Mestrado em História da Arte Portuguesa
Um Guia de Arquitectura Civil Medieval
na Cidade do Porto
Silvana Raquel Vieira de Sousa
M
2017
Silvana Raquel Vieira de Sousa
Um Guia de Arquitectura Civil Medieval na Cidade do Porto
Projecto de Estágio realizado na Divisão Municipal de Museus e Património Cultural da
Câmara Municipal do Porto, no âmbito do Mestrado em História da Arte Portuguesa.
Orientação científica: Professora Doutora Lúcia Maria Cardoso Rosas.
Orientação do estágio: Dra. Maria Isabel de Noronha Azeredo Pinto Osório.
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Julho de 2017
2
3
Um Guia de Arquitectura Civil Medieval na Cidade do
Porto
Silvana Raquel Vieira de Sousa
Projecto de Estágio realizado na Divisão Municipal de Museus e Património Cultural da
Câmara Municipal do Porto, no âmbito do Mestrado em História da Arte Portuguesa.
Orientação científica: Professora Doutora Lúcia Maria Cardoso Rosas.
Orientação do estágio: Dra. Maria Isabel de Noronha Azeredo Pinto Osório.
Membros do Júri
Professora Doutora Maria Leonor Barbosa Soares
Faculdade de Letras - Universidade do Porto
Professora Doutora Maria Leonor César Machado de Sousa Botelho
Faculdade de Letras - Universidade do Porto
Professora Doutora Lúcia Maria Cardoso Rosas
Faculdade de Letras - Universidade do Porto
Classificação obtida: 19 valores
4
Sumário
Agradecimentos ................................................................................................................ 7
Resumo ............................................................................................................................. 9
Abstract ............................................................................................................................. 9
Abreviaturas e Siglas ...................................................................................................... 10
Introdução ....................................................................................................................... 11
Capítulo I: Caracterização do estágio curricular na Divisão Municipal de Museus e
Património Cultural da Câmara Municipal do Porto ...................................................... 15
1.1. Desenvolvimento do trabalho na instituição de acolhimento .............................. 15
1.2. Metodologia, fontes e problemáticas ................................................................... 16
Capítulo II: Arquitectura Civil Medieval Portuguesa..................................................... 20
2.1. Estado da Arte. ..................................................................................................... 20
2.2. Construção e urbanismo medieval – breves considerações ................................. 24
2.3. Espaços de habitação e de administração pública – características e exemplos em
contexto urbano........................................................................................................... 31
2.3.1. A casa ............................................................................................................ 31
2.3.2. Paços do Concelho e Alfândegas .................................................................. 37
Capítulo III: Exemplos de arquitectura civil medieval na cidade do Porto .................... 42
3.1. Zona da Sé ........................................................................................................... 43
3.1.1. Beco dos Redemoinhos e Rua de D. Hugo ................................................... 46
3.1.2. Rua de Penaventosa ....................................................................................... 50
3.1.3. Rua de S. Sebastião e Rua Escura ................................................................. 52
3.1.4. Calçada de Pedro Pitões ................................................................................ 58
3.1.5. Rua dos Pelames e Rua do Souto .................................................................. 60
3.1.6. Rua de Santana .............................................................................................. 64
3.1.7. Rua da Bainharia ........................................................................................... 66
3.2. Zona Ribeirinha ................................................................................................... 68
5
3.2.1. Rua dos Mercadores ...................................................................................... 70
3.2.2. Rua da Reboleira ........................................................................................... 73
3.2.3. Rua de Baixo ................................................................................................. 74
3.2.4. Rua da Fonte Taurina .................................................................................... 76
3.2.5. Rua da Lada ................................................................................................... 78
3.2.6. Rua Infante D. Henrique, Rua de S. João e Beco do Forno Velho ............... 78
3.2.7. Rua da Alfândega .......................................................................................... 83
3.2.8. Escadas do Recanto/Rua Nova da Alfândega ............................................... 86
3.3. Outras localizações .............................................................................................. 88
3.3.1. Rua Chã ......................................................................................................... 88
3.3.2. Rua dos Caldeireiros ..................................................................................... 89
3.3.3. Rua de S. Bento da Vitória ............................................................................ 90
3.3.4. Rua de Belomonte ......................................................................................... 91
3.3.5. Rua da Boa Nova........................................................................................... 92
Capítulo IV: Comunicação e transmissão de conhecimento .......................................... 95
4.1. A cidade como obra de arte: comunicar e proteger património ........................... 95
4.2. Um Guia de Arquitectura Civil Medieval na Cidade do Porto ............................ 97
4.2.1. Produto final – processo criativo ................................................................... 97
4.2.2. Produto final – proposta ................................................................................ 99
Considerações finais ..................................................................................................... 119
Fontes e Bibliografia .................................................................................................... 121
Apêndices ..................................................................................................................... 131
I - Termos construtivos de arquitectura medieval: algumas definições .................... 131
II - Índice dos exemplos estudados de arquitectura civil medieval na cidade do Porto:
tabelas de trabalho .................................................................................................... 134
III - Índice dos relatórios de trabalhos arqueológicos consultados na instituição de
acolhimento com informações pertinentes para este trabalho .................................. 144
6
Agradecimentos
Quando, em Agosto de 2016, eu me encontrava nas escadas entre as portas da
Sé de Viseu e do Museu Grão Vasco, estava longe de imaginar que a escolha do meu
tema de mestrado (que se decidiu ali), me iria proporcionar tantos e tão variados
desafios. Terminada esta etapa, é hora de dizer adeus com a certeza que outras tantas
estarão apenas a começar. É também hora de agradecer a todos e todas que permitiram
que este caminho fosse mais fácil de percorrer e o objectivo proposto mais fácil de
alcançar.
Aos meus pais, Laurinda e Fernando, por me ensinarem a ser pessoa, por
demonstrarem o que significa crescer e viver no Minho e por me permitirem chegar
onde nunca lhes foi possível.
Aos meus camaradas de associativismo da AEFLUP, pelos três anos de
constante recordação de que é necessário existir e resistir, fazer tudo como se fosse a
primeira vez, e renascer sempre. Um obrigado especial à Clara, uma profissional
exemplar e “fada-madrinha” que todos querem, mas poucos têm.
Aos meus colegas da colheita de 2012, amigos de aventuras e peripécias várias e
brigada sempre disposta a apagar todos os fogos que surjam, com um sorriso nos lábios
e capa nos ombros.
A todos os profissionais da Divisão Municipal de Museus e Património Cultural
da Câmara Municipal do Porto, por partilharem comigo conhecimentos e experiências,
fazendo sempre com que eu me sentisse em casa. Agradeço em particular à Dra.
Manuela Ribeiro, pela ajuda e preocupação demonstradas ao longo de todo o estágio
curricular.
Ao Professor Doutor Luís Mota Figueira, que aquando da minha participação na
nona edição do Workshop de Estudos Medievais organizado pelo Grupo Informal de
História Medieval, contribuiu com a sua análise a este trabalho para que o mesmo
ficasse mais completo e adequado.
Ao Professor Doutor Luís Miguel Duarte, pelo apoio e interesse demonstrado
por este trabalho, sem nunca ter tido qualquer obrigação perante o mesmo.
7
À minha orientadora científica, Professora Doutora Lúcia Rosas, e à minha
orientadora de estágio, Dra. Isabel Osório. Pela paciência demonstrada ao logo de todo
o processo de trabalho, pelos contributos e dicas sempre pertinentes, e por depositarem
em mim a confiança necessária para levar este projecto a bom porto.
À Inês, pelos cinco anos de amizade pura e conforto mútuo quando o mundo
parecia desabar sobre nós, e por me relembrar constantemente que só nos retiram a
nossa força e determinação se nós deixarmos.
Ao André, companheiro de todas as horas. Pelo amor de todos os dias, pela fé
inabalável no meu trabalho, e por me demonstrar que existirá sempre caminho a
percorrer por gente livre como nós.
8
Resumo
O presente trabalho desenvolve-se no âmbito de um estágio curricular do
Mestrado em História da Arte Portuguesa da FLUP, que decorreu na Divisão Municipal
de Museus e Património Cultural da Câmara Municipal do Porto. O objectivo principal,
resultante de um processo de pesquisa sobre arquitectura civil medieval na cidade do
Porto, pautou-se pela produção de um guia sobre o tema. Opta-se, assim, por três
momentos de pesquisa distintos, mas que se completam: fundamentação teórica com
recurso a estudos prévios, cartografia e recolha fotográfica in loco dos exemplos da
tipologia e cronologia estudada, e a transmissão de todo o conhecimento teórico através
de um guia, tendo em conta públicos-alvo e as diversas formas de comunicar
património.
Palavras-chave: Arquitectura, Civil, Medieval, Guia, Porto.
Abstract
The present work is developed within the scope of a curricular internship of the
Master's Degree in History of Portuguese Art of FLUP, which took place in the
Municipal Division of Museums and Cultural Heritage of the Porto City Council. The
main objective, resulting from a research process on medieval civil architecture in the
city of Porto, was guided by the production of a guide on the theme. It is therefore
chosen for three different research moments, which are complemented: theoretical basis
using previous studies, cartography and in situ photographic collection of the examples
of the typology and chronology studied, and the transmission of all theoretical
knowledge through a guide, taking into account target audiences and the various ways
of communicating heritage.
Key-words: Architecture, Civil, Medieval, Guide, Porto.
9
Abreviaturas e Siglas
Nº - Número
N.P. – Número Polícia
Op. Cit. – Obra citada
p. – Página
Séc. – Século ou Séculos
ADP – Arquivo Distrital do Porto
AMHP – Arquivo Municipal Histórico do Porto
ANTT – Arquivo Nacional da Torre do Tombo
CMP – Câmara Municipal do Porto
CRUARB - Comissariado para a Renovação Urbana da Área de Ribeira/Barredo
DGEMN – Direcção Geral do Edifícios e Monumentos Nacionais
DGLAB –Direcção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas
DGPC – Direcção Geral de Património Cultural
DMC – Direcção Municipal de Cultura
DMPC – Departamento de Museus e Património Cultural
DMMPC – Divisão Municipal de Museus e Património Cultural
DMPHA – Divisão de Museus e Património Histórico e Artístico
DPC – Divisão de Património Cultural
GAU – Gabinete de Arqueologia Urbana
10
Introdução
O projecto que se apresenta desenvolveu-se no âmbito do Mestrado em História
da Arte Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tendo sido
orientado cientificamente pela Professora Doutora Lúcia Rosas, e desenvolvido na
instituição de acolhimento (DMMPC-CMP) sob a orientação da Dra. Isabel Osório. O
mesmo resulta da vontade pessoal de querer aprofundar e sistematizar o conhecimento
sobre a arquitectura civil medieval no seu todo, e em particular, dos seus contornos e
exemplos no Porto, estudando para isso espaços de habitação, de administração e
elementos remanescentes existentes actualmente em várias zonas da cidade. Assumiu-se
também como uma prioridade conseguir transmitir esse conhecimento e actualizar a
relação que o público (em primeiro plano a comunidade local, e num segundo a
nacional) tem com o património medieval civil da sua cidade, propondo-se para isso, a
criação de um guia.
Delineados os dois grandes objectivos deste projecto, seguiu-se a delimitação
cronológica e geográfica. A primeira fez-se trabalhando, ou seja, apenas no fim da
recolha de todos os exemplos de arquitectura civil na cidade se conseguiu perceber
quais os séculos mais representativos, sendo estes os séculos XIV e XV. A segunda
delimitação, a geográfica, fez-se pelos próprios limites do actual centro histórico do
Porto, salvo uma excepção, a torre medieval do Palácio dos Terenas, que além da sua
localização é também excepção pela sua tipologia, já que esta se insere em contexto
rural medieval e não urbano.
Fig. 1 Centro Histórico do Porto – Planta da área classificada. Património Mundial (verde), Área de
protecção - vista parcial (vermelho), e Muralha do século XIV (azul). Fonte:
http://www.portopatrimoniomundial.com/planta-area-classificada.html
11
Esta relação da construção medieval em contexto urbano vs contexto rural, é por
si só, um aspecto muito importante de toda a temática relacionada com arquitectura civil
medieval, e em particular da pesquisa desenvolvida para este trabalho, porque, como
refere Mário Jorge Barroca1, em contexto urbano uma casa-torre, por exemplo, não deve
ser sinónimo de casa senhorial, como acontece frequentemente no espaço rural. Sendo o
Porto o palco desta pesquisa, mais força dá a esta afirmação, quer pela interdição de
nobres na cidade2, quer pela variedade de construções de burgueses e eclesiásticos, e
não de nobres.
Relativamente à estrutura do relatório final, ela foi pensada de modo a dividir-se
por quatro capítulos principais. O 1º referente a questões introdutórias, com a
explicação da metodologia, fontes e problemáticas, bem como a caracterização do
estágio realizado na instituição de acolhimento e de que forma este se revelou um meio
importante para atingir os objectivos propostos. O 2º passou por realizar um Estado da
Arte sobre o nosso tema de projecto e também por apresentar um breve contexto geral
da arquitectura civil medieval portuguesa, cruzando o exemplo do Porto com o de outras
cidades de relevo no panorama medievo português como Braga, Guimarães ou Évora,
tentando traçar uma visão geral da evolução urbana da cidade medieval portuguesa
(consciente de que cada caso é um caso) e como esta se constrói. Este capítulo passa
também por se debruçar sobre as variadas questões relacionadas com os edifícios
públicos (por exemplo os Paços de Concelho) e os de habitação – Existem pontos
comuns entre os exemplos de várias urbes? Quais as principais diferenças destes tipos
de construções entre o espaço rural e o urbano? Quem são as principais figuras
envolvidas na construção dos grandes edifícios que marcam a paisagem urbana
medieval e dos que, não marcando essa mesma paisagem, a compõem?
O 3º capítulo apresenta-se como o “núcleo duro” de todo o trabalho, contendo
os exemplares recolhidos de arquitectura civil medieval na cidade do Porto,
aprofundando o seu estudo, caracterização e sistematização, sendo este o principal
capítulo que dará forma e conteúdo ao produto final. Tenta-se aqui elencar os vários
objectos de pesquisa, atendendo, entre outros aspectos, à sua localização (arruamento),
tipologia (habitacional ou administrativa), estado de conservação e acesso ao público. O
BARROCA, Mário Jorge – Torres, Casas-Torres ou Casas-Fortes: a concepção do espaço de
habitação da pequena e média nobreza na Baixa Idade Média (sécs. XII-XV). Coimbra : Rev. de História
das Ideias, 1997. p.57.
2
Apenas a partir de 1502, no reinado de D. Manuel, parece surgir uma “janela de oportunidade” que
permitirá à nobreza construir casas e residir no Porto.
1
12
4º e último capítulo recai sobre a questão de transmissão do conhecimento e de
comunicação patrimonial, sendo este o espaço para explanar, passo-a-passo, a criação
do guia. Neste último capítulo, referem-se também aspectos importantes da
comunicação patrimonial nos dias de hoje, a sua evolução e de que forma este produto
final poderá ser útil na área da educação patrimonial.
Em Apêndice, apresentam-se ainda três tabelas de trabalho criadas ao longo da
investigação e recolha de dados in loco e na instituição de acolhimento. A primeira
surge como um breve apanhado dos termos construtivos de arquitectura medieval que
poderão ajudar a entender melhor a linguagem utilizada ao longo do trabalho escrito, na
segunda elencam-se os vários objectos de estudo após contacto directo com estes e as
notas daí retiradas no imediato, e a terceira refere os relatórios de escavação acedidos
através da DMMPC-CMP que contêm informação pertinente para a investigação do
tema.
Quanto aos exemplos estudados, procurou-se organizá-los neste trabalho como
estão distribuídos actualmente na cidade, optando-se assim por os dividir em três
grandes zonas, subdividindo-os de seguida por arruamento: zona da Sé, zona
Ribeirinha, e outras localizações, como o exemplo da Torre de Pedro Sem/do Palácio
dos Terenas ou as casas na Rua de S. Bento da Vitória. Isto vai ao encontro à
identificação de quatro pontos fulcrais da vida da cidade medieval do Porto, referidos
por Isabel Osório3, sendo eles: o Morro da Pena Ventosa, a zona de Cimo de Vila
(encosta junto à estrada que ligava a cidade a Penafiel), a Rua do Souto que fazia a
ligação entre os dois núcleos da cidade (Sé e Ribeira) e que foi cortada em duas (Souto
e Caldeireiros) aquando da abertura da Rua das Flores em 1522, e a própria Ribeira,
devido à sua função mercantil. Em relação a arrumamentos por onde se fez a busca e se
encontraram elementos de estudo para este projecto, apresentam-se os seguintes: Rua de
D. Hugo (antiga Rua do “Remoinho” e Rua de Trás da Sé), Calçada de Pedro Pitões,
Rua de S. Sebastião (antigas Ruas da Sapataria e das Tendas), Rua da Pena Ventosa
(antiga Rua dos Palhais), Rua de Santana (antiga Rua das Aldas), Beco dos
Redemoinhos, Rua Escura (antiga Rua Nova), Rua dos Pelames, Rua do Souto, Rua dos
Caldeireiros, Rua de S. Bento da Vitória, Rua da Bainharia (antiga Rua dos Ferrais),
Rua dos Mercadores, Rua da Fonte Taurina (antiga Rua da Fonte Aurina), Rua da Lada,
OSÓRIO, Maria Isabel de Noronha Azeredo Pinto – Cidade, plano e território. Urbanização do plano
intra-muros do Porto (séculos XIII- 1ª metade XIV). Dissertação de Mestrado em Arqueologia,
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Vol. I e II, 1994. p.103 a 128.
3
13
Rua da Reboleira, Rua de Baixo, Rua de Belomonte (antiga Calçada de S. Domingos),
Rua da Alfândega, Rua Chã (antiga Rua das Eiras), Beco do Forno Velho, Rua do
Infante D. Henrique (antiga Rua Nova/Formosa), Escadas do Recanto, e Rua da Boa
Nova.
Ao longo do trabalho será possível notar que a maioria das ruas/zonas apenas
apresenta um ou dois exemplares de estudo. Isto não quer dizer, obviamente, que esses
arruamentos apenas contenham esses únicos exemplares, significa sim que apenas
conseguimos aceder aos que são referidos, sendo que a justificação para tal é explicada
adiante aquando da explanação das problemáticas e metodologia referentes ao trabalho.
De facto, denota-se a existência de lugares na cidade com vasto potencial no que diz
respeito a exemplares de arquitectura civil medieval – potencial arqueológico – mas que
não são possíveis de explorar por nós, pelo menos por enquanto, tendo em conta que
muitos dos resultados dependem da existência e/ou conclusão de trabalhos
arqueológicos, e mesmo já existindo vários (relatórios de escavação que referimos ao
longo deste trabalho e que tivemos acesso através da DMMPC-CMP), a informação que
poderíamos utilizar para justificar a recolha dos nossos exemplos de estudo é ainda
escassa, deixando essa justificação em muitos casos, ao nosso critério.
Este projecto de mestrado pretende assim fundamentar-se nos estudos já
realizados na matéria, sistematizando e organizando exemplos específicos da cidade do
Porto, criando um produto concreto e tentando assumir-se como um trabalho, consciente
das suas limitações, mas que lança alguma luz sobre um assunto que pode e deve ser
aprofundado por profissionais das várias áreas do património material.
14
Capítulo I: Caracterização do estágio curricular na Divisão Municipal
de Museus e Património Cultural da Câmara Municipal do Porto
1.1. Desenvolvimento do trabalho na instituição de acolhimento
O estágio curricular na Divisão de Museus e Património Cultural da Câmara
Municipal do Porto, instalada no Palacete dos Viscondes de Balsemão 4, surgiu depois
da proposta de criação de um guia de arquitectura civil medieval na cidade do Porto,
que depois de aceite, teve como orientadora desse mesmo estágio, a Dra. Isabel Osório,
Técnica Superior de Arqueologia. O mesmo foi desenvolvido no período temporal
compreendido entre Outubro de 2016 e Maio de 2017, tendo em conta que, devido às
especificidades da pesquisa sobre este tema explicadas no subcapítulo seguinte, o
trabalho feito presencialmente nas instalações da DMMPC - CMP foi pontual, optandose por reuniões semanais onde se organizava e projectava o trabalho a realizar de uma
semana para a outra, mantendo assim um ritmo de trabalho consistente e contribuindo
para a melhor compreensão e amadurecimento dos assuntos tratados.
A instituição de acolhimento revelou-se como um local certeiro para a realização
deste projecto, já que esta se define como uma Divisão com a missão de zelar pela
defesa e divulgação do património histórico e cultural do Porto, promover e projectar a
imagem da cidade reforçando a sua auto-estima, apoiar a disseminação do
conhecimento, a criatividade e a inovação, através da articulação entre diversos
agentes e de um conceito de cultura plural e da gestão dos equipamentos culturais;
Corresponder às necessidades e expectativas de residentes e visitantes, valorização a
dimensão do Porto como cidade europeia e Património cultural da Humanidade;
Envolver a competitividade dos colaboradores no cumprimento da missão 5, sendo que
esta mesma definição vai ao encontro aos objectivos gerais deste projecto.
O contacto directo com o mundo do trabalho, além de ter sido, logo à partida,
uma das motivações para escolha da realização de um relatório/projecto de estágio e não
4
Localizado na Praça de Carlos Alberto, 71, 4050-157 Porto.
Descrição da DMMPC-CMP, disponível em: http://centrohistorico.cm-porto.pt/?q=divisao_museus
[consultado em 14-03-2017]
5
15
de uma dissertação, proporcionou naturalmente, o contacto com meios de informação e
pesquisa que de outra maneira, muito dificilmente teríamos acesso, como sendo os
vários relatórios de escavações em zonas críticas para o nosso trabalho (Bainharia, Sé,
Penaventosa, entre outros) que contêm informações recolhidas no terreno por
profissionais, as várias plantas da cidade de diferentes períodos históricos, o
acompanhamento de obras de reabilitação de edifícios (como no caso das obras em dois
lotes da Rua Chã e que vieram a pôr a descoberto uma casa gótica, potencialmente do
século XV), e ainda a troca de conhecimentos, experiências e discussões de trabalho
com os vários profissionais envolvidos nesta divisão municipal.
Foi ainda possível, neste período em que realizámos o estágio curricular na
DMMPC-CMP, depararmo-nos com questões relacionadas com a gestão patrimonial e
sobre as quais os profissionais desta área se debruçam diariamente – Como proteger
património? Como classificá-lo? Como comunicá-lo? Que valores definem um
objecto/espaço classificado? Todas estas questões, e certamente outras, ajudaram na
evolução de todo o trabalho, mas em particular, lançaram as bases para o que se
apresenta no último capítulo deste trabalho escrito, que moldaram por sua vez o produto
final.
1.2. Metodologia, fontes e problemáticas
Metodologicamente, a pesquisa feita para alcançar o resultado final, dividiu-se
em três momentos distintos. O primeiro passou, naturalmente, pela fundamentação
teórica, procurando entender e conhecer o que se produziu sobre a temática geral da
arquitectura civil em Portugal, passando depois para os estudos sobre construção,
propriedade e urbanismo medieval na cidade do Porto e nas de maior proximidade
geográfica, como Braga e Guimarães. Foi igualmente importante auscultar algumas
fontes com informação pertinente para o tema do trabalho, como as Actas de Vereação e
os fólios dos livros 3 e 4 do “Além Douro”6, acessíveis na plataforma digital do
Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Também na plataforma digital, Portal do
José Marques, no seu artigo na Revista de História, “Património Régio na Cidade do Porto e seu termo
nos finais do século XV. Subsídios para o seu estudo.”, enumera em específico quais os fólios dos livros
3 e 4 do “Além Douro” com dados relevantes sobre o tema. Referem-se aspectos construtivos de casas, a
sua localização, entre outras informações pertinentes.
6
16
Arqueólogo, encontramos numa breve pesquisa (filtrando a mesma através do período
cronológico da Idade Média, Alta Idade Média, Medieval Cristão7, e pelo concelho do
Porto), alguma informação sobre relatórios de escavações aprovadas e realizadas nas
freguesias correspondentes ao actual centro histórico da cidade (Cedofeita, Santo
Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória), servindo de apoio para alguns
edificados e estruturas que o nosso trabalho trata. De referir ainda, o trabalho de Alberto
Aires de Gouveia8, o conhecido Gouveia Portuense, pintor nascido no Porto em 1867, e
que nos deixou várias obras onde pinta aspectos (paisagens, vistas, entre outros) da
cidade do Porto como os via na altura da sua execução, e que por isso, se apresentam
como fontes de trabalho pertinentes para este trabalho. Os desenhos e pinturas deste
artista, bem como fotografias, gravuras, pedidos de licenças de obras e plantas da
cidade, encontram-se organizados/as e digitalizados/as na página do Arquivo Municipal
do Porto (www.gisaweb.cm-porto.pt) e como tal, este revelou-se mais um portal virtual
de consulta indispensável.
O segundo momento pautou-se pelo trabalho in loco, ou seja pela recolha
fotográfica, cartográfica e ilustrada dos vários objectos de estudo que compõem o
trabalho final, organizando-os em tabelas de trabalho9 e posteriormente tratadas no
Capítulo III. Neste segundo momento tornou-se também necessário um estudo breve,
mas sistemático, dos vários arruamentos (nomeadamente perceber as mudanças de
toponímia10) que compunham a cidade medieval, mas não só, do Porto, sendo para isso
necessário o recurso a plantas da cidade, gravuras e ilustrações, que permitiram traçar a
evolução da malha urbana desde a Idade Média.
O terceiro momento prendeu-se com a questão da comunicação patrimonial,
sendo que, para um resultado satisfatório foi necessária a escolha de um público-alvo,
bem como de um formato. O tema em si, arquitectura civil na cidade do Porto, apresenta
uma especificidade própria e que, necessariamente, apenas se revelará interessante para
um público minimamente sensibilizado e envolvido nestas questões, deixando margem
de manobra para uma linguagem mais técnica sem deixar de ser compreensível. No
entanto, o nosso público-alvo foi, deste o primeiro momento, a comunidade local, de
Portal do Arqueólogo – DGPC, pesquisa de sítios arqueológicos, disponível em:
http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/index.php?sid=sitios [consultado em 22-02-2017]
8
Para mais informação sobre a identidade deste pintor, consultar a página do artista em matriznet.dgpc.pt:
http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Entidades/EntidadesConsultar.aspx?IdReg=68212
9
Ver Apêndice II “Índice dos exemplos estudados de arquitectura civil medieval na cidade do Porto:
tabelas de trabalho”.
10
Para isso, muito contribuiu a leitura da obra de finais dos anos 90 de Eugénio Andrea da Cunha Freitas,
Toponímia Portuense.
7
17
forma a proporcionar-lhe uma visão actual dos elementos de interesse histórico e
cultural que se encontram, muitas vezes, dentro das suas próprias casas, e que outras
tantas, passa despercebido e é renegado para segundo plano face ao património
religioso, por exemplo, da cidade. Assim, há a preocupação de cruzar uma linguagem
que poderá ser mais técnica, com uma mais acessível e de fácil entendimento, abrindo a
compreensão deste trabalho tanto ao residente portuense, como ao curioso de Ponte de
Lima, mas que seja capaz ainda assim, de suscitar interesse ao académico de Lisboa.
Relativamente ao formato do trabalho final, querendo ser este um produto de divulgação
mas também académico, optou-se pelo guia11 e não um roteiro, já que, por razões que
adiante se explicarão, uma parte considerável dos exemplos de arquitectura civil
medieval estudados não são de livre acesso, sendo missão deste guia apenas enumerar,
catalogar, localizar e tipificar os vários exemplos que o compõem, com a sua construção
devidamente explicada no Capítulo IV.
O percurso de pesquisa e escrita deste trabalho levantou sempre várias
problemáticas, nomeadamente a justificação cronológica de alguns exemplos presentes
no mesmo. Com efeito, apenas dispomos de provas documentais para alguns objectos
de estudo (que se encontram mais facilmente para edifícios de comprovada origem
medieval como a Antiga Casa da Câmara ou a Casa do Infante), sendo que para a
maioria das casas e/ou elementos remanescentes isso não acontece. Foi preciso
encontrar outra justificação para estes exemplos, e ela passou pela comparação entre
edificados que sabemos terem sido construídos no período medieval (questões
relacionadas com técnicas, formatos e disposições construtivas), bem como pela lógica
da localização – se uma rua tem uma longa e recorrente ocupação medieval, será lógico
que guarde em si elementos ou estruturas medievais (isto pode ser também corroborado
pela questão do lote medieval, de observação relativamente fácil). É possível também
que alguns dos exemplos apresentados neste trabalho, possam na verdade ser já de uma
cronologia mais avançada, entenda-se do século XVI – por exemplo as casas
encontrados na Rua de S. Bento da Vitória ou mesmo na Rua de Belomonte – no
entanto, parece-nos importante referi-los e integrá-los já que, e ainda que não haja
certezas quanto à sua cronologia, estes exemplos estarão certamente ligados ao período
sobre o qual este trabalho se dedica, mais que não seja por perdurarem no tempo até
11
Tal como se descreve: Livro que contém indicações úteis. "guia", in Dicionário Priberam da Língua
Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/guia [consultado em 21-02-2017].
18
hoje e por aprofundarem ou continuarem em parte os métodos construtivos
desenvolvidos no período imediatamente anterior.
A questão da toponímia dos arruamentos, referida anteriormente, que contêm
exemplos de estudo foi também algo que se revelou preocupante, pois foi necessário
compreender as várias mudanças que ocorreram desde o período medieval, para, por um
lado compreender a localização desses mesmos exemplos de estudo, e por outro, para
conseguir comunicar e passar a informação para o guia, explicando mudanças e trocas
de nomes de ruas da cidade do Porto, juntamente com a necessidade de catalogar os
exemplos tendo em conta o seu N.P.12, de forma a que a sua localização no terreno fosse
mais fácil. Outra questão não impeditiva mas que acrescentou alguma dificuldade a todo
o trabalho de pesquisa, é referente ao acesso aos objectos de estudo. Uma vez mais, isto
não se aplica a edificados de livre acesso ou de domínio público (como os que recebem
serviços municipais), contudo, aplica-se a exemplos que estão ao abandono, ou que
estão em casas de habitação actual e nas quais apenas poderíamos entrar com
autorização do proprietário. Certamente existirão muitos mais exemplos de arquitectura
civil e até militar – escavações arqueológicas no quarteirão da Bainharia apontam para
lotes/casas que poderão conter parte de muralha românica13– mas que devido à sua
localização ou estado de conservação, não são visíveis, pelo menos até à data.
Tendo em conta o que referimos anteriormente, foi-nos possível ainda assim,
encontrar 38 exemplos de arquitectura civil medieval, dispostos actualmente nos vários
arruamentos da cidade do Porto e que nos propomos a analisar no Capítulo III, fazendo
antes uma breve passagem por aspectos da arquitectura civil medieval portuguesa, de
forma a contextualizar a informação seguinte.
“Traduz-se na indicação dos números de polícia, isto é, o que identifica as casas num determinado
espaço público. Esta numeração abrange os vãos de portas, portões ou cancelas legais que confinem com
a via pública e que dêem acesso a prédios urbanos ou respectivos logradouros. Esta atribuição é da
exclusiva competência da Câmara Municipal.” Definição disponível em: http://balcaovirtual.cmporto.pt/PT/empresas/guiatematico/info_geo/tpnm/num_pol/attr_n_pol/Paginas/actividade.aspx
[Consultado em 14-03-2017]
13
Entre outros, tivemos acesso através da instituição de acolhimento, ao Relatório de Progresso:
Quarteirão da Bainharia, Sé. BAI.09. Porto-2009, Arqueologia e Património, que confirma a existência
de troços de muralha primitiva no interior de parcelas de terreno desta zona.
12
19
Capítulo II: Arquitectura Civil Medieval Portuguesa
2.1. Estado da Arte.
Villard de Honnecourt, mestre francês do século XIII, oferece algumas bases
para a compreensão da construção medieval, aplicada a grande edifícios franceses como
catedrais, com os seus variados textos e desenhos sobre o tema, cujas páginas que
chegaram até hoje se encontram guardadas na Biblioteca Nacional de França. Numa
compilação de textos e ilustrações de Honnecourt, feita por Roland Bechmann nos anos
9014, é possível observar materiais, instrumentos, técnicas e fórmulas de construção que
seriam directrizes básicas para os homens da construção de então.
Partindo desta informação e olhando para os autores portugueses, estes vão
também, ainda que um pouco timidamente, desbravando caminho nestes assuntos.
Existem já vários trabalhos que, ainda que não se debrucem sobre esta temática e/ou
localização que estudamos em específico, oferecem perspectivas de outras áreas
complementares que nos permitem traçar uma ideia geral da dinâmica medieval, no que
diz respeito às suas cidades.
Oliveira Marques no seu artigo Introdução à História da Cidade Medieval
Portuguesa15, lança as bases para a compreensão dos aspectos gerais da cidade
medieval europeia ocidental, elencando ao longo das suas vinte páginas as principais
diferenças entre as cidades do norte e do sul, desenvolvendo a sua pesquisa sobre a
organização urbana destas, dos equipamentos e edifícios dinamizadores da vida citadina
medieval, dos materiais utilizados, e das áreas que estas ocupariam. O mesmo autor
dedica também um capítulo sobre “A Casa”16 numa obra dedicada a assuntos da
sociedade medieval portuguesa, que nos oferece uma visão geral dos aspectos desta
temática nas suas diversas tipologias: palácios, solares, habitação nobre e habitação
corrente, referindo alguns exemplos específicos como o Paço de Sintra ou o de Évora.
Carlos Alberto Ferreira de Almeida fala-nos de generalidades da arquitectura
civil medieval portuguesa dos séculos XII e XIII associada a pontes e equipamentos de
ROLAND, Bechmann – Villard de Honnecourt : la pensée technique au XIIIe siècle et sa
communication. Picard: Paris, 1991.
15
MARQUES, A. H. de Oliveira – “Introdução à História da Cidade Medieval Portuguesa” in Bracara
Augusta, Revista Cultural da Câmara Municipal de Braga. vol. XXXV, ano de 1981 (Janeiro –
Dezembro) Nº 79-80 (92-93), 1981. p. 367-387.
16
MARQUES, A. H de Oliveira – “A Casa” in Sociedade Medieval Portuguesa. Aspectos da vida
quotidiana. 6ª edição. Lisboa: A Esfera do Livros, 2010 (p.89-113)
14
20
uso corrente como cisternas, fontes ou paços do concelho, mas alerta desde logo para a
escassez de estudos sobre a temática e a necessidade de investigação arqueológica sobre
a mesma17. Durante a Baixa Idade Média, a construção civil é referida como usando
materiais bastante perecíveis como a madeira, deixando a pedra para construções ditas
de prestígio, referindo ainda a casa medieval como um espaço exíguo onde se
multiplicam andares ou sobrados, constituindo o lote medieval comprido e estreito,
muitas das vezes com espaço para a loja (local de comércio) no rés-do-chão da casa e
com quintais nas traseiras para criação de animais18.
Os trabalhos de Arnaldo de Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro19, ajudam
também a levantar o véu sobre as questões do trabalho na construção do período
medieval, em contexto urbano, relativamente às cidades de Porto e Braga, em especial
os materiais, técnicas e figuras envolvidas. Sobre Guimarães, Maria da Conceição
Falcão Ferreira faz um estudo bastante profundo e completo 20 da cidade, abrangendo as
mais diversas questões sobre o surgimento, estabelecimento e quotidiano de uma urbe
medieval, referindo aspectos construtivos das arquitecturas civis medievais do espaço
em questão como os Paços do Concelho ou a Casa da Audiência, a par da dissertação de
mestrado de Ângela Carina Areias da Silva21, que nos fornece uma perspectiva sobre
propriedade, mercado imobiliário e a casa corrente do período medieval para a mesma
localidade.
