – Outeiro Redondo. Vista parcial da Muralha G, evidenciando-se a assinalável curvatura da mesma, fotografada em 2014. Foto de J. L. Cardoso. Fig. 4 – Outeiro Redondo. Vista parcial do enchimento intermédio da Muralha G, entre os paramentos externo e interno, constituídos por grandes blocos, fotografado em 2014. Foto de J. L. Cardoso. 241 Fig. 5 – Outeiro Redondo. Vista parcial da Muralha G, em sector de grande curvatura, quando inflecte para Norte, fotografada em 2014. Observem-se os grandes blocos do paramento externo destinados a travar, pelo peso, o deslizamento da estrutura no sentido do declive, localmente também muito acentuado. Foto de J. L. Cardoso. Estrutura I – esta estrutura corresponde a um muro de planta rectilínea paralelo a um dos muros da Estrutura H, sendo ambos de época tardia, conforme indica a sua fundação em depósitos do Calcolítico Pleno / Final. Entrada L – Trata-se de unidade arquitectónica definida pelas duas estruturas anteriores (Fig. 6). A sua modernidade relativamente à Muralha G é indicada pelo facto de ambas as estruturas que a definem se fundarem em níveis mais superficiais do que os correspondentes à fundação dos blocos daquela muralha. Tudo indica, deste modo, que esta entrada é posterior à construção da Muralha G, a qual foi objecto de rearranjo neste sector. Trata-se, pois, de estrutura construída no último período de ocupação do sítio, no Calcolítico Pleno / Final, já na transição do 3.º para o 2.º milénio a.C. O motivo para a sua construção não se afigura claro. Com efeito, a largura que possui não é compatível com as funções defensivas da muralha onde se encontra inserida, dada a sua exagerada largura. Orientada para Sudeste, e embora não se apresente directamente apontada ao mar, é possível que as suas funções fossem de carácter essencialmente simbólico, sublinhando a importância daquele elemento no quotidiano da comunidade. Estas funções não directamente ligadas à defesa, e até contrárias a tais preocupações, não deixam de ser sugestivamente sugeridas pela realidade observada. Lareira J – Trata-se de estrutura não associada de forma evidente a qualquer cabana. Situando-se do lado interno da Entrada L, a sua cronologia é claramente mais antiga, como é indicado pelo nível de fundação da mesma, subjacente os níveis de fundação dos dois muros que definem a referida entrada (Fig. 7). Trata-se, assim, de lareira que, entre outras, corporiza a primeira fase de ocupação do povoado, no final do Calcolítico Inicial. 242 Fig. 6 – Outeiro Redondo. Vista parcial da Entrada L, situada na Muralha G, fotografada em 2013. Observem-se os dois muros rectilíneos, que a definem internamente de ambos os lados. Note-se a arquitectura ortogonal que este subconjunto arquitectónico evidencia, constituindo uma característica do povoado sem paralelo em outros sítios calcolíticos. Foto de J. L. Cardoso. Fig. 7 – Outeiro Redondo. A Lareira J (Calcolítico Inicial), ao centro, situada do lado interno da Entrada L (Calcolítico Pleno), à direita e a um nível inferior à fundação desta, sendo-lhe deste modo anterior. Do lado esquerdo, evidencia-se pequena concentração de cinzas, que poderia corresponder ao depósito oriundo da referida estrutura de combustão. Foto de 2013, de J. L. Cardoso. Lareira M – Corresponde a outra estrutura de combustão, associada ao que poderá ser um espaço adjacente lajeado, remontando, tal como a anterior, à primeira fase de ocupação do local, no final do Calcolítico Inicial. Estrutura N – Identificou-se, em nível correlativo com nível ulterior à época da fundação da Muralha G, um espaço com abundantes elementos pétreos, que podem configurar um lajeado muito mal conservado. Estrutura O – Trata-se de um alinhamento de blocos de identificação muito difícil no terreno, em resultado da sua irregularidade, configurando aparentemente um vasto recinto fechado, de contorno subcircular, apenas bem delimitado do lado Leste, onde a um alinhamento externo de blocos se justapõe um alinhamento interno, que poderia ter a função de um banco, na hipótese de ao referido recinto poder corresponder ao embasamento de uma cabana. Situações análogas, e reportáveis à mesma época (Calcolítico Pleno / Final), foram observadas no povoado pré-histórico de Leceia. Com efeito, o nível de implantação dos blocos que correspondem ao seu embasamento assenta em depósitos com materiais do Calcolítico Pleno / Final, por sua vez assentes em depósitos com abundantes cinzas, os quais, tendo presente a sequência estratigráfica atrás descrita, se inserem no final do Calcolítico Inicial, e correspondem à destruição das unidades habitacionais daquela época, atingidas por incêndio. A esta provável cabana, poderão estar associadas duas subestruturas, O1 e O2: a primeira configura uma lareira, de planta subcircular, idêntica às acima descritas; a segunda, parece corresponder a local de combustão não estruturado, de onde provieram alguns fragmentos de cadinhos de fundição, embalados em cinzas e terras carbonosas que reforçam aquela atribuição. Lareira P – Tal qual o verificado com a subestrutura O2, também a existência desta estrutura de combustão se encontrava documentada pela concentração, em espaço restrito e de contorno subcircular, de terras carbonosas e cinzas, relacionadas com práticas metalúrgicas. Tratar-se-ia, assim, de uma lareira não estruturada, funcionando aparentemente a céu aberto, e integrável na primeira fase de ocupação do povoado. Em alternativa, poderia corresponder simplesmente a um depósito de cinzas produzidas na Lareira J, situada a cerca de 3 m de distância, pertencente, como acima se referiu, à mesma época. Em 2014, prosseguiu a escavação da Muralha G. Confirmou-se a inclusão de grandes blocos calcários, heterométricos e muito irregulares, constituindo os paramentos interno e externo da muralha. é interessante observar que os blocos do lado externo, por ser aquele que sofreria os maiores impulsos, afiguram-se maiores e mais regulares, acompanhados pelo nítido aumento da espessura da muralha no sector de maior declive e curvatura, por forma a assegurar, em parte pelo peso próprio, em parte por se encontrar apoiada no substrato geológico, a respectiva estabilidade, conforme se observou no ano transacto. A Muralha G, tal como se verificou em 2013, prossegue o seu desenvolvimento regular no terreno, arqueando progressivamente para Norte, delimitando a plataforma situada do lado Leste do morro, cuja escavação prosseguiu em 2014, com a identificação das seguintes estruturas: Estrutura Q – Trata-se de estrutura provavelmente incompleta, de utilização indeterminada, constituída por lajes colocadas verticalmente, dispostas em arco. Tais elementos encontram-se fundados em Camada com materiais do Calcolítico Pleno / Final (Camada 2), a qual assenta em depósito de cinzas, resultante do incêndio generalizado que atingiu as cabanas coevas da ocupação mais antiga. Cabana R – Única unidade habitacional correspondente à fase inicial de ocupação do povoado, apresenta-se muito incompleta, para o que terá contribuído a destruição provocada pelo incêndio que a atingiu. A planta, de contorno subcircular, encontra-se definida por alguns blocos dispostos em arco, assentes 244 Fig. 8 – Outeiro Redondo. Em primeiro plano superfície possivelmente aplanada de calcários apinhoados jurássicos, onde foi aberto covacho para depósito ritual de uma concha de mexilhão de dimensões excepcionais. Do lado esquerdo, observam-se pequenas lajes colocadas de cutelo, delimitando a Cabana R, de planta subcircular, do Calcolítico Inicial. Note-se a sequência estratigráfica, constituída por espesso depósito de cinzas e carvões, formado pelo incêndio generalizado que destruiu a Cabana R, o qual se encontra coberto por Camada terrosa, castanho-anegrada (Camada 2), sobre a qual se construiu a Cabana O, de planta subcircular, do Calcolítico Pleno. Foto de 2013, de J. L. Cardoso. no substrato geológico, o qual exibe, em local correspondente ao chão desta estrutura, um covacho onde se enterrou ritualmente uma concha de mexilhão de dimensões excepcionais (Fig. 8). No seu interior, foi identificada a Lareira R1, muito bem conservada (Fig. 9), definida por pequenos blocos igualmente assentes no substrato geológico, que parece ter sido previamente regularizado. O enchimento desta estrutura forneceu diversos fragmentos cerâmicos de copos canelados, típicos do Calcolítico Inicial, cronologia que era já indicada pela sua posição estratigráfica. 245 Fig. 9 – Outeiro Redondo. Vista parcial, obtida em 2014, da Cabana R, do Calcolítico Inicial, destacando-se, à direita, a Lareira R1, dentro da cabana e, à esquerda, a Muralha G, do Calcolítico Pleno, construída depois da cabana ter sido destruída por incêndio. Note-se a delimitação do embasamento da cabana, por pequenos blocos dispostos em arco. Foto de J. L. Cardoso Estrutura S – Muro rectilíneo incompleto, pertencente à fase construtiva mais recente do Calcolítico Pleno / Final, cujo desenvolvimento se encontra indefinido, numa das extremidades, encostando-se a outra à face interna da Muralha G, a qual, embora pertencente à mesma fase cronológico-cultural, integra-se em momento construtivo anterior. A finalidade deste muro não é conhecida; mas a sua planta rectilínea aproximam-no das estruturas ortogonais identificadas em 2013 e acima descritas, podendo corresponder ao que restou de uma grande unidade habitacional. De qualquer modo, é interessante sublinhar a coexistência de estruturas de planta ortogonal, com outras, de planta subcircular, tanto do Calcolítico Pleno / Final (Cabana O), como do final do Calcolítico Inicial (Cabana R). 5 – ESPÓLIOS ARQUEOLÓGICOS Nas Figs. 10 a 14 seleccionaram-se alguns dos artefactos mais representativos recuperados nas duas campanhas de escavações arqueológicas (2013 e 2014) a que respeita o presente trabalho. 5.1 – Pedra polida O conjunto dos artefactos de rochas duras de pedra polida, recolhidos em estratigrafia, no povoado pré-histórico fortificado do Outeiro Redondo nas duas campanhas de escavação em apreço é bastante 246 numeroso, integrando tipos bastante diversificados, representados por 51 exemplares, inteiros ou incompletos, mas tipologicamente classificáveis, distribuídos da seguinte maneira: – Camada 3 (final do Calcolítico Inicial) – 9 exemplares (Fig. 16, n.os 8 e 9; Fig. 17, n.os 1 e 2; Fig. 18, n.os 5 e 6; Fig. 21, n.os 3 a 5); – Camada 2 (Calcolítico Pleno / Final) – 42 exemplares (Fig. 15, n.os 1 a 9; Fig. 16, n.os 1 a 7; Fig. 17, n.os 3 a 6; Fig. 18, n.os 1 a 4; Fig. 19, n.os 1 a 8; Fig. 20, n.os 1 a 8; Fig. 21, n.os 1 e 2). Procedeu-se ao desenho e à análise tipológica de cada um dos artefactos recolhidos, a qual se apresenta no Quadro 1. Quadro 1 – Outeiro Redondo. Distribuição tipológica dos artefactos de pedra polida por conjuntos cronológico-culturais Artefactos de pedra polida C3 Final do Calcolítico Inicial C2 Calcolítico Pleno / Final % N.º % Machados 3 33,3 6 14,3 9 17,6 Enxós / sachos 1 11,1 4 9,5 5 9,8 Percutores 5 55,6 6 14,3 11 21,6 Martelos transversais – – 1 2,4 1 2,0 Escopros e Formões – – 2 4,8 2 3,9 Fragmentos de machados – – 8 19,0 8 15,7 Fragmentos de enxós / sachos – – 1 2,4 1 2,0 Fragmentos de escopros e formões – – 1 2,4 1 2,0 Fragmentos de martelos – – 7 16,7 7 13,7 Fragmentos de martelos transversais – – 2 5,0 2 3,9 Inclassificados – – 4 9,5 4 7,8 Total 9 100 42 100 51 100 N.º % Total N.º A primeira conclusão é a da escassez de artefactos de pedra polida provenientes da Camada 3, situação que facilmente se explica pelo facto de tal Camada se encontrar muito pior representada do que a Camada 2, a qual, por sua vez, impediu o acesso àquela, na área onde se identificaram estruturas arqueológicas que naturalmente não podiam ser removidas. Por outro lado, afigura-se evidente que a área inicialmente ocupada pelo povoado é muito inferior à que viria a corresponder à ocupação mais moderna, durante a qual, por sua vez, se assiste à multiplicação de estruturas habitacionais, caracterizadas por abundante espólio. 247 Fig. 10 – Outeiro Redondo. 1 – enxó votiva de fibrolite. Camada 2; 2 – percutor de arenito Camada 2; 3 – escopro ou cinzem de anfibolito. Camada 2; 4 – peso de rede de calcário. Camada 2. Fotos de J. L. Cardoso. 248 Fig. 11 – Outeiro Redondo. 1 – ponta de seta, de sílex jaspóide. Camada 2; 2 – ponta de seta, de sílex jaspóide. Camada 2; 3 – ponta de seta, de sílex rosado. Camada 2; 4 – ponta de seta de grandes dimensões de bordos serrilhados, de sílex translúcido acastanhado. Camada 2; 6 – lâmina elipsoidal com trabalho cobridor total numa das faces, de sílex rosado. Camada 2; 7 – lâmina elipsoidal com trabalho cobridor total numa das faces, de sílex cinzento. Camada 2; 8 – furador excepcionalmente alongado, com vestígios de desgaste na ponta, com retoques abruptos, de sílex cinzento. Camada 3; 9 – lâmina elipsoidal com trabalho cobridor total em ambas as faces, de sílex branco opaco com laivos rosados. Camada 2. 5 – ponta de seta de osso, incompleta na base. Camada 2. Fotos de J. L. Cardoso. 249 Fig. 12 – Outeiro Redondo. 1 e 2 – lâminas serrilhadas de cobre de serrotes ou elementos de foice. Notar a diferença de profundidade da serrilha e do desgaste em ambos os exemplares, Camada 2; 3 – extremidade de gume de machado, separado intencionalmente, por corte, do corpo do artefacto. Camada 3; 4 – porção distal de espada, separada do resto da lâmina por corte intencional. Camada 2; 5 – fragmento de cadinho de fundição, com impregnações cupríferas. Camada 3; 6 – algaraviz (tubo de forja) quase completo. Camada 3. Fotos de J. L. Cardoso. 250 Fig. 13 – Outeiro Redondo. 1 – ponta de seta de espigão e aletas. Camada 2; 2 – alabarda. Camada 2. Fotos de J. L. Cardoso. 251 Fig. 14 – Outeiro Redondo. 1 a 3 – cilindros de calcário, conservando apenas uma das extremidades. O n.º 3 ostenta junto desta as características tatuagens faciais. Camada 2; 4 – cilindro de rocha básica, diorítica, incompleto e reutilizado, com marcas de percussão numa das extremidades. Camada 2; 5 – fragmento de placa de xisto. Camada 2; 6 – conta discóide de variscite, alterada superficialmente. Camada 2; 7 – conta discóide de osso, com desgaste devido a suspensão. Camada 2; 8 – concha de Luria lurida L., perfurada na área dorsal, para transformação em elemento de colar. Camada 2; 9 – concha de mexilhão (Mytilus sp.) de dimensões excepcionais, utilizada num ritual fundacional do povoado. Camada 3; 10 – falange de cavalo (Equus caballus L.) totalmente afeiçoada por polimento, transformando-a em ídolo antropomórfico. Camada 2. Fotos de J. L. Cardoso. Machados – assim tradicionalmente classificados por possuírem um bisel duplo simétrico, formando o gume) exibem formas volumosas, distribuindo-se por três grupos formais distintos, que correspondem também a grande heterometria, sublinhando as diversas funções específicas, dentro do corte e do trabalho da madeira, a que estavam destinados: – os machados totalmente polidos e de secção rectangular, nalguns casos com tendência espalmada, que se aproximam das produções metálicas, das quais foram coevos; – os machados de corpo bombeado, de secções subquadrangulares a sub-rectangulares, em geral bem polidos, e de tamanho em geral menor que os antecedentes, que constituem o conjunto mais numeroso; – enfim, reconheceram-se pequenos machados de corpo tendencialmente cilindróide a fusiforme, de secções elipsoidais a subcirculares, polidos apenas no gume e com os talões picotados, os quais tradicionalmente se reportam a produções arcaicas, mas que, no caso presente, provêm exclusivamente da ocupação do Calcolítico Pleno / Final (Fig. 15, n.os 1 a 3, 5 e 6; Fig. 16, n.o 2). Esta realidade parece também estar em oposição à natureza da matéria-prima em que foram produzidos. Com efeito, todos eles são fabricados em rochas básicas de tipo dolerítico, disponíveis em filões situados nas imediações, relacionados com o diápiro de Sesimbra. Esta realidade sugeria o aprovisionamento por uma comunidade que ainda não usava as rochas de melhor qualidade de tipo anfibolítico, oriundas do Alto e do Baixo Alentejo, e aqui chegadas por via do comércio transregional. Na região de Lisboa, tal foi a evidência recolhida em diversos povoados anteriores ao Calcolítico, como o povoado do Neolítico Final do Carrascal, Oeiras (CARDOSO, 2011; CARDOSO, SOUSA & ANDRé, 2015) e a ocupação do Neolítico Final de Leceia (CARDOSO, 1999-2000; CARDOSO, 2004; CARDOSO & CARVALhOSA, 1995). No entanto, no Outeiro Redondo não se reconheceu nenhuma presença significativa que pudesse ser reportada a qualquer uma daquelas épocas, pelo que, descartando a possibilidade de se terem continuado a produzir até ao final do Calcolítico tais tipos arcaicos, só existe uma outra alternativa para a sua ocorrência que é a de terem sido colectados pelos antigos ocupantes em estações mais antigas existentes nas imediações tendo em vista a sua utilização prática, ou a sua conservação como relíquias dos antepassados. Os restantes machados recolhidos nas Camada 3 e Camada 2 são invariavelmente de anfibolito, embora a textura desta rocha se apresente mais ou menos fina, por vezes ocelada correspondente a megacristais de anfíbola. Esta realidade ilustra bem a intensa circulação transregional de matérias-primas necessárias ao quotidiano destas populações, como os anfibolitos, realidade já bem caracterizada em outras estações calcolíticas da região, com destaque para Leceia (CARDOSO, 1999-2000), onde se demonstrou a intensificação económica ao longo de todo o 3.o milénio a.C. através do aumento sempre constante, da presença de rochas anfibolíticas. No cômputo geral, os machados ocorrem em proporções idênticas às das enxós, sem considerar as peças de um ou outro grupo reutilizadas como percutores. é interessante referir que um dos machados oriundos da Camada 3 (Fig. 16, n.o 8) possui evidentes marcas de alteração pelo calor do anfibolito em que é confeccionado, com passagem a coloração amarelada, em resultado do incêndio generalizado então ocorrido que atingiu as estruturas habitacionais do Calcolítico Inicial. Enxós / sachos – trata-se de lâminas polidas obtidas por biselamento unifacial do suporte lítico. O corpo dos referidos suportes apresenta-se em geral achatado e às vezes arqueado, contrastando com o observado nos machados. Algumas destas produções, para além do anfibolito, são executadas em rochas afaníticas anegradas, de coloração mais clara à superfície, por alteração, como é o caso do exemplar da Fig. 18, n.o 1. A origem destas rochas, de natureza vulcanítica, podendo corresponder a tufos básicos, pode ser encontrada 253 Fig. 15 – Outeiro Redondo. Artefactos de pedra polida recolhidos na Camada 2. Os n.os 1 a 3, 5 e 6, são de rochas básicas de origem local; os n.os 4, 7 a 9, são de anfibolito. 254 Fig. 16 – Outeiro Redondo. Artefactos de pedra polida recolhidos na Camada 2 (n.os 1 a 7) e Camada 3 (n.os 8 e 9). O n.o 2, é de rocha básica de origem local; os restantes exemplares são de anfibolito. 