Análise Estética : ARQ – UFSC
Enzo Pittol Nercolini
Gabriel de Moraes Lunardi
Teoria e Estética do Projeto
Arquitetônico
Rodrigo de Almeida Bastos
Florianópolis - 03.02.16
E:
instituição
ins.ti.tu.i.ção
sf (lat institutione) 1 Ato ou efeito de
instituir. 2 Instituto. 3 Coisa instituída ou
estabelecida. 4 Regra, norma.
(Dicionário
portuguesa)
Michaelis
da
língua
Toda instituição tem como alicerce de sua
existência uma base de valores comuns a
um determinado grupo de atores - um grupo
de pessoas ou entidades que compartilha
de ideais semelhantes e acredita no seu
papel, seja ele político, econômico e/ou
social. Instituir é tornar regra - logo,
cânone - e tornar-se agente da sua
difusão.
Instituições
nascem
de
um
repositório cultural coletivo, mas podem
tornar-se construtoras de uma nova base
comum.
Escolas,
enquanto
instituições
físicas ou abstratas, são instituições
disciplinares por definição (FOUCAULT):
ferramenta de difusão e aplicação de um
ideal
transformado
em
cânone
pela
retórica.
A Academia Imperial de Belas Artes,
fundada em 1826 no Rio de Janeiro,
carregava em seus traços neoclássicos,
seu ritmo e simetria, um novo ideal
social e artístico para a colônia que se
tornava sede e que precisava de novos
ideais para existir. Vilanova Artigas,
através da imponência de suas formas e a
implantação da obra, fez da Faculdade de
Arquitetura
e
Urbanismo
da
USP
uma
manifestação física do ideal modernistapaulista que o arquiteto seguiria por
defender junto aos seus colegas nas
cátedras da academia e que perdura no
silêncio do concreto, quatro décadas após
sua finalização.
Não
acreditamos
haver
ensino
sem
ideologia - universidade sem escola de
pensamento. Por isso, nosso objeto de
estudo
é
justamente
uma
escola
de
arquitetura, lugar físico destinado ao
desempenho de uma escola arquitetônica: o
prédio do Departamento de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de
Santa Catarina (doravante chamado nessa
dissertação por “Departamento” ou pela
sigla oficial “ARQ-UFSC”).
Buscamos entender por esse estudo caminhando entre estética e ontologia- os
possíveis
processos
reflexivos
que
levaram à proposta e validação - por voto
democrático e avaliação de júri - do
prédio do Departamento, além de suas
implicações na consolidação de um curso
de arquitetura consideravelmente jovem.
G: O curso de Arquitetura e Urbanismo da
UFSC é criado em 1977, locado nos últimos
andares do bloco da Engenharia Civil. O
contexto de uma faculdade em nascimento e
sem um correspondente espaço - no caso um
espaço de mera conveniência e suprimento
necessitário - era a realidade na qual se
ia erigindo a nova escola. Tinha-se um
novo âmbito do saber e também do fazer
que
era
encaixado
num
sistema
préexistente e inquestionavelmente rígido,
que no fim do dia era apenas mais um
bloco
na
grandiosa
estrutura
de
conhecimentos técnicos da universidade.
O espírito inerente àqueles que começavam
a fazer parte do curso tornava-se então
inquieto
e
expansivo
frente
à
espacialidade
alienante
e
de
conhecimentos regrados, ainda mais na
época
sufocante
e
estruturalmente
sistematizada que foi a ditadura militar.
A Arquitetura era, de fato, diferente
daquilo que acontecia com exclusividade e
isolamento naquele meio. O curso clamava,
mesmo que nas entrelinhas, por um espaço
seu e no qual pudesse desenvolver à sua
maneira os conhecimentos e habilidades
que lhe criavam, e sem depender - ao
menos fisicamente - de uma estrutura préconcebida na qual as coisas "já vinham
acontecendo" e aonde não havia-se margem
ao que "poderia acontecer".
