EFEITO DA EVOLUÇÃO DA TOPOGRAFIA DE SUPERFÍCIE
NO COMPORTAMENTO TRIBOLÓGICO DE MATERIAIS DE
FRICÇÃO PARA EMBREAGENS1
2
Graciliano Pereira Fernandes
2
Walter Haertel Jr
2
Paulo Zanotto
2
Ivan Gregori
3
José Daniel Biasoli de Mello
Resumo
Diversos trabalhos têm sido realizados para avaliar a influência da topografia da
superfície no comportamento tribológico (taxa de desgaste e coeficiente de atrito) dos
materiais de fricção utilizados em sistemas de embreagem automotiva. Alguns autores
têm observado uma forte influência da natureza topográfica no comportamento
tribológico desses materiais, indicando que há uma grande potencialidade de
otimização do sistema embreagem através do pré-condicionamento superficial dos
materiais de fricção. Este trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento
tribológico (taxa de desgaste e coeficiente de atrito) dos materiais de fricção, através da
produção de amostras com a topografia de superfície pré-condicionada por dois
processos (retificação industrial e lixamento laboratorial), a fim de eliminar a fase de
regime transiente inicial da taxa de desgaste, e proporcionar um coeficiente de atrito
mais elevado e estável. Os resultados obtidos mostram um ganho em termos de taxa
de desgaste e aumento do coeficiente de atrito.
Palavras-chave: Retificação; Materiais de fricção; Topografia de superfície; Regime
transiente de desgaste.
EFFECT OF THE EVOLUTION OF THE SURFACE TOPOGRAPHY ON THE
TRIBOLOGICAL BEHAVIOUR OF FRICTION MATERIAL USED IN CLUTCHES
Abstract
Several studies have been realized to evaluate the surface topography influence on the
tribological behavior (wear rate and friction coefficient) of friction materials used in
automotive clutch system. Some authors have observed a strong influence from
topographic nature on the tribological behavior in these materials, pointing that there is a
strong optimization potential of the clutches system through surface preconditioning of
the friction materials. The aim of this workshop is to evaluate the tribological behavior
(wear rate and friction coefficient) of friction materials by producing sample with the
surface topographic preconditioned by two processes (industrial grinding and
laboratorial sanding), to eliminate the wear running-in and improve friction coefficient
and make it more stable. The results have shown an eliminating wear running-in and a
better rising of friction coefficient.
Key words: Grinding; Friction material; Surface topographic; Wear running-in.
1
2
3
Contribuição técnica ao 64° Congresso Anual da ABM, 13 a 17 de julho de 2009, Belo Horizonte,
MG, Brasil.
ZF do Brasil – Divisão Sachs, graciliano.fernandes@zf.com
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ltm-demello@ufu.br
1 INTRODUÇÃO
Durante o curto período de tempo de acoplamento da embreagem, contato por
deslizamento ocorre entre o volante do motor, a placa de pressão e os discos de
revestimento. Neste trabalho discos de revestimentos, ou seja, os materiais de fricção
das embreagens serão referenciados como revestimentos. Os materiais constituintes
têm que apresentar excelente desempenho para proporcionar uma vida útil desejável e
um coeficiente de atrito que proporcione uma transmissão de torque regular e eficiente.
Diversos trabalhos(1-9) tem sido realizados para avaliar a influencia da topografia no
comportamento tribológico dos materiais. Esses trabalhos mostram que após certo
tempo de uso, a superfície dos revestimentos sofre uma redução da rugosidade
quadrática média (Sq). Acredita-se que isto se deve ao amaciamento que ocorre na
superfície do material, ou seja, em função do desgaste os picos das irregularidades são
eliminados, tornando a superfície mais plana e lisa.