255 na Zona Sul Portuguesa. Mas só uma análise petrográfica poderia clarificar esta atribuição, conforme em outro estudo já se referiu (CARDOSO, 2014 c), sendo certo que na região de Alcácer do Sal / Grândola ocorrem as rochas deste tipo mais próximas do Outeiro Redondo. A atribuição de algumas destas peças a sachos é sugerida, nalguns outros casos que não nos exemplares em estudo, pelas lascas que saltaram dos gumes, compatíveis com impactos violentos com pedras existentes nos solos a sachar, mais do que com o trabalho da madeira, tradicionalmente atribuído às enxós. Duas pequenas enxós configuram peças de carácter votivo, podendo ser utilizadas de forma ritual, não funcional. um exemplar aparentemente confeccionado em rocha metassedimentar verde-acinzentada, com xistosidade, ostenta gume com ténues vestígios de utilização (Fig. 17, n.o 5); outro exemplar, de fibrolite (silimanite) de coloração leitosa com laivos cinzento escuros (Fig. 18, n.o 2; Fig. 10, n.o 1), o qual, não só pela matéria-prima, mas também pelas reduzidas dimensões, se enquadra no tipo dos artefactos rituais. Com efeito, tanto o machado como a enxó, pelas importantes tarefas a que estavam associados, facilmente teriam adquirido significado simbólico, no âmbito das sociedades agrárias do Neolítico e Calcolítico, sendo tal conotação ilustrada em toda a bacia mediterrânea por abundantes e expressivos testemunhos. No povoado do Neolítico Final do Carrascal recolheu-se pequeno pendente de fibrolite leitosa, com a tipologia de uma enxó, munido de um furo de suspensão (CARDOSO, 2011, p. 50; CARDOSO, SOuSA & ANDRÉ, 2015, Fig. 83, n.o 2; Fig. 84), que corporiza claramente a função simbólica do machado / enxó. Percutores – trata-se de reaproveitamentos de artefactos de pedra polida, que por razões não evidentes ficaram fora de uso. A larga maioria corresponderão a machados de anfibolito, com intensas marcas de percussão, que por vezes se estendem a toda a periferia da peça. Desconhece-se a razão do abandono da utilização primária destas peças, sendo certo que, por serem confeccionadas em anfibolito, o custo inerente à sua obtenção não seria desprezível. A dificuldade de compreender a opção tomada é acrescida se se admitir que outras rochas, para mais fáceis de obter localmente, como o quartzito ou o quartzo, sob a forma de seixos rolados, poderiam ter sido utilizados com idênticos resultados. Parece, assim, existir contradição sem explicação plausível, entre o valor intrínseco da matéria-prima, e a finalidade última, de carácter indiferenciado, que lhes foi atribuída. Martelos transversais – sob esta designação integram-se alguns exemplares que seriam facilmente atribuíveis a machados, não fosse o gume cortante estar substituído por superfície polida que ocupa a extremidade distal dos artefactos (Fig. 19, n.os 4, 6 e 8). Esta particularidade sugere que seriam utilizados para martelagem de superfícies mais ou menos exíguas, requerendo trabalho de precisão, tendo-se anteriormente admitido que se relacionariam com a manufactura de objectos de cobre, sendo a sua presença insistente em alguns povoados calcolíticos da região (ver, por todos, CARDOSO & ENCARNAÇãO, 2013). Contudo, o facto de alguns destes exemplares ocorrerem em contextos do Neolítico Final, como é o caso de pequeno exemplar de rocha esverdeada recolhido em Leceia (CARDOSO, 1989, Fig. 102, n.o 3), obriga a admitir outras utilizações especializadas, que permanecem ignoradas. Para o esclarecimento desta realidade, encontra-se presentemente em curso o estudo traceológico da superfície de trabalho dos exemplares recolhidos no Outeiro Redondo e em outros povoados calcolíticos da região. Um deles ostenta sulco transversal polido na zona central de uma das faces (Fig. 19, n.o 6), que pode estar relacionado com o encabamento da peça. Escopros e formões – tal como em outros importantes povoados calcolíticos estremenhos, a utensilagem de pedra polida integra residualmente artefactos especializados os quais se podem integrar nesta categoria funcional. Ostentam em geral corpo alongado, secção sub-quadrangular e cuidadoso 256 Fig. 17 – Outeiro Redondo. Artefactos de pedra polida recolhidos na Camada 2 (n.os 3 a 6) e na Camada 3 (n.os 1 e 2). O n.o 5 é de tufo vulcânico afanítico, com alteração amarelada à superfície; os restantes exemplares são de anfibolito. 257 Fig. 18 – Outeiro Redondo. Artefactos de pedra polida recolhidos na Camada 2 (n.ºs 1 a 4, com destaque para a peça n.o 2 em fibrolite) e na Camada 3 (n.os 5 e 6). Os n.os 1 e 3, são de rochas básicas de origem local; os restantes exemplares são de anfibolito. 258 Fig. 19 – Outeiro Redondo. Artefactos de pedra polida recolhidos na Camada 2. Todos os exemplares são de anfibolito. 259 polimento, podendo ser utilizados tal qual, ou encabados numa manga de osso, madeira ou haste de veado (Fig. 19, n.os 2 e 3; Fig. 10, n.o 3). 5.2 – Pedra afeiçoada No conjunto de 19 peças de pedra afeiçoada encontram-se representados os seguintes grupos de artefactos: Camada 3 – Peso de pesca: 1 exemplar (Fig. 22, n.o 3); – Percutor: 1 exemplar (Fig. 24, n.o 4); – Movente: 1 exemplar (Fig. 25, n.o 2); – Dormente: 1 exemplar (Fig. 26, n.o 2). Camada 2 – Peso de Pesca: 4 exemplares (Fig. 21, n.o 6; Fig. 22, n.os 1 a 3; Fig. 10, n.o 4); – Percutores: 9 exemplares (Fig. 10, n.o 3; Fig. 23, n.os 1 a 5; Fig. 24, n.os 1 a 4); – Moventes: 1 exemplar (Fig. 25, n.o 1); – Dormente: 1 exemplar (Fig. 26, n.o 1); – Afiador / polidor: 1 exemplar (Fig. 26, n.o 3); – Seixo afeiçoado: 1 exemplar (Fig. 26, n.o 4). é certa a existência de mais moventes e dormentes dos que foram inventariados, que foram deixados resguardados no terreno. Por outro lado, o conjunto poderia ser aumentado caso se considerassem os percutores correspondentes à reutilização de exemplares de pedra polida como artefactos de pedra afeiçoada, os quais foram já tratados, restando os percutores inteiramente afeiçoados em resultado da sua utilização, agora caracterizados. Pesos de pesca – é relevante a presença de quatro pesos de pesca, afeiçoados em rochas distintas, todas de origem local, os quais possuem sulcos transversais ou longitudinais, relativamente ao eixo maior da peça, obtidos sempre por picotagem. A utilização como pesos de pesca deste tipo de artefactos foi discutida em anterior trabalho, que reuniu os exemplares até então conhecidos (CARDOSO, 1996). Entretanto, outros exemplares foram recolhidos, sempre em povoados próximo do litoral, como é o caso do povoado do Neolítico Final e do Calcolítico da Travessa das Dores, Lisboa, onde se recolheu um exemplar, aproveitando seixo rolado de basalto, de origem local (NETO, REBELO & CARDOSO, 2015, Fig. 20, n.o 1; Fig. 22, n.o 3). Os exemplares que possuem sulcos transversais diferem muito nas dimensões e acabamento. O mais pequeno (Fig. 21, n.o 6) é também o melhor confeccionado, sobre um suporte de arenito claro, possuindo um sulco largo e regular, contrastando com o outro exemplar, igualmente aproveitando com reduzidas alterações, igualmente bloco de arenito claro (Fig. 22, n.o 1). É importante sublinhar desde já a diferença significativa de tamanhos e de qualidade de produção, sem dúvida em resultado de finalidades distintas, dentro do mesmo tipo de utilização. Assim, enquanto o exemplar de maiores dimensões seria utilizado em redes verticais, o de menor dimensões é compatível com um peso de pesca à linha, a qual se encontra muito bem documentada na estação pela presença de anzóis de cobre, adiante estudados. 260 Fig. 20 – Outeiro Redondo. Artefactos de pedra polida recolhidos na Camada 2. Todos os exemplares são de anfibolito. 261 Fig. 21 – Outeiro Redondo. Artefactos de pedra polida, recolhidos na Camada 2 (n.os 1 e 2) e na Camada 3 (n.os 3 e 5), e peso de pesca recolhido na Camada 2 (n.o 6), de calcarenito. Os restantes exemplares são de anfibolito. 262 Os dois outros exemplares, de corpo elipsóide, possuem sulcos longitudinais obtidos sempre por picotagem (Fig. 22, n.os 2 e 3; Fig. 10, n.o 4). é provável que a opção pela realização de sulcos longitudinais se relacione com a preocupação de evitar que estes elementos não servissem de estorvo à livre movimentação das redes a que se encontravam atados. é interessante observar que estes objectos aparecem, excepcionalmente, em sepulturas, como é o caso de um exemplar inteiramente semelhante aos agora recolhidos, com sulco longitudinal a picotado recolhido numa das grutas sepulcrais artificiais de Palmela (CRuZ, 1906, Est. 7, n.o 61), discutindo o autor o seu uso, com base na bibliografia então disponível. O seu carácter funcional e não ritual encontra-se sublinhado pelo facto de serem quase exclusivamente reportados a contextos habitacionais. Percutores – os percutores ou martelos que resultaram do reaproveitamento de artefactos de pedra polida, foram acima caracterizados; restam os exemplares que sempre tiveram tais funções, recorrendo a massas de arenito (Fig. 23, n.os 1, 4 e 5; Fig. 10, n.o 2) ou de sílex (Fig. 23, n.o 3). A utilização desta rocha na confecção de tais instrumentos mostra até que ponto era fácil de obter na região, pois de outro modo seria aproveitada para a produção de artefactos mais especializados que a requeressem preferencialmente. Com efeito, tendo presente a larga maioria da natureza petrográfica das massas de sílex recolhidas, pode concluir-se que o sílex da própria área de Lisboa (pedreiras do Cenomaniano do vale de Alcântara ou da serra de Monsanto), seria o preferencialmente explorado, tanto pela sua proximidade, como pela qualidade e abundância com que ali ocorre, em nódulos ou em bancadas tabulares. Mais interesse possui uma esfera de calcarenito muito fino, ostentando fina picotagem (Fig. 23, n.o 2), colocando a dúvida de tais marcas serem o resultado do trabalho efectuado com esta peça ou, pelo contrário, a prova do seu afeiçoamento intencional. Nos níveis calcolíticos do povoado pré-histórico de Leceia recolheram-se alguns esferóides de calcário, por vezes de grandes dimensões, totalmente afeiçoadas, cuja finalidade foi já discutida (CARDOSO, 2001-2002). A alternativa de poderem constituir projécteis não pode deixar de se colocar, dada a pouca dureza do calcário para assegurar as funções como percutor. Tabletes – dois objectos, de corpo globuloso, incompletos numa das extremidades, com aspecto de língua de extremidade arredondada, afiguram-se de utilização desconhecida, possuindo uma face principal plana ou levemente côncava, que seria a funcional, sendo a outra convexa, possuindo num deles uma nervura central. Ambos se encontram totalmente afeiçoados por picotagem. Um dos exemplares, atribuível ao Calcolítico Pleno / Final (Fig. 25, n.o 1) é de arenito de cimento ferruginoso; o outro, recolhido nos depósitos de cinza resultantes do incêndio generalizado acima referido, integra-se no Calcolítico Inicial (Fig. 25, n.o 2) e é afeiçoado em rocha gabro-basáltica. Elementos de mós manuais – são abundantes os dormentes e moventes, tendo já sido apresentado sobre os mesmos pequeno estudo monográfico (CARDOSO, 2012). Representa-se na Fig. 26, n.o 1, um seixo rolado em rocha dolerítica, com uma pequena depressão no centro de uma das faces, que poderia ter a finalidade de providenciar a melhor moagem dos grãos, que ficariam presos à concavidade, aquando do movimento de vai-vém. Polidores – representa-se na Fig. 26, n.o 2, um fragmento de polidor possuindo a face funcional côncava, limitada por bordo regular convexo, executado em rocha dolerítica. Afiadores – o bloco de arenito micáceo de cimento ferruginoso da Fig. 26, n.o 3, possui abundantes sulcos, resultantes da preparação de gumes de artefactos de pedra polida, ou da execução de artefactos de osso diversos, como furadores, agulhas, sovelas, e escopros ou cinzéis. 263 Fig. 22 – Outeiro Redondo. Pesos de pesca recolhidos na Camada 2 (n.os 1 e 2) e Camada 3 (n.o 3). O n.o 1 é de arenito; os restantes exemplares são de calcário. 264 Fig. 23 – Outeiro Redondo. Percutores / balas de funda recolhidos na Camada 2 (n.os 1 a 3) e percutores recolhidos na Camada 2 (n.os 4 e 5). Todos os exemplares são de arenito, com excepção do n. o 2, de calcarenito fino e do n.o 3, de sílex. 265 Fig. 24 – Outeiro Redondo. Percutores recolhidos na Camada 2 (n.os 1 a 3) e percutor recolhido na Camada 3 (n.o 4). O n.o 1, é de quartzo leitoso e o n.o 4 é de sílex; os restantes são de arenito (n.o 2) ou de calcarenito (n.o 3). 266 Fig. 25 – Outeiro Redondo. Movente recolhido na Camada 2 (n.o 1) e na Camada 3 (n.o 2). O n.º 1 é de arenito ferruginoso e o n.o 2 de rocha básica de origem local. 267 Fig. 26 – Outeiro Redondo. Dormentes recolhidos na Camada 2 (n.o 1) e na Camada 3 (n.º 2), ambos de rochas básicas de origem local; afiador / polidor (n.o 3), de arenito ferruginoso e seixo afeiçoado de quartzito (n.º 4), recolhido na Camada 2. 268 Seixos afeiçoados – excepcionalmente, recolheu-se um exemplar, sobre seixo de quartzito (Fig. 26, n.o 4), correspondendo provavelmente a peça mais antiga transportada para o povoado, já que a área lascada exibe um ligeiro rolamento, que não poderia ter sido adquirido no local. 5.3 – Pedra lascada As duas campanhas permitiram recolher um conjunto de 233 utensílios de pedra lascada, dos quais 65 são da Camada 3 e 168 são da Camada 2, integrando tipos de artefactos diversificados, atribuídos ao Calcolítico Inicial e ao Calcolítico Pleno / Final da Estremadura. Procedeu-se ao desenho e à análise da totalidade dos utensílios identificados, cuja distribuição em termos tecnológicos e tipológicos se apresenta no Quadro 2. Quadro 2 – Outeiro Redondo. Classificação da utensilagem de pedra lascada em grandes categorias, em termos tecnológicos e tipológicos Utensílios líticos C3 C2 (Calcolítico Inicial) (Calcolítico Pleno / Final) N.o % Núcleos 4 6,2 4 2,4 8 3,4 Lamelas 6 9,2 23 13,7 29 12,4 Lâminas 8 12,3 22 13,1 30 12,9 Lascas retocadas / raspadores – – 12 4,2 12 5,2 Raspadeiras 6 9,2 13 7,7 19 8,2 Entalhes e Denticulados 2 3,1 3 1,8 5 2,1 Furadores 23 35,4 16 9,5 39 16,7 Lâminas foliáceas 12 18,5 32 19 44 18,9 4 6,2 43 25,6 47 20,2 65 100 168 100 233 100 Pontas de seta Total N.o % Total N.o % 5.3.1 – Análise da utensilagem • Núcleos (Fig. 27, n.os 1 a 8) Foram analisados 8 núcleos de sílex, correspondendo a 3,4% do conjunto total dos utensílios líticos, distribuídos estratigraficamente da seguinte maneira: Camada 3 – 4 exemplares; Camada 2 – 4 exemplares. Dos quatro exemplares recolhidos na Camada 3, três foram exumados em 2013 e apenas um em 2014. Três núcleos evidenciam extracção de lamelas (Fig. 27, n.os 5, 7 e 8), e um exemplar extracção de pequenas lascas (Fig. 27, n.o 6), apresentando-se, no seu conjunto, com plataforma facetada e com grau de exaustão elevado. Todos são de sílex de coloração cinzenta, excepto um de tonalidade acastanhada. 269 Fig. 27 – Outeiro Redondo. Núcleos recolhidos na Camada 2 (n.os 1 a 4) e na Camada 3 (n.os 5 a 8). Lamelas recolhidas na Camada 2 (n.os 9 a 31) e na Camada 3 (n.os 32 a 37). Lâminas recolhidas na Camada 2 (n.os 38 e 39). 270 Os quatro exemplares recolhidos na Camada 2 foram exumados na área intervencionada em 2013 (Fig. 27, n. 1 a 4). Foram registados dois núcleos de lamelas e dois núcleos para a extracção de pequenas lâminas. O sílex cinzento apresenta-se dominante em três exemplares com apenas um de coloração acastanhada. os • Lamelas e Lâminas (Fig. 27, n.os 9 a 39; Fig. 28, n.os 1 a 27; Fig. 29, n.o 1) Recolheram-se 29 lamelas e 30 lâminas, correspondendo as primeiras a 12,4%, e as segundas a 12,9% total dos utensílios líticos, distribuídas estratigraficamente da seguinte maneira: Camada 3 – 6 lamelas e 8 lâminas; Camada 2 – 23 lamelas e 22 lâminas. Todos os exemplares são de sílex, predominantemente de colorações acinzentadas em todas as camadas estratigráficas, excepto 1 lamela em quartzo hialino recolhida na Camada 3 na área intervencionada em 2013 (Fig. 27, n.o 35). As características observadas nas lamelas e lâminas apresenta-se no Quadro 3. Quadro 3 – Outeiro Redondo. Tipologia das lamelas e lâminas e respectiva distribuição estratigráfica Tipos de lamelas e lâminas C3 C2 (Calcolítico (Calcolítico Inicial) Pleno / Final) Total N.o % N.o % N.o % Lamela sem retoque 2 14,3 6 13,3 8 13,6 Lamela com retoque contínuo, marginal, irregular – – 4 8,9 4 6,8 Frag. de lamela sem retoque 2 14,3 6 13,3 8 13,6 Frag. de lamela com retoque 2 14,3 7 15,6 9 15,3 Lâmina com retoque marginal descontínuo em ambos os bordos laterais 1 7,1 3 6,7 4 6,8 Lâmina com retoque marginal contínuo em ambos os bordos laterais 1 7,1 3 6,7 4 6,8 Lâmina com retoque marginal descontínuo apenas num dos bordos laterais – – 4 8,9 4 6,8 Lâmina com retoque marginal contínuo apenas num dos bordos laterais – – 2 4,4 2 3,4 Fragmento de lâmina sem retoque – – 2 4,4 2 3,4 Frag. de lâmina com retoque marginal descontínuo em ambos os bordos laterais 4 28,6 2 4,4 6 10,2 Frag. de lâmina com retoque marginal contínuo em ambos os bordos laterais – – 2 4,4 2 3,4 Frag. de lâmina com retoque marginal descontínuo apenas num dos bordos laterais 1 7,1 1 2,2 2 3,4 Frag. de lâmina com retoque marginal contínuo apenas num dos bordos laterais 1 7,1 3 6,7 4 6,8 14 100 45 100 59 100 Total No conjunto da Camada 3, embora de número de elementos seja pouco representativo, verifica-se um maior índice de fragmentação com mais fragmentos mesiais e proximais nas lâminas (somando 75%) e mais fragmentos mesiais nas lamelas (33,3%). O conjunto da Camada 2 apresenta um índice de fragmentação pouco elevado, com mais lâminas inteiras que lamelas (54,5% de lâmin as inteiras e 43,5% de lamelas), sendo os fragmentos distais a categoria menos frequente, quer em lâminas quer em lamelas. 271 Fig. 28 – Outeiro Redondo. Lâminas recolhidas na Camada 2 (n.os 1 a 20) e na Camada 3 (n.os 21 a 27). 272 Fig. 29 – Outeiro Redondo. Lâmina recolhida na Camada 3 (n.o 1); Lascas retocadas (n.os 2 a 8) e raspadeiras (n.os 9 a 18) recolhidas na Camada 2. 273 37,5% 16,7% 37,5% 33,3% 16,7% 20% 25,0% 30% 33,3% 40% 0% 0,0% 10% Inteira Distal Mesial Lamela Proximal Lâmina Gráfico 1 – Outeiro Redondo. Estado de conservação dos produtos alongados da Camada 3. 9,1% 4,5% 4,3% 20% 34,8% 31,8% 17,4% 40% 54,5% 43,5% 60% 0% Inteira Distal Mesial Lamela Proximal Lâmina Gráfico 2 – Outeiro Redondo. Estado de conservação dos produtos alongados da Camada 2. • Lascas retocadas / raspadores No conjunto estudado, nitidamente incompleto, apenas se pretendeu ilustrar a presença deste tipo de instrumento. Foram registados 12 exemplares de sílex, todos oriundos da Camada 2 (Fig. 29, n.os 2 a 8; Fig. 30, n.os 2 a 4, 6 e 7). • Raspadeiras Foram analisadas 19 raspadeiras, das quais 6 pertencem à Camada 3 (Fig. 30, n.os 9 a 14) e 13 à Camada 2 (Fig. 29, n.os 9 a 18; Fig. 30, n.os 1, 5 e 8). Todos os exemplares observados são de sílex, de tonalidades cinzenta e acastanhada. Todas as raspadeiras recolhidas na Camada 3 têm como suporte a lasca e metade dos exemplares apresentam vestígios de córtex. 274 Fig. 30 – Outeiro Redondo. Raspadeiras (n.os 1, 5 e 8) e lascas retocadas / raspadores (n.os 2 a 4, 6 e 7) recolhidas na Camada 2; raspadeiras na Camada 3 (n.os 9 a 14); entalhes recolhidos na Camada 2 (n.o 17) e na Camada 3 (n.o 19); denticulados recolhidos na Camada 2 (n.os 15 e 16) e na Camada 3 (n.º 18); furadores recolhidos na Camada 2 (n.º 20 a 22). 