DOI: 10.4025/reveducfis.v23.4.16934
IMPACTO DA PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA NO ESTRESSE PERCEBIDO E
NA SATISFAÇÃO DE VIDA DE IDOSOS
IMPACT OF PHYSICAL ACTIVITY ON PERCEIVED STRESS AND LIFE SATISFACTION OF
ELDERLY PEOPLE
*
José Roberto Andrade do Nascimento Junior
**
Julia Bellini Capelari
***
Lenamar Fiorese Vieira
RESUMO
Este estudo objetivou investigar o impacto da prática de atividade física no nível de estresse e na satisfação de vida de idosos.
Foram sujeitos 187 integrantes da Universidade Aberta à Terceira Idade de um município da região Noroeste do Paraná.
Como instrumentos foram utilizados a Escala de Estresse Percebido e a Escala para Avaliação de Atitudes em Relação à
Velhice. Para a análise dos dados, aplicaram-se os testes Kolmogorov-Smirnov, Mann-Whitney, a Correlação de Spearman, o
Qui-quadrado e a Regressão de Poisson (p < 0,05). Os resultados evidenciaram que os praticantes de atividade física
apresentaram maior satisfação com a velhice e menor nível de estresse e sentimentos de perda se comparados aos nãopraticantes (p = 0,001). A prática de atividade física está associada com todas as variáveis (p=0,001), indicando que exerce
impacto no estresse e na satisfação de vida. Concluiu-se que a atividade física é um elemento interveniente na percepção do
estresse e na satisfação de vida, contribuindo para um envelhecimento saudável.
Palavras-chave: Estresse. Satisfação de Vida. Atividade Física.
INTRODUÇÃO
Em razão do crescimento da expectativa de
vida, estudos (SCHOUERI JUNIOR; RAMOS;
PAPALÉO NETTO, 2000; MOTL; MCAULEY,
2010) estimam que, em 2025, 75% da população
mundial terá mais de 60 anos (GOULDING;
ROGERS; SMITH, 2003; WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2010). Nesse contexto,
pesquisas relacionadas às alterações físicas e
psicológicas que se manifestam em decorrência
do envelhecimento e aquelas que abordam a
influência da atividade física nesse processo têm
ganhado forte impacto no cenário científico
mundial (KOLTYN, 2001; BASTUG; DUMAN,
2010; KOTANI et al., 2012). Esse destaque
justifica-se pelo fato de que a maneira como
cada indivíduo se adapta às modificações físicas,
psicológicas e sociais pode determinar um
envelhecimento saudável ou repleto de
*
dificuldades (MAZO et al., 2005; CUPERTINO;
ROSA; RIBEIRO, 2007).
Todas as alterações e mudanças derivadas
do processo de envelhecimento – sejam elas de
origem psíquica, social ou física – são
caracterizadas como situações estressantes (LEE
et al., 2012) que, quando percebidas pelos
idosos como ameaças, podem influenciar muitos
aspectos de sua vida (LAZARUS, 1993). Muitos
estudos relacionam o estresse e a satisfação de
vida com outras variáveis, como motivação,
ansiedade, abandono familiar, ambientes
hospitalares, saúde mental e depressão
(SUBASI; HAYRAN, 2005; JOIA; RUIZ;
DONALÍSIO, 2007; WOOD et al., 2010;
FAGERSTROM et al., 2012; LAVY; OVADIA,
2011; KIM; YOSHIDA; SUZUKI, 2011). Há
também numerosas pesquisas que descrevem a
influência da atividade física sobre os aspectos
fisiológicos e psicológicos do idoso (ARGIMON
et al., 2004; THRALL et al., 2007; BASTUG;
DUMAN, 2010; MOTL; MCAULEY, 2010;
Doutorando. Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física UEM/UEL, Maringá-PR, Brasil.
**
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá. Maringá-PR, Brasil.
***
Doutora. Professora do Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física, UEM/UEL, Maringá-PR, Brasil.
Rev. Educ. Fis/UEM, v. 23, n. 4, p. 647-654, 4. trim. 2012
648
Nascimento Júnior et al.
EYRE; BAUNE, 2012). No entanto, a consulta
bibliográfica não localizou trabalhos que
associem a prática de atividade física com o
estresse percebido e a satisfação de vida dos
idosos. Deste modo, o presente estudo pretende
preencher esta lacuna, além de verificar o
impacto psicológico da prática de atividade
física realizada pelo idoso.
