Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Academia.eduAcademia.edu

O Conjunto de gravuras rupestres de Santo Adrião (Caminha, Portugal). Embarcações, armas, cavalos e ex-votos.

2017, Atas do Congresso dos Arqueólogos Portugueses. Lisboa 2017.

Resumo Este artigo pretende dar a conhecer os primeiros resultados dos trabalhos de limpeza, decalque, levantamento fotogramétrico e escavação desenvolvidos no caos de blocos graníticos de Santo Adrião, no concelho de Ca-minha. Os ditos trabalhos permitiram identificar 11 afloramentos com gravuras rupestres, alguns deles com motivos pouco frequentes na arte rupestre do Norte de Portugal. Os motivos registados correspondem a com-posições circulares, armas, quadrúpedes, um reticulado, motivos em U e três barquiformes. Também foram exumados 24 artefactos líticos possivelmente depositados intencionalmente entre as fendas do caos de blocos onde se encontram as gravuras. AbstRAct The aim of this paper is to show the first results of archaeological works of cleaning, recording, photogram-metric survey and excavation developed in Santo Adrião site situated in Caminha council in Northwestern Portugal. During the archaeological works were found 11 new rock art outcrops, some of them with unusual designs in Portuguese rock art. These motifs are cup and rings, weapons, quadrupeds, a grid pattern, u-shaped figures and three boats. There were also collected 24 lithic artefacts probably deposited intentionally into the cracks situated in between the recorded outcrops.

o conjunto de gravuras rupestres de santo adrião (caminha, portugal). embarcações, armas, cavalos e ex-votos Manuel Santos-Estévez1, Ana M. S. Bettencourt2 RESUMO Este artigo pretende dar a conhecer os primeiros resultados dos trabalhos de limpeza, decalque, levantamento fotogramétrico e escavação desenvolvidos no caos de blocos graníticos de Santo Adrião, no concelho de Caminha. Os ditos trabalhos permitiram identificar 11 afloramentos com gravuras rupestres, alguns deles com motivos pouco frequentes na arte rupestre do Norte de Portugal. Os motivos registados correspondem a composições circulares, armas, quadrúpedes, um reticulado, motivos em U e três barquiformes. Também foram exumados 24 artefactos líticos possivelmente depositados intencionalmente entre as fendas do caos de blocos onde se encontram as gravuras. Palavras-chave: Norte de Portugal, Gravuras rupestres, Quadrúpedes, Embarcações, Ex-votos líticos. ABSTRACT The aim of this paper is to show the first results of archaeological works of cleaning, recording, photogrammetric survey and excavation developed in Santo Adrião site situated in Caminha council in North-western Portugal. During the archaeological works were found 11 new rock art outcrops, some of them with unusual designs in Portuguese rock art. These motifs are cup and rings, weapons, quadrupeds, a grid pattern, u-shaped figures and three boats. There were also collected 24 lithic artefacts probably deposited intentionally into the cracks situated in between the recorded outcrops. Keywords: North of Portugal, Rock art, Quadrupeds, Boats, Lithic artefacts offerings. 3 1. INTRODUÇÃO O sítio arqueológico fui descoberto, em 20133 e registado no Corpus Virtual de Arte Rupestre – CVARN (Bettencourt e Santos-Estévez, 2014). Na altura, apenas foi identificado um afloramento gravado, a que se deu a designação de Santo Adrião 1 (STA 1). A intensa vegetação que povoava o local impediu, então, a prospeção intensiva da área. Foi apenas em julho de 2015, no âmbito de um novo projeto intitulado Paisagem e Representação do Poder na Pré-história Recente: Arte Atlântica e Estátuas-Menir (PARES) que se procedeu à limpeza da vegetação local e ao estudo sistemático do mesmo. O resultado deste trabalho possibilitou a descoberta de mais 10 afloramentos gravados, a maioria deles com temas raros no contexto da arte rupestre do noroeste português, bem como de artefactos líticos detetados no interior das fendas existentes entre eles. Impunha-se, assim, dar a conhecer este importante lugar gravado e tecer algumas considerações sobre o seu papel no contexto da arte rupestre do Noroeste. 1. Laboratório de Paisagens, Património e Território – Lab2PT, Departamento de História da Universidade do Minho, Braga, Portugal. Bolseiro de pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia; manuel.santos@mundo-r.com 2. Laboratório de Paisagens, Património e Território – Lab2PT, Departamento de História da Universidade do Minho, Braga, Portugal; anabett@uaum.uminho.pt 3. Pelo engenheiro Horácio Faria, morador em Afife, concelho de Viana do Castelo, a quem agradecemos as informações prestadas. 1055 2. LOCALIZAÇÃO DO SÍTIO, CONTEXTO FÍSICO E AMBIENTAL E CONTEXTO ARQUEOLÓGICO A estação arqueológica de Santo Adrião localiza-se na freguesia de Âncora, concelho de Caminha, distrito de Viana do Castelo, no Norte de Portugal. As coordenadas geográficas em graus, minutos e segundos, segundo o sistema WGS 84, são as seguintes: Lat. 41º 47’ 04’’ N; Long. 8º 50’ 34’’ W, à altitude de 223 metros. Santo Adrião está implantado num patamar natural, a meio da vertente oeste do Monte do Cúturo, a noroeste da serra da Santa Luzia, numa área de transição entre os cumes da serra e o curso inferior da bacia do rio Âncora. Trata-se, portanto, de uma local que apresenta uma boa visibilidade sobre a costa e a foz do respetivo rio (a noroeste) e a penedia do topo do Cúturo (a sudeste) (Figuras 1 e 2). Segundo a Carta Geológica de Portugal, na escala 1/200000, o substrato geológico local é composto por granito de grão médio