Em 1981 há a deflagração de uma grande
greve, na qual estudantes e professores
reivindicavam
melhoras
no
curso
e
ampliação do número de cargos docentes
(de somente 11 na época). A partir dali
se
desenvolve
mais
uma
etapa
no
crescimento da escola, na qual entram
alguns professores que lecionam até os
dias atuais, e finalmente consegue-se um
espaço que a Arquitetura poderia chamar
de seu: antigos galpões de madeira da
Eletrosul desativados e remontados no
novo lugar segundo o desenho de Nelson
Saraiva e Carmen Cassol. Esse foi o
momento
aonde
se
percebia
a
'independência'
que
o
curso
estava
conquistando e o quão identitária ela
viria a ser. Os grandes espaços vazios em
volta ao pouco construído era o insumo da
construção social, artística e pedagógica
do dia-a-dia. O lugar nunca era o mesmo,
não havia como sê-lo: cada ano saía
turma, entrava turma; eram 5 dias (ou
mais) por semana em que diversas mentes e
corpos habitavam e interagiam num mesmo
espaço. Mudar era natural, necessário,
construtivo, e o lugar sugeria isso em
seu amigável silêncio: um suporte às
novas estruturas e cores criadas por um
aprendizado que dava seus passos iniciais
e figurava uma noção ideólogico-espacial
do que a escola queria e poderia ser.
O que sucede esse cenário é o desejo, ou
inquietamento, de se “concretizar” a
ideia
de
escola.
O
contexto
de
temporariedade
estrutural
e
de
conformismo com o pouco construído que se
tinha,
enfraquecia
aquilo
que
a
instituição ARQ-UFSC era aos olhos de
muitos dos que passavam a participar
dela. Era preciso demarcar um território
e de fato “ser” parte importante do
campus
e
criar,
oficialmente,
a
arquitetura de onde se pensa arquitetura.
Sendo assim, lançou-se o concurso para a
eleição do projeto que se tornaria a
Arquitetura da UFSC. O projeto vencedor
foi o de Enrique Brena e mais quarto
arquitetos, que teve a execução iniciada
em 1999. O segundo lugar ficou com
desenho do professor Américo Ishida.
Galpões com intervenções artísticas.
Anfiteatro que compunha parte do espaço comum.
o
Prédio novo em construção.
Intervenções estudantis.
E: Analisar o projeto do Departamento
é praticamente analisar duas obras
distintas:
aquela
concebida
e
escolhida por voto, e a existente, uma
fração da original. O fato é que o que
se vê e se vive no prédio do Curso de
Arquitetura
e
Urbanismo
é
uma
arquitetura
incompleta,
inacabada.
Ambas têm um ponto de origem formal
idêntico mas resultam em arquiteturas
muito
diferentes,
assim
como
em
relações diversas entre suas partes
nas
diferentes
escalas
do
bloco.
Enrique Brena concebeu junto com sua
equipe estudantil um projeto que de
certa maneira nunca existiu, já que a
parte erguida nesse caso não se
relaciona com o todo idealizado.
1. O idealizado
O desenho original composto de dois
blocos simetricamente alinhados por um
mesmo centro ocuparia o espaço hoje
abandonado aos alunos com um bloco em
meia-lua e de altura semelhante ao
existente,
estreitando
o
raio
e
flanqueando
uma
praça
frontal
circular.
Entre
os
dois
blocos
estariam a atual escadaria e dois
pátios
cobertos
por
uma
grande
estrutura treliçada.
A busca por força e imponência é
evidente no traço, escolhendo-se um
ponto
focal
de
contemplação
como
centro do raio descrito, conformando o
prédio à ele e dispondo ali uma praça
seca, desarborizada e elevada da rua.
A entrada seria o ponto principal da
obra, motivo mesmo da sua forma, à
qual se chegaria através de escadarias
simétricas
adornadas
por
espelhos
d’água e da qual vería-se por força a
imponente simetria do templo. Não é
por deboche que empregamos o termo
pois há no desenho fortes marcas de
poder
institucional
simbólico
expressado notavelmente através das
escadarias de acesso, alinhadas no
eixo de simetria. Esta disposição
remete às câmaras de vereadores do
Brasil colonial e aos palácios de
justiça europeus que se multiplicaram
no século XIX (IMAGEM) e que tomam
como referência a distinção simbólica
por elevação física do poder (sagrado,
monárquico, institucional).
Como a Acrópole de Atenas e seus
descendentes históricos supracitados,
o
projeto
concebido
para
o
Departamento
de
Arquitetura
e
Urbanismo exerce força simbólica na
relação interespacial em 2 escalas: a
dos
seus
componentes
geométricos
relacionados entre si e a da obra
total
relacionada
ao
entorno
do
campus. No memorial descritivo do
projeto, apresentado em 1998 lê-se:
“A
forma
circular
foi concebida visando
o conceito de conter o
próprio
espaço,
demarcar
seu
território
ao
mesmo
tempo que abre suas
portas,
“abre
os
braços” caracterizando
um espaço receptivo à
comunidade
universitária”
Esta frase, se lida no conjunto de
frases que compõem a retórica do
projeto, poderia passar desapercebida
através dos jargões da profissão. No
entanto, toda escolha de palavra aqui
nos parece carregar um significado
latente. Uma análise mais aprofundada
da semântica nos ajudará a entender os
símbolos que carrega a forma do
projeto.
