·~~~."."."
....
,
>r:»:
L---'_-.:.u
.
Ficha CatalográficaUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
D722
Dos
papéis
Rio
de
Claro
Maria
Teresa
Dotta,
Plínio:
para
Contribuições
a Historiografia
de Arruda
organizadores.
Campos,
- Rio
do Arquivo
Brasileira
Renato
Claro:
Oca
de
/
Alencar
Editora,
2013.
240
p.
ISBN
978-85-64366-03-9
Inclui
bibliografia
1. Arquivo
Teresa
III.
Público.
de Arruda,
org.
2. Rio
11.
Título.
Capa I Seleção de imagens:
Hélia Maria de Fátima Gimenez Machado
Maria Teresa de Arruda Campos
Claro.
Dotta,
I. Campos,
Renato
Alencar,
Maria
org.
9
SUMÁRIO
QPONMLKJIHGFEDCBA
A p re s e n ta ç ã o
1 1 KJIHGFED
M a ria
T e re s a d e A rru d a
Cam pos
In tro d u ç ã o
15
R e n a to A le n c a r
D o tta
H is tó ria d a M in h a V id a (1 9 3 8 ):
A im p o rtâ n c ia
in te le c to -c u ltu ra l
d e S ã o B e n to d o S a p u c a í n a fo rm a ç ã o
e a m b ie n ta ç ã o
d e P lín io S a lg a d o
.............................................................................................................................
L e a n d ro
o Fundo
23
P e re ira G o n ç a lv e s
C a rm e la P a tti S a lg a d o :
u m o u tro o lh a r s o b re o in te g ra lis m o
59
J o ã o F á b io B e rto n h a
liA
m u lh e r in te g ra l te rá : c é re b ro d e h o m e m , fís ic o d e
m u lh e r e c o ra ç ã o d e c ria n ç a "
C o n c e p ç õ e s s o b re a m ilitâ n c ia
d a s b lu s a s -v e rd e s
p e lo s in te le c tu a is
s ig m a
73
J e ffe rs o n
A e d u c a ç ã o d o c o rp o fe m in in o
B ra s ile ira
do
R o d rig u e s
B a rb o s a
n a A ç ã o In te g ra lis ta
93
R e n a ta D u a rte
S im õ e s
10
oQPONMLKJIHGFEDCBA
E s ta d o N o v o e a c o n s tru ç ã o
o in te g ra lis m o
n o s liv ro s d id á tic o s
d a m e m ó ria s o c ia l: MLKJIHGFEDCBA
e n a g ra n d e im p re n s a
1 1 3 KJIH
...........................................................................................................................
R o g é rio L u s to s a
o A rq u iv o
V ic to r
d e R io C la ro ,
lo c u s d a m e m ó ria e h is tó ria
d e P lín io S a lg a d o p o r s i e p o r o u tro s
..........................................................................................................................
137
G is e ld a B rito S ilv a
M á rc ia
Id io s s in c ra s ia s
a tra je tó ria
R e g in a C a rn e iro
n o c a n to d a e s ta n te :
d a E n c ic lo p é d ia d o In te g ra lis m o c o m o
o b je to d e e s tu d o
.........................................................................................................................
1~
R o d rig o
E x p e riê n c ia d e p e s q u is a n a te m á tic a
C h ris to fo le tti
d o in te g ra lis m o ,
n o C D -A IB /P R P e n o F u n d o P lín io S a lg a d o , e m R io C la ro
..........................................................................................................................
A le x a n d re
173
B la n k l B a tis ta
R e tra to s
...........................................................................................................................
H é lia d e F á tim a G im e n e z
M a ria
M ilto n
T e re s a d e A rru d a
195
M achado
Cam pos
José H ussni M achado
Luz
23
HISTÓRIA DA MINHA VIDA (938):
A importância de São Bento do Sapucaí na
formação e ambientação intelecto-cultural
de Plínio Salgado'ZYXWVUTSRQPONMLKJ
L e a n d ro
P e r e ir a
G o n ç a lv e s
aZYXWV
utsrqpo
2
o Fundo Plínio Salgado do Arquivo Público e Histórico de
Rio Claro (APHRC/FPS) é detentor de diversos m anuscritos não
publicados do líder da Ação Integralista Brasileira (AIB) e, entre
os m ais diversificados docum entos, destaca-se um texto intitulado:
H i s t ó r i a d a m i n h a v id a ? Nele, vê-se um discurso criado pelo próprio
autor que, em tom m em orialístico," buscou o desenvolvim ento da
im agem de um herói detentor de um a sabedoria única e superior,
apontando m om entos e passagens de sua vida que são caracterizados zyxwvut
1
Estudo
Coordenação
2
realizado
com
auxílio
de Aperfeiçoamento
da
(ICS-ULi.
V is itin g F e //o w ) no
( J u n io r
Investigador
da Universidade
estrangeiro
Católica
associado
Portuguesa
3
SALGADO,
4
A análise do documento
Plínio.
de que o historiador
escolhas
transformada
H is tó r ia
(CEHR/UCP).
e M e m ó r ia .
documento
d a m in h a
V id a
H is tó r ia
entendida
e análise da história.
daí a necessidade
sobre o período.
V id a ,
Católica de São Paulo (PUC-SP)
de Estudos
Pesquisador
como
como
de Lisboa
de História
Efetivo
Religiosa
do Laboratório
de
desenvolvida
por Jacques
monumento,
ou seja, através
uma herança do passado
uma vez que os documentos
Le Goff
das
pode ser
são essenciais
O autor ainda destaca que há a necessidade
pois todo documento
5' ed. Campinas:
d a m in h a
e
(APHRC/FPS-01.007.001).
o documento
a memória,
de criar uma crítica documental,
(Portugal)
Federal de Juiz de Fora (LAHPS/UFJF).
em uma análise historiográfica,
para o desenvolvimento
do Centro
baseia-se na concepção
deve criticar
do historiador,
Gulbenkian
Instituto de Ciências Sociais da Universidade
História Política e Social da Universidade
mesmo,
Calouste
Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade
com estágio
H is tó r ia
Fundação
de Pessoal de Nível Superior (Brasil).
é tendencioso.
Editora da UNICAMP,
analisa-se a memória
de criar um elemento
2003.
LE GOFF, Jacques.
No caso específico
do Plínio Salgado escrita
crítico capaz de desenvolver
do
por ele
um estudo
25
24utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
com o essenciais para a criação de um a liderança
Desde
pequeno,
de um a doutrina
foi fortem ente
cristã e autoritária.
a fam ília do pai, coronel
da m ãe, Senhora
m em orialistico
e cívicas"."
sem pre
Anna Francisca
com o
A im agem
das Chagas Esteves
Rennó
"m odelos
pela presença
De ancestralidade
Francisco
Cortez,
de honradez
de defensor
A pretensão
politica e cristã."
influenciado
feita constantem ente
Salgado, e
m ilitantes
e de virtudes
cristãs
do cristianism o
foi a m arca central de Plinio Salgado, criada por ele próprio
e pelos seguidores
o biógrafo,
da doutrina,
da década
levando os m ilitantes
seria na verdade
Os
de 50, buscou
a enxergarem
não
delim itando
falsos da realidade,
as ideias
presente;
do m odo
pretensão
convencer
fam iliar de Plinio
antes de saber o que diz
escritura
A pesquisa
baseando-se
desdobrada
do historiador,
a pesquisa
de persuasão;
na
em três
no
-dono das fontes;
não tem a pretensão
m as sim desenvolver
válida para o entendim ento
de um a
a existência
um a
com o
Dessa forma, enxerga-se
contido
Desta forma, entende-se
o documento
à frente
e exem plar.
textos
pessoa
que
redigia,
e sem pre
espaço
todos deviam obediência.
é
politico do
de "m em ória"
Salgado
evitava
preocupação
de salvador, apesar de deixar subentendido
claro
em São Paulo e
e o pensam ento
Plinio
teve com o
do seu tem po,
Exem plo
da Casa de Plinio Salgado, localizada
e ex-
do rotulado
do
utilizar
a
tirar a im agem
ser ele o Chefe a quem
O autor pouco escrevia sobre a sua fam ília
e o seu cotidiano, m as quando o fazia, era de form a superficial ou
sem detalhes. No entanto, no APHRCjFPS,12
foi localizado um
do autor com m ais de cem páginas intitulado: aZYXWVUTSRQP
H is tó r ia
m anuscrito
d a m i n h a v i d a ." O docum ento,
de um a anotação
m aterial
O
revisado
feita pelo próprio
não seria publicado
m aterial
com datação
parte m anuscrito,
não
autor na prim eira
Em alguns m om entos,
em
livro, 14 portanto
falhas de organização
íntim as.
não
foi
são percebidas.
ele fala em prim eira pessoa e, em outros, em
terceira. Apenas um trecho, que representa
m aterial,
página, que o
por se tratar de inform ações
foi. transform ado
e por isso algum as
final de 1938, que foi
é claro ao afirm ar, por m eio
foi publicado
um a pequena
parcela do
pelo autor, em 1936, em um a O b r a c o l e t i v a
da E d i ç ã o d a R e v i s t a P a n o r a m a , periódico
oficial da AIB, no item :
do pensam ento
ALBUOUEROUE,
dos Municípios,
Representação
com grande importância,
na obra é caracterizado
mas vale ressaltar
por uma auto-necessidade
de exaltação.
que pode ser utilizado para análise reflexiva da pesquisa, mas com
certo teor crítico, no sentido de identificação
Carlos de Faria.
dos componentes
CARNEIRO,
Márcia
Regina da Silva Ramos.
1951. p. 9. O biógrafo de Plínio Salgado era um correligionário
do Partido de
Roger.
CHARTIER, Roger.
12
todos os documentos
pessoais
e políticos
A
h is tó r ia
c u ltu r a l
entre práticas e representações.
A h is tó r ia
o u a le itu r a
d o te m p o .
Belo Horizonte: Autêntica,
Do
s ig m a
integralistas.
Federal Fluminense,
A cidade de Rio Claro no interior
ao
Salgado, ao mencionar
Lisboa:
2007.
13
14
v e rd e s .
-
entre a anta, a
Niterói, 2007. p, 9-10.
em 1985, a doação
de
das mãos da viúva de Plínio Salgado, Carmela
do Brasil. Segundo Plínio
a cidade do interior de São Paulo: "A ideia integralista
cidade, que é uma das mais importantes
a o s c a m is a s
s ig m a
2007. 415f. Tese (Doutorado
de São Paulo recebeu
da Província."
- Escrito na Fazenda Palmeira, em Taquaritinga,
Popular (PRP).
Cf. CHARTIER,
em História) - Universidade
de memórias
Parti Salgado. Rio Claro foi uma das principais cidades integralistas
de idolatria do autor.
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
P lín io S a lg a d o : resumo biográfico. Salvador: Gazeta
Difel, 1990.
8
a im agem
de Plinio Salgado.
que o discurso
7
única
autor. Ela é vista com o um privilegiado
m ovim ento integralista."
11
6
da figura do lider é
do integralism o
um hom em
sabedoria
águia, o leão e o galo - a construção
5
rem anescentes
cujo objetivo é m anter vivos a m em ória
Nos
de Plinio Salgado, com o
A elevação
de form a irracional,
enxergando-o
parte datilografado,
que já não está num discurso
Obviam ente,
no sentido
análise interpretativa
politico
é um a
as com petências
o leitor".'?
de convencer,
as próprias
de necessidade
o seu funcionam ento."
o passado,
ou
de sua trajetória.
da história,
seguir tais fundam entações,
"convocar
pelo
à prática
discursos
de vida e do universo
de que a história
m ostrar
analisados
que vão construindo
um a sociedade, é preciso conhecer
elem entos:
ou
"Chefe",
prim eira
por Deus.
ser
social." Vê-se com o elem ento
Para um a caracterização
afirm ação
na genealogia,
pelos
que cultuam ,
possuidor
de Plinio Salgado
não são apenas reflexos verdadeiros
Salgado para a análise da estruturação
tem com o
explicações
devem
m as entidades
do m undo
a com preensão
citada em que
que o discurso
com portam entais
analítica.' As representações
divisões
na passagem
um a espécie de m issão recebida
gestos
historiador,
com o
não é exaltar a im agem
não é a de condená-Ia.
espanhola,
são vistas em tom
dos valores
tam bém
SALGADO,
em 2 de agosto de 1934. In:
Rio de Janeiro: José Olympio,
empolgou
C a r ta s
1935. p. 22.
SALGADO, Plínio, H is tó r ia d a .. op. cit.
Pelo conteúdo, verifica-se que algumas das anotações
foram utilizadas na biografia
escrita pela filha Maria Amélia (Virgília) Salgado Loureiro em 2001: "Por isso nos alongaremos
p.7.