De acordo com o modelo transacional de
Lazarus e Folkman (1984), também denominado
de modelo cognitivo, o desencadeamento do
estresse ocorre em função dos processos de
avaliação das diversas situações pelo sujeito
(LAZARUS, 1993). Neste modelo, as reações ao
estresse resultam da relação entre exigência e
meios disponíveis de cada indivíduo, sendo
mediada por processos cognitivos. Assim,
estudos afirmam que numerosos fatores externos
e internos podem influenciar no estresse e na
satisfação de vida de idosos (JOIA; RUIZ;
DONALÍSIO, 2007; WOOD et al., 2010).
Neste contexto, a prática de atividade física
pode ser um elemento interveniente na vida de
um idoso, uma vez que está relacionada com a
melhora ou o controle de muitas doenças ou
disfunções, tais como hipertensão arterial
(LIMA-COSTA et al., 2009), diabetes
(FRANCISCO et al., 2010), doenças
cardiovasculares (MESQUITA; JORGE, 2010),
dislipidemias, obesidade, síndromes metabólicas
(FREITAS;
HADDAD;
VELÁSQUEZMELÉNDEZ, 2009), depressão (MAZO et al.,
2005; LEE et al., 2012) e falta de memória
(PAULO; YASSUDA, 2010). Além disso,
exercícios regulares reduzem o risco de
aparecimento de doenças crônicas (FERREIRA,
2003; KOTANI et al., 2012).
Diante da relevância social desse tema, temse ressaltada a contribuição que os profissionais
de Educação Física podem oferecer para o
envelhecimento saudável do idoso. A fim de
ampliar o conhecimento acerca dos benefícios
da atividade física, o presente estudo objetivou
analisar o impacto da prática esportiva sobre
dois aspectos psicológicos específicos: o
estresse percebido pelo idoso e a satisfação de
vida.
MÉTODOS
Foram convidados a participar do estudo os
idosos praticantes e não-praticantes de atividade
física integrantes da Universidade Aberta à
Terceira Idade (Unati) de um município da
região Noroeste do Estado do Paraná,
totalizando 375 sujeitos. O critério de seleção da
amostra foi a busca de um grupo representativo
de idosos. Os selecionados frequentaram cursos
oferecidos dentro da instituição, entretanto não
foram todos os idosos que aceitaram participar
da pesquisa. O grupo de praticantes de atividade
física foi composto por 84 idosos das turmas de
hidroginástica, alongamento e academia; e o
grupo de não-praticantes de atividade física foi
constituído por 103 idosos das turmas de
informática básica, filosofia, inglês e saúde,
totalizando 187 sujeitos que assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido.
Para mensurar o nível de estresse percebido,
foi utilizada a Escala de Estresse Percebido,
originalmente
desenvolvida
por
Cohen,
Karmack e Mermelstein (1983) e validada para a
língua portuguesa por Luft et al. (2007). O
instrumento possui 14 itens que avaliam o nível
de estresse percebido pelos idosos. Os itens são
respondidos em uma escala do tipo likert de 5
pontos, num “continuum” de “nunca” (0) até
“sempre” (4). A escala totaliza 56 pontos e,
quanto maior o escore, maior o nível de estresse
percebido. As consistências internas das
dimensões foram, respectivamente, α = 0,77 e α
= 0,62, evidenciando confiabilidade dos dados
de moderada para forte.
A fim de verificar o grau de satisfação de
vida dos idosos, foi empregada a Escala para
Avaliação de Atitudes em Relação à Velhice,
originalmente elaborada por Sheppard (1981) e
validada para a língua portuguesa por Neri
(1986). O instrumento é composto por 20 itens
que avaliam sentimentos de satisfação com a
velhice
(autoestima,
sexualidade,
autorrealização, lazer e companheirismo) e
sentimentos de perda em relação à velhice
(incerteza, morte, dependência, solidão e
apreensão quanto ao futuro). Os itens são
respondidos em uma escala do tipo likert de 5
pontos, que variam de “discordo totalmente” (1)
a “concordo totalmente” (5). Quanto maior a
média de cada dimensão, maior o grau de
sentimentos de satisfação ou de sentimentos de
perda em relação à velhice. A consistência
Rev. Educ. Fis/UEM, v. 23, n. 4, p. 647-654, 4. trim. 2012
649
Impacto da prática de atividade física no estresse percebido e na satisfação de vida de idosos
interna do questionário foi α=0,67, indicando
moderada confiabilidade dos dados.