Ainda sobre o estudo da casa corrente e do espaço urbano medieval noutras
localidades que não o Porto, de referir o trabalho de, mais uma vez, Maria da Conceição
Falcão Ferreira para Santarém22, o de Luísa Trindade para Coimbra23, o de Amélia
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – História da Arte em Portugal. O Românico. Lisboa: Editorial
Presença, 2001. p.150.
18
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; BARROCA, Mário Jorge – História da Arte em Portugal. O
Gótico. Lisboa: Editorial Presença, 2002. p.86.
19
Os autores referidos apresentam vários artigos na área da história da construção medieval, dos
construtores e dos materiais, compilados nos livros “História da Construção” editados pelo CITCEM e
LAMOP no ano de 2012.
20
FERREIRA, Maria da Conceição Falcão – Guimarães: duas vilas, um só povo. Estudo de história
urbana (1250-1389). Braga: Co-edição do CITCEM e da Universidade do Minho (ICS), 2010.
21
SILVA, Ângela Carina Areias da - Entre Propriedades e Casas Perfeitas: Um estudo da casa corrente
na Guimarães dos finais da Idade Média. Dissertação de Mestrado em História da Arte Portuguesa
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2011.
22
FERREIRA, Maria da Conceição Falcão – “Construção corrente em Santarém, no século XV: Alguns
exemplos” in Estudos em homenagem a João Francisco Marques / coord. Luís A. de Oliveira Ramos,
Jorge Martins Ribeiro, Amélia Polónia. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001.
(p.459-473)
23
TRINDADE, Luísa – A casa corrente em Coimbra dos finais da Idade Média aos inícios da Época
Moderna. Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra, 2002.
17
21
Aguiar Andrade para Ponte de Lima24, o de Rita Costa Gomes para a Guarda25, e o de
Maria Ângela Rocha Beirante26. Enquanto que os três primeiros trabalhos que aqui se
referem nos permitem fazer um voo de pássaro sobre a cidade medieval portuguesa,
bem fundamentado e explicado no que a questões de planeamento urbano diz respeito, o
último surge como um estudo exaustivo da cidade Évora, evocando todos os aspectos de
uma urbe medieval, atravessando questões da estrutura física da cidade (termo, burgo,
muralha, arrabaldes, divisão interna…), da propriedade de edifícios e terrenos, da
população, da toponímia, da economia, da sociedade e da administração pública,
traçando por sua vez uma imagem bastante aproximada do que seria, e como se viveria,
numa cidade medieval portuguesa como esta. Introduz-se aqui ainda uma questão não
fácil de aferir, a das medidas – esta autora consegue chegar a medidas médias de
fachadas de casas, de profundidade de lotes e de áreas de quintais para alguns exemplos
habitacionais eborenses.
Os vários trabalhos de Sílvio Conde sobre a casa medieval 27, embora mais
direccionados para o centro e sul de Portugal, mostram-nos aspectos importantes sobre a
casa urbana versus casa rural, sobre a própria construção em geral, mas também sobre
organização do espaço interno e ainda sobre termos e expressões construtivas, que a par
dos vários trabalhos na área do urbanismo e sociedade medieval de Iria Gonçalves, nos
fornecem as bases para compreensão destes assuntos.
Sobre o Porto medieval, em contexto histórico-artístico, arqueológico e de
planeamento urbano, encontramos as dissertações de mestrado de Daniel Braz Afonso28,
Maria Isabel Osório29 e de Helena Regina Lopes Teixeira30 (que além de traçar a
evolução urbana da cidade dos séculos XII a XVI, oferece ainda um índice de
ANDRADE, Amélia Aguiar – Um espaço urbano medieval: Ponte de Lima. Lisboa: Livros Horizonte,
1990.
25
GOMES, Rita Costa – A Guarda Medieval. Posição, Morfologia e Sociedade (1200-1500). Cadernos
da Revista de História Económica e Social, nº 9-10. Lisboa: Câmara Municipal da Guarda, Livraria Sá da
Costa Editora, 1987.
26
BEIRANTE, Maria Ângela Rocha – Évora na Idade Média. Textos Universitários de Ciências Sociais
e Humanas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Junta Nacional de Investigação Científica e
Tecnológica, 1995.
27
Neste trabalho o autor compila vários textos anteriormente escritos e fornece uma lista de bibliografia e
fontes actualizada para os interessados no tema: CONDE, Manuel Sílvio Alves – Construir, Habitar: A
Casa Medieval. CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória», 2011.
28
AFONSO, Daniel Braz – A rua na construção da forma urbana medieval: Porto, 1386-1521.
Dissertação de Mestrado em História da Arte Portuguesa apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, 2012.
29
OSÓRIO, Maria Isabel de Noronha Azaredo Pinto – op. Cit.
30
TEIXEIRA, Helena Lopes – Porto, 1114-1518. A construção da cidade medieval. Dissertação de
Mestrado em História Medieval e do Renascimento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade
do Porto, 2010.
24
22
propriedades do clero, do concelho e de privados, relativo ao século XV), que se juntam
a estudos de história local dos anos 80 e 40 respectivamente, de José Marques 31 e de
Magalhães Basto32. Os trabalhos de Manuel Luís Real33 tornam-se também
indispensáveis para o entendimento da cidade do Porto, quer pela leitura da sua
evolução histórico-urbana, quer pela apresentação e divulgação de resultados dos vários
trabalhos arqueológicos que foram feitos na cidade e dos quais este autor foi
responsável, bem como os de Ernesto Veiga de Oliveira34, que oferecem uma visão
geral das casas da cidade do Porto e dos materiais empregues nas suas construções,
fazendo a ligação entre o passado e o presente.
A revista O Tripeiro, reveste-se aqui também de extrema importância, já que, ao
longo dos seus vários números desde a sua fundação em 1908, apresenta pequenos
artigos sobre arquitecturas da cidade do Porto que nos interessam e artigos que nos
ajudam a entender a evolução da malha urbana da cidade, além de se conseguir aceder,
em números específicos35, a desenhos e esboços de reconstruções hipotéticas do período
medieval, realizados por profissionais36, de casas e praças que são objecto de estudo no
nosso trabalho, nomeadamente de casas-torre na rua dos Mercadores, da Torre da
Marca, Torre de Pedro Sem, e Praça da Ribeira. O dossier de candidatura da cidade do
MARQUES, José – “Património Régio na Cidade do Porto e seu termo nos finais do século XV.
Subsídios para o seu estudo”. Porto: Faculdade de Letras. Separata da Revista de História, vol.III, 1982.
(p.73-97)
32
BASTO, A. De Magalhães – “O Pôrto Medieval (ensaio topográfico)” in Memórias e Comunicações
apresentadas ao Congresso de História Medieval (II Congresso). Congresso do Mundo Português
Publicações, II volume. Secção de Congressos, 1940.
33
São vários os trabalhos de extrema importância para a nossa pesquisa, elencados devidamente na
bibliografia utilizada ao longo da nossa pesquisa. Destacamos apenas alguns que se debruçam sobre zonas
críticas do nosso trabalho (Sé e zona ribeirinha): REAL, Manuel Luís – “A construção Medieval no sítio
da Sé”. Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos Nacionais. vol. 14, Março de 2001 e
REAL, Manuel Luís; REIMÃO, Rute – “As Origens da produção de Faiança na cidade do Porto” in
Olaria. Estudos Arqueológicos, Históricos e Etnológicos. Dezembro de 1996. p.79-85.
34
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de – “Sistemas de construção com madeira e materiais leves. Um tipo de
Fachwerk em Portugal” in Trabalhos de Antropologia e Etnologia. Porto: Sociedade Portuguesa de
Antropologia e Etnologia e Centro de Estudos de Etnologia Peninsular. Vol. XVIII, fasc. 3-4 (Nova série
da Sociedade e do Centro) Instituto de Antropologia – Faculdade de Ciências, (1961-62) (p. 347-353);
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando – Casas do Porto in “Douro Litoral, Boletim da
Comissão de Etnografia e História.” Dir. de Augusto César Pires de Lima, 8ª série, VII-VIII. Porto:
Edição da Junta de Província, 1958 (p.637-687)
35
Referimo-nos aos seguintes: O Tripeiro, 7ª série, ano XXXV, nº6, Junho de 2016; O Tripeiro, 7ª série,
ano XXXV, nº 7, Julho de 2016; O Tripeiro, 7ª série, ano XXXIV, nº4, Abril de 2015; O Tripeiro, 7ª
série, ano XXXIII, nº12, Dezembro de 2014. Um índice detalhado de todos os números entre 2014 e 2017
pode ser encontrado aqui: http://www.cciporto.com/publicacoes/o-tripeiro [consultado em 11-04-2017]
36
Como os vários desenhos do Arquitecto Luís Aguiar Branco.
31
23
Porto relativo à sua classificação pela UNESCO como Património da Humanidade37,
revelou-se também uma consulta importante por, além de elencar os vários exemplos de
património da cidade (da sua origem aos dias de hoje), apresentar pequenas “biografias”
de edifícios e arruamentos em estudo no presente trabalho, introduzindo também uma
outra noção que a nós muito interessa, a de comunicação patrimonial.
Para a Rua Nova (uma das zonas da cidade que foi recebendo maior atenção por
parte de alguns autores), numa visão mais direccionada para o estudo de propriedade,
encontra-se o trabalho de Luís Miguel Duarte e Luís Carlos Amaral, com a análise à
Finta de 143838 e a dissertação de mestrado de Maria Helena Pizarro Santos Paula39, que
conta com um inventário de aforamentos de cerca de 40 casas nessa mesma rua. Sobre
uma outra rua, a Rua das Flores, e numa abordagem mais alargada do espaço urbano do
Porto quinhentista, encontramos os trabalhos de mestrado e doutoramento de José
Ferrão Afonso40, que nos ajudam a assumir uma certa tolerância cronológica na nossa
própria pesquisa.
2.2. Construção e urbanismo medieval – breves considerações
Traçar aspectos gerais de uma cidade medieval não se revela sempre uma tarefa
de fácil execução porque, obviamente, cada caso é um caso e as urbes medievais
portuguesas têm em si particularidades que as distinguem bem. Ainda assim, é possível
rever alguns aspectos comuns no que diz respeito à sua construção e desenvolvimento:
desde logo o entendimento do espaço da cidade como um local de cruzamento de vários
factores, como um centro de produção e de comércio41, bem como entender que, a
LOZA, Rui Ramos (coord. projecto); REAL, Manuel Luís (coord. científica) – Porto a Património
Mundial. Processo de candidatura da Cidade do Porto à classificação pela UNESCO como Património
da Humanidade. Porto: Câmara Municipal do Porto, 1993.
38
AMARAL, Luís Carlos; DUARTE, Luís Miguel – Os homens que pagaram a Rua Nova (Fiscalidade,
Sociedade e Ordenamento Territorial do Porto Quatrocentista). Revista de História, Vol. 6, 1985 (p.796).
39
SANTOS, Mª Helena Pizarro Paula – A Rua Nova do Porto (1395-1520): Sociedade, Construção e
Urbanismo. Dissertação de Mestrado em História Medieval e do Renascimento apresentada à Faculdade
de Letras da Universidade do Porto, 2010.
40
AFONSO, José Ferrão – A Rua das Flores no Século XVI - Elementos Para a História Urbana do
Porto Quinhentista. Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto: Porto, 2004; AFONSO, José
Ferrão - A Imagem Tem que Saltar: a Igreja e o Porto no Século XVI, 1499-1606. Um estudo de história
urbana. Dissertação de doutoramento em arquitectura, apresentada à Universidade Politécnica de
Catalunya. Lisboa: Fundação Calouste Gunbenkian e Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2013.
41
RIBEIRO, Maria do Carmo (coord); MELO, Arnaldo de Sousa – “A influência das actividades
económicas na organização da cidade medieval portuguesa” in Evolução da Paisagem Urbana. Sociedade
de Economia. Porto: CITCEM e LAMOP, 2012. p.159
37
24
questão da dependência das cidades entre si que assistimos hoje, não se aplicar na Idade
Média. A própria organização da cidade medieval advém muito do seu contexto/origem,
nomeadamente se são “herdadas” como no caso do Braga, Porto, Coimbra, Lamego,
Viseu e Egitânia, ou conquistadas/fundadas como Lisboa e Beja, desenvolvendo por sua
vez um regime feudal ou senhorial, ou por outro lado, um regime de organização
concelhia42.
A partir do século XII verifica-se um certo planeamento e organização nas
cidades europeias de então – não que as anteriores não o tivessem, apenas não será tão
evidente como nos séculos seguintes – aplicando estes princípios a cidades novas43
(como as portuguesas Viana da Foz do Lima/ Viana do Castelo fundada por D. Afonso
III, ou Nisa fundada por D. Dinis) e a cidades pré-existentes, verificando-se também, a
partir do séc. XIV e em contexto nacional, um crescente número de arruamentos
planeados que introduzem uma nova dinâmica à cidade como a Rua Nova do Porto ou
de Lisboa. Com a viragem para o século XV e posteriormente no século seguinte, dá-se
uma renovação do tecido urbano de várias cidades medievais portuguesas, seja através
de novas expansões urbanas, da construção de novos espaços amplos como praças e
largos, seja também pela construção de novos edifícios públicos. Os tratados de finais
do século XV e início do século XVI44, que circulariam pela Europa, também se
apresentam como uma fonte de informação para os que se dedicavam ao
desenvolvimento urbano e construção de edificados com mais aparato deste período.
Isabel Osório elenca sumariamente os vários equipamentos e estruturas comuns
à urbe medieval45, o que efectivamente se confirma, quer esses mesmos equipamentos e
estruturas ainda existam fisicamente, ou apenas através de memória descritiva e/ou
visual, a saber: mercado, prisão, bancas e ateliers de comerciantes/artesãos, hospitais e
albergarias, fornos, açougues, celeiros, locais de guarda dos pesos e medidas, poços e
fontes, e claro, a muralha46. Este primeiro e último, muralha e mercado, representam por
si só elementos fulcrais da cidade medieval, o primeiro por ser base para a delimitação
MELO, Arnaldo de Sousa (coord); RIBEIRO, Maria do Carmo – “Os Construtores das Cidades: Braga
e Porto (séculos XIV a XVI)” in História da Construção: Os Construtores. Porto: CITCEM e LAMOP,
2012. (p.99-123). p.100
43
TEIXEIRA, Manuel C.; VALLA, Margarida – O Urbanismo Português, séculos XIII-XVIII. Portugal –
Brasil. Lisboa: Livros Horizonte, 1999. p.31
44
Referimos os seguintes: De Re Aedificatoria de Leon Battista Alberti (1450), Trattato di architettura,
ingegneria e arte militare de Francesco di Giorgio Martini (1495), e o I sette libri dell'architettura de
Sebastiano Serlio (1537).
45
OSÓRIO, Maria Isabel de Noronha Azaredo Pinto – op. Cit. p.26-35
46
Sobre as muralhas do Porto consultar: SILVA, António Manuel S. P. – “As muralhas romanas do
Porto: um balanço arqueológico” in Portugália – Nova Série, vol. 31-32 (2010/2011), p.43-64.
42
25
urbana, para protecção e fonte de rendimento, e o segundo por ser ponto de transacção
de mercadorias e produtos, assumindo-se como um centro distribuidor e dinamizador47.
Fig. 2 Porto Medieval - Planta da organização do território. Fonte:
http://www.portopatrimoniomundial.com/a-cidade-medieval.html
Estas e outras construções executam-se através do aproveitamento dos recursos
materiais locais e regionais, bem como do reaproveitamento de estruturas pré-existentes,
o que insere logo à partida uma das variáveis da construção medieval. No Entre Douro e
Minho, por exemplo, exploram-se bastante os recursos florestais para combustível,
fertilização e construção48: madeira para andaimes, travejamentos, tectos, soalhos,
divisões, móveis, utensílios domésticos e equipamentos agrícolas, o barro ou argila
como matéria-prima para oleiros e telheiros, a água como via de comunicação, de
comércio e força motriz na construção, a pedra para a construção de muros ou
revestimentos, podendo ser talhada no local de origem ou no da construção/estaleiro
(Porto, Braga e Guimarães, recebem a pedra mais comum, o granito, de localidades ao
MARQUES, A. H de Oliveira – op. Cit. p.385
MELO, Arnaldo de Sousa (coord); RIBEIRO, Maria do Carmo – “Os Materiais empregues nas
construções urbanas medievais. Contributo preliminar para o estudo da região do Entre Douro e Minho”
in História da Construção: Os Materiais. Porto: CITCEM e LAMOP, 2012. (p.127-162). p.131
47
48
26
seu redor). O tabique é também uma técnica construtiva que se vai vendo amiúde nas
várias construções civis medievais e posteriores, apresentando-se genericamente sob a
forma de tábuas grosseiras e relativamente finas, dispostas ao alto e pregadas nas
extremidades aos barrotes do soalho, muito utilizada na construção de sobrados
salientes. Mais ainda, importa relembrar o carácter “pragmático” destas construções
correntes, já que o construtor medieval destas certamente iria preferir materiais e
soluções construtivas que fossem relativamente fáceis e rápidas de executar, como
parece acontecer em Santarém49, ao mesmo tempo que assegurassem os requisitos
mínimos de segurança e conforto.
Sobre os homens da construção medieval pouco se sabe ainda, existindo apenas,
como refere Sérgio Ferreira50, alguns pagamentos régios, municipais ou de instituições
religiosas e alguns tabelamentos régios e de cariz concelhio. Mas certo será que os
atributos físicos do trabalhador, tais como a idade, definiriam o seu tipo de rendimento,
conforme este fosse mais capaz ou não de dar forma ao trabalho para o qual era
contratado, bem como os seus conhecimentos técnicos, sendo capaz ou não de assumir
uma obra com elevado grau de complexidade. Sobre este aspecto, o mesmo autor refere
um acontecimento na cidade do Porto em que um trabalhador se recusa a fazer parte das
obras na muralha do Porto em 1356, por não se considerar apto para o trabalho e
sugerindo por sua vez, o nome de um mestre mais experiente51. No grupo
socioprofissional dos construtores existiria um mester “maior”, os carpinteiros e
pedreiros que comportavam várias profissões, mas também outros mesteres como
oleiros e serralheiros52, no entanto, estes homens da construção pertenceriam a níveis
médio-baixos da sociedade, distinguindo-se apenas entre si quando fossem “patrões” ou
“empregados”, e podendo ser em alguns casos, trabalhadores de fora da cidade onde
foram chamados ou se apresentaram para trabalhar.
No Porto, a regulamentação dos mesteres é referida apenas na última década do
século XIV53, conforme nos diz António Cruz numa referência retirada de uma vereação
FERREIRA, Maria da Conceição Falcão – “Construção corrente em Santarém, no século XV: Alguns
exemplos” … op. Cit. p.467
50
FERREIRA, Sérgio Carlos – “Salários e níveis de vida dos construtores em Portugal na Baixa Idade
Média”. in História da Construção: Os Construtores. Porto: CITCEM e LAMOP, 2012. (p.205-227).
p.205
51
Idem, Ibidem. p.206
52
CONDE, Manuel Sílvio Alves – Construir, Habitar: A Casa Medieval. Porto: CITCEM – Centro de
Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória», 2011. p.150
53
CRUZ, António – “Os mesteres do Porto no século XV. Aspectos da sua actividade e taxas de ofícios
mecânicos” in Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, vol.III, fasc.I, 1940. p.11
49
27
de 24 de Outubro de 1390, sendo que apenas no início do século XV encontramos
detalhada a tabela de preços para ferreiros e carpinteiros54.
O desenvolvimento urbano medieval geral parece dividir-se em dois grandes
momentos: o primeiro evidencia-se nas cidades tendencialmente radiocêntrias e menos
fechadas face à vida social, visto que não parece haver aqui espaço para bairros
específicos de povos guetizados como mouros ou judeus55, tendo sempre como uma
prioridade as suas defesas militares. No segundo privilegiam-se as questões económicas
e funcionais, expandindo os espaços56, atravessando muitas das vezes os limites
impostos por muralhas e iniciando a construção fora de portas, originando os arrabaldes.
Contudo, a evolução da urbe medieval deriva também das necessidades e de
acontecimentos do seu tempo, bem como das pessoas que as habitavam. Refira-se um
exemplo: no século XIV, posteriormente à Peste Negra57, embora tenha existido uma
quebra demográfica nas cidades medievais europeias, dá-se também outro fenómeno
interessante: com medo da doença, da fome ou de outros infortúnios que daí possam
advir, as populações deslocam-se e procuram locais mais seguros para aí se
estabelecerem58. E que locais mais seguros serão esses? Além das aldeias e campos
mais afastados de centros de contaminação (cidades sem protecção que se formam a céu
aberto), estes locais mais seguros, passariam possivelmente pelas cidades muralhadas e
que oferecem uma maior sensação de controlo, contribuindo assim para uma acumular
de população em cidades tidas como pontos importantes na sua área territorial. O
mesmo acontece com os vários trabalhadores que se deslocam, possivelmente com as
suas famílias, para os grandes centros de construção, em busca de trabalho e
inflacionando o número de habitantes desse mesmo centro, alterando a própria dinâmica
da cidade caso o número de “migrantes” fosse considerável.
A cidade do Porto, local sobre o qual se debruça a nossa pesquisa, apresenta
desde logo, condições bastantes favoráveis para o seu desenvolvimento, desde a Idade
Média, e mesmo antes. Desenvolvendo-se a partir do Morro da Penaventosa, este surge
como um local elevado, com boas condições de segurança naturais (visíveis nas suas
escarpas e na sua altura de 76 e 78m nas cotas mais altas59 e no controlo visual que
CRUZ, António – op. Cit. p.19
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – op. Cit. p.153
56
AFONSO, Daniel Braz – op. Cit. p.22
57
Peste que assolou a Europa, grosso modo entre 1347 e 1353.
58
GONÇALVES, Iria - “Um olhar sobre a cidade medieval” in Patrimonia Histórica Estudos. Cascais:
1996. p.140
59
TEIXEIRA, Helena Lopes – op. Cit. p.13
54
55
28
proporcionava), mas também próximo de um curso de água com praia a uma cota mais
baixa (Miragaia), apresentando assim uma via de comunicação e de comércio com
pontos de outras regiões, o Rio Douro. De referir ainda o Rio da Vila (passando pelas
traseiras da Rua da Bainharia, pela actual Rua Mouzinho da Silveira, pelo Largo de S.
Domingos, Rua de S. João e desaguando na Ribeira) o Rio Frio (entre o vale de
Monchique e a Cordoaria), o ribeiro de Miragaia (desaguando em Massarelos), o ribeiro
das Hortas (desaguando junto aos Lóios) e o ribeiro do Poço das Patas (que desaguava
no Douro)60, estes últimos apresentando-se como uma boa fonte de irrigação de campos,
de limpeza e para instalação de moinhos.
Fig. 3 Porto. Vista do morro da Sé com a Cerca Velha. Maqueta do Porto Medieval, Arquivo Histórico
Municipal do Porto (Casa do Infante). Fonte: http://www.portopatrimoniomundial.com/a-cidademedieval.html
Até ao século XII, antes da chegada de D. Hugo 61 à cidade em 1114, este núcleo
primitivo da cidade medieval do Porto, seria um pequeno espaço amuralhado
(reaproveitando o que restaria da muralha romana e construindo agora uma outra, a
românica) no alto da Penaventosa, cuja população se organizaria em redor de um ainda
TEIXEIRA, Helena Lopes – op. Cit. p.14
A figura de D. Hugo reveste-se de importância para a história da cidade do Porto. Prelado de origem
francesa, cónego e secretário do arcebispo Diego Gelmirez em Santiago de Compostela, foi também
Bispo do Porto entre 1113 e 1136, recebendo a doação do Burgo em 1120 pela mão da Rainha D. Teresa,
concedendo por sua vez foral à povoação em 1123, e agindo como um dos principais impulsionadores do
desenvolvimento urbano da cidade do Porto. O senhorio do Porto apresenta-se como episcopal entre 1120
e 1405, mas no início do séc. XV passa definitivamente para senhorio régio.
60
61
29
modesto edifício religioso62. Posteriormente, Ferrão Afonso fala-nos de três grandes
períodos da evolução urbana da cidade63: O de “iniciativa episcopal”, o de “aliança
Coroa-Concelho” e o de “iniciativa Real”.
O primeiro desenrola-se do século XII ao início do século XIV, numa dialéctica
entre a ideia de cidade episcopal (alto da Penaventosa), e posteriormente, aquando da
expansão para a zona ribeirinha, e de cidade mercantil e régia. O segundo tem lugar ao
longo do século XIV, quando se verifica uma “parceria” entre a Coroa e o Concelho em
oposição à Igreja, com doações de praças e rossios, da primeira para o segundo,
construindo-se grandes espaços como a Casa da Alfândega, a par do estabelecimento
das Ordens Mendicantes na cidade. O terceiro momento prende-se com as várias acções
da Coroa ao longo do século XIV e XV, como a construção de uma nova cintura de
muralha64 iniciada em 1355, a criação da Judiaria do Olival cuja construção se inicia em
1386, e a abertura da Rua Nova iniciada em 1395, que contribuíram para a alteração e
expansão da malha urbana portuense.
Fig. 4 Vista da cidade do Porto in ALBERNAZ, Pedro Teixeira - "La descripción de España y de las
costas y puertos de sus reinos 1634". Fonte:
http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=1258&muda_idioma=PT
AZEVEDO, Rogério – “As Implicações Antecedentes da Arquitectura Medieval Portucalense (Cale,
Portucale e Porto)”, Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Vol. XXXI, fasc. 3-4.
Porto: Livraria Fernando Machado, 1968. p.62-63
63
AFONSO, José Ferrão – A Rua das Flores no séc. XVI… op. Cit. p.30
64
A construção da “muralha nova”, “muralha gótica” ou “muralha fernandina” iniciou-se durante o
reinado de D. Afonso IV, tendo sido terminada no reinado de D. Fernando, ao redor de 1370, surgindo
depois do grande crescimento urbano da cidade do Porto no séc. XIV.
62
30
2.3. Espaços de habitação e de administração pública – características e exemplos
em contexto urbano.
2.3.1. A casa
Os espaços de habitação do período medieval permanecem ainda em parte, por
desvendar e compreender, mas é aceite que estes espaços não seriam entendidos como
hoje, como um espaço privado e familiar. Neste sentido, a imagem da casa medieval
surge como um local onde várias facetas da vida privada e pública se encontram,
variando consoante a sua localização (urbana ou rural65) e o estatuto socioeconómico de
quem a habita e constrói (ou manda construir). O possuir uma casa é algo de importante,
já que significa fazer parte da sociedade “de bem”, pois nem todos a podiam ter66 –
refiram-se os criados que viviam em anexos da casa que serviam e aprendizes de
mesteres que habitavam nas oficinas dos seus mestres – resultando num espelho da
capacidade de adaptação do Homem medieval face ao meio onde este vivia,
apresentando desde logo um grande factor de variabilidade67.
A localização do terreno das próprias casas a construir implica desde logo as
suas medidas e disposição construtiva, já que no meio urbano é a tipologia dos lotes que
as define, não ultrapassando na generalidade áreas entre 30 ou 40m268, o que leva à
construção em altura e ao acrescento de sobrados e consequentemente de divisões. Este
aspecto não se aplicará contudo, ao mundo medieval rural, onde a falta de espaço que se
poderia evidenciar na cidade não acontece, podendo os seus proprietários anexar ou
construir de raiz divisões ao espaço central/original69, não havendo necessidade da
construção em altura. O facto da vivência do mundo medieval ser realizada, na sua
maioria, fora de casa e se passar pouco tempo dentro dos espaços de habitação indica
65
Sílvio Conde, ao longo dos seus trabalhos, define muito bem estes dóis polos: a casa rústica surge como
um núcleo de empresa agrícola, e a casa urbana como sede de múltiplos mesteres.
66
ESTEVAN, Maria Luz Rodrigo – “La Vivenda Urbana Bajomedieval: Arquitecturas, Conflitos
Vecinales y Mercado Imobiliario (Daroca, Siglo XV)” in STVDIVM. Revista de Humanidades, nº 11,
2005. (p.39-74) p.39
67
ANDRADE, Amélia Aguiar – op. Cit. p.34
68
DUARTE, Luís Miguel – “Quando as casas se queriam pequenas (Espaço e Medidas na Idade Média)”.
Arquitectando espaços: da natureza à metapolis. Porto: Faculdade de Letras. Departamento de Ciências e
Técnicas do Património, 2003. (p.183-192) p.189. Sobre esta questão das áreas médias das casas, ver
também o Quadro 1(p.106) presente na obra de Sílvio Conde, Construir, Habitar: A Casa Medieval.
69
Dando origem ao chamado assentamentos de casas ou união de vários edifícios, constituindo o molde
para as casas de lavoura.
31
por sua vez a importância dos anexos como os lagares, lojas, celeiros, palheiros ou
currais, sendo que frequentemente, estes encontram-se no rés-do-chão da casa (como no
caso da loja, local para comércio) ou nas traseiras do lote (como o quintal, local para
hortas e instalação de animais). O lote e aspecto geral da casa urbana medieval seria
assim constituído por uma forma em profundidade e alta, variando consoante o número
de sobrados e onde a ruralidade vivia paredes meias com o mundo citadino. Esta
permeabilidade entre os dois mundos é evidente, mais que não seja no facto de que,
mesmo uma cidade sendo profusamente habitada, esta continha sempre em si espaços
não urbanizados/habitados que serviam para aí se proceder ao cultivo de produtos, como
hortas, vinhas ou olivais70.
Parece-nos importante perceber que a construção em altura nas cidades não se
relaciona directamente com as chamadas casas-torre (que normalmente relacionamos
com casas de famílias nobres e com a domus fortis71), mas sim com a elevada procura
de terreno, o que leva a que em cidades como o Porto, a solução passe por se construir
em altura com vários andares acima do rés-do-chão. No entanto, duas características
gerais distinguem as casas-torres urbanas da casa dita corrente: a pedra que se utiliza no
total da habitação, e não apenas no piso do rés-do-chão, distingue a primeira da segunda
mesmo que esta seja construída em altura, já os pisos superiores são, quase sempre, em
taipa ou material semelhante (Fig. 5). Em cidades como a do Porto, onde a pedra seria
de obtenção e transporte fácil, através das pedreiras que exitiam ao seu redor e do Rio
Douro, esta era ainda um material caro (procedendo-se muitas das vezes à sua
reutilização em novas construções)72, sendo também um material que oferecia algum
grau de dificuldade de trabalho e manuseamento, sendo para isso necessário as mãos
calejadas de pedreiros.
À utilização da pedra em toda a superfície do edifício, junta-se outro elemento
de identificação geral que vemos amiúde em casas-torre, a utilização de merlões e
ameias. O Porto surge aqui como uma exepção, já que, para a sua utilização, sabemos
existir a necessidade de autorização por parte do senhorio eclesiástico73, relacionando-se
GONÇALVES, Iria – op. Cit. p.237
Residência fortificada que surge praticamente por toda a Europa nos finais do século XII e durante
século XIII, associada principalmente a espaços rurais.
72
AFONSO, José Ferrão – A Imagem tem de saltar…p.263
73
Idem, Ibidem. p.261
70
71
32
com a interdição da habitação de nobres na cidade, e notando-se por sua vez, a carga
simbólica de poder que estruturas como estas carregavam.
Fig. 5 Casa-Torre 156-158 da Rua dos Mercadores, Porto. Reconstituição hipotética séc. XVI. Imagem
retirada d`O Tripeiro, 7ªsérie, ano XXXV, nº7, Julho de 2016. p.215. Chama-se a atenção para os lotes
esguios e como uma casa-torre em contexto urbano sobressairia no conjunto das casas correntes.
Continuando com esta questão da construção em altura nas cidade medievais,
verificamos que em Coimbra prevalecem as casas com dois pisos (loja ou sótão +
sobrado), marcando ainda mais a sua tipologia em locais de maior dinamismo
comercial, aumentando o número de pisos consoante a necessidade, e apresentando em
alguns casos, dois vãos de entrada de modo a optimizar as entradas e saídas do espaço
de habitação e negócio74, apresentado construções feitas na já habitual madeira, em
pedra, cal e telha, à semelhança do que acontecia na Guarda com a maioria das
habitações também com loja e um piso sobrado construídas em granito e madeira, em
particular o castanho, contendo no rés-do-chão uma ou várias divisões, sendo uma delas
a cozinha75.
No Alentejo, as casas sobradas existiam mas não dominavam, revelando ainda
coroamento com chaminés, mais comum aqui do que no norte e centro do país76, como
TRINDADE, Luísa – op. Cit. p.129. Para mais informações sobre o nº de pisos, áreas médias e
localização de casos de estudo sobre a casa corrente de Coimbra ver, nesta obra, o Quadro IX (pág.139).
75
GOMES, Rita Costa – op. Cit. p.74-45
76
CONDE, Manuel Sílvio Alves –op. Cit. p.130
74
33
é possível notar nos desenhos de Duarte D`Armas no Livro das Fortalezas77. Em Évora,
por exemplo, é possível aferir que as casas mais usuais serão as de piso térreo com duas
divisões78 cobertas por telha, com a casa dianteira (onde se habita efectivamente) e o
celeiro/casa de dentro (onde de aprovisionam mantimentos), a que se juntam outras
divisões como o curral, quintal, adega ou a cova de pão, divisões que poderão indicar
um maior desafogo financeiro por ser indicador de que o proprietário possui bens
alimentares para aí os armazenar. Relativamente a medidas deste tipo de casas
eborenses, estas rondarão os 3,5m de largura na fachada, somando o dobro na sua
profundidade, admitindo uma área coberta de cerca de 25 a 35 m279.
Em Guimarães as casas sobradas parecem existir mas apenas com um andar e
não vários80 (rés-do-chão para animais/mercadorias/oficinas e um 1º andar de
habitação), utilizando a madeira na construção de beirados salientes, deixando a pedra
para elementos de suporte e alicerces, pintando as fachadas e construindo varandas. O
interior destas casas seria também bastante despojado de mobiliário, com uma divisão a
poder ser local de vários espaços diferentes e com poucas aberturas para proteger a
habitação do calor no Verão e impedir que este se evada no Inverno. A obtenção de luz
e ventilação far-se-ia através de “janelas”81 em locais estratégicos da casa, podendo ser
motivo de conflito entre vizinhos na sociedade medieval principalmente, em habitações
de construção contígua. Também na vila minhota de Ponte de Lima isso parecia
acontecer, nomeadamente através da perduração no tempo de alguns talhões que
chegaram até aos dias de hoje, contendo casas que iriam de uma rua a outra, podendo ter
ou não, serventia pelas duas82.
77
Manuscrito do século XVI, executado a mando do Rei Manuel I, que inclui a indicação dos nomes dos
alcaides, representação de pendões reais, pontes, cursos de água, embarcações, de igrejas, ermidas, paços,
de casario, conventos, de pessoas, forcas, muralhas em derrocada ou por concluir, campos cultivados,
entre outros. Fortalezas representadas: Castro Marim, Alcoutim, Mértola, Serpa, Moura, Noudar, Mourão,
Monsaraz, Terena, Alandroal, Juromenha, Olivença, Elvas, Campo Maior, Ouguela, Arronches,
Monforte, Assumar, Alpalhão, Castelo de Vide, Nisa, Montalvão, Castelo Branco, Idanha-a-Nova,
Segura, Salvaterra, Pena Garcia, Monsanto, Penamacor, Sabugal, Vilar Maior, Castelo Mendo, Castelo
Bom, Almeida, Castelo Rodrigo, Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro, Pena Roia, Miranda do Douro,
Vimioso, Outeiro, Bragança, Vinhais, Monforte de Rio Livre, Chaves, Montalegre, Portelo, Piconha,
Castro Laboreiro, Melgaço, Monção, Lapela, Valença, Vila Nova de Cerveira, Caminha, Barcelos, Sintra.