Fernandes, em 2007,(10) realizou um trabalho para avaliar a influência da duração
do ensaio no comportamento tribológico (coeficiente de atrito, taxa de desgaste e
topografia de superfície) dos materiais utilizados em embreagem. Em seu trabalho
foram realizadas duas séries de ensaios. A primeira série consistiu em fazer oito
ensaios, sendo uma hora o tempo de duração de cada ensaio, aplicando uma força
normal (Fn) de 10N. A segunda série consistiu em fazer cinco ensaios interrompidos,
também com o tempo de uma hora cada ensaio, mas com força normal igual a 200N.
Durante os ensaios utilizando um tribômetro pino-disco foi observada uma grande
influência da topografia da superfície dos revestimentos no comportamento da taxa de
desgaste e do coeficiente de atrito. Fernandes(10) constatou que com a evolução dos
ensaios a rugosidade quadrática média diminui, havendo um aumento da capacidade
de apoio (Tp) e uma redução da taxa de desgaste e que quando a rugosidade
quadrática média e a capacidade de apoio tendem a permanecer constante, a taxa de
desgaste também tende a permanecer constante. A Figura 1 apresenta uma correlação
entre a evolução da topografia da superfície e a taxa de desgaste com a evolução dos
ensaios realizados com força normal de 10N e 200N.
Taxa de Desgaste Revestimento
12
Tp
9
6
3
0
0
1
2
3
4
5
6
Horas de Ensaio
7
8
90
80
3
24
[Tp (%)] e [Taxa de Desgaste (mm /MJ)]
Sq
100
30
18
Sq ( m)
15
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Tp (%)
[Sq ( m)] e [Taxa de
-4
-1
desgaste x 10 g*h ]
18
Sq
70
Tp
60
Taxa de Desgaste
50
40
12
30
20
6
10
0
0
0
1
2
3
4
5
Horas de Ensaio
(b)
(a)
Figura 1: Correlação do comportamento da rugosidade quadrática média e da capacidade de apoio com
(10)
a taxa de desgaste do revestimento. (a) – Fn 10N; (b) – Fn 200N.
8° Ensaio Interrompido
0,50
0,45
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
Coeficiente de Atrito
Coeficiente de Atrito
A Figura 2-a apresenta a evolução do coeficiente de atrito em função da
distância de deslizamento. Observa-se que o coeficiente de atrito apresenta um
crescimento rápido e acentuado após o início do ensaio, e que após uma determinada
distância de deslizamento, o coeficiente de atrito tende a atingir um regime permanente
com oscilações periódicas. Após a estabilização do atrito, Fernandes(10) calculou o valor
do atrito médio para os ensaios realizados com força normal de 10N (figura 2-b). Com
isso observou-se que o coeficiente de atrito médio é crescente nos três primeiros
ensaios, fase esta onde foi observada uma redução da rugosidade quadrática média e
um aumento da capacidade de apoio.
0
900 1800 2700 3600 4500 5400 6300 7200 8100 9000
Distancia (m)
(a)
Figura 2:
0,50
0,45
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
Coeficiente de Atrito
0
1
2
3
4
5
6
Horas de Ensaio
7
8
(b)
Evolução do coeficiente de atrito em função das horas de ensaio. Fernandes, G. P.(10)
Os resultados obtidos por Fernandes(10) mostraram que o transiente inicial
apresentado pelo comportamento tribológico (coeficiente de atrito e desgaste) está
aparentemente associado ao condicionamento inicial da topografia de superfície,
indicando grande potencialidade de otimização do sistema de embreagem, através do
pré-condicionamento inicial da topografia de superfície dos discos de revestimento.
Neste trabalho discos de revestimentos serão referenciados como revestimentos.
Durante o ciclo de manufatura os revestimentos passam por um processo de retificação
para retirar as rebarbas e dar acabamento final na superfície.
Este trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento tribológico (taxa de
desgaste e coeficiente de atrito) dos discos de revestimentos através da produção de
amostras com a topografia de superfície pré-condicionada pelo processo de retificação,
objetivando assim, eliminar a fase de regime transiente inicial da taxa de desgaste.