Como procedimentos, inicialmente foi
solicitada a autorização do Coordenador da
Unati, tendo como meta esclarecer os
objetivos e os procedimentos que seriam
utilizados durante a pesquisa. Após a
autorização, o estudo foi submetido ao Comitê
Permanente de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos (Copep), aprovado conforme consta
no Parecer nº 638/2010. Foram agendadas
datas para assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido pelos
sujeitos. A coleta de dados, que durou 30 min
em média, foi realizada no próprio local das
aulas, com horários pré-determinados pelos
participantes.
Para a análise da distribuição dos dados,
foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov.
Como os dados não apresentaram distribuição
normal, foi empregado o teste “U” de MannWhitney para comparar os grupos, recorrendose a mediana e quartis para caracterizá-los. A
correlação entre as variáveis foi verificada
mediante o uso do coeficiente de correlação
de Spearman. O teste Qui-quadrado (2x2) foi
utilizado para verificar a associação entre as
variáveis, que foram categorizadas em: a)
estresse percebido: 0 a 28 (baixo nível) e
acima de 28 (alto nível); b) satisfação de vida:
1,0 a 3,0 (não satisfeito) e acima de 3,0
(satisfeito); c) sentimentos de perda: 1,0 a 3,0
(sem sentimentos de perda) e acima de 3,0
(com sentimentos de perda). Para verificar o
impacto da prática de atividade física no nível
de estresse percebido e na satisfação de vida
dos idosos, foi utilizada a Regressão de
Poisson com ajuste robusto. A significância
adotada foi p < 0,05.
RESULTADOS
Na Tabela 1 é apresentada a comparação do
grau de satisfação com a velhice, sentimentos de
perda e do nível de estresse percebido entre
idosos praticantes e não-praticantes de atividade
física.
Tabela 1 – Comparação do grau de satisfação com a velhice, sentimentos de perda e nível de estresse percebido
por idosos em função da prática de atividade física.
Satisfação com a velhice
Praticantes
(n = 83)
Md (Q1;Q3)
3,58 (3,46;367)
Não-praticantes
(n = 104)
Md (Q1;Q3)
2,67 (2,50;2,92)
0,001*
Sentimentos de perda
2,57 (2,57;2,80)
3,57 (3,14;3,71)
0,001*
28,00 (28,00;29,00)
34,00 (33,00;36,00)
0,001*
VARIÁVEIS
Estresse percebido
P
* Diferença significativa- p<0,005.
Como se depreende da Tabela 1 verificou-se
diferença significativa em todas as variáveis
entre os idosos praticantes e não-praticantes de
atividade física (p=0,001). Os idosos praticantes
de atividade física apresentaram maior nível de
satisfação com a velhice (Md=3,58), ao passo
que os não-praticantes apresentaram maior nível
de sentimentos de perda em relação à velhice
(Md=3,57) e maior grau de estresse percebido
(Md=34,00).
Ao analisar a correlação entre o grau de
satisfação com a velhice, os sentimentos de
perda e o nível de estresse percebido pelos
idosos, observou-se correlação positiva e
estatisticamente significativa entre sentimentos
de perda em relação à velhice e estresse
percebido (r=0,665). Verificou-se também uma
correlação inversa e forte entre a satisfação com
a velhice e o nível de sentimentos de perda (r=0,732) e entre a satisfação com a velhice e o
grau de estresse percebido (r=-0,650). Na
Tabela 2 é mostrada a associação da prática de
atividade física com as variáveis estresse
percebido, satisfação com a velhice e
sentimentos de perda.
Rev. Educ. Fis/UEM, v. 23, n. 4, p. 647-654, 4. trim. 2012
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Nascimento Júnior et al.
Tabela 2 – Associação da prática de atividade física com o nível de estresse percebido, satisfação com a velhice
e sentimentos de perda.