9
10
CHARTIER, Roger, 1990, op. cít.
na narrativa da infância de Plínio Salgado (decalcada
CHARTIER, Roger, 1990, op. cít. p. 15.
LOUREIRO,
Maria Amélia Salgado.
P I( n io S a lg a d o ,
m eu
de notas pessoais
p a i.
a
Plínio. Do sertão Paulista
que ele deixou)."
São Paulo: GRD, 2001. p. 36.
27
26aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
5
D a d o s b i o g r a p h i c o s utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de P l í n i o S a l g a d o . 1ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O objetivo
das reflexões
propostas
não
tem com o
m ais poderosa
m eta
do que as estabelecidas pelos livros históricos."?
Há diversos elem entos de convergências
exaltar ou cultuar a im agem de qualquer pessoa, e sim realizar
um estudo crítico, reflexivo e analítico sobre a cultura política em
história
torno
objeto de estudo, portanto
da intelectualidade
das representações,
de Plínio Salgado, um a vez que m uitas
vindas em um m om ento
tiveram com o nascedouro
seguinte de sua vida,
a sua infância. Essa questão não é m érito
de Plínio Salgado; pois, ao analisar o com portam ento
criança, é possível identificar determ inadas
presentes
da cultura
que a m em ória
política,
de form ação,
construção
são vistos e
através da vida privada fam iliar.
Entende-se
no
sentido
na representação
de com preensão
no
é criada através da absorção, reprodução
de absorção
de um
sentido
em
estágio
que
sua
e interpretação.
relativo à sua vida privada, verifica-se o
de valores e apropriação
e o discurso
um a espécie de certificação
entre história
tem com o
vida cotidiana
da história.
elem ento
com o
evolução
Deixa-se
Partindo
na m em ória
da referência
ao
relacional
dessas reflexões, a proposta
analisar elem entos
tem porais
nas m em órias
da
para o
É fundam ental que haja a verificação do
da
pesquisa,
social."
foram
claro que a contagem
Para prom over
levantados
tem poral
"vários
nem
sem pre
É possível sistem atizar o tem po
por m eio da cronologia.
por m eio de m om entos
pressuposto,
e evidente
de entendim ento
teórica
e divergências entre
encontra
de Plínio Salgado, inseridos
entendim ento
ocorre
im ediata
objetivo
tem po
tem pos".
histórico
verifica-se um a possibilidade
e m em ória."
investigativa
um a
configurada
é válida; principalm ente
Ao analisar esse período
tem po
explicações e raciocínios
na vida adulta, já que ações e pensam ento
consolidados
de qualquer
e m em ória,
cotidianos
que o estudo propõe
e, é justam ente,
partindo
o desenvolvim ento
desse
do prim eiro
tem po de Plínio Salgado: da m em ória infantil e fam iliar."
de ideias, que serão
Esta reflexão sobre o pensam ento
de Plínio Salgado tem
É preciso deixar explícito que, ao
posteriorm ente. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
com o propósito desenvolver questões que servirão de base para o
falar de cultura política, conceitua-se com o um :
entendim ento da origem do tem po da form ação política do autor,
reproduzidos
assim com o
Conjunto de valores, tradições,
práticas e representações
políticas partilhado
por determinado
grupo humano,
que
expressa uma identidade coletiva e fornece leituras comuns do
passado, assim como fornece inspiração para projetos políticos
direcionados ao futuro [...] Dessa maneira, com base em enfoque
de sentido amplo, representações configuram um conjunto que
inclui ideologia, linguagem, memória, imaginário e iconografia, e
mobilizam, portanto, mitos, símbolos, discursos, vocabulários e
uma rica cultura visual (cartazes, emblemas, caricaturas, cinema,
fotografia, bandeiras, etc.)."
Vê-se
a m em ória
com o
um a
representação
política de Plínio Salgado sobre a infância.
produção
dos historiadores
m odalidades
podem
da
cultura
O conhecim ento
e a
ser classificados com o um a das
de relação social com o passado. A m em ória
tam bém
confere um a presença ao que passou; sendo, em alguns m om entos,
interior
da necessidade
da sociedade
da valorização
de criação literária e catequizadora
o desenvolvim ento
da
AIB
do seio fam iliar. Durante
e foi a base genealógica
objetivo
o período
pós-infância
Plínio. et aI.
P lín io S a lg a d o .
São Paulo: Edição da Revista Panorama. 1936.
Patto Sá. Desafios e possibilidades
In: __
(Org.). C u ltu r a s P o l/tic a s
8elo Horizonte: Argvmentvm.
2009. p. 21-22.
na apropriação de cultura
n a H is tó r ia
novos estudos.
(pós-São Bento
claro: influenciar,
por m eio do pensam ento
cristão, a sociedade brasileira a lutar pelo m ovim ento
suas ideias conservadoras
CHARTIER. Roger. 2007, op.cit., p. 21.
18
CHARTIER, Roger, 2007, op.cit., p. 23-24.
19
CHARTIER. Roger, 2007, op.cit., p. 65-68.
20
Os demais
"tempos"
da trajetória
analisados em: GONÇALVES, Leandro Pereira.
política
Pontifícia Universidade
Entende-se
e intelectual
E n tr e B r a s il e P o r tu g a l
de Plínio Salgado e a influência do conservadorismo
em História)-
Carlos
português.
principalmente
"num
contraditoriamente,
devemos
da Silva afirma
momento
alguns
em
afirmam
de Plínio Salgado foram
trajetória e pensamento
2012. 668f. Tese (Doutorado
Católica de São Paulo, São Paulo, 2012.
como conservadorismo
Teixeira
nacionalista
integralista e
de cunho radical."
17
Francisco
SALGADO.
para
por m eio do discurso cristão, oriundo
radical, os movimentos
um forte teor político com um sólido fundo religioso.
16
MOITA.
Rodrigo
política pela historiografia.
no
no tem po
do Sapucaí), verifica-se que as obras de Plínio Salgado tinham um
21
15
cristã e espiritual
brasileira, o que esteve presente
ser fundamental
que presenciamos
com ênfase
e ideias que possuem
Em relação à expressão
o estudo
a ressurgência
a indiferenciação
do fascismo
dos campos
voltar-nos com atenção para as fontes de um rico filão do pensamento
Teixeira da Silva desenvolve
um levantamento
conservador,
do pensamento,
do termo - conservadorismo
e,
políticos,
moderno."
- e detecta que o
28utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
29
Filho de um coronel e de um a professora, Plínio Salgado
qualidades de orador, o carisma pessoal do chefe fascista."
nasceu em São Bento do Sapucaí, cidade do interior de São Paulo."
A cidade e o pai eram vistos pelo autor com o: zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Com um teor de patriotism o e nacionalism o, Salgado
identificou o pai de form a idêntica em relação à im agem que
Um município onde não havia oposição, dado oZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
p o d e r e fa s c in a ç ã o
criou em torno de sua pessoa, no decorrer do século XX. Em
d a fig u r a d o c h e fe . P r o fu n d a m e n te
n a c io n a lis ta , costumava reunir
1936, lançou um livreto: aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
H om enagem
a C a x ia s e a o E x é r c ito d o
os filhos à noite, narrando-Ihes as façanhas de Osório, de Caxias,
B r a s i l com o objetivo único de exaltar a im agem de Luis Alves de
os episódios das vidas dos grandes estadistas do Império. A mãe
Lim a e Silva, aquele que, em 1962, transform ou-se em patrono do
de Plínio Salgado era professora e e s tim u la v a o s filh o s a lu ta r
exército brasileiro, Duque de Caxias. Plínio Salgado trouxe dos
p o r D e u s e p e la P á tr ia , sendo ela própria que os ensinou a ler e
relatos
de infância, Caxias ao lado de M arechal Floriano Peixoto,
Ihes deu as primeiras lições de História, Geografia, Aritmética e
que era referência para o coronel Francisco das Chagas Esteves
Francês."
Salgado e serviu de parâm etro para o filho no desenvolvim ento de
sua principal criação, o integralism o: ''A lição de Floriano Peixoto
Neste trecho sobre a história da vida do autor, vanos
está viva e presente no coração dos integralistas [...] e ensinou aos
elem entos podem ser detectados com o sendo pertencentes à
brasileiros, pela voz do M arechal de Ferro, o segredo da honra dos
doutrina de Plínio Salgado, pois m ostram sua fascinação pelo poder
povos e do prestígio das nacionalidades.v" Tam anha inspiração
do chefe, justam ente o em que ele se transform ou com a fundação
e referência influenciaram o pensam ento de Salgado, que chegou
da AIB, o Chefe suprem o e absoluto." Plínio Salgado transform oua sugerir, em seus escritos, chegar a atos de extrem ada violência,
se em um líder com a seguinte caracterização:
com o a praticada pelo M arechal de Ferro, nas ações presidenciais
do fim do século XIX:
A organização integralista, inspirando-se nos modelos fascistas,
é dirigida por um Chefe Nacional. Os estatutos lhe atribuem a
direção total e indivisível do movimento, tornando seu poder
c e n tr a liz a d o , to ta l e p e r m a n e n te .
[. .. ] A fidelidade ao Chefe é o
corolário de seu poder ilimitado. [...] A valorização da fidelidade
ao Chefe teve como consequência o culto da sua personalidade.
Além de dispor de um poder legal vinculando seus adeptos
por um juramento de fidelidade, Salgado possuía, com suas
conservadorismo
é visto como uma forma de pensamento
em uma contra proposta das ideias revolucionárias
"ideologia
definir
reativa".
expressáo
uma posição
militante
cunhada
de reação
pelo político
francês
Sabrina Evangelista;
p e n s a m e n to
d a d ir e ita :
13-21.
22
Bento
território
"Quando
Chateaubriand
Alexander
Redefinindo
Martins
e personagens.
(Orq.).
que buscou
da Revoluçáo
a Direita. In: __
D ic io n á r io
c r ític o
;
do
Mauad, Rio de Janeiro: 2000. p.
nasceu em 22 de janeiro de 1895, a cidade natal de Plínio Salgado, São
do Sapucaí, pertencia
paulista."
VIANNA,
idéias, instituições
cuja base está centrada
clerical e política às consequências
Francesa. SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Introduçáo:
MEDEIROS,
moderno,
de 1789. dessa forma, define como uma
SALGADO,
ao Estado de Minas
Plínio.
V id a d e
Gerais, passando,
Jesus.
posteriormente,
19. ed. Belo Horizonte:
Difusáo
ao
24
Com uma liderança indiscutível,
conseguiu
angariar adeptos
cultuado pelos adeptos do movimento
conservador
ultrapassar
25
TRINDADE,
Hélgio.
Alegre: Difel/UFRGS,
o limite da vida e até hoje,
para a causa integralista
brasileiro.
Inserida em um a sociedade autontana do final do século
XIX, sua fam ília pertencia a um a elite cultural com im portância
social e política na região. Ao lado de um típico discurso autoritário
do pai e da educação concedida pela m ãe, dem onstrava com clareza
e visibilidade que a presença do lem a integralista já estava presente
na sua infância, pois D e u s , p á t r i a e f a m í l i a foram os sustentáculos
do m ovim ento de extrem a-direita do século XX no Brasil, assim
Pan
Americana do Livro, 1964. Contracapa.
23
SALGADO, Plínio, H is tó r ia d a ... op. cit. (grifo nosso).
em pleno século XXI, consegue
'A bala!' Essas palavras de Floriano Peixoto nos ensinaram que
os brasileiros, na defesa de sua honra, não devem temer e, muito
menos, colocar os interesses de outras nações acima dos de sua
Pátria. A lição de Floriano Peixoto é digna de ser imitada por todos
nós. Sempre que alguém pretender ameaçar os brasileiros, nosso
dever é repetir as palavras de Floriano, dizendo: 'receberemos à
bala os invasores! '27
e continua
sendo
26
__
SALGADO,
o
27
o fascismo
brasileiro da década de 30. 2. ed. Porto
Plínio. Aos c a m is a s
op.cit., p. 104-105.
v e rd e s
Plínio.
4. ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1981. p. 74-75.
C a r ta s a o s ...
SALGADO,
In te g r a lis m o :
1979. p. 164-166.