78
BEIRANTE, Maria Ângela Rocha – op. Cit. p.123
79
Idem, Ibidem. p.124
80
FERREIRA, Maria da Conceição Falcão – Guimarães: duas vilas, um só povo. Estudo de história
urbana (1250-1389). Braga: Co-edição do CITCEM e da Universidade do Minho (ICS), 2010. p.339
81
Seriam, possivelmente, pequenas aberturas com portadas de madeira para as abrir ou fechar, já que as
vidraças só parecem surgir a partir da época moderna, e mesmo que já existissem na época medieval
comportariam um custo bastante acentuado.
82
ANDRADE, Amélia Aguiar – op. Cit. p.36
34
Mais uma vez, é compreensível também que o estatuto e nível de riqueza do
proprietário da casa possa funcionar como um espelho de quem a habita, principalmente
quando falamos da questão do prestígio das habitações, com chamadas de atenção para
o espaço através das dimensões, dos materiais nobres ou dos elementos decorativos que
esta possa conter. Esses mesmos materiais divergem consoante o local onde se constrói,
com por exemplo, o Sul do país a recorrer ao xisto, calcário e granito e o norte
transmontano ao granito, terra crua e cozida, barro e madeira83 (inimiga deste tipo de
construções que assim sucumbem mais facilmente ao fogo).
As próprias formas das construções vão variando e adaptando-se à realidade de
então, referindo-se a título de exemplo, a intervenção urbanística na Ribeira do Porto
depois do incêndio de 1491 (numa acção conjunta do Rei e do Concelho), em que as
casas continham arcadas, como meio de abrigo contra o tempo, numa zona de forte
comércio e troca de mercadorias.
Fig. 6 Pormenor de um edifício na Ribeira. Desenho de Gouveia Portuense – Reprodução fotográfica de
Teófilo Rego. Documento subordinado/Ato informacional, 1951. Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/unitsof-description/documents/339358/
No Porto de quinhentos, e possivelmente no período imediatamente anterior, as
casas privadas, pertenciam na realidade e na sua maioria a grandes proprietários como a
83
CONDE, Manuel Sílvio Alves –op. Cit. p.23
35
Mitra, o Cabido e o Concelho, além do Hospital de Rocamador84 (que apresentava uma
grande presença espalhada pela cidade mas em particular na Rua do Souto), e os
Conventos de S. Domingos, S. Francisco, Santo Elói, e Santa Clara85, além de pequenos
proprietários, instituições religiosas e capelas fora de muros. Estas casas, quando
localizadas em áreas específicas de maior densidade populacional, apresentariam por
razões de espaço, lotes mais estreitos e compridos, principalmente entre os séculos XIV
e XV, surgindo no século seguinte com uma profundidade menor mas com uma fachada
mais larga86. Sobre os materiais utilizados nesta cidade, estes não variam muito dos já
referidos, com particular atenção para a pedra (utilizada no rés-do-chão das casas) e a
madeira, taipa e cal nos sobrados, utilizando ainda a telha nas coberturas.
É possível ainda atender às várias componentes “extra-habitacionais”, algumas
já referidas anteriormente, que existem na casa corrente do Porto e de outras regiões
também, a saber: o alpendre ou sacada (forma de prolongar o espaço interior muitas
vezes exíguo da casa), os quintais ou exidos (frequentemente renegados para as traseiras
das casas, com animais e pequenos espaços de cultivo, oferecendo quando possível,
uma outra entrada para a propriedade) e a loja ou sótão (na sua maioria situado no résdo-chão, espaço dedicado ao comércio como pequenas oficinas).
Fig. 7 Casa com exido. Imagem retirada do trabalho de Ângela da Silva 87. p.91
84
Em 1499 D. Manuel I institui por Carta Régia a Irmandade da Misericórdia do Porto, e em 1521
atribuiu a esta instituição o Hospital-Albergaria de Rocamador, a maior instituição com este tipo de
missão à data. Localizava-se na Rua do Souto (mais tarde Rua da Ferraria de Cima, actual Rua dos
Caldeireiros) atravessando a Rua de Santa Catarina das Flores até à Porta do Olival, sendo que a sua
entrada fazia-se junto ao Padrão de Santo Elói (actual Largo dos Lóios).
85
AFONSO, José Ferrão - A Rua das Flores no séc. XVI… op. Cit. p.57
86
Idem, Ibidem. p.62
87
SILVA, Ângela Carina Areias da – op. Cit.
36
2.3.2. Paços do Concelho e Alfândegas88
Além das habitações correntes e das habitações com mais aparato que compõem
o aglomerado urbano, nas cidades medievais portuguesas sedes episcopais, entenda-se
Braga, Porto, Guarda, Lamego, Viseu, Coimbra, Lisboa, Silves e Évora, é notório o
papel preponderante que os grandes edifícios públicos tinham na estrutura e na própria
organização interna do espaço urbano.
Os paços surgem aliados à administração pública e à capacidade de exercer o
direito e a justiça, tidos como atributos régios89, e a sua localização dentro das cidades
parece ser um privilégio quase exclusivo de reis e bispos, como de resto acontece no
Porto, tendo os Paços do Concelho/Paços da Relação/Casas de Câmara, enquanto
edifícios, tomado uma maior relevância aquando da ordem régia de 1340 que referia a
obrigatoriedade de uma reunião semanal dos vereadores, e posteriormente, a existência
de um espaço físico digno onde as reuniões pudessem ter lugar e onde se conseguisse
organizar e sistematizar toda a informação recolhida dessas discussões num único
local90.
Começam assim a surgir em maior número paços do concelho, manifestação
física do poder concelhio, em vários pontos do território nacional, como nos diz Luísa
Trindade, ao referir que a primeira referência feita a um edifício deste tipo surge 1316
para Leiria, seguindo-se em 1317 para Lamego, em 1334 para Óbidos, 1336 para
Lisboa, 1337 para Torres Vedras, 1341 para Coimbra, 1346 para Alcácer do Sal, 1355
para Vila Nova de Gaia, 1358 para Montemor-o-Novo e 1360 para Faro91. De referir
ainda que estas reuniões concelhias nem sempre se realizavam em locais próprios para o
efeito, nas Casas da Câmara, mas sim em locais que pelas suas dimensões se mostravam
mais adequados para acolher todos quantos comparecessem às ditas reuniões, como por
88
Muito mais haveria a dizer sobre os edifícios e equipamentos públicos de uma urbe medieval, contudo,
visto que os exemplos do nosso trabalho, que analisamos no capítulo seguinte, apenas se debruçam sobre
os Antigos Paços do Concelho e a Alfândega Régia da cidade do Porto, optamos por referir aqui apenas
estas duas tipologias.
89
SILVA, José Custódio Vieira da – Paços Medievais Portugueses. Caracterização e Evolução da
Habitação Nobre (séculos XII a XVI). Dissertação de Doutoramento em História da Arte, apresentada à
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, 1993. p. 41.
90
TRINDADE, Luísa – “Casas da Câmara ou Paços do Concelho: Espaços e Poder na Cidade TardoMedieval Portuguesa” in Evolução da Paisagem Urbana. Sociedade e Economia. (coord. Maria do
Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo), Braga: CITCEM, 2012. p. 209
91
Idem, Ibidem. p.221
37
exemplo, terreiros ou alpendres de mosteiros, como acontecia no caso do Porto em que
se utilizaria o alpendre do Mosteiro de S. Domingos92.
Contudo, torna-se necessário atender ao carácter prático deste tipo de
construções (à semelhança do que acontece com a casa corrente), que ao contrário do
que podemos ser levados a pensar, nem sempre configuram arquitecturas de aparato ou
qualificadas. Com efeito, muitos dos paços de concelho que se conhecem ou de que há
memória, começaram por ser simples construções de madeira quando construídas de
raiz, ou uma junção de lotes previamente construídos e existentes, onde aí se instalam
os serviços da Câmara. Veja-se a título de exemplo, a primitiva Casa da Câmara do
Porto que funcionaria numa pequena casa de tabuado, junto à Sé93 ou a de Castelo de
Vide onde se adaptou uma casa de habitação corrente94, guardando para estes edifícios,
contudo, um aspecto importante, o da localização quase sempre central, junto dos
espaços religiosos mais importantes.
Quando os paços do concelho são construídos especificamente com essa função,
ao mesmo tempo que se pretendem assumir como um claro local de poder na cidade,
estes apresentam formas e técnicas mais depuradas que os permitem distinguir na malha
urbana. É o caso da Domus Municipalis de Bragança, que embora muito alterada por
intervenções no século XX, apresenta uma solução encontrada amiúde nestas
construções, a utilização de arcos. Esta ideia encontra-se aqui no grande salão rodeado
por janelas em arco, mas também em Évora num possível pátio aberto em arcaria95, e
ainda no Porto, referindo-se o edifício da câmara como um “paço em arcos”96 antes de
92
Embora o Porto tivesse uma Casa da Câmara já referida desde 1354, como nos diz Magalhães Basto
nas páginas referentes aos Paços do Concelho do Porto, incluídas nas Vereações Anos de 1390-1395,
refere-se também que a “crasta segunda do Mosteiro de S. Domingos” era utilizada várias vezes para as
reuniões do Concelho. Cremos que, tal como o autor questiona, esta “crasta segunda” poderia ser o
alpendre do próprio mosteiro, quer pela sua área, quer pela sua localização.
93
BASTO, A. De Magalhães – “Os Diversos Paços do Concelho da Cidade do Porto. Subsídios para a sua
História” in Vereaçoens. Anos de 1390-1395. O mais antigo dos Livros de Vereações do Município do
Pôrto existentes no seu Arquivo. Comentário e notas de Artur de Magalhães Basto. Documentos e
Memórias para a História do Pôrto. Vol II. Porto: Câmara Municipal do Porto, Gabinete de História da
Cidade, 1973. p.250
94
TRINDADE, Luísa – “Casas da Câmara ou Paços do Concelho: Espaços e Poder na Cidade TardoMedieval Portuguesa” in Evolução da Paisagem Urbana. Sociedade e Economia. (coord. Maria do
Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo), Braga: CITCEM, 2012. p. 212
95
Idem, Ibidem. p.216
96
Os primitivos Paços do Concelho do Porto funcionariam numa casa de tabuado, junto da Sé, contudo os
mesmos foram abandonados por estes não proporcionarem as condições necessárias ao seu bom
funcionamento, construindo-se então um novo Paço, num local próximo, ao redor de 1350, seguindo a
tipologia de “paço em arcos”. No entanto, e visto que esta construção assentou no muro velho (muralha
primitiva), a sua estabilidade foi pouca e o edifício ruiu, reconstruindo-se por sua vez os Paços do
Concelho que iremos tratar no capítulo seguinte.
38
este ruir e se o reconstruir com recurso a uma solução turriforme. A ideia do espaço que
recorre a arcos relaciona-se com um espaço não totalmente fechado, onde se admite a
comunhão do espaço interior com o exterior, solução que aliás se relaciona por sua vez
com a dos espaços porticados, comuns em edifícios de cariz público, como as casas de
câmara o são.
Fig. 8 “A Domus Municipalis, tal como se conservou até ao 3º decénio do século XX". Fonte:
http://www.monumentos.pt/site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2418
A partir do século XV surgem cada vez mais edifícios deste tipo, denotando-se
uma aproximação a soluções arquitectónicas presentes nas residências nobres. Surge
aqui a preferência por edifícios turriformes, com recurso a ameias, aliados à já referida
solução de arcaria, como podemos verificar a título de exemplo, nos Paços do Concelho
de Guimarães, de Barcelos, de Viana do Castelo, e novamente, do Porto, resultando em
aspectos comuns nos edificados deste período e tipologia97. São eles: a construção em
dois pisos, sendo o rés-do-chão constituído por arcaria em arcos apontados e o primeiro
andar pautado por janelas de sacada, e o coroamento com ameias.
Fig. 9 Paços do Concelho de Viana do Castelo. Fonte: www.bloguedominho.blogs.sapo.pt
TRINDADE, Luísa – “Casas da Câmara ou Paços do Concelho: Espaços e Poder na Cidade TardoMedieval Portuguesa” in Evolução da Paisagem Urbana. Sociedade e Economia. (coord. Maria do
Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo), Braga: CITCEM, 2012. p.221
97
39
Por outro lado, as alfândegas surgem como espaços onde se recolhem as
mercadorias que entram ou saem de um determinado local, estando situadas em portos
de mar (portos molhados) ou na raia seca (portos secos)98, podendo ser ainda em alguns
casos, local de albergue para os que aí chegam, constituindo assim um espaço dinâmico
dentro da urbe medieval99. O regulamentar e proteger estes espaços de circulação de
pessoas e mercadorias torna-se desde logo uma necessidade, quer pela questão da
segurança, quer pelas receitas que os mesmos proporcionavam – receitas de passagem,
portagem, dízima ou sisa100.
Constituem igualmente mais um espaço de poder, o poder régio, sendo disso
exemplo a Casa do Infante no Porto, que vai mais além do espaço da própria alfândega
e Casa da Moeda, ao serem construídas ao seu redor casas e edifícios (como o Paço dos
Tabeliães e a Bolsa dos Mercadores) quase todos foreiros do rei, construindo por sua
vez um “quarteirão régio” nesta cidade. De facto, esta ideia de que certos edifícios
simbolizam certos poderes dentro de uma cidade medieval (e não só), é algo sobre o
qual vale a pena pensar, já que são estes, de uma forma geral, que marcam a paisagem e
a organização do próprio território, que causam o maior impacto no visitante e que
motivam disputas entre os várias forças que se movem (episcopal, régia e concelhia), e
parece-nos também correcto associar certos espaços e construções a poderes episcopais
ou senhoriais e concelhios101: ao primeiro, os grandes edifícios religiosos como
catedrais, os paços episcopais e residências de cónegos e aos segundos, as praças,
rossios, ou casas de câmara.
Em Vila do Conde, na zona ribeirinha, cria-se a alfândega régia a mando de D.
João II, por carta de 27 Fevereiro de 1487, certamente relacionado com o crescente
aumento do comércio marítimo português, mas que não estaria totalmente dependente
da alfândega do Porto, mandada construir em 1325 por D. Afonso IV, estando antes
numa posição subalterna desta, já que as mercadorias trazidas a Vila do Conde eram
LENCASTRE, Francisco Salles de – Estudo sobre as portagens e as alfândegas em Portugal (séculos
XII-XVI). Lisboa: Imprensa Nacional, 1981. p.1
99
Idem, Ibidem. p.3
100
COSTA, Paula M. de C. Pinto; CASTRO, Júlia Isabel C. C. Alves de - [Em-linha] “A alfândega de
Freixo de Espada-à-Cinta em 1517” in DOURO – Estudos e Documentos, vol.III (5), 1998 (1º), (p. 95108), p.96. Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/9388.pdf [consultado em 26/04/2017]
101
RIBEIRO, Mª do Carmo, MELO, Arnaldo Sousa – [Em linha] “A materialização dos poderes no
espaço urbano como expressão da memória e identidade urbana medieval” in Medievalista, nº 12, JulhoDezembro 2012.
Disponível em: http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA12/melo_ribeiro1207.html
[consultado em 26/04/2017]
98
40
despachadas pelo juiz do Porto102 (situação que só viria a ser contrariada nos últimos
anos do século XV). O edifício da alfândega régia de Vila do Conde situava-se (e
continua a situar-se) sob um afloramento granítico, em frente ao terreiro que hoje se
chama Largo da Alfândega, estando afastada um pouco mais do que um quilómetro da
foz do rio Ave, apresentando uma fachada com dois pisos, com marca do reinado de D.
Manuel, as duas esferas armilares que ladeiam o portal de entrada principal, recebendo
ainda ampliações como forma de adaptação do espaço, ao longo do século XVIII, de
forma a colmatar as necessidades do intenso tráfego comercial que então se fazia sentir.
Fig. 10 Vista da alfândega régia de Vila do Conde, actual sede do Museu de Construção Naval. Fonte:
http://www.atlanticurbangardens.com/pages/30/?geo_article_id=1184
Além disso, espaços como alfândegas que se querem amplos e com uma
dimensão considerável, tornam-se também fontes dinamizadoras do comércio local e
regional fornecendo um local de encontro entre várias culturas e pessoas, sendo pontos
de referência nos eixos viários de uma cidade, por vezes até alterando-os. Mais ainda, e
principalmente quando construídos junto a vias fluviais (portos molhados) parece existir
uma maior probabilidade desses locais conservarem em si vestígios de várias camadas
de ocupação, já que, como sabemos, o Homem desde cedo procurou estabelecer-se
junto a cursos de água, utilizando-os para consumo próprio, para a agricultura ou
mesmo para defesa – é possível observar isso mesmo na Casa do Infante, e nos
resultados dos trabalhos arqueológicos que provam que o local terá sido habitado, pelo
menos, desde o período tardo-romano103.
PEREIRA, João Cordeiro – Para a História das Alfândegas em Portugal no início do século XVI (Vila
do Conde – organização e movimento). Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, FCSH,1983. p.39
103
GOMES, Paulo Dordio; TEIXEIRA, Ricardo Jorge; MELO, Maria do Rosário – “O Contributo da
Arqueologia para o estudo da Casa do Infante” in Henrique o Navegador. Catálogo da Exposição
Comemorativa do 6º Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique. (4 Março a 4 de Setembro de
1994). Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 1994. p.151-159
102
41
Capítulo III: Exemplos de arquitectura civil medieval na cidade do
Porto
O Porto é uma cidade grande, feita de casas pequenas – e, aqui e além, alguns raros
palácios discretos (…)104
Feito um contexto geral do desenvolvimento e da dinâmica de uma cidade
medieval, das suas construções de habitação e de certos edifícios públicos, é hora de
enumerar os vários exemplos de arquitectura civil medieval que encontramos
actualmente na cidade do Porto. Ainda hoje, e à primeira vista, sobressaem os lotes
estreitos e altos, feitos de pedra e taipa dentro do espaço do centro histórico da cidade,
numa alusão a tempos mais recuados, onde as construções se acumulavam em pequenas
parcelas de terreno, situação que se viria a modificar com maior notoriedade a partir de
Quinhentos, quando se preferem espaços mais generosos em largura – muitas das vezes
conseguidos através da junção de dois lotes contíguos e de uma nova e uniformizadora
fachada. Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano já referiam isso mesmo, numa
conferência realizada na Casa dos Jornalistas do Porto, em Maio de 1957: (…) a casa
independente, esguia e alta, é, em todo o norte do país, a casa própria do extracto
burguês, mais ou menos abastado, da população urbana; como o Porto é
essencialmente uma cidade de gente burguesa, próspera e rica, praticamente todas as
casas são deste tipo (…), continuando esta descrição da edificação da cidade (…) Pode
afirmar-se que até ao século XVI, fora uma ou outra excepção (…), só houve no Porto
casas estreitas, burguesas ou mesteirais, híbridas e funcionais (…)105.
Outro aspecto importante a reter do que se pode observar numa passagem nos
dias de hoje pelo centro urbano do Porto, é a de que, embora muitas das fachadas,
andares e disposições arquitectónicas/construtivas dos edifícios actuais correspondam a
cronologias mais avançadas do que a medieval (séculos XVII, XVIII e XIX), certo é
que muitas delas reaproveitam bases e estruturas prévias, e mesmo quando não são as
estruturas que sobrevivem, é o lote, a delimitação de terreno, que serve de base para um
outro edifício. Se existe material em boas condições e solidez para arcar com uma nova
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando – “Casas do Porto” in Douro Litoral, Boletim
da Comissão de Etnografia e História. Dir. de Augusto César Pires de Lima, 8ª série, VII-VIII. Porto:
Edição da Junta de Província, 1958. p.640
105
Idem, Ibidem. p.646
104
42
construção, há que o reaproveitar e não destruir, levando isto a uma outra questão que
vale a pena referir: os edifícios e elementos remanescentes que surgem como exemplos
de estudo no nosso trabalho são, todos eles, construídos em material pétreo,
prolongando-se no tempo e chegando até aos dias de hoje. Há portanto, uma outra
faceta, a da construção em materiais mais perecíveis, como a madeira, que nos escapa,
não podendo este ser um retrato da arquitectura civil medieval portuense por inteiro,
mas apenas uma parte dele.
São estas e outras questões que nos importa estudar a analisar nos exemplos
seguintes, entendendo também, quando possível, como estes edifícios e/ou estruturas se
adaptaram à contemporaneidade, seja pela sua utilização actual, seja pelas remodelações
e intervenções que vão recebendo ao longo do tempo. Para uma melhor compreensão do
espaço e organização de trabalho, dividem-se os exemplos por zona e consequentemente
por arruamento106, traçando paralelamente a evolução urbana da cidade do Porto ao
longo do período medieval e nos momentos imediatamente anteriores e posteriores.
3.1. Zona da Sé
O actual espaço envolvente da Sé do Porto apresenta-se como uma zona
especialmente rica em matéria de memória arqueológica e histórica, confirmada pela
realização de trabalhos arqueológicos desde os anos 80 do século passado107 e pela
pesquisa realizada para a construção da maqueta medieval da cidade, exposta
actualmente na Casa do Infante, desenvolvida no âmbito das comemorações do VI
Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique em 1994, o que, obrigatoriamente,
levou a uma pesquisa profunda dos vários aspectos relacionados com a cidade no
período medieval, deixando-nos uma fonte rica em assuntos desta matéria. De facto,
estes trabalhos contribuíram, entre outros, para o esclarecimento de uma questão base
do urbanismo portuense: onde se iniciaram as primeiras construções? A resposta parece
106
Como já referimos anteriormente, as ruas, praças e becos ou vielas a que nos referimos no trabalho,
foram alvo de constante mudança de toponímia. Para um melhor entendimento da cidade de hoje,
optámos por referir o nome actual dos arruamentos em questão.
107
Uma das primeiras intervenções no Morro da Sé é apontada para a data de 1984, sob direcção de
Manuel Luís Real. Entre outros, é possível ver que estes trabalhos começaram por explorar a Antiga Casa
da Câmara (Paços do Concelho) e a Casa Nº5 da Rua de D. Hugo. Uma análise mais detalhada de como
estes primeiros trabalhos arqueológicos se desenvolveram e dos resultados obtidos (ao nível das
estruturas, estratigrafia e espólio) pode ser feita através da leitura da separata Escavações Arqueológicas
no Morro da Sé, da autoria de Manuel Luís Real e edição da Câmara Municipal do Porto, do ano de 198586.
43
ser o Morro da Penaventosa (onde se encontra a Sé) – e não a Cividade, ponto mais alto,
e onde por norma, outras povoações se estabelecem –, recuando até ao Bronze Final,
possivelmente devido à proximidade face ao rio e às suas defesas naturais108.
Estes e outros trabalhos arqueológicos realizados na cidade, trouxeram à luz do
dia materiais do séc. V e VI, nomeadamente nas escavações da Casa da Câmara, na Rua
de D. Hugo e na Ribeira (quando se dá o abandono do espaço do Morro da Sé, aquando
da ocupação romana, prefere-se a zona ribeirinha109), notando-se a quase ausência de
materiais do período da Reconquista, e levando assim à consideração dos diferentes
ritmos de ocupação da cidade do Porto durante a Alta Idade Média110: expansão da urbe
no séc. VI, retrocesso no séc. VIII (possivelmente relacionado com as invasões
muçulmanas), redução da população durante o período vulgarmente chamado da
Reconquista, e recuperação no séc. IX (com a intervenção de Vímara Peres e a
Presúria). Posteriormente com a concessão do Couto e outorga da Carta de Foral de D.
Hugo em 1123, foi-se desenvolvendo uma estratégia de povoamento e desenvolvimento
do burgo111.
Fig. 11 Porto Medieval (séc. IX) Núcleos urbanos na cidade medieval (assinalados a amarelo) Fonte:
http://www.portopatrimoniomundial.com/a-cidade-medieval.html
REAL, Manuel Luís – “A construção Medieval no sítio da Sé”. Monumentos. Revista Semestral de
Edifícios e Monumentos Nacionais. vol. 14, Março de 2001 (p.8-19). p.9
109
AFONSO, Daniel Braz – A rua na construção da forma urbana medieval: Porto, 1386-1521.
Dissertação de Mestrado em História da Arte Portuguesa apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, 2012. p.29
110
CARVALHO, Teresa Pires de; GUIMARÃES, Carlos; BARROCA, Mário Jorge – Bairro da Sé do
Porto. Contributo para a sua caracterização histórica. Câmara Municipal do Porto, CRUARB/CH –
Projecto Municipal para a renovação urbana do Centro Histórico do Porto, Projecto Piloto Urbano da Sé,
1996. p.23
111
Idem, Ibidem. p.25
108
44
Durante o séc. XII e até à primeira metade do séc. XIV, o espaço intramuros
apresenta-se como o centro da cidade do Porto, sendo as delimitações espaciais um
factor importante neste ponto. Estas faziam-se, de maneira geral e à semelhança de
tantas outras urbes medievais, através da muralha. No caso do Porto, a construção da
muralha dita primitiva (que reaproveitou partes da muralha romana de finais do séc. III
d.C., descoberta nas escavações de casas sobre a muralha primitiva voltadas para a Rua
de D. Hugo e para o Largo do Colégio112) situa-se no período de administração do
Bispo D. Hugo, contando com um percurso de cerca de 750 metros, envolvendo e
defendendo a colina onde se instala a Sé e a parte inferior da zona das Aldas113.
Fig. 12 Porto Medieval (dos sécs. XII/XIII ao século XV) Núcleos urbanos da cidade (encontram-se
também assinaladas as duas linhas de muralha da cidade). Fonte:
http://www.portopatrimoniomundial.com/a-cidade-medieval.html
Os exemplos que se apresentam de seguida foram recolhidos nos arruamentos da
zona da Sé, contendo os que estariam dentro do burgo primitivo, mas também alguns
que estariam em arruamentos imediatamente fora deste114.
112
Zonas onde se encontraram vestígios de muralha romana: Largo e Rua de Penaventosa, Largo do
Colégio, quarteirão da Bainharia e Rua de D. Hugo. Informação e mapeamento das zonas, disponível em:
http://www.portopatrimoniomundial.com/a-muralha-romana.html [consultado em 20-03-2017].
113
CARVALHO, Teresa Pires de; GUIMARÃES, Carlos; BARROCA, Mário Jorge – op. Cit. p.11.
114
José Ferrão Afonso na sua tese de doutoramento faz um levantamento de vários prazos relativos a
arruamentos ao redor da Sé, onde é possível encontrar algumas características construtivas das casas (nº
de sobrados, existência de eixidos...) e dos seus moradores desta zona, ao redor de quinhentos. Apesar de
se tratar de uma cronologia mais avançada do que aquela que nos propomos a estudar, vale a pena
consultar os quadros com informação sobre os vários arruamentos da zona do Redemoninho e das Tendas
(quarteirão arrasado no século XX) – A Imagem tem de Saltar... p.841 a 969.
45
3.1.1. Beco dos Redemoinhos e Rua de D. Hugo
No actual Beco dos Redemoinhos encontramos o primeiro exemplo de
arquitectura civil habitacional a tratar neste capítulo. Tendo em conta que, de facto, a
importância de uma rua advém-lhe, em grande medida, da sua posição geográfica no
respectivo burgo, dos acessos que possuiu, das ruas com que comunica, dos edifícios
que tem, e claro, das pessoas que nela habitam115, este espaço sobressai no conjunto de
arruamentos ao redor da Sé já que, a antiga Rua dos Redemoinhos (antes das obras da
cabeceira da Sé no séc. XVIII que lhe modificaram as formas e limites), ligava duas
portas de muralha primitiva116, a da Vandoma e a das Mentiras, e servia o acesso ao
atrium de Santa Maria, espaço ao redor da antiga cabeceira da catedral, onde se situava
o cemitério e por onde se chegava ao lado norte do claustro antigo117.
Fig.13 Localizção das quatro portas da muralha primitiva e localização aproximada da Casa Nº 5 da Rua
de D. Hugo (mais a cima na planta, junto à Porta da Vandoma) e da Casa do Beco dos Redemoinhos.
Fonte (planta): http://portoarc.blogspot.pt/2012/06/
Neste arruamento é possível observar ainda hoje uma casa que teve como
proprietário o cónego Afonso Luís, que a comprou a 30 de Junho de 1479, e cuja
informação é possível consultar nos Livros de Originais e nos Livros de Prazos do
SILVA, Mª João Oliveira e – “A Viela dos Cónegos: O espaço e os Homens de uma rua do Porto” in
Lusitania Sacra, Revista de Estudos de História Religiosa. Universidade Católica Portuguesa. Clérigos e
Religiosos na Sociedade Medieval, 2ª série, Tomo XVII, 2005. p.96
116
A Porta da Vandoma foi demolida em 1855, a de S. Sebastião em 1819, a de Santana em 1821, e a das
Mentiras demolida algures durante o século XVIII.
117
SILVA, Mª João Oliveira e – op. Cit. p.98
115
46
Arquivo Distrital do Porto118. Com chaminé ao centro da fachada (motivo pelo qual
vários autores consideram esta casa de possível influência flamenga119 ), este imóvel
apresenta uma fachada voltada para o beco, possuiria dois vãos de entrada (um deles, o
mais à direita, está agora tapado e dá lugar a uma janela), e quatro janelas trilobadas,
das quais apenas restam duas120 (Fig. 14, 15 e 16).
Figs. 14, 15 e 16 Pormenor do vão de entrada elevado, mísula do lado esquerdo da fachada e pormenor
das janelas geminadas do 2º piso da Casa do Beco dos Redemoinhos. Fotografias da autora.
Na Rua de D. Hugo, antiga Rua do “Remolinho”, que se diz documentada pela
primeira vez em 1221121, encontramos vários exemplos de interesse para este trabalho.
O primeiro encontra-se na Casa nº5 (actual Arqueossítio e de livre acesso mediante
marcação122), prédio que se encontra junto ao único troço da primeira linha de muralha
visível actualmente, e que por si só, apresenta duas tipologias distintas: a de casa (a casa
original, encostada ao único troço visível de cerca primitiva da cidade, seria de traçado
gótico mas foi destruída), visto que o actual edifício do séc. XIX conserva parte de uma
parede medieval com portal e janelão que daria para uma desaparecida viela, dando
origem a que o Arqueossítio contenha dentro de si uma fachada invertida (Fig.18), e a
de elemento(s) remanescente(s), já que no interior, o subsolo foi alvo de escavações que
revelaram cerca de vinte camadas arqueológicas, com ruínas arquitectónicas e utensílios
118
Livro dos Originais, Cartº do Cabido, 1666(8), fl.35 e Livro dos Prazos, Cartº do Cabido, nº511,
fl.144v-145, citado em SILVA, Mª João Oliveira e – “A Viela dos Cónegos: O espaço e os Homens de
uma rua do Porto” in Lusitania Sacra, Revista de Estudos de História Religiosa. Universidade Católica
Portuguesa. Clérigos e Religiosos na Sociedade Medieval, 2ª série, Tomo XVII, 2005. p.99
119
PASSOS, Carlos de – Guia Histórica e Artística do Porto. Casa Editora de A. Figueirinhas, Lda:
Porto, 1935. p. 286. Nesta obra dos anos 50 do século passado, esta casa é já referida como “em ruína”,
tendo o seu estado permanecendo assim até aos dias de hoje.
120
LOZA, Rui Ramos (coord. projecto); REAL, Manuel Luís (coord. científica) – op. Cit., p.112
121
FREITAS, Eugénio Andrea da Cunha – Toponímia Portuense. Matosinhos: Contemporânea, 1999.
p.175-176
122
Mais informação sobre a localização, acesso, contactos, imagens e como marcar visitas, disponível em:
http://www.visitporto.travel/visitar/paginas/viagem/DetalhesPOI.aspx?POI=1333 [consultado em 20-032017]
47
desde o séc. IV e III a.C.123 (Fig.17). Foi também aqui feita a comprovação da
existência de um castro proto-histórico (origem do núcleo urbano da cidade), de
ocupação romana e alti-medieval.
Fig.17 Planta com os vestígios encontrados na Rua de D. Hugo, Nº5. Fonte: DMMPC-CMP.
Figs. 18 e 19 Pormenor do vão de entrada e vão de iluminação da casa gótica (fotografia da autora) e vista
do lado Norte do actual Arqueossítio, integrada no edifício do século XIX. Fonte:
http://www.portopatrimoniomundial.com/rua-de-d-hugo.html
Sendo uma tarefa bastante demorada e complicada elencar todos os vestígios
encontrados neste espaço, daremos especial relevo aos da periodização medieval. Esta
OSÓRIO, Maria Isabel de Noronha Azeredo Pinto (coord) – O Porto das Mil Idades. Arqueologia na
Cidade. Porto: Câmara Municipal do Porto. Divisão de Museus e Património Urbana, 1993. p.23
123
48
casa gótica seria bastante mais baixa e mais curta do que o prédio onde actualmente se
insere. No séc. XVII foi erguida uma outra construção ao lado desta casa124, não sendo
possível, para já, saber que relação havia entre as duas, sabendo-se contudo, através dos
trabalhos arqueológicos desenvolvidos neste local, da existência de uma pilastra desse
século. No séc. XIX, o espaço foi quase todo demolido para aí se construir um novo
edifício (avançando a fachada deste até ao limite que vemos hoje da Rua de D. Hugo),
com excepção da fachada gótica que foi reaproveitada e incorporada. Aliás, para esse
período cronológico, há a existência no Arquivo Municipal Histórico da cidade, de um
pedido de licença de obras de Manuel Cardoso Corte Real125, que pedia então para
construir neste espaço uma cocheira, juntando-se a outros vestígios contemporâneos
encontrados no interior como uma chaminé de tijolo e um pequeno tanque126.
Ainda no interior deste local, conseguiu-se apurar vários níveis de lajeados
datados entre os séculos XIV e XVII, cobrindo um outro, contemporâneo da casa gótica.
A parede murária revertida que subsiste da casa gótica (construída algures entre o
século XIV e o século XV) apresenta através desta e da dimensão do seu vão de
iluminação, um alicerce bastante sólido e potente, que contrasta com o muro medieval
encontrado ligeiramente em frente (Fig.20), que se crê pertencer a uma outra casa que
também iria de encontro à muralha primitiva, mas de feições mais ligeiras e não tão
profundas – os alicerces da casa gótica teriam quase um metro e meio de profundidade,
ao passo que os da casa em frente apenas cinquenta centímetros127.
O facto deste muro de uma possível casa se encontrar de frente para a fachada da
casa gótica (para a fachada voltada para o interior do prédio, visto que como já dissemos
anteriormente, a que está visível do exterior é invertida), levou a que se defendesse a
existência de alguma via entre elas, um possível caminho ou rua (Fig.21) ligando as
casas à muralha, motivado ainda pelo portal de entrada elevado da casa gótica,
precedido por degraus.
REAL, Manuel Luís – Escavações arqueológicas no Morro da Sé…. p.15
Arquivo Histórico Municipal do Porto, Plantas de Casas, Livro 45, fl. 29-31. Neste documento pode
le-se: Eu Manuel Cardozo Corte Real desta cidade que em terreno sito na rua de Traz da Sé, pretendo
[…] edificar uma cocheira e um pórtico d`entrada no jardim com forme a planta […] mas como não
pode fazer sem aprimação e licença […]
126
REAL, Manuel Luís – Escavações arqueológicas no Morro da Sé…. p.16
127
Idem, Ibidem. p.17
124
125
49
Figs. 20 e 21 Alicerce da casa do séc.XII/XIII e possível rua medieval ligando a rua de D. Hugo à
muralha primitiva. Imagens retiradas do trabalho de Manuel Luís Real128.