Eliminando esta fase de regime transiente inicial, busca-se obter discos de
revestimentos que apresentem menor taxa de desgaste e que possam proporcionar
uma maior estabilidade do coeficiente do atrito. Obtendo-se menor taxa de desgaste do
revestimento, espera-se que, conseqüentemente, aumente sua vida útil. Com o atrito
mais estabilizado, por sua vez, será aumentada a eficiência do sistema de embreagem.
2 MATERIAL E MÉTODO
Discos de revestimentos de tipo A e D foram retificados industrialmente em três
diferentes condições. Neste trabalho as condições foram denominadas de C2, C4 e
Normal (retificação de linha de produção) e que foi utilizada como referência. O
processo foi realizado pela empresa ZF do Brasil – divisão Sachs. Discos de
revestimentos A e D retificados nas três condições industriais, passaram também no
processo de pré-condicionamento topográfico em laboratório, denominado de lixamento
LTM. Para tal foi utilizada uma lapidadora LAPMASTER Modelo 15” (Figura 3-a).
(a)
(b)
Figura 3: (a)- Lapidadora LAPMASTER Modelo 15” utilizada para a realização do pré-condicionamento
laboratorial da superfície dos revestimentos: (b) e (c)– detalhes.
Este equipamento é uma lapidadora de precisão dotado de um prato de
lapidação de 0,381 m, e três anéis posicionadores que comportam as amostras a serem
lapidadas. Para a realização deste trabalho, algumas adaptações tiveram que ser feitas.
Foi especialmente fabricado um anel (seta vermelha Figura 3-a) para fixar a lixa
abrasiva ao prato de lapidação. Amostras de revestimento com dimensões 3,5 x 3,5 cm,
são acomodadas nos anéis posicionadores. Dentro destes, é colocado um disco
fabricado em celeron com três furos quadrados defasados de 120° e com dimensões de
3,7 x 3,7 cm (Figura 3-b) para guiar as amostras e garantir que as mesmas fiquem em
posição eqüidistante em relação ao centro do disco e em relação uma as outras. Os
anéis com as amostras são posicionados sobre a superfície do prato de lapidação. O
peso morto atua sobre três meia-esferas (setas vermelhas Figura 3-b) que estão
diretamente sobre a superfície de cada amostra dentro do anel posicionador. Dessa
forma, a carga normal é uniformemente distribuída sobre as amostras durante o
movimento. O movimento do prato de lapidação é dado através de um motor elétrico
que gira a uma rotação fixa de 350 rpm. O movimento do prato de lapidação faz com
que os anéis posicionadores girem em torno do próprio eixo e isto, simultaneamente,
faz com que as amostras também girem em torno do próprio eixo. Para a realização do
lixamento, lixas abrasivas com granulometria #180, #320 e #400 foram especialmente
fabricadas pela empresa Saint-Gobain Abrasivos, com dimensões de 40 x 40 cm, para
atender às especificações e adaptações feitas no equipamento. Pesos mortos de 1 Kg
e 3,2 Kg foram utilizados neste processo. O tempo estabelecido para o processo de
pré-condicionamento laboratorial foi o tempo em que a perda de massa encontra-se em
regime permanente. Então foi calculada a espessura usinada, através das equações:
Eu =
Volumedesgastado
Área
;
Volumedesgastado =
PerdaMassa
ρ
= Densidade do revestimento
A caracterização topográfica foi realizada via interferometria a laser (IL) utilizando
o equipamento Micro Focus Expert IV da UBM. As análises foram feitas no modo
contínuo. As dimensões das áreas de varredura foram 15 x 15 mm. Foram utilizadas
resoluções de 500 x 15 pontos por mm no eixo X e Y, respectivamente.