de duas micas que aflora abundantemente, em impressivos caos de blocos. Aquele onde se encontram as gravuras é o mais destacado no patamar onde se implanta e facilmente visualizado para quem se aproxima do local oriundo de qualquer quadrante (Figura 1). O modo como alguns afloramentos se dispõem originam abrigos pequenos e pouco profundos, abertos a noroeste, atualmente esvaziados de sedimentos. Entre os diferentes afloramentos há, ainda, inúmeras fendas, sendo de destacar uma que, a partir de oeste/noroeste, possibilita o trânsito humano até ao “centro” deste caos de blocos onde se encontra um afloramento algo destacado, de contorno retangular e de topo aplanado, onde existem inúmeras pias de origem natural. O acesso a este afloramento também se encontra muito facilitado pelo lado este, com entrada pela área onde se concentram três das gravuras aqui estudadas: as números 1, 2 e 6 (Figura 2). De notar que é, também, a partir destes dois corredores de acesso ao “centro” do caos de blocos que se tem possibilidade de aceder ao afloramento gravado nº 3, localizado, a norte, a uma quota mais elevada do que a maioria. De salientar que os restantes afloramentos gravados deste amontoado de blocos se encontram na sua extremidade su-sudeste e sudeste. O vale do Âncora seria rico em estanho de aluvião, tendo presente que nas vertentes oeste da serra de Arga, onde este rio nasce, há abundantes jazidas primárias deste minério (Pereira, 2012). Atualmente, o espaço apresenta um coberto vegetal arbóreo intenso, composto, essencialmente, por espécies invasores, como o eucalipto e a acácia. No que diz respeito à vegetação arbustiva, destacam-se as giestas e os tojos. Sem este tipo de vegetação o local seria visível desde longe (Figura 2). Na área existem inúmeros sítios arqueológicos. Para além das gravuras rupestres de Santo Adrião 8, 9 e 11, descritos neste trabalho, conhecem-se outros afloramentos gravados nas imediações. Referimo-nos à Matança, a cerca de 700 metros para oeste-noroeste, já na freguesia de Afife, com composições circulares de estilo atlântico (Bettencourt et al., 2014); ao conjunto de Chão do Cano, em Âncora, a cerca de 1 km para nor-noroeste, também com composições circulares de estilo atlântico, a par de outras consideradas mais recentes (Bettencourt e Amorim, 2014) e ao conjunto do Facho 1 e 2, Âncora, com diversos quadrúpedes, a cerca de 1,5 km para noroeste (inédito). São, também, conhecidos monumentos funerários sob tumuli nas imediações, tais como a Mamoa da Chã de Afife, Afife, a cerca de 3 km para sudeste (inédita), a Mamoa da Ereira/ Madorro, Afife (Silva 1988), a cerca de 2,7 km para oeste-noroeste, e a Mamoa da Aspra/Cova da Moura, Âncora (Silva,1989) com câmara em fossa e depósito de vasos campaniformes, que deverá inserir-se no Calcolítico ou no Bronze Inicial, a cerca de 2,2 km para norte-noroeste. O povoamento proto-histórico materializa-se nos povoados do Cúturo, a cerca de 500 m para sudeste, da Cividade/Suvidade, a cerca de 1,5 km para oeste-noroeste (Silva, 1986) e de Santo António, a cerca de 1,7 km para oeste-sudoeste, este com ocupação, pelo menos, a partir do Bronze Final (Bettencourt, 2013). 3. METODOLOGIA Os trabalhos em Santo Adrião passaram por diversas etapas a saber: corte de parte da vegetação arbórea composta por infestantes; eliminação das arbustivas e limpeza de musgos e líquenes das superfícies rochosas; escavação dos sedimentos nos interstícios dos afloramentos; escavação de um dos abrigos – abrigo 1; sondagem arqueológica na plataforma existente a este do aglomerado; decalque dos motivos gravados sobre plástico polivinilo e canetas de acetato e reprodução mediante fotogrametria. 1056 A limpeza de musgos e líquenes foi realizada a seco, com escovas de plástico. A escavação dos interstícios e diaclases dos afloramentos, do abrigo 1 e da sondagem foi realizada com a ajuda de colherins e de pequenos picos, e tendo em atenção a existência de diferentes unidades estratigráficas que, quando apareceram, foram descritas, numeradas e registadas gráfica e fotograficamente. Todos os achados foram devidamente georreferenciados no sistema de coordenadas geográficas WGS84, cotados, etiquetados e inseridos numa ficha de espólio arqueológico. O estudo das gravuras foi realizado macroscopicamente mediante observação com luz natural, a diferentes horas do dia, por vezes, com luz orientada através de um espelho; observação com luz artificial, à noite; decalque; fotografia digital e fotogrametria. Na fotogrametria foram usados dois programas informáticos. O primeiro foi o Agisoft Photoscan, que permitiu realizar um registo tridimensional dos afloramentos com motivos gravados. Numa segunda fase o modelo tridimensional foi tratado no programa Meshlab para tornar mais visíveis as gravuras no modelo. Este programa destaca, com tonalidades diferentes, as superfícies convexas e as côncavas. 4. RESULTADOS Além de Santo Adrião 1, foram identificados mais 7 afloramentos com gravuras no caos de blocos granítico e outros 3 na área envolvente. Os afloramentos foram descritos em termos físicos e geomorfológicos, bem como os respetivos motivos neles inscritos, tendo-se especial atenção ao modo como se distribuíam na topografia dos afloramentos. Foram identificados painéis, quando existentes, e descrita a composição de cada um. Por fim teceram-se apreciações de ordem técnica sobre os métodos de gravação. 