Na mesma rua encontramos ainda mais um exemplo. Dois vãos de entrada em
arco de volta perfeita actualmente fechados e caiados (Fig.22), em lote aparentemente
vazio. Sobre os dois vãos que passam quase despercebidos, nada sabemos, apenas que
estes se encontram numa zona de vasto potencial arqueológico, e que pela sua dimensão
e qualidade construtiva poderiam ser vãos de entrada para uma casa com algum aparato.
Figs. 22 Vãos de entrada (?) na Rua de D. Hugo. Fotografia da autora.
3.1.2. Rua de Penaventosa
A Rua de Penaventosa, antiga Rua dos Palhais durante a Idade Média, que corria
paralela à muralha do lado interior, contém em si bastantes referências a troços de
128
REAL, Manuel Luís – Escavações arqueológicas no Morro da Sé...
50
muralha primitiva (do séc. XII), conforme indicam relatórios de escavação a que
tivemos acesso e lotes aos quais foi possível aceder e fotografar como o caso do lote
com o N.P.73 e 73A (Fig.22), que além de conter no seu interior parte de muralha
visível,
pode
apresentar
também
parte
de
estrutura
medieval
referente
a
construções/casas, visto que o mesmo lote apresenta pelo menos duas camadas distintas
de pano murário e não seria raro a construção de casas sobre este tipo de estruturas.
Além disso, é também nesta rua, e quase de frente para este último exemplo, que
encontramos o que Manuel Luís Real classificou como um portal de entrada para os
“Açougues do Povo”129 (Fig.23), justificando esta ideia, entre outras, pelo arco gótico
desta rua apresentar aparato suficiente para ser de um edifício público, e com altura
necessária para aí passarem homens a cavalo. Esta questão da localização dos
“Açougues do Povo” nesta rua é referida, por exemplo, no Tombo do Cabido de 1566,
onde se escreve: a então Rua dos Palhaes começa no arco de S. Sebastião e vai pella
Porta dos Açougues do povo e por detrás das casas da Sapataria pera a Rua das Aldas,
acrescentando ainda referência da proximidade das casas face à muralha primitiva:
todas as casas dellas entestão com o muro velho130.
Figs. 22 Interior do lote 73/73 A (primeira camada assinalada a vermelho e segunda a amarelo) Fig. 23
Pormenor do vão de entrada, possível portal para os “Açougues do Povo”. Fotografias da autora.
REAL, Manuel Luís – Escavações Arqueológicas no Morro da Sé…. p.19
Citado em: CARVALHO, Teresa Pires de; GUIMARÃES, Carlos; BARROCA, Mário Jorge – Bairro
da Sé do Porto… p.182
129
130
51
O edifício que vemos hoje (lote com o N.P. 36 a 40, sendo que o portal se
encontra no 38) foi alvo de reabilitação por parte do CRUARB em 1988, pela mão do
arquitecto António Moura131, por forma a reconstruir o espaço que iria receber um
estabelecimento comercial no rés-do-chão e habitações nos pisos superiores. Todos os
documentos referentes ao processo de obras podem ser consultados no A.H.M.P.132, e
analisando a memória descritiva do mesmo foi possível perceber que, aquando da
intervenção de reabilitação, o edifício estava em ruína, atulhada de restos de construção,
mantendo apenas as suas paredes exteriores – uma delas onde se encontra o portal, que à
data estaria em bom estado de conservação – em alvenaria de granito e uma parede
interior de meação que dividia o edifício inicial em duas partes. Refere-se que a fachada
principal apresentava uma altura de 11 metros por 8 metros de largura, e que a fachada
posterior apresentava a mesma largura por 6 metros de altura, justificando este desnível
de alturas com a existência de um páteo situado nas traseiras a uma cota superior face à
Rua de Penaventosa. Enumeram-se também os vãos do edifício, a saber: 3 vãos de porta
e 7 vãos de janelas/frestas na fachada principal, de construção aparentemente mais
recente (relativamente ao portal em arco apontado), e 1 vão de porta e 4 de janelas na
fachada posterior.
3.1.3. Rua de S. Sebastião e Rua Escura
Na Rua de S. Sebastião, que incorpora parte da antiga Rua da Sapataria,
encontramos um dos maiores exemplos de arquitectura civil medieval da cidade do
Porto, a Antiga Casa da Câmara. A primitiva terá funcionado numa pequena casa de
tabuado, junto à Sé133, sendo que mesmo apesar do Porto ter uma Casa da Rolaçom, era
necessário para os maiores plenários um espaço amplo e vasto, e este seria o alpendre
do Mosteiro de S. Domingos134. A Casa da Relação que surge no nosso trabalho como
exemplo de estudo, não é esta da qual não nos foi possível encontrar, até à data, nenhum
vestígio, mas sim a casa-torre com fachadas voltadas para a Rua de S. Sebastião e para o
Largo da Sé, actualmente em ruína consolidada e que mereceu um projecto
contemporâneo de reabilitação.
131
DELGADO, Ana Paula; VALENÇA, Paulo de Quiróz; GUIMARÃES, Margarida Mesquita (coord.
De) – Morro da Sé. De Porta a Porta. Porto Vivo SRU, Sociedade de Reabilitação Urbana da Baixa
Portuense, S.A., 2ª edição. [s.d.] p. 47
132
A.H.M.P. Processos de obras do C.R.U.A.R.B, Guia 8/2007, Pastas 1, 2 e 3.
133
BASTO, A. De Magalhães – “Os Diversos Paços do Concelho da Cidade do Porto…” p.250
134
Idem, Ibidem. p.247
52
Fig. 24 Localização do edifício dos Antigos Paços do Concelho. Fonte: http://lh5.ggpht.com/TDEo31wcr50/T5BOO1j5t7I/AAAAAAAAYkw/f-SyQUC6cWU/s1600-h/b721s3.jpg
Esta casa-torre, Domus Municipalis até finais do séc. XVIII, terá sido construída
no início do século XV135, aproveitando parte da cerca primitiva como base e tendo
cerca de 100 palmos de altura do lado da Rua de S. Sebastião136, sabendo-se, segundo a
descrição do edifício por Magalhães Basto, que o seu salão superior apresentaria tecto
pintado, dividido a todo o comprimento por um tabique para a existência de uma
Câmara de Parlamento à parte, e as janelas viradas para a Sé, apresentariam laçarotes
com pendor mourisco, directrizes explícitas no contrato de carpintaria de 1443 entre a
Câmara e Gonçalo Domingues, demonstrando por sua vez a presença do gosto mudéjar
na cidade137.
No sobrado inferior, destinado a Casa do Auditório, existiriam bancadas ao redor
de toda a sala, com cadeirais para os Juízes e tabeliães, existindo ainda, no exterior, uma
escada de madeira a fazer a ligação entre os dois andares. A porta com acesso através do
Largo da Sé seria imponente, com cadeado e fechadura de fora, e com couceiras
forradas de ferro, e o edifício teria ainda uma Loja dos Paços do Concelho voltada para
a Rua de S. Sebastião138. Em 1485, o mesmo autor refere que a Antiga Casa da Câmara,
135
Magalhães Basto refere o contrato da obra de carpintaria para a nova casa do concelho, datado de 1443
(presente nas Vereações de 1390-95), como marco do início da construção deste nosso exemplo de
estudo. Contudo, Manuel Real defende que isto não será verdade e que a construção terá tido início bem
mais cedo, visto que o documento terá sido datado pela era de César.
136
REAL, Manuel Luís – A construção medieval no sítio da Sé…p.16
137
SOUSA, Fernando de (coord.); FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. (coord) – Os Paços do
Concelho do Porto. Porto: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade, 2012.
p.20
138
BASTO, A. De Magalhães – “Os Diversos Paços do Concelho da Cidade do Porto…” p.254
53
já estaria terminada, já que a Câmara estaria à procura de arrendatário para o espaço,
mas baixo do edifício (a loja), e que depois terá sido aforada a Afonso Ferraz.
No século seguinte à sua construção, o edifício apresentava já problemas. Em
1536-39 foi necessário fazer novas obras, já que o espaço apresentava novamente
algumas debilidades. O rei D. João III, manda avançar com as obras de reconsolidação,
contudo, o edifício continua em ruínas durante bastante tempo, tendo por isso a Câmara
alugado as casas de Jorge Ferraz, junto à Sé, durante um ano, para que as reuniões do
Concelho pudessem continuar139. Sobre este assunto, foi chamado João de Castilho a
dar parecer sobre o edifício, que defendeu não ser necessária a sua demolição e total
reconstrução (ao contrário do que vários oficiais da cidade defendiam), afirmando que
uma breve obra de consolidação traria ao edifício a estabilidade que há muito se
procurava. Ainda assim as obras de requalificação, melhoramento e consolidação
continuaram por necessidade constante.
Em 1684 foi pedido novo parecer sobre a situação da Casa da Câmra, conforme
indica a Veração de 3 de Junho desse mesmo ano, sendo que para esse efeito foram
convocados os mestres-pedreiros António Vieira, Manuel do Couto, Manuel Rodrigues
e o engenheiro Manuel Pinto Vila Lobos, este último autor de vasta obra arquitectónica
no Minho140, sabendo-se que todos defendiam obras urgentes para tornar este espaço
seguro, mesmo que isso significasse derrubar a própria torre.
Em 1783 dá-se a Vistoria dos Paços do Concelho e a Câmara obriga a demolir
todo o espaço, abandonando o edifício no ano seguinte e instalando-se em parte do
Convento de S. Lourenço (conhecido como Convento dos Grilos) durante 11 anos,
passando depois para a Casa Pia. Porém o edifício não é demolido na totalidade
(permanece o rés-do-chão, arrendado a uma fábrica de refinação de açucar, e o 1º andar,
arrendado à Associação dos Latoeiros141) e só com um incêndio em 1875 é que deixam
de existir negócios que aí estavam alojados.
BASTO, A. De Magalhães – “Os Diversos Paços do Concelho da Cidade do Porto…” p.263
SOUSA, Fernando de (coord.); FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. – op. Cit. p. 20-21
141
Idem, Ibidem. p. 24
139
140
54
Fig. 25 Vista do Porto a partir de Gaia, por Teodoro Maldonado, 1789. Chama-se a atenção para o
edifício 34, a Torre da Relação ou Casa da Câmara. Fonte: http://portoarc.blogspot.pt/2012/08/
Os trabalhos arqueológicos, da iniciativa do CRUARB, que se realizaram a
partir de 1984 neste mesmo edifício, vieram pôr a descoberto (depois da limpeza do
interior das ruínas que se apresentavam totalmente atulhadas de pedra e saibro) as suas
paredes sigladas e as duas portas góticas que ainda hoje vemos, bem como a existência
de um lajeado da entrada lateral, estruturas que confirmaram o derrube de parte de pano
de muralha românica que motivou a reconstrução do edifício no séc. XV, e ainda peças
de cerâmica tardo-medieval142.
Fig. 26 Aspecto das ruínas da Antiga Casa da Câmara e dos edifícios que foram demolidos para a
reconstrução do Terreiro da Sé, captado da rua de São Sebastião. Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/unitsof-description/documents/334975/?q=rua+de+s.+sebasti%C3%A3o
142
REAL, Manuel Luís – Escavações Arqueológicas no Morro da Sé… p.11
55
Actualmente, o que resta do edifico gótico, envolve uma construção
contemporânea, da autoria de Fernando Távora e projecto de 2002. Conserva ainda o
rés-do-chão com os seus muros, e os dois portais em arco apontado, um voltado para a
Rua de S. Sebastião e outro, numa plataforma de terreno ligeiramente elevado, voltado
para a Avenida da Ponte.
Figs. 27. Apecto actual do edifício, com o vão em arco apontado voltado para a Avenida da Ponte.
Fotografia da autora. Fig. 28 ”Cortes do Projecto de Execução” de Fernando Távora, 1998. Fonte:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.095/147
Também na antiga Rua Nova, que em 1404 já se chama Rua Escura 143 (a Rua
Nova de então passou a ser a actual Rua do Infante D. Henrique, na zona ribeirinha),
foi-nos possível encontrar um lote aparentemente de feição medieval (Figs. 29 e 30),
actualmente entaipado e esvaziado, com um vestígio de suporte pétreo para sobrado.
Este não será exemplo único na cidade nem em concreto nesta rua, mas poderá servir de
exemplo sobre a ideia da constante presença da forma medieval na construção do Porto,
neste caso, da forma e dimensão do lote medieval.
143
FREITAS, Eugénio Andrea da Cunha – op. Cit. p.136
56
Figs. 29 e 30 Pormenores do lote de feição medieval com suporte em pedra para sobrado, N.P.
20 e 22 da Rua Escura. Fotografias da autora.
De facto, a presença de lotes aparentemente medievais, estreitos, longos e de
feições rectângulares, que definem à priori a dimensão e profundidade do espaço
(principalmente ao nível do rés-do-chão já que os edifícios podem apresentar
posteriormente acrescentos e sobrados em ressalto aumentando ligeiramente a sua
dimensão e volume inicial), são uma constante na cidade do Porto com especial
expressão nos arruamentos com maior longividade, tendo isso mesmo ficado visível ao
longo do tempo até à cidade actual (Fig.31). Sobre isso mesmo António Cruz escreve o
seguinte144: Se persistirmos no exame atento do casario, devemos adivinhar ainda o
traçado medieval dos arrumamentos do burgo, com toda a graça primitiva (…). Este
sistema de loteamento forma assim uma série de quarteirões compactos e bem definidos
em fileiras145, marcando a paisagem geral da urbe, e que nos chegam até aos dias de
hoje. Será aliás característica comum das cidades medievais nortenhas, este loteamento
compacto, podendo variar a sua profundidade: maior nas zonas dos arrabaldes e menor
nas zonas do interior do burgo.
CRUZ, António – Velho Burgo. Alguns aspectos, figuras e casos do Porto Antigo. Porto: Livraria
Simões, 1953. p.10
145
SILVA, Ângela Carina Areias da – op. Cit. p.89
144
57
Fig. 31 Aspecto actual do centro histórico da cidade e de certos quarteirões e arruamentos que conservam
loteamentos medievais: Bainharia/Penaventosa/Pelames (a vermelho), Mercadores (a verde) e Infante D.
Henrique (a amarelo) Fonte (maqueta): http://www.apraca.net/wp-content/uploads/2015/01/CHP-mapafor-web.jpg
3.1.4. Calçada de Pedro Pitões
O espaço ao redor da Sé que existe actualmente, não representa o que seria a
realidade medieval. Existiram aqui várias intervenções, principalmente nos anos 30 e 40
do século passado com a acção da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais, que levaram ao arrasamento do casario em frente ao edifício religioso, a par
da abertura da Calçada da Vandoma, da de D. Pedro Pitões e da construção da Avenida
da Ponte nos anos 50 (Fig.32), mas que revelaram também a existência de evidências
materiais de arquitectura medieval, bem como levaram a reconstruções de edifícios,
com mais ou menos sucesso. Estas mesmas intervenções colocaram a descoberto uma
série de dados que nos permitem compreender um pouco mais da organização urbana
medieval deste espaço em concreto. É disso exemplo o surgimento, de entre o
quarteirão das Tendas (quarteirão que foi arrasado no século XX), de um espaço
atorreado, uma possível casa-torre medieval (Fig.33).
58
Fig. 32 Pormenor da Planta Topográfica da Cidade do Porto (1892), de A. Teles, com as construções
demolidas no fim dos anos 30” (a laranja). Imagem retirada da obra “Bairro da Sé do Porto” 146.
Figs. 33 e 34 Vista do antigo Largo do Açougue Real, depois do Paço, e mais tarde também chamado de
Largo D. Pedro Vitorino (durante as demolições no Terreiro da Sé) vendo-se a casa-torre. Fotografia de
Guilherme Bomfim Barreiros, c.1940. Chama-se ainda a atenção para a existência de um vão em arco
apontado, na mesma zona (a amarelo). Na imagem da direita, o aspecto depois da reconstrução do
edifício, visto do Terreiro da Sé. Fonte: http://gisaweb.cm-porto
Depois de descoberta durante as demolições do casario ao redor da Sé do Porto,
esta torre terá sido totalmente reconstruída perto do sítio original (Fig. 34), distanciando
certa de 5 metros do mesmo. O edifício atual, que poderá ser considerado uma obra
revivalista, conteve em si o Gabinete de História da Cidade (daí lhe advém o nome de
146
CARVALHO, Teresa Pires; GUIMARÃES, Carlos; BARROCA, Mário Jorge – op. Cit. p.96
59
Torre da Cidade), entre 1940 e 1960, na década seguinte, foi sede do Centro Cultural e
Social da Sé, e em 1997 sofre um projecto de reabilitação pela mão do arquitecto
Manuel Magalhães, aquando do Projecto Piloto Urbano do Bairro da Sé. Nos dias que
correm, e desde 1998, é sede de um posto de turismo.
3.1.5. Rua dos Pelames e Rua do Souto
A Rua do Souto foi a artéria mais longa do velho burgo em tempos medievais,
ligando a Porta do Olival até ao Morro da Sé (actualmente essa ligação ainda existe,
mas agora através da Rua do Souto e Rua dos Caldeireiros), até ter sido cortada em duas
partes devido à abertura da Rua de Santa Catarina das Flores em 1522. Destaca-se este
arruamento por ter contido uma grande concentração de propriedade camarária, visível
no trabalho de Luís Carlos Amaral147, onde se faz um levantamento dos prazos, vendas,
escambos e doações do período medieval para a cidade do Porto (na sua maioria
referente ao século XV), com referência a casas, chãos e exidos, e no qual esta Rua é
referida mais do que 30 vezes.
Fig. 35 Traçado medieval, aproximado, da Rua do Souto (a vermelho). Fonte (mapa):
http://www.ribatejo.com/hp/base/cgi-bin/ficha_imagem.asp?cod_imagem=158
Aliás, as casas e edifícios que seriam propriedade/foreiros da Câmara são em
parte, ainda hoje, perceptíveis a quem por eles passa, já que muitos apresentam nas suas
fachadas (na sua maioria no lintel), a inscrição “F.ACAMARA”, que a par de outros
AMARAL, Luís Carlos – “Subsídios documentais para o estudo da propriedade imobiliária no
concelho do Porto no período medieval”. Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto, 2ª
série, vol.5-6, 1987-88 (p.55-132)
147
60
símbolos como o Arcanjo de S. Miguel (propriedade foreira do Cabido da Sé e visível
por exemplo, no edifício com o N.P. 106 da Rua dos Caldeireiros), a roda das navalhas
de Santa Catarina (propriedade foreira da Mitra e que podemos observar na casa com o
N.P. 79 da Rua das Flores) e o próprio desenho de uma mitra (também propriedade
foreira da Mitra), indicam-nos a quem pertenceria o imóvel.
Fig. 36 Símbolos representativos de propriedade. 1 e 2: Propriedade da Mitra. 3: Propriedade do Cabido
da Sé. 4: Propriedade da Mitra. 5: Propriedade da Câmara. Imagem retirada do texto “Casas do Porto” da
obra Douro Litoral148.
Fig. 37 Edifício com N.P. 106 da Rua dos Caldeireiros. Fig. 38 Edifício com o N.P. 76 da Rua de Santa
Catarina das Flores. Imagens retiradas do texto “Aspectos Arqueológicos e Artísticos da Cidade do
Porto”149.
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando – op. Cit. p. 684
BARREIROS, Guilherme Bomfim; FERREIRA, J. A. PINTO – “Aspectos Arqueológicos e Artísticos
da Cidade do Porto” in Documentos de Memórias para a História do Porto, XIX. Porto: Edições da
Câmara Municipal do Porto, Gabinete de História da Cidade, 1949.
148
149
61
Contudo, e apesar da importância que a Rua do Souto deveria possuir na época
medieval em termos de localização, acesso/ligações viárias e propriedade, esta revelou
ser fonte de um pequeno número de exemplos para o nosso trabalho150. O facto de ser
um arruamento constantemente ocupado e reconstruído poderá ter que ver com isso
mesmo, não deixando ainda assim de nos mostrar, mais uma vez, a continuidade da
delimitação do lote medieval nas construções mais recentes, o uso da taipa em pisos
sobrados, vestígios de pano murário nas fachadas e alguns vãos de entrada em chanfro
ao nível do rés-do-chão. Encontramos assim, nas casas actualmente habitadas, com os
N.P. 11 e 13 (Fig. 39) e N.P. 15 e 17 (Figs. 40 e 41), dois lotes medievais seguidos, com
dois vãos de entrada cada um, em chanfro, e pisos superiores em taipa, que se juntam a
uma casa, também ela em lote aparentemente medieval, actualmente entaipada, que
apresenta pano murário visível na sua fachada, com N.P. 23 e 25 (Fig. 42), à
semelhança do que acontece ainda com a casa com o N.P. 16 e 18 (Fig. 43), também
com pano murário visível.
Fig. 39 Casa com o N.P. 11-13 da Rua do Souto. Fotografia da autora.
Figs. 40 e 41 Casa com o N.P. 15-17 da Rua do Souto e pormenor dos vãos chanfrados dessa mesma casa.
Fotografias da autora.
150
Referimo-nos ao espaço da actual Rua do Souto, consideravelmente mais curta do que no seu período
medieval. Na actual Rua dos Caldeireiros, que fazia parte da Rua do Souto neste período, foi-nos possível
encontrar mais exemplos.
62
Fig. 42 Casa com o N.P. 23-25 da Rua do Souto. Fig. 43 Casa com o N.P. 16-18 da mesma rua.
Fotografias da autora.
Existe ainda mais um exemplo que vale a pena referir, desta vez no cruzamento
da Rua dos Pelames com a Travessa do Souto, uma casa habitada com o N.P 55 (Fig.
44), e que apresenta a sua estrutura em lote aparentemente medieval, com base assente
em pano murário visível, pisos superiores em taipa, e ainda um vão de entrada
rectangular elevado. Este pano murário visível que vemos na imagem abaixo remete-nos
para os afloramentos graníticos característicos deste eixo Souto – Pelames – Rio da
Vila, não fosse este um local de grande concentração de aloques e pelames medievais,
ou seja, de estruturas escavadas na rocha ligadas a actividades de curtimento de peles.
Fig. 44 Casa com o N.P. 55, cruzamento entre a Rua dos Pelames e a Travessa do Souto. Fotografia da
autora.
63
3.1.6. Rua de Santana
A antiga Rua das Aldas, actual Rua de Santana, começaria perto da junção das
Ruas dos Mercadores e da Bainharia, passando pela Porta de Santana, e penetrando pelo
interior do burgo, com vários lances de escadas, de forma a combater os desníveis ao
longo de todo o seu percurso. À semelhança do que acontecia com a Rua do Souto, a
antiga Rua das Aldas seria de maior extensão no seu período medieval, situação que se
veio a modificar, devido à construção do Convento de S. Lourenço151. Dada a sua
localização é ainda um dos cinco pontos da cidade onde se encontraram vestígios da
muralha romana (Fig. 45), posteriormente reutilizada na construção românica (sobre a
qual também aqui se construíram casas), que por sua vez tinha uma das suas quatro
portas nesta rua, a Porta de Santana. Esta porta faria a ligação com a zona ribeirinha da
cidade, abrindo a mesma para a actividade mercantil, tendo, por outro lado, uma
importância menor para a actividade religiosa, dado o seu isolamento face a outros
arruamentos152, com exepção do actual Largo de Penaventosa, isolamento esse aliviado
apenas no século XVII com a construção das Escadas do Colégio153.
Fig. 45 Locais onde se encontraram troços de mulhara romana. 1. Largo do Colégio e Rua de Santana
(tardoz das casas voltadas para a actual Viela de S. Lourenço) 2. Largo de Penaventosa. 3. Rua de
Penaventosa. 4. Quarteirão da Bainharia. 5. Casa Nº5 da Rua de D. Hugo. Fonte:
http://www.portopatrimoniomundial.com/a-muralha-romana.html
151
A construção do edifício iniciou-se em 1577, pela mão dos Jesuítas, que aí permaneceram até à sua
expulsão em 1759, passando então o imóvel para os Frades Descalços de Santo Agostinho até 1832.
Actualmente pertence ao Seminário Maior, desde 1834.
152
CARVALHO, Teresa Pires de; GUIMARÃES, Carlos; BARROCA, Mário Jorge – op. Cit. p.211
153
Idem, Ibidem. p.215
64
Além dos exemplos em estudo no nosso trabalho, enumerados adiante, importa
referir também a existência de uma sinagoga, a Sinagoga das Aldas, perto deste
arrumamento. Na parte superior desta rua (perto da actual Igreja de S. Lourenço ou
vulgarmente chamada de Igreja do Grilos), posteriormente destruída aquando da
construção do Colégio dos Jesuítas que já referimos, existiria uma rua, referida segundo
documentação do Cabido, como a rua a que chamon a ssynagoga154, rua essa que se crê
indicar a localização da primeira sinagoga do Porto, na Judiaria Velha. No lado oposto,
e no local onde esteve em tempos o Arco de Santana, encontramos o nosso primeiro
exemplo desta rua. O local apresenta um nicho que esconde uma escada (Fig. 46) que
corria dentro da muralha primitiva e que daria acesso à capela de Santana, sendo que
esta estaria sobre a porta de muralha com o mesmo nome155. O arco (Fig. 48) terá sido
demolido em 1821, mas sobrevive esta porta, de setecentos, com o seu nicho, aberta no
muro românico.
Fig. 46 Pormenor do nicho com a escada interior. Imagem retirada da obra “Bairro da Sé do Porto” 156.
Fig. 47 Aspecto actual do nicho. Fotografia da autora. Fig. 48 Arco de Santana no começo do Séc. XIX.
Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/52824/?q=rua+de+santana
Do outro lado rua, um pouco acima deste último exemplo (subindo de encontro à
Igreja de S. Lourenço), encontramos uma casa, com o N.P. 47 com duas fachadas (uma
para a Rua de Santana e outra para a Rua da Bainharia) que apresentam várias camadas
construtivas de diferentes cronologias, mas revela, uma vez mais, a construção em taipa
em sobrados desnivelados, além de conter parte de um portal possivelmente
154
A.D.P. Doc. Cabido, 1574, fl. 64, citado em CARVALHO, Teresa Pires de; GUIMARÃES, Carlos;
BARROCA, Mário Jorge, op. Cit., p.218
155
AFONSO, José Ferrão – A Imagem tem de saltar... p.411
156
CARVALHO, Teresa Pires; GUIMARÃES, Carlos; BARROCA, Mário Jorge – op. Cit. p.217
65
quinhentista (Fig. 49) – e cuja forma é semelhante a vãos de entrada encontrados na Rua
dos Mercadores e na de S. Bento da Vitória – e ainda dois elementos remanescentes,
possivelmente reutilizados de outras construções ou de elementos decorativos,
actualmente impregnados numa das paredes exteriores deste espaço (Fig. 51 e Fig. 52).
Fig. 49 Vista da casa com o N.P. 47 na Rua de Santana. São visíveis os vários “recortes” dos pisos em
taipa, pano murário à vista e ainda metade de um portal possivelmente quinhentista. Fig. 50 Vista do
tradoz das casas da Rua de Santana e parte visível de muralha românica (a vermelho). Fotografias da
autora.
Fig. 51 Elemento remanescente I, na parede exterior da casa com o N.P. 50, voltada para a Rua de
Santana. Fig. 52 Elemento remanescente II, na mesma parede da mesma casa. Fotografias da autora.
Ainda nesta localização, importa chamar a atenção para o tardoz das casas da
Rua de Santana, que dão para a Viela de S. Lourenço, e que por sua vez, se encontra
entre a Rua de Santana e o tardoz das casas da Rua dos Mercadores, ainda que a cotas
de nível diferentes. Como já foi referido, estas casas assentavam, e parte delas ainda
assentam, em pano murário românico, sendo isso ainda hoje visível (Fig. 50).
3.1.7. Rua da Bainharia
Esta rua estendia-se da Cruz do Souto (cruzamento entre a Rua dos Pelames e
Rua do Souto) até à Rua dos Mercadores, e enquanto que a Rua da Penaventosa corria
66
paralela à muralha românica do lado de dentro, a Rua da Bainharia fazia o mesmo, mas
do lado de fora, numa cota bastante mais baixa, criando assim em conjunto com a Rua
dos Mercadores e a Rua Escura, mais um eixo viário bastante importante da cidade. Era
também ponto de passagem obrigatório para os que entrassem na urbe através do Rio
Douro e seguissem para outras localidades além Porto (por exemplo, Penafiel ou
Braga). Mais ainda, este eixo não se cria apenas no período medieval, remontando
mesmo ao período romano, visto que a necessidade de atravessar o Morro da
Penaventosa para alcançar outros pontos geográficos, por parte dos que chegavam
através da via fluvial, era uma realidade já nessa época157.
Fig. 53 Pormenor da Planta topográfica da cidade do Porto. A. Telles Ferreira, 1892. Assinala-se a Rua
da Bainharia (a amarelo) e a localização aproximada dos objectos de estudo (a vermelho).
Neste arruamento encontramos um conjunto de exemplos, em concreto três, que
pela sua proximidade (os lotes são seguidos, partilhando paredes de meação dos
mesmos) trataremos como um só. Encontramo-los nas casas habitadas com o N.P. 50 e
52, N.P. 46 e 48, N.P. 44 e 42 em lotes aparentemente medievais com elementos de
suporte em pedra, entre elas. Todos estes lotes apresentam rés-do-chão em pedra com
dois vãos de iluminação cada um, e dois ou três pisos superiores, também em pedra.
157
CARVALHO, Teresa Pires de; GUIMARÃES, Carlos; BARROCA, Mário Jorge – op. Cit. p.143
67
Fig. 54 Pormenor do suporte pétreo (do lado direito) na casa com o N.P. 50 e 52 da 0Rua da Bainharia.
Fig. 55 Pormenor do pano murário visível da casa com o N.P. 46 e 48 da mesma rua. Fig. 56 Pormenor de
outro suporte em pedra na casa com o N.P. 42 e 44 da mesma rua. Fotografias da autora.
3.2. Zona Ribeirinha
Para conhecer a evolução da zona ribeirinha (zona baixa), é necessário entendêla na sua relação com a zona da Sé (zona alta). A posterior expansão da cidade para os
arrabaldes a partir do séc. XIII, originou a ocupação da zona ribeirinha, impulsionada
pelo surgimento e estabelecimento das Ordens Mendicantes no Porto158, dando uma
nova dinâmica à cidade, colocando-a com dois pólos de actividade (no que diz respeito
a actividades de carácter mercantil, construtivo ou social) e que momentos como a
Procissão do Corpus Christi159, por exemplo, ajudavam a unir.
Fig. 53 Possível imagem da Praça da Ribeira antes da remodelação urbanística do séc. XVIII. Imagem
retirada d`O Tripeiro160.
158
A fundação do Convento de S. Domingos do Porto teve lugar em 1239, por iniciativa de Sancho II, e a
construção das fundações do convento de S. Francisco iniciou-se em 1245.
159
Manifestação religiosa instituída pelo Papa Urbano IV, em 1264, a decorrer na primeira quinta-feira
depois do Domingo da Santíssima Trindade (domingo seguinte ao Pentecostes e que antecede o Corpo de
Deus).
160
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património: “Espaço nobre
dos burgueses do Porto” in O Tripeiro, 7ª série, ano de XXXIII, nº12, Dezembro de 2014. p.380
68
A propriedade residencial intramuros estava dividida grosso modo entre o
Cabido e o Concelho: o Cabido detinha campos, azenhas e casas em torno do morro da
Sé, bem como nas Ruas do Redemoinho, Pena Ventosa, Cimo de Vila e Lada, ao passo
que o Concelho detinha as propriedades do Morro do Olival e zona Ribeirinha, como as
zonas dos Banhos, Pelourinho, Lada e Mercadores161.
Fig. 54 Planta do Porto (sécs. XIV e XV), com o mapeamento das zonas gerais que compunham a cidade.
Fonte: http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA12/melo_ribeiro1207.html
A ocupação desta zona revelou também os conflitos entre a Coroa e o Bispado,
agravados pela construção de casas na Rua da Alfândega por D. Afonso IV a partir de
meados do séc. XIV, e na Rua Nova (actual Rua Infante D. Henrique) por D. João I,
dando início à construção do património régio na cidade do Porto162 e funcionando
como o primeiro passo na aquisição de poder territorial na cidade do Porto por parte da
Coroa. Estes conflitos ficariam sanados apenas em Abril de 1444 (ano de Cristo de
1406), nas Concordatas de Santarém, quando a rainha e o Infante D. Duarte se reúnem
com D. Gil e o cabido, resultando daí a renúncia por parte do bispo e cabido do Porto à
jurisdição da cidade, direitos e senhorio, ficando o rei, por sua vez, incumbido de pagar
uma quantia anual ao bispado, quantia essa assegurada pelas pensões dos tabeliães e dos
foros das suas casas na cidade163.
AFONSO, Daniel Braz – op. Cit. p.40
MARQUES, José – “Património Régio na Cidade do Porto e seu termo nos finais do século XV.
Subsídios para o seu estudo” in Separata da Revista de História, vol.III. Porto: Faculdade de Letras,
1982. p.75
163
Descrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto, por Agostinho Rebelo da Costa. H.G. 5505 P,
que se encontra na Biblioteca Nacional de Lisboa, datada de 1788. 3ª edição, Lisboa: Frenesi. Junho
MMI. p.209
161
162
69
3.2.1. Rua dos Mercadores
A Rua dos Mercadores, juntamente com a Rua da Bainharia e a Rua Escura,
formou no período medieval, um dos principais eixo de ligação entre a vila baixa e a
vila alta da cidade do Porto, além de ser conhecida por conter um grande número de
casas-torre neste mesmo período e de, à semelhança do que acontecia com a Rua Chã,
possuir isenção de aposentadoria, dada por D. Fernando e reafirmada por D. João I164
(apesar desta rua ser cobiçada por nobres e prelados para aí se instalarem quando se
deslocassem ao Porto, notando-se assim que a casas desta rua possuiriam bons níveis de
conforto). Estendia-se ao longo da zona extra-muros, começando perto da Porta da
Vandoma e indo até à Praça da Ribeira e ao Rio Douro, sendo assim um arruamento
escolhido por muitos mercadores para aí construírem as suas casas e estabelecimentos
de comércio, tornando esta rua numa zona com bastantes habitações próprias,
construídas de raíz maioritariamente em pedra (do rés-do-chão aos pisos superiores)
pelos seus moradores e não apenas arrendadas, como se verificava noutros arruamentos
da cidade.165.
Fig. 55 Localização actual da Rua dos Mercadores (a amarelo), depois de aberta a Rua de S. João
(paralela à Rua dos Mercadores) e que terá cortado parte dos quintais das casas. Fonte:
http://www.portopatrimoniomundial.com/uploads/7/5/5/5/7555524/7373537_orig.jpg
164
165
CARVALHO, Teresa Pires de; GUIMARÃES, Carlos; BARROCA, Mário Jorge – op. Cit. p.160
Idem, Ibidem. p.158
70
Na casa com o N.P. 156-158 encontramos o nosso primeiro exemplo de estudo
nesta rua (Fig. 56), uma casa-torre e sobre a qual existe alguma informação que merece
ser referida166. A retirada do reboco aquando de um projecto de remodelação do edifício
em 2004167, permitiu ver o que se escondia por trás deste, encontrando-se no 3º andar da
parede de meação norte, junto ao tecto, uma “pingadeira” e ainda, no 4º andar da
fachada posterior, duas aberturas que poderão ser possíveis fornos168, já que seria nestes
espaços superiores traseiros que ficariam as cozinhas, devido aos receios de incêndios.
Sobre o mesmo imóvel há nota da existência de um pedido de licenciamento camarário
com o nº 506, em nome de António Pinto Rezende169, aprovado a 20 de Setembro de
1866, referindo-se a troca de janelas góticas geminadas do quarto e último andar por
vãos rectangulares simples, aspecto que ainda hoje se verifica (Fig.57).