A superfície dos revestimentos foi caracterizada quanto à rugosidade quadrática
média (Sq), capacidade de apoio (Tp) e foi determinada a distância média entre os
picos mais altos e os vales mais profundos, que é obtida através do parâmetro
topográfico St. Para tal foi utilizado o programa Mountains Map Universal 3.0. Ensaios
tribológicos de deslizamento a seco foram realizados em um tribômetro universal da
Plint & Partners, modelo TE 67 na configuração pino-sobre-disco. Os parâmetros de
testes foram mantidos constantes. Utilizou-se uma força normal de 200N, rotação igual
a 750 rpm e raio médio de 0,027m. Discos de revestimentos com 13,2 mm de diâmetro
foram obtidos para a realização dos ensaios tribológicos.
Foram realizados cinco ensaios interrompidos com a duração de uma hora cada.
Amostras representativas de revestimentos foram caracterizadas via microscopia
eletrônica de varredura (MEV), Modelo Leo 940 A, fabricante Zeiss.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Figura 4 apresenta superfícies típicas dos revestimentos A e D, retificados
industrialmente na condição C4. Observa-se que amostras com diferentes aspectos
topográficos são obtidas quando diferentes materiais são submetidos as mesmas
condições de retificação. Através da topografia de superfície obtida por interferometria
nota-se que o revestimento A apresenta uma superfície mais irregular, com maior
presença de buracos. Observando a topografia do revestimento D é possível determinar
que a superfície também apresenta buracos, mas em menor intensidade e observa-se
também que a superfície esta mais lisa.
(a)
(b)
Figura 4: Para diferentes tipos de revestimento, geração de diferentes aspectos topográficos para a
mesma condição de retificação C4. (a)- revestimento A; (b)- revestimento D.
A Figura 5 apresenta a quantificação topográfica, da rugosidade quadrática
média e da capacidade de apoio. Observa-se que para o mesmo revestimento quando
submetido a diferente condição de retificação, apresentam os valores da rugosidade
quadrática média e da capacidade de apoio, estatisticamente, iguais. A Figura 5 mostra
que, para o revestimento A, a condição de retificação C2 foi a melhor, por apresentar a
maior média nominal da capacidade de apoio e a condição C4 foi a pior. Por outro lado
para o revestimento D, a melhor condição foi a C4, por apresentar a maior média
nominal da capacidade de apoio e a condição de retificação C2 foi a pior, pois
apresenta maior valor de média nominal da rugosidade quadrática média e menor da
capacidade de apoio. Estes resultados mostram que as condições de retificação são de
caráter sistêmico, ou seja, para diferentes tipos de revestimentos submetidos às
mesmas condições de retificação, a qualidade topográfica irá depender da natureza do
material.
60
Sq ( m)
50
Tp (%)
40
30
20
10
0
Normal
C2
C4
Normal
Revestimento A
C2
C4
Revestimento D
Figura 5: Correlação entre os parâmetros topográficos dos revestimentos A e D retificados
industrialmente nas condições C2, C4 e Normal.
AN
A C2
A C4
3
Taxa de Desgaste (mm /MJ)
140
120
100
80
60
40
20
0
0
1
2
3
Hora de Ensaio
4
5
6
Taxa de Desgaste (mm3/MJ)
A Figura 6 apresenta a evolução da taxa de desgaste em função das horas dos
ensaios interrompidos dos conjuntos A e D respectivamente, ensaiados no tribômetro,
cujos revestimentos foram retificados industrialmente nas condições C2, C4 e Normal.
DN
D C2
D C4
60
50
40
30
20
10
0
0
1
2
3
4
5
6
Hora de Ensaio
(b)
(a)
Figura 6: Evolução da taxa de desgaste dos conjuntos que tiveram os revestimentos submetidos há
diferentes processos de retificação industrial; (a)- revestimento A; (b)- revestimento D.