N osso
B r s s il.
da Amazõnia,
dos Pampas e de Alagoas. In:
30utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
31
com o em outros m ovim entos políticos com o no salazarism o: aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
D eus,
que passaram a .ser um dos principais sím bolos da política pliniana:
a u to r id a d e e fa m ilia .
no tuPI-guru: aru , q~e buscou o grito A n a u ê ! para sim bolizar o
Criado em um a típica fam ília patriarcal do interior
m ovim ento lntegralista na década de 1930.31 Por coincidência ou
brasileiro, os prim eiros anos de vida de Plínio Salgado são vistos
não, no exílio em Portugal, no ano de 1940, buscou a rezião dos
'
V'
32
I:>'
com o essenciais para a com preensão das m atrizes discursivas do
avos paternos,
Ise.u, para se tratar de um a hem optise na cidade
pensam ento pliniano. O seguinte trecho faz parte de um anexo
d~ M angualde. HaV1aum a verdadeira adoração pelos pais que eram
do docum ento citado em que Plínio Salgado criou um a espécie de
VIStoScom o espelho, o~ seja, referenciais a serem seguidos.
diálogo-entrevista realizado consigo m esm o: zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O au~~r preconiza um : superioridade ao pai com o algo
exacerbado, Ja que a antecIpaçao, prom ovida pelo coronel Salgado
- E seus avós? - do lado paterno, o português de Viseu, Manuel
em relação à abolição da escravatura," pretendeu dem onstrar a
Esteves da Costa e D. Mariana Salgado Cerqueira Cezar. Estudante
im portância que conferia ao pai na História do Brasil:
p á tr ia ,
na Universidade de Coimbra, Manuel Esteves veio para o Brasil
por motivos políticos, pois era partidário de D. Miguel contra D.
Pedro." Quanto a Mariana, ligava-se a uma família, pelo ramo
Salgado, vinda para o Brasil no século XVIII e pelo lado Cerqueira/
Cezar se entrosa na linhagem dos Bandeirantes, oriundos do
casamento da princesa Terebê, filha do cacique Tibiriçá, no
século XVI. Do lado materno, Plínio descende de Antonio Leite
Cortez, de origem espanhola e cujos membros da família foram
varões notáveis no Vale do Paraíba; era amigo das letras latinas
e político do Partido Conservador, na Monarquia. Sua avó, deste
ramo era D. Mariode Sofia Renow, filha do médico alemão Johan
Renow, capitão da cavalaria de Baden e nascido na Prússia e
parece ter vindo para o Brasil em 1826, por motivos políticos,
era rico, pois clinicava de graça. Em Curitiba conheceu D. Ana
Joaquina Ferreira, filha do Governador, com quem se casou e o
casal veio para o Sul de Minas, a cavalo, formar fazendas de café,
deixando centenas de descendentes, pois a família Renow, que
abrasileirou o nome para Rennó, é das mais numerosas naquela
região. 29
Três mese_s antes do decreto da Princesa Isabel, extinguindo
a _escravldao no Brasil, o presidente da Câmara Municipal de
Sao Bento do Sapucaí, Francisco das Chagas Esteves Salgado,
coadjuvado por uma comissão de pessoas gradas do município,
convocou todos os fazendeiros do mesmo município, para que
em ato solene, assinasse cartas de alforria de seus escravos. 34
No jornal Diário Paulista," há um a reportagem , do dia 21
de m arço de 1888, sobre o feito idealizado pelo coronel Francisco
Salgado:
Março 13 de 1888. Raiou enfim para nós aurora da liberdade!
O dia 11 ?e março de 1888 deve ficar indelevelmente gravado
na mernona de todos os sambentistas,
pois nesta data
comemorável foi proclamado livre o nosso município. Quando
à 31
Art;54 - A ,!a u ê é um vocábulo Tupi que servia de saudação e de grito de guerra
queles indíçenas. E uma palavra efetiva que quer dizer. - "você é meu parente" _ (dicionário
Plínio Salgado buscou, na trajetória política e intelectual,
elem entos contidos na sua origem , valorizando a árvore genealógica
de sua fam ília form ada por portugueses e bandeirantes, m arcas de
destaque na produção literária e política do autor;" e indígenas,
~ontoyal.
Como o mteçransmo
aClonall~ta de sentld?
;clamaçao
é a Grande Família dos "Camisas-Verdes"
herolco,.
Anauê
da saudaç~o Integrallsta.
foi a palavra consagrada
e um Movimento
em louvor do Sigma. É a
Serve ainda para exaltar, afirmar, consagrar e manifestar
egrla. SALGADO,. Plínio. P r o to c o llo s
e R itu e e s . regulamento.
Niterói: Edição do núcleo
rl)unlclpal de Niterói, 1937. p. 18. Segundo Plínio Salgado em estudo de 1931:"A língua tupi
~ve ser estudada sob novo critério. A contribuição
dlclonár~os do idioma falado pelos nossos
de todos os que escreveram
selvagens
é certamente
gramáticas
valiosa e serve-nos
hole de rrucro ,para as nossas procuras." SALGADO, Plínio. A Irngua tupi. In: __
O b ra s
C o m p le ta s . Criticas e PrefáCIOS. São Paulo: Américas,
1956. v. 19, p. 201.
3
bs
Intelectuais
da região o caracterizavam
como "ilustríssimo
descendente
dos
iroes . Cf. MATOS, Fernando de. viseu em Festa. J o r n a l d a B e ir a , Viseu, 11 ago. 1944.
o
28
"De origem
portuguesa
e formação
em Coimbra."
emigrou
CONHEÇA
para o Brasil por razões
políticas
após estudar
Salgado.
Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/deputados/pesquisa/ayouts_deputados_
biografia?pk=122697>.
humanidades
antiliberal,
OS DEPUTADOS:
Plínio
Acesso em: 10 jun. 2011.
29
SALGADO,
Plínio,
30
Maior exemplo
33
Documento
datilografado,
Psrtencente ao APHRC/FPS.
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
H is tó r ia d a ... op. cit. (anexo)
está em: SALGADO,
Plínio.
época das Bandeiras. Rio de Janeiro: José Olympio,
A
voz do
1934.
o e s te
romance-poema
? ..
da
34
SALGADO,
°
Plínio.
A b o liç ã o
intitulado
A b o liç ã o
d a e s c r a v a tu r a
da
e s c r a v a tu r a .
Sem
datação
é
(APHRC/FPS-1 00.005.004).
e 35
jornal circulava no fim do século XIX com noticias da região do norte de São Paulo
Sul de Minas Gerais e era impresso na cidade paulista de Taubaté.
33
32zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
análise dos fatos. Plínio seguiu de form a clara e absoluta o trajeto
completava-se justamente um mês que na Penha do Rio do Peixe
político do pai, aliado à intelectualidade da m ãe.
dera-se o assassinato de Joaquim Firmino o mártir da liberdade,
Com o objetivo de construir a sua própria m em ória,
eis que, como para levantar um protesto contra tão bárbaro
acontecimento, ergue-se o município de S. Bento e tira de sobre
partindo da reflexão do autor, é possível identificar elem entos que
si a ignomínia da escravidão! [...] no dia 8 do corrente os Srs. Dr.
influenciaram Plínio Salgado. Nos escritos, realizou um a análise da
João da Silva Meirelles, tenente Francisco Esteves e o alferes
cidade natal e buscou reflexões bem íntim as e particulares de sua
José Maria Gomes Leite, tomaram a iniciativa de por circulares
infância. Por m eio dos textos, pode-se verificar com veem ência o
dirigirem-se aos lavradores convocando-os para uma reunião
reflexo e influência que o garoto Plínio buscou no pai, que era um
no dia 11 e que tinha por fim tratar-se da libertação imediata e
hom em daquela geração, ou seja, não haveria excepcionalidade ou
total do município. [...] De fato, ao arvorecer daquele dia, já a
m esm o heroísm o no coronel; m as, no m em orialism o pliniano, a
cidade tinha um aspecto todo festivo: de todos os lados subiam
tônica de idolatria era a m arca central:
foguetes aos ares; na frente do Paço Municipal tremulava o rico
pavilhão auriverde; as ruas simetricamente ornadas de arbustos e
Quando principiei a tomar conhecimento da vida, reconhecendo
flores; por sobre as cabeças da descomunal multidão, agitavamas pessoas e as coisas que tinha em redor, meu pai era um
se as bandeiras de diversas nações, e, o rumorejar do povo pelas
homem de barbas pretas, vestindo sempre de preto, com camisa
ruas atestava o entusiasmo de que se achava possuída a nossa
branca, punhos e colarinhos de goma rebrilhantes, um relógio
população. Em todos os semblantes notava-se uma indizível
cujo tique-taque eu gostava de escutar, o qual estava preso a
alegria e era geral a ansiedade com que se esperava pelo começo
uma corrente de ouro que pensa do colete preto. Era um homem
da festa de redenção de nossos irmãos escravizados."utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de mediana estatura. Quando saia à rua, levava sempre uma
bengala negra de castão de prata. Quando lia, punha um pinceNota-se que o pai de Plínio Salgado era relativam ente
nez. Eu notava que ia muita gente a nossa casa e que todos
im portante no cenário político local. Percebe-se a influência que o
tratavam meu pai com imenso respeito, parecendo-me que ele
pai exerceu sobre o filho, apesar do pouco tem po de convívio, um a
mandava naquelas pessoas. l. ..] Eu não compreendia bem tudo
vez que o coronel faleceu quando Plínio tinha 16 anos. Contudo,
aquilo, mas tirava a conclusão de que meu pai deveria ser uma
o convívio nesses anos foi o suficiente para criar em Salgado
espécie de centro de mundo, tudo se movimentando em razão
um a im agem de liderança e força.
o artigo citado aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
A b o liç ã o
da
dele. Reparei que o chamavam de coronel. l...] Era chefe político
e s c r a v a t u r a , o autor afirm a: "O êxito de m eu pai foi total. Sem
da localidade. Era um dos senhores feudais que caracterizaram
a vida social brasileira, de intenso municipalismo, através do II
exceção, todos os fazendeiros libertaram seus escravos. [...] Foi só
Império e dos primeiros tempos da República. 38
três m eses depois que a Princesa Isabel assinou o fam oso decreto
da libertação dos escravos. Em São Bento do Sapucaí já não havia
.
d a m e c1ida governam ent al ."37
necessidade
Não se tem a pretensão de realizar análises sobre o processo
escravocrata ou abolicionista no Brasil, m uito m enos em relação ao
interior de São Paulo, m as identificar Francisco Salgado, que tam bém
assum ia a função de farm acêutico da região, representando, desde
jovem , um a liderança. O pai de Plínio era responsável pela saúde e
tinha um a dupla função entre a cura e a política no interior, típica
referência nas pequenas cidades, assim com o o filho que, em pouco
tem po de vida e estudo, m ostrou possuir um a form a perspicaz de
36
Norte de São Paulo: S. Bento do Sapucahy.
37
SALGADO,
Plínio,
A b o liç ã o
...
op. cit.
Percebe-se que a im pressão de Plínio Salgado, ainda na
infância, colocava o pai em um a espécie de pedestal e superioridade,
posição que alm ejava conquistar. Neste m om ento, o autor m ostrou
um a entre as várias am biguidades estabelecidas. No final da
citação anterior, ressalta que o chefe político, ou seja, o coronel,
é a característica central dos prim eiros anos da República, e na
sequência do texto afirm a:
A palavra senhor feudal não a emprego aqui senão para designar
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
D iá r io P a u lis ta ,T a u b a té ,
21 mar. 1888.
38
SALGADO,
Pllnio,
H is tó r ia
d a ...
op. cit. (anexo)
35
34
não corresponde
ao rum o politico que defende nos escritos. É m ais
um sistema mecânico das relações entre o Povo e o Estado,
um a reflexão que pode ser tom ada para identificar com o o filho
porque os chefes políticos do vasto interior brasileiro exprimiam
o sentido mais poderoso da verdadeira democracia. [...] O
assum iu perante o pai, nesse m om ento, um a espécie de "cegueira".
papel que o chefe-político desempenhou no Brasil, elegendo os
Francisco das Chagas Esteves Salgado era um típico politico
à custa de seus sacrifícios
deputados e senadores, que brilhavamutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
agente da Prim eira República brasileira, aquele que exercia todas as
[...] A esse senhor-feudal democrático e humilde, cuja força
funções e tinha controle social em diversos segm entos:
consistia no bem que espalhavam não se fez nunca justiça."
Salgado
dem onstrava
sucum biu
não possuir
se referia aos "coronéis"
republicano,
a não
referências
o autor
aos
às
um a
linha única
ser quando
diversas
críticas,
de raciocínio
vigente
Francisco
afirm ações
república
quando
buscava
Esteves
de depreciação
Salgado,
e intensa
brasileira, via o Brasil com o
o livro: O aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
T hem a da nossa
Ao prefaciar
g e r a ç ã o : e n s a i o p o l í t i c o de Cândido
No tempo em que nasci meu pai exercia também a função
de delegado de policia. [...] Era meu pai, porém, mais do que
um delegado, porque desempenhava um papel de verdadeiro
patriarca, solucionador de pendências, acomodador de situações
entre querelantes e, principalmente, anjo tutelar dos pobrezinhos.