Do espaço contido
Em efeito, a relação proposta
entre os elementos do projeto induz
a contenção da vida acadêmica que
ali se desenvolveria. O prédio que
abrigaria todas as atividades de
ensino, cuja forma é aquela que
hoje
existe
inacabada,
estaria
oculto em ambos os lados, barricado
por outros programas complementares
e isolantes - ao Sul por um
estacionamento perimetral para mais
de 100 carros, ao Norte pelo bloco
da
administração
e
sala
de
professores.
O
espaço
de
convivência estaria contido entre
os dois blocos, ocupando o vazio
semicircular que os dividiria.
Segundo Luiz Eduardo Fontoura
Teixeira, formado em arquitetura
pela UFSC e doutor pela UFSCar, o
projeto
afasta-se
do
modelo
1
monástico do claustro , presente no
projeto de 1938 para a Facultad de
Arquitectura
em
Montevideo,
Uruguai,
e
suposta
referência
projetual para o arquiteto Brena,
oriundo dessa escola. No projeto de
Montevideo, o claustro integra os 3
blocos
que
delimitam
um
vazio
central e oferece um espaço de
convivência onde o corpo estudantil
se reconhece e se observa.
No projeto para a ARQ-UFSC esse
efeito -independente da sua suposta
capacidade de gerar integração- se
esvai
através
das
escolhas
geométricas.
Privilegiando
a
1
O claustro é um dispositivo espacial originário
dos mosteiros e conventos e da noção de controle
visual panóptico. Foi amplamente reproduzido nas
instituições de ensino europeias e brasileiras, em
especial naquelas ligadas à ordens religiosas. Mais
sobre o assunto pode ser encontrado na obra
“Observar e Punir”, de Michel Foucault.
imponência
da
fachada
frontal
através da conformação geométrica
dos blocos e transformando o espaço
de convivência em uma fina fita,
Brena distanciou-se do modelo de um
espaço
contido
e
com
centro
2
definido , apesar de ser esse o
intuito anunciado.
Do território demarcado
Outro termo que destaca-se no
discurso é o de demarcação de um
território. No contexto de cisão
entre o curso de Arquitetura e
Urbanismo e as demais engenharias,
o corpo acadêmico via a necessidade
de autoafirmação de seus ideais mas
sobretudo de diferenciação.
À rigidez dos blocos de sala de
aula
retangulares
do
Centro
Tecnológico
respondeu-se
com
a
indefinibilidade
da
esfera
2
O projeto original falha em definir um ponto
focal e carece de geometria que possa demarcar um
perímetro perceptível além da planta-baixa. Mais
sobre o assunto pode ser encontrado no livro de
Christopher Alexander, The Phenomenon of Life, no
capítulo 5 sobre as “quinze propriedades
fundamentais”, que tenta encurtar a distância entre
biologia, matemática e arquitetura.
induzida. À rusticidade do concreto
e
tijolo
que
acompanharam
a
3
construção
das
IFES
durante
a
segunda
metade
do
século
XX,
respondeu-se com a pureza do branco
(que
ironicamente
viria
a
amarelar).
“Nós não somos como eles” era o
que se buscava dizer e é o que ecoa
até
hoje,
quase
duas
décadas
depois, nos saraus estudantis.
Da abertura dos braços
Aos
desejos
de
afirmação
e
diferenciação
adiciona-se
o
de
validação
externa.
A
abertura
espacial
para
a
comunidade
acadêmica através de uma praça
frontal parece-nos antes um ato de
exibição
do
que
de
verdadeiro
acolhimento. Convidar a comunidade
acadêmica significaria impor a ela
um ponto inescapável no qual o
prédio
imprimiria
sua
simetria
sobre o espectador assim como uma
pintura
nos
impõe
os
limites
3
Instituições Federais de Ensino Superior.
físicos de perspectiva para então
projetar-se enquanto imagem plana.
O teatro do poder acadêmico seria
representado quotidianamente para e
por seus usuários, fossem eles
alunos, professores ou passantes.
Um exemplo de semelhante artifício
teatral -e retórico por extensãopode ser localizado quase quatro
séculos atrás, na obra de Bernini
para a Piazza San Pietro em Roma.