Verificou-se que a retificação industrial não exerceu influência em termos de
melhoria da taxa de desgaste para o conjunto A, pois se esperava que o transiente
inicial da taxa de desgaste fosse eliminado. A Figura 6 mostra que a taxa de desgaste é
maior nas primeiras horas de ensaio, tendendo a estabilizar a partir da terceira hora,
para as três condições ensaiadas. A Figura 6-b, por sua vez, apresenta a taxa de
desgaste do conjunto D. O conjunto retificado na condição C2 apresenta a maior taxa
de desgaste, sendo maior nas primeiras horas de ensaio, tendendo a permanecer
constante a partir da terceira hora. Este resultado pode ser justificado, pois conforme foi
apresentado, esta condição de retificação proporcionou pior qualidade topográfica para
o revestimento D. Observando a taxa de desgaste do conjunto retificado na condição
C4, pode-se ver que o regime transiente da taxa de desgaste foi eliminado, condição
esta buscada com o processo de retificação, e lembrando que esta condição
proporcionou ao revestimento D melhor qualidade topográfica. Mas, em longo prazo,
observa-se que o conjunto normal apresenta a menor taxa de desgaste no regime
permanente, apesar de ter maior taxa de desgaste durante o regime transiente em
relação ao conjunto C4.
A Figura 7 apresenta a topografia de superfície dos revestimentos antes e após o
processo de lixamento LTM. Observa-se antes do processo de lixamento que há
presença de buracos na superfície das amostras (setas Figura 7-a) e que após o
lixamento as regiões planas tornaram-se mais lisas, mas ainda há presença de buracos
na superfície do revestimento.
(b)
(a)
Figura 7: Topografias de superfície de revestimentos D Normal lixado em laboratório: (a)- antes;
(b)- após; Setas indicam presença de “buracos” na superfície do revestimento antes do lixamento.
A Figura 8 mostra os valores da rugosidade quadrática média e da capacidade
de apoio dos revestimentos C2 e que foram lixados com lixas abrasivas nas
granulometrias #180, #320 e #400, e peso morto de 1 kg e 3,2 kg. Como os
revestimentos A e D apresentaram, no lixamento LTM resultados semelhantes, serão
apresentados apenas os resultados obtidos para o revestimento D. Observa-se na
figura 8 que os revestimentos lixados nas lixas #180 e #320, com peso morto de 1 kg,
apresentaram maior rugosidade quadrática média e menor capacidade de apoio (setas
vermelhas), em relação aos revestimentos lixados com peso morto de 3,2 kg. Estes
resultados foram o oposto ao esperado, pois, com a diminuição da pressão de contato,
esperava-se uma melhoria na qualidade superficial, diminuindo o valor da rugosidade
quadrática média e elevando o valor da capacidade de apoio. Os valores dos
parâmetros topográficos para o lixamento na lixa #400 não foram apresentados na
figura 8, porque após um determinado tempo de lixamento foi observado que a
superfície do revestimento não estava desgastada por igual, ou seja, as amostras ainda
[Sq(µm) e Tp (%)]
apresentavam regiões que não haviam sido desgastadas. Inicialmente buscaram-se
justificativas físicas que ajudassem a explicar os resultados obtidos.
90
80
Sq
70
Tp
60
50
40
30
20
10
0
ZF
LTM_180 LTM_180 LTM_320 LTM_320 LTM_400
(PM 1 Kg) (PM 3,2 Kg) (PM 1 Kg) (PM 3,2 Kg)
Figura 8: Correlação entre os parâmetros topográficos de revestimento D submetido ao processo de
lixamento com peso morto de 1 kg e 3,2 kg; Setas indicam aumento da rugosidade quadrática média e
redução da capacidade de apoio quando se utiliza peso morto de 1 kg.