Farmacêutico do lugar, onde não havia médico, chefe político,
delegado de polícia, presidente da Câmara, compadre de meio
mundo, intelectual da terra, possuindo uma regular biblioteca,
homem de cultura variada, consistia o centro das atividades
sociais da cidadezinha."
pois
no período
falava do pai. Quando
com o
crítica ao sistem a da prim eira
um país sem finalidade.
próprias
e ao sistem a politico
"coronéis",
prom ovia
suas
M otta Filho:
Nós sentíamos todos os erros do Regime e denunciávamos um
mal-estar que provinha, por certo, do contraste entre as realidades
da Nação e o espírito que animava a sua Constituição e as suas
leis. Sentíamos um país sem finalidade, sem nada a defender,
sem a nada a aspirar. [...] A vida dos partidos se processava
mediante um instinto de aventura, que se utilizava das desídias
municipais e se concretizava nos cambalachos decorrentes da
prática do sufrágio universal. 40
Pelo relato
se que este pode
coronelism o,
fenôm eno
(1889-1930),
caracterizado
ao presidente
a necessidade
ideias dissem inadas
na nação, contra
supere os interesses
feudal": "Não
da Nação. Nem
existe nenhum
os interesses
estaduais, nem os interesses
dos indivíduos.
determ inadas
em São Bento do Sapucaí e que transform avam
seu pai em um "senhor
os interesses
de pensar
de força do coronel,
No "feudalism o",
que
não há
descrita por Plinio Salgado,
Inserido
elitista
que
Them a
p.II-111.
41
politica
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
FILHO, Cândido. O
SALGADO,
Plínio.
de Janeiro: José Olympio,
da nossa
°
g e ra ç ã o :
o
D e s p e r te m o s
conclui-
presente
na prim eira
de
república
envolvendo
reciprocidades
politicas:
Plinio
daquela
época,
Salgado
sob
e dom inadora,
desenvolvida
a form ação
ótica
centralista,
típica da fam ília brasileira,
nessa relação
exercidos
verifica-se
um a
pelo
um a busca
pai que
por Plínio
foram
Salgado
de m odelo
m arcas
em que foi
e valores
essenciais
da
em toda a sua trajetória.
MODA
ensaio político. Rio de Janeiro: Schmidt.
grande rythmo da Nação. In: __
1935. p. 167.
da nossa geração.
do coronel,
êxito na denom inação
por ser um sistem a que liga o chefe local
na geração
teve
controladora
autoritários
SALGADO, Plínio, H is tó r ia d a ... op. cit. (anexo)
SALGADO, Plínio. Prefácio: Alberto Tôrres e o thema
politico
da república,
criado. Verifica-se
39
40
acerca
com
nem
das classes, nem o interesse
Acim a de tudo, a Nação.?"
nação e a presença
interesse
m unicipais,
Salgado
Nessa concepção, o coronelismo é, então, um sistema político
nacional, baseado em barganhas entre o governo e os coronéis.
O governo estadual garante, para baixo, o poder do coronel
sobre seus dependentes e seus rivais, sobretudo cedendo-lhe o
controle dos cargos públicos, desde o delegado de polícia até a
professora primária. [...] O coronelismo é a fase do processo mais
longo de relacionamento entre os fazendeiros e o qoverno.?
N o m esm o ano, escreveu o artigo O g r a n d e r y t h m o d a N a ç ã o ,
buscando
de Plinio
ser enquadrado
1931,
a N ação!
Rio
42
SALGADO,
43
CARVALHO, José Murilo de.
Horizonte:
Plínio,
H is tó r ia
UFMG, 1999. p. 132.
d a ...
op. cit.
P o n to s
e b o rd a d o s .
escritos de história e política. 8elo
37
36utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Esse nacionalism o
autoritário,
que foi característica
devida aos m om entos
de intensidade
no discurso do autor, teve sua origem clara na sociedade do fim do
século XIX e início do século XX, expressa na figura do coronel
Bento
Francisco
citam a form ação
com por
Esteves
Salgado. No ano de 1954, o autor escreveu
no qual narra em tom m em orialístico,
viagens
para
as aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O b r a s c o m p l e t a s , um texto intitulado V i a g e n s p e l o B r a s i l ,
feitas pelo interior
de analisar a im portância
de form a
do território
das riquezas
brasileiro,
poética,
al~n::as
político
cultural. Ao narrar um a visita à sua cidade natal e a lem brança
pai, encontram -se
aspectos
criar sob a sua im agem
predom inantes
m eio
superficial
de um a
do
e iniciam
SALGADO,
cultural
formação
o debate
brasileira.
até o m om ento,
Plínio. Viagens
pelo Brasil.
da escassez docum ental
do pensam ento
politico
Em depoim ento
ex-integralista
trabalhos
o
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O b r a s c o m p le ta s .
São Paulo:
não analisou
o período
em questão,
Plínio Salgado surgiu na intelectualidade
de "gênio"
por possuir,
os seus prim eiros
autor, traços
51
No
entanto,
anos
de sua
o
afirm ou:
sobre o Plínio Salgado
com o um a espécie
a percepção
que havia um
46
SALGADO,
Plínio,
H is tó r ia
47
SALGADO,
Plínio.
G e o g r a fia
SOLDADO
de Deus. Direção: Sérgio Sanz. Argumento
d a ...
do
am biente
op. cit.
s e n tim e n ta l.
de parte da militância.
op.cit. e Ricardo Benzaquen
de
ARAÚJO,
Ricardo Benzaquen de.
de Plínio Salgado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
de celebrações
sem valor científico
realizadas
Carlos de Faria. op.cit. e CÀPUA, Cláudio de.
2000, além da biografia
P lín io
escrita pela filha:
Produções Artísticas,
2004
(87 rnin.).
Gerardo Meio.
espaço
1937.
e roteiro: Sérgio Sanz e Luiz
Alberto Sanz. Produção: Júlia Moraes. Rio de Janeiro: Videofilmes
O discurso
abriram
2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
p.7.
MOURÃO,
5. ed. São Paulo: EditorAção,
da Grande
S o l d a d o d e D e u s ."
M elo M ourão
verifica-se
50
Maria Amélia Salgado. op. cit.. p. 31.
É a m inha im pressão
através do autodidatism o,"
49
"ilustrativa"
sobre o tema no meio acadêmico.
como: ALBUOUEROUE,
biografia.
com
do próprio
exaltar sua particularidade
para a
mais
do tema: Hélgio, TRINDADE,
o integralismo
Gerardo
até a fase adulta. Hélgio Trindade dedicou da página
de forma
p. 22-24. Ao tema restam livros provenientes
LOUREIRO,
para verificar essa relação
A m aior parte das obras e depoim entos
tem com o propósito
trata o autodidatismo
refere-se
S a lg a d o :
para a Sem ana
O Plínio era um homem muito inquieto, um homem [s ic ] , era um
autodidata, nunca se formou em nada, era um autodidata [s ic ] ,
escrevia [s ic l. escrevia jornais, escrevia conferências, vivia [s ic l,
era um homem pobre e viveu com dificuldades, apesar de ser de
uma família de origem antiga de São Paulo. 49
ou seja, não há estudos
por militantes
im ediata
para o docum entário
e escritor
uma particularidade
e r e v o lu ç ã o :
de Salgado
em relatos
nele todo o m eu afeto pelo Brasil.
Araújo apenas as páginas 22 e 23, sendo que este afirma ter tido como referência Trindade,
T o ta lita r is m o
quando
de form a
Pátria, çolhida, desde a infância.?"
48
acadêmicos
pliniana desde o nascimento
35 a 42 ao desenvolvimento
estudos,
não dirigiu a im portância
In: __
a partir dos anos 20 quando
Alguns
Os
infância com o no livro que lançou em 1937: G e o g r a f i a S e n t i m e n t a l .
de líder: zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Nesta obra afirm a: "Este livro foi escrito devagar e com am or ... Pus
Américas, 1954. V. 4. p. 153-154.
45
A maior parte dos trabalhos
pautando
de form a
Salgado. Apesar
conhecim ento.
44
esplendente"."
de Plinio Salgado, analisam
reflexões
de vida, é perceptível,
que o autor pretendeu
E eu me revia, entre os dez e os quinze anos, subindo a cavalo,
em companhia de meu pai, a escadaria dos espigões, até
atingir os pontos mais descortinantes do panorama. Naqueles
patamares, parávamos e, de braço estendido, os olhos perdidos
na distância, meu pai dizia-me simplesmente:
'Veja!' E eu
olhava e via a vastidão das terras tumultuando em serranias e
prolongando-se até às transparências azuis dos extremos perfis
do horizonte. Os olhos do espírito continuavam, ultrapassavam
as possibilidades visuais dos olhos do corpo; e eu via aquilo que
talvez a voz paterna me insinuava na eloquência de uma palavra
enunciada com o mesmo ardor com que à noite me narrava os
trechos mais belos da História do Brasil; eu via toda a minha
Pátria. Por isso, não alimentava sentimentos regionalistas; tudo
era Brasil, a desdobrar-se, no peito do Continente. [...] Aquelas
montanhas foram minhas mestras de nacionalisrno."
A historiografia,"
natureza
intelectual
de Arte M oderna e a posterior form ação da AlB, portanto
crêse que é preciso analisar de form a cuidadosa a infância de Plinio
com o objetivo
do país no discurso
no
iníciais de Plínio Salgado, na cidade de São
do Sapucaí, vista pelo autor com o um local de "m elancolia,
51
fundamentações
"estes
de Plínio como algo excepcional,
a não formação
sem fundamentações
Em vários
momentos
teóricas,
apontamentos
In: SOLDADO
como
acadêmica
do Gerardo Meio Mourão,
ou seja, enxergam
a pesquisa
nessa formação
ao tratar o termo
em torno de uma formação
autodidata
pessoal e de
teóricas e científicas.
Plínio Salgado
afirmou
em 1931, quando
[...) não são orientados
ordem rigorosa. São registrados,
op. cit.
como o depoimento
genial do autor, no entanto
unicamente
livre interpretação
D e p o im e n to .
criar teorias
sem
concepções
ao analisar a língua Tupi afirmou
por nenhum
apenas, de memória,
método,
nem
seguem
ou
que:
uma
sem a presença dos livros e autores
38
39
cultural na vida do autor, pautado nom eadam ente na m ãe que era
professora prim ária e transm itia conhecim ento e cultura ao filho. O
clirecionam ento deste ensaio verifica que a cultura política de Plínio
Salgado foi um elem ento de contribuição para a intelectualidade
pliniana, vislum brada na década de 1920, no âm bito das agitações
m odernistas, ou seja, o fato de ser autodidata não representou
exatam ente um a particularidade de engrandecim ento de Plínio, que
é caracterizado com o um hom em do seu tem po, com lim itações,
m as que apresenta certo diálogo cultural. Vê-se que, através do pai,
a gênese política foi cristalizada; já pela m ãe, a form ação é m ais
intensa, um a vez que esteve a cargo dela toda a projeção intelectual
e educacional: zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Nesse tempo, minha mãe residia em S. Paulo, onde frequentava
a Escola Normal. Eram seus professores, Silva Jardim, Julio
Ribeiro, João Pinheiro, todos positivistas, porém minha mãe não
perdeu a fé católica. Ia a S. Bento nas férias. A casa de meus
avós maternos era a mais alegre da cidade. Minhas tias e minha
mãe, todas mocinhas, tocavam piano, flauta, violão, cantavam,
declamava. Os intelectuais, os hóspedes da cidade, os doutores,
e osaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
c o m e t a s (caixeiros-viajantes) eram para ali levados pelo
vigário, pelo juiz municipal. [...] O fato é que minha mãe rejeitava
todos os pedidos de casamento, tanto na cidade natal, como
em S. Paulo. E meu pai também não se casava. [...] Foram,
finalmente, encontrar-se os dois, em S. Bento. Ela professora,
ele farmacêutico. Ela no salão festivo, polarizando as atenções da
cidadezinha, nas noites de música e declaração; ele, na farmácia,
centralizando o pequenino mundo local: o juiz, os professores, os
comerciantes e tazendeiros.v
do m eu m unicípio't.P A Professora Dona Anna Francisca Rennó
Cortez foi a grande fundam entadora das concepções por ele
defendidas. O autor não teve um a form ação intelectual regular,
reforçando o fato de que a relação com a m ãe deve ser refletida
com propriedade:
A minha mãe devo a minha formação de moral, os meus
sentimentos religiosos; devo-lhe também o amor às letras e
perseverança na construção de minhas obras. A meu pai devo
o meu conhecimento de moral pública, o desapego absoluto aos
cargos e horárias, o entusiasmo nacionalista e o pendor para
formar correntes de opiniâo.>'
A form ação de Plínio Salgado ocorreu em um a ótica
paternal centralizadora, dom inadora e de preceito nacionalista,
aspectos que se refletiriam em sua vida pública e que, contrapondose ao m encionado na citação anterior, levá-lo-iam a passar décadas
atrás do poder m áxim o do Brasil.