275 Na Camada 2 o número de raspadeiras que têm como suporte a lasca é dominante, seguido da lâmina e residualmente a lamela (Fig. 29, n.o 10). A presença de vestígios de córtex nas raspadeiras desta Camada é reduzida, verificando-se apenas em 3 exemplares. A análise tipológica das 19 raspadeiras recolhidas revelou a presença dos seguintes tipos, indicados no Quadro 4. Quadro 4 – Outeiro Redondo. Tipologia das raspadeiras e respectiva distribuição estratigráfica Tipos C3 C2 (Calcolítico Inicial) (Calcolítico Pleno / Final) N.o % N.o % Raspadeira sobre lâmina retocada em ambos os bordos laterais – – 1 7,7 Raspadeira sobre lâmina retocada apenas num dos bordos laterais – – 1 7,7 Raspadeira sobre lâmina, de bordos laterais desprovidos de retoque – – 1 7,7 Raspadeira sobre lamela retocada em ambos os bordos laterais – – 1 7,7 Raspadeira sobre lasca espessa 4 66,7 2 15,4 Raspadeira sobre lasca espessa retocada, com a extremidade mais larga 1 16,7 – – Raspadeira sobre lasca com entalhe – – 2 15,4 Raspadeira sobre lasca em leque – – 1 7,7 Raspadeira unguiforme, sobre lasca – – 2 15,4 Raspadeira dupla sobre lasca – – 1 7,7 Raspadeira sobre lasca de gume côncavo 1 16,7 – – Raspadeira denticulada sobre lasca – – 1 7,7 Total 6 100 13 100 • Entalhes e denticulados Foram identificados 2 entalhes e 3 denticulados, distribuídos estratigraficamente da seguinte maneira: Camada 3 – Denticulado sobre lasca retocada, em sílex cinzento: 1 exemplar (Fig. 30, n.o 18); – Entalhe sobre lâmina retocada, em sílex cinzento: 1 exemplar (Fig. 30, n.o 19). Camada 2 – Denticulado fino sobre lâmina retocada, em sílex cinzento: 1 exemplar (Fig. 30, n.o 15); – Denticulado sobre lasca retocada, em sílex castanho: 1 exemplar (Fig. 30, n.o 16); – Entalhe sobre lasca fina, em sílex cinzento: 1 exemplar (Fig. 30, n.o 17). Furadores Foram identificados no total 39 furadores, dos quais 23 exemplares pertencem à Camada 3 (Fig. 31, n.os 14 a 18; Fig. 32, n.os 1 a 18) e 16 à Camada 2 (Fig. 30, n.os 20 a 22; Fig. 31, n.os 1 a 13). O suporte dominante nas duas camadas identificadas é a lasca, com valores percentuais elevados, mas com uma tendência crescente para os furadores sobre lâminas, conforme se indica no Quadro 5. • 276 Fig. 31 – Outeiro Redondo. Furadores recolhidos na Camada 2 (n.os 1 a 13) e na Camada 3 (n.os 14 a 18). 277 Fig. 32 – Outeiro Redondo. Furadores recolhidos na Camada 3 (n.os 1 a 18). 278 Quadro 5 – Outeiro Redondo. Suportes utilizados nos furadores e respectiva distribuição estratigráfica Tipo de suporte C3 C2 (Calcolítico Inicial) (Calcolítico Pleno / Final) Total N.o % N.o % N.o % Lâmina 2 8,7 2 12,5 4 10,3 Lasca 21 91,3 14 87,5 35 89,7 Total 23 100 16 100 39 100 Evidenciam-se os furadores com entalhes nas duas camadas estratigráficas analisadas, com valores percentuais elevados: na Camada 3, com 82,6%; e na Camada 2, com 81,3%. Os furadores espessos dominam, na Camada 3, com 69,6% em comparação com os furadores finos, com 30,4%, contrariamente com o verificado na Camada seguinte com domínio ligeiro nos segundos: furadores espessos com 43,8% e furadores finos com 56,3%, na Camada 2. A interpretação tecno-morfológica deste artefacto conduziu a proposta de tipologia, que se apresenta no Quadro 6. Quadro 6 – Outeiro Redondo. Tipos de furadores e respectiva distribuição estratigráfica Tipos de furadores C3 C2 (Calcolítico Inicial) (Calcolítico Pleno / Final) Total N.o % N.o % N.o % Furador espesso com bordos rectilíneos sobre lâmina – – 1 6,3 1 2,6 Furador fino com entalhe(s) sobre lâmina 1 4,3 1 6,3 2 5,1 Furador fino com bordos rectilíneos sobre lâmina 1 4,3 – – 1 2,6 14 60,9 4 25,0 18 46,2 Furador fino com entalhe(s) sobre lasca 4 17,4 5 31,3 9 23,1 Furador fino com bordos rectilíneos sobre lasca 1 4,3 2 12,5 3 7,7 Furador duplo sobre lasca retocada 1 4,3 3 18,8 4 10,3 Furador espesso com bordos rectilíneos sobre lasca 1 4,3 – – 1 2,6 23 100 16 100 39 100 Furador espesso com entalhe(s) sobre lasca Total No conjunto denotamos, nalgumas situações a prática de reutilização e transformação de outros instrumentos em furadores, como é o caso do aproveitamento de uma lâmina foliácea recolhida na Camada 3 (Fig. 32, n.os 18). • Lâminas foliáceas Foram identificadas no total 44 lâminas foliáceas, em diversos estádios de preparação, das quais 12 exemplares pertencem à Camada 3 (Fig. 35, n.os 3 a 12; Fig. 36, n.os 1 e 2) e 32 à Camada 2 (Fig. 33, n.os 1 a 14; Fig. 34, n.os 1 a 16; Fig. 35, n.os 1 e 2). 279 Fig. 33 – Outeiro Redondo. Lâminas foliáceas recolhidas na Camada 2 (n.os 1 a 14). 280 Fig. 34 – Outeiro Redondo. Lâminas foliáceas recolhidas na Camada 2 (n.os 1 a 16). 281 Fig. 35 – Outeiro Redondo. Lâminas foliáceas recolhidas na Camada 2 (n.os 1 e 2) e na Camada 3 (n.os 3 a 12). 282 Fig. 36 – Outeiro Redondo. Lâminas foliáceas recolhidas na Camada 3 (n.os 1 e 2) e pontas de seta recolhidas na Camada 2 (n.os 3 a 20). Todos os exemplares são de sílex, excepto as pontas de seta n. os 5, 11, 16 e 19 que são de jaspe. 283 Dos 12 exemplares recolhidos na Camada 3, um apresenta-se como esboço (produto debitado base), sete são considerados pré-formas ou fragmentos de extremidades e quatro apresentam-se inteiros, aparentemente em estado final de utilização. Nesta Camada estratigráfica apenas estão representadas as lâminas foliáceas de tipo elipsoidal e em forma de “D”. Identificaram-se diversas variedades de sílex, registando-se um domínio para os tons cinzentos, com 33,3%, seguidos pelos tons rosados e acastanhados, com ambos 25%, e tons negros com 16,7%. Dos 32 exemplares recolhidos na Camada 2, 3 apresentam-se como esboços, 11 são considerados pré-formas e / ou fragmentos de extremidades e 18 apresentam-se inteiros. Predominam as lâminas foliáceas com lascamento / retoque cobridor numa das faces e invasor / marginal na outra (50%), seguidas das lâminas foliáceas com lascamento / retoque cobridor bifacial (22,2%), das lâminas foliáceas com lascamento / retoque invasor numa das faces e marginal na outra (16,7%), e das lâminas foliáceas com lascamento / retoque invasor bifacial (11,1%). Na Camada 2 a diversidade de tipos de lâminas foliáceas aumenta face à Camada anterior. Dominam as lâminas de tipo elipsoidal (33,3%), seguidas pelas lâminas em forma de “D” (16,7%), as lâminas sub-rectangulares (16,7%), as lâminas em forma de crescente (11,1%), as lâminas de contorno sub-trapezoidal (11,1%) e as lâminas apontadas (11,1%). Regista-se, nesta camada, um aumento significativo dos tons cinzentos na coloração do sílex, com 68,8% dos exemplares recolhidos, seguidos pelos tons rosados, com 18,8%, acastanhados, com 9,4%, e alaranjados com 3,1%. Esta alteração de percentagem nos tons escolhidos entre os exemplares do Calcolítico Inicial e os do Calcolítico Pleno / Final poderá denunciar uma escolha preferencial pela matéria-prima ou alteração das fontes de abastecimento da mesma. • Pontas de seta O conjunto analisado integra 47 pontas de seta, das quais 4 exemplares pertencem à Camada 3 (Fig. 37, n. 26 a 29) e 43 à Camada 2 (Fig. 36, n.os 3 a 20; Fig. 37, n.os 1 a 25). Quase todos os artefactos apresentam-se inteiros, excepto cinco exemplares da Camada 2 que se encontram fracturados e que impedem a sua identificação tipológica. Todas as pontas de seta recolhidas na Camada 3 são de sílex, das quais três são de coloração acastanhada e uma de coloração negra. No conjunto dos artefactos recolhidos na Camada 2 foram identificadas 33 pontas de seta de sílex (76,7%) e 10 de jaspe / sílex jaspóide (23,3%). A diversidade de coloração do sílex aumenta comparativamente à Camada anterior, registando-se um domínio dos tons cinzentos com 39,4%, seguidos dos tons rosados, com 27,3%, dos tons acastanhados, com 15,2%, dos tons esbranquiçados, com 12,1%, e dos tons negros, com 6,1%. Regista-se, portanto, uma alteração nos tons escolhidos na passagem do Calcolítico Inicial para o Calcolítico Pleno / Final, realidade idêntica registada com as lâminas foliáceas. Os 10 exemplares de xisto jaspóide, perfeitamente acabados, recolhidos na Camada 2 (Fig. 36, n.os 5, 11, 16, 19; Fig. 37, n.os 1, 2, 11, 15, 20 e 21), vêm ilustrar as relações de troca mantidas com o território alentejano, de onde vinha, especialmente, o cobre (Zona de Ossa / Morena) e os artefactos de anfibolito. Constata-se que estas pontas de seta chegavam ao povoado já manufacturadas devido à inexistência de restos de talhe em jaspe, contrariamente aos exemplares em sílex, que através da presença de pré-formas, revela que tais peças eram, pelo menos em parte, talhadas in situ. os 284 Fig. 37 – Outeiro Redondo. Pontas de seta recolhidas na Camada 2 (n.os 1 a 25) e na Camada 3 (n.os 26 a 29). Todos os exemplares são em sílex, excepto as pontas de seta n.os 1, 2, 11, 15, 20 e 21 que são de jaspe. 285 Do ponto de vista tipológico, e tomando como ponto de partida anteriores classificações (CARDOSO & MARTINS, 2013), consideraram-se diversos grupos, sumariados no Quadro 7. Quadro 7 – Outeiro Redondo. Tipos de pontas de seta identificadas e respectiva distribuição estratigráfica Tipos de pontas de seta C3 C2 (Calcolítico Inicial) (Calcolítico Pleno / Final) Total N.o % N.o % N.o % – – – – – – 2.1 Base plana – – 3 7.0 3 6,4 2.2 Base côncava 3 75 24 55,8 27 57,4 3. Mitriforme 1 25 5 11,6 6 12,8 4. Torre Eiffel – – 3 7,0 3 6,4 5. Alcalarense – – – – – – 6. Foliácea – – – – – – 7. Indeterminada – – 5 11,6 5 10,6 8. Pré-forma – – 2 4,7 2 4,3 9. randes dimensões – – 1 2,3 1 2,1 Total 4 100 43 100 47 100 1. Base convexa / triangular Dominam globalmente as pontas de seta de base côncava (57,4%) e os exemplares mitriformes (12,8%). Ao comparar as duas camadas, regista-se um aumento significativo de pontas de seta na Camada 2, quer em número absoluto quer em diversidade de tipos, com especial destaque para as pontas de seta de base plana e as do tipo “Torre Eiffel”, ausentes na Camada 3. A relação de geometria da base com os bordos foi também estudada, a partir da seguinte relação: Geometria da base Geometria dos bordos A0 = base plana 1.1 = bordos convexos com espigão A1 = base plana com aletas 1.0 = bordos convexos B0 = base concâva 2.1 = bordos rectilíneos com espigão B1 = base concâva com aletas 2.0 = bordos rectilíneos C0 = base convexa 3.0 = bordos côncavos C1 = base convexa com aletas D0 = base triângular D1 = base triângular com aletas 286 Os resultados obtidos apresentam-se no Quadro 8. Quadro 8 – Outeiro Redondo. Relação de frequência entre a geometria dos bordos e das bases das pontas de seta e respectiva distribuição estratigráfica Geometria dos bordos / base Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 7 Tipo 8 Tipo 9 Total A.0 + 1.0 2.1. Base plana A.0 + 2.0 B.0 + 1.0 2.2. Base côncava B.0 + 2.0 B.0 + 2.1 A.1 + 1.0 B.0 + 1.1 B.1 + 1.1 B.0 + 3.0 B.0 + 1.0 C3 C2 (Calcolítico Inicial) (Calcolítico Pleno / Final) Total N.o % N.o % N.o % – – – 2 1 – 1 – – – – – 4 – – – 50 25 – 25 – – – – – 100 1 2 2 22 – 1 3 1 3 5 2 1 43 2,3 4,7 4,7 51,2 – 2,3 7,0 2,3 7,0 11,6 4,7 2,3 100 1 2 2 24 1 1 4 1 3 5 2 1 47 2,1 4,3 4,3 51,1 2,1 2,1 8,5 2,1 6,4 10,6 4,3 2,1 100 Das 12 variáveis associadas aos bordos e bases, identificaram-se na Camada 3 a presença de 3 variáveis e na Camada 2 a presença de 11 variáveis. A variável dominante nas duas camadas estratigráficas corresponde à associação B.0 (base concava) + 2.0 (bordos rectilíneos) correspondendo a 51,1% do total do conjunto das pontas de seta classificadas. No conjunto da Camada 2 destaca-se a presença da associação B.0 (base concava) + 1.1 (bordos convexos com espigão) e a associação B.0 (base concava) + 3.0 (bordos côncavos). A presença, na Camada 2, de um exemplar de grandes dimensões (ponta com mais de 2 cm de largura), com a associação B.0 (base concava) + 1.0 (bordos convexos), devido à sua robustez poderá provavelmente ter uma função específica com a finalidade de maior poder de penetração e de corte. A terminar, importa valorizar a variável “tamanho”: independentemente das características tipológicas evidenciadas pelos exemplares estudados, esta variável denuncia, até mais do que aquelas, as diferentes finalidades que estas pontas de projéctil tinham. Assim, se as menores se destinavam, essencialmente, à captura de espécies cinegéticas de dimensões pequenas e médias, já as de maiores dimensões podem correlacionar-se com a caça grossa ou mesmo com actividades bélicas; com efeito, as mais pequenas são cerca de três vezes menores que as de maior tamanho, sendo de destacar um exemplar, cujas dimensões são excepcionais (Fig. 11, n.o 4; Fig. 36, n.o 17). 5.3.2 – Análise comparativa dos utensílios das duas etapas culturais Observando o Quadro 2, verifica-se que o tipo de utensílio lítico dominante na Camada 3 são os furadores com 35,4%, e no conjunto da Camada 2 são as pontas de seta com 25,6%. Os seguintes grupos mais representativos na Camada 3, depois dos furadores, são as lâminas foliáceas (18,5%), seguidos do grupo das lâminas (12,3%), e simultaneamente as raspadeiras (9,2%) e as lamelas (9,2%). 287 O tipo de utensílio dominante na Camada 2, a par das pontas de seta, corresponde às lâminas foliáceas com 19%, seguido do grupo das lamelas (13,7%) e das lâminas (13,1%). As nove categorias principais de instrumentos líticos recolhidos em 2013 e 2014 no Outeiro Redondo foram desdobradas conforme se indica no Quadro 9. Quadro 9 – Outeiro Redondo. Lista tipológica dos utensílios líticos retocados das Camadas 3 e 2 C2 C3 Lista tipológica (Calcolítico (Calcolítico Inicial) Pleno / Final) Total Núcleos de lâminas 1 2 3 Núcleos de lamelas 3 2 5 Total de Núcleos 4 (6,2%) 4 (2,4%) 8 (3,4%) Lamela sem retoque 2 6 8 Lamela com retoque contínuo, marginal, irregular – 4 4 Frag. de lamela sem retoque 2 6 8 Frag. de lamela com retoque 2 7 9 Total de lamelas 6 (9,2%) Lâmina com retoque marginal descontínuo em ambos os bordos laterais 1 3 4 Lâmina com retoque marginal contínuo em ambos os bordos laterais 1 3 4 Lâmina com retoque marginal descontínuo apenas num dos bordos laterais – 4 4 Lâmina com retoque marginal contínuo apenas num dos bordos laterais – 2 2 Fragmento de lâmina sem retoque – 2 2 Frag. de lâmina com retoque marginal descontínuo em ambos os bordos laterais 4 2 6 Frag. de lâmina com retoque marginal contínuo em ambos os bordos laterais – 2 2 Frag. de lâmina com retoque marginal descontínuo apenas num dos bordos laterais 1 1 2 Frag. de lâmina com retoque marginal contínuo apenas num dos bordos laterais 1 3 4 Total de lâminas 8 (12,3%) Lasca com retoque descontínuo marginal, irregular – 5 5 Lasca com retoque contínuo num só bordo lateral – 2 2 Lasca retocada / raspador – 5 5 Total de Lascas retocadas – Raspadeira sobre lâmina retocada em ambos os bordos laterais – 1 1 Raspadeira sobre lâmina retocada apenas num dos bordos laterais – 1 1 Raspadeira sobre lâmina, de bordos laterais desprovidos de retoque – 1 1 Raspadeira sobre lamela retocada em ambos os bordos laterais – 1 1 Raspadeira sobre lasca espessa 4 2 6 Raspadeira sobre lasca espessa retocada, com a extremidade mais larga 1 – 1 288 23 (13,7%) 22 (13,1%) 12 (7,1%) 29 (12,4%) 30 (12,9%) 12 (5,2%) Lista tipológica C3 C2 (Calcolítico (Calcolítico Inicial) Pleno / Final) Total Raspadeira sobre lasca com entalhe – 2 2 Raspadeira sobre lasca em leque – 1 1 Raspadeira unguiforme, sobre lasca – 2 2 Raspadeira dupla sobre lasca – 1 1 Raspadeira sobre lasca de gume côncavo 1 – 1 Raspadeira denticulada sobre lasca – 1 1 Total de Raspadeiras 6 (9,2%) Entalhe retocado sobre lâmina 1 – 1 Entalhe retocado sobre lasca fina – 1 1 Denticulado sobre lâmina retocada – 1 1 Denticulado sobre lasca retocada 1 1 2 Total de denticulados 2 (3,1%) 3 (1,8%) 5 (2,1%) Furador espesso com bordos rectilíneos sobre lâmina – 1 1 Furador fino com entalhe(s) sobre lâmina 1 1 2 Furador fino com bordos rectilíneos sobre lâmina 1 – 1 14 4 18 Furador fino com entalhe(s) sobre lasca 4 5 9 Furador fino com bordos rectilíneos sobre lasca 1 2 3 Furador duplo sobre lasca retocada 1 3 4 Furador espesso com bordos rectilíneos sobre lasca 1 – 1 Furador espesso com entalhe(s) sobre lasca Total de Furadores 23 (35,4%) 13 (7,7%) 16 (9,5%) 19 (8,2%) 39 (16,7%) Esboço de lâmina foliácea (produto debitado base) 1 3 4 Pré-forma de lâmina foliácea (adelgaçamento) 7 11 18 Lâmina elipsoidal com retoque cobridor bifacial 1 2 3 Lâmina elipsoidal com retoque cobridor numa das faces, apresentando a outra retoques invasores e marginais 1 3 4 Lâmina elipsoidal com retoque invasor numa das faces, apresentando a outra retoques marginais 1 1 2 Lâmina em forma de “D” com retoque cobridor bifacial – 1 1 Lâmina em forma de “D” com retoque cobridor numa das faces, apresentando a outra retoques invasores e marginais – 1 1 Lâmina em forma de “D” com retoque invasor numa das faces, apresentando a outra retoques marginais – 1 1 289 Lista tipológica C3 C2 (Calcolítico (Calcolítico Inicial) Pleno / Final) Total Lâmina em forma de “D” com retoque invasor bifacial 1 – 1 Lâmina em forma de crescente com retoque cobridor numa das faces, apresentando a outra retoques invasores e marginais – 1 1 Lâmina em forma de crescente com retoque invasor numa das faces, apresentando a outra retoques marginais – 1 1 Lâmina sub-rectangular com retoque cobridor bifacial – 1 1 Lâmina sub-rectangular com retoque cobridor numa das faces, apresentando a outra retoques invasores e marginais – 2 2 Lâmina sub-trapézoidal com retoque invasor bifacial – 2 2 Lâmina apontada com retoque cobridor numa das faces, apresentando a outra com retoques invasores e marginais – 2 2 Total de Lâminas foliáceas 12 (18,5%) 32 (19%) 44 (18,9%) Ponta de seta de base plana – 3 3 Ponta de seta de base côncava 3 24 27 Ponta de seta mitriforme 1 5 6 Ponta de seta de tipo “torre Eiffel” – 3 3 Ponta de seta de tipo indeterminado – 5 5 Pré-forma de ponta de seta – 2 2 Ponta de dardo – 1 1 Total de pontas de seta 4 (6,2%) 43 (25,6%) 47 (20,2%) 65 (100%) 168 (100%) 233 (100%) Total dos utensílios líticos retocados Comparando os artefactos líticos retocados da Camada 2 com os da Camada 3 ressaltam as seguintes observações: – As pontas de seta, pouco representativas na Camada 3 (6,2%), tornam-se o grupo tipológico mais abundante na Camada 2 (25,6%), destacando-se assinalável variedade de formas e tamanhos. São dominantes, nas duas camadas, as pontas de seta de base côncava (57,4%) e os exemplares mitriformes (12,8%), numa tendência crescente. As pontas de seta de base plana e as do tipo “Torre Eiffel”, ausentes na Camada 3, aparecem na Camada 2. Destaca-se o número elevado de pontas de seta em xisto jaspóide, todos recolhidos na Camada 2. A presença deste tipo de artefactos, completamente acabados, sem que haja vestígios de subprodutos de talhe no povoado, vem ilustrar relações comerciais com o território alentejano. – Sobressai a presença de lâminas foliáceas na Camada 3 e 2 face aos outros grupos tipológicos de utensílios, aumentando ligeiramente de representatividade no decurso do Calcolítico. Verifica-se, nas duas camadas, a execução, na estação, de lâminas foliáceas a partir de esboços cuja existência pode explicar-se tanto por importação, como por preparação na área habitada. O número de peças fracturadas, eventualmente em curso de trabalho, ou já aquando da sua utilização, como parece mais provável, estão também presentes em grande quantidade no povoado. 