Conforme reportado, há presença de “buracos” na superfície das amostras
quando no seu estado virgem, como está apresentado nas Figuras 4-a, 4-b e 7-a (setas
vermelhas). Quando se observa essa superfície via MEV (Figura 9), pode-se de fato
comprovar a presença dos “buracos”. Em menores aumentos (Figuras 9-a e 9-c), podese ver ainda que o revestimento submetido ao processo de lixamento utilizando peso
morto de 3,2 kg, apresentou uma qualidade superficial melhor, em relação ao
revestimento submetido ao lixamento com peso morto de 1 kg. Nota-se que a amostra
lixada com peso morto de 1 kg apresenta um arrancamento das fibras de reforço de
forma mais desordenada, enquanto que a amostra lixada com peso morto de 3,2 kg
apresenta uma superfície mais planificada, com menores quantidades de levantamento
das fibras de reforço. Com os aumentos maiores (Figuras 9-b e 9-d) este efeito se torna
ainda mais evidente. Ainda em maiores aumentos, pode-ser ver ainda, que a amostra
lixada com peso morto de 1 kg apresenta “buracos” profundos, havendo arrancamento
de fibras de reforço nestes “buracos”, ficando as mesmas de forma desprendidas e
desordenadas na matriz do revestimento. Por outro lado, na superfície da amostra
lixada com peso morto de 3,2 kg, os “buracos” são mais “rasos”, indicando que houve
arrancamento total das fibras de reforço na matriz, não deixando as fibras de reforço
levantadas e de forma desordenada na matriz do revestimento. Para uma melhor
compreensão, a Figura 10 mostra uma representação esquemática para justificar os
resultados apresentados nas Figuras 7, 8 e 9.
PESO MORTO 1 KG
PESO MORTO 3,2 KG
(a)
(c)
(d)
(b)
Figura 9: Correlação entre topografia de superfícies, obtidas via MEV, de revestimentos A retificado na
condição C2 e posteriormente lixado na lixa #320 com peso morto de 1 kg e 3,2 kg.
Na Figura 10, o perfil referência representa um perfil de uma superfície virgem. A
Fni é a força normal individual em cada partícula abrasiva, ou seja, o que é
verdadeiramente efetivo, e está em função do tamanho do abrasivo. Quanto maior for o
diâmetro do abrasivo, maior será a Fni, e quanto maior for a força normal aplicada (peso
do contra-corpo), maior será a força efetiva na partícula abrasiva. A Figura 10 mostra a
atuação de três forças: Fni1, Fni2 e Fni3. Considerando Fni3 maior que Fni2 que é maior
que Fni1, pode-se ver que a superfície submetida a Fni3 (Figura 10-d) apresentou uma
maior espessura usinada, eliminando uma maior quantidade de irregularidades iniciais
da superfície.
Referencia
(a)
Fni1
(b)
Fni2
(c)
Fni3
(d)
Figura 10: Representação esquemática do processo de lixamento na superfície das amostras.
Com esta analogia, acredita-se que utilizando peso morto de 3,2 kg as
irregularidades superficiais que as amostras herdaram durante o seu processo de
fabricação, estavam sendo eliminadas e havendo a geração de uma nova superfície.
Acredita-se também que o peso morto de 1 kg não foi suficiente para eliminar as
irregularidades da superfície virgem e gerar uma nova superfície. Este fato é a razão
das amostras lixadas com peso morto de 3,2 kg apresentarem melhor qualidade
topográfica. Com isso, acredita-se que, quando as amostras são submetidas ao
processo de lixamento, a severidade do sistema não causa a geração dos “buracos” na
superfície das amostras, uma vez que, como foi visto, as amostras “herdaram” esses
“buracos” durante o processo de produção (retificação industrial).
A Figura 11 apresenta uma correlação linear da espessura usinada com o
parâmetro topográfico St. Através desta correlação pôde-se comprovar se, de fato, que
novas superfícies estavam sendo geradas.
800
DN#180_10min
DN#180_15min
DN#320_10min
DN#320_15min
DN#400_10min
DN#400_15min
AN#180_10min
AN#180_15min
AN#320_10min
AN#320_15min
AN#400_10min
AN#400_15min
DN#180_20min
700
Eu ( m)
600
500
400
300
y=x
D N # 1 8 0 _ 2 0 m in
D N # 3 2 0 _ 2 0 m in
D N # 4 0 0 _ 2 0 m in
A N # 1 8 0 _ 2 0 m in
A N # 3 2 0 _ 2 0 m in
A N # 4 0 0 _ 2 0 m in
D N # 1 8 0 _ 2 5 m in
D N # 3 2 0 _ 2 5 m in
D N # 4 0 0 _ 2 5 m in
A N # 1 8 0 _ 2 5 m in
A N # 3 2 0 _ 2 5 m in
A N # 4 0 0 _ 2 5 m in
200
100
0
0
200
400
600
800
St ( m)
Figura 11: Correlação entre a espessura usinada e o valor médio de St, das amostras de revestimento A
e D retificadas na condição Normal e lixadas com peso morto de 3,2 kg.