Por sua vez, à influência m aternal, Salgado atribui a form ação
m oral e religiosa, que, com a fundação do integralism o, tornar-seão alicerces da doutrina do m ovim ento. A relação com a m ãe é um
ponto essencial para a com preensão da fam ília que tornou-se um
efeito repetidor na vida de Plínio:
Minha mãe praticou logo de inicio, um ato que a impôs à maior
admiração de meu pai. Tinha este dois filhos naturais, Sineval
e Alfredo. Fora um erro da mocidade, mas as crianças eram
inocentes. Minha mãe tomou conta deles, maternalmente.
1. .. ] aquele gesto de minha mãe tomando os filhos naturais de
meu pai revelava bem o duplo aspecto da sua personalidade: o
amor profundo pelo marido e o senso caritativo, prático, realista,
de uma moça capaz de compreender os dramas da existência
e de encarar os fatos com superioridade. Outro aspecto do
temperamento
e da capacidade de longa previsão de minha
mãe é o fato de haver conseguido, depois de instâncias e de
argumentações inteligentes, que meu pai consentisse em que ela
continuasse a lecionar, como professora pública. Alegava minha
mãe que a vida dos chefes-políticos é sempre incerta e termina
quase invariavelmente na desventura ou na pobreza e que, algum
Apesar da relação pessoal dos pais de Plínio Salgado não
ser o alvo da pesquisa, verifica-se na citação anterior um elem ento
fundam ental que o autor deixa transparecer: a form ação intelectual
da m ãe sob a ótica religiosa e cristã acim a de tudo. O nacionalism o,
que foi a defesa central da doutrina idealizada por Plínio Salgado,
é caracterizado com o um "nacionalism o im pregnado do espírito
cristão haurido, desde o regaço m aterno, na atm osfera religiosa
absorventes.
próprias."
52
Têm
eles
SALGADO,
SALGADO,
caráter
exclusivamente
Plínio, A Ungua
PUnio,
pessoal,
de observações
e conclusões
op. cit.. p. 212.
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
H is tó r ia d a
op. cit.
53
54
SALGADO,
SALGADO,
PUnio, Viagens ... op. cit., p. 152.
Plfnio, H is tó r ia d a ... op. cito
41
40zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
povinho de S. Bento, cuja estima por ele chegava às raias da
adoração. Essa fascinação exercida pelo chefe situacionista
chegou a tal ponto que o partido contrário, a oposição municipal,
fechou as portas. Como era possível fazer oposição a um homem
que os próprios adversários estimavam tanto? Quem conseguiria
ser opositor do cidadão que jamais exonerou de um emprego
o pai de família que lhe fosse contrário? Quem poderia dizer-se
inimigo daquele que passava as noites à cabeceira dos enfermos
e viajava léguas para acudir aos necessitados? E, dessa maneira,
meu pai tornou-se o patriarca da localidade.v'
dia, não seria impossível que, para sustentar os filhinhos, tivesse
de recorrer novamente ao trabalho. [...] As previsões de minha
mãe se verificaram 18 anos mais tarde, pois é com tamanha
clarividência, que meu pai concordou. E minha mãe continuou
a lecionar, na sua escola isolada, o que não a impedia de ser
excelente dona de casa [...] Tinha minha mãe um caráter político
muito acentuado. Sua família pertencera ao Partido Conservador,
do Império enquanto meu pai pertencera ao Partido Liberal e,
depois, ao Republicano. [...] Quando solteira, desempenhara
minha mãe o papel de secretária do então deputado provincial
Cônego Bento de Almeida.utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
55
No contexto
de um a relação entre pais e filhos, a adm iração
Um elem ento
im agem vislum brada
pelo pai, Francisco
das Chagas Esteves Salgado, e pela m ãe, Anna
utilizado para descrever o próprio Plínio Salgado no integralism o. Um
Francisca
concepção
Rennó
Cortez,
era recorrente.
desta
H is tó r ia d a m in h a
analítica, com base no m anuscrito aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
v i d a , há apenas
am or
e felicidade,
m as, obviam ente,
criar um a versão crítica para com ensurar
presente
Claro que, dentro
em relação
ao texto é oriundo
por Plínio, em 1938, ou seja, um m om ento
é preciso
essa questão. O discurso
exem plo claro de exaltação da im agem proferida pelos integralistas
ao chefe é identificado por m eio da ex-m ílitante do m ovim ento,
Augusta Garcia Rocha Dorea, autora do livro: P l i n i o S a l g a d o , u m
a p ó s t o l o b r a s i l e i r o e m t e r r a s d e P o r t u g a l e E s p a n h a , obra dedicada
criada
ao pai: ''Antônio Prado Garcia, que m e ensinou a adm irar e venerar
à experiência
Plínio Salgado.?" A im agem de veneração e exaltação cega foi um a
de um a im agem
posterior
política vivida no integralism o. Dessa form a, analisa-se que o autor
característica
criou um contexto
corroborando
sobre a fam ília de propagação
de extrem a im portância, encontrado
nessa
do pai e da fascinação pelo chefe, pode ser
da felicidade e do
recorrente
na relação do líder com seus seguidores,
com a teoria desenvolvida
por Etienne La Boétie, no
na obra D i s c u r s o d a s e r v i d ã o v o l u n t á r i a em
m odelo perfeito a ser seguido, im agem que tentou delinear sobre a
século Xv],
sua figura com o chefe do m ovim ento político.
Estrategicam ente,
o autor sem pre fez questão
que afirm a: "são os próprios povos que se deixam , ou m elhor, se
fazem dom inar",58 contribuindo, assim , para o poder do tirano, ou
um a im agem rom ântica
principalm ente
e ao m esm o
tem po
de criar
pura de sua história,
quando envolvia os pais. Um dos objetivos de Plínio
presente
seja, Plínio Salgado utilizou de elem entos
e m essiânicos de fundam entação
discursivos salvacionistas
cristã e nacionalista, para criar um
na vida pública foi criar um a concepção política de unidade com base
grupo social de seguidores que contribuísse
no integralism o,
Brasil.
elem ento
do autor. A pretensão
chave do processo
era form ar
Integral e, um ponto im portante,
de form ação
o que denom inou
nesse m om ento,
política
O elem ento cristão, herança que Salgado relata ter recebido
por Estado
é a inexistência
para a sua liderança no
de sua m ãe, foi um dos sustentáculos
da política pliniana em todo
de oposição na utopia integralista. Para Plínio Salgado, a sociedade
o século XX e m ais um a vez no seio fam íliar pode-se
una, integral e forte teria o controle
efervescência
natural ou pela força, qualquer
social im pedindo,
tipo de elem ento
de form ~
oposicionista.
E
Do ponto de vista religioso, marido e mulher eram católicos,
sendo esta mais fervorosa e aquele mais afastado dos deveres,
aos quais se subordinou inteiramente, muito mais tarde, dois
essa a visão que o autor tem do pai, coronel Francisco Esteves:
o prestígio político de meu pai, no Norte do Estado, foi muito
grande. Decidia da sorte de deputados e senadores e jamais
pretendeu ser coisa alguma. Contentava-se em bem servir ao
56
SALGADO,
57
DOREA. Augusta
P o r tu g a l
55
SALGADO,
Plínio,
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
H is tó r ia d a ... op. cit.
verificar a
católica:
58
e E spanha.
Plínio,
H is tó r ia
d a ...
Garcia Rocha.
op. cit.
P lín io
S a lg a d o .
um
a p ó s to lo
b r a s ile ir o
em
te r r a s
de
São Paulo: GRD. 1999. p. )01.
LA BOÉTIE. Etienne.
D is c u r s o
d a S e r v td ã o
V o lu n tá r ia .
São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 14.
43
42utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
anos antes do seu falecim ento. Quanto, porém , a virtude cristã
da caridade, o fervor de sem pre foi igual em am bos."
denom inada: aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
P o e m a s d o s é c u l o t e n e b r o s o = Essa obra foi
poem as
divulga da sob o pseudônim o
Antigo
Na narração
um
ato
divino
poético,
em
que chegou
Salgado
form a
de seu próprio
que
se coloca
à terra. Em
teve um a preocupação
subentendida,
m essianism o,
nascim ento,
com o
vários
um a
tratando-se
verificar
espécie
m om entos
de ser
da vida, Plínio
de se auto-divinizar,
pois o discurso
m esm o
pode-se
m as, de_ um a
era de constante
aversao
ao
Testam ento,
para profetizar
Por um a bela m anhã de terça-feira, de claro sol e céu azul, m inha
m ãe sentiu qualquer coisa anorm al [...] M andou cham ar a parteira
[...] M eu pai acorreu nervoso [...] Anunciam a m eu pai que nasceu
um m enino. Vinha ele radiante por ver o seu segundo filho, vivo
e forte, quando batem à porta. Era um dos m endigos habituais.
M eu pai com espanto do pobre hom em leva-o para a sua m esa,
coloca-o à cabeceira, m anda abrir um a garrafa de vinho e troca
um a saúde com o pobre. Este estava cada vez m ais perplexo.
Ao term inar o alm oço m eu pai entrega ao m endigo um a nota
de cinquenta m il réis e diz-lhe: - Você foi o conviva que Deus
m andou para festejar com igo o nascim ento de m eu filho; leve,
pois esse presente e peça a Deus para que m eu filho seja am igo
dos pobres e dos infelizes. 60
Por
restando
ser
algo
intim idade,
não
com o da referência
é justam ente
sua história.
em determ inados
concedida
com o
a um a
Esta
afirm ava;
pois, após a m orte
em Portugal
o doutrinador
enam orado
durante
católico,
será recorrente
colocou-se
com o
e, ele próprio,
profeta,
condutor
dos povos,
diversos outros
No ano de 1961, Plínio
adjetivos
Salgado
e rótulos
lançou
discurso
de doutrinação
da prim eira
passaram
sem pre
leitura de poucas
esposa, M aria Am élia, as
a ser desenvolvidas.
deveria existir, m as o docum ento:
um a com posição
além de não ter tido a preocupação
particular;
com a publicação,
pessoas, um a vez que, segundo
própria
pois,
à
chegou
anotação,
não seria jam ais publicada, já que o rascunho é um a espécie de
diário de vida, sem ter a pretensão de atingir um leitor específico.
A im agem
de profeta,
presente
na identidade
prim eiro
m om ento,
líder e doutrinador
que o discurso
com o única pretensão,
autor acreditava
político
atingir aos "inseguros"
esteve
em um
analisado,
não
brasileiros,
ou seja, o
ser o líder dos povos, m as essa liderança
tem ,
não teve
hom ogêneo.
A pesquisa
vivida
dos povos sem pre
de Plínio Salgado. Isso dem onstra,
não
enxerga
a história
pois, em vários m om entos,
e criações,
ocorreram
m udanças.
dentro
de acordo
Todavia,
de um a
a presença
do forte e autoritário
recorrente
em todo o processo
nacionalism o
noção
com a situação
a existência
um a sólida base fam iliar é vista em todo o m om ento,
de
um a vez que
na ótica católica foi
da vida política do autor.
Sonho! Essa fantasia, ilusão, desejo e aspiração é um elem ento
constante
nas
explicações
portador
Salgado.
M uitos
sonhos
um a coletânea
judeu; lá
obra doutrinária,
com o fez dezenas de
de atingir um leitor específico, ou seja, o
rom eiro
religiosos.
do povo
e em que ensinava a Lei. Segundo
recebeu diversos sinais da ação de
H i s t ó r i a d a m i n h a v i d a apresenta
o exílio." local em que era tratado
um
de Cristo, cavaleiro do Verbo, um ilum inado,
da Verdade, dentre
definição
e espirituais
Ao escrever um a
vezes, teve a preocupação
form alista;
criada
aquele que foi cham ado
babilônico
Deus, com o a m orte da esposa, da m esm a form a que Plínio Salgado
prova
paternais.
essa visão m em orialística
im agem
m om entos,
há
ao nascim ento,
o relato da própria criança por m eio de m em órias
M as, o que im porta
sobre
relativo
de tais inform ações,
que em um dos livros do
com o
o cativeiro
fundou um a escola de profetas
as escrituras sagradas, Ezequiel
um discurso
docum ental
durante
ações políticas
com o tal:
de Ezequiel,
é denom inado
62
principalm ente
de
m aterialização
quando
de atitudes
foram
havia
de um discurso
e justificativas
identificados
por
a necessidade
da
Plínio
de Plínio
Salgado,
consolidação
e
cristão:
Alguns dias depois do m eu nascim ento, estava ainda m inha m ãe
deitada, tendo pedido que lhe pusessem o filho ao seu lado, na
Plínio,
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
H is to r is d a
op. cit.