290 Na Camada 3 estão presentes os exemplares inteiros, aparentemente em estado de utilização, de tipo elipsoidal e em forma de “D”. Na Camada 2 a diversidade de tipos de lâminas foliáceas aumenta face à Camada anterior, devido ao acréscimo do número absoluto de exemplares. Dominam as lâminas de tipo elipsoidal, seguidas pelas lâminas em forma de “D”, pelas lâminas sub-rectangulares, pelas lâminas em forma de crescente, pelas lâminas de contorno sub-trapezoidal e pelas lâminas apontadas. Os dois tipos de lascamento / retoque dominante são o cobridor numa das faces e invasor / marginal na outra, seguido das lâminas foliáceas com lascamento / retoque cobridor bifacial em ambas as faces. – O grupo dos furadores, invulgarmente abundante, diminui de representatividade, passando de 35,4% na Camada 3 para 9,5% na Camada 2. O suporte mais utilizado nos furadores das duas Camadas é a lasca, com valores percentuais elevados; a lâmina ocorre como segundo suporte mais comum. Os furadores espessos dominam, na Camada 3, com 69,6% em comparação com os furadores finos, com 30,4%, contrariamente ao verificado na Camada 2 com domínio ligeiro nos segundos: furadores espessos com 43,8% e furadores finos com 56,3%. O tipo de estratégia dominante para a obtenção de uma ponta de furador é, em ambas as camadas, a realização de duas concavidades laterais contíguas, com valores percentuais elevados: na Camada 3, com 82,6%; e na Camada 2, com 81,3%. – Observa-se, ao longo da ocupação, o aumento percentual das lâminas quer das lamelas. As lâminas surgem em ambas as Camadas como o terceiro grupo tipológico mais abundante, sendo os exemplares fracturados com retoque marginal descontínuo em ambos os bordos laterais os mais abundantes na Camada 3, e os exemplares com retoque marginal descontínuo apenas num dos bordos laterais, os mais comuns, na Camada 2. – As lamelas surgem, em ambas as Camadas, como o quarto grupo tipológico mais abundante. Todas são de sílex, excepto uma, de quartzo hialino recolhida na Camada 3, matéria-prima não disponível na região. Estão presentes nas duas Camadas e em idênticas percentagens os exemplares com e sem retoques. – As raspadeiras, que correspondem ao quarto grupo tipológico mais numeroso na Camada 3, baixam, na Camada seguinte, para o quinto grupo; no entanto, em números absolutos, as raspadeiras aumentam a sua presença e desdobram-se em vários tipos morfológicos na Camada 2. Na Camada 3, todas as raspadeiras recolhidas têm como suporte a lasca e metade dos exemplares apresentam vestígios de córtex. Na Camada 2, e em continuidade com a Camada anterior, o número de raspadeiras que têm como suporte a lasca é predominante (69,3%); no entanto surgem, nesta camada, raspadeiras que têm como suporte a lâmina (23,1%) e residualmente a lamela (7,7%). – A presença de núcleos é residual em ambas as camadas. No total, apenas foram identificados 3 núcleos de lâminas e 5 núcleos de lamelas, todos de sílex, de coloração cinzenta, excepto um de tonalidade acastanhada. A fraca presença de núcleos adequados à obtenção de lâminas e lamelas indica que estas não eram produzidas no espaço habitado; mas a preparação de artefactos neste é claramente comprovada pela presença de lascas e de massas de sílex em bruto, de médias dimensões. – A proveniência do sílex mais utilizado, de acordo com as características petrográficas analisadas, aponta para a região de Lisboa, a cerca de 30 km em linha recta, nos afloramentos de calcários recifais do Cenomaniano superior do vale de Alcântara, pois logo perto da margem direita do estuário do Tejo existem grandes massas de sílex predominantemente cinzento ou acastanhado sob a forma de nódulos, como foi referido em publicação 291 anterior (CARDOSO, 2013). A origem do sílex negro, também presente em alguns exemplares, ocorre nos calcários recifais da mesma época da região de Oeiras; no entanto, a hipótese de origens mais afastadas parece confirmar-se, dada a presença de exemplares de colorações rosadas, mais ou menos carregadas, característicos da região de Rio Maior, utilizados principalmente na manufactura de peças com retoque invasor / cobridor (lâminas foliáceas e pontas de seta), que requeriam sílex de excelente qualidade, como é o caso do disponível naquela região. 5.4 – Osso polido e afeiçoado A utensilagem executada sobre osso revela-se particularmente abundante devido às condições geoquímicas favoráveis, que possibilitaram a preservação em boas condições das peças, caracterizadas por assinalável variedade. Procedeu-se ao desenho e à análise da totalidade dos utensílios recuperados com interesse tipológico, de modo suportar as considerações abaixo apresentadas, valorizadas pelas indicações estratigráficas associadas. Os aspectos terminológicos considerados seguem os critérios de análise seguidos por J. L. Cardoso no estudo da utensilagem óssea de uso comum do povoado pré-histórico de Leceia, Oeiras (CARDOSO, 2003 a). 5.4.1 – Distribuição estratigráfica e análise descritiva Às 66 peças de osso recolhidas entre 2005 e 2008 e já publicadas (CARDOSO, 2013), somam-se 84 artefactos recolhidos em 2013 e 2014. Provêm 13 exemplares da Camada 3 e os restantes 71 da Camada 2. Foram observados diversos grupos de artefactos, cuja distribuição pela sequência estratigráfica se apresenta no Quadro 10. Quadro 10 – Outeiro Redondo. Distribuição tipológica da utensilagem óssea por conjuntos cronológico-culturais Indústrias de osso C3 C2 (Calcolítico Inicial) (Calcolítico Pleno / Final) Total N.o % N.o % N.o % Agulhas / sovelas 1 7,7 11 15,5 12 14,3 Furadores 1 7,7 4 5,6 5 6 Cabos 8 61,5 49 69 57 67,9 Espátulas – – 2 2,8 2 2,4 Recipientes 1 7,7 – – 1 1,2 Escopro 1 7,7 – – 1 1,2 Pontas de seta – – 4 5,6 4 4,8 Indeterminado 1 7,7 1 1,4 2 2,4 13 100 71 100 84 100 Total 292 • Utensilagem da Camada 3 Nesta Camada foram recolhidos apenas 13 exemplares (Fig. 40, n.os 6 a 18); no entanto, se a escavação tivesse atingido, em toda a área explorada, o nível arqueológico mais profundo, a quantidade de espólio seria certamente muito mais numerosa. No conjunto, avulta o largo predomínio dos cabos (8 exemplares) face aos restantes artefactos recolhidos, sendo estes representados por apenas um exemplar de cada grupo identificado. Os cabos recolhidos são maioritariamente executados em diáfises de ossos longos, quase sempre inclassificáveis, pelas transformações sofridas por polimento ou por estarem fracturados e não permitirem a identificação anatómica da peça original. Foram reconhecidos os seguintes tipos distintos: – Cabos executados sobre tíbia de Capra / Ovis, seccionadas em apenas uma extremidade, por serragem, conservando a outra a extremidade articular do osso: 2 exemplares (Fig. 40, n.o 13); – Cabo seccionado em ambas as extremidades, totalmente polido e cujo comprimento é inferior aos restantes cabos, podendo ser confundido com elemento tubular de colar, pelo que a função desta peça não se encontra isenta de dúvidas: 1 exemplar (Fig. 40, n.o 15); – Cabos incompletos executados em diáfises de ossos longos, seccionados numa das extremidades, indeterminados: 3 exemplares (Fig. 40, n.os 10 a 12); – Cabo executado em extremidade de haste de cervídeo, por seccionamento numa das extremidades, com cavidade para fixação: 1 exemplar (Fig. 40, n.o 6); – Cabo executado em segmento de haste de cervídeo serrada em ambas as extremidades: 1 exemplar (Fig. 40, n.o 17). Os restantes utensílios recolhidos nesta Camada foram os seguintes: – Agulha / sovela fracturada, mas com extremidade pontiaguda, sobre suporte ósseo indeterminado, executado sobre esquírola longitudinal de osso longo: 1 exemplar (Fig. 40, n.o 7); – Furador fracturado, sobre suporte ósseo indeterminado: 1 exemplar (Fig. 40, n.o 8); – Fragmento de recipiente cilíndrico executado em diáfise de osso de grandes dimensões, com marcas de serragem (Fig. 40, n.o 16); – Escopro ou cinzel sobre osso longo indeterminado, seccionado longitudinalmente (Fig. 40, n.o 9); – Utensílio curvilíneo indeterminado, executado sobre segmento de corno de caprino, totalmente polido, serrado e polido numa das extremidades, com três perfurações laterais independentes e uma tentativa de perfuração inacabada. Este exemplar poderia ser utilizado como cabo embora a finalidade dos furos se afigure indeterminada (Fig. 40, n.o 18). • Utensilagem da Camada 2 Nesta Camada foram recolhidos 71 utensílios (Fig. 38, n.os 1 a 39; Fig. 39, n.os 1 a 27; Fig. 40, n.os 1 a 5). A análise tipológica, expressa no Quadro 10, revela um acréscimo relativo e absoluto, do grupo dos cabos, face ao conjunto anterior, com 49 exemplares, correspondendo a 69%, enquanto, no conjunto do Camada 3, tal percentagem era de 61,5%. O mesmo se passa com o segundo grupo mais representativo, correspondente às agulhas / sovelas, com 11 exemplares, com 15,5%, enquanto, no conjunto do Camada 3, tal percentagem era de 7,7%. 293 Fig. 38 – Outeiro Redondo. Indústria de osso da Camada 2 (n.os 1 a 39). 294 Fig. 39 – Outeiro Redondo. Indústria de osso da Camada 2 (n.os 1 a 27). 295 Fig. 40 – Outeiro Redondo. Indústria de osso da Camada 2 (n.os 1 a 5) e Camada 3 (n.os 6 a 18). 296 Os cabos, na Camada 2, constituem, em continuidade como a Camada anterior, o conjunto mais numeroso, com os seguintes tipos distintos: – Cabos executados sobre tíbia de Ovis / Capra, seccionadas em apenas uma extremidade, por serragem, conservando a outra a superfície articular do osso: 28 exemplares (Fig. 38, n.os 30 a 39; Fig. 39, n.os 11, 14 a 22, 24 a 27; Fig. 40, n.os 2 a 5); – Cabos em diáfises de ossos longos, seccionado em ambas as extremidades: 20 exemplares (Fig. 38, n.os 22 a 29; Fig. 39, n.os 1 a 10, 12 e 13); – Cabo em osso longo, seccionado numa das extremidades, sobre metápodo de Cervus: 1 exemplar (Fig. 40, n.o 1). É de assinalar a presença insistente de animais sub-adultos, dada a falta da epífise distal nas extremidades articulares das tíbias em que foram executados muitos dos exemplares acima referidos. As agulhas / sovelas constituem o segundo conjunto mais numeroso, logo a seguir aos cabos. Foram recolhidas, nesta Camada, 11 exemplares, na sua maioria executados sobre esquírolas de ossos longos, que sofreram polimento em quase toda a superfície (Fig. 38, n.os 2 a 7, 9 a 11, 14 e 15). Os restantes conjuntos artefactuais, embora representados por número muito inferior de efectivos, detêm também particular interesse. No caso dos furadores foram identificadas duas variantes: – Furadores obtidos sobre esquírolas de diáfises de ossos longos, partidos longitudinalmente: 3 exemplares (Fig. 38, n.os 1, 8 e 12); – Furador espesso alongado e regular, totalmente afeiçoado (poderia ser considerado como sovela de grandes dimensões) (Fig. 38, n.o 13). Em conformidade com o verificado em campanhas realizadas anteriormente no Outeiro Redondo e já publicadas (CARDOSO, 2013), é curioso notar que não se recolheu nenhum exemplar produzido pelo seccionamento oblíquo da tíbia de ovino-caprino, tão característicos em Leceia, desde o Neolítico Final e ao longo de todo o Calcolítico (CARDOSO, 2003 a). Inexistentes na Camada anterior, as pontas de projéctil em osso estão representadas no Outeiro Redondo por quatro exemplares, o mesmo número de exemplares recolhidos em Moita da Ladra, recentemente publicados (CARDOSO, 2014 a, Fig. 32, n.os 15 a 18). Trata-se de pontas robustas, de secção circular, totalmente afeiçoadas, de corpo fusiforme, correspondendo a parte inferior, destinada a encabamento, a um espigão igualmente cónico, mas mais estreito. Todos os exemplares se encontram fracturados (Fig. 11, n.o 5; Fig. 38, n.os 16 a 19). Estas pontas de projécteis, embora escassas, estão presentes em diversos sítios calcolíticos estremenhos, cujo inventário, realizado aquando do estudo dos exemplares recolhidos em Leceia (CARDOSO, 1995), foi entretanto completado pelos exemplares publicados dos povoados calcolíticos do Outeiro de S. Mamede, Bombarral (CARDOSO & CARREIRA, 2003), da Moita da Ladra (CARDOSO, 2014 a) e, agora, do Outeiro Redondo. Enfim, foram recolhidos dois fragmentos de pequenas espátulas, feitas em tábuas ósseas totalmente polidas com uma extremidade alargada e plana (Fig. 38, n.os 20 e 21), e um artefacto indeterminado, executado sobre segmento de haste de cervídeo maciço, serrado numa das extremidades (Fig. 39, n.o 23). Provavelmente, trata-se de peça inacabada, ou correspondente a resíduo de um segmento da haste cujo aproveitamento se revelou sem interesse. 297 Em suma, ao longo do Calcolítico a diversidade artefactual observada no Outeiro Redondo, no que respeita à utensilagem óssea, afigura-se embora idêntica e caracteriza-se por assinalável monotonia, sendo claramente dominada pelo grupo dos cabos ou, melhor dizendo, dos ossos longos com um ou dois seccionamentos por serragem na diáfise. Com efeito, a diferença entre o grupo dos cabos e os restantes grupos artefactuais é muito grande em ambas as Camadas: basta observar que o segundo grupo mais abundante – o das agulhas / sovelas – se encontra apenas representado por 7,7% na Camada 3 e 15,5% na Camada 2. Os restantes grupos de utensílios, com destaque para as pontas de projéctil e as espátulas, ausentes na Camada 3, estão presentes na Camada 2 embora residualmente. Artefacto único é o fragmento de recipiente cilíndrico executado em diáfise de osso de grandes dimensões, com marcas de serragem (Fig. 40, n.o 16), localizado no interior da cabana R, dentro da lareira estruturada R1, sugerindo que tal recipiente se destinaria a guardar produtos farmacêuticos ou unguentos, eventualmente relacionados com a utilização do calor ou mesmo do fogo. No que respeita à distribuição da utensilagem, na Camada 2, verifica-se nítida concentração pelas áreas de maior densidade habitacional, designadamente o espaço interior à Muralha G, onde as estruturas habitacionais são mas abundantes e se encontram melhor definidas. 5.5 – Produções cerâmicas 5.5.1 – Recipientes lisos Continuaram a utilizar-se as 12 formas anteriormente identificadas no povoado, com base no estudo dos espólios recolhidos entre 2005 e 2008 (CARDOSO, 2013). Com efeito, os critérios então seguidos respeitaram, por sua vez, os utilizados noutras estações estremenhas da mesma época, como Leceia, Oeiras (CARDOSO, SOARES & SILVA), Penha Verde, Sintra (CARDOSO, 2010-2011), Moita da Ladra, Vila Franca de Xira (CARDOSO & CANINAS, 2010) e Freiria, Cascais (CARDOSO, CARDOSO & ENCARNAÇãO, 2013). Desta forma, elaborou-se um quadro tipológico das cerâmicas lisas (Fig. 41) que permite evidenciar as variações da abundância de cada uma daquelas formas ao longo do tempo, à semelhança do realizado anteriormente. Os resultados obtidos deram origem a um gráfico com os valores percentuais de cada forma individualizada para cada Camada estratigráfica (Gráfico 3). Analisaram-se 3998 fragmentos de bordos, dos quais 1475 provêm da Camada 3 e 2523 da Camada 2. A continuidade entre as formas utilizadas no decurso da ocupação do povoado, realidade que, aliás, se encontra bem evidenciada no gráfico, avulta desde logo, notando-se também alguns outros aspectos que importa considerar: – As formas abertas, que correspondem (formas 7 a 11), dominam no povoado face às formas fechadas (formas 1 a 4), quer em contextos do Calcolítico Inicial, quer do Calcolítico Pleno / Final. – O recipiente liso mais utilizado nas duas fases culturais é o vaso de bordo espessado exteriormente e lábio convexo (forma 7). Está representado na Camada 3 com 55,7% diminuindo ligeiramente de representatividade na Camada 2 para 46,1%, mantendo-se como recipiente eleito na panóplia existente. A sua utilização relacionar-se-á com actividades culinárias. – A segunda forma mais representativa, também em ambas Camadas, é a forma 9, que corresponde às taças em calote (17,3% na Camada 3 e 16,9% na Camada 2). Integra taças de diversos tamanhos, das quais as de menor diâmetro poderiam ser utilizadas para beber, enquanto as maiores serviriam para a preparação de alimentos. 298 55,7% 50% 40% 46,1% 60% 1 2 5 6 Camada 3 7 8 9 1 Camada 2 01 0,9% 3,3% 6,7% 4,4% 7% 9,4% 1,4% 3,3% 17,3% 16,9% 4 5,6% 2% 3 0% 0,1% 0% 0,1% 0,4% 1,8% 10% 0,5% 0,1% 20% 7,8% 8,4% 0,9% 30% 1 2 Gráfico 3 – Outeiro Redondo. Variação tipológica das cerâmicas lisas, de acordo com as formas identificadas, e respectiva distribuição estratigráfica. – Todas as considerações apresentadas no artigo anterior sobre este povoado, relativas as campanhas entre 2005 e 2008 (CARDOSO, 2013), são corroboradas pelos novos dados, agora apresentados, para esta área específica do povoado. Apenas as taças de bordo espessado e lábio convexo apresentam variações diferentes, verificando-se para a área explorada entre 2013 e 2014 um aumento do Calcolítico Inicial para o Calcolítico Pleno / Final, de 7% para 9,4% do conjunto. Estes recipientes podem relacionar-se tanto com a preparação de alimentos, como as migas ou pratos de cereais, como com o respectivo consumo. – Importa referir a abundância dos recipientes lisos fase aos recipientes decorados, usualmente verificada em povoados calcolíticos com assinalável ocupação, como é o caso do Outeiro Redondo. No tocante às produções lisas e decoradas, o Quadro 11 quantifica essa desigualdade, que assume valores semelhantes, no respeitante às duas Camadas em apreço: Quadro 11 – Outeiro Redondo. Relação do número total e percentual dos recipientes lisos com os exemplares decorados na respectiva distribuição estratigráfica Produções cerâmicas C3 C2 (Calcolítico Inicial) (Calcolítico Pleno / Final) Cerâmica lisa Cerâmica decorada Total Total N. frag. % N. frag. % 1475 95,1 2523 94,6 3998 76 4,9 144 5,4 220 1551 100 2667 100 4218 o o Com efeito, a relação numérica entre os dois grupos cerâmicos é, na Camada 3, de 1 para 19,4, enquanto na Camada 2, é de 1 para 17,5, significando uma tendência para um aumento de recipientes decorados no decurso do tempo, do Calcolítico Inicial para o Calcolítico Pleno / Final. 299 Fig. 41 – Outeiro Redondo. Quadro tipológico das cerâmicas lisas recolhidas, de acordo com os tipos identificados, e respectiva distribuição estratigráfica. 300 5.5.2 – Cerâmicas decoradas Nas Figs. 42 a 53 apresenta-se a totalidade do espólio cerâmico decorado recuperado nas escavações de 2013 e de 2014. Este conjunto perfaz um total de 220 fragmentos, distribuídos estratigraficamente da seguinte maneira: Camada 3: 76 fragmentos (dos quais 63 são bordos); Camada 2: 144 fragmentos (dos quais 74 são bordos). Os resultados agora obtidos corroboram os dos anos anteriores (CARDOSO, 2013). Isto é, verifica-se que tipologicamente, todos os materiais se inscrevem no Calcolítico da Estremadura. No conjunto agora analisado procurou-se identificar as características dos recipientes dominantes em ambas as Camadas, no quadro da variedade de formas decoradas, técnicas e padrões decorativos. • Tipologias das cerâmicas decoradas Identificaram-se cinco formas de recipientes nas duas Camadas analisadas, para além de um último grupo, relativo às formas indeterminadas. A sequência foi ordenada das formas fechadas para as abertas: Forma 1 – Esférico de paredes reentrantes de grandes dimensões (“vasos de provisões”); Forma 2 – Esférico de médias dimensões; Forma 3 – Vaso de parede vertical (“copo”); Forma 4 – Taça em calote; Forma 5 – Taça baixa com bordo espessado. 