4.1. Afloramentos gravados no seio do caos de blocos 4.1.1. Santo Adrião 1 (STA 1) Corresponde a um afloramento granítico relativamente sobrelevado (0,60 m de altura máxima) com contorno grosseiramente trapezoidal, localizado na extremidade nascente do caos de bloco. Tem cerca de 4,07 m de comprimento por 1,01 m de largura máxima. Em termos gerais, está orientado de sudoeste para nordeste, tal como a superfície gravada, que, apesar de aplanada, apresenta declive relativa- 1057 mente acentuado para nordeste, onde é menos sobrelevada (Figura 3). No que diz respeito aos motivos, STA 1 apresenta apenas um painel gravado com motivos que se dispõem de sudoeste para nordeste. Aí foi possível identificar o que parece uma alabarda à qual se teria adossado uma espada sem encabar, através de um sulco menos largo do que aqueles que definem o motivo anterior (Bettencourt e Santos-Estévez, 2014). Há ainda outro sulco profundo, paralelo às referidas armas, e diversos motivos difíceis de identificar. Os motivos foram gravados por percussão seguida de abrasão. 4.1.2. Santo Adrião 2 (STA 2) O afloramento granítico de Santo Adrião 2 (STA 2), com orientação de noroeste para sudeste, apresenta dimensões consideráveis (cerca de 3,98 m de comprimento, por 2,10 m de largura máxima e 1,70 m de altura máxima), sendo um dos mais impressivos do local. Trata-se de um afloramento de cor cinzenta clara, de grão médio a grosseiro, possuindo várias diaclases, pequenos encraves de quartzo e pias em formação e outras já formadas. A sul nota-se que foi fraturado. Encontra-se a norte de Santo Adrião 1 sendo visível pela mesma audiência. Aí distinguiram-se dois painéis gravados por intermédio de percussão, seguida de abrasão. O painel 1, no topo aplanado do afloramento, foi gravado com um barquiforme que se oriente quase de este para oeste. Tem 1,25 m de comprimento, fundo aplanado e o que parece ser a proa definida por dois pequenos sulcos, um curvo para o interior e outro recto que, em associação, fazem lembrar a cabeça de um animal. A popa é definida por um sulco curvo para o interior. No interior registam-se 5 sulcos verticais pequenos (que talvez representem a tripulação) e um sulco de maior dimensão (mastro?) que parece ter algo amarrado no topo (vela?). Há, ainda, duas figuras ovaladas na parte dianteira da embarcação que poderão representar cobertos ou tendas. No canto superior esquerdo da composição, a noroeste, observa-se um motivo formado por um círculo com apêndice (um astro?). Sob o barquiforme há, ainda, uma covinha que se associa a um motivo composto por outra covinha rodeada por um círculo aberto, que se prolonga num apêndice (Figura 4). O painel 2, situado na parte inferior do afloramento, a 0,40 m do solo atual, sob uma espécie de pala, apresenta dois barquiformes, que também se orientam de oeste para este. O situado à esquerda da composição tem 18 cm de comprimen- to, fundo plano, proa e popa bem destacadas e ligeiramente curvadas para o interior e um sulco central (marinheiro?). O barquiforme situado à direita, tem 32 cm de comprimento, fundo tendencialmente plano, parecendo mais arqueado junto à eventual proa. A proa e popa são curvadas para o interior. Do seu interior saem 4 sulcos verticais que poderão representar a tripulação. No exterior do casco há 6 sulcos que talvez representem os remos. A figura junto ao que parece a proa, por se encontrar mais levantada, não se articula com os remos. Quer no barquiforme maior como neste, na base das proas, há um pequeno sulco horizontalizado como um prolongamento da proa, semelhante a um rostro náutico (Figura 4), pormenor que ainda se encontra em algumas embarcações tradicionais dos rios do norte de Portugal4 e que facilita a atracagem (Figura 4). 4.1.3. Santo Adrião 3 (STA 3) Santo Adrião 3 (STA 3) situa-se numa das parte mais alta do caos de blocos. Tem cerca de 6,70 m de comprimento, por 3,10 m de largura máxima e 2,50 m de altura e um contorno trapezoidal. Apresenta uma orientação noroeste – sudeste e uma superfície superior praticamente plana, embora com uma ligeira inclinação para noroeste. As gravuras distribuem-se, apenas, pela superfície localizada no topo do afloramento, correspondendo aos motivos gravados a maior altitude de todo o conjunto de Santo Adrião. Aí identificou-se um reticulado, que corresponde ao motivo central do painel, encimado por uma covinha. Pelo lado nordeste existe um cavalo de cabeça erguida e cauda levantada em posição de alerta. Orienta-se para sudoeste e está montado por um cavaleiro. Este transporta no braço direito, levantado, o que parece ser uma vara em posição de ser lançada para o reticulado. O braço esquerdo segura as rédeas. A sudoeste da composição há, ainda, dois motivos em forma de U ou duas ovais abertas. Os motivos foram gravados por intermédio da técnica de percussão, seguida, aparentemente, de abrasão. A sudoeste e sudeste observam-se duas grandes pias naturais às quais foi adicionado um canal artificial, ligando-as entre si (Figura 5). A pia mais a sudeste abre-se para uma parede vertical com inúmeras fraturas superficiais que lhe conferem um aspecto de broa. Na experiência que fi4. Uma das signatárias (AMSB) inventariou alguns embarcações fluviais de madeira com esta característica, no rio Lima, no âmbito do projeto Celebração da Cultura Costeira. zemos ao colocar água na pia maior verificou-se que esta escorre para a segunda pia e, daí, para a referida parede, penetrando no solo (submundo?). Para que tal acontecesse com facilidade, a quantidade de líquido vertido na pia grande teria que ser significativa, pois o sulco entre as pias, está ligeiramente sobrelevado em relação ao fundo da pia maior (Figura 5). 