300
50
Normal
#180
#320
40
D N Após 1º Hora
D N Após 2º Hora
D N Após 3º Hora
D N Após 4º Hora
D N Após 5º Hora
D C2 Após 1º Hora
D C2 Após 2º Hora
D C2 Após 3º Hora
D C2 Após 4º Hora
D C2 Após 5º Hora
D C4 Após 1º Hora
D C4 Após 2º Hora
D C4 Após 3º Hora
D C4 Após 4º Hora
D C4 Após 5º Hora
250
Eu (µm)
3
Taxa de desgaste (mm /MJ)
Conforme está apresentado na Figura 11 observa-se que após dez minutos de
lixamento, somente o revestimento A, retificado na condição normal e lixado na lixa
#180, teve uma nova superfície gerada, pois apresenta uma espessura usinada maior
do que o valor médio de St. Tendo-se uma espessura usinada maior do que o valor
médio de St indica que o perfil topográfico da superfície virgem foi eliminado devido ao
desgaste causado pela lixa abrasiva, e assim gerando um novo perfil topográfico. A
Figura 11 mostra também que o lixamento durante o tempo de 10 minutos não foi
suficiente para gerar uma nova superfície, pois os pontos encontram-se abaixo da reta
de correlação linear da espessura usinada com o parâmetro topográfico St. Isto indica
que a espessura desgastada foi menor do que o valor de St, consequentemente não
havendo a eliminação da superfície virgem. Após 25 minutos de lixamento, somente o
revestimento A retificado na condição normal e lixada na lixa #180 e o revestimento D
normal e lixado na lixa #320 tiveram uma nova superfície gerada.
A Figura 12 apresenta os resultados da taxa de desgaste das amostras que
tiveram a nova superfície gerada após vinte cinco minutos de lixamento. Como os
revestimentos A e D apresentaram valores semelhantes, serão apresentados apenas
os resultados obtidos com o revestimento D. Para efeito de comparação, estes valores
foram correlacionados com a taxa de desgaste dos conjuntos retificados industrialmente
na condição normal. Através da Figura 12-a pode-se comprovar que, para este caso, a
geração de uma nova superfície não exerceu um efeito significativo no transiente inicial
da taxa de desgaste. Observa-se que a taxa de desgaste é maior nas primeiras horas
de ensaio, tendendo a permanecer constante a partir da terceira hora.
30
20
10
200
150
100
50
0
0
0
1
2
3
4
Hora de ensaio
5
6
0
100
200
300
St (µm)
(a)
(b)
Figura 12: (a)- efeito da influência da nova superfície gerada na evolução da taxa de desgaste; (b)correlação linear entre a Eu e St.
Para confirmar e deixar ainda mais claro que a geração de uma nova superfície
não exerce efeito sobre o regime transiente inicial da taxa de desgaste, foi determinado
o valor médio de St e a espessura usinada (Eu) das amostras de revestimento D
retificadas nas condições C2, C4 e normal e submetidos a serie de cinco ensaios
interrompidos no tribômetro. Foram determinados os valores de St e Eu para cada hora
de ensaio, e a Figura 12-b apresenta a correlação entre os dados. Observando a
correlação entre o St médio e a Eu nota-se que todos os pontos estão acima da reta
linear de correlação, exceto para o revestimento D condição normal após 5° hora de
ensaio e o revestimento C4 após a 1º hora de ensaio. Este comportamento mostra que
a Eu para cada hora de ensaio foi maior do que o valor médio de St, o que significa que
houve a geração de uma nova superfície. Com esta análise, concluiu-se que, após cada
hora de ensaio interrompido, uma nova superfície foi gerada, mas não exercendo
influência no regime transiente da taxa de desgaste. Comportamento similar a este
também foi observado para o revestimento A.