50% 60% 24,3% 2,1% 2,6% 14,5% 6,3% 5,2% 10% 14,5% 20% 15,3% 30% 2,1% 40% 25,0% 38,2% 50% 0% Forma 1 Forma 2 Forma 3 Forma 4 Forma 5 Forma 6 Camada 3 Camada 2 Gráfico 4 – Outeiro Redondo. Distribuição das seis formas de cerâmicas decoradas identificadas na Camada 3 e na Camada 2. De acordo com o Gráfico 4, dominam claramente os recipientes de paredes verticais, cilindróides, na Camada 3, com uma presença de 38,2% do conjunto, seguidos das taças em calote, com 25%. O terceiro tipo 301 cerâmico mais privilegiado, ambos com 14,5% do conjunto analisado, são as formas abertas, taças baixas com bordo espessado, e as formas fechadas, vasos esféricos de paredes reentrantes. Na Camada 2 regista-se uma alteração na escolha do tipo de recipiente cerâmico decorado. Dominam agora os vasos esféricos de paredes reentrantes de grandes dimensões (“vasos de provisões”) com uma forte presença, ascendendo a 50% do conjunto, seguidos dos vasos de paredes verticais, com 24,3%, e dos vasos esféricos de dimensões médias, com 15,3%. Mais raramente identificaram-se taças em calote (6,3%) e, de forma ainda mais esporádica, as taças baixas com bordo espessado (2,1%). Do ponto de vista tipológico, importa assinalar que, na Camada 3, a preferência por recipientes decorados compostos essencialmente por vasos cilindróides e recipientes mais abertos, contrasta com o domínio, na Camada 2, dos vasos fechados decorados. Esta escolha de formas estaria sobretudo relacionada com a importância e as funções que estes desempenhavam, cuja interpretação deverá também atender ao tamanho dos recipientes. Na Camada 3 predominam os recipientes de dimensões pequenas e médias, cujos bordos finos reforçam a sua utilização como contentores de líquidos e para beber, contrastando com o registo observado na Camada 2 com recipientes predominantemente de grandes dimensões, utilizados essencialmente como contentores. Ao comparar-se a presença da mesma forma em recipientes decorados e lisos, verifica-se sempre uma diminuição assinalável nestes últimos. Na Camada 3 apenas estão identificados 1,8% de recipientes lisos de paredes verticais, contrastando com 38,2% de exemplares decorados. Na Camada 2, a forma esférica de paredes reentrantes, e de grandes dimensões, é dominante nos exemplares decorados com 50%, contrariamente aos exemplares lisos, com apenas 2%. Outra evidência é a ocorrência de taças baixas com bordo espessado com decoração interior, relativamente abundantes na Camada 3 (14,5% do conjunto), diminuindo de representatividade na Camada seguinte (2,1%). Ao contrário, os exemplares lisos equivalentes aumentam de representação, ainda que ligeiramente, de uma Camada para a outra, de 7% na Camada 3 para 9,4% na Camada 2. Ao estarem representadas nas duas Camadas estratigráficas todas as formas, quer lisas quer decoradas, embora em quantidades distintas, reforça-se a ideia da ausência de rupturas bruscas, mas antes de uma progressiva substituição de produções, sublinhada em anteriores trabalhos, como o dedicado ao povoado pré-histórico de Leceia, relativamente aos motivos e técnicas decorativas presentes (CARDOSO, 2007). A esta noção de continuidade, em que uns tipos foram sendo paulatinamente substituídos por outros deve ser, no entanto, contraposta a possibilidade de ter havido causas naturais que influenciaram misturas de materiais, de carácter pós-deposicional, aliás mais do que certas dada o forte pendor que caracteriza a área ocupada. Acresce ainda a sempre difícil identificação da superfície de contacto entre camadas, no decurso da escavação, com a consequente incapacidade de separação rigorosa dos artefactos pertencentes ao topo de uma Camada e à base (muro) da que se depositou imediatamente por cima. • Cerâmicas decoradas da Camada 2 Nas Figs. 42 a 49 representam-se todos os fragmentos cerâmicos decorados recolhidos nesta Camada. Forma 1 (esférico de paredes reentrantes de grandes dimensões): – Motivos em “folha de acácia” e em “crucífera”: 34 exemplares (Fig. 42, n.o 4; Fig. 44, n.os 2 e 3, 5 a 13 e 15; Fig. 45, nos 1 e 2, 4 e 5, 7 a 16; Fig. 46, n.os 11 e 14; Fig. 47, n.os 11, 13 e 14; Fig. 48, n.os 2 e 3); – Caneluras em torno da abertura e triângulos preenchidos interiormente (“dentes de lobo”): 20 exemplares (Fig. 42, n.os 11 e 12, 14 a 18; Fig. 43, 1 e 2, 5 a 7, 9 a 16); 302 – Caneluras simples em torno da abertura: 11 exemplares (Fig. 42, n.os 1 a 3, 5 a 10; Fig. 43, 4 e 8); – Bandas paralelas preenchidas por reticulados oblíquos incisos: 5 exemplares (Fig. 43, n.os 3, 18 e 19; Fig. 46, n.o 8; Fig. 48, n.o 6); – Caneluras em torno da abertura e espinhados incisos: 2 exemplares (Fig. 44, n.os 1 e 4). Forma 2 (esférico de médias dimensões): – Com rebaixamento da superfície externa, com espinhados verticais e / ou horizontais: 7 exemplares (Fig. 46, n.os 1 e 2, 6 e 7; Fig. 47, n.os 3, 5 e 6); – Associação de técnica canelada com a incisa, representada por espinhados em ziguezagues e reticulados oblíquos: 5 exemplares (Fig. 42, n.o 13, Fig. 46, n.os 13, 16 e 17; Fig. 47, n.o 2); – Associação de técnica canelada com a incisa, representada por espinhados em ziguezagues e reticulados, com cordão em relevo, decorado com finas incisões oblíquas: 3 exemplares (Fig. 46, n.o 15; Fig. 47, n.os 1 e 4); – Associação de técnica canelada com a incisa, representada por espinhados: 3 exemplares (Fig. 45, n.os 3 e 6; Fig. 46, n.o 9); – Bandas paralelas preenchidas por reticulados oblíquos incisos: 1 exemplar (Fig. 48, n.o1); – Losangos preenchidos interiormente e dispostos na horizontal: 1 exemplar (Fig. 48, n.o12); – Goteira em torno da abertura: 1 exemplar (Fig. 44, n.o 14); – Botão em relevo e incisões obtidas por caule oco: 1 exemplar (Fig. 48, n.o 15). Forma 3 (Vaso de parede vertical – “copo”): – Motivos em “folha de acácia” e em “crucífera”: 10 exemplares (Fig. 46, n.os 12, 21 e 22, 26; Fig. 47, n.os 8 a 10 e 12; Fig. 48, n.os 5 e 13); – Espinhados verticais e / ou horizontais incisos: 10 exemplares (Fig. 46, n.os 18 a 20, 23 a 25, 27; Fig. 47, n.o 7; Fig. 48, n.o 7 e 16); – Caneluras horizontais simples: 6 exemplares (Fig. 49, n.os 1 a 5, 12); – Impressão de uma ponta romba, junto ao bordo: 2 exemplares (Fig. 48, n.o 11; Fig. 49, n.o 9); – Bandas paralelas preenchidas por reticulados oblíquos incisos: 2 exemplares (Fig. 43, n.o 17; Fig. 46, n.o 10); – Pequenos mamilos ou botões, junto ao bordo: 2 exemplares (Fig. 48, n.os 17 e 18); – Caneluras com banda de traços oblíquos incisos: 1 exemplar (Fig. 46, n.o 3); – Losangos preenchidos interiormente e dispostos na horizontal: 1 exemplar (Fig. 46, n.o 4); – Incisões horizontais e verticais junto ao bordo: 1 exemplar (Fig. 48, n.o 8). Forma 4 (Taça em calote): – Caneluras horizontais junto ao bordo: 6 exemplares (Fig. 48, n.o 14; Fig. 49, n.os 6 a 8, 10 e 11); – Incisões horizontais e verticais junto ao bordo: 2 exemplares (Fig. 49, n.os 13 e 14); – Faixas rectilíneas, horizontais com recurso ao pente: 1 exemplar (Fig. 48, n.o 4). Forma 5 (Taça baixa com bordo espessado): – Técnica canelada (decoração interna): 3 exemplares (Fig. 49, n.os 15 a 17). Forma 6 (Indeterminado): – Impressão com recurso a pente representando espinhados: 1 exemplar (Fig. 46, n.o 5); 303 – Impressão com recurso a pente representando por faixas horizontais: 1 exemplar (Fig. 48, n.o 9); – Triângulos preenchidos por linhas horizontais incisas: 1 exemplar (Fig.48, n. o 10). • Cerâmicas decoradas da Camada 3 Nas Figs. 49 a 53 representam-se todos os exemplares cerâmicos decorados recolhidos nesta Camada. Forma 1 (esférico de paredes reentrantes de grande dimensão): – Caneluras em torno da abertura e triângulos preenchidos interiormente (“dentes de lobo”): 5 exemplares (Fig. 49, n.os 18 a 22); – Motivos em “folha de acácia” e em “crucífera”: 4 exemplares (Fig. 49, n.os 23 e 24, 26 e 27); – Caneluras simples em torno da abertura: 2 exemplares (Fig. 49, n.os 25 e 28). Forma 2 (esférico de médias dimensões): – Caneluras simples em torno da abertura: 2 exemplares (Fig. 50, n.o 18; Fig. 51, n.o 4); – Caneluras em torno da abertura, associadas com bandas de linhas organizadas obliquamente para um e outro lado: 1 exemplar (Fig. 50, n.o 13); – Pega e cordão em relevo, junto ao bordo: 1 exemplar (Fig. 53, n.o 2). Forma 3 (Vaso de parede vertical – “copo”: – Caneluras horizontais simples: 23 exemplares (Fig. 50, n.os 12, 14 a 17, 19 a 23; Fig. 51, n.os 1, 3, 5 e 6, 8 e 9, 11, 13 e 14, 16: Fig. 52, n.os 3 a 5); – Caneluras horizontais junto ao bordo, associadas com bandas de linhas organizadas obliquamente para um e outro lado separadas por linhas radiais: 3 exemplares (Fig. 51, n.os 7, 10 e 12); – Pequenos mamilos ou botões, junto ao bordo: 2 exemplares (Fig. 50, n.os 7 e 10); – Incisões horizontais junto ao bordo, associadas traços serpentiformes ou ondulantes verticais: 1 exemplar (Fig. 53, n.o 3). Forma 4 (Taça em calote): – Caneluras horizontais simples junto ao bordo: 12 exemplares (Fig. 50, n.o 1; Fig. 51, n.os 2, 15, 17 a 23; Fig. 52, n.os 1 e 2); – Caneluras horizontais junto ao bordo, associadas com bandas de linhas organizadas obliquamente para um e outro lado: 3 exemplares (Fig. 50, n.os 2, 6, 11); – Caneluras horizontais junto ao bordo, associadas com espinhados horizontais: 3 exemplares (Fig. 50, n.os 3, 8 e 9); – Incisões horizontais e verticais junto ao bordo: 1 exemplar (Fig. 50, n.o 5). Forma 5 (Taça baixa com bordo espessado): – Técnica brunida (decoração interna): 6 exemplares (Fig. 52, n.os 8 e 9, 11 e 12, 14 e 15); – Técnica canelada (decoração interna): 5 exemplares (Fig. 52, n.os 6 e 7, 10, 13 e 16). Forma 6 (Indeterminado): – Losangos preenchidos interiormente e dispostos na horizontal: 1 exemplar (Fig. 50, n.o 4); – Caneluras horizontais, associadas a espinhados: 1 exemplar (Fig. 53, n.o 1). 304 Fig. 42 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 2. 305 Fig. 43 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 2. 306 Fig. 44 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 2. 307 Fig. 45 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 2. 308 Fig. 46 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 2. 309 Fig. 47 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 2. 310 Fig. 48 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 2. 311 Fig. 49 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 2 (n.os 1 a 17) e da Camada 3 (n.os 18 a 28). 312 Fig. 50 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 3. 313 Fig. 51 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 3. 314 Fig. 52 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 3. 315 Fig. 53 – Outeiro Redondo. Materiais cerâmicos decorados da Camada 3. 316 Identificação dos principais tipos de decoração representados em cada camada • Tendo presente as duas Camadas consideradas, de significado cronológico e cultural específico, foi efectuada a distribuição das cerâmicas decoradas recolhidas em ambas, a qual se apresenta no Quadro de síntese seguinte (Quadro 12), que resume toda a informação até agora apresentada: Quadro 12 – Outeiro Redondo. Distribuição dos fragmentos cerâmicos com decoração (com e sem bordo) Camada 2 Camada 3 Tipo 1 2 Forma Esférico de paredes reentrantes de grande dimensão Esférico de média dimensão Tipos de decoração (Calcolítico (Calcolítico Inicial) Pleno / Final) N.o Frag. % N.o Frag. Motivos em “folha de acácia” e em “crucífera” 4 5,3 34 23,6 Caneluras em torno da abertura e triângulos preenchidos interiormente (“dentes de lobo”) 5 6,6 20 13,9 Caneluras simples em torno da abertura 2 2,6 11 7,6 Bandas paralelas preenchidas por reticulados oblíquos incisos – – 5 3,5 Caneluras em torno da abertura e espinhados incisos – – 2 1,4 Com rebaixamento da superfície externa, com espinhados verticais e / ou horizontais – – 7 4,9 Associação de técnica canelada com a incisa, representada por espinhados em ziguezagues e reticulados oblíquos – – 5 3,5 Associação de técnica canelada com a incisa, representada por espinhados em ziguezagues e reticulados, com cordão em relevo, decorado com finas incisões oblíquas – – 3 2,1 Associação de técnica canelada com a incisa, representada por espinhados – – 3 2,1 Bandas paralelas preenchidas por reticulados oblíquos incisos – – 1 1 Losangos preenchidos interiormente e dispostos na horizontal – – 1 1 Goteira em torno da abertura – – 1 1 Caneluras em torno da abertura, associadas com bandas de linhas organizadas obliquamente para um e outro lado 1 1,3 - - Caneluras simples em torno da abertura 2 2,6 - - Botão em relevo e incisões obtidas por caule oco – – 1 1 Pega e cordão em relevo, junto ao bordo 1 1,3 - - 317 % Tipo Forma Tipos de decoração % N. Frag. % Motivos em “folha de acácia” e em “crucífera” – – 10 6,9 Espinhados verticais e / ou horizontais incisos – – 10 6,9 23 30,3 6 4,2 Impressão de uma ponta romba, junto ao bordo – – 2 1,4 Caneluras horizontais junto ao bordo, associadas com bandas de linhas organizadas obliquamente para um e outro lado separadas por linhas radiais 3 3,9 – – Bandas paralelas preenchidas por reticulados oblíquos incisos – – 2 1,4 Pequenos mamilos ou botões, junto ao bordo 2 2,6 2 1,4 Caneluras com banda de traços oblíquos incisos – – 1 1 Losangos preenchidos interiormente e dispostos na horizontal – – 1 1 Incisões horizontais e verticais junto ao bordo – – 1 1 Incisões horizontais junto ao bordo, associadas traços serpentiformes ou ondulantes verticais 1 1,3 – – 12 15,8 6 4,2 Caneluras horizontais junto ao bordo, associadas com bandas de linhas organizadas obliquamente para um e outro lado 3 3,9 – – Incisões horizontais e verticais junto ao bordo 1 1,3 2 1,4 Caneluras horizontais junto ao bordo, associadas com espinhados horizontais 3 3,9 – – Faixas rectilíneas, horizontais com recurso ao pente – – 1 1 5 6,6 3 2,1 6 7,9 - - Impressão com recurso a pente representando espinhados – – 1 1 Impressão com recurso a pente representando por faixas horizontais – – 1 1 Triângulos preenchidos por linhas horizontais incisas – – 1 1 Losangos preenchidos interiormente e dispostos na horizontal 1 1,3 – – Caneluras horizontais, associadas a espinhados 1 1,3 – – 76 100 144 100 Caneluras horizontais simples junto ao bordo 4 5 6 Taça em calote Taça baixa com Técnica canelada (decoração interna) bordo espessado Técnica brunida (decoração interna) Indeterminado Pleno / Final) N. Frag. Caneluras horizontais simples Vaso de parede vertical (“copo”) Camada 2 (Calcolítico Inicial) o 3 Camada 3 (Calcolítico Total 318 o • Análise comparativa / evolutiva das cerâmicas nas duas etapas culturais de ocupação Comparando as cerâmicas decoradas da Camada 3 com paralelos em exemplares da Camada 2, ressaltam as seguintes observações: – As produções cerâmicas com padrões canelados nos “copos” que dominam na Camada 3 (30,3%), atribuída ao Calcolítico Inicial da Estremadura, subsistem na Camada 2 mas diminuem de representatividade (4,2%) e passam paulatinamente a ostentar novos padrões com motivos em “folha de acácia” e em “crucífera” e espinhados incisos, característicos do Calcolítico Pleno / Final. – Os exemplares de taças com caneluras horizontais junto ao bordo, associadas a bandas de linhas organizadas obliquamente para um e outro lado, recolhidos na Camada 3 (Fig. 50, n.os 2, 6, 11), possuem paralelos no Calcolítico Inicial de Leceia (CARDOSO, 2007, Fig. 83, n.o 9; Fig. 95, n.o 4; Fig. 111, n.o 7) e no Calcolítico Pleno / Final do mesmo povoado (CARDOSO, 2007, Fig. 166, n.o 12; Fig. 198, n.o 10), bem como em outros povoados calcolíticos, como por exemplo, o Outeiro de São Mamede (CARDOSO & CARREIRA, 2003, Fig.47, n.o 5). – Os exemplares recolhidos de taças com caneluras horizontais junto ao bordo, associadas com espinhados horizontais (Fig. 50, n.os 3, 8 e 9) têm paralelo em exemplares do Calcolítico Inicial de Leceia (CARDOSO, 2007, Fig. 89, n.o 5; Fig. 105, n.o 9) e no Calcolítico Pleno / Final do mesmo povoado (CARDOSO, 2007, Fig. 224, n.o 7). – Os fragmentos com incisões horizontais junto ao bordo, associadas a traços serpentiformes ou ondulantes verticais (Fig. 53, n.o 3) têm semelhanças com exemplares do Calcolítico Inicial de Leceia (CARDOSO, 2007, Fig. 57, n.o 1; Fig. 85, n.o 9). – Em sentido contrário ao referido no ponto anterior, verifica-se um aumento da expressão nos vasos esféricos de paredes reentrantes, geralmente de menores dimensões e com decoração canelada na Camada 3. Tais vasos evoluem na Camada 2 para exemplares de maiores dimensões, e as caneluras transformam-se em sulcos profundos s em torno da abertura, a que se seguem, no bojo dos recipientes, triângulos preenchidos interiormente (“dentes de lobo”). A presença destes recipientes com 6,6% na Camada 2 (podendo dever-se., como acima foi já sublinhado, a contaminações da Camada 2) aumenta para 23,6% na Camada 2, com a adição de motivos em “folha de acácia” e em “crucífera”. No entanto, torna-se importante referir que todos os exemplares decorados de vasos esféricos de paredes reentrantes da Camada 3 são provenientes da recolha dos 60-80 cm de profundidade, desaparecendo do registo arqueológico a maiores profundidades. Tal facto poderá ser interpretado, para além de prováveis contaminações, que terão sempre de admitir-se, à eventual existência de uma fase de transição do Calcolítico Inicial para o Calcolítico Pleno / Final, situação comparável à realidade que J. L. M. Gonçalves identificou no povoado calcolítico fortificado da Columbeira, Bombarral (GONÇALVES, 1994). Esta importante observação é compatível com as datas obtidas para a Camada 3, que apontam para momentos tardios dentro do Calcolítico Inicial (CARDOSO, SOARES & MARTINS, 2010-2011). Numa análise comparativa com outros povoados pré-históricos mais próximos, e privilegiando os estudos mais recentes, destacam-se alguns outros exemplares recolhidos na Camada 2: – Esférico com caneluras em torno da abertura e espinhados incisos (Fig. 44, n.o 4) possui paralelo no Calcolítico Pleno / Final de Leceia (CARDOSO, 2007, Fig. 212, n.o 3); 319 – Esféricos com rebaixamento da superfície externa, com espinhados verticais e / ou horizontais (Fig. 46, n.os 1 e 2, 6 e 7; Fig. 47, n.os 3, 5 e 6) possuem paralelos no Calcolítico Inicial de Leceia (CARDOSO, 2007, Fig. 51, n.o 1) e no Calcolítico Pleno / Final do mesmo povoado (CARDOSO, 2007, Fig. 172, n.o 14; Fig. 182, n.o 6 e Fig. 216, n.o 13); – Esféricos com associação da técnica canelada à incisa, representada por espinhados em ziguezagues e reticulados oblíquos, com ou sem cordão em relevo (Fig. 42, n.o 13, Fig. 46, n.os 13, 15, 16 e 17; Fig. 47, n.os 1, 2 e 4) possuem paralelos no Calcolítico Inicial de Leceia (CARDOSO, 2007, Fig.57, n. o 3) e no Calcolítico Pleno / Final do mesmo povoado (CARDOSO, 2007, Fig. 140, n.o 20; Fig. 160, n.o 6 e Fig. 166, n.os 7 e 9; Fig. 168, n.o 16; Fig. 174, n.o 10; Fig. 206, n.o 7 e Fig. 230, n.o 9); – Esférico com elemento de preensão perfurado, abaixo de uma goteira em torno da abertura (Fig. 44, n.o 14); possui paralelo no Calcolítico Pleno / Final de Leceia (CARDOSO, 2007, Fig. 190, n.o 6; Fig. 216, n.o 16); e Moita da Ladra (CARDOSO, 2014 a, Fig. 44, n.o 12). Outro grupo de cerâmicas decoradas que importa mencionar corresponde às taças com decorações caneladas na face interna, presentes nas duas camadas estratigráficas, mas na Camada 3 com 14,5%, reduzindo a presença na Camada 2 com 2,1%. Um dos motivos decorativos mais frequentes corresponde ao preenchimento integral da superfície interna dos recipientes por bandas oblíquas com orientação alternada, delimitada por linhas radiais (Fig. 52, n.o 11). Este padrão é comum em contextos do Calcolítico Inicial, tanto nos copos canelados, como nas taças caneladas, correspondentes, naquele caso, ao espaço externo da parede dos recipientes que se sucede á faixa de caneluras horizontais que se desenvolvem imediatamente abaixo do bordo (Fig. 51, n.os 10 e 12). Ocorrem outros padrões decorativos, tais como o preenchimento dos campos definidos pelas linhas radiais alternadamente por segmentos verticais e reticulados (Fig. 52, n.os 7 e 14) e semicircunferências concêntricas, dispostas como grinaldas a partir do lábio interno (Fig. 52, n.o 13). Trata-se de uma forma associada a padrões / motivos decorativos presentes tanto em contextos do Calcolítico do Sudoeste como em sítios do Calcolítico da Estremadura. Em Leceia, estes recipientes ocorrem tanto na Camada 3, do Calcolítico Inicial, como na Camada 2, do Calcolítico Pleno / Final (CARDOSO, 2007). é interessante sublinhar, no entanto, que em outros povoados da Baixa Estremadura, como o de Moita da Ladra (CARDOSO, 2014 a) e o de Penha Verde (CARDOSO, 2010-2011), com ocupações exclusivamente atribuíveis ao Calcolítico Pleno / Final, a ausência absoluta de tais produções. Em suma, os resultados demonstram um declínio das produções caneladas da Camada 3 para a Camada 2 e a adição de um novo tipo de padrão decorativo, privilegiando mais umas formas que outras, embora estas já conhecidas em ambos os períodos. A continuidade patenteada entre as produções de cerâmicas decoradas do Calcolítico Inicial e do Calcolítico Pleno / Final justifica, por outro lado, a existência de formas híbridas, ou de transição, que de facto se podem observar em alguns casos (Fig. 44, n.o 4). Assim, estes novos dados reforçam a ideia de substituições graduais e progressivas na transição do Calcolítico Inicial para o Calcolítico Pleno / Final, apresentada em anteriores trabalhos (KUNST, 1996; CARDOSO, 2007; SOUSA, 2010; CARDOSO, SOARES & MARTINS, 2010-2011). Importa referir a total ausência das cerâmicas campaniformes nas áreas escavadas em 2013 e 2014. Em campanhas de escavação anteriores e posteriores, a sua presença é baixíssima constituindo argumento a favor da existência de duas possíveis dinâmicas populacionais autónomas na região, no decurso da segunda metade do 3.o milénio a.C. (CARDOSO, 2014 b). Situação análoga foi observada no Penedo do Lexim, Mafra (SOUSA, 2010). 