Fig. 56 Fachada actual da casa-torre com o N.P. 156-158 da Rua dos Mercadores. Fotografia da
autora. Fig. 57 Fachada existente da casa-torre (à esquerda) e reconstituição da fachada original e corte (à
direita). Imagem retirada da revista O Tripeiro170.
166
Ver Fig. 5 deste trabalho e possível reconstrução da casa-torre, feita por Luís Aguiar Branco, p.29
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património: “A descoberta
arquitectónica do ano” in O Tripeiro, 7ª série, ano de XXXV, nº6, Junho de 2016. p.173. Este artigo tem
continuação no número seguinte: BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos –
Porto Património: “Aproveitar a oportunidade para emendar o erro” in O Tripeiro, 7ª série, ano de
XXXV, nº7, Julho de 2016 (p.215-217)
168
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património: “Aproveitar a
oportunidade para emendar o erro” … p.216
169
Disponível para consulta no Arquivo Histórico Municipal do Porto: Livro das Plantas de Casas, nº35,
pág.193.
170
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património: “Aproveitar a
oportunidade para emendar o erro...” p.217
167
71
Fig. 58 Pormenor do interior da casa-torre (janelas). Imagem retirada da revista O Tripeiro171.
Fig. 59 Pormenor do interior da mesma casa-torre (parede). Fonte: CMP-DMMPC, Arqueologia Fernando
Noronha.
O segundo exemplo de estudo desta rua encontra-se na casa com o N.P. 162 e
164 (Fig. 60) uma casa habitada, em lote aparentemente medieval e semelhante ao da
casa-torre anteriormente referida, com pano murário visível do lado direito da fachada
ao nível do primeiro andar, apresentando ainda os pisos superiores ao rés-do-chão em
cimento, indicando uma construção ou reconstrução, dos mesmos, contemporânea. O
terceiro e último exemplo encontrado na Rua dos Mercadores consiste em dois vãos de
entrada ao nível do rés-do-chão, inseridos num lote com o N.P. 182 e 184 (Fig. 62),
actualmente entaipado e esvaziado. A forma dos dois portais de acesso é comum à
encontrada no meio portal da casa com o N.P. 47 da Rua de Santana, e de uma outra,
que adiante iremos referir, na Rua de S. Bento da Vitória.
Fig. 60 Pormenor do vestígio de pano murário encontrado na casa com o N.P. 162-164 da Rua dos
Mercadores. Fotografia da autora. Fig. 61 Aspecto da casa com o N.P. 182-184 da Rua dos Mercadores,
em 1996. Imagem retirada da obra Bairro da Sé do Porto172. Fig. 62 Aspecto actual da mesma casa.
Fonte: https://www.google.pt/maps/@41.1427176,8.6137376,3a,37.5y,144.46h,91.29t/data=!3m6!1e1!3m4!1sprYHK2CAhHb1nxiPq116Pg!2e0!7i13312!8i
6656
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património: “A descoberta
arquitectónica do ano…” p.174
172
CARVALHO, Teresa Pires de; GUIMARÃES, Carlos; BARROCA, Mário Jorge – op. Cit. p.168
171
72
3.2.2. Rua da Reboleira
Esta rua ribeirinha medieval sofreu um corte ao redor de 1870, aquando da
abertura da Rua Nova da Alfândega, mas desde logo surgiu como um local propício
para a construção de casas-torre como as que ainda hoje sobrevivem. A casa com o N.P.
55 apresenta ao nível da cave, voltado para a Rua do Outeirinho, estruturas medievais
que poderão remontar ao século XIV, e na fachada voltada para a Rua da Reboleira
permanecem ainda os portais e janelas de finais da Idade Média (Fig. 64), e que, devido
à sua simetria, poderão indicar o aglutinamento de dois lotes pré-existentes com vista a
conceber um espaço uno maior173. Os andares superiores apresentam-se visivelmente
transformados, possivelmente nos séculos XVII e XVIII, e os merlões que coroam o
edifício (Fig. 65), por exemplo, poderão remontar a esta periodização. Nesta casa viveu
António de Sousa Lobo, também conhecido por o "Lobo da Reboleira", figura da
sociedade do Porto de oitocentos174.
Fig. 63 Gravura representando uma vista da Rua da Reboleira, anterior às demolições de 1872, efetuadas
para abertura da Rua Nova da Alfândega. Trata-se da reprodução de uma gravura publicada, em 1887, na
obra O Minho Pittoresco, da autoria de José Augusto Vieira. Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-ofdescription/documents/574533/. Fig. 64 Pormenor do 1º e 2º piso da fachada voltada para a Rua da
Reboleira, da casa-torre com o N.P. 55. Fotografia da autora.
Fig. 65 Pormenor dos merlões da casa-torre. Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-ofdescription/documents/392493/
LOZA, Rui Ramos (coord. projecto); REAL, Manuel Luís (coord. científica) – op. Cit. p.162
Informação encontrada no site do Arquivo Histórico do Porto, disponível em: http://gisaweb.cmporto.pt/units-of-description/documents/392493/?q=lobo+da+reboleira [consultado em 06-06-2017]
173
174
73
No edifício seguinte, com o N.P. 59, do outro lado do cruzamento da Rua do
Outeirinho com a Rua da Reboleira, encontramos uma outra casa-torre, actualmente
sede de um serviço social, a Associação Social e Cultural de S. Nicolau175. Trata-se de
uma provável construção do século XIV, com a estrutura praticamente intacta, em
particular os vãos de iluminação e pano murário (Fig. 66), apresentando, contudo, a
fachada voltada para a Rua da Reboleira bastante modificada por intervenções do
período moderno. Todo o edifício apresenta aparelho de granito e é rematado, à
semelhança do que acontece com o N.P. 55, com merlões.
Fig. 66 Pormenor da parede exterior e de um vão de iluminação da fachada voltada para a Rua do
Outeirinho. Fotografia da autora. Fig. 67 Interior da casa-torre, rés-do-chão. Fonte:
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=20000
3.2.3. Rua de Baixo
O exemplo seguinte do nosso trabalho, a Torre do Barredo ou Torre da Rua de
Baixo, encontra-se entre a Rua de Baixo e a Viela do Buraco, com o N.P. 5, na zona do
Barredo. Esta zona, juntamente com o espaço envolvente da Sé do Porto, foi uma das
primeiras a receber intervenções por parte do CRUARB (que depois expandiu a sua
acção para outras zonas da cidade e actuou em muitos dos edifícios que vemos hoje),
organismo criado com a intenção de reabilitar o centro histórico da cidade, e com uma
longa história no que toca a intervenções urbanísticas e patrimoniais176.
175
O espaço foi renovado em 1997, pelo Arquitecto António Moura, para aí se instalar um Lar de Idosos.
Há ainda referência a um contrato de 1688 na página do SIPA dedicada a este imóvel, entre o proprietário
de então, Pedrossem, e um mestre-pedreiro chamado Manuel Mendes, no entanto, não conseguimos
comprovar a existência do mesmo, pelo que apenas o referimos em nota.
176
O CRUARB apresenta trabalhos na área do urbanismo e renovação patrimonial desde 1974, sendo que
estes trabalhos caracterizam-se por políticas de reenquadramento social, procurando fixar a população
portuense no local onde nasceram. Um entendimento geral do trabalho desencolvido por este organismo e
quais as suas principais preocupações e directrizes, pode ser encontrado na obra comemorativa dos 25
anos do CRUARB – Porto Património Mundial. CRUARB, 25 anos de Reabilitação Urbana. Porto:
Edição da Câmara Municipal do Porto, 2000, 1ª edição.
74
Esta casa-torre, será uma das construções mais antigas deste tipo na cidade,
remontando ao século XIII, apresentado por sua vez uma estrutura em granito, dividida
em cinco pisos e com fachadas para ambas as ruas. Na fachada voltada para a Rua de
Baixo, contém ao nível do rés-do-chão, um vão de entrada rectangular e um de
iluminação quadrangualar, apresentando no piso superior (1º piso) um portal de acesso
em arco de volta perfeita elevado por escadas laterais (Fig. 67), e um vão de iluminação
quadrangular. Sobre este piso encontram-se duas mísulas de cunho possivelmente
contemporâneo (Fig. 68), que antecedem o 2º piso com dois vãos de iluminação – um
quadrangular e outro, mais pequeno e possivelmente mais antigo (Fig. 69), em arco –, e
o 3º e último desta fachada com mais dois vãos de iluminação quadrangulares
semelhantes aos anteriores referidos, claramente de uma cronologia posterior ao período
medieval.
Fig. 67 Pormenor do vão de entrada elevado. Fig. 68 Pormenor das duas mísulas. Fig. 69 Vão de
iluminação em arco do 2º piso. Fotografias da autora.
Do outro lado do edifício, na fachada voltada para a Viela do Buraco, é possível
encontrar uma parte da casa mais marcada por renovações e acrescentos posteriores. No
rés-do-chão encontram-se dois vãos de entrada rectangulares (semelhantes ao do rés-dochão da outra fachada), no 1º piso encontra-se mais um vão de iluminação rectangular e
um vão de iluminação quadrangular (mais uma vez, semelhante aos da outra fachada), e
no 2º, 3º e 4º piso - existe um desnível da Viela do Buraco face à Rua de Baixo o que
faz com que, deste lado, o edifício apresente mais um piso visível - mais dois vãos de
iluminação quadrangulares em cada um. Entre o 3º e o 4º piso, existem novamente duas
mísulas semelhantes às presentes na fachada voltada para a Rua de Baixo, mas em pior
estado de conservação.
75
Fig. 70 Vista do rés-do-chão, 1º piso e 2º piso da fachada voltada para a Viela do Buraco. Fig. 71
Pormenor dos vãos de iluminação do 2º e 3º piso e mísula (s) da mesma fachada. Fotografias da autora.
3.2.4. Rua da Fonte Taurina
Na Rua da Fonte Taurina, antiga Rua da Fonte Aurina, encontramos um
conjunto de lotes com interesse para o nosso trabalho, são eles as casas com o N.P. 18 e
44B (actualmente com entrada pelo Cais da Estiva). A primeira apresenta pano murário
visível e apoio pétreo para sobrado, estando inserida num lote entre a Rua da Fonte
Taurina e o Postigo do Carvão, sendo que este suporte para sobrado (que poderá
apresentar um possível rearranjo das pedras que lhe dá corpo, já que este edifício foi
reconstruído nos finais do século XX, aquando das obras de um estabelecimento
hoteleiro próximo), surge nas laterais da fachada voltada para a Rua da Fonte Taurina
(Fig. 72) e corre ao longo de toda a casa na fachada voltada para o Postigo do Carvão.
Abaixo deste elemento encontramos pano murário em granito exposto (Fig. 73), e acima
três pisos (superiores ao rés-do-chão) em taipa.
Fig. 72 Vista da fachada da casa com o N.P. 18 voltada para a Rua da Fonte Taurina. Fig. 73 Pormenor do
pano murário e do suporte pétreo para sobrado na fachada voltada para o Postigo do Carvão. Fotografias
da autora.
76
Imediatamente a seguir a este lote, encontramos outro exemplo, também ele com
duas fachadas (Fonte Taurina e Postigo do Carvão) e que também apresenta um suporte
pétreo para sobrado, pisos superiores em taipa, bem como um vão de entrada em arco de
volta perfeita. O suporte encontra-se ao nível do 2º piso e nas laterais da fachada voltada
para o Postigo do Carvão. O facto destes exemplos se encontrarem junto ao Postigo do
Carvão, uma das 18 portas/postigos da muralha gótica, e de relatórios arqueológicos177
confirmarem material medieval nesta zona, leva-nos a crer que estes exemplos poderão
ser eles próprios vestígios da construção deste período.
Fig. 74 Vista da fachada voltada para o Postigo do Carvão e pormenor do suporte pétreo para sobrado.
Fig. 75 Vão de entrada em arco de volta perfeita.
Fig. 76. Localização dos objectos de estudo. 1. Casa com o N.P. 18. 2. Fachada voltada para a Rua da
Fonte Taurina. 3. Lote onde se encontra o vão de entrada em arco de volta perfeita e suportes pétros para
sobrado da casa com o N.P. 44 B. Fonte: https://www.google.pt/maps/@41.1405909,8.6134511,78m/data=!3m1!1e3
177
Num dos relatórios arqueológicos a que tivemos acesso na instituição de acolhimento há a referência a
várias entruturas medievais encontradas ao redor do local (nº121 a 127 e 243 a 247, entre a Praça da
Ribeira, Rua da Fonte Taurina, Beco do Carvão e Muro dos Bacalhoeiros) onde se encontram os nossos
dois exemplos, bem como se refere a presença de “edifícios [medievais] de que ainda se conservam as
paredes, situados do lado direito do Beco do Carvão”: Relatório Final de Escavações Arqueológicas na
Ribeira (Porto). Intervenção no Porto Carlton Hotel (PCH 96/98). Armando Coelho Ferreira da Silva,
Rui Manuel Sobral Centeno, Mª Benedita Coelho da Silva de Guinea Barbosa e João Paulo Coelho da
Silva de Guinea Barbosa. Porto, 1998.
77
3.2.5. Rua da Lada
Também na Rua da Lada é possível observar um lote com interesse para no
nosso trabalho, a saber a casa com o N.P.2 (com entrada pela Travessa do Barredo). A
casa inserida em lote aparentemente medieval e com uma estrutura quase semelhante a
uma casa-torre, é actualmente habitada e possui um estabelecimento comercial no résdo-chão. Na fachada voltada para a Rua da Lada, apresenta o rés-do-chão e 1º piso em
pedra e restantes sobrados em taipa, bem como um suporte pétreo para sobrado na
lateral esquerda da fachada e ainda três cachorros sob as janelas do 1º piso.
Fig.77 Vista da fachada da casa com o N.P. 2 voltada para a Rua da Lada. Fotografia da autora.
3.2.6. Rua Infante D. Henrique, Rua de S. João e Beco do Forno Velho
Chegando a esta zona ribeirinha, outro dos pontos de maior concentração de
exemplares de arquitectura civil medieval que chegaram até aos dias de hoje, encontrase entre a Rua de S. João, Rua do Infante D. Henrique (antiga Rua Nova dos Ingleses e
Rua Nova/Formosa) e o Beco do Forno Velho, um conjunto de lotes de grande
sensibilidade arqueológica, segundo apontam relatórios aos quais tivemos acesso na
instituição de acolhimento. Num pequeno artigo de Manuel Luís Real e Rute Reimão,
publicado na revista Olaria178, apresenta-se uma imagem (Fig. 78) do que terá sido esta
zona antes da abertura da Rua de S. João no século XVIII (que levou ao encanamento
do Rio da Vila), com base numa planta de finais do século XVIII, no estudo da
propriedade a partir dos impostos da décima de 1731 e das expropriações para a
178
REAL, Manuel Luís; REIMÃO, Rute – Op. Cit. p.85
78
abertura dessa rua, entre 1762 e 1772, permitindo assim uma visão do terreno e do seu
parcelamento, mais próxima da cronologia que estudamos, deixando ver também a
lembrança de alguns alinhamentos medievais.
Fig. 78 Zona do Beco do Forno Velho e parte da Rua Nova, antes da abertura da Rua de S. João. Imagem
retirada da revista Olaria179, p.85. Acrescenta-se a seguinte legenda: A – Rua Nova/Infante D. Henrique.
B – Beco do Forno Velho. C – Local onde se abriu a Rua de S. João. D – Praça da Ribeira.
Certo é que a construção de uma rua planeada como a antiga Rua Nova ou Rua
Formosa, teve obrigatoriamente de criar um impacto considerável na vida urbana da
cidade do Porto. A abertura desta rua, iniciada por volta de 1395 e prolongando-se até
finais do século seguinte, teve em conta o crescente número de pessoas e mercadorias
que afluíam à cidade, bem como o nascimento de uma nova burguesia180, a mercantil,
criando-se para esse efeito, uma nova artéria uniformizadora e com padrões construtivos
pré-definidos (contrução de casas em pedra, de escadas, de balcões…), e que, por outro
lado vez, representou um local de grande concentração de propriedade régia na cidade.
Embora a simetria e regularidade que se pretendia nem sempre fosse fácil de conseguir,
REAL, Manuel Luís; REIMÃO, Rute – Op. Cit
REAL, Manuel Luís; TAVARES, Rui – "Bases para a compreensão do desenvolvimento urbanístico
do Porto", in “A Cidade em Portugal: onde se vive”, Povos e Culturas, nº 2. Universidade Católica
Portuguesa. Lisboa, 1987. p. 398
179
180
79
com cada casa a possuir um ritmo diferente de construção181, este arruamento tornou-se
de facto uma via marcante no panorama medieval, quer pelas suas preocupações
construtivas, quer pelo seu planeamento urbano, e ainda hoje se distingue na malha
urbana portuense.
Fig. 79. Organização medieval da Rua Nova. 1 - Convento de S. Francisco. 2 - Rua Nova. 3 - Chafariz e
boticas. 4- Botica das judias. 5 - Rua das Cangostas. 6 - Casa do Arco Grande. 7 - Viela e Rossio do
Forno Real. 8 - Torre de Estevão Lourenço. 9 - Torre de João Martins Ferreira. 10 - Rua dos Mercadores.
11 - Casa de Fernão Luis. 12 - Casa dos Caminhas. 13 - Torre estalagem de Diogo Bustamante. 14 - Praça
da Ribeira. 15 - Casa da Moeda. 16 – Alfândega. 17 - Casa dos Contos. 18 - Rossio do Cais. 19 - Paço
dos Tabeliães e Casa de Ver-do-Peso. 20 - Casa de Rui Pereira (queimada). 21 - Igreja de S. Nicolau. 22 Rua da Reboleira. 23 - Torre de Álvaro Gonçalves da Maia. 24 - Postigo de Álvaro Gonçalves. Imagem
retirada do trabalho de José Ferrão Afonso, p.46182.
No local onde hoje se encontram as instalações de um estabelecimento hoteleiro
voltado para a Rua Infante D. Henrique com o N.P. 1, além de partes dos seus lotes,
principalmente ao nível do rés-do-chão, apresentarem material que poderá remontar ao
período medieval (Fig. 80 e 81) – como lajeados e parte de pano murário –,
encontraram-se as fundações de uma casa-torre (Fig. 82). Uma outra estrutura relativa a
fundações de uma segunda casa-torre, também foi encontrada, mas desta vez no Beco
do Forno Velho, num lote que recebe actualmente o restaurante desse mesmo
estabelecimento hoteleiro, e que permanece parcialmente visível na sala de refeições.
SANTOS, Mª Helena Pizarro Paula – op. Cit. p.41
Imagem retirada do artigo: AFONSO, José Ferrão – “A construção de um novo centro cívico: Notas
para a História da Rua Nova e da zona ribeirinha do Porto no século XV” in Museu, IV série, nº 9, 2000.
(p.29-70)
181
182
80
Fig. 80 Pormenor do interior do lote com o N.P. 1 da Rua Infante D. Henrique. Fotografia da autora. Fig.
81 Estruturas medievais encontradas durante os trabalhos arqueológicos nesta zona. Imagem retirada do
relatório Intervenção Arqueológica. Imóveis sitos na Rua Infante D. Henrique, nº1-15 e na Rua de S.
João, nº1-39. INF09-09. Estudo Histórico e Relatório Preliminar das Sondagens de Avaliação. Gabriel
Rocha Pereira e José Jorge Arguello Menéndez. Porto, 2009.
Fig. 82 Fundações da casa-torre encontrada dentro do estabelecimento hoteleiro, entretanto desaparecida.
Fonte: DMMPC-CMP. Fig. 83 Vista do Beco do Forno Velho e entrada para a sala de refeições do
restaurante (a vermelho), onde permanecem parcialmente visíveis as fundações de uma segunda casatorre nesta zona. Fotografia da autora.
Na actual Rua Infante D. Henrique, antiga Rua Nova, encontramos ainda mais
um exemplar cujas partes das estruturas chegaram até aos dias de hoje. Trata-se da
Antiga Bolsa dos Comerciantes, localizada nos lotes com o N.P. 47 a 53. A Antiga
Bolsa dos Comerciantes, do século XV, foi instalada num espaço cedido aos
mercadores da cidade em 1402 pelo Rei D. João I (daí a existência do escudo do rei na
fachada do edifício), sendo que posteriormente recebeu uma ligação subterrânea à Casa
da Moeda, e actualmente é sede de uma loja de souvenirs. No seu interior é ainda hoje
visível o seu pano murário em granito e várias marcas de pedreiro (Fig. 86).
81
Fig. 84 Localização do objecto de estudo. Fonte: https://www.google.pt/maps/@41.1409392,8.614404,78m/data=!3m1!1e3
Fig. 85 Fachada do edifício voltada para a Rua Infante D. Henrique. Fig. 86 Parede interior do edifício e
pormenor de duas marcas de pedreiro (a vermelho). Fotografias da autora.
Ainda nesta zona, em concreto num conjunto de dois lotes, no cruzamento das
ruas de S. João, Mercadores e Clube Fluvial Portuense, foram descobertos dois vãos
(possivelmente de suporte de escadas e não de entrada, pela sua largura e profundidade),
em arco apontado e pano murário com pelo menos uma marca de pedreiro numa aduela.
Contudo, apenas o vão maior poderá apresentar material datável da Baixa Idade Média
(o segundo mais baixo e estreito apresenta rearranjo de pedras e uma disposição de
silhares diferente, que acreditamos indicar material do período moderno). O material
medieval poderá relacionar-se com uma casa-torre de João Martins Ferreira, que viveu
na cidade do Porto entre o século XV e o XVI. Este terá sido mercador e
desempenhando cargos públicos como vereador, juiz e chanceler, sendo também senhor
de um vasto património na cidade, havendo nota ainda de este se ter instalado numa
casa-torre da Rua dos Mercadores em finais do século XV183.
183
Referem-se estes aspectos, bem como a existência de um fundo documental constituído por 93
pergaminhos atribuídos à família de João Matins Ferreira, na página do Arquivo Histórico Municipal do
Porto, disponível em: http://gisaweb.cm-porto.pt/creators/19116/ [consultado em 29-05-2017]
82
Esta descoberta dos elementos arquitectónicos referidos anteriormente deu-se
aquando dos trabalhos arqueológicos realizados no âmbito da construção de mais um
estabelecimento hoteleiro na cidade do Porto e tem como entrada o lote com o N.P. 15
da Rua do Clube Fluvial Portuense184.
Fig. 87 Localização dos lotes. Fonte: https://www.google.pt/maps/@41.1413273,8.6132476,78m/data=!3m1!1e3 Fig. 88 Localização da casa com o N.P. 15 da Rua do Clube Fluvial
Portuense. Fonte: https://www.google.pt/maps/@41.141471,8.6133396,3a,75y,131.57h,108.22t/data=!3m6!1e1!3m4!1soHilAL1KTfnzyLjYgOx0gA!2e0!7i13312!8i6
656
Fig. 89 Dois vãos em arco apontado. O maior (assinalado a vermelho) apresenta pano murário medieval
na parede do fundo, parede que parece continuar do outro lado do espaço (mas que não conseguimos ver
por inteiro) e pelo menos uma marca de pedreiro. Fig. 90 Pormenor de pano murário acima do vão maior,
indicando possivelmente a existência de umas escadas. Actualmente existem escadas acima destes vãos,
mas acreditamos que as marcas que agora referimos se relacionam com uma escadaria mais antiga, já que
as marcas e as escadas actuais não estão ao mesmo nível. Fotografias da autora.
3.2.7. Rua da Alfândega
Prosseguindo para a Rua da Alfândega encontramos um dos exemplares de
arquitectura civil portuense mais conhecido, a Casa do Infante, que guarda em si
estruturas da Alfândega Velha (iniciada em 1325 e concluída ao redor de 1354) e da
antiga Casa da Moeda (construída em finais do século XIV), espaço que é construído a
mando do rei D. Afonso IV que decide situar o seu armazém na zona ribeirinha. Sobre o
primeiro espaço, sabemos quem foi o autor da obra, através de uma inscrição parcial
que se encontra num cunhal do lado noroeste do edifício (estando actualmente dentro de
184
Embora a entrada actual do estabelecimento hoteiro se faça pela Rua de S. João, nº 40.
83
uma dependência bancária) onde se refere o nome de João Eanes Melacho, e que terá
construído o edifício de uma forma bastante diferente daquela que hoje vemos.
Com efeito, a Casa do Infante que hoje existe, foi fruto de várias construções e
reconstruções ao longo dos séculos seguintes ao do seu surgimento, em particular de
uma reforma no século XVII que lhe avançou a fachada que hoje vemos, e de um
grande restauro nos anos 50 do século XX por parte da Direcção Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais, sendo que a planta primitiva apresentar-se-ia sobre a forma de
um rectângulo, de cerca de 30 x 10m e limitar-se-ia ao pátio central e dois
cobertos/torres adjacentes185, sofrendo a sua primeira ampliação (para o lado Oeste)
ainda em período medieval, a mando do rei D. Afonso V. Sobre estas torres que
ladeavam o pátio central, acredita-se que a do lado Norte se destinava na sua maioria à
habitação186 (do Amoxarife, a título de exemplo), funcionando quase como uma casatorre independente, e a do lado Sul concentraria os serviços alfandegários. Contudo, este
espaço, que conserva também vestígios de ocupação anterior ao século XIV 187, ofercenos um grande número de vestígios e estuturas do que seria o edifício tardo-medieval,
apresentando elementos bem conservados e visíveis numa breve passagem.
Fig. 91 Possível aspecto da Alfândega Velha, no período medieval. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/WV78WoRl5Yo/VLvq75kc6cI/AAAAAAAAnfg/YkJAgGW1WxM/s1600/4.jpg
Começou por se descobrir alguns elementos góticos aquando das obras de 1924,
a saber: uma janela de arco apontado com caneluras, posteriormente convertida em
nicho, e parte de uma inscrição, numa das paredes com ligação para a antiga Casa da
Moeda (Fig. 92), com o antigo escudo de Portugal188. Durante o restauro de 1958 foi
185
Henrique, O Navegador. Exposição Comemorativa do 6º Centenário do Nascimento do Infante D.
Henrique. 4 de Março a 4 de Setembro de 1994. Porto: Fundação Eng. António de Almeida. p.140
186
Idem, Ibidem. p.164
187
Neste espaço onde se enquadra agora a Casa do Infante, há nota da descoberta de muros de construção
irregular dos sécs. XIII e início do XIV, e de pavimento tardo-romano, trazendo alguma luz sobre o
processo de ocupação da zona ribeirinha.
188
VITORINO, Pedro – “Notas de Arqueologia Portuense, suplemento ao Vol. III dos Documentos e
Memórias para a História do Porto.” (2ª edição) Documentos e Memórias para a História da Cidade do
84
também possível encontrar vários elementos constutivos medievais que foram alvo de
intervenção, em particular vãos de iluminação e de entrada. Com o começo dos
trabalhos arqueológicos em 1991, aquando da renovação do espaço para aí se instalar o
Arquivo Histórico, há nota também da descoberta de uma soleira de porta (porta
principal da Alfândega), e de pano murário medieval em todo o perímetro do 1º piso, e
de parte até ao 3º piso, com excepção do pátio, que seria o núcleo gerador de toda a
actividade no período medieval, passando depois para apenas um ponto de passagem189.
Fig. 92 Vão de iluminação e inscrição. Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-ofdescription/documents/392648/?q=casa+do+infante. Fig. 93. O mesmo vão de iluminação e inscrição, na
ligação da entrada principal para a antiga Casa da Moeda, antes do restauro. c. 1958 Fonte:
http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/343305/?q=casa+do+infante
D
B
C
A
Fig. 94 Planta Topográfica da Cidade do Porto, de Teles Ferreira, 1892, representando a zona da Casa do
Infante (Alfândega Velha e Casa da Moeda). Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-ofdescription/documents/343737/?q=casa+do+infante. Acrescenta-se a legenda: A – Alfândega Velha. B –
Casa da Moeda. C – Viela. D – Casa dos Brandões Pereira (séc. XVI) [Localizações aproximadas]
Porto – XXVIII. Porto: Publicações da Câmara Municipal do Porto. Gabinete de História Urbana da
Cidade, 1958.
189
Henrique, O Navegador... p.144
85
Fig. 94 Pormenor da entrada da casa que pertenceu aos Brandões Pereira, que dava acesso à rua do
Infante D. Henrique, e que se encontrava na antiga receção do Arquivo Histórico, actual loja de vendas.
Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/392508/. Fig. 95 Pormenor de uma
janela que existia nessa mesma casa e que dava para a Rua da Alfândega. Fonte: http://gisaweb.cmporto.pt/units-of-description/documents/344474/. Fig. 96 Vista da viela nas traseiras da Casa da Moeda,
antes do restauro do séc. XX. Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-ofdescription/documents/529255/?q=casa+do+infante
Fig. 97 Pormenor de uma fresta do século XIV num dos muros sobreviventes da torre sul, antes do
restauro de 1958. Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-ofdescription/documents/529289/?q=casa+do+infante. Fig. 98 Pormenor de pano murário e do janelão da
torre norte, actualmente visível no interior de uma dependência bancária. Fonte: http://gisaweb.cmporto.pt/units-of-description/documents/392560/?q=casa+do+infante
3.2.8. Escadas do Recanto/Rua Nova da Alfândega
No cruzamento das Escadas do Recanto com a Calçada do Forno Velho, e
voltada para a Rua Nova da Alfândega, encontramos o que é hoje em dia um edifício
escolar, pertencente ao Agrupamento de Escolas Rodrigues de Freitas, contudo, a escola
conserva num do seus quatro lotes, mais um exemplo de interesse para o nosso trabalho.
O lote em questão, sem número, apresenta uma estrutura semelhante a uma casa-torre
em contexto urbano, em cantaria de granito exposto (com exepção da fachada voltada
86
para as Escadas do Recanto com granito pintado), apresentando o lote relativamente
estreito e medianamente profundo, com duas fachadas principais: uma voltada para a
Calçada do Forno Velho e outra para a Rua Nova da Alfândega.
Fig. 99 Localização dos lotes (a vermelho) e pormenor do lote com o exemplo de estudo (a amarelo).
Modelação 3D Google. Fonte: https://www.google.pt/maps/@41.1408056,8.6177991,58a,35y,39.6t/data=!3m1!1e3
Na fachada voltada para a Calçada do Forno Velho (Fig. 100), surge um vão de
entrada em arco apontado e outro de iluminação quadrangular ao nível do rés-do-chão, e
um vão de iluminação também quadrangular no piso imediatamente superior. Na
fachada voltada para a Rua Nova da Alfândega, e aproveitando o desnível de terreno
que aqui existe, esta apresenta pelo menos mais um piso. Surgem aqui dois vãos de
entrada, um em arco apontado semelhante ao da outra fachada, e outro com padieira
tripartida (Fig. 101), juntamente com três níveis de vãos de iluminação nos pisos
superiores. As duas janelas do 2º piso desta fachada apresentam um possível rearranjo
das pedras e também um possível cunho quinhentista. No 3º piso, o material construtivo
surge trabalhado de forma ligeiramente diferente, indicando um possível acrescento
desse mesmo piso.
Fig. 100 Fachada voltada para a Calçada do Forno Velho. Fig. 101 Pormenor da padieira do vão de
entrada quadrangular da fachada voltada para a Rua Nova da Alfândega. Fig. 102 Pormenor dos 3 níveis
de vãos de iluminação superiores ao rés-do-chão, na fachada voltada para a Rua Nova da Alfândega.
Fotografias da autora.
87
3.3. Outras localizações
3.3.1. Rua Chã
Aquando da obra de remodelação de dois lotes contíguos na Rua Chã (N.P. 87 e
89), e sendo-nos possível aceder a este local na companhia dos responsáveis da obra,
esta veio a pôr a descoberto o que poderá ser uma casa do século XV. Esta casa tem
fachada voltada para a Rua Chã mas não está alinhada com este arruamento (situação
relativamente comum na Idade Média), e apresenta uma outra fachada nas traseiras,
local onde se encontram actualmente vestígios do que terá sido uma ilha. Esta
construção, que se crê ser do período medieval, poderá ser um edifício que foi absorvido
pelos dois lotes contemporâneos, apresentando uma entrada voltada para uma viela ou
rua mais antiga, entretanto desaparecida, do lado oposto à actual Rua Chã.
Fig. 103 Localização dos lotes, por onde se acede ao exemplo de estudo (a vermelho). Lote onde
se encontra o exemplo de estudo (a amarelo). Fonte: https://www.google.pt/maps/@41.1440891,8.6099177,67m/data=!3m1!1e3
No seu interior é visível, numa das paredes interiores voltada para a actual Rua
Chã, uma possível parede em fachwerk ainda não datada (Fig. 105). Esta técnica
construtiva de materiais leves, mais comum na Alemanha, Inglaterra, Suíça e países ao
redor do Danúbio, tem paralelo com uma considerada como mais “portuguesa”, o
tabique, mais utilizado nas casas com sobrados salientes, como é possível verificar não
neste, mas noutros exemplos aqui tratados. Além dos aspectos construtivos de aparência
medieval, e não só, visíveis no imediato, a localização desde objecto de estudo
corrobora parcialmente o porquê de se o considerar uma casa gótica, já que a própria
Rua Chã possui uma longevidade considerável, passando por um incêndio em finais do
88
séc. XIV, possivelmente devido a construções maioritariamente em taipa, sendo
também uma rua com isenção de aposentadoria, e portanto, apetecível para a construção
de casas. As suas formas técnicas e construtivas, e o facto de sabermos que em 1408 a
Câmara ordenou a abertura da Porta dos Carros para o transporte da pedra para
reconstrução das casas190, lançam assim uma dúvida: será esta uma das casas
reconstruídas em pedra, pós-incêndio?
Fig. 104 Fachada interior, voltada para a ilha. Fig. 105 Pormenor da parede em fachwerk. Fig. 106
Pormenor do encaixe do gonzo, pertencente ao vão de entrada em arco apontado. Fotografias da autora.
3.3.2. Rua dos Caldeireiros
Na rua dos Caldeireiros, que em período medieval fazia parte da Rua do Souto,
ligando o Morro da Sé à Porta do Olival, encontramos mais dois exemplos. Na casa com
os N.P. 69 e 71, surge uma casa habitada, em lote aparentemente medieval e com pano
murário visível na fachada (coberto com tinta), apresentando ainda o rés-do-chão em
pedra e pisos superiores em taipa (Fig. 107). Na mesma rua, mas na casa com os N.P.
250 e 252, encontramos mais uma casa habitada, também em lote aparentemente
medieval, igualmente com rés-do-chão em pedra e três pisos ressaltados em taipa (Fig.
108). A disposição do sobrado em ressalto é aqui neste segundo exemplo bastante
evidente, já que cada um dos três pisos superiores avança sobre o anterior, o que, em
alguns arruamentos leva à construção de passadiços, quando uma grande quantidade de
pisos em ressalto também se verifica nos dois lados da rua.
190
FREITAS, Eugénio Andrea da Cunha – op. Cit. p. 102
89
Fig. 107 Pormenor do pano murário pintado da casa com o N.P. 69-71. Fig. 108 Pormenor da lateral da
casa com o N.P. 250-252. Fotografias da autora.
3.3.3. Rua de S. Bento da Vitória
O desenvolvimento da zona da Vitória, deve-se em parte à ordem régia que
obrigava os judeus do Porto a se instalarem dentro de muralhas, por razões de
segurança, o que levou a que estes, nos finais do século XIV, escolham o Monte do
Olival e aí construam as suas casas e estruturas, contribuindo assim para um novo
“arranjo urbanístico” da cidade. Nasce assim a Judiaria Nova do Olival191, no espaço de
um antigo olival, organizada ao redor das actuais Rua de S. Bento da Vitoria e Rua de
S. Miguel, que seria circunscrita por uma cerca e apresentaria duas portas, uma para o
Largo da Porta do Olival, e outra para as Escadas da Esnoga (hoje da Vitória).