4.1.4. Santo Adrião 4 (STA 4) Santo Adrião 4 (STA 4) situa-se a 4 m a sudeste de Santo Adrião 1. Corresponde a um afloramento de pequenas dimensões, com cerca de 1,28 m de comprimento, por 2,25 m de largura e 1,35 m de altura, existente na periferia do caos de blocos. Os motivos gravados encontram-se numa superfície quase vertical, num único painel. Aí foram identificados 5 sulcos, alguns deles parecendo formar cruciformes e a letra “P”, que se creem de cronologia histórica. A destacar uma covinha isolada e um sulco meandriforme nas extremidades do qual se gravaram covinhas, e que se assemelha vagamente, a um serpentiforme de duas cabeças. Tecnicamente estes motivos foram gravados de forma semelhante às outras gravuras. 4.1.5. Santo Adrião 5 (STA 5) Santo Adrião 5 (STA 5) corresponde a um afloramento granítico com cerca de 4,94 m de comprimento, por 2,15 m de largura e 0, 68 m de altura máxima, relativamente ao solo atual. Possui duas diaclases de maior dimensão, entre outras menores. Um pouco por toda a superfície, mas com maior concentração na área sudoeste, observam-se inúmeros estalamentos e marcas que parecem corresponder a extração de pedra, em tempos históricos. Embora a superfície gravada seja relativamente inclinada, a restante superfície é bastante plana. Possui apenas um painel gravado, virado a nordeste, com um motivo que forma um V invertido, no vértice do qual existe uma covinha com 5 mm de profundidade. Este motivo foi realizado por percussão seguido de abrasão. 4.1.6. Santo Adrião 6 (STA 6) Localiza-se entre os afloramentos 1 e 2. Trata-se de um afloramento de pequenas dimensões, orientado de sudoeste para nordeste, com cerca de 1,91 m de comprimento, por 1,64 m de largura e 0,54 cm de altura. Possui apenas um painel com uma gravura que corresponde a um círculo de pequenas dimensões, gravado a este. Este foi realizado por percussão seguido de abrasão. 1058 4.1.7. Santo Adrião 8 (STA 8) Localiza-se na extremidade su-sudeste do caos de blocos de Santo Adrião, num afloramento com orientação sudoeste – nordeste. Tem cerca de 3,60 m de comprimento, por 2,08 m de largura e 1 m de altura máxima. A superfície gravada corresponde a uma parede quase vertical, com inúmeras diaclases e alguns encraves e está virada para este. Cada motivo está delimitado por diaclases, sendo que três deles são claramente quadrúpedes, talvez cavalos muito esquemáticos (embora o motivo 3 tenha aparentemente uma pata em falta). Há, ainda, um outro motivo indeterminado (o nº 4). Analisando em pormenor os 3 quadrúpedes partimos do princípio que a cauda corresponderá ao sulco curvo, pelo que o motivo 1 parece estar orientado de sudeste para noroeste, o motivo 2 de este para oeste e o motivo 3 de nordeste para sudoeste. Caso o motivo 4 seja um zoomorfo bastante erodido, este estaria a dirigir-se de nordeste para sudoeste ou vice-versa. Resulta curioso constatar que o motivo 2 é semelhante à própria forma do afloramento, que visto de sudeste faz lembrar a parte superior e o pescoço de um cavalo (Figura 6). 4.2. Afloramentos gravados no exterior do caos de blocos 4.2.1. Santo Adrião 7 (STA 7) Santa Adrião 8 corresponde a um afloramento granítico situado na periferia do caos de blocos e implantado a escassos metros para nordeste deste. Apresenta uma forma piramidal, medindo cerca de 1,80 m de comprimento, por 1,70 m de largura e 1,15 m de altura. Não se visualizam diaclases consideráveis, apenas alguns encraves de quartzo. Apresenta um único motivo gravado no topo “pontiagudo” do afloramento, correspondendo a um círculo concêntrico de duas voltas, parcial, que o rodeia pelo lado este. Encontra-se em avançado estado de erosão (Figura 7). 4.2.2. Santo Adrião 9 (STA 9) Santo Adrião 9 corresponde a um afloramento granítico implantado a 500 m para nordeste do caos de blocos de Santo Adrião. O afloramento encontra-se orientado de nordeste para sudoeste e mede cerca de 2,95 m de comprimento, por 0,96 m de largura e 0,40 m de altura. Apresenta algumas diaclases e alguns encraves de quartzo. Há apenas 1 painel. Este localiza-se na superfície mais alta do afloramento e é composto por um círculo aberto, a partir do qual sai 1059 um pequeno apêndice. À volta deste existe um círculo, também aberto em dois locais. Ocorre, ainda um segmento de círculo, que se anexo ao segundo círculo. A impressão final é de um círculo concêntrico de 3 voltas, incompleto, mas atravessado por um sulco (Figura 8). 4.2.3. Santo Adrião 10 (STA 10) Santo Adrião 10 é um afloramento granítico implantado a 450 m a leste do núcleo de gravuras principal de Santo Adrião, localizado num antigo caminho de terra batida, atualmente descontinuado, nas cercanias de Santo Adrião 9. Tendo em conta a sua inserção no caminho, não é de estranhar que o mesmo seja medianamente regular, e esteja quase à cota do solo, sendo que na sua parte mais elevada dista apenas 0,15 m do solo. Embora esteja parcialmente coberto, apresenta cerca de 4,80 m de comprimento visíveis, bem como 1,74 m de largura. No que diz respeito aos motivos presentes, identificou-se, apenas, uma cruz latina com base triangular. Tratar-se-á de uma cruz com peanha. Tendo em conta as características do próprio motivo, estaremos provavelmente perante uma gravura do período Medieval ou Moderno. 