320 • Distribuição espacial A distribuição das cerâmicas decoradas pela área escavada permitiu averiguar a ocorrência de eventuais concentrações de espólios cerâmicos e discutir o seu significado. Relativamente à Camada 3, importa sublinhar que a realidade observada pode ter sido distorcida pela maior facilidade de acessibilidade que se teve a esta Camada em determinadas áreas, com a consequente recolha de maior número de exemplares cerâmicos. Destaque para o conjunto de cerâmicas recolhidas no interior da Cabana R, numa Camada avermelhada, em contacto com o substrato: na Fig. 50, n.os 5 a 7, 10, 14, 17 a 21 Fig. 52, n.os 9, 11 e 12, 13 a 15, representam-se os exemplares dali provenientes. Particular relevância deve ser conferida a um conjunto de fragmentos do mesmo recipiente recolhidos no interior das Lareira R1: Fig. 50, n.o 11 e da Lareira J: Fig. 51, n.o 3; Destaca-se também os três recipientes fragmentados, embalados em Camada avermelhada, junto ao substrato, junto à face interna da Muralha G: Fig. 53, n.os 1 a 3. De referir que, junto à Estrutura S, a uma profundidade entre os 80 cm e 120 cm, se recolheu o seguinte conjunto cerâmico: Fig. 50, n.os 1 a 3, 9, 12 a 16,e 23; Fig. 51, n.os 17, 19, 21 e 22. Ainda na Camada 3, junto ao substrato recolheram-se os fragmentos da Fig. 51, n.os 2, 6, 9, 11 e 23; Fig. 52, n.o 4; e embalado numa Camada de cinzas, recolheram-se os seguintes fragmentos, todos recipientes esféricos: Fig. 49, n.os 18 e 19, 21 e 22, 24 e 28. Relativamente à Camada 2, não se evidenciam quaisquer concentrações significativas. 5.5.3 – Cerâmicas industriais • Pesos de tear No capítulo das cerâmicas ditas industriais estão representados por abundantes pesos de tear, cuja discussão quanto à sua funcionalidade foi já discutida em anterior trabalho dedicado aos exemplares recolhidos no Outeiro Redondo (CARDOSO, 2013). Trata-se de placas de barro sub-rectangulares a sub-quadrangulares com perfurações junto dos vértices, representados nas Fig. 54 a Fig. 56, n.o 10. Contabilizaram-se 44 elementos, dos quais 14 inteiros e os restantes fragmentados, assim distribuídos: Camada 3: 15 exemplares, dos quais 5 são decorados (Fig. 55, n.os 3 a 12; Fig. 56, n.os 6 a 10); Camada 2: 29 exemplares, dos quais 9 são decorados (Fig. 54, n.os 1 a 18; Fig. 55, n.os 1 e 2, 13 a 16; Fig. 56, n.os 1 a 5). Verifica-se, assim, que a maioria dos exemplares provém de contextos do Calcolítico Pleno / Final, embora o número de exemplares recolhidos em contextos do Calcolítico Inicial seja assinalável. A estes somam-se os 41 exemplares, entre inteiros e fragmentados, recolhidos em anteriores campanhas de 2005 a 2008 (CARDOSO, 2013). Estes valores indicam claramente que a tecelagem era uma actividade significativa no espaço intramuros. Situação contrária foi apurada em Leceia, quer em número quer na distribuição estratigráfica. De facto, a maioria dos escassos exemplares provém de depósitos do Calcolítico Inicial (oito), contra os seis reportados ao Calcolítico Pleno / Final (CARDOSO, 2007). Números pouco relevantes, face à importância e extensão da área ocupada, tais como os identificados no povoado da Moita da Ladra, com 15 exemplares, relativos a única ocupação, do Calcolítico Pleno / Final, bem como os recolhidos no Penedo do Lexim, com doze exemplares (SOUSA, 2010), contrastando com a realidade do Outeiro Redondo bem como, por exemplo, com a observada em Vila Nova de São Pedro. Esta situação indicia uma actividade de tecelagem de importância muito desigual 321 entre povoados da mesma área cultural (o Calcolítico da Estremadura), sugerindo especialização diferenciada por razões que naturalmente se desconhecem. Em termos de funcionalidade os elementos / pesos seriam suspensos de cada vez apenas por dois furos, como analisado em trabalhos recentes (CARDOSO, 2013), podendo ficar os outros dois como reserva. Tal conclusão é comprovada pelas características do desgaste observado nos exemplares, o qual é sempre mais intenso em dois furos contíguos, embora existam casos em que o desgaste é intenso nos quatro furos (Fig. 54, n.o 16). Esta realidade encontra-se comprovada por exemplar oriundo da Camada 3 (Fig. 56, n.o 9), o qual se encontra serrado transversalmente aproximadamente a meio da peça original, a partir das duas faces, passando a ter apenas dois orifícios de um dos lados, que seriam suficientes para assegurar a sua funcionalidade como peso. Sendo uma peça cuja função se relacionava unicamente com o peso, as razões que levaram à serragem, podem relacionar-se com a necessidade de uma menor tensão nos fios a tecer, através da obtenção de uma peça menos pesada. É importante referir que esta situação não é única: no povoado calcolítico do Outeiro de São Mamede (Bombarral) identificaram-se três exemplares nas mesmas condições (CARDOSO & CARREIRA, 2003, Fig. 62, n.os 1 e 2; Fig. 70, n.o 1). Nos teares romanos, com efeito, os pesos possuíam tamanhos distintos, consoante o tipo de peças a fabricar. O exemplar representado na Fig. 54, n.o 14 apresenta apenas três furos, cuja importância é relevante, por vir assim confirmar que, de cada vez, seriam apenas dois os utilizados. Apenas três exemplares se apresentam decorados em ambas as faces; dois provêm da Camada 2 (Fig. 55, o n. 14 e Fig. 56, n.o 5) e um da Camada 3 (Fig. 56, n.o 8); outros 11 exemplares apresentam decoração apenas numa das faces. A maioria destas decorações são realizadas pela técnica incisa, e um exemplar utilizou uma matriz denteada, por impressão na pasta mole (Fig. 55, n.o 16). Estão presentes os motivos reticulados, ziguezagues, e linhas onduladas. Destaque para os exemplares da Fig. 55, n.o 14 e Fig. 56, n.o 8, que ostentam duas linhas curvas paralelas que poderiam representar a Lua numa das suas fases, e o fragmento da Fig. 56, n.o 2, com um círculo radiado que poderia representar o Sol, contendo no seu interior três linhas onduladas. Representações idênticas observaram-se frequentemente em exemplares de Vila Nova de São Pedro (JALHAY & PAÇO, 1945, Lám. 27, n.os 5 e 6), mas também em outros importantes povoados calcolíticos, como Pedra de Ouro (GOMES & DOMINGOS, 2004, p. 119), para além da sua presença na face externa ou interna de recipientes, via de regra taças em calote. O interessante do exemplar do Outeiro Redondo, é que o Sol se encontra associado a linhas onduladas, a água corrente, dois elementos essenciais à própria vida. O exemplar serrado, já referido, da Fig. 56, n.o 9, ostenta representação de um círculo, embora incompleto devido ao corte que sofreu, e decoração por impressão de coroas circulares, executado com um pequeno caule oco em redor do referido motivo geométrico. Trata-se de uma técnica decorativa peculiar, embora frequentemente observada; como paralelos, não exaustivos, citam-se os exemplares da Pedra de Ouro (GOMES & DOMINGOS, 2004, p. 119) e de Vila Nova de São Pedro (JALHAY & PAÇO, 1945, Fig. 10, n.o 7). O exemplar decorado com linhas onduladas da Fig. 56, n.o 1 tem múltiplos paralelos em outros povoados calcolíticos estremenhos; além do de Vila Nova de São Pedro, sem dúvida aquele onde se recolheram o mais numeroso conjunto de tais peças, podem mencionar-se, sem preocupações exaustivas exemplares na Pedra de Ouro (GOMES & DOMINGOS, 2004, p. 119), e na Moita da Ladra (CARDOSO, 2014 a, Fig. 48, n.o 2; Fig. 49, n.os 2 e 4); a presença de tais linhas onduladas foi relacionada com a água corrente, a qual teria um papel determinante na preparação de certas fibras vegetais, destinadas a fiação, como o linho, já utilizado na época (PAÇO & ARThuR, 1953). Recorde-se que esta conotação de linhas onduladas, à água e ao linho, foi de há muito proposta, a propósito de um exemplar recolhido em Leceia (CARDOSO, 1981). 322 Fig. 54 – Outeiro Redondo. Pesos de tear recolhidos na Camada 2. 323 Fig. 55 – Outeiro Redondo. Pesos de tear recolhidos na Camada 2 (n.os 1 e 2; 13 a 16) e Camada 3 (n.os 3 a 12). 324 Fig. 56 – Outeiro Redondo. Pesos de tear recolhidos na Camada 2 (n.os 1 a 5) e na Camada 3 (n.os 6 a 10); chinchos recolhidos na Camada 2 (n.os 11 a 16); suportes de lareira recolhidos na Camada 2 (n.o 20) e na Camada 3 (n.os 17 a 19). 325 Um fragmento com representação de reticulado (Fig. 56, n.o 3), evoca a tessitura formada pela trama e teia, não espantando por isso, ser comum a sua presença em exemplares recolhidos nas campanhas anteriores no Outeiro Redondo (CARDOSO, 2013, Fig. 56, n.o 10), e em outras estações coevas, com destaque para Vila Nova de São Pedro (JALHAY & PAÇO, 1945, Fig. 9, n.os 4 a 9). Um exemplar da Cabana R possui em ambas as faces a estilização das tatuagens faciais (Fig. 56, n.os 8), tão comuns nos ídolos de calcário da mesma época, para além de presentes em figurinhas de barro, que, tal como os ídolos anteriores, são representações da Deusa calcolítica, como a recolhida no povoado calcolítico da Pedra de Ouro (Alenquer). O facto de a mesma representação ocorrer num artefacto de natureza evidentemente funcional, com paralelos noutros povoados da mesma época, como Vila Nova de São Pedro (JALHAY & PAÇO, 1945, Fig. 8, n.o 20) e Outeiro de São Mamede (CARDOSO & CARREIRA, Fig. 70, n.o 1), vem reforçar a evidência da estreita ligação então existente entre as actividades do quotidiano e a sua projecção nos domínios do simbólico e religioso. Aliás, a presença, no Outeiro Redondo, de um notável conjunto de pesos de tear com a representação da vulva (CARDOSO, 2013, Fig. 18, n.os 10 a 12), aliás com paralelos em Vila Nova de São Pedro (JALHAY & PAÇO, 1945, Fig. 11, n.o 7), outra evocação da omnipresente Deusa calcolítica da fertilidade. Relativamente à Camada 3 reconheceram-se duas concentrações de pesos de tear na área intervencionada. Destaque para o conjunto de 8 exemplares recolhidos no interior da Cabana R, numa Camada avermelhada, em contacto com o substrato: Fig. 55, n.os 7, 9, 10 e 12; Fig. 56, n.os 7 a 10; e junto à Estrutura S, a uma profundidade entre os 80 cm e 120 cm, recolheram-se o seguinte conjunto de 5 exemplares: Fig. 55, n.os 4 e 5, 8 e 11; Fig. 56, n.o 6. é muito provável que a presença nestas duas áreas circunscritas destes exemplares corresponda à localização de dois teares. Relativamente à Camada 2, não se evidenciam quaisquer concentrações de tais peças. A sua dispersão revela-nos a existência nesta Camada de fenómenos de transporte e redeposição de materiais mais intensos que os que afectaram a Camada subjacente. • Cinchos Os cinchos estão representados por escassos 6 exemplares (Fig. 56, n.os 11 a 16) e a sua distribuição estratigráfica é restrita à Camada 2, atribuída ao Calcolítico Pleno / Final, concordante com o registo conhecido em Leceia, onde tais peças se acantonam na mesma fase cronológica-cultural (CARDOSO, 2007). Em anteriores campanhas no Outeiro Redondo recolheram-se apenas dois fragmentos (CARDOSO, 2013), confirmando que o povoado não teria como actividade significativa a produção de lacticínios com a qual estes exemplares se encontram relacionados, conclusão corroborada pela fraca importância relativa dos ovino-caprinos, a ser confirmada pelo estudo dos restos faunísticos recolhidos. Em comparação com outros povoados, são de referir os 25 exemplares (dos quais 21 são bordos) recolhidos em Leceia (CARDOSO, 2007), os 23 exemplares, com bordo, da Moita da Ladra (CARDOSO, 2014 a, Fig. 50 e Fig. 51), e os 132 fragmentos (dos quais 33 são bordos) do povoado do Penedo do Lexim (SOUSA, 2010, Figs. 138 e 139). Estes dados numéricos vêm ilustrar a realidade já anteriormente comprovada pela presença diferenciada de pesos de tear nos povoados mais importantes da região, isto é, que cada sítio tinha características económicas específicas, expressas pela evidente diferenciação das suas actividades. Assim, no respeitante à produção de lacticínios a sua importância seria apenas significativa no Penedo do Lexim, sítio onde, não obstante a área escavada ser a menor dos quatro povoados considerados, foi, não obstante, o que forneceu maior número destes exemplares. No extremo oposto situa-se o Outeiro Redondo. 326 Importa sublinhar o acantonamento dos cinchos exclusivamente nas ocupações do Calcolítico Pleno / Final, corroborando o facto de a chamada “Revolução dos Produtos Secundários” estar ainda em plena afirmação e diversificação de produções no decurso da segunda metade do 3. o milénio a.C. Não se evidenciam quaisquer concentrações na distribuição espacial na área intervencionada. Suportes de lareira • Foram recolhidos alguns fragmentos destas peças, cinco em contextos do Calcolítico Inicial (Fig. 56, n. 17 a 19; Fig. 57, n.os 1 e 2) e um em contexto do Calcolítico Pleno / Final (Fig. 56, n.o 20) com paralelos em vários povoados calcolíticos da região (CARDOSO, 2007). Em estudo anteriormente publicado dedicado a este sítio arqueológico demonstrou-se a validade da associação exclusiva destas peças a contextos funcionais, relacionados com a manipulação do fogo (CARDOSO, 2013). Do conjunto agora analisado, reproduzem-se na Fig. 56, n.o 20 e Fig. 57, n.os 1 e 2, três exemplares que possuem base larga e plana, de modo a garantir a sustentação dos recipientes que eram colocados ao lume; apesar de muito fragmentados, três exemplares conservam os vestígios de uma perfuração cilíndrica mesial, destinado a facilitar a entrada de calor no interior da peça, promovendo a sua adequada cozedura, dado serem peças maciças, cuja cozedura completa seria difícil. Relativamente à Camada 3, não se evidenciam quaisquer concentrações, o que é explicável pela sua fraca presença; no entanto, a proximidade de dois exemplares, reproduzidos na Fig. 56, n.os 17 e 18, que poderão pertencer à mesma peça, estarão associados à Lareira J. Outro fragmento, apresentado na Fig. 57, n.o 1, localizado junto ao substrato, embalado na Camada avermelhada, poderá por seu turno estar relacionado com a Lareira R1, devido à sua proximidade. os • Cadinhos de fundição, pingos e resíduos de fundição A prática da metalurgia do cobre no povoado já tinha sido comprovada em anteriores trabalhos, pela presença de um lingote de cobre, pertencente à colecção reunida pelo Arq. Gustavo Marques (CARDOSO, 2009 a) e pela publicação dos resultados das campanhas de escavações arqueológicas realizadas entre 2005 e 2008, que incluíram um fragmento de cadinho de fundição e vários artefactos de cobre (CARDOSO, 2013, Fig. 59). A metalurgia do cobre passou a ser muito melhor conhecida no Outeiro Redondo pelos testemunhos de fundição recuperados em 2013 e 2014. Foram recolhidos 18 exemplares de cadinhos de fundição de vários formatos, todos incompletos, alguns com pequenas porções de cobre fundido aderente às suas paredes, distribuídos estratigraficamente da seguinte maneira: Camada 2: 11 fragmentos, dos quais 8 com bordos (Fig. 62, n.os 1 a 8; Fig. 63, n.os 1 a 3). Camada 3: 7 fragmentos, dos quais 5 com bordos (Fig. 63, n.os 4 e 5; Fig. 64, n.os 1 a 5); Os exemplares da Camada 2 apresentam-se, nuns casos, com formato aparentemente elipsoidal a subcircular, sendo pouco fundos (Fig. 62, n.os 4, 7 e 8; Fig. 63, n.o 1), a par de outros, de tendência sub-rectangular e mais fundos, como os da Camada 3 (Fig. 62, n.os 1 a 3, 5 e 6; Fig. 63, n.os 2 e 3), mas todos com fundo plano, desprovidos de pés de sustentação no seu lado externo. Os exemplares da Camada 3 apresentam-se maioritariamente com formatos sub-rectangulares e são mais fundos. Dos sete exemplares recolhidos, dois apresentam-se munidos de pés de sustentação cilíndricos (Fig. 63, n.os 4 e 5) e os restantes com fundo plano. Destaque para a semelhança do cadinho da Fig. 64, n.o 4 com o 327 exemplar recentemente publicado do povoado da Travessa das Dores, Lisboa (NETO, REBELO & CARDOSO, 2015, Fig. 29, n.os 13) e do povoado vizinho de Chibanes, Palmela (SILVA & SOARES, 2014, Fig. 33). Quanto à associação de cadinhos a estruturas de carácter habitacional, na Camada 2 destaca-se a concentração de dois exemplares, junto à Estrutura O1 (Fig. 62, n.o 8; Fig. 63, n.o 3); na Camada 3 reconheceram-se duas concentrações de cadinhos de fundição: um conjunto de três cadinhos no interior do recinto da Cabana R, junto à base do grande cinzeiro, envolvidos por Camada avermelhada, certamente relacionados com a Lareira R1 (Fig. 63, n.os 4 e 5; Fig. 64, n.o 3); e um outro conjunto próximo da Estrutura S (Fig. 64, n.os 1, 2 e 5). Foram também recolhidos pingos e resíduos de fundição nas duas camadas estratigráficas: na Camada 2 regista-se um conjunto de pingos e escórias associadas à Lareira J, havendo mesmo um exemplar oriundo do interior desta (Fig. 60, n.o 12), a que se somam mais dez exemplares (Fig. 60, n.os 1 a 10). Na Camada 3 recolheram-se cinco exemplares (Fig. 60, n.os 11 a 15). • Algaravizes (tubos de forja) Directamente relacionados com a metalurgia, foram recolhidos cinco exemplares de tubos de algaravizes (tubos de forja), um deles quase completo (Fig. 12, n.o 6; Fig. 61, n.o 4), distribuídos estratigraficamente da seguinte maneira: Camada 2: dois exemplares (Fig. 61, n.os 1 e 2); Camada 3: três exemplares (Fig. 61, n.os 3 a 5). A raridade de tais artefactos encontra-se evidenciada pela escassa referência que lhes tem sido feita na bibliografia: um exemplar incompleto, correspondendo a extremidade distal, do povoado da Moita da Ladra recentemente publicado (CARDOSO, 2014 a, Fig. 51, n.o 11), em Vila Nova de São Pedro, onde se recolheu um exemplar quase inteiro, muito semelhante ao do Outeiro Redondo (JALHAY & PAÇO, 1945, Est. 21, n.o 4), a que se soma outro, da Pedra de Ouro, mais curto e maciço (PAÇO, 1966, Fig. 13, b). Em termos de distribuição destaca-se na Camada 3 a presença do conjunto dos três tubos de forja no mesmo local, associados à Cabana R, envoltos na Camada de cinzas e próximo do cadinho representado na Fig. 64, n.o 3. é interessante assinalar que no povoado metalúrgico calcolítico de Cabezo Juré (Huelva), com abundantes estruturas de combustão relacionadas com a metalurgia, se identificaram até os sistemas de encaixe dos mesmos na própria estrutura de combustão, se encontraram alguns algaravizes de barro, idênticos entre si, mas distintos dos recolhidos nos povoados supra referidos, por serem mais curtos e com diâmetros superiores, tanto internos como externos (NOCETE CALVO, SÁEZ RAMOS & NIETO LIÑÁN, 2004, Fig. 13.8; NOCETE & NOCETE, 2015, p. 24). Tais diferenças são acentuadas, ao contrário do observado no tocante aos cadinhos. Em termos tipológicos, o exemplar quase completo do Outeiro Redondo identifica-se totalmente com o de Vila Nova de São Pedro, cuja conotação a algaraviz foi posta em causa, por se tratar de peça sem qualquer indício de ter estado submetido a elevadas temperaturas e também pelo orifício se afigurar com diâmetro demasiado pequeno (SOARES, 2004, p. 183). Ora, os exemplares do Outeiro Redondo evidenciam, claramente, os efeitos do calor, não só por se apresentarem escurecidos, mas também esboroáveis, em resultado das alterações mineralógicas provocadas. No entanto, tal evidência não seria decisiva para a atribuição indicada. Com efeito, também boa parte dos cadinhos de barro recolhidos – e estes sujeitos a temperaturas bem mais elevadas, pois situavam-se no interior do próprio forno – não evidenciam tais marcas, seja por terem sido pouco utilizados, seja pelas marcas resultantes da própria cozedura destas peças na altura do fabrico. 