Nela, perspectiva forçada por um
enorme
efeito-de-túnel
e
ritmía
rígida das colonadas impõem sobre o
espectador o teatro sacrum barroco.
O objeto de culto pode não ser o
mesmo no prédio do Departamento,
mas seu fim enquanto repositório e
transmissor é o mesmo. Se de fato o
projeto se abre, é para emitir, e
não
acolher.
G:
2. O concreto
No processo de materialização de um
desejo
arquitetônico
quase
que
“pronto”
em
sua
concepção,
o
natural é que se transfira o ideal
da dinâmica funcional e cenográfica
dos espaços pensados diretamente
para o plano real - no qual as
coisas já se encontram como o
previsto.
A
arquitetura
nesse
contexto não é concebida em partes
- pelo menos não em uma grande
escala
temporal
e
isso
completamente
ignora
as
possibilidades de o prédio nem
sempre existir por completo, de
faltarem recursos e de acontecerem
adaptações “não oficiais”. Ao longo
da
execução
houveram
inúmeros
problemas com falta de verbas, o
que
trouxe
complicações
relacionadas
à
qualidade
dos
materiais
construtivos
na
realização do que se projetava,
(defeitos que aparecem no contato
mais
próximo
entre
pessoa
e
arquitetura, através de portas,
pisos e daquilo que está ao alcance
do corpo humano) o que por fim gera
a interrupção da obra em seu
primeiro bloco.
O
traçado
determinista
das
grandes linhas e volumes é, pois,
inflexível nessa noção e parece
existir sozinho em si, presumindo
que
qualquer
alternativa
de
complementação do espaço viria da
própria
razão
compositiva
semicircular - uma certa supremacia
estética do prédio para com seus
arredores e a definição clara e
fechada
de
como
as
coisas
“deveriam” acontecer. O fechamento
da proposta em si suprime tanto as
infinitas possibilidades de uma
mesma condição espacial, quanto as
diferentes condições espaciais que
podem surgir de um mesmo desenho
aparentemente terminado, e torna os
lugares
criados
ou
mantidos
a
posteriori
marginais
e
“não
oficiais”, desprovidos do desejado
caráter institucional da escola.
Tudo aquilo que resultou e que
permanece no espaço intocado pelo
novo
projeto
é
encarado
como
residual e temporário, referente
somente aos alunos e às suas
atividades
não-acadêmicas
e
informais
e
por
julgamento,
infinitamente menos importantes do
que aquelas do prédio/instituição.
De fato esse espaço resultante sob
influência
do
semicírculo
construído acabou tornando-se o
verdadeiro centro festivo e de
encontros corriqueiros do curso ao
longo do tempo. O resquício dos
galpões
de
madeira
gerava
espacialidades
confusas
e
plasticamente desconexas, mas o
apreço
que
despertava
nos
estudantes fazia com que o tomassem
para si e ali construíssem uma
extensão do seu “morar”. A relação
itinerante
e
mutável
entre
as
pessoas e o lugar ali era o
principal motivo do fascínio por
ele: a cada dia novas intervenções,
canções,
erros
e
acertos
eram
admitidos na esfera vibrante e
amigável
dos
casebres,
o
que
factualmente
marcaria
cada
intervalo de tempo na escola como
único e importante, resultado de
uma soma crescente de coisas e
acontecimentos.
Recentemente, a demolição desse
espaço reforça a ideia de que, por
mais
que
incompleto,
o
prédio
proposto sozinho não conforta os
estudantes no final dos dias, e
muito menos se esforça para mantêlos em contato uns com os outros.
Agora o percurso predominante passa
ser da rua para as salas de aula,
das salas de aula para as ruas e
para o estacionamento. Reforçada
pelas
escadas
metálicas
simetricamente
anexadas
às
extremidades como resolução dos
cantos “a serem continuados”, a
relação
frente-fundos
traz
a
setorização implacável gerada pelo
direcionamento do centro e dos
olhos ao ponto de simetria focal no
térreo e pela designação funcional
de serviços “impessoais” à parte
traseira,
árida
e
vazia,
correspondente aos carros. Através
dos corredores externos a atenção é
voltada para dentro, o umbigo do
lugar, e ao mesmo tempo para toda a
sua extensão de ponta-a-ponta, de
tal modo que existe um controle
daquilo que ocorre e de quem está
ali presente.