59
SALGADO,
60
61
SALGADO, Plínio, H is tó r ia d a
op. cit.
Definição criada por Alberto de Monsaraz
Integralismo Lusitano.
62
Cf. GONÇALVES, Leandro Pereira, op. cito
(Conde de Monsaraz),
um dos líderes do
63
SALGADO,
Plínio (sob o pseudônimo
Janeiro: Clássica brasileira, 1961.
Ezequiel). Poemas do século tenebroso.
Rio de
44zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
mesma cama, quando adormeceu profundamente.
Em sonhos
apareceu-lhe a velhinha sua protegida, que se acercou do leito e
lhe disse: 'Vim contar à senhora que eu morri e vim lhe dizer que
Deus atenderá ao pedido que a senhora me fizer'. Em seguida,
a velha, olhando para mim, disse a minha mãe: 'A senhora vai
perder esse filho, quando ele ficar moço; ele não viverá'. Minha
mãe, desesperada, respondeu-lhe: 'pois se eu posso pedir uma
graça por seu intermédio, peço que o meu filho viva'. A velhinha
sorriu, atendendo, e minha mãe despertou. Mas o fato é que
minha mãe, já desperta, mandou uma pessoa à casa da velhinha,
que se chamava Maria Clara, a ver o que sucedia. Encontraram
a choupana fechada e corvos pousadores na cumieira. Algumas
pessoas resolveram arrombar a porta e deram com a velhinha
morta e já em estado de adiantada putrefação. Minha mãe ficou
horrorizada [...] Lembro-me das aflições de minha mãe quando
atingi a puberdade e da alegria com que ela festejou os meus
21 anos.utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
É que o sonho de outrora atormentava o seu espírito."
o
Salgado;
cotidiano
religioso
ele foi criado
im agem
de Jesus
analisar
o episódio,
era algo rotineiro
dessa form a,
Cristo
e adorar
retrata-o
com o
45
geraçõe~, que estão nascendo e às quais teremos
um Brasil. Que Brasil? O futuro sorri nos berços."
Alé~ ~a visão religiosa, observa-se um discurso paternal por
par,te de Plínio Salgad.a ao proclam ar que o Brasil é um a criança que
esta no berço, ~ecessItand~ de alguém para criar e educar a nação.
Com o a educaçao Ideal terra que possuir o cam inho e a defesa dos
dogm as
para glorificar
constantem ente
um "m ilagre"
a
o Senhor.
Ao
e enxerga,
de Deus,
esse, a necessidade
da Pátria,
licito em pregar
Defensor
de: "praticar
em
da Fanúlia
e da Hum anidade,
m al o que Deus concedeu
de um a pregação
religioso, afirm ava:
politica
centenas de m ilhares de brasileiros.t''"
profere
pois não m e é
aos que m e estim am .v'"
de cunho
cristão,
"Fala, pela m inha voz, o sonho
É um ritm o de m archa da juventude
profético
boas obras no serviço
do Brasil.
com
apelo
de um a Nação.
É a com unhão
de
Na visão cristã, o m essianism o
que:
Deus me vê e só Ele sabe do meu grande sonho, que é despertar
os meus patrícios para que eles construam a Nação que devem
legar aos filhos e netos. [...] Meus patrícios! Vós sois a procissão
dos desencontros. [...] O problema da ordem não é um problema
de polícia: é um problema de cultura. [...] entrego à justiça da
História. [...] E é um engano pensarmos que o futuro virá ao nosso
encontro, porque ele vem detrás, é a nossa retaguarda, são as
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
H is tó r ia d a .. op. cit.
64
SALGADO,
Pllnio.
65
SALGADO,
Plínio,
H is tó r ia
d a ..
op. cit.
66
SALGADO.
Plínio,
H is tó r ia
d a ..
op. cit.
essa foi a base do desenvolvim ento
politico
do
superior [...] um a diretriz de
espiritual.f
Sob o. signo espiritualista [...] entram na sua composição fatores
modificativos, como sejam a bondade, a solidariedade humana
o anseio de aperfeiçoamento
moral, o predomínio do senso
estético e religioso, os sentimentos de Pátria de Família de
renúncias, de pequenos sacrifícios glorificadore~.69
'
Para Plinio
Salgado,
no Brasil, havia reflexos
do sacrifício
a
~vino. 70 .De~sa form a, é na lição de Cristo que se encontra
verdadeira linha ?o estado, da sociedade, da fam ília e do hom em ,
segundo
A
atos com o
cristãos,
auto: que afirm ava ter no pensam ento
finalidade hum ana de aperfeiçoam ento
na vida de Plinio
foi educado
de entregar
."
essencia'.
suas finalidades
71
P
ara o autor,
próprias,
seus lim ites próprios
o "conceito
cristão
,
sua própria
da vida deve ser o
dos eq~ô~ios
perfeitos. É preciso conhecer o Hom em , a argila
de que e feito, a sua finalidade superior [...] rum or de um a Nova
Nacionalidade.v"
A concepção
cristã, presente
na doutrinação
de Plinio
Salgado e oriunda da criação fam iliar, teve ponto alto no exilio
em P?rtugal; m as, para prom over um a m elhor com preensão
da
reflexao, proposta, recorre-se a obra aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
V i d a d e J e s u s . A obra que foi
um fenom eno
eu: Portugal e, posteriorm ente,
teve um a zm pressronanrpropagação, chegando
.67
em outros países,
a ter destaque em
S_ALGADO, Plínio. Aos que soffrem a dor dos desencontros.
1935. p. 9-10.
In: __
o
A d o u tr in a
do
S i q m e . Sao Paulo: Hevista dos Tribunais,
68
SALGADO,
op. crt., p. 170.
Plínio,
°
grande rythmo da Nação. In: __
o
Despertemos
a Nação ...
=:
te m p o s
o in te g r a lis m o .
4. ed. Rio de Janeiro: Schmidt, 1937. p. 39.
SALGADO, Plí~io. O
SALGADO, Plínio. Oraçao de Natal da Patria-Creança. In:__
. P a la v r a n o v a d o s
n o v o s . RIO de Janeiro: José Olympio, 1936. p. 93-94.
12:. 1
SALGADO,
Plínio, Carta de Natal e fim de ano. In:__
.
P a la v r a
n o v a ... op.
cit., p.
72
127.
SALGADO,
Plínio, Carta de Natal e fim de ano. ln: __
.
P a la v r a
n o v a ... op.
cit., p.
69
70
46utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
47
diversas notícias, periódicos, conferências e leituras públicas. Em
identificar o teor do relato:
1964, foi lançada um a edição especial, a 19" em língua portuguesa e,
com o se tratava de um a aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e d i ç ã o d e l u x o , o autor escreveu um texto
Desde cedo, rejeitei as camisolinhas de seda, os vestidinhos
introdutório denom inado: P e q u e n a h i s t ó r i a d a V i d a d e [ e s u s ." Ao
que me davam aspectos de menina. Aquilo me revoltava porque
explicar a origem do livro descreve: zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
desejava ser um homem. E quando algumas pessoas, achando
A minha vida, entretanto, era a do homem comum dos rapazes
na exuberância primaveral, quando nada mais se considera senão
da própria vida. Certa noite tive um sonho que me foi decisivo.
Encontrava-me em escura curva de estrada, em plena floresta.
Ao me aproximar do local onde corria cristalina fonte a serpentear
serra abaixo, eis que me surge alguém. A túnica branca, o sorriso
paternal e amigo, os braços abertos, a caminhar na minha direção.
Reconheci o Mestre e despertei. Acordado, perguntei-me: por
que veio. Ele a mim, tão indigno? Respondi-me: Ele costuma às
vezes escolher os piores para algum serviço. E me convenci de
que o serviço deveria ser feito. 74
Com o pode ser observado, o autor fez uso de recursos
religiosos para prom over e desenvolver determ inadas teorias.
A influência fam iliar foi m arcante na criação e lem branças do
jovem Plínio Salgado que delegou à fam ília a causa deste intenso
cristianism o predom inante em seu discurso:
Aquela igreja, de cuja comissão construtora fez parte meu avô,
em 1849, e que abrigou, desde então, a imagem de São Bento
trazida da Guarda Velha em 1828, lembrava-me que esta fé
religiosa, este amor ao Cristo que vive em mim, foi certamente
fruto do ambiente familiar em que respirei desde que abri os
olhos à vida. 75
impossível a naturalidade do frescor rosado de meu rosto
passavam o lenço úmido em minhas faces, para verificar se
minha mãe me pintava, eu ficava indignado."
.
Há, no discurso de Plínio Salgado, um a visão de virilidade,
p01S esse texto foi escrito em 1938, quando tinha 43 anos. Relatou
sobre os seus quatro anos e expôs um a fala forte e intensa, não
adm itindo, em hipótese algum a, ser taxado de m enina. A revolta era
natural; pois, naquele m om ento, a criança buscava um a definição
sexual para sua vida. Entretanto, a questão a ser notada, quando se
escreve 1SS0aos 43 anos de idade, é que dificilm ente alguém tem
um a visão racional e m aterializada de um a com posição tão natural
com o essa. Torna-se necessário notar que as m em órias do autor
correspondiam a um a necessidade da época de buscar elem entos
profundos, tanto para o desenvolvim ento doutrinário na política,
com o na busca e afirm ação da virilidade para o engrandecim ento
de sua im agem .
Quando escreveu H i s t ó r i a d a m i n h a v i d a , Plínio Salgado
estava passando por um m om ento de definição em relação à
carreira política; pois, com o golpe de novem bro de 1937, Getúlio
Vargas fechou todas as agrem iações políticas, inclusive a AIB.
Posteriorm ente, ocorreu o Levante Integralista em m aio de 1938 e
as~i~ iniciou o período da ilegalidade do m ovim ento e o posterior
exílio. Ao relatar este período na P e q u e n a h i s t ó r i a d a V i d a d e J e s u s
disse o autor:
'
Fazendo-se de vítim a, afirm ou que a infância foi um tanto
quanto solitária e, os prim eiros anos de vida, m arcados por um a
certa tristeza. Em H i s t ó r i a d a m i n h a v i d a , faz um a espécie de
desabafo e, após escrever sobre sua infância, o autor riscou partes
dos parágrafos, elim inando-as do texto, m as ainda assim é possível
°
73
de Jesus
texto foi publicado
em: SALGADO,
originalmente
Plínio.
A im a g e m
como apêndice
d a q u e la
n o ite :
em 1946:
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
C o m o e s c r e v i a V id a
e outros escritos.
1947. p. 85-99. Em 1964, sofreu uma ampliação para a edição citada da obra
74
SALGADO,
op. cit., p. 10-11.
75
SALGADO,
Plínio, Pequena história da Vida de Jesus.
Plínio, Viagens ... op. cit., p. 152.
In:
Que me faltava agora, ao cabo de todos os longos anos? Apenas
tempo e solidão. Os dois instrumentos me vieram. Em 1938,
ocorreram acontecimentos
políticos de estrema gravidade.
Perdi os contatos numerosos, a complexidade dos convívios.
Mergulhei em mim mesmo. E resolvi, finalmente, escrever o
meu sonhado livro."
Lisboa: Gama,
V id a d e J e s u s
V id a d e J e s u s ...
76
SALGADO,
77
SALGADO,
oo. cit., p. 14.
Plínio,
H is tó r ia
d a ...
op. cit. (trecho riscado pelo autor).
Plínio, Pequena história da Vida de Jesus. In:
V id a d e J e s u s ...
49
48
com a correta, passou a ser o alvo de sua vida. O garoto solitário teve
iniciava a escrita do livro aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
V i d a d e J e s u s , estava no
Enquanto
processo
de desenvolvim ento
v i d a . Verifica-se
para
Em
do íntim o
infantis
e cotidianas
seguida, iniciou
por um estrondoso
diversos
debates
existenciais
o desenvolvim ento
um a
auxílio
de paternidade
cristã.
em pleno período
Guerra
é verificada
no relato
realizado
em 1938, um a vez
com o algo conduzido
"pelas exigências
para as quais a presença
do passado no
e nacionalistas.
questões
aldeia próxim a,
enxergar-se
m inha
a sua idade e ele não aceitava brincar
m em orialístico,
virilidade im portante
com
com as prim as.
o objetivo
com
Observa-se
de construção
de um a
para a força política do integralism o:
não era do meu agrado porque meus brinquedos eram mais
viris. Tive de criar todo mundo para me mover. Talvez isso, sem
que meus pais percebessem, tivesse influído poderosamente
no meu destino. Depois, meu pai falava-me, de vez em quando,
em coisas qraves." Conta minha mãe que, meses após o meu
nascimento, achava-me eu sentado na cama larga brincando com
chocalhos, quando meu pai entrou e me disse, como se falasse
a um homem feito: 'Ei meu rapaz: quero lhe dizer uma coisa: se
você for um homem de bem, um brasileiro digno terá a amizade
de seu pai, se, porém, você não andar correto, não serei seu
amigo'Dizia
minha mãe que eu não entendi naturalmente as
palavras, mas parecia compreender o timbre da voz de meu pai,
porque olhei-o muito espantado e pus-me a chorar."