328 Aliás, o único algaraviz do Cabezo Juré reproduzido a cores e com assinalável ampliação, mostra-se até mais isento de tais marcas, quando comparado com a reprodução a cores do exemplar de Vila Nova de São Pedro, cuja associação à prática metalúrgica foi entretanto admitida (MÜLLER & SOARES, 2008, Fig. 1). Quanto à pequenez do diâmetro, é certo que este, quanto maior fosse, menos possibilidade teria de produzir um jacto de ar oxigenado bem direccionado, estando, ao que tudo leva a crer, bem dimensionado para o tamanho das estruturas de combustão respectivas, com diâmetros que não ultrapassam em geral 0,50 m. Note-se que, para assegurar a indispensável aderência do fole de couro que se encontrava ajustado à face interna das duas peças melhor conservadas, as mesmas apresentam uma crenulação regular, bem visível em corte (Fig. 61, n.os 4 e 5). Enfim, não terá sido por acaso que três dos cinco fragmentos recolhidos tenham aparecidos juntos; dois deles, Fig. 61, n.os 3 e 5, podem pertencer a um único exemplar, formando-se assim um par de algaravizes que funcionariam solidariamente, conforme ainda hoje se observa nos foles metalúrgicos primitivos manuais. • Esferas de barro perfuradas Recolheram-se três peças de barro, esféricas (Fig. 65, n.os 6 a 8), recolhidas na Camada 2; Três exemplares idênticos do povoado coevo do Outeiro de São Mamede (CARDOSO & CARREIRA, 2003, Fig. 70, n.os 4 a 6) foram atribuídos a contas de colar, invocando exemplares bicónicos, também de barro, recuperados em diversas estações estremenhas. Mas a concentração destes três exemplares, que até então não tinham paralelo conhecido, num único sítio, levou, prudentemente, a ser preferível designá-los apenas pelas suas características morfológicas. Recentemente, recolheram-se oito exemplares comparáveis, variando a sua forma entre a esférica e a toneliforme alongada, no povoado metalúrgico calcolítico de Cabezo Juré (Huelva) (NOCETE CALVO et al., 2004, Fig. 8.54), os quais foram dados como relacionados com a tecelagem. Seis exemplares toneliformes alongados, semelhantes a alguns do Cabezo Juré, foram recolhidos no povoado calcolítico do Outeiro da Assenta, situado nas imediações da lagoa de Óbidos e por isso atribuídos a pesos de rede para a pesca fluvial (CARDOSO & MARTINS, 2009, Fig. 46). Tal como então foi dito, também estes exemplares se afiguram excepcionais nos contextos calcolíticos a que pertencem (ibidem, p. 281), notando-se, como únicos paralelos imediatos, os exemplares recolhidos por A. dos Santos Rocha na estação da I Idade do Ferro de Santa Olaia. Dada a proximidade desta ao Mondego, é também aceitável reportá-los às funções mencionadas. Dadas as diferentes possibilidades funcionais destas peças, optou-se, tal como no trabalho dos autores publicado em 2009, por dar prioridade à simples designação morfológica. 5.6 – Artefactos metálicos Foram recolhidos 63 artefactos metálicos, das quais 53 pertencem à Camada 2 e 10 à Camada 3. Na Camada 2 dominam os pequenos artefactos utilitários e uma importante presença de armas. Os exemplares integram-se nos seguintes grupos artefactuais: – Sovelas, punções e agulhas de secção elipsoidal ou sub-rectangular: 13 exemplares (Fig. 57, n.os 3 a 5, 8 a 12, 15 a 17, 20 e 22); – Serras ou foices, feitas em chapa de cobre serrilhadas num dos bordos: 9 exemplares (Fig. 12, n.os 1 e 2; Fig. 58, n.os 3, 7, 11 a 15; Fig. 59, n.os 4 e 5;); nalguns casos, os dentes mostram-se boleados, indício de intensa utilização (Fig. 58, n.o 12); 329 – Pequenos fragmentos indeterminados e tiras irregulares, sem forma definida: 7 exemplares (Fig. 57, n.os 6, 7, 21; Fig. 58, n.os 1, 4 a 6), talvez destinados à refundição. Alguns destes exemplares mostram marcas de corte ao longo dos bordos; – Pequenos escopros ou formões, de secções sub-quadrangulares a sub-rectangulares: 6 exemplares (Fig. 57, n.os 13, 14, 18, 23, 24 e 26); – Anzóis: 5 exemplares (Fig. 59, n.os 7 a 11) de diferentes tamanhos. A estes somam-se outros três recuperados no povoado em anteriores campanhas de escavação (CARDOSO, 2013, Fig. 59, n.os 4, 9 e 14); – Fragmentos de facas espatuladas: 4 exemplares (Fig. 58, n.os 2, 8, 16; Fig. 59, n.o 1), o último dos quais munido de dois chanfros laterais próximo de uma das extremidades, para encabamento; – Fragmentos da extremidade proximal de facas ou serras: 3 exemplares (Fig. 58, n.os 9, 17 e 18); – Fragmentos de lâminas de facas: 1 exemplar (Fig. 58, n.o 10); – Gume de machado, cortado por serragem: 1 exemplar (Fig. 12, n.o 3; Fig. 57, n.o 19). Idêntico ao recolhido na Camada anterior. No campo das armas recolhidas destaca-se a ocorrência de quatro exemplares: – Possível punhal de lingueta desenvolvida, com extremidade distal e bordos embotados: 1 exemplar (Fig. 59, n.o 2); – Porção distal de espada de cobre: 1 exemplar (Fig. 12, n.o 4; Fig. 59, n.o 3); – Ponta de seta de cobre, de espigão e barbelas: 1 exemplar (Fig. 13, n.o 1; Fig. 60, n.o 16). – Alabarda nervurada munida de lingueta de encabamento desenvolvida, sem rebites e com bordos com fio cortante obtidos por martelagem: 1 exemplar (Fig. 13, n.o 2; Fig. 60, n.o 17). Na Camada 3 estão presentes apenas pequenos artefactos utilitários, integrando-se nos seguintes grupos: – Pequenos escopros ou formões, de secções sub-quadrangulares a sub-rectangulares: 3 exemplares (Fig. 57, n.os 27, 28 e 32); – Sovelas, punções e agulhas de secção elipsoidal ou sub-rectangular: 2 exemplares (Fig. 57, n.os 30 e 31); – Anzóis: 2 exemplares incompletos (Fig. 59, n.os 12 e 13). A estes fragmentos soma-se outro recuperado no povoado em anteriores campanhas de escavação (CARDOSO, 2013, Fig. 59, n.o 13); – Gume de machado, cortado por serragem: 1 exemplar (Fig. 57, n.o 29); – Fragmentos incaracterísticos: 2 exemplares (Fig. 57, n.o 25; Fig. 59, n.o 6), que se somam a outros recolhidos na Camada 2, destinados provavelmente à refundição, com alguns paralelos nos exemplares dos povoados da Moita da Ladra, Vila Franca de Xira (CARDOSO, 2014 a, Figs. 52 e 53) e São Mamede, Bombarral (CARDOSO & CARREIRA, 2003, Figs. 37 a 40); Com base na descrição do conjunto de 63 artefactos metálicos procedeu-se à contabilização dos diversos grupos de acordo com a sequência cultural registada, sumariados no Quadro 13. 330 Quadro 13 – Outeiro Redondo. Grupos de artefactos metálicos e respectiva distribuição estratigráfica Artefactos metálicos Camada 3 Camada 2 (Calcolítico Inicial) (Calcolítico Pleno / Final) N.o frag. % N.o frag. % Sovelas, punções e agulhas 2 20 13 24,5 Serras ou foices, feitas em chapa de cobre – – 9 17,0 Fragmentos indeterminados e tiras irregulares, sem forma definida 2 20 7 13,2 Escopros ou formões 3 30 6 11,3 Anzóis 2 20 5 9,4 Facas espatuladas – – 4 7,5 Fragmentos de base de facas ou serras – – 3 5,7 Lâminas de facas – – 1 1,9 Gume de machado, cortado por serragem 1 10 1 1,9 Punhal de lingueta desenvolvida – – 1 1,9 Fragmento de espada de cobre – – 1 1,9 Ponta de seta de cobre, de espigão e barbelas – – 1 1,9 Alabarda nervurada munida de lingueta de encabamento não rebitada – – 1 1,9 10 100 53 100 Total Neste estudo não se reverá a questão da intencionalidade dos conteúdos de arsénio presentes nos artefactos de cobre calcolíticos, uma vez que em anterior estudo recentemente publicado e dedicado a este sítio arqueológico já se prestaram considerações a esse respeito (CARDOSO, 2013). Em recente estudo, admite-se que a metalurgia do cobre na Estremadura, no decurso do Calcolítico, tenha beneficiado de fontes distintas da matéria-prima. Assim, as peças com maiores teores de Arsénio, teriam resultado da crescente diversificação da captação dos minérios, estendendo-se a partir de determinado momento no decurso da segunda metade do 3.o milénio a.C., às jazidas cupríferas do Baixo Alentejo, explorando os chapéus de fero da faixa piritosa da Zona Sul Portuguesa (PEREIRA et al., 2016). Três peças merecem desde já adequado destaque, sem prejuízo de, sobre as mesmas, se desenvolverem ulteriormente considerações mais desenvolvidas, tendo sido recolhidas em 2013, na Camada 2 presentes na Camadas, recolhidas a 20-40 cm de profundidade, junto à Estrutura N: – A alabarda nervurada com lingueta de encabamento não rebitada (Fig. 60, n.o 17; Fig. 13, n.o 18) é exemplar excepcional no quando das produções do final do Calcolítico do ocidente peninsular. Com efeito, os exemplares mais antigos conhecidos de alabardas nesta vasta região, designados por alabardas do “tipo Carrapatas”, integram-se na fase imediatamente seguinte, já do início da Idade do Bronze (ou Bronze Pleno / Final, com início cerca de 1800 anos a.C.), possuindo o talão rebitado e desprovido de lingueta, característica das produções calcolíticas, onde esta ainda se insere. O referido tipo é coevo de outro, com 331 ocorrências mais meridionais, como comprova a alabarda de Baútas, dada a conhecer por J. C. de SennaMartínez e republicada por Dirk Brandherm (BRANDhERM, 2003, Tf. 97, n.o 1380). Trata-se de exemplar também com forte nervura central, munido, como os seus congéneres nortenhos, de três perfurações no talão, para rebitagem ao cabo. Nestes termos, o exemplar recolhido em 2013 no Outeiro Redondo configura um novo tipo de alabardas nervuradas, correspondente a forma com acentuadas influências calcolíticas, com a presença uma lingueta desenvolvida não rebitada, destinada ao encabamento. Nestes termos, considera-se que este exemplar, de características únicas, configura a transição do Calcolítico para o início da Idade do Bronze em território português, conclusão corroborada pela cronologia absoluta correspondente à respectiva ocupação, situada entre 2440-2110 cal BC, para 2σ (CARDOSO, SOARES & MARTINS, 2010-2011). Em abono desta conclusão, devem referir-se diversos punhais de lingueta nervurados calcolíticos, na área estremenha, tal qual o sistema de encabamento observado na alabarda em apreço, como é o caso do exemplar do Outeiro de São Mamede (CARDOSO & CARREIRA, 2003, Fig. 38, n.o 1), muito semelhante aos dois exemplares de La Pijotilla (BRANDHERM, 2003, Tf. 23, n.os 312 e 313), com evidentes paralelos nos punhais nervurados de cobre recolhidos no monumento n.o 3 de Alcalar (VEIGA, 1889, Est. IX), ainda que estes não possuam lingueta de encabamento, mas apenas chanfros laterais junto à extremidade proximal. – A ponta de seta de espigão robusto e barbelas (Fig. 60, n.o 16; Fig. 13, n.o 1) é outra peça a considerar. Com efeito, este exemplar recuperado em 2013 não longe da alabarda acima mencionada, poderá ser considerado um dos mais antigos, senão o mais antigo exemplar conhecido para este tipo de pontas de seta. Tendo presente a evolução morfológica geralmente apontada para as pontas Palmela, em que os exemplares mais modernos seriam de contorno lanceolado, com a folha mais estreita e tendencialmente de menores dimensões que os mais antigos, facilmente se pode chegar à conclusão de que as pontas de espigão e barbela podem corresponder ao estádio final daquela evolução. Com efeito, a prova de que tudo indica que assim tenha sido, encontra-se num exemplar híbrido, que até agora não despertou atenção. Trata-se de uma ponta que nada se diferencia de uma ponta Palmela, a não ser pelos dois pequenos entalhes existentes na base da folha, correspondendo a aletas incipientes. Infelizmente, embora se trate de exemplar da região de Huelva, não é referido o local do achado (NOCETE & NOCETE, 2015, p. 46). A ser assim, é aceitável considerar a ponta de espigão e barbelas do Outeiro Redondo como produção do final da ocupação do sítio, na transição do 3. o para o 2.o milénio a.C., coexistindo com as derradeiras pontas Palmela, das quais não se recolheu nenhum exemplar na estação. Nesta, não foi identificada nenhuma evidência de ocupação ulterior ao final do Calcolítico, por limitada que tenha sido, pelo que é de manter a possibilidade de se estar perante um dos mais antigos exemplares deste tipo de pontas, cuja filiação directa nas pontas Palmela se afigura comprovada pela ponta publicada por Francisco Nocete. Aliás, a existência de exemplares híbridos de armas metálicas constitui uma expressiva forma de demonstrar filogenias que, de outro modo, seriam menos evidentes. A somar aos dois exemplos acima referidos, pode também valorizar-se a lâmina de longo punhal de cobre identificado na sepultura individual do Cerro do Malhão, Alcoutim, integrável no Horizonte de Ferradeira (CARDOSO & GRADIM, 2012, Fig. 16). A lâmina, poderia ser integrada facilmente no conjunto de exemplares argáricos do mesmo tipo (BRANDHERM, 2003, Tf. 78, n.o 1255; Tf. 80, n.o 1268), não fosse o facto de não possuir o talão perfurado para fixação do cabo por rebites, como se verifica naqueles exemplares. Trata-se, assim de um exemplar híbrido, anterior à plena afirmação daqueles modelos, que já claramente evoca. – A parte distal de uma espada, com a ponta levemente encurvada e seccionada por corte transversal intencional (Fig. 59, n.o 3; Fig. 12, n.o 4). Infelizmente, por não se ter conservado a zona da empunhadura, não 332 será possível averiguar qual o tipo a que pertencia esta porção de lâmina. Seja como for, trata-se de um exemplar coevo da bem conhecida espada com lingueta de Pinhal dos Melos, excepcional produção epicampaniforme integrável no Horizonte de Montelavar, reportável ao início do 2.o milénio a.C. (BRANDHERM, 2003, Tf. 19, n.o 287). No caso do exemplar do Outeiro Redondo, o seccionamento intencional que este apresenta seria suficiente, caso o contexto fosse outro, para o identificar como de origem ritual e simbólica, atestando a falta deliberada e definitiva de utilidade funcional da peça, ao ser privada da extremidade; no contexto doméstico em que foi recolhida, a par de outros exemplares cortados intencionalmente e facilmente associados a materiais fora de uso para refundição ou transformação por martelagem simples em pequenos artefactos, não custa admitir que seria naturalmente esta a finalidade do fragmento de espada em causa. Aparte estas três peças, que justificaram, pela sua importância, esta apresentação preliminar mais desenvolvida, há a acrescentar uma extremidade de machado cortada intencionalmente (Fig. 57, n.o 19; Fig. 12, n.o 3). Em trabalhos anteriores discutiu-se o significado desta prática e apresentaram-se alguns dos numerosos paralelos conhecidos, alguns deles recentemente publicados como o exemplar de Moita da Ladra, que abrange povoados calcolíticos da área estremenha e do Sudoeste (CARDOSO, 2014 a, p. 248, Fig. 52, n.o 1). uma vez mais, a situação poderia suportar duas leituras alternativas: uma delas, valorizando o putativo acto simbólico de cortar o gume a um objecto funcional e que, pela sua importância, facilmente poderia ter atingido uma expressão e importância que ultrapassava em muito a sua eficácia prática (inferior à de qualquer machado polido de rocha dura); outra leitura, de sinal oposto, seria a de atribuir estes artefactos de cobre, especialmente os de maiores dimensões, a simples lingotes, dos quais e retirariam por seccionamento, as porções que usualmente aparecem correspondentes aos gumes. Mas esta realidade não explica a razão de tais gumes se terem fabricado intencionalmente, para depois serem separados do corpo da peça, nem tão-pouco a sua presença, quando a intenção seria a transformação dos mesmos e variado tipo de instrumentos, à medida que estes fossem sendo necessários. Existe, pois, ainda um assinalável conjunto de aspectos por esclarecer quanto a estes enigmáticos artefactos. No assinalável conjunto de peças metálicas recolhidas dominam, no entanto, os exemplares de pequenas dimensões de carácter utilitário. Evidencia-se a importância de pequenos escopros ou formões na Camada 3 (30% do conjunto) e de sovelas, punções e agulhas na Camada 2 (24,5% do conjunto). Mas os utensílios que despertam mais interesse é o conjunto de anzóis recolhido: a assinalável heterometria, pela primeira vez evidenciada em tais peças numa estação calcolítica do território português, ilustra não só o contributo que a pesca à linha detinha na economia destas populações – corroborado pelos restos ictiológicos recuperados – mas também a especialização das capturas. Os anzóis, independentemente do tamanho, respeitam apenas uma tipologia, caracterizada pela ausência de barbela e pelo empate simples, constituído pela curvatura das hastes, sempre de secção sub-rectangular a sub-pentagonal. A par dos referidos utensílios, ocorrem pequenas porções de cobre destinadas à refundição, a par de tiras, que poderiam ser também transformadas por martelagem em punções ou outros artefactos de pequenas dimensões. Peças idênticas recolheram-se em vários povoados calcolíticos tanto da área estremenha, como do Sudoeste, como o de Leceia, Vila Nova de São Pedro, Zambujal, Penedo, Fórnea, Outeiro de São Mamede e Monte da Tumba. Os dados reunidos em 2013 e 2014 sugerem, em conclusão, que o povoado se comportou como um importante centro metalúrgico, onde ocorrem também armas excepcionais, cuja presença indica uma realidade social que adiante será discutida. 333 Fig. 57 – Outeiro Redondo. Suportes de lareira recolhidos na Camada 3 (n.os 1 e 2); utensílios de cobre recolhidos na Camada 2 (n.os 3 a 26) e na Camada 3 (n.os 27 a 32). 334 Fig. 58 – Outeiro Redondo. Serras/serrotes ou foices de fio serrilhado recolhidas na Camada 2 (n.os 1 a 18). 335 Fig. 59 – Outeiro Redondo. Serras/serrotes ou foices de fio serrilhado recolhidas na Camada 2 (n.os 1 a 5) e na Camada 3 (n.o 6); anzóis recolhidos na Camada 2 (n.os 7 a 11) e na Camada 3 (n.os 12 e 13). 336 Fig. 60 – Outeiro Redondo. Pingos de fundição recolhidos na Camada 2 (n.os 1 a 10) e Camada 3 (n.os 11 a 15); ponta de seta de espigão e barbelas e alabarda nervurada com lingueta não rebitada recolhidas na Camada 2 (n.os 16 e 17). 337 Fig. 61 – Outeiro Redondo. Algaravizes (tubos de forja) recolhidos na Camada 2 (n.os 1 e 2) e na Camada 3 (n.os 3 a 5). 338 Fig. 62 – Outeiro Redondo. Cadinhos de fundição recolhidos na Camada 2. 339 Fig. 63 – Outeiro Redondo. Cadinhos de fundição recolhidos na Camada 2 (n.os 1 a 3) e na Camada 3 (n.os 4 e 5). 340 Fig. 64 – Outeiro Redondo. Cadinhos de fundição recolhidos na Camada 3. 341 5.7 – Adornos Recolheram-se os seguintes artefactos: – Uma concha de Luria lurida (L., 1758) perfurada, servindo como elemento de adorno, recolhida na Camada 3 (Fig. 65, n.o 1; Fig. 14, n.o 8); – Um fragmento de coral de cor violeta, recolhido na Camada 2 (Fig. 65, n.o 2); – Um botão de osso, recolhido na Camada 2 (Fig. 65, n.o 3; Fig. 14, n.o 7); – Duas contas de colar, uma em mineral verde e outra em concha com marcas de uso (Fig. 65, n.os 4 e 5; Fig. 14, n.o 6), recolhidas na Camada 2. Os objectos de adorno recolhidos não despertam especial atenção, exceptuando o fragmento de coral e a concha perfurada. Quanto ao fragmento de coral, a sua ocorrência vem provar que esta matéria-prima seria já procurada para a confecção de adornos, apesar da colheira ser efectuada em profundidade, eventualmente através de ancinhos que se arrastavam pelo fundo. é provável que a proveniência desta peça se possa situar no litoral algarvio, ou mais além. Seria também daquela região de que proviria a concha de Luria lurida (L., 1758) recolhida, dado que é a que se encontra geograficamente mais próxima. Augusto Nobre refere que recolheu exemplares rolados no Cabo de Santa Maria (Faro) (NOBRE, 1932, p. 129). Mais recentemente, a presença da espécie foi alargada à ria de Olhão, sendo especialmente mencionada em Tavira e arredores (MACEDO, 1999, p. 148), presumindo-se, na falta de outras indicações, que se tratasse de exemplares vivos. Pode pois considerar-se que alguns dos adornos de origem marinha recolhidos revelam ligações com o litoral algarvio, de onde teriam provindo. A presença em outros contextos pré-históricos da região estremenha de adornos de concha com idêntica proveniência foi já anteriormente demonstrada, pela presença de duas contas (de colar ?) de Conus mediterraneus Bruguière, 1792 espécie que actualmente vive apenas no litoral algarvio (NOBRE, 1932, p. 73), nas grutas do Poço Velho, Cascais (CARDOSO & GuERREIRO, 2001-2002). A conta de mineral verde, ainda que não tenha sido analisada, deve ter proveniência idêntica à maioria dos exemplares recolhidos nos povoados calcolíticos da região (Penha Verde, Leceia e Moita da Ladra), a região de Zamora (ODRIOZOLA et al., 2013). 