Fig. 109 Arruamentos da Judiaria do Olival do Porto. Fonte:
http://questomjudaica.blogspot.pt/2013/12/porto.html
191
Esta foi uma das três Judiarias conhecidas do Porto, juntamente com a das Aldas (Judiaria Velha) e a
de Monchique, fora de portas, em Miragaia.
90
Na actual Rua de S. Bento da Vitória encontramos um conjunto de casas
habitadas com interesse para o nosso trabalho, que embora pese o facto de estas
apresentarem características de uma cronologia mais avançada, julgamos que são
exemplos que merecem ser referidos pelas razões que aludimos no subcapítulo deste
trabalho dedicado às problemáticas e metodologia. A primeira é a casa com pórtico
colunado com o N.P. 68 e 66, que apresenta o rés-do-chão em pedra e dois pisos
superiores em taipa (Fig. 110). Além do pórtico colunado na fachada, esta casa
apresenta também pano murário visível na lateral esquerda da mesma. A segunda é a
casa com o N.P. 62 e 64, que além de também apresentar pano murário visível, contém
um vão de entrada com formas muito semelhantes às do vão da casa da Rua de Santana
e da Rua dos Mercadores, que referimos nos exemplos anteriores (Fig. 111). O nosso
terceiro e último exemplo de estudo nesta rua encontra-se na casa com o N.P. 48 e 52,
apresentando suportes em pedra para sobrado ao nível do 1º piso, que por sua vez
ladeiam a fachada da casa e que é muito semelhante ao cenário que vamos encontrar no
exemplo seguinte, em Belomonte (Fig. 112).
Fig. 110 Fachada da casa com o N.P. 66-68. Fig. 111 Pormenor do vão de entrada da casa com o N.P. 6264. Fig. 112 Fachada da casa com o N.P. 48-52. Fotografias da autora.
3.3.4. Rua de Belomonte
Na Rua de Belomonte, que deve o seu nome a um cruzeiro localizado no fim da
rua, antes de chegar ao largo de São João Novo (padrão de Belmonte), encontramos um
outro exemplo muito semelhante ao da casa com o N.P. 48 e 52 da Rua de S. Bento da
Vitória, surgindo assim mais uma casa habitada, com o N.P. 90 e 92, com dois suportes
pétreos, ao nível do 1º e 2º pisos, que ladeiam a fachada voltada para a Rua de
Belomonte. Além disso apresenta também cachorros, possivelmente acrescentos, que
rematam e ladeam o 2º piso, sendo estes pisos superiores ao rés-do-chão em taipa. De
91
realçar ainda a inscrição que se encontra acima do vão de entrada principal – F.
ACAMARA, indicando que a casa seria propriedade da Câmara (Fig. 114).
Fig. 113 Localização da casa com o N.P. 90-92 da Rua de Belomonte. Fig. 114. Pormenor da inscrição.
Fonte: https://www.google.pt/maps/place/R.+de+Belomonte+90,+4050-452+Porto/@41.1425391,8.6166224,3a,75y,38.22h,104.17t/data=!3m7!1e1!3m5!1sGlp7zX4-G6tMb_i79vGAQ!2e0!6s%2F%2Fgeo0.ggpht.com%2Fcbk%3Fpanoid%3DGlp7zX4-G6tMb_i79vGAQ%26output%3Dthumbnail%26cb_client%3Dmaps_sv.tactile.gps%26thumb%3D2%26w%3D203%26h
%3D100%26yaw%3D62.425667%26pitch%3D0%26thumbfov%3D100!7i13312!8i6656!4m5!3m4!1s0x
d24651e1889865d:0x41251a846ca9d40e!8m2!3d41.1425973!4d-8.6165742
3.3.5. Rua da Boa Nova
Chegando ao fim da lista dos exemplos de estudo do nosso trabalho, resta-nos
referir um, cuja excepcionalidade face a este tema já foi referida, por este exemplo não
se encontrar em contexto urbano medieval, mas sim rural, além de se encontrar fora do
limite geográfico do centro histórico do Porto. Contudo, a Torre de Pedro Sem,
actualmente acoplada ao Palácio dos Terenas (construção do século XVIII), constrói-se
segundo o “molde” da casa-torre urbana – em lote estreito e profundo, de forma
rectangular, e não de forma quadrangular, forma mais utilizada nas casas-torre do
mundo rural.
Terá sido mandada construir por Pedro Sem, nobre e chanceler-mor do Rei D.
Afonso IV, no século XIV, numa quinta nos arredores do burgo (conhecida como a
Quinta da Boa Vista no século XV), salientando-se na paisagem pela sua volumetria,
materiais e remate ameado. Na fachada voltada para a Rua Nova, a única possível de ser
vista do exterior, apresenta dois pisos acima do rés-do-chão, sendo que os vãos
quadrangulares do primeiro piso surgem como uma intervenção contemporânea (Fig.
116), e os dos segundo e último piso são em tudo semelhantes aos encontrados na Casa
do Beco dos Redemoinhos (Fig. 117). Nesta fachada sobressai o vão de entrada ao
centro, em arco apontado, e uma outra do lado direito, de forma rectangular,
possivelmente aberta posteriormente, além da “malha” de cachorros que cobrem toda a
92
superfície exterior do edifício. Interiormente o espaço sofreu grandes remodelações, em
particular no ano de 1919 quando o imóvel foi comprado pela Diocese do Porto para aí
albergar o Paço Episcopal, e sabe-se que nos anos 80, o espaço sofreu mais uma
renovação com vista à construção de áreas residenciais (quartos e salas), pela mão do
arquitecto Abrunhosa de Brito.
Fig. 115 Fachada da Torre de Pedro Sem, voltada para a Rua Nova. Fotografia da autora. Fig. 116
Aspecto da fachada no início do século XX, vendo-se duas frestas no lugar das janelas quadrangulares do
1º piso acima do rés-do-chão. Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-ofdescription/documents/46468/?q=pedro+sem
Fig. 117 Pormenor das janelas geminadas da Casa do Beco dos Redeminhos (interior) Fonte:
http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/625585/. Fig. 118 Pormenor de uma das três
janelas geminadas do último piso da Torre de Pedro Sem. Fotografia da autora.
Durante bastante tempo esta Torre foi chamada, erradamente, de Torre da
Marca (Fig. 119) e sobre este pequeno equívoco, Magalhães Basto explica eficazmente
93
na sua obra Silva de História e Arte de meados dos anos 40 do século XX, o seguinte: A
Torre da Marca, a verdadeira, a autêntica, essa era outra que lhe ficava relativamente
próxima, e que em nada se parecia com a que hoje existe e o vulgo designa pelo mesmo
nome. Não se pareciam em nada – nem na forma, nem no destino. A actual [Torre de
Pedro Sem] era uma casa de habitação; a que desapareceu, pouco depois do Cêrco,
era uma baliza, uma verdadeira e simples “marca”, para utilidade dos navegantes do
Douro192. De facto, a construção Torre da Marca apenas teve início em 1542 193, sendo
destruída ao redor de 1833, sendo por isso uma construção bastante posterior face à
Torre de Pedro Sem, e que apenas de deve ter proporcionado por uma questão de
proximidade geográfica.
Fig. 119 Pormenor da Torre da Marca. Vista da Entrada da Barra da Cidade do Porto, de Manuel Marques
de Aguilar. Séc. XVIII. Fonte: http://portoarc.blogspot.pt/2016/02/rio-douro-barra-vi.html
192
BASTO, A. De Magalhães – Silva de História e Arte (Notícias Portucalenses). Porto: Livraria
Progredior, 1945. p.215
193
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património: “Torre da
Marca, entre o sonho e a realidade” in O Tripeiro, 7ª série, ano de XXXIV, nº4, Abril de 2015. p.122.
Este artigo tem início no número anterior: BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro
Vasconcelos – Porto Património: “Sinalizando a estrada de água” in O Tripeiro, 7ª série, ano de XXXIV,
nº3, Março de 2015 (p.94-96)
94
Capítulo IV: Comunicação e transmissão de conhecimento
4.1. A cidade como obra de arte: comunicar e proteger património
Chegando a esta fase do trabalho, importa fazer um pequeno exercício que
ajudará a introduzir o ponto 4.2.: o entendimento da cidade actual como objecto da
natureza, mas também como objecto cultural e artístico. Walter Rossa escrevia já em
2000, numa secção dedicada a “Ensaios e Provocações”194, que pensar nas questões do
urbanismo era pensar nas questões da arte inconsciente da comunidade: O urbanismo,
mais que um campo pluridisciplinar do conhecimento, é uma prática colectiva. Nesta
perspectiva a cidade também pode ser entendida como uma obra de arte, apesar de
serem muitas as reservas que se levantam quando nos confrontamos com a sua
realidade demasiado inacabada e instável (…) o carácter aberto e sempre orgânico da
sua existência. Mesmo com um só enfoque, analisá-la implica fazer múltiplos cortes no
tempo e não uma única contextualização histórica195. Também Aldo Rossi havia já
discorrido sobre o assunto nos anos 70 do século XX: Como são relacionáveis os factos
urbanos com as obras de arte? Todas as grandes manifestações da vida social têm em
comum com a obra de arte o facto de nascerem da vida inconsciente; este nível é
colectivo no primeiro caso, individual no segundo; mas a diferença é secundária
porque umas são produzidas pelo público, outras para o público: é precisamente o
público que lhes fornece um denominador comum196.
Adaptando estes discursos ao nosso trabalho, e com as devidas distâncias,
também os exemplos de arquitectura civil medieval que referimos podem ser entendidos
como construções urbanas da “vida inconsciente” da população que habitou o Porto
medieval. Tomemos então a definição de “vida inconsciente” como o carácter prático e
de necessidade que as populações locais apresentam na sua forma mais básica - a
construção de habitações e espaços de administração para o normal funcionamento de
uma cidade. E estas mesmas construções, ainda que não nos pareça totalmente exacto
chamar-lhes património vernáculo, apresentam, contudo, características relacionadas
com este. Além de não serem criações de um só arquitecto, são construções que se vão
ROSSA, Walter – A Urbe e o Traço. Uma década de estudos sobre o urbanismo português. Coimbra:
Livraria Almedina, 2002.
195
Idem, Ibidem. p.194
196
ROSSI, ALDO – A Arquitectura da Cidade. Lisboa: Edições Cosmos, 1977. p.39
194
95
criando consoante as necessidades e adoptando formas que se tornam vernaculares, no
sentido em que exprimem uma comunhão de formas e técnicas semelhantes entre elas,
no tempo e no espaço. Vejamos: O património construído vernáculo ou tradicional
suscita a afeição e o orgulho de todos os povos. Reconhecido como uma criação
característica e genuína da sociedade, manifesta-se de forma aparentemente irregular,
embora possua uma lógica própria. É utilitário e, ao mesmo tempo, interessante e belo.
Reflecte a vida contemporânea e é, simultaneamente, um testemunho da História da
sociedade. Apesar de ser obra do Homem, é também uma criação do tempo197.
Assim, seguindo este raciocínio, surge a necessidade de proteger este tipo de
construções que consideramos património e uma expressão artística da própria cidade
(ela própria obra de arte), como Argan já havia escrito: (…) ela [a cidade] não é apenas
(…) um invólucro ou uma concentração de produtos artísticos, mas um produto
artístico ela mesma198. Tendo em conta que para proteger é necessário conhecer, o
nosso trabalho e em particular o nosso produto final, apresenta-se como uma ferramenta
que pode ajudar nesse campo. Reforçando a importância deste tipo de construções e
elementos remanescentes que estudamos, importa referir ainda que a noção de
monumento enquanto património não se limita às grandes construções arquitectónicas
de um determinado período histórico, facto aliás presente na “Carta Internacional para a
Conservação e Restauro de Monumentos”: A noção de monumento histórico engloba a
criação arquitectónica isolada bem como o sítio rural ou urbano que testemunhe uma
civilização particular, uma evolução significativa ou um acontecimento histórico. Essa
noção estende-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas que
adquiriram com o tempo um significado cultural199. Os nossos exemplos não serão
monumentos históricos per si, mas apresentam claramente um carácter e significado
cultural adquirido e reforçado com o passar do tempo. Estas questões lançam assim a
procura de um formato, público e objectivo, relativamente à divulgação patrimonial dos
nossos exemplos, que de seguida explicamos, bem como as directrizes e intenções que
basearam todo o processo.
Definição encontrada na Introdução da “Carta sobre o Património Construído Vernáculo”, ICOMOS,
Cidade do México, 17 a 23 de Outubro de 1999.
198
ARGAN, Giulio Carlo – História da Arte como História da Cidade. São Paulo: Livraria Martins
Fontes Editora, Ltda, 1989. p.73
199
Artigo 1º das Definições da “Carta Internacional para a Conservação e Restauro de Monumentos”,
Veneza, 25 a 31 de Maio de 1964.
197
96
4.2. Um Guia de Arquitectura Civil Medieval na Cidade do Porto
4.2.1. Produto final – processo criativo
Passadas as fases de estruturação, pesquisa, investigação e análise dos exemplos
de estudo (Quadro 1), explanadas ao longo dos capítulos anteriores, seguiu-se para a
fase de elaboração do produto final, com duas vertentes adiante definidas. O processo
criativo do produto final que agora explicamos em detalhe, guiou-se ele próprio por três
questões/directrizes gerais, a saber:
1. Escolha do público-alvo e adaptação do discurso ao mesmo;
2. Relação da comunidade com o património que nos propomos a estudar – património
nem sempre visível, não “imediato” e não necessariamente turístico;
3. Contributo do produto – como uma forma de educação e sensibilização patrimonial
para a comunidade (e num segundo plano, para quem não pertence a esta, mas visita a
cidade), e como um registo organizado dos vários exemplos.
Duração do
estágio
curricular
Estruturação
do projecto
Pesquisa in
loco
Pesquisa
bibliográfica
Análise de
relatórios
(trabalhos
arqueológicos)
Redacção do
relatório
Criação do
produto final:
duas vertentes
Out.16
-
Nov.16
-
Dez.16
-
Jan.17
-
Fev.17
-
-
-
-
Mar.17
-
Abr.17
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Mai.17
-
Jun.17
-
-
-
-
Quadro 1. Organização do trabalho: divisão de tarefas por mês.
Em relação ao primeiro ponto, tomemos como base a caracterização dos vários
níveis de público-alvo, explanado no “Manual para a Elaboração de Roteiros de
Turismo Cultural”200, enquadrando-se assim o nosso trabalho num nível intermédio
FIGUEIRA, Luís Mota – Manual para a Elaboração de Roteiros de Turismo Cutural. Tomar: Instituto
Politécnico de Tomar, 2013. p.26
200
97
entre o segundo e o terceiro nível, procurando conceber um produto de divulgação, mas
com espaço para o aprofundamento de conhecimentos:
- primeiro nível, de Iniciação, destinado a públicos pouco relacionados com o objecto
de visita e capazes de lidar com um nível de complexidade básica (correspondente,
comparativamente até ao 9º ano de escolaridade ou equivalente);
- segundo nível, de Divulgação, correspondendo a uma apresentação e interpretação
para públicos com capacidade para acolherem a complexidade média na abordagem
ao objecto de visita (que corresponde até ao 12º ano ou equivalente);
- terceiro nível, de Aprofundamento, destinado a públicos com formação superior ou
equivalente, procurando responder a necessidades de uma interpretação mais profunda
e detalhada (que corresponde a licenciados, pós-graduados, e auto-didactas com
aptidões equivalentes a estes níveis de formação académica);
- quarto nível, de Investigação, que se focará nos públicos científicos e técnicos que
operam nos domínios onde os objectos de visitação se poderão contextualizar,
destinado a ilustrar certos aspectos mais específicos e profundos (que toma corpo no
que que podemos designar por visitas técnico-científica sem sede de I&D16).
Sobre o segundo e terceiro pontos, é importante referir desde logo as zonas da
cidade onde se encontraram os exemplos de estudo, bem como a percentagem que estes
ocupam no total. A zona da Sé apresenta a grande fatia do total dos exemplos que nos
propomos a estudar, logo seguida pela zona ribeirinha, terminando com as outras
localizações, com pouco mais de 20%.
Outras
localizações
21%
Zona da Sé
42%
Zona
Ribeirinha
37%
Gráfico 1. Distribuição percentual do total dos objectos de estudo por zonas, dentro dos limites do centro
histórico.
98
As três zonas referidas no gráfico acima funcionam, actualmente, como um
“laboratório a céu aberto”, com reabilitações de edifícios e novas construções a
acontecerem todos os dias. No entanto, parece-nos importante, mais uma vez, aludir à
ligação comunidade local e património, sensibilizando a primeira para o segundo201.
Assim, e como o mundo virtual é também, e cada vez mais, terreno de divulgação de
informação que se quer séria e eficaz, optámos por, além das 38 fichas de inventário que
formam o guia em si e que se encontram definidas no ponto 4.2.2., criar também um
catálogo online com esses mesmos 38 exemplos, com informação mais concentrada,
mas não perdendo as linhas gerais que orientam e definem o trabalho escrito. Pretendese assim produzir e transmitir conhecimento, dando o nosso contributo em três frentes:
a) Relatório de projecto – trabalho mais descritivo, exaustivo e metedológico, de
teor académico;
b) Fichas de inventário – trabalho com uma abordagem mais técnica e resumida,
de compreensão fácil, mas que exige algum grau de conhecimento prévio na matéria, de
teor de divulgação mas com fundamentação académica;
c) Catálogo online – trabalho numa plataforma virtual por forma a chegar a mais
público, com informação mais concentrada e menos descritiva, de teor de divulgação.
4.2.2. Produto final – proposta
Para dar forma ao produto final, este tomou duas formas ou vertentes, como já
referimos anteriormente: Fichas de Inventário e Catálogo Online. A primeira passou
pela criação de 38 fichas, uma para cada exemplo estudado, baseadas no KIT DO
PATRIMÓNIO 0.1202, que se define da seguinte forma: KITS – Património é,
justamente, uma colecção de guias práticos de nível básico sobre inventariação de
património arquitectónico, urbanístico e paisagístico, assim como de outro tipo de
património cultural de algum modo àquele associado. Estas fichas, com 13 tópicos a
desenvolver de forma breve e esquemática, são apresentadas de seguida203.
De referir a “Convenção Quadro do Conselho da Europa Relativa ao Valor do Património Cultural
para a Sociedade”, assinada em Faro em Outubro de 2005, e que aludia já à importância desta ligação.
202
VIEIRA, João (coord. de); LACERDA, Manuel (coord. de) – Património Arquitectónico – Geral:
KIT01, versão 2.0, documento definitivo. Colecção KITS – Património, IHRU/IGESPAR 2010.
203
Para uma total compreensão destas fichas de inventáio é necessária a consulta de todo o relatório
escrito, bem como das fontes de informação que se referem previamente. As imagens de cada exemplo,
visto serem mostradas no Capitulo III e no catálogo online, não são evidenciadas neste formato.
201
99
a) Nº Ficha
b) Designação
c) Localização
d)
e)
f)
g)
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
m) Observações
a)
b)
c)
d)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
e) Protecção
f) Época(s) de construção
g) Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
1
Casa do Beco dos Redemoinhos.
Beco dos Redemoinhos (arruamento
imediatamente atrás da Sé).
Condicionado (beco actualmente fechado)
Sem informação.
Séc. XIV/XV (conjectural).
Tipologia habitacional; duas mísulas de cunho
oblíquo que ladeiam o 1º nível da fachada, tendo
uma delas pelo menos, representação de face
humana; possível fecho de um vão de iluminação
ou entrada ao nível do rés-do-chão, do lado
direito da fachada; portal de entrada elevado;
acrescentos modernos: janela central do 2º nível
da fachada e janela que ladeia o portal de
entrada.
Sem informação.
Habitacional.
Sem informação.
Em ruína.
Livro dos Originais, Cartº Cabido, 1666(8), fl.
35 e Livro dos Prazos, Cartº Cabido, nº511, fl.
144v-145.
-
2
Casa Nº 5 da Rua de D. Hugo.
Rua de D. Hugo, N.P.5.
Livre, mediante marcação (através do email:
museuguerrajunqueiro@cm-porto.pt)
Incluída no Centro Histórico da Cidade do Porto
e na Zona Histórica da Cidade do Porto.
Medieval, Moderna e Contemporânea.
Tipologia habitacional. Fachada gótica
(invertida), que conserva um vão de entrada e um
vão de iluminação.
Sem informação.
Habitacional.
Sede de associação (Arqueossítio).
Bom estado.
Plantas de Casas, Livro 45, fl. 29-31.
Local de escavações: 20 camadas arqueológicas,
com ruínas arquitectónicas e de objectos, desde
os séculos IV e III a.C. Comprovação da
existência de um castro proto-histórico, de
ocupação romana e alti-medieval.
100
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
l) Documentação
m) Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
m) Observações
a) Nº Ficha
b) Designação
c)
d)
e)
f)
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
g) Arquitecto/Construtor
3
Dois vãos de entrada
Rua de D. Hugo, s/n.
Livre, junto a caminho público.
Sem informação.
Sem informação.
Dois possíveis vãos de entrada entaipados, com
arcos de volta perfeita, lado a lado, actualmente
caiados.
Sem informação.
Sem informação.
Sem informação.
Bom estado, embora o lote que os acolha esteja
vazio e aparentemente ao abandono.
Sem informação.
-
4
Casa Nº 38 da Rua de Penaventosa.
Rua da Penaventosa, N.P. 36 a 40.
Condicionado.
Sem informação.
Medieval e Contemporânea.
Casa que aresenta da fachada voltada para a Rua
da Penaventosa, um vão de entrada em arco
apontado.
António Moura (séc. XX)
Açougues do Povo (?)
Sede de associação e habitacional.
Bom estado.
Processos de obras do C.R.U.A.R.B, Guia
8/2007, Pastas 1, 2 e 3.
Edifício alvo de reabilitação por parte do
CRUARB em 1988, pela mão do arquitecto
António Moura.
5
Casa com o N.P. 73 e 73 A da Rua de
Penaventosa.
Rua da Penaventosa, N.P. 73 e 73 A.
Condicionado.
Sem informação.
Medieval e Contemporânea (conjecturais).
Dois níveis de pano murário visível: do rés-dochão e outro parcialmente soterrado,
possivelmente pano de muralha primitiva.
Sem informação.
101
h)
i)
j)
k)
l)
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
f) Época(s) de construção
g) Descrição
h)
i)
j)
k)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
l) Documentação
m) Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a) Nº Ficha
b) Designação
Habitacional.
Nenhuma.
Em ruína.
Sem informação.
Escavações no quarteirão da bainharia referem
este lote e o lateral direito. Possível construção
de casas sobre a muralha, nesta zona.
6
Torre da Rolaçam/Antiga Casa da Câmara
Rua de S. Sebastião, s/n.
Livre.
Incluída na Zona Histórica da Cidade do Porto,
no Centro Histórico da Cidade do Porto, e na
Zona de Protecção da Sé do Porto.
Medieval (séc. XV), Moderna e Contemporânea
(2002).
Tipologia administrativa. Conserva paredes
exteriores, lajeado, e dois vão de entrada em arco
apontado do período medieval.
Fernando Távora (Séc. XXI)
Casa da Câmara.
Posto de Turismo.
Ruína consolidada com projectocomtemporâneo
no seu interior.
Vereações.
-
7
Lote medieval na Rua Escura.
N.P. 20 e 22 da Rua Escura.
Condicionado, mas visível da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Suporte pétreo para sobrado na lateral esquerda
da fachada. Casa em lote medieval.
Sem informação.
Habitacional.
Nenhuma.
Lote entaipado.
Sem informação.
-
8
Torre de Pedro Pitões/Torre da Cidade.
102
c) Localização
d) Acesso
e) Protecção
f) Época(s) de construção
g)
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Descrição
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a) Nº Ficha
b) Designação
c) Localização
d)
e)
f)
g)
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a) Nº Ficha
b) Designação
c)
d)
e)
f)
g)
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
Calçada de Pedro Pitões, N.P. 15.
Livre.
Incluída no Centro Histórico da Cidade do Porto,
na Zona Histórica da Cidade do Porto, na Zona
de Protecção da Sé do Porto e do Paço Episcopal
do Porto.
Contemporânea (século XX), com possível
reaproveitamento de material medieval.
Casa-torre revivalista.
Rogério de Azevedo (séc. XX).
Habitacional.
Posto de Turismo.
Bom estado.
Descoberta nos trabalhos de demolição do
Terreiro da Sé e reconstruída totalmente nos anos
40 do séc. XX. Deslocação do local primitivo,
cerca de 5 metros.
9
Casa da Rua dos Pelames.
Cruzamento da Rua dos Pelames com a Travessa
do Souto, N.P. 55.
Condicionado, mas vista da rua.
Sem informação.
Medieval (conjectural) e Contemporânea.
Tipologia habitacional. Casa em lote medieval,
com base assente em pano murário visível e pisos
superiores em taipa. Apresenta um vão de
entrada rectangular na fachada principal.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional.
Bom estado.
Sem informação.
Edifício localizado na zona de curtição de peles
na época medieval.
10
Conjunto de duas casas em lotes medievais, com
vãos em chanfro, na Rua do Souto.
Rua do Souto, N.P. 15 e 17 e N.P. 11 e 13
Condicionado, mas visíveis da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Tipologia habitacional. Dois lotes medievais com
dois vãos de entrada cada, em chanfre. Pisos
103
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a) Nº Ficha
b) Designação
c)
d)
e)
f)
g)
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a) Nº Ficha
b) Designação
superiores em taipa.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional.
Bom estado.
Sem informação.
11
Casa da Rua do Souto com pano murário visível
I.
Rua do Souto, N.P. 16 e 18
Condicionado, mas visível da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Tipologia habitacional. Vestígio de pano murário
visível na fachada, em lote medieval.
Sem informação.
Habitacional.
Nenhuma.
Bom estado.
Sem informação.
-
c)
d)
e)
f)
g)
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
12
Casa da Rua do Souto com pano murário visível
II.
Rua do Souto, N.P. 23 e 25.
Condicionado, mas visível da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Tipologia habitacional. Vestígio de pano murário
visível na fachada, em lote medieval.
Sem informação.
Nenhuma.
Habitacional (conjectural)
Mau estado.
Sem informação.
Lote entaipado.
a)
b)
c)
d)
e)
f)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
13
Casa da Rua de Santana.
Rua de Santana, N.P. 47.
Condicionado, mas visível da rua.
Sem informação.
Medieval e Moderna (conjecturais).
104
g) Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
e) Protecção
f) Época(s) de construção
g) Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
Tipologia habitacional. Casa com várias camadas
de pano murário visível. Dois pisos superiores
em taipa, desnivelados. Portal recortado,
possivelmente quinhentista, parcial.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional.
Bom estado.
Sem informação.
Parte de casas desta rua assentes em pano de
muralha românica.
14
Vestígios deslocados na casa da Rua de Santana.
Rua de Santana, N.P. 33 e 35.
Livre (numa parede eterior voltada para a Rua de
Santana).
Sem informação.
Sem informação.
Elementos remanescentes. Vestígios
possivelmente deslocados, colocados na parede
da casa anterior, mas com um diferente número
de porta. Possíveis aduelas (?)
Sem informação.
Decorativa (?)
Parte de pano murário.
Razoável.
Sem informação.
15
Nicho de Santana.
Rua de Santana, N.P. 37 e 39.
Livre.
Sem informação.
Medieval e Contemporâneo.
Elemento remanescente, inserido em casa.
Localização junto a porta de muralha românica.
Sem informação.
Devocional e defensiva.
Devocional.
Bom.
Sem informação.
-
105
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a) Nº Ficha
b) Designação
c)
d)
e)
f)
g)
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a) Nº Ficha
b) Designação
c)
d)
e)
f)
g)
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
16
Conjunto de casas na Rua da Bainharia.
Rua da Bainharia, N.P. 50 e 51, 44 e 42, 40 e 38.
Condicionado, mas visível da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Tipologia habitacional. Conjunto de casas que
partilham vestígios de suporte em pedra, entre
elas. Casas em lotes aparentemente medievais.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional e comercial.
Bom estado.
Sem informação.
17
Casa com portal de entrada da Rua dos
Mercadores.
Rua dos Mercadores, N.P. 184 e 186.
Condicionado, mas portal visto da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Dois vãos de entrada com moldura possivelmente
quinhentista. Semelhança com o portal de
entrada da casa com o N.P. 62 e 64 da Rua de S.
Bento da Vitória e da casa com o N.P. 47 da Rua
de Santana.
Sem informação.
Habitacional (conjectural).
Nenhuma.
Mau.
Sem informação.
Lote onde se encontra o portal actualmente
entaipado.
18
Casa com pano murário visível da Rua dos
Meradores.
Rua dos Mercadores, N.P. 162 e 164.
Condicionado, mas visível da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Tipologia habitacional. Casa em lote
aparentemente medieval, com pano murário
visível do lado direito da fachada. Pisos
superiores ao rés-do-chão em taipa.
106
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
e) Protecção
f) Época(s) de construção
g) Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
e) Protecção
f) Época(s) de construção
g) Descrição
h) Arquitecto/Construtor
i)
j)
k)
l)
m)
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional.
Bom estado.
Sem informação.
19
Casa-torre da Rua dos Mercadores
Rua dos Mercadores, N.P. 156 e 158.
Condicionado (em obras de reabilitação) mas
alguns aspectos vistos da rua.
Sem informação.
Medieval e Contemporânea (séc. XIX e XXI)
Tipologia habitacional. Casa-torre actualmente
em obras de recuperação, com pano murário
visível na fachada.
Sem informação.
Habitacional.
Nenhuma (em obras).
Bom estado.
Livro das Plantas de Casas, nº35, pág.193.
20
Casa-torre da Rua da Reboleira I.
Rua da Reboleira, N.P. 59.
Condicionado, mas alguns elementos visíveis da
rua.
Incluída na Zona Histórica da Cidade do Porto e
no Centro Histórico da Cidade do Porto.
Medieval, Moderna e Contemporânea (Lar).
Torre em granito rematada com merlões.
Vestígios medievais em maior númeroa na
fachada voltada à Rua do Outeirinho (vãos de
iluminação e pano murário). Vários acrescentos
modernos.
António Moura (renovação do espaço para
coversão em Lar em 1997).
Habitacional.
Assistêncial (Lar).
Bom estado.
Processos de obras do CRUARB, AHMP.
Foi propriedade de Pedrossem, mercador que
habitou a cidade do Porto no período moderno.
107
a)
b)
c)
d)
e)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
f) Época(s) de construção
g) Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
21
Casa-torre da Rua da Reboleira II.
Rua da Reboleira, N.P. 55.
Condicionado, mas com vestígios visíveis da rua.
Incluída na Zona Histórica da Cidade do Porto e
no Centro Histórico da Cidade do Porto
Medieval e Moderna.
Tipologia habitacional. Arcos góticos ao nível do
rés-do-chão, mas níveis superiores e remate do
edifício com merlões, provavelmente do séc.
XVII.
Sem informação.
Habitacional.
Sem informação.
Razoável.
Sem documentação.
Foi propriedade do “Lobo da Reboleira”.
22
Casa-torre da Rua de Baixo.
Rua de Baixo, N.P. 5
Condicionado, mas visível da rua.
Sem informação.
Medieval, séc. XIII (conjectural) e Moderna.
Tipologia habitacional. Edifício com cinco pisos
e fachadas para ambas as ruas. Portal de acesso
elevado, voltado para a Rua de Baixo. Possível
acrescento de mísulas nas duas fachadas e
reconstrução de vãos no período moderno.
Sem informação.
Habitacional.
Sem informação.
Bom estado.
Sem informação.
23
Casa da Rua da Fonte Taurina I.
Rua da Fonte Taurina, N.P. 18.
Condicionado, mas elementos visíveis da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Tipologia habitacional. Pano murário visível que
ladeia a fachada voltada para a Rua da Fonte
Taurina. Suporte para sobrado em pedra que dá a
volta o lote (do lado voltado para o Postigo do
Carvão). 3 pisos superiores ao rés-do-chão em
108
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
taipa.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional.
Bom estado.
Sem informação.
24
Casa da Rua da Fonte Taurina II.
Passeio do Cais da Ribeira, N.P. 44 B
Condicionado, mas elementos visíveis da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Tipologia habitacional. Casa com suporte pétreo
ao nível do 2º piso, nas laterais da fachada
voltada para o Postigo do Carvão. Vão de entrada
em arco de volta perfeita, junto ao Postigo do
Carvão.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional.
Bom estado.
Sem informação.
25
Casa voltada para a Rua da Lada.
Travessa do Barredo, N.P. 2.
Condicinado, mas elementos visíveis da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Tipologia habitacional. Casa com pano murário
visível do lado esquerdo da fachada. Cachorros
junto às janelas do 1º piso. 2º e 3º pisos em taipa.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional e comercial.
Razoável.
Sem informação.
26
Espaços do Hotel Carris.
Rua do Infante D. Henrique, N.P. 1
Condicionado.
109
e) Protecção
f) Época(s) de construção
g) Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h) Arquitecto/Construtor
i) Utilização inicial
Sem informação.
Medieval, Moderna e Contemporânea.
Encontradas fundações de duas casas-torre, uma
no interior do estabelecimento hoteleiro
(desaparecida) e uma segunda no actual espaço
do restaurante (visível parcialmente na sala de
refeições). Lajeados e pano murário.
Sem informação.
Habitacional (conjectural).
Hoteleira e comercial.
Bom estado.
Sem informação.
Neste conjunto de lotes encontram-se enúmeros
vestígios de várias épocas: Romana, Medieval,
Moderna e Contemporânea (renovação do espaço
para albergar o hotel). Inseridos dentro do
denominado “quarteirão régio”.
27
Vãos no interior do Hostel BlueSocks.
Rua do Clube Fluvial Portuense, N.P. 15.
Condicionado.
Sem informação.
Medieval, Moderno e Contemporâneo.
Vão de entrada em arco apontado e pano murário
com pelo menos uma marca de pedreiro. Possível
relação com a casa-torre de João Martins
Ferreira.
Sem informação.
Habitacional (conjectural).
Hoteleira.
Bom estado.
Sem informação.
28
Antiga Bolsa dos Comerciantes.
Rua do Infante D. Henrique, N.P. 47 e 53.
Livre.
Sem informação.
Medieval e Moderna.
Tipologia administrativa. Apresenta pano
murário visível no interior do lote. Várias marcas
de pedreiro. Abertura posterior de uma ligação
subterrânea à Casa da Moeda.
Sem informação.
Administrativa.
110
j)
k)
l)
m)
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
Comercial.
Bom estado.
Sem informação.
-
a)
b)
c)
d)
e)
f)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
29
Casa do Infante.
Rua da Alfândega, N.P. 10
Livre.
Monumento Nacional.
Medieval (séc. XIV), Moderno (Séc. XVIII) e
Contemporâneo (séc. XX e XXI).
Casa do Infante/ Armazém Régio/ Casa da
Moeda (complexo de edifícios). Tipologia
habitacional e administrativa. Edifício primitivo
possivelmente com duas torres desnivelardas
com um pátio ao meio. Janela gótica da torre
norte, visível e voltada para o que é agora o
interior do banco BPI na Rua Infante D.
Henrique.
João Eanes Melacho, séc. XIV (mestre)
Habitacional e Administrativa.
Sede de diversos serviços da cidade do Porto:
Museu, Arquivo Histórico, Biblioteca de
Assuntos Portuenses, Sala da Memória, Sala de
Espectáculos e Auditório.
Bom estado.
A.H.M.P.