Visualiza-se
essa passagem
destino de sua vida: a necessidade
com o um elem ento
essencial no
de criar um a história, vista por ele
m ovim ento
CHARTIER. Roger. 2007. op. cit., p. 24.
A partir deste trecho as frases estão riscadas.
80
SALGADO.
Plinio.
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
H is tó r ia d a ... op. cit. (trecho riscado pelo autor).
nas concepções
foi crescendo;
m as,
teve que prom over
um a
de
form a
im ediata,
por
sofrido
isso na
na m inha vida cheia de dores porque
não é m á, m as não se entende ..." 81 Com o
de utopia,
integralista.F
Esse fato o fez, m ais um a vez,
não ocorreu
naturalm ente,
a saída vista por ele passava
pois
a ser o
m arca central que esteve presente
Plínio Salgado dizia que "quem
jam ais saberá com andar
e o integralism o
Na perspectiva
no
não sabe
é tam bém
disciplinadora,
um a
elem ento
oriundo da criação paterna, afirm ava: "Que a nossa disciplina
rígida e o Chefe seja intransigente na sua m anutenção.?"
Foi em Candelária
organizações
para
foram
políticas,
o entendim ento
dados
à necessidade
social.
Os
de m edo
prim eiros
da disciplina
passos
de Cândido
Salgado;
fam iliares,
inclusive
81
SALGADO.
82
Vale destacar
H is to r is
assim ,
brigas
d a ...
não aponta
Plínio. Palavras ao sol dos mortos.
Plínio.
H is tó r ta
d a ...
"Foi
no m eio
com o um exílio
entre
os
ter visto um casal
op. cit.
que a investigação
para a presença
oo. cit.
de concepções
na infância auxiliaram
SALGADO. Plínio, Sentido e rythmo da nossa revolução.
op. cit., p. 29.
SALGADO.
M endes:
constantes
os pais. Dizia nunca
na infância, mas que valores transmitidos
84
SALGADO.
195-196.
85
Plínio.
causando,
entre
e form a
educacionais
que lá entrei, m uito pequenino,
de tantos alunos.v'" A aldeia foi vista e identificada
da fam ília
seja
que Plínio Salgado afirm ou ter as prim eiras
devido
em um a escola particular,
com um pouco
integralistas
movimento
a
de autoridade
fam iliar: "Tenho
da hum anidade
escola de com andantes.l''"
83
79
carreira,
uso de um a força autoritária,
S I9 m a ...
78
Candelária.
a hum anidade
era um elem ento
obedecer
o que
cham ada
atorm entada
o entendim ento
não regulavam
saindo
através do sofrim ento
infelizm ente
um a vez que os irm ãos
form ado
ideia, o garoto
Francisco
que,
são levados durante
políticas locais, de São Bento do Sapucaí, e indo para um a
com
um autor
Nessa
por volta de 1905, o coronel
presente é um elem ento essencial da construção do seu coletivo"."
Plínio Salgado relatou ser solitário na infância, dizia não ter
brincar,
nacionalistas
de sua infância
vida e entende-se que ele cam inhou com sentim entos
devido ao seio fam iliar pelo qual foi criado.
Com o passar dos anos foi sendo
a
que era o padrão
discursos
ou irracional,
M undial. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
m udança
com toda a fam ília,
É possível identificar a causa de
das com unidades
quem
forte e disciplinador,
e que realizava
de form a subentendida
cristãs
de guerra.
em que se deflagrava
da época
capazes de m exer com a criança. Há aspectos
m esm o
vez que buscou
da obra, que foi m arcada
em 1942, m om ento
valorizações
que a m em ória
é de grande
na ótica fam iliar nacionalista
sobre o cristianism o
Grande
determ inadas
do autor,
d a m in h a
sucesso no m eio católico da época, prom ovendo
O livro foi lançado
Segunda
H is tó r ia
que essa fase de introspecção
a com preensão
lem branças
do m anuscrito
ao seu lado um pai autoritário,
In: __
In: __
.
C a r ta s
a formação
.
A
a o s ...
d o u tr in a
do
do
op. cit.. p.
51
50
discutir
tanto, m as relata que o am or pela m ãe e a adm iração
pai não deixaram
nunca
verificar os valores carregados por Plínio Salgado.
Foi no "exílio", com a m ãe, que teve as prim eiras
de História
do Brasil e de poesias
prom overam
o desenvolvim ento
com ponente
central do discurso
nacionalistas,
para
expressões
que
vez,
estava
presente
e, Plínio
Salgado se colocava com o aquele que tinha a m issão de salvar o povo
m em órias
e suprem a
plinianas. Ao relem brar
na sua doutrina
os estudos
infantis
Esteves
o garoto
de
para
Salgado
de voltar para S.
em tram as partidárias'V''
Plínio
na escola da fam ília e o
Livro, quando
estava
inserido,
avô m e pôs nas m ãos
um a
desenvolvim ento
vez que havia um
do intelecto.
um Terceiro
Livro/""
anos de atividade,
alguns m om entos,
o m enino.
m ão à escola pública
espaço
de Antonio
era quem
Porphírio
difundido
na
geográficas
do Brasil com a intenção
a
cham ada
chegou
ao
acom panhava,
o
com
em
da Silva, conhecido
grandiosidade
extrem o
brasileira,
em um projeto
de história
geraçã0 91
(principalm ente
dos educadores
na
da cidade. O ufanism o,
ao
de sem pre
inseridas
m om entos
para
"Dias depois, m eu pai m e levava pela
cidade por Tonico Elydio",?" um intelectual
infância,
propício
O avô, que era m estre-escola
m ais de quarenta
criar
ideias
de ensino
análises
buscar explicações
que
estavam
recorrente
em um a
da fam ília) dos prim eiros
do século XX.
Agora me sinto mais brasileiro. - S i m , diz-me o rio sagrado da
Pátria - nosso patrício, o Amazonas, a mãe dele se chama Lagoa
Titicaca e o pai dele se chama Solimões, porque o Amazonas
nasce na Bolívia, depois é que se naturaliza brasileiro. Gostou
tanto de ser brasileiro, que enqordou."
nas
A fam ília sem pre
e valores
com
a form ação
veio dos pais que foram
os grandes
m odelos
de Plínio
88
SALGADO,
Plínio,
H is tó r ia
da
op. cít,
89
SALGADO,
Plínio.
H is tó r ia
da
op. cito
90
SALGADO,
Plínio,
H is tó r ia
da
op. cito
91
Neste sentido conferir a reflexão proposta por José Murilo de Carvalho, que analisa
CARVALHO,
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
teve um a preocupação
intelectual do garoto, m as sabe-se que grande parte do conhecim ento
a necessidade
Plínio, H is tó r ia d a ... op. cit.
Plínio, G e o ç r e tie . .. op. cit., p. 15.
m eu
A figura do avô representou
um com ponente
de fortalecim ento
no entendim ento
do am biente
cultural em que Plínio Salgado
disse:
outro. Felizmente, tínhamos o lquaçu."
SALGADO,
SALGADO,
Francisco
curado da política e em condições
Bento, sem correr o risco de o envolverem
político
retom aram
política. A
do Brasil era recorrente
Só mesmo o mapa, Brasil, posso apanhar-te inteiro. Quando
menino, impressionavam-me
teus rios e montanhas que eu
fazia com lápis marrom como fileiras de carrapatos. [...] Ficava
triste porque não podia espichar o Itatiaia até a altura do Everest.
ou, pelo menos, dá-Io como uma montanha descente de seus
quatro ou cinco mil metros ... Sentia não termos um vulcãozinho,
e consolava-me com a hipótese de que, em outros tempos, já
houve um ... A Niágara e o Mississipi ganharam minha grande
antipatia, quando aprendi o volume de uma e a extensão do
86
87
o m olde
do "exílio",
do Sapucaí, já que o coronel
"se considerava
para
o m essianism o
constante
depois
de um a m em ória de am or à pátria,
m enino continuou os estudos: "Causei, no entanto, m uita surpresa
pliniano: zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
aos m eninos grandes, que ainda liam a Cartilha ou o Prim eiro
brasileiro, sendo esse o discurso presente
ideia de exaltação
que geraram
tem po
O pai m atriculou
morto para os lábios vivos!"
um a
ufanistas
Plínio Salgado. Pouco
São Bento
lições
Comecei a ter uma ideia do Brasil, minha Pátria. Meu pai falava
de grandes homens, de acontecimentos que se tinham dado, de
belas cidades e vastas extensões territoriais. E tudo para mim
tinha o encanto das revelações e das descobertas [...] Certa
manhã, estava eu ainda deitado, quando escutei um realejo
tocando o Hino Nacional. Pulei da cama e corri a porta de nossa
casa. Era um pobre cego l. ..] Toda a alegria da vida cantava em
torno de mim. Toda a evocação dos heróis perpassava na minha
memória [...] É também simbólico o Hino Nacional tocado por um
cego e num realejo! Não era a própria imagem do povo brasileiro
que me era milagrosamente revelada? O meu destino seria abrir
os olhos desse povo transpor a música sagrada do instrumento
M ais
São m atrizes
pelo
de existir. Essa relação é im portante
de obter um discurso
José Murilo.
Paulo: Companhia
92
SALGADO,
A
fo r m a ç ã o
de grandiosidade
das
a lm a s .
das Letras, 2005.
Plínio,
G e o g r a fia ...
brasileira no princípio
o imaginário
op.cit., p. 124.
da república
da República:
no Brasil. São
53
52
Salgado. Com o passar dos anos, Plinio foi se dese~volve~do
até despertar os prim eiros efeitos jornalisticos em brincadeiras
fam iliares em que ele redigia de form a m anuscrita "jornais de
bolso".
Com o desenvolvim ento intelectual do m enino, o coronel
Francisco m atriculou-o na Escola Parochial e relatou que, nessa
fase, o aprendizado da História do Brasil, aliado ao catecism o, foi
m ais intenso. A escola, depois de um tem po, fechou e Plinio iniciou
o estudo com a m ãe, em casa. Passou ainda por outras escolas, até
que, depois da rem oção da escola do professor João Galvão, iniciou
um período de "vagabundagem infantil"."
Plínio Salgado relatou questões relacionadas aos estudos,
principalm ente no que diz respeito à História do Brasil, pois foi
justam ente nessa análise que ele desenvolveu sua doutrinação
politica, m as em pouco tem po retom ou os estudos com início do
curso secundário: zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Inicialmente no Externato São José, dirigido por José Maria
Calazans Nogueira, que me deu sólida instrução, sobretudo
de matemática, latim e os clássicos do nosso idioma. Estudei
depois em Pouso Alegre, onde fiz o então chamado curso
de humanidade que correspondia,
globalmente,
aos atuais
secundário e científico."
Em Pouso Alegre, estudou no Ginásio Diocesano e, até
os 16 anos, sem pre foi ativo nas atividades culturais, religiosas e
até m esm o esportivas, m om ento em que sofreu com a m orte do
pai, no ano de 1911. 95 Com o falecim ento do coronel Francisco
das Chagas Esteves Salgado, foi obrigado a abandonar os estudos,
tornando-se autodidata e, posteriorm ente form ando-se professor
secundário. Esse foi um período de incertezas para Plinio Salgado
e, enxerga-se, no fator m orte, m arcas de transform ação e evolução
do pensam ento pliniano.
O autodidatism o fez com que iniciasse de form a rápida
a carreira jornalistica, dirigindo o jornal aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
C o r r e i o d e S ã o B e n t o ."