5.8 – Objectos de carácter simbólico ou ritual Nas campanhas de 2014 e 2014 recolheram-se os seguintes exemplares: – Três ídolos cilíndricos lisos (Fig. 65, n.os 9, 10 e 13), todos conservando uma das extremidades, sendo dois de calcário, e o de maiores dimensões de rocha básica diorítica, recolhidos na Camada 2 (Fig. 14, n.os 1, 2 e 4); o exemplar de rocha diorítica apresenta sinais de percussão junto a uma das extremidades, indício de ter sido reutilizado. – Um outro exemplar, de pequenas dimensões, exibe junto da única extremidade conservada a representação de tatuagens faciais (Fig. 65, n.o 11; Fig. 14, n.o 3). Provém da Camada 3; – Um fragmento de placa de xisto decorada (Fig. 65, n.o 12; Fig. 14, n.o 5), muito incompleta, correspondendo ao canto inferior direito, recolhida na Camada 2, exibindo motivo formado por apertadas linhas horizontais em ziguezague, pautadas por linhas verticais, integradas em cartela; – Uma primeira falange de cavalo totalmente afeiçoada por polimento (Fig. 65, n.os14; Fig. 14, n.o 10), por forma a sublinhar a sua forma antropomórfica, recolhida na Camada 2. 342 Fig. 65 – Outeiro Redondo. Objectos de adorno e de carácter ideotécnico. 1 – concha perfurada (Camada 3); 2 – fragmento de coral de cor violeta (Camada 2); 3 – botão de osso (Camada 2); 4 e 5 – contas de colar (Camada 2); 6 a 8 – Esferas perfuradas de cerâmica (Camada 2); 9 a 11 – cilindros lisos (Camada 2) e decorado com “tatuagens” faciais (Camada 3); 12 – fragmento de placa de xisto decorada (Camada 2); 13 – fragmento de cilindro, de diorito, reutilizado (Camada 2); 14 – primeira falange de cavalo afeiçoada por polimento (Camada 2). – Uma concha de mexilhão (Mytilus sp.), de dimensões excepcionais (Fig. 14, n.o 9), recolhida no interior de um pequeno covacho de contorno sub-rectangular escavado no substrato, situado no interior da Cabana R (ver Fig. 8). O conjunto dos artefactos ideotécnicos é pouco numeroso mas muito diversificado. Assim, os ídolos cilíndricos de calcário, totalmente lisos, ou ostentando as bem conhecidas tatuagens faciais, atestam a existência de pequenos altares domésticos, colectivos ou não, no interior do espaço habitado, tal como foi anteriormente referido a propósito dos exemplares recolhidos em Leceia (CARDOSO, 2003 b; CARDOSO, 2009 b). O exemplar de maiores dimensões, de rocha diorítica, com indícios de reutilização, merece destaque, por evidenciar a perda da carga simbólica da representação divina a que se encontrava inicialmente associado. Situação idêntica foi verificada no povoado de Leceia e desde logo valorizada como merecia (CARDOSO, 1989, Fig. 110, n.o 8). O único fragmento de placa de xisto até agora encontrado no Outeiro Redondo é compatível com a cronologia calcolítica do local, que não é anterior a 2600 a.C., correspondendo assim a uma das derradeiras produções deste tipo de objectos. Com efeito, a decoração que ostenta é rara no contexto das placas de xisto, pois os ziguezagues são simples, não se encontrando os espaços por eles definidos preenchidos por reticulado, como é usual, formando faixas horizontais. Semelhança mais próxima foi identificada com a decoração do mesmo tipo de linhas em ziguezague, pautadas por linhas (neste caso horizontais), existentes num cilindro de calcário da gruta do Correio- Mor, Loures (CARDOSO, 2003 c, Fig. 30, n.o 3). Aliás, a presença de placas de xisto em contextos habitacionais calcolíticos, sendo escassa, não é excepcional (veja-se, por ex., o conjunto recuperado em Vila Nova de São Pedro, cf. JALHAY & PAÇO, 1945, Fig. 5, n.os 1, 3 e 4). Em contextos funerários, a sua presença pode ser abundantíssima, como se verificou na tholos de Santiago do Escoural (SANTOS & FERREIRA, 1969). No respeitante à primeira falange de cavalo totalmente afeiçoada por polimento, corporiza a já aludida existência de altares domésticos à divindade calcolítica feminina. Com efeito, este exemplar poderia ser pintado, substituindo assim a pintura a gravação antropomórfica com os atributos característicos da divindade, tão exemplarmente evidenciados pelos dois exemplares recolhidos na lapa da Bugalheira, Torres Novas (CARDOSO, 1995), que integravam, com exemplares totalmente lisos, como o do Outeiro Redondo, um santuário situado num dos lados da cavidade. A presença deste tipo de ídolos antropomórficos encontra-se documentada em outros povoados da região. Em Leceia recolheram-se dois exemplares lisos, em estádios diferentes de transformação por polimento, de modo a acentuar-se uma forma já de si naturalmente antropomórfica, e um exemplar decorado, representado por pequeníssimo fragmento (CARDOSO, 1995, Fig. 2). Outros exemplares, inventariados neste trabalho, documentam a presença em povoados calcolíticos, deste tipo de ídolos: Olelas, Vila Nova de São Pedro, Leceia e, agora, o Outeiro Redondo, são os sítios calcolíticos fortificados que registaram até agora a ocorrência de exemplares lisos e / ou decorados. Enfim, importa valorizar a identificação de ritual de assinalável singularidade identificado no espaço habitado. No interior de covacho de contorno sub-rectangular, escavado nos calcários grumosos jurássicos que constituem o substrato local, situado no interior da Cabana R, correspondente à única estrutura deste tipo reportada ao início da ocupação do sítio, depositou-se uma única valva de mexilhão, de dimensões excepcionais. Como este depósito ritual seria forçosamente coberto pelo piso térreo da cabana, admite-se que esteja associado a uma prática fundacional, que englobaria não só a estrutura habitacional com a qual estava directamente relacionada, mas, tendo presente a antiguidade desta, com o próprio espaço que viria a ser ocupado. Nestes termos, dada a importância do mar e dos recursos dele obtidos no quotidiano da economia 344 alimentar da comunidade ali instalada, não espanta que tenha sido um produto comestível excepcional dele originário que tenha sido escolhido para corporizar o singelo ritual propiciatório fundacional então realizado. Tal realidade tem paralelo, na mesma época, em outros contextos habitacionais estremenhos: em Vila Nova de São Pedro, efectuou-se pela mesma época uma cerimónia ritual que envolveu o enterramento de pelo menos um bovídeo ou de partes do mesmo (PAÇO, 1943) e no povoado do Carrascal, Oeiras, depositaram-se, no fundo de uma fossa circular aberta nos calcários e margas cretácicas, duas porções de hemimandíbulas de boi doméstico (CARDOSO, 2009 c, Fig. 7), denunciando a importância deste animal assim ritualizado, na economia doméstica das comunidades daqueles dois locais, por certo mais importante que o papel desempenhado no Outeiro Redondo. 6 – DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS RESTOS Depois de analisados detalhadamente cada grupo morfológico / tipológico e de terem sido assinaladas as associações entre eles e as diversas estruturas identificadas no terreno, importa registar, de acordo com a sequência estratigráfica conhecida, os resultados da análise da distribuição espacial da totalidade dos artefactos recolhidos pela área escavada. Com base nas observações de terreno e na localização dos artefactos na planta geral da área escavada em 2013 e 2014, verificou-se a existência de determinadas concentrações de espólios, a seguir caracterizadas. Camada 2 – foi possível identificar as seguintes associações de espólios: Muralha G – Catorze pontas de seta dispersas ao longo da estrutura defensiva (Fig. 36, n.os 9, 10, 14 e 20; Fig. 37, n.os 2, 3, 6, 9, 10, 12, 13, 18, 23 e 24). Todas são de sílex excepto um exemplar talhado em xisto jaspóide. Deste conjunto, sete exemplares apresentam a ponta fracturada. Estrutura N – Duas armas e um objecto votivo: uma ponta de seta de cobre, de espigão e barbelas, uma alabarda nervurada munida de lingueta de encabamento desenvolvida, sem rebites (Fig. 60, n.os 16 e 17) e uma enxó votiva, de fibrolite (Fig. 18, n.o 2). Estrutura O1 – Dois cadinhos de fundição, incompletos (Fig. 62, n.o 8; Fig. 63, n.o 3). O inventário dos utensílios recuperados e associados as estas estruturas da Camada 2 é meramente indicativo, já que é certa a existência nesta camada, mais do que na Camada subjacente, como acima se referiu, de assinaláveis movimentos pós-deposicionais, acentuados pelo assinalável declive que caracteriza o espaço habitado, mesmo na plataforma situada do lado nascente, delimitada pela Muralha G, onde se revelou a maior intensidade da ocupação. Esta encontra-se documentada quer pelas unidades habitacionais em geral mal definidas, quer pelos testemunhos das áreas de trabalho específicas, como a que se registou para a Estrutura O1, ligada à metalurgia do cobre. A presença de duas armas de características excepcionais nos inventários – uma delas é mesmo exemplar único – e de uma pequena enxó votiva de fibrolite, recolhidas no mesmo contexto, é também aspecto que deve ser valorizado. Enfim, a concentração de pontas de seta associadas e distribuídas ao longo da Muralha G, e em particular de exemplares com a ponta fracturada devido a impacto, comprovam a natureza da estrutura a nível defensivo. 345 Camada 3 – verificam-se as seguintes associações de espólios. Lareira J – um fragmento de lâmina de sílex castanho (Fig. 28, n.o 21); dois furadores sobre lasca, ambos de sílex cinzento (Fig. 32, n.os 12 e 13); uma lâmina foliácea, elipsoidal, de sílex cinzento (Fig. 35, n.o 12); um fragmento cerâmico de um “copo” decorado com caneluras horizontais simples junto ao bordo, recolhido no interior da estrutura (Fig. 51, n.o 3); dois fragmentos de suporte de lareira (Fig. 56, n.os 17 e 18); um fragmento de pingo de fundição no interior da estrutura (Fig. 60, n.o 12). Cabana R – Três machados, sendo um deles de grande dimensão (Fig. 16, n.o 9; Fig. 17, n.os 1 e 2); um peso de pesca (Fig. 22, n.o 3); um núcleo de lamelas, em sílex cinzento (Fig. 27, n.o 8); uma lâmina inteira, em sílex cinzento, com retoque marginal contínuo em ambos os bordos laterais (Fig. 29, n.o 1) e um fragmento mesial de lâmina em sílex castanho (Fig. 28, n.o 26); duas raspadeiras, ambas em sílex cinzento (Fig. 30, n.os 9 e 13); dois furadores sobre lasca, o primeiro em sílex cinzento e o outro de tonalidades acastanhadas (Fig. 32, n.os 11 e 17); uma lâmina foliácea inteira, em forma de “D”, em sílex anegrado (Fig. 35, n.o 4); – Conjunto de quatro pesos de tear lisos (Fig. 55, n.os 7, 9, 10 e 12) e quatro decorados (Fig. 56, n.os 7 a 10); conjunto de três cadinhos de fundição (Fig. 63, n.os 4 e 5; Fig. 64, n.o 3); conjunto dos três tubos de forja (Fig. 61, n.os 3 a 5); uma concha de mexilhão (Mytilus sp.), de dimensões excepcionais, recolhida no interior de um pequeno covacho escavado no substrato (Fig. 14, n.o 9). Lareira R1 – um fragmento de recipiente cilíndrico executado em diáfise de osso de grandes dimensões, com marcas de serragem (Fig. 40, n.o 16); um conjunto de fragmentos do mesmo recipiente cerâmico recolhidos no interior da estrutura (Fig. 50, n.o 11); um fragmento de suporte de lareira (Fig. 57, n.o 1). Face aos elementos apresentados, verifica-se que algumas das unidades habitacionais do final do Calcolítico Inicial identificadas em 2013 e 2014 podem ser associadas diversos espólios, com interesse relevante. Assim, é de sublinhar que a ocorrência de três dos seis fragmentos de suportes de lareira recolhidos, se associam a estruturas de combustão, comprovando a sua utilização como apoios à confecção culinária ou ao aquecimento de diversos outros produtos. A prática de actividades metalúrgicas encontra-se expressivamente associada a uma destas estruturas, no interior da qual foi recolhido um pingo de fundição (Lareira J). Esta estrutura de combustão ligada à metalurgia, subjacente aos níveis de fundação da Entrada L, corporiza uma fase anterior à construção da Muralha, correspondente com os primeiros ocupantes do Outeiro Redondo no final do Calcolítico Inicial, que já ali praticavam a metalurgia do cobre. Esta estrutura é coeva da Cabana R, de onde se destacam os vários utensílios ligados a actividades metalúrgicas, e à prática da tecelagem. Com efeito, é dali que provêm três fragmentos de cadinhos de fundição, a par de três algaravizes, objectos excepcionais do Calcolítico do território português, e que bem ilustram a importância desta actividade económica logo no início da ocupação do povoado em apreço. Do mesmo modo, a recolha no mesmo espaço doméstico, de oito pesos de tear, vem demonstrar, de forma clara, a existência de um tear na referida cabana. Crê-se que é a primeira vez que se demonstra esta realidade num povoado do Calcolítico estremenho, depois de, no Porto das Carretas, Mourão, se ter verificado a existência de idêntico dispositivo (SOARES, 2013), embora os pesos sejam de distinta morfologia. Mas a importância desta cabana é ainda sublinhada, para além das actividades domésticas nela efectuadas, pela presença de uma deposição ritual de uma concha de Mytilus sp. (mexilhão), de dimensões excepcionais, depositada no interior de uma cavidade escavada no substrato, descoberta a que já foi dado anteriormente o devido destaque. A Lareira R1, ao estar associada à Cabana R, estaria certamente ligada aos trabalhos metalúrgicos, embora nela nada se tivesse encontrado que o provasse. 346 7 – SÍNTESE CONCLUSIVA As escavações realizadas em 2013 e 2014 no povoado calcolítico fortificado do Outeiro Redondo, feitas no seguimento das ali desenvolvidas entre 2005 e 2008, cujos resultados já se encontram publicados, incidiram na plataforma situada do lado nascente do morro calcário, que se admitia possuir especial aptidão para a implantação de estruturas domésticas, conforme se veio a verificar. Assim, sem prejuízo de as conclusões a seguir apresentadas serem integradas em trabalhos ulteriores, que tenham também em consideração as duas últimas campanhas de escavação ali efectuadas em 2015 e 2016, ao abrigo do Projecto de Investigação quadrienal superiormente aprovado pela Direcção Geral do Património Cultural importa desde já apresentar os principais resultados obtidos. 1 – Ao nível das estruturas defensivas, identificou-se o prolongamento para Este, e depois para Norte, de muralha constituída por volumosos blocos calcários, não afeiçoados, de origem local, que integram os dois paramentos da estrutura, provida de enchimento interno de blocos de menores dimensões. O desenvolvimento desta muralha acompanha o ressalto topográfico natural previamente existente, sublinhando a delimitação da plataforma acima referida. Esta muralha corresponde ao único dispositivo defensivo que envolvia a área habitada, conforme se verificou em 2015. Em 2013, identificou-se uma ampla entrada, nela existente, voltada para Sudoeste, delimitada por dois muros rectilíneos mais modernos, cujas características se afiguram mais do foro simbólico do que funcional. Confirmou-se que esta muralha se fundava, ora no substrato geológico, ora em depósitos arqueológicos com espólios do Calcolítico Inicial da Estremadura. Pode, pois, concluir-se que se trata de estrutura do Calcolítico Pleno / Final, na qual estão representadas duas fases construtivas distintas. 2 – Ao nível das estruturas domésticas, os resultados obtidos afiguram-se muito relevantes. A primeira fase construtiva, do final do Calcolítico Inicial, é anterior à construção do recinto defensivo, sendo de destacar a identificação de uma cabana circular, assente no substrato geológico, cujo interior integrava lareira; a segunda fase coeva da sua construção e utilização, no decurso do Calcolítico Pleno / Final está representada por estruturas habitacionais de por qualidade, de planta sub-circular definidas por alinhamentos de blocos, semelhantes às identificadas em Leceia, povoado onde também se observou uma degradação construtiva entre as estruturas habitacionais do Calcolítico Inicial e as do Calcolítico Pleno / Final. Existem pois, duas fases culturais calcolíticas, cada uma delas correspondente a uma fase construtiva bem identificada. 3 – Demonstrou-se a importância de diversas actividades económicas, estreitamente associadas ao quotidiano. As práticas metalúrgicas estão documentadas desde os primórdios da ocupação do local, no final do Calcolítico Inicial, as quais se mantiveram na ocupação seguinte, reportada ao Calcolítico Pleno / Final; a sua importância é um dos aspectos dominantes das actividades económicas aqui evidenciadas, sendo de destacar, a tal propósito, a recolha de numerosos cadinhos, de diversas tipologias, a par de quatro algaravizes, que constituem o conjunto mais importante até hoje recolhido em contextos desta época no território português. O abastecimento em cobre do povoado teria de ser assegurado de forma continuada, sendo crível que os minérios proviessem do Alto Alentejo, tal qual o verificado em Leceia, mas também não será de excluir a possibilidade de a diversificação das fontes se ter já então estendido ao Baixo Alentejo. Do Alentejo proviriam também outras matérias-primas, das quais a melhor representada é o anfibolito, transformado na larga maioria dos instrumentos polidos identificados; as pontas de seta de sílex jaspóide, procuradas provavelmente pelas belas colorações avermelhadas que exibem, denotam também relações com aquela região. 347 Paralelamente, documentaram-se outras actividades domésticas, como a tecelagem, tendo-se identificado, no interior de uma cabana, oito pesos que corporizam um dispositivo de tecelagem. A pesca à linha está expressivamente representada por vários anzóis de cobre; e, pela primeira vez, documentou-se a captura selectiva de pescado através das diferenças de tamanho dos anzóis recolhidos, sem prejuízo do recurso a redes de pesca, de que se identificaram diversos pesos. 4 – A superestrutura religiosa está documentada pela ocorrência de ídolos-cilindro de calcário, que configuram, tal como em outros povoados coevos, a existência de altares domésticos. Mas foi um ritual, talvez de fundação, do próprio povoado calcolítico, que apresenta o maior interesse no quadro das manifestações simbólicas identificadas. Tal ritual envolveu a abertura, nos calcários apinhoados jurássicos, aparentemente intencionalmente aplanados, de um covacho de contorno sub-trapezoidal, no qual se depositou concha de um mexilhão de dimensões excepcionais, recuperada intacta. é assim provável que este ritual se relacione com a importância do mar, incluindo os recursos alimentares por ele proporcionados, configurando uma realidade única, no quadro das práticas rituais até agora identificadas em contextos coevos. REFERêNCIAS BRANDHERM, D. (2003) – Die Dolche und Stabdolche der Steinkupfer der älteren Bronzezeit auf der Iberischen Halbinsel. Stuttgart: Franz Steiner Verlag. CARDOSO, J. L. (1981) – O povoado pré-histórico de Leceia (Lisboa, Portugal). Estudo da colecção do Escultor Álvaro de Brée. 2.ª parte. Revista de Guimarães. Guimarães. 91, p. 120-233. 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