Escavação arqueológica de 1991 neste espaço
revelou vestígios de ocupação romana, séc. IV e
V.
g) Descrição
h) Arquitecto/Construtor
i) Utilização inicial
j) Utilização actual
k) Estado de conservação
l) Documentação
m) Observações
a)
b)
c)
d)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
e) Protecção
f) Época(s) de construção
g) Descrição
30
Escola das Escadas do Recanto
Escadas do Recanto, s/n.
Condicionado, mas elementos visíveis do
exterior.
Sem informação.
Medieval (conjectural), Moderna (conjectural) e
Contemporânea.
Apresenta duas fachadas principais, uma voltada
para a Calçada do Forno Velho e outra para a
Rua Nova da Alfândega.
Fachada do Forno Velho: um vão de entrada em
arco apontado + três vãos de iluminação.
Fachada da Rua Nova da Alfândega: dois vãos de
entrada, um em arco apontado semelhante ao da
outra fachada, e outro com padieira tripartida +
111
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h) Arquitecto/Construtor
três níveis de vãos de iluminação (2+2+1)
Janelas do 2º piso da fachada voltada para a Rua
Nova da Alfândega apresentam “remendos” e
possível cunho quinhentista. 3º piso desta
fachada com material trabalhado de forma
ligeiramente diferente.
Sem informação.
Habitacional (conjectural).
Escolar.
Bom estado.
Sem informação.
31
Casa da Rua Chã.
Rua Chã, N.P. 87 e 89.
Condicionado.
Sem informação.
Medieval e Moderna (conjecturais).
Tipologia habitacional. Edifício com a fachada
voltada para um pátio interior e não para a Rua
Chã. Esta fachada apresenta um portal em arco
apontado ladeado por uma janela “namoradeira”,
ao nível do actual rés-do-chão. Ao nível do 1º
piso a fachada apresenta, ao centro, um vão de
iluminação com varanda, possivelmente
moderno. No interior do 1º piso há a existência
de um armário embutido e de o que poderá ser
parte de um forno. Numa das paredes interiores
existe ainda um possível frontal, não datado.
Sem informação.
Habitacional (conjectural).
Hoteleira (no futuro).
Razoável.
Sem informação.
Possível casa reconstruída em pedra após
incêndio do séc. XIV.
32
Casa da Rua dos Caldeireiros I.
Rua dos Caldeireiros, N.P. 69 e 71.
Condicionado, mas elemento visível da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Tipologia habitacional. Pano murário visível na
fachada (coberto com tinta), em lote medieval.
Sem informação.
112
i)
j)
k)
l)
m)
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
Haitacional.
Habitacional.
Bom estado (recentemente renovada).
Sem informação.
-
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
33
Casa da Rua dos Caldeireiros II.
Rua dos Caldeireiros, N.P. 250 e 252.
Condicionado, mas elementos vistos da rua.
Sem informação.
Sem informação.
Tipologia habitacional. Casa em lote medieval
com três pisos em ressalto e em taipa.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional.
Razoável.
Sem informação.
-
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
34
Casa da Rua de S. Bento da Vitória I.
Rua de S. Bento da Vitória, N.P. 66 e 68.
Condicionado, mas elementos visíveis da rua.
Sem informação.
Séc. XVI (conjectural).
Tipologia habitacional. Casa com rés-do-chão em
pedra com dois pisos superiores em taipa. Pórtico
colunado na fachada e pano murário visível na
lateral esquerda.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional.
Razoável.
Sem informação.
35
Casa da Rua de S. Bento da Vitória II.
Rua de S. Bento da Vitória, N.P. 62 e 64.
Condicionado, mas elementos visíveis da rua.
Sem informação.
Séc. XVI (conjectural)
Tipologia habitacional. Vão de entrada ao nível
do rés-do-chão recortado e pano murário visível
113
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
Protecção
Época(s) de construção
Descrição
h)
i)
j)
k)
l)
m)
Arquitecto/Construtor
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
do lado direito da fachada.
Sem informação.
Habitacional.
Habitaciona.
Razoável.
Sem informação.
Semelhança da forma do portal de entrada com
outros encontrados em duas casas, uma na Rua
de Santana e outra na Rua dos Mercadores.
36
Casa da Rua de S. Bento da Vitória III.
Rua de S. Bento da Vitória, N.P. 48 e 52.
Condicionado, mas elementos visíveis da rua.
Sem informação.
Séc. XVI (conjectural).
Tipologia habitacional. Suportes em pedra para
sobrados, ao nível do 1º piso, que ladeiam a
fachada da casa.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional.
Razoável.
Sem informação.
Semelhança da disposição e forma dos suportes
pétreos desta casa, com os suportes da casa de
Belomonte.
37
Casa de Belomonte.
Rua de Belomonte, N.P. 90 e 92.
Condicionado, mas elementos visíveis da rua.
Sem informação.
Séc. XVI (conjectural).
Tipologia habitacional. Casa com suportes
pétreos a ladear a fachada, ao nível do 2º e 3º
pisos. Cachorros a rematar e ladear o 3º
piso.Pisos superiores ao rés-do-chão salientes e
em taipa.
Sem informação.
Habitacional.
Habitacional.
Razoável.
Sem informação.
-
114
a)
b)
c)
d)
Nº Ficha
Designação
Localização
Acesso
e) Protecção
f) Época(s) de construção
g) Descrição
h) Arquitecto/Construtor
i)
j)
k)
l)
m)
Utilização inicial
Utilização actual
Estado de conservação
Documentação
Observações
38
Torre de Pedro Sem/ do Palácio dos Terenas.
Rua da Boa Nova.
Condicionado, mas alguns elementos visíveis da
rua.
Monumento Nacional.
Medieval, Moderna e Contemporânea.
Tipologia habitacional, em contexto rural,
associado a uma quinta. Casa-torre com ameias,
cachorros que cobrem todo o seu pano murário.
Pedro Sem (séc. XIV) e Abrunhosa de Brito
(renovação do espaço no séc. XX).
Habitacional.
Habitacional e administrativa.
Bom estado.
Sem informação.
Esta torre nada tem a ver com a Torre da Marca,
tratando-se esta última de uma outra construção
nas proximidades da Torre de Pedro Sem.
A segunda vertente passou pela criação de um catálogo204 online, acessível
através
do
seguinte
link:
http://arquitectura-civil-medieval-na-cidade-do-porto-
catalogo.webnode.pt/. A organização do mesmo divide-se em cinco separadores
principais, reaproveitando e adaptando os conteúdos anteriormente produzidos neste
trabalho escrito:
- O Projecto, onde se faz um breve contexto do projecto de mestrado, refere-se a
sua missão, a localização no tempo e espaço, as maiores dificuldades encontradas ao
longo do trabalho, os formatos nos quais este projecto de apresenta (relatório, fichas de
inventário e o catálogo, salvaguardando a ideia de que este último que se apresenta em
formato virtual é apenas parte do total do trabalho desenvolvido), deixando ainda
espaço para uma futura disponibilização deste trabalho na íntegra, se assim se justificar
(Fig. 120). Este será o separador onde o utilizador encontrará mais texto, contudo, e
estando conscientes de que esta parte poderá ser um pouco extensa, torna-se importante
abordar as seis questões explanadas, para que se consiga proporcionar uma
compreensão total do projecto.
204
Lista ou relação metódica de coisas (ou pessoas) com breve informação a seu respeito. "Catálogo", in
Dicionário
Priberam
da
Língua
Portuguesa
[em
linha],
20082013, https://www.priberam.pt/dlpo/cat%C3%A1logo [consultado em 06-06-2017].
115
- O Catálogo, onde se introduz a ideia da permanência da construção medieval
na cidade do Porto e seguidamente se enumeram os 38 exemplos205 (Fig. 121). Além da
informação sobre o exemplo de estudo e o arruamento onde este se encontra,
introduzem-se ainda pequenas curiosidades relacionadas com os mesmos (Sabia que?)
(Fig. 122), numa tentativa de captar a atenção do utilizador e dinamizar o próprio
conteúdo exposto. Através deste separador acede-se aos separadores seguintes, onde os
exemplos são apresentados em vagas de três, para um acesso mais facilitado, intuitivo, e
não cansativo206 (Fig. 123).
- Glossário, com os termos e definições presentes no Apêndice I deste trabalho,
por forma a tornar mais clara alguma linguagem de teor mais técnico e/ou descritiva que
possa ter sido utilizada (Fig. 124).
- Recursos de Pesquisa, semelhante ao exposto neste trabalho escrito nas Fontes,
Bibliografia e Recursos Online, com o material utilizado para a realização do mesmo,
indicando também ao utilizador material que pode ser consultado a título pessoal, caso o
tema lhe interesse e procure aprofundar os seus próprios conhecimentos (Fig. 125).
- Contactos, convidando o utilizador a colocar questões a quem produz o site,
mas também a fornecer informações pertinentes no que ao tema da arquitectura civil
medieval diz respeito, contribuindo para a manutenção e melhoramento da plataforma
(Fig. 126).
Fig. 120 Separador de Apresentação do Projecto.
205
As imagens utilizadas no catálogo onine serão, futuramente, actualizadas, já que estas foram captadas
em contexto de trabalho de campo pelo que, por vezes, se apresentam com fraca qualidade.
206
Nem todos os exemplos apresentam um mapa próprio com a sua localização na cidade, como acontece
com os nº 1 a 3 do Catálogo. Assumindo-se que este formato é um work in progress, a intenção será a de
completar este aspecto no futuro, de forma a clarificar a posição geográfica dos nossos objectos de
estudo.
116
Fig. 121 Separador da introdução ao Catálogo.
Fig. 122 Pormenor das três curiosidades (Sabia que?) relativas aos exemplos da Rua de D. Hugo.
Fig. 123 Organização dos três primeiros exemplos de estudo.
Fig. 124 Separador do Glossário.
117
Fig. 125 Separador das Fontes, Bibliografia e Recursos online.
Fig. 126 Separador dos Contactos.
Em relação ao aspecto do próprio catálogo online, procurou-se criar uma
plataforma com conteúdos simples, tentando sempre que possível, reduzir o volume de
texto e apostar nas imagens, tanto as que encabeçam os separadores principais, como as
que retratam os exemplos do catálogo – as fotografias de cada exemplo de estudo
encontram-se a preto e branco, numa tentativa de chamar a atenção para os elementos
referidos no texto que as descreve. As cores, semelhantes em todos os separadores,
foram escolhidas de forma a criar um certo contraste visual, mas de contornos suaves,
oferecendo também uma linha de continuidade cromática, conseguida pelos amarelostorrados, brancos e cinzas. Importa ainda referir que este trabalho, no seu todo, mas em
particular o desenvolvido na plataforma virtual, não é um projecto acabado e muito nos
agradaria continuar com o mesmo no futuro, melhorando e actualizando os conteúdos
que foram introduzidos até à data207.
207
Estamos em crer que o Glossário, por exemplo, resultará melhor se for ilustrado. Devido aos termos
específicos, a sua ilustração passará, possivelmente, por desenhos e esquemas feitos por nós, o que levará
o seu tempo a concretizar, mas poderá ser algo a desenvolver num futuro próximo.
118
Considerações finais
A arquitectura que observamos hoje, como forma de arte que se pratica, ocupa e
vive, será sempre uma forma de olhar para o passado. O caso da cidade do Porto não é
diferente, e aqui a memória do período em que a identidade do burgo portucalense se
define é ainda bastante notória, e também parte fundamental na manutenção do carácter
de uma urbe em permanente mutação. O risco, calculado, que se corre ao enumerar os
trinta e oito exemplos de estudo de arquitectura civil medieval no Porto reafirma isso
mesmo, e reforça a ideia da permanência da construção medieval, da sua transformação,
e da sua adaptação a espaços de cronologias posteriores. Este trabalho não se esgota no
lote de exemplos aqui apontado. O número de existências semelhantes será muito
superior, persistindo muitos deles ocultos aos olhos de especialistas, habitantes e
visitantes.
Vivemos um período particularmente interessante: a renovação massiva que o
coração do Porto está a atravessar representa, em simultâneo, uma oportunidade e uma
ameaça. Dezenas de vestígios são expostos diariamente, mas o risco de destruição,
provocada pelo desconhecimento, pelo risco que uma descoberta pode representar para
o prosseguimento de uma obra ou pela pressão especulativa que recai sobre uma cidade
perigosamente dependente de um crescente movimento turístico, é cada vez mais
sensível. E é aqui, também, que reside a necessidade de um levantamento como o que
foi feito nestas páginas. Registar, interpretar e divulgar: caminhos fundamentais no
estudo e identificação dos elementos materiais da memória urbana e, não menos
relevante, na disponibilização dessa memória àqueles que a mantêm viva, com ou sem
consciência de o fazerem – os portuenses.
Será legítimo aspirar a “educar” um habitante de uma cidade sobre o local onde
nasceu, cresceu e viveu? Poderá ser interpretado como um acto de arrogância académica
a oferta de uma nova visão sobre uma identidade que mantêm viva e pulsante? É mais
um risco deste projecto, e não está isento de crítica. Contudo, também o público-alvo
não se limita à comunidade local. Estas matérias serão do interesse de quem visita a
cidade e quer saber mais sobre ela, já que, não são apenas as construções de grandes
dimensões (construtivas, operativas ou visuais) que marcam uma paisagem urbana, nem
tampouco, as definem, caracterizam e compõem.
119
Este será apenas um primeiro passo para um maior entendimento da cidade
medieval, em concreto dos espaços de habitação e administração da cidade do Porto,
ainda que seja um registo algo limitado pelos próprios vestígios que nos chegam,
havendo outras facetas que permanecem desconhecidas, simplesmente porque não
perduraram no tempo. Este trabalho, não é, nem pode ser, um registo total no que à
arquitectura civil medieval da cidade diz respeito, mas sim uma janela para os assuntos
já referidos desse mesmo período. “O caminho faz-se caminhando” e este projecto
representa apenas o início da jornada.
120
Fontes e Bibliografia
Fontes Inéditas
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Além-Douro. Livros 3 e 4.
Arquivo Histórico Municipal do Porto, Plantas de Casas, Livro 45.
Arquivo Histórico Municipal do Porto, Processos de obras do CRUARB, Guia 8/2007,
Pastas 1, 2 e 3.
Fontes Impressas
Descrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto, por Agostinho Rebelo da
Costa. H.G. 5505 P, que se encontra na Biblioteca Nacional de Lisboa, datada de 1788.
3ª Edição, Lisboa: Frenesi. Junho MMI.
Vereaçoens. Anos de 1390-1395. O mais antigo dos Livros de Vereações do Município
do Pôrto existentes no seu Arquivo. Comentário e notas de Artur de Magalhães Basto,
Documentos e Memórias para a História do Pôrto. Vol II. Porto: Câmara Municipal do
Porto, Gabinete de História da Cidade., 1973.
Cartografia
Planta topográfica da cidade do Porto. A. Teles Ferreira, 1892.
Bibliografia
AFONSO, Daniel Braz – A rua na construção da forma urbana medieval: Porto, 13861521. Dissertação de Mestrado em História da Arte Portuguesa apresentada à Faculdade
de Letras da Universidade do Porto, 2012.
AFONSO, José Ferrão – “A construção de um novo centro cívico: Notas para a História
da Rua Nova e da zona ribeirinha do Porto no século XV” in Museu, IV série, nº 9,
2000. (p.29-70)
AFONSO, José Ferrão – A Imagem Tem que Saltar: a Igreja e o Porto no Século XVI,
1499-1606. Um estudo de história urbana. Dissertação de doutoramento em
121
arquitectura, apresentada à Universidade Politécnica de Catalunya. Fundação Calouste
Gunbenkian e Fundação para a Ciência e Tecnologia: Lisboa, 2013.
AFONSO, José Ferrão – A Rua das Flores no Século XVI - Elementos Para a História
Urbana do Porto Quinhentista. Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto:
Porto, 2004.
ALARCÃO, Jorge de (coord. geral de); BARROCA, Mário (coord. geral de) –
Dicionário de Arqueologia Portuguesa. Figueirinhas: Porto, 2012.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – História da Arte em Portugal. O Românico.
Lisboa: Editorial Presença, 2001.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; BARROCA, Mário Jorge – História da Arte em
Portugal. O Gótico. Lisboa: Editorial Presença, 2002.
AMARAL, Luís Carlos – “Subsídios documentais para o estudo da propriedade
imobiliária no concelho do Porto no período medieval”. Boletim Cultural da Câmara
Municipal do Porto. Porto, 2ª série, vol.5-6, 1987-88 (p.55-132)
AMARAL, Luís Carlos; DUARTE, Luís Miguel – Os homens que pagaram a Rua Nova
(Formalidade, Sociedade e Ordenamento Territorial do Porto Quatrocentista). FLUP:
Revista de História, Vol. 6, 1985. (p.7-96)
ANDRADE, Amélia Aguiar – Um espaço urbano medieval: Ponte de Lima. Lisboa:
Livros Horizonte, 1990.
ARGAN, Giulio Carlo – História da Arte como História da Cidade. São Paulo: Livraria
Martins Fontes Editora, Ltda, 1989.
ARMAS, Duarte d`– Livro das Fortalezas. Lisboa: Edições Inapa, 2006.
AZEVEDO, Rogério – “As Implicações Antecedentes da Arquitectura Medieval
Portucalense (Cale, Portucale e Porto)”, Separata do Boletim Cultural da Câmara
Municipal do Porto. Vol. XXXI, fasc. 3-4. Porto: Livraria Fernando Machado, 1968.
BARREIROS, Guilherme Bomfim; FERREIRA, J. A. PINTO – “Aspectos
Arqueológicos e Artísticos da Cidade do Porto” in Documentos de Memórias para a
122
História do Porto, XIX. Porto: Edições da Câmara Municpal do Porto, Gabinete de
História da Cidade, 1949.
BARROCA, Mário Jorge – Torres, Casas-Torres ou Casas-Fortes: a concepção do
espaço de habitação da pequena e média nobreza na Baixa Idade Média (sécs. XII-XV).
Coimbra: Rev. de Hist. das Ideias, 1997.
BASTO, A. De Magalhães – “O Pôrto Medieval (ensaio topográfico)” in Memórias e
Comunicações apresentadas ao Congresso de História Medieval (II Congresso).
Congresso do Mundo Português Publicações, II volume. Secção de Congressos, 1940.
BASTO, A. De Magalhães – Silva de História e Arte (Notícias Portucalenses). Porto:
Livraria Progredior, 1945.
BEIRANTE, Maria Ângela Rocha – Évora na Idade Média. Textos Universitários de
Ciências Sociais e Humanas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Junta Nacional
de Investigação Científica e Tecnológica, 1995.
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património:
“Espaço nobre dos burgueses do Porto” in O Tripeiro, 7ª série, ano de XXXIII, nº12,
Dezembro de 2014. (p.380-283)
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património:
“Sinalizando a estrada de água” in O Tripeiro, 7ª série, ano de XXXIV, nº3, Março de
2015 (p.94-96)
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património:
“Torre da Marca, entre o sonho e a realidade” in O Tripeiro, 7ª série, ano de XXXIV,
nº4, Abril de 2015 (p.122-124)
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património:
“A descoberta arquitectónica do ano” in O Tripeiro, 7ª série, ano de XXXV, nº6, Junho
de 2016 (p.173-175)
BRANCO, Luís Bourbon Aguiar; CARDOSO, Pedro Vasconcelos – Porto Património:
“Aproveitar a oportunidade para emendar o erro” in O Tripeiro, 7ª série, ano de XXXV,
nº7, Julho de 2016 (p.215-217)
123
CARVALHO, Teresa Pires de; GUIMARÃES, Carlos; BARROCA, Mário Jorge –
Bairro da Sé do Porto. Contributo para a sua caracterização histórica. Câmara
Municipal do Porto, CRUARB/CH – Projecto Municipal para a renovação urbana do
Centro Histórico do Porto, “Projecto Piloto Urbano da Sé”, 1996.
CONDE, Manuel Sílvio Alves – Construir, Habitar: A Casa Medieval. CITCEM –
Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória», 2011.
COSTA, Paula M. de C. Pinto; CASTRO, Júlia Isabel C. C. Alves de – [Em-linha] “A
alfândega de Freixo de Espada-à-Cinta em 1517” in DOURO – Estudos e Documentos,
vol.III
(5),
1998
(1º),
(p.
95-108),
p.96.
Disponível
em:
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/9388.pdf
CRUZ, António – “Os mesteres do Porto no século XV. Aspectos da sua actividade e
taxas de ofícios mecânicos” in Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do
Porto, vol.III, fasc. I, 1940.
CRUZ, António – Velho Burgo. Alguns aspectos, figuras e casos do Porto Antigo.
Porto: Livraria Simões, 1953.
DELGADO, Ana Paula; VALENÇA, Paulo de Quiróz; GUIMARÃES, Margarida
Mesquita (coord. De) – Morro da Sé. De Porta a Porta. Porto Vivo SRU, Sociedade de
Reabilitação Urbana da Baixa Portuense, S.A., 2ª edição. [s.d.]
DUARTE, Luís Miguel – “Quando as casas se queriam pequenas (Espaço e Medidas na
Idade Média)”. Arquitectando espaços: da natureza à metapolis. Porto: Faculdade de
Letras. Departamento de Ciências e Técnicas do Património, 2003. (p.183-192)
FERREIRA, Maria da Conceição Falcão – “Construção corrente em Santarém, no
século XV: Alguns exemplos” in Estudos em homenagem a João Francisco Marques /
coord. Luís A. de Oliveira Ramos, Jorge Martins Ribeiro, Amélia Polónia. Porto:
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001. (p.459-473)
FERREIRA, Maria da Conceição Falcão – Guimarães: duas vilas, um só povo. Estudo
de história urbana (1250-1389). Braga: Co-edição do CITCEM e da Universidade do
Minho (ICS), 2010.
124
FERREIRA, Sérgio Carlos – “Salários e níveis de vida dos construtores em Portugal na
Baixa Idade Média”. in História da Construção: Os Construtores. Porto: CITCEM e
LAMOP, 2012. (p.205-227)
FIGUEIRA, Luís Mota – Manual para a Elaboração de Roteiros de Turismo Cutural.
Tomar: Instituto Politécnico de Tomar, 2013.
FREITAS, Eugénio Andrea da Cunha – Toponímia Portuense. Matosinhos:
Contemporânea, 1999.
GOMES, Rita Costa – A Guarda Medieval. Posição, Morfologia e Sociedade (12001500). Cadernos da Revista de História Económica e Social, nº 9-10. Lisboa: Câmara
Municipal da Guarda, Livraria Sá da Costa Editora, 1987.
Henrique o Navegador. Catálogo da Exposição Comemorativa do 6º Centenário do
Nascimento do Infante D. Henrique. (4 de Março a 4 de Setembro de 1994). Porto:
Fundação Eng. António de Almeida, 1994.
LENCASTRE, Francisco Salles de – Estudo sobre as portagens e as alfândegas em
Portugal (séculos XII-XVI). Lisboa: Imprensa Nacional,1981.
LOZA, Rui Ramos (coord. projecto); REAL, Manuel Luís (coord. científica) – Porto a
Património Mundial. Processo de candidatura da Cidade do Porto à classificação pela
UNESCO como Património da Humanidade. Porto: Câmara Municipal do Porto, 1993.
MARQUES, A. H. de Oliveira – “Introdução à História da Cidade Medieval
Portuguesa” in Bracara Augusta, Revista Cultural da Câmara Municipal de Braga. vol.
XXXV, ano de 1981 (Janeiro – Dezembro), nº 79-80 (92-93), 1981.
MARQUES, A. H. de Oliveira – “A Casa” in Sociedade Medieval Portuguesa. Aspectos
da vida quotidiana. 6ª edição. Lisboa: A Esfera do Livros, 2010 (p.89-113)
MARQUES, José – “Património Régio na Cidade do Porto e seu termo nos finais do
século XV. Subsídios para o seu estudo” in Separata da Revista de História, vol.III.
Porto: Faculdade de Letras, 1982. (p.73-97)
125
MELO, Arnaldo de Sousa (coord); RIBEIRO, Maria do Carmo – “Os Construtores das
Cidades: Braga e Porto (séculos XIV a XVI)” in História da Construção: Os
Construtores. Porto: CITCEM e LAMOP, 2012. (p.99-123)
MELO, Arnaldo de Sousa (coord); RIBEIRO, Maria do Carmo – “Os Materiais
empregues nas construções urbanas medievais. Contributo preliminar para o estudo da
região do Entre Douro e Minho” in História da Construção: Os Materiais. Porto:
CITCEM e LAMOP, 2012. (p.127-162).
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de – “Sistemas de construção com madeira e materiais
leves. Um tipo de Fachwerk em Portugal” in Trabalhos de Antropologia e Etnologia.
Porto: Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia e Centro de Estudos de
Etnologia Peninsular. Vol. XVIII, fasc. 3-4 (Nova série da Sociedade e do Centro)
Instituto de Antropologia – Faculdade de Ciências (1961-62) (p. 347-353)
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando – Casas do Porto in “Douro
Litoral, Boletim da Comissão de Etnografia e História.” Dir. de Augusto César Pires de
Lima, 8ª série, VII-VIII. Porto: Edição da Junta de Província, 1958 (p.637-687)
OSÓRIO, Maria Isabel de Noronha Azaredo Pinto – Cidade, plano e território.
Urbanização do plano intra-muros do Porto (séculos XIII- 1ª metade XIV). Dissertação
de Mestrado em Arqueologia, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do
Porto. Vol. I e II, 1994.
OSÓRIO, Maria Isabel de Noronha Azeredo Pinto (coord) – O Porto das Mil Idades.
Arquelogia na Cidade. Porto: Câmara Municipal do Porto. Divisão de Museus e
Património Histórico e Artístico. Gabinete de Arqueologia Urbana, 1993.
PASSOS, Carlos de – Guia Histórica e Artística do Porto. Casa Editora de A.
Figueirinhas, Lda: Porto, 1935.
PEREIRA, João Cordeiro – Para a História das Alfândegas em Portugal no início do
século XVI (Vila do Conde – organização e movimento). Lisboa: Universidade Nova de
Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1983.
Porto Património Mundial. CRUARB, 25 anos de Reabilitação Urbana. Porto: Edição
da Câmara Municipal do Porto, 2000, 1ª edição.
126
REAL, Manuel Luís – “A construção Medieval no sítio da Sé”. Monumentos. Revista
Semestral de Edifícios e Monumentos Nacionais. vol. 14, Março de 2001 (p. 8-19)
REAL, Manuel Luís – “Escavações Arqueológicas no Morro da Sé” in Separata do
Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, 2º Série – vol. 3/4, 1985-86.
REAL, Manuel Luís; REIMÃO, Rute – “As Origens da produção de Faiança na cidade
do Porto” in Olaria. Estudos Arqueológicos, Históricos e Etnológicos. Dezembro de
1996. (p. 79-85)
REAL, Manuel Luís; TAVARES, Rui – "Bases para a compreensão do
desenvolvimento urbanístico do Porto", in “A Cidade em Portugal: onde se vive”, Povos
e Culturas, nº 2. Universidade Católica Portuguesa. Lisboa, 1987.
RIBEIRO, Maria do Carmo (coord); MELO, Arnaldo de Sousa – “A influência das
actividades económicas na organização da cidade medieval portuguesa” in Evolução da
Paisagem Urbana. Sociedade de Economia. Porto: CITCEM e LAMOP, 2012. (p.159163)
RIBEIRO, Mª do Carmo, MELO, Arnaldo Sousa – [Em linha] “A materialização dos
poderes no espaço urbano como expressão da memória e identidade urbana medieval”
in
Medievalista,
nº
12,
Julho
-
Dezembro
2012.
Disponível
em:
http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA12/melo_ribeiro1207.html
RODRIGO ESTEVAN, Maria Luz – “La Vivenda Urbana Bajomedieval: Arquitecturas,
Conflitos Vecinales y Mercado Imobiliario (Daroca, Siglo XV)” in STVDIVM. Revista
de Humanidades, 11 (2005) pp. 39-74
ROLAND, Bechmann – Villard de Honnecourt : la pensée technique au XIIIe siècle et
sa communication. Paris: Picard, 1991.
ROSSA, Walter – A Urbe e o Traço. Uma década de estudos sobre o urbanismo
português. Coimbra: Livraria Almedina, 2002.
ROSSI, ALDO – A Arquitectura da Cidade. Lisboa: Edições Cosmos, 1977.
127
SANTOS, Mª Helena Pizarro Paula – A Rua Nova do Porto (1395-1520): Sociedade,
Construção e Urbanismo. Dissertação de Mestrado em História Medieval e do
Renascimento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2010.
SILVA, Ângela Carina Areias da - Entre Propriedades e Casas Perfeitas: Um estudo
da casa corrente na Guimarães dos finais da Idade Média. Dissertação de Mestrado em
História da Arte Portuguesa apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, 2011.
SILVA, António Manuel S. P. – “As muralhas romanas do Porto: um balanço
arqueológico” in Portugália – Nova Série, vol. 31-32 (2010/2011), (p. 43-64).
SILVA, Jorge Henrique Pais da; CALADO, Margarida – Dicionário de termos de Arte
e Arquitectura. Lisboa: Editorial Presença, 2005.
SILVA, Mª João Oliveira e – “A Viela dos Cónegos: O espaço e os Homens de uma rua
do Porto” in Lusitania Sacra, Revista de Estudos de História Religiosa. Universidade
Católica Portuguesa. Clérigos e Religiosos na Sociedade Medieval, 2ª série, Tomo
XVII, 2005. (p.96-116)
SOUSA, Fernando de (coord.); FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. (coord) – Os
Paços do Concelho do Porto. Porto: CEPESE – Centro de Estudos da População,
Economia e Sociedade, 2012.
TEIXEIRA, Manuel C.; VALLA, Margarida – O Urbanismo Português, séculos XIIIXVIII. Portugal – Brasil. Lisboa: Livros Horizonte, 1999.
TEIXEIRA, Helena Lopes – Porto, 1114-1518. A construção da cidade medieval.
Dissertação de Mestrado em História Medieval e do Renascimento apresentada à
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2010.
TRINDADE, Luísa – A casa corrente em Coimbra dos finais da Idade Média aos
inícios da Época Moderna. Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra, 2002.
TRINDADE, Luísa – “Casas da Câmara ou Paços do Concelho: Espaços e Poder na
Cidade Tardo-Medieval Portuguesa” in Evolução da Paisagem Urbana. Sociedade e
128
Economia. (coord. Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo) Braga: CITCEM,
2012. (p. 209-227)
VIEIRA, João (coord. de); LACERDA, Manuel (coord. de) – Património
Arquitectónico – Geral: KIT01, versão 2.0, documento definitivo. Colecção KITS –
Património, IHRU/IGESPAR 2010.
VITORINO, Pedro – “Notas de Arqueologia Portuense, suplemento ao Vol. III dos
Documentos e Memórias para a História do Porto.” (2ª edição) Documentos e Memórias
para a História da Cidade do Porto – XXVIII. Porto: Publicações da Câmara Municipal
do Porto. Gabinete de História Urbana da Cidade, 1958.
Recursos online
Arquivo Municipal do Porto: http://gisaweb.cm-porto.pt/
Arquivo Nacional da Torre do Tombo – DGLAB: http://antt.dglab.gov.pt/
Carta Internacional para a Conservação e Restauro de Monumentos, Veneza, 25 a 31
de
Maio
de
1964.
[Consulta
on-line,
disponível
em:
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf]
Carta sobre o Património Construído Vernáculo, Cidade do México, 17 a 23 de
Outubro
de
1999.
[Consulta
on-line,
disponível
em:
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/media/uploads/cc/cartasobrepatrimoniovernaculo
1999.pdf]
Centro Histórico do Porto. Património Mundial (a cidade medieval):
http://www.portopatrimoniomundial.com/a-cidade-medieval.html
Google Maps: https://www.google.pt/maps
MatrizNet - DGPC: http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Home.aspx
Património Cultural: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/
Portal do Arqueólogo – DGPC:
http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/index.php?sid=home
129
Sistema de Informação para o Património Arquitectónico: http://www.monumentos.pt
130
Apêndices
I - Termos construtivos de arquitectura medieval: algumas definições208
Açoteira – Cobertura; espécie de abóbada mais comum nas construções das cidades do
Vale do Tejo.
Adobe – Barro cru amassado com palha e areia, em formato de paralelepípedo, que seca
ao sol e ao ar; para construção de paredes.
Aduela – Lanço ou fiada interior das pedras, por exemplo de um arco.
Adufa – Balcão de madeira em forma de caixa, que se lança sobre a rua.
Aljube – Construção sem abertura para o exterior. Também sinónimo de prisão, de
espaço de encarceramento.
Ameias – Aberturas entre merlões.
Argamassa – Cal, água e areia; material para assentamento e revestimento de
alvenarias.
Alvenaria – Construção de estruturas e paredes utilizando unidades unidas entre si por
argamassa; unidades essas que podem ser de blocos de cerâmica e/ou pedra.
Alvenaria miúda – Fragmentos de tijolo, olaria, pedras pequenas e argamassa; usado
como enchimento.
Caibral – Prego grande, para pregar toros grossos.
Casa (com um piso único com duas divisões) – Habitação com um piso dividido entre
“casa dianteira” e “casa de dentro”/”câmara”/”celeiro”.
208
Os termos e definições que aqui se apresentam resultam da adaptação de significados encontrados na
bibliografia utilizada, nomeadamente do Dicionário de Arqueologia Portuguesa, do Dicionário de
Termos de Arte e Arquitectura, e de outros encontrados nos trabalhos de Sílvio Conde, pretendendo ser
apenas um simples meio de compreensão de termos técnicos utilizados no trabalho final. Para uma
compreensão mais exaustiva sobre esta matéria, consultar, por exemplo, a obra de Eugène Viollet-le-Duc,
Dictionnaire raisonné de l’architecture française du XI e au XVIe siècle, Édition BANCE — MOREL de
1854 à 1868. Disponível em:
https://fr.wikisource.org/wiki/Dictionnaire_raisonn%C3%A9_de_l%E2%80%99architecture_fran%C3%
A7aise_du_XIe_au_XVIe_si%C3%A8cle.
131
Casa (com dois pisos e duas divisões) – Habitação com “casa térrea” ou “loja” e um
sobrado.
Casa (com dois ou mais pisos e duas ou mais divisões) – Fusão de tipologias
habitacionais anteriores; habitação mais comum em construções urbanas, de maiores
dimensões.
Casa sobrada – Habitação com um ou mais acrescentos superiores ao piso térreo.
Casa sobrada sobre arcos ou Casa armada sobre arcos – Habitação com piso
superior ressaltado, que necessita de apoio ao nível do rés-do-chão para o suportar;
utilização de suportes pétreos ou de madeira (arcos); o mesmo que: “Casa de Arcadas”
ou “Casa Alpendrada”.
Casa térrea – Habitação de um só piso e uma só divisão.
Eirado – Espécie de terraço; remate de casas; alternativa a telhados de águas.
Fachwerk – Revestimento por sectores, construído em madeira e materiais leves;
parede composta por barrotes verticais, horizontais e oblíquos, formando uma armação
com padrões geométricos, cujos vazios se preenchem com tijolos ou outros materiais
semelhantes. Técnica mais comum na Alemanha e países ao redor do Danúbio.
Forro – Revestimento para isolamento térmico/acústico; composto por canas, cortiça ou
madeiras (castanho e /ou pinho).
Frontal – Estrutura de vigas de madeira, formando uma armação flexível, com
enchimento em alvenaria miúda.
Gonzo – Saliência nas últimas pedras do pé direito ou saiméis, com cavidades para o
encaixe dos pivôs das portas; para movimentação de portas.
Lintel – Peça geralmente em madeira ou pedra, colocada horizontalmente sobre as
ombreiras de portas ou janelas.