Quando se avalia a influência da geração de uma nova superfície no coeficiente
de atrito inicial, constata-se que gerando uma nova superfície há um ganho no
coeficiente de atrito inicial. Observa-se através da Figura 13-a que o revestimento D
normal lixado na lixa #320 e na lixa #180 apresentaram um coeficiente de atrito inicial
superior ao revestimento que foi apenas retificado industrialmente. Para o revestimento
A (Figura 13-b), observa-se que somente a amostra lixada na lixa #320 apresentou um
coeficiente de atrito inicial superior a amostra que foi apenas retificada. Apesar da
amostra lixada com lixa #180 ter tido uma nova superfície gerada, neste caso a nova
superfície não proporcionou um ganho no coeficiente de atrito inicial, pois o seu valor
encontra-se abaixo do coeficiente de atrito inicial obtido para a amostra apenas
retificada industrialmente na condição normal.
0,50
0,40
0,30
D N_Ret
D N_#180
D N_#600
0,20
0,10
0,00
Coeficiente Atrito
Coeficiente Atrito
0,50
0,40
0,30
A N_Ret
A N_#180
A N_#320
0,20
0,10
0,00
0
1
2
3
4 5 6 7 8
Tempo (minuto)
9
10 11
0
1
2
3
4 5 6 7
Tempo (minuto)
8
9
10 11
(a)
(b)
Figura 13: Efeito da nova superfície gerada no coeficiente de atrito inicial; (a)- revestimento D; (b)revestimento A.
4 CONCLUSÕES
O processo de pré-condicionamento superficial obtido pela retificação industrial não
exerceu influência no regime transiente da taxa de desgaste. Através da correlação
linear entre a Eu e o parâmetro topográfico St pôde-se comprovar que o précondicionamento superficial obtido pelo processo de lixamento laboratorial gera uma
nova superfície topográfica. A geração da nova superfície não exerceu influência no
regime transiente inicial da taxa de desgaste, mas proporcionou um aumento no
coeficiente de atrito inicial.
REFERÊNCIAS
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using Pin-on-disk machine”, Materials & Design, v. 28, Issue 7, p 2148-2153, 2007.
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running under silent and squealing conditions”, Wear, v. 232, p. 163-167, 1999.
3 Eriksson, M; Jacobson, S. “Tribological surfaces of organic pads”, Tribology International, v.
33, p. 817-827, 2000.
4 Eriksson, M.; Bergman, F; Jacobson, S. “On the nature of tribological contact in automotive
brakes”, Wear, v. 252, p. 26-36, 2002.
5 Harlin, P. et al, “Influence of surface roughness of PVD coatings on tribological performance
in sliding contacts”, Surface & Coatings Technology, p. 781-788, 2006.
6 Ho, S. C et al, “Effect of carbonization on mechanical and tribological behavior of a copperphenolic-based friction material”, Carbon, v. 43, p. 491-502, 2005.
7 Nyman, P. et al, “Influence of surface topography on fricition characteristics in wet clutch
applications”, Wear, v. 261, p. 46-52, 2005.
8 Ost, W. et al, “The tribological behaviour of paper friction plates for wet clutch application
investigated on SAE#II and pin-on-disk test rigs”, Wear, v. 249, p. 361-371, 2001.
9 O¨ Sterle, W.; Urban, I. “Third body formation on brake pads and rotors”, Tribology
International, v. 39, p. 401-408, 2006.
10 Fernandes, G. P., “Application of Tribology the Study and Development of Materials to
Automotive Clutch”, 2007, 142 f. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de
Uberlândia, Uberlândia.