A busca exacerbada pela simetria
no
projeto
como
um
todo
se
demonstra
estruturalmente
consolidada no bloco já construído,
que posteriormente irradiaria para
os demais elementos tal influência.
Portanto, a relação com o propósito
especular da arquitetura existe
desde o seu primórdio existencial,
mas que acontece de uma forma
branda,
já
que
as
coisas
circundantes ao prédio e a sua
incompletude o desfavorecem nesse
sentido e geram uma interferência
na percepção da relação rítmica que
as
lâminas
verticais,
janelas,
reentrâncias e volumes destacados
compõem
juntos.
Um
caráter
polarizador de espaços é impregnado
no desenho a partir do momento em
que são criadas as extremidades e
pontas, cada qual buscando acolher
quem por elas chega, ma que de
algum jeito criando cantos que na
prática não são comunicativos e
que
contextualmente
ignoram
condições naturais como o córrego
(de um lado), e o terreno alagadiço
que originalmente drenava as águas
da chuva (de outro). De forma geral
a composição, por mais que busque
nos preceitos clássicos de ordem,
proporção e ritmo fundamentos para
a
criação
de
um
objeto
arquitetônico
impactante,
magnificente
e
por
vezes
surpreendente, esgota o seu sentido
no decorrer do tempo por ser
rapidamente decifrável e não tomar
o conceito formal como um ponto de
chegada, mas como um ponto de
partida. A tão aclamada conformação
radial do edifício não transparece
uma dinâmica socio-espacial de tal
jeito imaginada, pelo menos não da
forma que se desenvolve, então
existe
uma
suposição
de
funcionamento coletivo do espaço,
que no caso pode até ser assumido
como uma “inevitável consequência”
de seu partido formal, e não como
um predecessor ideológico e de
embasamento morfológico deste.
O
novo
lugar
também
não
é
apropriável e “contaminável” por
quem o vive, o branco predomina e
assim parece ter de ser até a
eternidade. As paredes por vezes
formatam o ensino que com elas
dialoga a cada semestre, e quando
elas deixam de existir, no caso da
abertura dos ateliês, a abertura
que não acontece é justamente entre
as
ideias
e
“caixinhas”
curriculares que constituem o saber
disseminado nesses espaços.
Quem ousa riscar, pintar, e marcar
o lugar é repreendido pelos traços
institucionais
e
deterministas
deste, que quase como um patrimônio
a
ser
resguardado
e
mantido
intacto,
culpa
o
pensamento
questionador e propositivo que o
curso e o espaço deveriam incitar.
A
ampla
escadaria
constrói
a
soberania do prédio que se erige
sobre ela e concede entrada a quem
chega e até ele se eleva, como se a
intimidade entre a pessoa e o lugar
fosse tal que sempre houvesse a
necessidade de um se apresentar ao
outro para que depois interajam da
forma mais convencional, restrita e
impessoal possível.
O edifício quer ser incontestável
em sua pura e influente presença uma instituição de saberes oficiais
e sérios, onde o que se impõe é a
grandioso e sóbrio - mas o que é
intrínseco ao curso e reverbera nos
espaços são de fato conflitos,
dúvidas e mudanças. Hoje, o templo
“em metades” da Arquitetura repousa
quieto e rígido, com menos barulho
ao seu redor, e parece esperar que
o lugar que o enfrenta, agora em
pedaços, tome sã consciência e siga
os seus traços em prol de uma
estrutura sólida e uniforme, sem
motivos de se despedaçar.Por hora,
quem fita tal cenário de confusão e
falta de compreensão logo percebe
que o calor do lugar se esvaiu
bastante, e que a tão distante
probabilidade de tudo vir a ser
branco de uma vez pode realmente
acontecer.
...
Vista de uma das pontas do prédio.
Pavilhinho durante a Semana Experimental - 2014
Ateliê.
Antigos galpões vistos do prédio.
Bibliografia
Salingaros, Nikos Angelos, and Christopher
Alexander.
Unified
Architectural
Theory:
Form, Language, Complexity: A Companion to
Christopher Alexander's "The Phenomenon of
Life: The Nature of Order, Book 1".
Alexander, Christopher. The Phenomenon of
Life: An Essay on the Art of Building and the
Nature of the Universe. Berkeley, CA: Center
for Environmental Structure, 2002.
Foucault,
Naissance
1975.
Michel.
Surveiller
Et
Punir:
De La Prison. Paris: Gallimard,
Fotografias
Enzo Pittol Nercolini
João Carlos Souza
André Panatto
André Luiz