Loja – Piso térreo de uma habitação que serve para armazenamento ou para apoio às
actividades agrícolas e/ou comerciais.
Merlões – Saliência, parte de muro entre ameias. Na arquitectura civil são utilizados
como remates de edifícios, mais comum em casas-torre.
132
Olivel – Revestimento vegetal para tectos ou pisos de habitação, em madeiras, cortiça
ou canas.
Palmar – Prego muito grande, do tamanho de um palmo.
Pontal – Prego de secção quadrada, para pregar ferragem a madeira.
Quintal – Segmento não construído do lote onde se encontrava a habitação; espaço que
dilatava para as traseiras o espaço doméstico; eventual reserva para prolongamento da
construção inicial.
Ressalto – Piso superior de uma habitação que ultrapassa (para a rua) as dimensões do
piso térreo; por vezes podendo fazer-se a ligação com a casa de frente (quando o
proprietário fosse o mesmo) formava-se um passadiço entre as habitações, acima do
nível da rua (mais comum em Lisboa do séc.XIV); o mesmo que sobrado ladroum.
Revato – Limiar de porta; degrau para combater as infiltrações pluviais; por vezes
também assento para o proprietário da casa.
Ripado – Gradeamento de tiras de madeira longas e estreitas (ripas); estrutura utilizada
nos telhados.
Sotano – Na Idade Média designa uma cave, normalmente com acesso directo à rua, ou
um rés-do-chão de casa, onde poderia existir um espaço para comercio (o mesmo que
loja).
Taipa – Junção de terra crua comprimida, com cofragem de madeira; para construção
de paredes e divisórias.
Tabique – Parede feita de tábuas grosseiras, não ultrapassando os 3cm de largura,
dispostas ao alto, pregadas nas extremidades aos barrotes do soalho. Técnica comum
para revestimentos de sobrados salientes.
Telha Vã – Telha assente directamente no ripado, sem argamassa.
Tardoz – Parte do edifício que se opõe ao lado ou à fachada do lado da rua/ fachada
principal. Parede traseira.
133
II - Índice dos exemplos estudados de arquitectura civil medieval na cidade do
Porto: tabelas de trabalho209
Nº
1.
Nome
Definição
Cronologia
N.P.
Localização actual
Acesso
Observações
Ref. Documentais
Casa do Beco dos
Redemoinhos.
- construção
provável da 1ª
metade do séc.
XIV, com
influência
flamenga.
- Beco dos
Redemoinhos,
antigo largo que foi
suprimido pela nova
cabeceira moderna
da Sé.
- Em ruína/sem
utilização.
- dois arcos
fechados em muro
- Rua de D. Hugo.
- lote vazio
actualmente, com
pano murário de
fachada apenas,
caiado.
- tipologia habitacional.
- duas mísulas de cunho
oblíquo que ladeiam o 1º
nível da fachada, tendo
uma delas pelo menos,
representação de face
humana.
- possível fecho de um
vão de iluminação ou
entrada ao nível do résdo-chão, do lado direito
da fachada.
- portal de entrada
elevado.
- acrescentos modernos:
janela central do 2º nível
da fachada e janela que
ladeia o portal de entrada.
- elemento remanescente.
- possivelmente lote de
casa, e vãos seriam de
entrada para esta.
Casa com Arco
Gótico –
Penaventosa
- provavelmente
construção do séc.
XV.
- lote onde se insere
não parece ser
medieval.
- Rua da
Penaventosa, N.P.
40 e 38.
Vista do Beco dos
Redemoinhos210
3.
Vista da Rua de D. Hugo
4.
Vista da Rua da
Penaventosa
- elemento remanescente;
- possível entrada para os
“Açougue do Povo”.
- portal em arco
apontado.
209
A tabela que se apresenta resulta do trabalho de pesquisa in loco, tratando e sistematizando
informações breves recolhidas durante o contacto directo com o objecto de estudo, percorrendo as ruas da
cidade do Porto. Estes primeiros apontamentos são devidamente aprofundados e organizados no Capítulo
III deste trabalho.
210
Todos os desenhos/vistas aqui apresentados são da nossa autoria.
134
5.
Vista do interior do lote
6.
- interior de lote
com duas camadas
de pano murário
medieval.
- possivelmente,
parte de muralha
primitiva visível
aqui.
Torre da Rolaçãm,
antiga Casa da
Câmara do Porto.
- construída no séc.
XV, junto à
muralha primitiva.
Vista da Rua de S.
Sebastião
7.
Casa em lote
aparentemente
medieval – Rua
Escura.
- Rua da
Penaventosa,
N.P.73 e 73 A.
- elementos
remanescentes;
- dois níveis de pano
murário visível: do résdo-chão e outro
parcialmente soterrado,
possivelmente pano de
muralha primitiva.
- escavações no
quarteirão da bainharia
referem este lote e o
lateral direito.
- possível construção de
casas sobre a muralha,
nesta zona.
- junto à Sé do
- tipologia administrativa.
Porto, num nível
- em ruína consolidada,
abaixo, Rua de S.
com projecto de 2002 de
Sebastião.
Fernando Távora.
reaproveita o espaço para
construção de uma torre
contemporânea.
- edifício com sucessivas
reconstruções;
- existência de uma loja
ao nível do rés-do-chão
durante o período
medieval;
- referida nas Vereações.
- Rua Escura,
- tipologia habitacional.
N.P.20 e 22.
- suporte para sobrado do
- fachada em ruína e lado esquerdo da fachada.
entaipada.
Vista da Rua Escura
8.
Vista da Calçada de Pedro
Pitões
Casa-Torre de
Pedro Pitões.
- descoberta nos
trabalhos de
demolição do
Terreiro da Sé e
reconstruída
totalmente nos anos
40 do séc. XX.
- deslocação do
local primitivo,
cerca de 15 metros.
- Calçada de Pedro - tipologia habitacional.
Pitões, N.P. 15.
- carácter revivalista.
- Atualmente sede
do Posto de
Turismo da cidade
(até 1960
funcionava neste
espaço o Gabinete
de História da
Cidade).
135
9.
Casa em lote
medieval e sobre
pano murário
visível – Rua dos
Pelames.
- Cruzamento entre
a Rua dos Pelames
a Travessa do
Souto, N.P. 55.
- casa habitada.
- tipologia habitacional.
- casa em lote medieval,
com base assente em
pano murário visível e
pisos superiores em taipa.
- vão de entrada
rectangular.
Casa em lote
medieval com vãos
em chanfro – Rua
do Souto.
- Rua do Souto,
N.P. 15 e 17 e N.P.
11 e 13
- casas habitadas.
- tipologia habitacional.
- dois lotes medievais
com dois vãos de entrada
cada um, em chanfre.
- pisos superiores em
taipa.
Casa com pano
murário visível I –
Rua do Souto.
- Rua do Souto,
N.P.16 e 18.
- tipologia habitacional.
- vestígio de pano
murário visível na
fachada, em lote
medieval.
Casa com pano
murário visível II –
Rua do Souto.
- Rua do Souto,
N.P.23 e 25.
- casa habitada.
- tipologia habitacional.
- vestígio pano murário
visível na fachada, em
lote medieval.
- lote entaipado.
Vista do cruzamento entre
a Rua dos Pelames e a
Travessa do Souto
10.
Vista da Rua do Souto
11.
Vista da Rua do Souto
12.
Vista da Rua do Souto
136
13.
Casa da Rua de
Santana.
- Rua de Santana,
N.P. 47.
- casa habitada.
- tipologia habitacional.
- casa com várias
camadas de pano murário
visível.
- dois pisos superiores em
taipa, desnivelados.
- portal recortado,
possivelmente
quinhentista, apenas com
metade visível.
- dois vestígios com - Rua de Santana,
motivos decorativos N.P. 33 e 35
embutidos numa
parede de casa.
- elementos
remanescentes.
- vestígios possivelmente
deslocados.
- colocados na parede
dacasa anterior mas com
um diferente número de
porta.
- elemento remanescente,
inserido em casa;
- relação com a porta de
muralha românica.
Vista da Rua de Santana
14.
Casa nº 33 e 35, Rua de
Santana
15.
- pano murário de
casa onde se
inscreve o Oratório
de Santana.
- Rua de Santana,
N.P. 37 e 39
Conjunto de casas
seguidas que
partilham os
mesmos vestígios
de suporte – Rua da
Bainharia.
- Rua da
Bainharia, N.P. 50
e 51, 44 e 42, 40 e
38.
- casas habitadas.
- tipologia habitacional.
- casas em lotes
aparentemente medievais
com elementos de suporte
em pedra, entre elas.
Lote com vãos de
entrada – Rua dos
Mercadores
- Rua dos
Mercadores, N.P.
184 e 186.
- lote entaipado.
- tipologia habitacional.
-dois vãos de entrada com
moldura possivelmente
quinhentista.
- semelhança com o
portal de entrada da casa
com o N.P. 62 e 64 da
Rua de S. Bento da
Vitória.
Vista da Rua de Santana
16.
Vista da Rua da Bainharia
17.
Vista da Rua dos
Mercadores
137
18.
Casa com pano
murário visível –
Rua dos
Mercadores.
- Rua dos
Mercadores, N.P.
162 e 164.
- casa habitada.
- tipologia habitacional.
- casa em lote
aparentemente medieval,
com pano murário visível
do lado direito da
fachada.
- pisos superiores ao résdo-chão em taipa.
Casa-torre com
vãos de entrada e
pano murário
visível – Rua dos
Mercadores.
- Rua dos
Mercadores, N.P.
156 a 158.
- tipologia habitacional.
- casa-torre actualmente
em obras de recuperação.
- existência de um pedido
de licença de obras no
A.H.M.P.
Torre da Reboleira
nº1 (Pedro Sem)
- provável
construção do séc.
XIV.
- estrutura
praticamente intacta
mas fachada
voltada para a Rua
da Reboleira
bastante modificada
no período
moderno.
Torre da Reboleira
nº2 (Lobo da
Reboleira)
- construção inicial
provavelmente do
séc. XIV ou XV
mas com elementos
do século XVI e
reconstruções de
períodos seguintes.
- cruzamento da
Rua do Outeirinho
com a Rua da
Reboleira, N.P.59.
- actual edifício da
Associação Social e
Cultural de S.
Nicolau.
- tipologia habitacional.
- torre em granito
rematada com merlões.
- vestígios medievais
mais presentes na fachada
voltada à Rua do
Outeirinho (vãos de
iluminação e pano
murário).
- Cruzamento da
Rua do Outeirinho
com a Rua da
Reboleira, N.P.55.
- edifício fechado,
aparentemente sem
utilização.
- tipologia habitacional.
- arcos góticos ao nível
do rés-do-chão, mas
níveis superiores e remate
do edifício com merlões,
provavelmente do séc.
XVII.
Torre da Rua de
Baixo (Torre do
Barredo)
- construção inicial
provavelmente do
- cruzamento entre a
Rua de Baixo e a
Viela do Buraco,
N.P.5.
- propriedade
- tipologia habitacional.
- edifício com cinco pisos
e fachadas para ambas as
ruas;
- portal de acesso
Vista da Rua dos
Mercadores
19.
Vista da Rua dos
Mercadores
20.
Vista da Rua do
Outeirinho
21.
Vista da Rua da Reboleira
22.
138
séc. XIII.
privada.
elevado, voltado para a
Rua de Baixo.
- possível acrescento de
duas mísulas no 3º piso
voltado para a Viela do
Buraco.
Casa com pano
murário visível e
apoio pétreo para
sobrado – Rua da
Fonte Taurina.
- Rua da Fonte
Taurina, N.P. 18
- lote entre a Rua da
Fonte Taurina e o
Postigo do Carvão.
Casa com suporte
pétreo e arco – Rua
da Fonte Taurina.
- Passeio do Cais da
Ribeira (entrada),
N.P. 44B. (voltada
para a Rua da
Fonte Taurina)
- tipologia habitacional.
- pano murário visível
que ladeia a fachada
voltada para a Rua da
Fonte Taurina.
- suporte para sobrado em
pedra que dá a volta o
lote (do lado voltado para
o Postigo do Carvão,
possível rearranjo das
pedras).
- 3 pisos superiores ao
rés-do-chão em taipa.
- tipologia habitacional.
- casa com suporte pétreo
ao nível do 2º piso, nas
laterais da fachada
voltada para o Postigo do
Carvão.
- vão de entrada em arco
de volta perfeita, junto ao
Postigo do Carvão.
Casa com pano
murário visível –
voltada para a Rua
da Lada.
- Travessa do
Barredo (entrada),
N.P.2. (voltada
para a Rua da
Lada)
- casa habitada e
com negócio no résdo-chão.
- tipologia habitacional.
- casa com pano murário
visível do lado esquerdo
da fachada.
- cachorros sob as janelas
do 1º piso.
- 2º e 3º pisos em taipa.
- conjunto de lotes
com interesse
(Hotel Carris)
- aparelho murário à
vista.
- Cruzamento da
Rua do Infante D.
Henrique com a
Rua de S. João,
N.P.1
- tipologia habitacional.
- existência de relatórios
de escavação nesta
mesma área (espaço
actualmente sede de um
Vista da Rua de Baixo
23.
Vista da Rua da Fonte
Taurina
24.
Vista da Rua da Fonte
Taurina
25.
Vista da Rua da Lada
26.
139
- arcaria.
- lajeado.
Vista do interior do Hotel
Carris
27.
Arco gótico e pano
murário no interior
de dois lotes,
descobertos em
trabalhos
arqueológicos de
sondagem e
acompanhamento.
- Cruzamento da
Rua de S. João,
Mercadores e
Clube Fluvial
Portuense, N.P.15.
28.
Antiga Bolsa dos
Comerciantes.
- séc. XV ( espaço
cedido aos
mercadores da
cidade em 1402
pelo Rei D. João I)
- Rua Infante D.
Henrique, N.P. 47
a 53.
- actualmente loja
de "souvenirs".
Casa do Infante/
Armazém Régio/
Casa da Moeda
(complexo de
edifícios)
- 1325: D. Afonso
IV manda construir
o armazém régio.
- 1369: início do
funcionamento da
Casa da Moeda.
- Rua da
Alfândega, N.P.10.
- actualmente sede
de diversos serviços
da cidade do Porto:
Museu, Arquivo
Histórico,
Biblioteca de
Assuntos
Portuenses, Sala da
Memória, Sala de
Espectáculos e
Auditório.
Escola das Escadas
do Recanto
- Cruzamento das
Escadas do Recanto
com a Calçada do
Parede interior do edifício.
29.
Vista da Rua da Alfândega
30.
estabelecimento
hoteleiro);
- fundações de uma casatorre encontrada num lote
do Beco do Forno Velho,
que actualmente faz parte
do estabelecimento
hoteleiro.
- descoberta de um vão
de entrada em arco
apontado e de pano
murário com pelo menos
uma marca de pedreiro,
datavéis de finais da
Idade Média
- a entrada para estes
vestígios faz-se através
do N.P. 15 da Rua do
Clube Fluvial Portuense,
anteriormente entaipada.
- possível relação com a
casa-torre de João
Martins Ferreira (?).
- tipologia administrativa
- pano murário visível no
interior do lote.
- várias marcas de
pedreiro.
- abertura posterior de
uma ligação subterrânea à
Casa da Moeda.
- tipologia habitacional e
administrativa.
- escavação de 1991 neste
espaço revelou vestígios
de ocupação romana, séc.
IV e V.
- edifício primitivo
possivelmente com duas
torres desniveladas com
um pátio ao meio.
- janela gótica da torre
norte, visível e voltada
para o que é agora o
interior do banco BPI na
Rua Infante D. Henrique.
- MN em 1924.
- tipologia habitacional.
- actualmente edifício
escolar de S. Nicolau,
140
Forno Velho,
voltada para a Rua
Nova da
Alfândega, s/n
31.
Vista da fachada voltada
para o pátio interior
Casa da Rua Chã
- provavelmente do
séc. XV.
- Rua Chã, N.P. 87
e 89.
- casa no interior de
dois lotes
(possivelmente de
alinhamento
medieval) com
edificação
contemporânea.
- casa mais recuada
face à actual
localização da Rua
Chã e parcialmente
pertencente ao
Agrupamento de Escolas
Rodrigues de Freitas.
- duas fachadas
principais, uma voltada
para a Calçada do Forno
Velho e outra para a Rua
Nova da Alfândega.
- fachada do Forno
Velho: um vão de entrada
em arco apontado + três
vãos de iluminação.
Fachada da Rua Nova da
Alfândega: dois vãos de
entrada, um em arco
apontado semelhante ao
da outra fachada, e outro
com padieira tripartida +
três níveis de vãos de
iluminação (2+2+1)
- janelas do 2º piso da
fachada voltada para a
Rua Nova da Alfândega
apresentam “remendos” e
possível cunho
quinhentista.
- 3º piso desta fachada
com material trabalhado
de forma ligeiramente
diferente, possível
acrescento?
- edifício com as duas
fachadas anteriores em
cantaria de granito
exposto, e a voltada para
as Escadas do Recanto
com granito pintado.
- tipologia habitacional.
- edifício de dois pisos
visíveis.
- fachada principal da
casa parece ser a voltada
para o pátio interior e não
a voltada para a Rua Chã
(recuada).
- fachada voltada para o
pátio interior com portal
em arco apontado
ladeado por uma janela
“namoradeira”, ao nível
141
soterrada.
- edifício junto a um
conjunto de ilhas
distribuídas em
redor de um pátio
interior.
- actualmente em
obras e escavações
para posteriormente
ser sede de um
projecto hoteleiro.
32.
Casa com pano
murário visível –
Rua dos
Caldeireiros.
- Rua dos
Caldeireiros, N.P.
69 e 71.
- casa habitada.
do actual rés-do-chão. Ao
nível do 1º piso a fachada
apresenta, ao centro um
vão de iluminação com
varanda.
- no interior do 1º piso
existência de um
“armário embutido” e de
o que poderá ser parte de
um forno.
- numa das paredes
interiores voltada para a
actual Rua Chã, existe
ainda um possível frontal,
não datado.
- tipologia habitacional.
- pano murário visível na
fachada (coberto com
tinta), em lote medieval.
Casa em lote
medieval com pisos
em ressalto – Rua
dos Caldeireiros.
- Rua dos
Caldeireiros, N.P.
250 e 252.
- casa habitada.
- tipologia habitacional.
- casa em lote medieval
com três pisos ressaltados
em taipa.
Casa com pórtico
colunado – Rua de
S. Bento da Vitória.
- Rua de S. Bento
da Vitória, N.P.68
e 66.
- casa habitada.
- tipologia habitacional.
- casa com rés-do-chão
em pedra com dois pisos
superiores em taipa.
- pórtico colunado na
fachada e pano murário
visível na lateral esquerda
da fachada.
- possíveis elementos
quinhentistas.
Vista da Rua dos
Caldeireiros
33.
Vista do cruzamento entre
a Rua dos Caldeireiros e a
Rua de S. Bento da Vitória
34.
Vista da Rua de S. Bento
da Vitória
142
35.
Casa com pórtico e
pano murário
visível – Rua de S.
Bento da Vitória.
- Rua de S. Bento
da Vitória, N.P. 62
e 64.
- casa habitada.
- tipologia habitacional.
- vão de entrada ao nível
do rés-do-chão recortado
e pano murário visível do
lado direito da fachada.
- possíveis elementos
quinhentistas.
Casa com pano
murário visível a
ladear a fachada –
Rua de S. Bento da
Vitória.
Rua de S. Bento da
Vitória, N.P.48 e
52.
- casa habitada.
- tipologia habitacional.
- suportes em pedra, ao
nível do 1º piso, que
ladeiam a fachada da
casa.
- possíveis elementos
quinhentistas.
Casa com suportes
pétreos a ladear a
fachada – Rua de
Belomonte.
- Rua da
Belomonte, N.P. 90
e 92.
- casa habitada.
- tipologia habitacional.
- casa com suportes
pétreos a ladear a
fachada, ao nível do 2º e
3º pisos.
- cachorros a rematar e
ladear o 3º piso.
- pisos superiores ao résdo-chão salientes e em
taipa.
Casa-torre de Pedro
Sem (Palácio dos
Terenas)
- Início da
construção no Séc.
XIV, por Pedro
Sem, nobre e
chanceler-mor de
Afonso IV.
- cruzamento entre a
Rua da Boa Nova e
a Rua de D. Manuel
II (em frente ao
Palácio de Cristal).
- tipologia habitacional,
em contexto rural,
associado a uma quinta.
- casa-torre com ameias,
cachorros que cobrem
todo o seu pano murário.
- MN em 1910.
Vista da Rua de S. Bento
da Vitória
36.
Vista da Rua de S. Bento
da Vitória
37.
Vista da Rua de
Belomonte
38.
Vista da Rua da Boa Nova
143
III - Índice dos relatórios de trabalhos arqueológicos consultados na instituição de
acolhimento com informações pertinentes para este trabalho211
Relatório
Relatório de
Progresso:
Quarteirão da
Bainharia, Sé.
BAI.09. Porto2009
(Arqueologia e
Património)
Ter em conta:
Relatório não
final, com
escavações
ainda em curso
aquando da sua
escrita.
Motivo
Construção de
uma residência
de estudantes e
espaços
comerciais no
quarteirão da
Bainharia.
Trabalhos
Ruas/Zona
Resultados/Obs.
Sondagens
arqueológicas,
acompanhament
o arqueológico
de obra e registo
tipológico do
edificado.
S. Sebastião,
Pena
Ventosa,
Bainharia e
Rua Escura.
- Sondagem1, Parcela
36 da Rua de S.
Sebastião:
“…existência de
muralha românica
no alinhamento das
paredes traseiras dos
edifícios virados à
Rua de S. Sebastião e
Pena Ventosa.”
- Sondagem 5,
Parcela36:
“localizada num dos
maiores
compartimentos do
aljube…”, “dois vãos
entaipados nas
paredes NO e NE do
edifício” – janelas;
- Sondagem 18,
Parcela 1 da Rua da
Bainharia:
“…estrutura (…)
mais antiga, em pedra
granítica e argamassa
alaranjada, bastante
compacta, que apesar
de se encontrar ao
nível dos alicerces,
permite a leitura de
alguns silhares bem
faceados, remetendoos para cronologias da
época medieval.”
- Referência ao lote
com NP 73 e 73A:
211
A tabela que se apresenta baseia-se na leitura e análise próprias, das versões policopiadas dos relatórios
de trabalhos arqueológicos acedidos na instituição de acolhimento. Dos vários relatórios que foram lidos,
apenas referimos os que apresentaram um maior número de informação pertinente para o nosso trabalho,
quer pela tipologia (arquitectura civil medieval), quer pela localização (centro histórico). Saliente-se que
nem todos os relatórios referidos nesta tabela apresentam resultados finais (por não terem sido ainda
realizados ou por nos ter sido impossível analisa-los, até à data da escrita deste trabalho), sendo que
alguns apenas referem considerações preliminares, carecendo de confirmação final.
144
Relatório das
Sondagens de
Avaliação
Arqueológica na
Rua de Santana,
25, Porto.
SNT25.97/SNT2
5.99. António
Manuel S. P.
Silva, Manuela
C. S. Ribeiro,
Sandra C. P.
Barbosa.
Direcção
Municipal de
Cultura,
Gabinete de
Arqueologia
Urbana, Porto,
2006.
Intervenção
Arqueológica.
Imóveis sitos na
Rua Infante D.
Henrique, nº115 e na Rua de
S. João, nº1-39.
INF09-09.
Estudo
Histórico e
Relatório
Preliminar das
Sondagens de
Avaliação.
Gabriel Rocha
Intervenção
arqueológica no
âmbito do
programa de
reabilitação
arquitectónica
de imóveis
degradados da
Zona Histórica
do Porto.
Intervenção e
sondagem
arqueológica.
Rua de
Santana, Nº
25
Reabilitação de
um conjunto de
imóveis situados
entre a Rua do
Infante D.
Henrique e a
Rua de S. João.
Pré-avaliação
arqueológica;
Estudo
históricoespacial
preliminar;
Sondagens
arqueológicas.
Rua Infante
D. Henrique
nº 1-15 e Rua
de S. João
nº1-39.
“Zona interior do
povoado castrejo,
posteriormente
romanizado e
sucessivamente
ocupado…; (…)
parcelas encostam-se
ao alinhamento da
muralha e consolidam
volumetrias em
sucessivas ampliações
e transformações”;
fachada do séc. XIX e
interior ainda em
elaboração.
- fragmentos de
cerâmica de várias
épocas;
- troço de muralha
românica;
- 3 fases de resultados:
séc. XX, séc.
XIX/início do XX, e
tardo-romana.
- vestígios ao nível do
rés-do-chão (arcaria
no interior do hotel e
parte do lote ao lado
no Beco do Forno
Velho) poderão ser
dos sécs. XIV/XV;
neste local, há a
informação
documental da
existência em tempos
de casas de “senhores”
e pensa-se que existirá
fundações de uma
casa-torre do séc.
145
Pereira e José
Jorge Arguello
Menéndez.
Porto, 2009.
Relatório de
Progresso dos
trabalhos
arqueológicos
efectuados no
âmbito da
construção do
Hotel Carris,
Porto, Ribeira.
Sofia Alexandra
da Silva
Teixeira, 2010.
Relatório final
das sondagens
de avaliação
arqueológica.
Largo da Pena
Ventosa, 21.
Porto.
PNV21.02.
António Manuel
S. P. Silva,
Sandra Barbosa,
Anabela de Sá,
Susana Borges e
Manuela C. S.
Ribeiro.
UNIACH,
Direcção
Municipal de
Cultura e
Turismo,
Gabinete de
Arqueologia
Urbana, Porto,
2006.
Relatório Final
da Sondagem de
Avaliação
XIV (Vicente
Estevão);
- ocupação do local
sécs. XIV e XV:
habitações construídas
pós-abertura da Rua
Nova; cinco casas
ocupariam este local –
identificação de 4.
- Planta com
estruturas medievais.
- calçada e muro
medieval;
- fundações da torre
medieval;
- Fotografia das
fundações da casatorre.
Construção de
estabelecimento
hoteleiro.
Acompanhamen
to arqueológico
do complexo E,
a oeste da Viela
do Forno Velho,
paralela à Rua
de S. João –
espaço da
cozinha e
restaurante do
Hotel.
Cruzamento
da Rua
Infante D.
Henrique
com a Rua de
S. João.
Reabilitação
arquitectónica
de imóveis.
Intervenção
arqueológica no
imóvel nº 17-21.
Largo da
Pena
Ventosa, Sé.
- vestígios da época
castreja-romana até ao
século XX;
- medieval: estrutura
de fundação/muro;
Reabilitação
arquitectónica
de imóveis.
Intervenção
arqueológica no
imóvel nº25-27
Rua da
Penaventosa,
Sé.
- cerâmica medieval;
- existência de um
nível, de derrube, com
146
Arqueológica,
Rua de
Penaventosa, 27
PVN27.03.
António Manuel
S. P. Silva,
Manuela
Ribeiro, Sandra
Barbosa, Lídia
Lopes e Susana
Guimarães.
Relatório das
Sondagens de
Avaliação
Arqueológica.
Rua dos
Mercadores,
162.
MCR162.03.
António Manuel
S. P. Silva,
Anabela Pereira
de Sá e Susana
Cristina S.
Borges. Câmara
Municipal do
Porto, DMCDMPC-DPC,
Gabinete de
Arqueologia
Urbana. Porto,
2005.
Relatório das
Escavações no
Morro da Sé
(Porto). Manuel
Luís Real,
Mário Jorge
Barroca e Rui
Tavares. Porto,
1984.
“grandes blocos de
pedra que poderão
relacionar-se com a
eventual demolição da
cerca românica para
dar lugar a outras
construções…”.
Reabilitação de
imóveis
degradados no
centro histórico,
Fundação para o
Desenvolviment
o do Centro
Histórico do
Porto.
Avaliação
arqueológica do
subsolo do
imóvel nº 160162.
Rua dos
Mercadores,
S. Nicolau.
Iniciativa do
CRUARB.
Escavações
arqueológicas
no interior da
casa nº5 da Rua
de D. Hugo e no
átrio lateral da
Antiga Casa da
Câmara.
Morro da Sé.
- época tardomedieval:
“alçado sudeste do
imóvel, que
corresponde à face
exterior da parede de
uma casa-torre
vizinha, com
cronologia em torno
do séc. XV. Trata-se
de um muro de
cantaria bem
aparelhada, com
fiadas pseudoisódomas, com
silhares de média e
grande dimensão de
juntas muito
próximas, possuindo
alguns deles entalhes,
para colocação de
traves para
assentamento de
soalhos de madeira.”
- Fotografia da parede
sudeste.
Estruturas Zona 1
(interior da casa
nº5): -ruínas de uma
antiga cocheira da
habitação e chaminé
em tijolo, construída
posteriormente com a
adaptação de uma
pequena unidade
fabril…;
- casa que remonta ao
séc. XVIII mas que
reaproveita estruturas
147
Relatório das
Escavações no
Morro da Sé
(Porto). Manuel
Luís Real.
Porto, 1986.
Relatório Final
de Escavações
Arqueológicas
na Ribeira
(Porto).
Intervenção no
Porto Carlton
Hotel (PCH
96/98).
Armando
Coelho Ferreira
da Silva, Rui
Manuel Sobral
Centeno, Mª
Benedita Coelho
da Silva de
Guinea Barbosa
e João Paulo
Iniciativa do
CRUARB.
Construção de
estabelecimento
hoteleiro.
Escavações
arqueológicas
no interior da
casa nº5 da Rua
de D. Hugo
(continuação)
Intervenções
arqueológicas
nas parcelas
municipais
nº121 a 127 e
243 a 247, entre
a Praça da
Ribeira, Rua da
Fonte Taurina,
Beco do Carvão
e Muro dos
Bacalhoeiros.
Rua de D
Hugo, Morro
da Sé.
Ribeira, S.
Nicolau
anteriores, de finais da
Idade Média; sofre
uma reforma no séc.
XIX, passando a fazer
parte de um conjunto
mais amplo incluindo
o prédio vizinho do
lado sul;
- muro do séc. XV,
reaproveitado em
metade da parede do
lado norte (limite
exterior de uma casa
gótica já desaparecida
– inversão da actual
parede com uma porta
e uma janela
primitivas);
- lajeado do séc. XV;
Estruturas Zona 2
(área de acesso à
porta lateral dos
Antigos Paços do
Concelho):
- cerâmica tardomedieval.
- continuação da
escavação anterior
(1984):
- Planta com o
levantamento geral
das estruturas.
- Planta com as zonas
escavadas.
Estruturas do séc.
XV (sector A, nº243 a
247):
- “dois muros largos
com fiadas de pedra
paralelas que formam
entre si um ângulo
recto”
- lajeado;
- “muro de aparelho
helicoidal sem
argamassa com pedras
picadas”.
- “…edifícios de que
ainda se conservam as
paredes, situados do
148
Coelho da Silva
de Guinea
Barbosa. Porto,
1998.
Relatório dos
Trabalhos de
1995
(CMGJ.95)
Intervenção
Arqueológica na
Casa-Museu
Guerra
Junqueiro
(Porto).
DMPHA, CMP,
GAU. Maria
Isabel Pinto
Osório e
António Manuel
S. P. Silva.
Porto, 1996.
Remodelação
arquitectónica
do edifício.
Intervenção
arqueológica na
Casa-Museu
Guerra
Junqueiro.
Rua de D.
Hugo.
Arqueologia no
Porto.
Sondagem de
Avaliação
Prévia. Rua da
Reboleira,
12/14. S.Nicolau
–Porto
(REB12.07)
Relatório Final.
João Paulo
Avaliação de
potencial
arqueológico do
imóvel a
reabilitar.
Sondagens
arqueológicas
no imóvel
12/14.
Travessa de
S. Nicolau,
freguesia de
S. Nicolau
(fachada
traseira)
lado direito do Beco
do Carvão”.
Estruturas do sector B,
junto ao Postigo do
Carvão):
- soleira primitiva do
postigo e degraus
iniciais de uma escada
de acesso ao pano de
muralha do séc. XIV.
Estruturas do sector C
(Muro dos
Bacalhoeiros):
- cerâmicas medievais.
- Ter em conta: os
trabalhos
arqueológicos
referidos neste
relatório foram
interrompidos sendo
escavadas apenas 2
(plataforma ajardinada
+ mirante em frente a
casa, a sul, e a área
traseira da casa, a
norte) das 4 zonas
iniciais.
- confina com parte
das dependências da
Sé do Porto e com o
beco onde se encontra
a Casa do Beco do
Redemoinho;
- cerâmicas do séc. XI
e XII;
- estrutura (restos de
construção) medieval
ou tardo-medieval
encontrada na zona 1.
- informação sobre a
rua em si, com
chamada de atenção
para as duas casastorre (55 e 59);
- o edifício revelou
apenas vestígios dos
séculos XIX e XX.
149
Barbosa,
Logiark. Março
de 2010.
Relatório Final
dos trabalhos
arqueológicos
de
Requalificação
da Frente da
Ribeira, Porto.
ERA
Arqueologia
S.A., GOP –
Gestão das
Obras Públicas,
2003.
Requalificação
da Frente
Ribeirinha
Trabalhos de
escavação e
acompanhament
o arqueológico,
divididos por
zonas.
Entre o Cais
da Estiva e a
Ponte Luís I,
freguesia de
S. Nicolau.
Zona A: Cais da
Estiva
- pano de muralha do
séc. XIV;
- lajeados juntos à
muralha, que serão
posteriores a esta
(possivelmente do séc.
XV);
- estrutura pétrea de
grandes dimensões a
Este do Postigo do
Carvão
(possivelmente
relacionada com o
alinhamento do cais
no séc. XV)
Zona B: Praça da
Ribeira:
- estruturas do séc.
XIV e uma outra
(estrutura em
alvenaria – muro NOSE) que terá de ser
anterior a estas, já que
o seu
desenvolvimento tem
uma orientação
diferente;
- hipóteses funcionais
para estas estruturas:
1. Remanescentes da
Porta da Ribeira ou
2. Parte de muralha
com estruturas
(casas?) adossadas;
Ter em conta: as
torres que ladeavam a
Porta da Ribeira
seriam espaços
utilizados – se estas
estruturas pertencerem
à Porta da Ribeira
(torreões), escavações
comprovam a
ocupação interior
desses espaços através
150
Processo de
construção do
Hotel Bluesock
–AlfawayHotels.
Rua Clube
Fluvial
Portuense 1/17,
Rua de S. João
34/42, Rua dos
Mercadores
35/39, Ribeira
do Porto.
Relatório Final
dos Trabalhos
Arqueológicos,
CMJ14, Porto,
2016.
Construção de
um
estabelecimento
hoteleiro.
Sondagens e
acompanhament
o arqueológico.
Cruzamentos
das ruas de S.
João,
Mercadores,
e Fluvial
Portuense –
Ribeira,
Freguesia de
S. Nicolau.
dos muros que
constroem um espaço
fechado e também do
reboco com argamassa
descoberto num
paramento.
- soleiras (com marcas
de gonzos) e lajeados
anteriores a 1760
(renovação na Praça
por Whitehead) e
possivelmente
correspondendo a
estruturas
habitacionais tardomedievais ou
modernas.
ZONA D: área do
Novo Mercado/Ponte
Pênsil:
- troço de muralha do
séc. XIV;
- estruturas
pertencentes ao
alinhamento de uma
casa, com entrada pelo
Beco das Penelas,
com acesso através de
umas escadas,
anteriores ao séc.XX
(abertura do Túnel da
Ribeira).
- intervenção em dois
edifícios;
- Sondagem 2: arco e
parede medieval,
posivelmente do séc.
XIV – possiveis
elementos de uma
casa-torre do
mercador João
Ferreira (acesso pelo
N.P. 15 da Rua do
Clube Fluvial
Portuense,
anteriormente
entapada).
151
152