4.2.4. Santo Adrião 11 (STA 11) Trata-se de um afloramento granítico implantado a 2 m a sul do caos de blocos. Com uma orientação de nordeste para sudoeste, o afloramento mede cerca de 2,74 m de comprimento, 1,5 m de largura e 0,64 m de altura máxima relativamente ao solo. A superfície, onde podemos observar cinco pias de origem natural, mas com possíveis alterações artificiais, é plana. De registar dois sulcos antrópicos que ligam, algumas pias entre si. 4.3. Espólio encontrado nas fendas e no abrigo 1 do caos de blocos No decorrer dos trabalhos de remoção dos sedimentos existentes entre as fendas dos afloramentos e na camada humosa que cobria o abrigo 1, foram exumados artefactos líticos de diferentes tipos e alguns seixos rolados de quartzito. Os artefactos líticos subdividem-se em dois grupos: os realizados em pedra polida e os executados em pedra lascada. No primeiro grupo destacam-se 2 moventes de moinhos manuais, fragmentados, em granito, um deles com grande desgaste da superfície de moagem. No segundo grupo registam-se diversos objetos sobre seixos rolados, como 2 seixos com entalhes unifa- ciais; 1 seixo talhado bifacialmente; 2 percutores – um deles sobre seixo fragmentado; 1 núcleo e 2 lascas não retocadas. Os seixos rolados de diferentes dimensões e formas, tanto se encontravam inteiros, como fragmentados. A este conjunto deve associar-se uma pequena esfera, em granito. Há que destacar 1 bloco granito de contorno sensivelmente retangular, com 25 cm de comprimento, por 15 cm de largura e 10 cm de espessura. Numa das suas faces apresenta-se gravado com três sulcos, desiguais em largura, que, articulando -se com pequenas irregularidades naturais, formam um motivo sub -retangular (Figura 9). Há que reconhecer que não é possível saber qual o contexto original de todos estes artefactos pois encontravam-se inseridos em camadas de enchimento das fendas, sem quaisquer carvões que permitissem datações de radiocarbono. O bloco gravado foi exumado quando se limpou a camada humosa e única do abrigo 1, mas poderá ser oriundo de uma camada antiga e ter permanecido, mais ou menos in situ, devido ao seu peso, enquanto os restantes sedimentos foram erodidos. Um dos moinhos foi depositado a 4 m ao sudoeste de STA 1 e o outro a 8,50 m ao oeste deste afloramento. Os percutores foram localizados a 2 m ao norte de STA 1 e num abrigo situado a 9 m ao norte de este mesmo afloramento. O restante conjunto de peças encontradas foi registado nas fendas situadas entre os afloramentos STA 1, 2, 3 e 4 e no abrigo situado a 2 m a noroeste de STA 3. Na envolvente de STA 5, 6 e 7 não apareceram peças. Estes materiais foram depositados no Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, em Braga. 5. DISCUSSÃO DOS DADOS E INTERPRETAÇÕES O conjunto de resultados obtidos no âmbito dos trabalhos desenvolvidos no conjunto pétreo do Santo Adrião permite colocar a hipótese de que se está face a um lugar de grande importância no contexto da arte rupestre do noroeste português, pois apesar das composições gravadas não serem em grande número, apresentam uma iconografia pouco frequente na região que importa integrar em termos cronológico -culturais e interpretar. De registar, ainda, os afloramentos gravados com iconografia clássica da arte atlântica, nas imediações deste espaço, cuja localização será discutida. 5.1. Inserção cronológico -cultural A primeira ocupação deste local ter-se-á verificado no Neolítico5 através da gravação de dois afloramentos (STA 8 e STA 9) com composições circulares de estilo atlântico. Referimo -nos, particularmente, a Santo Adrião 8, pelo facto de se localizar em área contígua ao caos de blocos, e no caminho de acesso à passagem natural que permite aceder ao seu centro. Esta particularidade, associada à forma pontiaguda do afloramento e ao local onde se gravou o motivo, no seu topo, parece indiciar que este se constitui como uma mnemónica do próprio amontoado pétreo que o “domina” pelos lados noroeste, oeste e sudoeste. Assim sendo, o caos de blocos poderia ter já uma grande significação simbólica desde o Neolítico, mesmo sem ter sido gravado. De notar que Santo Adrião 9, embora a cerca de 500 m para nordeste deste local, se localizado, também, numa das vias naturais que lhe dá acesso. De uma forma geral podemos considerar que estes dois afloramentos se localizam num corredor de circulação entre o vale e o topo da serra, sendo possível que estivessem articulados com os lugares gravados da Matança e de Chão do Cano, de iconografias similares, mas a quotas mais baixas e com maior complexidade de motivos. Tal reproduz, à escala de análise local, a lógica de distribuição da arte atlântica do noroeste português (Bettencourt, 2009, 2017a; Cardoso, 2015) mas, também, da Galiza (Bradley et al., 1995; Bradley, 1997; Santos-Estévez, 1998). A materialização do papel simbólico do caos de blocos de Santo Adrião parece ter-se verificado, apenas, durante o Bronze Inicial, através da gravação de uma possível alabarda em Santo Adrião 1. Ainda durante a Idade do Bronze, ter-se-ia gravado, no mesmo afloramento, uma espada, como se se quisesse representar um depósito compósito. De notar que ambas as armas estão em posição passiva, num afloramento, cuja inclinação indicia que estes objetos se interrelacionariam com uma fenda existente na base do afloramento ou com o subsolo6. Algures durante a Idade do Bronze, talvez no Bronze Final ou na Idade do Ferro, e em frente a STA 1 5. É adotada neste trabalho a cronologia proposta Alves (2003) para a arte atlântica do Noroeste ibérico. 6. Foi efetuada uma sondagem arqueológica em frente deste afloramento e de STA 2 e STA 6 com o objetivo de se encontrarem deposições que se articulassem com as gravuras mas estas não revelaram qualquer atividade antrópica. 