Fundado
em 1916, o periódico - que se definia com o f o l h a
e tinha o autor com o redator, ao lado do proprietário
e cunhado Joaquim Cortez Rennó Pereira - realizava um a m escla
editorial: a m arca do intelecto de Plinio Salgado, entre cultura e
politica. Na edição de 02 de julho de 1916, o editorial teve com o
título F i t a s o r ç s m c n t é i i s s " em que analisou e criticou determ inados
rum os das finanças locais. Ao m esm o tem po, textos poéticos
foram im pressos.
essa edição, encontra-se um a das prim eiras
publicações ficcionais com efeito realista do autor: U m e x p e d i e n t e
d o X i c o R o m i i o '" Chico Rom ão era escrivão do júri em São Bento
do Sapucaí e, em H i s t ó r i a d a m i n h a v i d a , foi definido com o o
detentor de um a clarineta fam osa no fim das m issas e das rezas na
igreja da m atriz. Era pai de Adaucto, colega de escola: "corria, logo
que term inava a aula, para nossa casa, e brincávam os até a noite". 99
esse conto, podem -se observar algum as particularidades de
sua obra. Com o era redator do jornal, criava pseudônim os e pequenas
ficções em alguns textos. O conto citado foi indicado " p a r a c r i a n ç a s
m a i o r e s d e 6 0 a n o s , t r a d u z i d o d o i n g l ê s " e a assinatura é designada
ao "O T r a u t ó Z é M a c i é ( d o t á ) " . Eram form as particulares que
criava para definir certas críticas a valores da sociedade: nesse caso
a hegem onia inglesa, em um a crítica absoluta ao im perialism o e à
influência de elem entos culturais exteriores. Dessa form a, escreveu
o texto, m as, ficcionalm ente, delegou aos ingleses a origem textual
para criar um a espécie de credibilidade junto ao leitor. Tais questões
de críticas ao im perialism o foram alvo de análises do autor em
m om entos seguintes, sendo transform adas em um dos pilares do
m ovim ento integralista.
o ano de fundação da AIB, afirm ou:
"O im perialism o econôm ico não tem Pátria", 100 dessa form a não
possuía ''Deus, que subordina o personalism o ao individualism o
e este coletivism o, é hoje o grande im pulsionador das forças
in d e p e n d e n te
versos que fazia. Mas a minha vida de escritor,
anos, quando redigi um jornalzinho
SALGADO,
na realidade,
Plínio. O escritor que havia em mim empolgou
ao microfone
de Rádio-Renascença
principiou
talvez aos dezoito
de província e realizei as minhas primeiras conferências."
(transcrição
o meu destino: disse Plínio Salgado,
do programa radiofõnico).
N o v ld a d e s ,L is b o a ,
16 fev 1946.
93
Plínio.
94
SALGADO.
Plínio,
95
96
TRINDADE. Hélgio. op. cit.. p. 36
No ano de 1946. concedeu entrevista
H is tó r ia
da
op. cit. (anexo).
período em São Bento do Sapucaí. afirmou:
vida. vejo-me
97 Fitas orçamentárias.
Sapucahv, 02 jul. 1916.
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
H is tó r ia d a
op. cit.
SALGADO.
98
Romão.
ao jornal
"Evocando
N o v id a d e s
de Lisboa. Ao relembrar o
os mais remotos
na infância, desde os sete anos, a deliciar-me
tempos
da minha
com as composições
e até os
SALGADO,
C o r r e io
de
C o r r e io
de
S.
Pllnio. (sob o pseudõnimo
S.
99
SALGADO,
Pllnio,
100
SALGADO,
Pllnio. Imperialismo
H is tó r ia
Rio de Janeiro: José Olympio,
d a ...
independente.São
Bento
O Tradutô Zé Macié) Um expediente
folha independente,São
B e n to :
folha
B e n to :
do
do Xico
Bento do Sapucahy, 02 [ul. 1916.
op. cit.
e democracia.
1934. p. 108.
In:
O
s o ffr im e n to
u n iv e r s a l.
54
55
econôm icas
predom inio
universais
no
sentido
m aterialista
do
em face do Estado, que ele pretende
preceitos construídos
seu absoluto
ações futuras, tendo a corroboração
aniquilar.?'?' São
ainda em São Bento do Sapucaí, que fez parte
da política pliniana no teor do integralism o
do discurso da m ãe: "Quando
[00'] m inha m ãe costum ava dizer-m e que de quatro
eu era m enino
m odos, um hom em se faz notável, engrandecendo
sua pátria:
pela ciencra, pela arte, pelas arm as e pela santidade."106 Foi nessa
brasileiro.
O conto publicado no aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
C o r r e i o d e S . B e n t o tem com o enredo
concepção, por m eio desse quarteto que o político e escritor iniciou
,.
d e um estu d ante c h am a d o ''A genor, po b zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a hi stona
re com o Jo b"102
um a sólida form ação nacionalista e conservadora-cristã.
e crê-se falar dele próprio, um a vez que se colocou com o m uito
A literatura, que foi a prim eira ação intelectual do autor,
pobre após a m orte do pai, sendo, nesse m om ento, que iniciou a
é aliSO que perm eia o cotidiano das sociedades e possui singular
relação com aquela que viria a ser a prim eira esposa, M aria Am élia
atividade em sua form ação e na sua relação com a cultura política:
Pereira "filha de ilustre fam ília sarnbentista't.I'" No conto diz que
o rapaz:
A noção de cultura política ajuda o autor a configurar esse
fenômeno unificador, na medida em que ela faz referência a
uma matriz geral, a significados comuns compartilhados e a
formas concretas de sociabilidade e comunicação, sendo que os
Intelectuais, apesar das diferenças, são vistos como um único
grupo, que existe em função dos interesses e valores da geração
a qual pertence. A cultura política é interpretada, portanto, como
algo que é constituído por um dado grupo, do qual é, ao mesmo
tempo, constituidora.r"
Apaixonou-se por uma jovem, filha do opulento negociante
Bumbães [...] hesitava, o rapaz, em pedir a mão da donzela,
temendo e com razão a recusa paterna. Resolveu, pois, consultar
a tal respeito, o seu vizinho Xico Romão, procurador de partes,
homem de grande senso prático, astuto como Ulysses e
fertilíssimo em expediente. 104
Criou
um a
form a
particular
de
escrever
seus
textos,
m esclando ficção com aquilo que enxergava com o realidade e tendo,
com o base de inspiração, o cotidiano e experiências pessoais. Dessa
form a, percebe-se
que é de utilidade
do autor, um a vez que o processo
avaliando sem pre a produção
representação
dos grupos com os quais dialogam , colocando-se
em conflito ou partilhando
seus anseios políticos-culturais.
São questões
com o
essa, que estiveram
presentes tanto nos sim ples textos do C o r r e i o d e S ã o B e n t o
em docum entos
e s t r a n g e i r o ,1 0 5
m ais rebuscados
m arcando
e intensos
todo o processo
ao seu íntim o para entender
101
Plínio, Imperialismo
e democracia.
102
SALGADO,
Plínio, Um expediente ...op.cit.
103
CÀPUA, Cláudio de, op. cit.
104
SALGADO,
O
do autor. Isso
questões relacionadas
o porquê de determ inadas
SALGADO,
quanto
com o o rom ance
político
leva à necessidade de verificar e com preender
In:
e x tr a n g e ir o .
a
experiência
com
O
de sua própria
vida, sem pre
a
deixou a essência de
realização de Plínio Salgado na literatura política e social.
. Após a m orte do pai, em 1911, iniciou o período do
autodidatlsm o e em seguida a carreira jornalística. O autor elegeu
as m ortes
com o
fundam entação
m arcos
de
para a m udança
criação
de
um a
m em ória
com o
de vida. Ele afirm ou que colocou
em prática alguns ensinam entos
estudos e da intelectualidade:
da m ãe para a valorização
dos
atitudes ou
Foi nesse tempo que li os filósofos do século XIX, franceses,
alemães e ingleses, principalmente Spencer. Em 1918, li um livro
de Almeida Magalhães sobre Farias Brito e conheci os livros de
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
s o ffr im e n to
... op. cit.
Plínio, Um expediente ...op. cito
Plínio. O
função,
seu tem po, de sua época, de seus costum es. Eles reproduzem
sua realidade, seu cotidiano, seu jeito de ver o m undo. Foi essa a
p.110.
105
Romance escrito em 1926. SALGADO,
José Olímpio, 1936.
principal
para invenção
em seus contextos, era voltado para a
e interpretações
com o
textual-ficcional
das relações sociais estabelecidas no tecido literário e
para a percepção
Utilizou,
do seu discurso,
a produção
de construção
.
linguagem e, por m eio dela, inventou sua própria realidade. Essa
literatura, em bora seja um a apropriação do autor do m undo real
3. ed. Rio de Janeiro:
106
SALGADO,
107
GONTIJO, Rebeca. História, cultura, política e sociabilidade
Plínio,
N o s s o ...
op. cit., p.16
intelectual.
In: BICALHO
Maria Fernanda Baptista; GOUVÊA, Maria de Fátima Silva (Orq.). C u ltu r a s P o lític a s . ensaios
de história cultura, história política e ensino de história. Mauad, 2005. p. 270.
57
56zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
C) Bibliografia (Plínio Salgado)
Jackson de Figueiredo. Interessado pelo filósofo cearense, tomei
conhecimento da sua obra: 'A verdade como regra das ações,
A d o u tr in a d o S ig m a . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1935.
Base física do espírito, Mundo interior, Finalidade do mundo',
A im a g e m d a q u e la n o ite : e outros escritos. Lisboa: Gama, 1947.
sendo este o que mais me impressionou,
pela crítica aos
A língua tupi. In: __
O b r a s c o m p le ta s .
Críticas e Prefácios.
filósofos europeus que eu anteriormente lera e o renascimento
Américas, 1956. V. 19.
espiritualista que pregava e do qual me torneiutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
adepto.P"
o
A
Essa
pontos
pliniano. As m ortes
C a r ta s a o s c a m is a s
dois estágios
da evolução
na juventude
doutrinação
do seu pensam ento:
e o espiritualism o,
v e rd e s .
representam
D e s p e r te m o s
presente
romance-poema
central
2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1937.
G e o g r a fia s e n tim e n ta l.
da sua
N o s s o B r e s lt.
política. Logo após o falecim ento do coronel Francisco
4. ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1981.
O
e x tr a n g e ir o .
O
que é
de dois anos, em 1913, quando iniciou a carreira no jornal C o r r e i o
O
s o ffr im e n to
d e S ã o B e n t o . Esse m om ento
P a la v r a n o v a d o s te m p o s
Esteves Salgado, o autor foi obrigado
Sem sucesso na capital, retom ou
do pai foi fundam ental
que, posteriorm ente,
Com
os
a m udar-se
para São Paulo.
para São Bento do Sapucai, depois
recluso em São Paulo, devido à m orte
para determ inados
contribuíram
m anuscritos
valores e concepções
do
APHRCjFPS
3. ed. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1936.
4. ed. Rio de Janeiro: Schmidt, 1937.
in te g r a lis m o .
u n iv e r s a l.
T h e m a d a n o s s a g e ra ç ã o :
o político Plínio Salgado. O pensam ento
P r o to c o //o s
central do chefe integralista
teve com o base a criação de um a concepção de nacionalism o com
o objetivo de atingir a construção de um a identidade nacional,
que
esteve
presente
e R itu a e s .
regulamento.
V id a d e J e s u s .
et aI.
o
s é c u lo
te n e b r o s o .
Rio de Janeiro:
FILHO, Cândido. O
Niterói: Edição do núcleo municipal de Niterói,
O b r a s c o m p le ta s .
São Paulo: Américas, 1954.
V.
4.
19. ed. Belo Horizonte: Difusão Pan Americana do Livro, 1964.
P lín io S a lg a d o .
São Paulo: Edição da Revista Panorama, 1936.
D) Bibliografia
pliniano.
ALBUOUEROUE, Carlos de Faria.
Gazeta dos Municípios, 1951.
Bibliografia
do
ensaio político. Rio de Janeiro: Schmidt, 1931.
Viagens pelo Brasil. In: __
até sua m orte em 1975, sendo
único de identificação de um a
do pensam ento
Rio de Janeiro: José Olympio, 1936.
Poem as
1937.
H i s t ó r i a d a m i n h a v i d a um elem ento
fase tem poral para o entendim ento
novos.
Prefácio: Alberto Tôrres e o thema da nossa geração. MODA
é
possível identificar m atrizes discursivas do líder da AIB, o escritor e
expressão
Rio de Janeiro: José Olympio, 1934.
(sob o pseudônimo Ezequiel).
Clássica brasileira, 1961.
com a fundação da AIB.
docum entais
o
Rio de Janeiro: José Olympio, 1935.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1935.
a N ação!
o m aterialism o,
m arca
da época das Bandeiras. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1934.
de aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
H i s t ó r i a d a m i n h a v i d a dem arca dois
passagem
cruciais no pensam ento
v o z d o o e s te :
São Paulo:
P lín io
S a lg a d o :
ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. T o ta lita r is m o
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e r e v o lu ç ã o :
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