1060 foram gravadas três representações de embarcações. Em termos estilísticos devemos destacar que cada uma delas apresenta um “desenho” diferente, como se representassem tipos de embarcações distintas. A maior, provida de mastro e de cobertos para pessoas ou carga, seria a de longo curso, sendo as restantes, de tipo canoa, propícias para varar na areia. Em abono desta hipótese, note-se que, em ambas, se representam marinheiros e, numa delas, os remos. A ideia que se tem é de que estamos face a uma narrativa em que se conta uma cena de desembarque real, mítica ou mitificada. De notar que a própria orientação dos barcos, assim o sugere. Claro que a diversidade das três embarcações poderia explicar-se, igualmente, pelo facto de terem sido gravados em diferentes momentos, mas a uniformização tecnológica dos sulcos com que foram gravadas, em termos de profundidade e de largura, não permite defender tal hipótese. As representações de barquiformes são raras no noroeste de Ibéria, sendo na área costeira entre a ria de Vigo e a foz do rio Lima que se conhece o maior número de representações de barcos de cronologia pré ou proto -histórica. Aqui encontram-se os barquiformes de Borna, em Meira, Galiza (García Alén e Peña Santos, 1980), de Rio Vilar, em Oia, Galiza (Costas et al., 1995), da Laje da Churra, em Carreço, Viana do Castelo (Santos, 2014) e da Eira do Louvado, em Carreço, Viana do Castelo (Bettencourt e Santos, 2014). Mais para o interior registam-se possíveis barquiformes em Passos 3, Monção, no vale do Minho (Bettencourt, 2014), e na Bouça da Miséria, Guimarães, no vale do Ave (Cardoso, 2015). No entanto, os mais parecidos com o caso de estudo são os da Laje da Churra, localizada a cerca de 4 km a 5 km para sudoeste de Santo Adrião 2. Neste afloramento há, também, uma grande diversidade destes motivos, que Santos (2014) subdividiu em barquiformes com mastro e barquiformes de tipo canoa, existindo, neste grupo, alguns muito similares aos representados no painel 2 de STA 2, embora os portadores de mastro sejam distintos. Tal poderá indiciar que as embarcações de tipo canoa seriam de origem local e bem conhecidas nos estuários e na costa do noroeste, daí a sua similitude entre sítios, e que as embarcações com mastros, seriam de origem forânea, provavelmente atlântica7 e, possivelmente, 7. Apesar de se defender a navegação fluvial e por cabotagem no atlântico ocidental, desde o Neolítico, é a partir da 1061 de diferentes proveniências, pelo que é natural que a sua representação seja algo distinta de caso para caso (Figura 10). No entanto todos são portadores de proas e popas proeminentes e de cascos achatados, características propícias à navegação no atlântico8. Algures no Bronze Final ou nos inícios da Idade do Ferro, ter-se-á gravado o cavaleiro de Santo Adrião 3 que parece querer arremessar uma arma em direção do reticulado aí existente. Tal indicia que este motivo representa algum tipo de adversidade ou obstáculo a ultrapassar. De notar que nesta composição há dois motivos em forma de U invertido, tradicionalmente designadas por ferraduras e inseríveis no Grupo II do Noroeste (Baptista, 1983-84), na Arte Esquemática Atlântica (Santos-Estévez, 2007) ou na Arte Esquemática (Santos, 2008) que têm vindo a ser atribuída a distintas cronologias, desde o Neolítico à Idade do Ferro. Os autores deste texto subscrevem cronologias proto -históricas para este motivo, com Bettencourt (2017a) a considerar que é posterior ao Bronze Inicial e pertencente à Arte Esquemática Recente, e Santos-Estévez (2007) a considerá-lo como do 1º milénio a.C. Já os quadrúpedes de Santo Adrião 8, de estilo distinto do representado em Santo Adrião 3, são de mais difícil classificação. Em suma, o caos de blocos de Santo Adrião terá sido foco de atividade social e simbólica por uma ampla diacronia, desde o 4º ao 1º milénios a.C. 5.2. Interpretação Interpretar estes lugares é tarefa difícil para qualquer arqueólogo, tanto mais que Santo Adrião, no âmbito da sua ampla diacronia, poderá ter sido palco de vários sentidos. Se a arte atlântica poderá corresponder a uma forma de “praticar” o espaço experienciado pelas comunidades neolíticas é de admitir que seja, globalmente, contemporânea da construção dos monumentos megalíticos que se distribuem no vale (Mamoa da Ereira) ou no topo da serra de Santa Luzia (Mamoa da Idade do Bronze que o fenómeno está bem documentado, sobretudo a partir das descobertas das embarcações de North Ferriby, para as quais se admite poderem ter tido mastros amovíveis, e de Dover, na Grã-Bretanha. Sobre o assunto consultar Guerrero Ayuso (2009). 8. Embora para época mais recente as fontes clássicas descrevam as embarcações do Canal da Mancha com características similares (Guerrero Ayuso, 2009). Chã de Afife), sendo possível que os lugares gravados pudessem, entre múltiplas significações, marcar espaços liminares no seio dos caminhos vivenciados pelos seus construtores, ainda portadores de um modo de vida pautado por alguma mobilidade num território circunscrito (Bettencourt, 2009; 2013). Sendo frequente no Noroeste a deposição de fragmentos de moinhos nos montículos que caracterizam os monumentos megalíticos, cabe perguntar se serão desta fase a deposição de moinhos moventes no caos de blocos de Santo Adrião? E neste caso, o que significarão, além de estabelecerem uma ligação entre diferentes lugares? O moinho transforma a matéria, seja a pedra, a argila, o ocre, o grão. Assim sendo, significarão metáforas de transformação (do mundo, das pessoas, das plantas e dos animais)? E a sua deposição? Será resultado de ações de agradecimento ou de evocação? Em relação às gravações de armas defendeu-se, em texto recente (Santos-Estévez et al., 2017), que poderão representar metáforas de oferendas às “divindades” ou aos espíritos dos lugares. De notar que, no caso concreto, elas orientam-se, simultaneamente, para uma fenda, ou seja, para o interior da terra (sagrada?) e para nordeste, onde nasce o sol no solstício de verão. Quanto aos barquiformes é admissível pensar que resultem da materialização de cultos de origem forânea em lugares cerimoniais endógenos onde existissem cultos, aparentemente similares, funcionando como ideogramas de viagens míticas ou mitificadas (Bettencourt, 2017b). Talvez por essa razão o local escolhido esteja relativamente perto da costa e com visibilidade sobre ela, nomeadamente sobre a foz do rio Âncora que desagua num porto natural. Face à orientação dos barcos (este-oeste) e à associação do barco com mastro com um motivo circular com apêndice, existente a noroeste, cabe perguntar se não estaremos perante representações de mitologia celeste (viagens celestes?). De notar que, tanto Santo Adrião 1 (com armas), como Santo Adrião 2 (com barcos) e Santo Adrião 6, com um pequeno círculo a este (o sol?), se organizam, espacialmente, num pequeno anfiteatro virado a nascente. Não cremos que estas características sejam acidentais, pelo que colocamos a hipótese de que este conjunto de motivos gravados poderão interrelacionar-se e relacionar-se, pelo menos em parte, com ritos associados ao tempo cíclico, durante a Idade do Bronze ou inícios da Idade do Ferro. Terá o motivo sub -retangular, gravado no pequeno bloco granítico, sido depositado durante esta fase de vida de Santo Adrião? De notar certa semelhança com o símbolo presente em algumas estátuas-menires da Pré-história Recente do Noroeste, a que se dá o nome convencional de estola. Ao ser assim, corresponderia este símbolo à personificação da estátua-menir e do seu significado? O que referir em relação às restantes materialidades (artefactos sobre seixos e seixos) encontradas nas fendas e nos espaços entre penedos? Se alguns seixos poderiam ter sido trazidos em épocas históricas aquando da extração de pedra manual que ocorreu no local, podendo ter sido usados como cunhas, (principalmente os fragmentados) cremos que, pelo menos os que se encontram em ótimo estado de conservação, poderão indiciar deposições intencionais, ou seja, oferendas ao lugar, no contexto da visitação cíclica do locus9. No entanto, os seixos fragmentados também poderiam ter sido ferramentas de gravação que, pelo facto de permitirem insculpir os signos representativos do mundo simbólico, se tornariam significantes. De notar que este tipo de achados também foram documentados numa escavação levada a cabo na entrada do abrigo de Pedra Furada, em Campo Lameiro, na Galiza, cujo acesso foi gravado com arte Atlântica. Aí foram encontrados dois seixos rolados de forma alongada (Santos-Estévez, 2013). Na Suécia, na região de Bohüslan, também foram registados artefactos líticos e cerâmicos no interior de fendas de afloramentos com gravuras rupestres da Idade do Ferro (Bengtsson e Ling, 2008). Ao aceitarmos a hipótese da deposição intencional, cabe perguntar se tais objetos teriam sido amortizados diretamente no interior das fendas ou depositadas sobre o caos de blocos e, com o tempo, terem escorregado para os interstícios existentes entre os penedos? Apesar de não termos resposta para estas questões é notório que a sua procedência seria marinha ou fluvial, tendo sido trazidos para o local a partir das margens do rio ou das praias (dada a característica achatada de alguns seixos). Talvez os ar- 9. Tal como foi referido, as sondagens arqueológicas realizadas em área contígua ao caos de blocos, pelo lado nascente, não revelaram qualquer ocupação arqueológica que permitisse enquadrar, em termos cronológico -culturais, os artefactos sobre seixos rolados e os seixos rolados encontrados no interior do caos de blocos. 1062 tefactos talhados possam ter sido trazidos de jazidas arqueológicas existentes nos terraços marinhos ou fluviais das imediações10 sendo considerados significantes por se reconhecer que teriam sido feitas pelos antepassados. Apesar das muitas dúvidas suscitadas e das falta de resposta para muitas delas, o locus gravado de Santo Adrião merece especial destaque no contexto da arte rupestre do noroeste ibérico pelo seu ineditismo e pelas problemáticas que equaciona. AGRADECIMENTOS Manuel Santos-Estévez agradece à FCT a bolsa de pós-doutoramento com a referência SFRH/BPD/ 93700/2013 no âmbito da qual se insere este trabalho. Ana M. S. Bettencourt agradece à FCT a bolsa de licença sabática com a referência SFRH/BSAB/ 114296/2016 – Rock Art of the Northwest Iberia. Liminality and Heterothopy, no contexto da qual realiza este texto. Ambos os autores agradecem à Junta de Freguesia de Âncora e à Câmara Municipal de Caminha, todo o apoio prestado durante a realização dos trabalhos de campo. BIBLIOGRAFIA ALVES, Lara Bacelar (2003) – The Movement of Signs. PostGlacial Rock Art in North western Iberia. Reading: University of Reading. BAPTISTA, António Martinho (1983-1984) – Arte Rupestre do Norte de Portugal: uma perspectiva. Portugália, Nova série, 4-5, pp. 71-82. BENGTSSON, Lasse e LING, Johan (2007) – Scandinavia’s most finds associated rock art sites. Adoranten. Tanum Rock Art Research Center, pp. 40-50. BETTENCOURT, Ana M. S. (2009a) – Entre os montes e as águas: ensaio sobre a percepção dos limites na Pré-história da faixa costeira entre o Minho e o Lima (NW português). In BETTENCOURT, Ana M.S. e ALVES, Lara B. eds. – Dos Montes, das Pedras e das Águas. Braga: CITCEM, APEQ, pp. 131-162. BETTENCOURT, Ana M. S. (2009) – A Pré-história do Minho: do Neolítico à Idade do Bronze”, In PEREIRA, Paulo coord. – Minho. Traços de Identidade, Braga: Conselho Cultural da Universidade do Minho, pp. 70-113. 10. Segundo Pereira (2012), as margens do Âncora são ricas em terraços quaternários. 1063 BETTENCOURT, Ana M. S. (2013) – O Bronze Final no Noroeste português. Uma rede complexa de lugares, memórias e ações. In CARDOSO, J. L. ed. – Carlos Ribeiro (1813-1882). Geólogo e Arqueólogo. Homenagem da Câmara Municipal de Oeiras e da Academia das Ciências de Lisboa nos 200 anos do seu nascimento. [Estudos Arqueológicos de Oeiras 20], pp. 145-162. BETTENCOURT, Ana M. S. (2014) – Passos 3. In BETTENCOURT, Ana M. S. e ABAD -VIDAL, Emilio eds. – CVARN – Corpus Virtual de Arte Rupestre do Noroeste Português (www.cvarn.org). BETTENCOURT, Ana M. S. (2017a) – O Sentido das Pedras. Pensando a Arte Rupestre do Noroeste Português. Braga: Lab2PT. BETTENCOURT, Ana M. S. (2017b) – Gravuras rupestres do noroeste português para além das artes atlântica e esquemática, Actas do II Congresso da Associação de Arqueólogos Portugueses, Lisboa: AAP. BETTENCOURT, Ana M. S. e SANTOS, Ana C. (2014) – Eira do Louvado. In BETTENCOURT, Ana M. S. e ABAD-VIDAL, Emilio eds. – CVARN – Corpus Virtual de Arte Rupestre do Noroeste Português (www.cvarn.org). BETTENCOURT, Ana M. S. e AMORIM, Maria João (2014b) – Chão do Cano 1. In BETTENCOURT, Ana M. S. e ABAD -VIDAL, Emilio eds. – CVARN – Corpus Virtual de Arte Rupestre do Noroeste Português (www.cvarn.org). BETTENCOURT, Ana M. S., SILVA, Isabel S. e SIMÕES, Pedro, P. (2014) – Matança. In BETTENCOURT, Ana M. S. e ABAD -VIDAL, Emilio eds. – CVARN – Corpus Virtual de Arte Rupestre do Noroeste Português (www.cvarn.org). BRADLEY, Richard (1997) – Rock Art and the Prehistory of Atlantic Europe. London: Routledge. BRADLEY, Richard, CRIADO BOADO, Felipe e FÁBREGAS VALCARCE, Ramón. (1995) – Rock Art and the prehistoric landscape of Galicia: the results of field survey between 1992 and 1994. Proceedings of the Prehistoric Society 61: 347-370. CARDOSO, Daniela (2015) – Arte Atlântica do Monte de S. Romão (Guimarães) no Contexto da Arte Rupestre Pós-paleolítica da Bacia do Ave, Noroeste Português, Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. COSTAS GOBERNA, Fernando Javier, NOVOA ÁLVAREZ, Pablo; SANROMÁN VEIGA, José Antonio (1995) – Sta Mª de Oia. Sus grabados rupestres. In Actas del XXII Congreso Nacional de Arqueología (Vigo 1993) Vol. II. Vigo, pp. 131-35. GARCÍA ALÉN, Alfredo e PEÑA SANTOS, Antonio de La (1980) – Grabados Rupestres de la Provincia de Pontevedra. La Coruña: Fundación Pedro Barrié de la Maza. GUERRERO AYUSO, Víctor M. (2009) – Prehistoria de la Navegación. Origen y Desarrollo de la Arquitectura Naval Primigenia. Bar International Series 1952. Oxford: Archaeopress. PEREIRA, Eurico (1992) – Carta Geológica de Portugal na Escala 1/200 000. Notícia Explicativa da Folha 1. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal. SANTOS, Ana C. (2014) – A Laje da Churra (Paço, Carreço, Viana do Castelo). Estudo monográfico de um lugar gravado. Braga: Universidade do Minho (Dissertação de Mestrado). SANTOS, André Tomás (2008) – Uma abordagem hermenêutica-fenemonológica à arte rupestre da Beira Alta: o caso do Fial (Tondela, Viseu), [Estudos Pré-históricos 13). Viseu: CEPBA. SANTOS -ESTÉVEZ, Manuel (1998) – Los espacios del arte: construcción del panel y articulación del paisaje en los petroglifos gallegos, Trabajos de Prehistoria, 55, 73-88. SANTOS -ESTÉVEZ, Manuel. (2007) – Petroglifos y Paisaje Social en la Prehistoria Reciende del Noroeste de la Península Ibérica. [TAPA 38]. Santiago de Compostela: IEGPS -CSIC. SANTOS -ESTÉVEZ, Manuel (2013) – La Excavación Arqueológica del Arte Rupestre. In Petroglifos, Paleoambiente y Paisaje. Estudios Interdisciplinares del Arte Rupestre de Campo Lameiro (Pontevedra). Santiago de Compostela: INCIPIT-CSIC, pp. 107-123. SILVA, Armando C. F. (1986) – A Cultura Castreja no Norte de Portugal. Paços de Ferreira. SILVA, Eduardo Jorge L. (1988) – A Mamoa de Afife: breve síntese de 3 campanhas de escavação. Trabalhos de Antropologia e Etnologia 28:1-2, pp. 127-132. SILVA, Eduardo Jorge L. (1989) – Escavação da Mamoa de Aspra. Vila Praia de Âncora (Caminha). Revista de Ciências Históricas, 4, pp. 13-38. Figura 1 – Localização de Santo Adrião em excerto da Carta Militar de Portugal nº 27, à escala 1:25.000. 1064 Figura 2 – Topo: observação do estuário do Âncora e da bacia de Vila Praia de Âncora a partir do centro do caos de blocos. Em baixo: caos de blocos de Santo Adrião, visto de nordeste, onde se nota a área de entrada no seu interior. 1065 Figura 3 – Santo Adrião 1. Esquerda: afloramento em processo de limpeza. Direita: fotogrametria das gravuras. Figura 4 – Santo Adrião 2. No topo: embarcação do painel 1. Em baixo: embarcações do painel 2. A pintura a branco foi realizada sobre o suporte fotográfico. 1066 Figura 5 – Santo Adrião 3. No topo: vista geral do topo e de uma das paredes laterais do afloramento. Em baixo: fotogrametria das gravuras. 1067 Figura 6 – Santo Adrião 7. No topo: afloramento visto desde sudeste. Abaixo: fotogrametria dos motivos gravados. 1068 Figura 7 – Santo Adrião 7, vista a partir de nordeste. Figura 8 – Santo Adrião 8. Motivo pintado sobre fotografia digital. 1069 Figura 9 – Bloco com gravura subretangular. Figura 10 – Esquerda: barquiformes sem mastro e com mastro de Santo Adrião 3. Direita: vários tipos de barquiformes sem mastro (?) da Laje da Churra, segundo Santos (2014). De notar a presença de covinha associada a alguns barquiformes. 1070