Prática de atividade física
Sim
Não
Total
VARIÁVEL
X2
P
(n=83)
(n=104)
(n=187)
ƒ
%
ƒ
%
ƒ
%
Estresse percebido
Baixo nível
Alto nível
Satisfação com a velhice
56
27
100,0
20,6
0
104
0,0
79,4
56
131
100,0
100,0
Sim
83
76,9
25
23,1
108
100,0
Não
Sentimentos de perda
0
0,0
79
100,0
79
100,0
Sim
5
5,2
92
94,8
97
100,0
Não
78
86,7
12
13,3
90
100,0
100,16
0,001*
109,17
0,001*
125,66
0,001*
* p<0,05.
Houve
associação
estatisticamente
significativa da prática de atividade física com o
estresse percebido (p=0,001), evidenciando que
a não-prática de atividade física pode acarretar
alto nível de estresse. Verificou-se também
associação significativa entre a prática de
atividade física e a satisfação com a velhice
(p=0,001).
Notou-se
ainda
associação
significativa entre a prática de atividade física e
sentimentos de perda (p=0,001), evidenciando
que idosos que praticaram atividade física
mostraram-se menos propensos a sentimentos de
perda em relação à vida.
Ao observar associações significativas entre
as variáveis, objetivou-se verificar a magnitude
das associações entre as variáveis por meio da
Regressão de Poisson com ajuste robusto
(Tabela 3). Notou-se que a prática de atividade
física foi uma variável preditora de todas as
variáveis (p=0,001), apontando uma magnitude
(razão de prevalência) das associações
encontradas.
Tabela 3 –
Impacto da prática de atividade física no nível de estresse, satisfação com a velhice e sentimentos
de perda dos idosos.
Variável preditora
Variável desfecho
RP (IC95%)
P
Atividade física
Baixo nível de estresse percebido
1,51 (1,40-1,63)
0,001*
Satisfeito com a velhice
1,75 (1,68-1,84)
0,001*
Sem sentimentos de perda
1,78 (1,67-1,88)
0,001*
*p<0,05. RP: razão de prevalência; IC 95%: intervalo de confiança de 95%.
Percebeu-se que os idosos praticantes de
atividade física demonstraram razão de
prevalência de 51% (1,51) de apresentar baixo
nível de estresse, 75% (1,75) sentiram-se
satisfeitos com a velhice e 78% (1,78) não
apresentaram sentimentos de perda comparados
aos não-praticantes de atividade física
(p=0,001).
DISCUSSÃO
Verificou-se por meio de consulta
bibliográfica que este é o primeiro estudo na
literatura a analisar o impacto da prática da
atividade física no estresse percebido e na
satisfação de vida dos idosos. Como
demonstram os dados da Tabela 2, a prática de
exercício se associou com todas as variáveis, o
que sugere o impacto da atividade física no
estresse e na satisfação de vida dos idosos
(Tabela 3). Os idosos praticantes de atividade
física também apresentaram maior grau de
satisfação de vida, menor nível de estresse
Rev. Educ. Fis/UEM, v. 23, n. 4, p. 647-654, 4. trim. 2012
Impacto da prática de atividade física no estresse percebido e na satisfação de vida de idosos
percebido e sentimentos de perda em relação à
velhice (Tabela 1).
A associação da prática de atividade física com
o envelhecimento saudável tem sido amplamente
relatada na literatura, sobretudo quando se trata dos
benefícios relacionados aos aspectos físicos,
psicológicos e sociais (PICKERING et al., 2001;
ARGIMON et al., 2004; BENEDETTI et al., 2008;
BAUSTAG; DUMAN, 2010; LEE et al., 2012).
Neste estudo percebeu-se que a prática de atividade
física contribui para o enfrentamento dos fatores
estressantes e para a maior satisfação de vida dos
idosos (Tabela 2).
De fato, a prática da atividade física pode
produzir forte impacto na vida do idoso, pois
acarreta diversos benefícios, tais como diminuição
da gordura corporal, aumento da massa muscular e
da força, incremento da densidade óssea, melhora
da flexibilidade (FERREIRA, 2003; THRALL et
al., 2007; KOTANI et al., 2012) e diminuição do
risco de doenças cardiovasculares (PICKERING et
al., 2001). No entanto, o exercício não contribui
apenas para a melhora do estado físico do idoso,
mas também incide em aspectos psicológicos,
como a autoestima, a imagem corporal, a qualidade
de vida, a depressão, o bem-estar, o estresse e a
satisfação de vida (CUPERTINO; ROSA;
RIBEIRO, 2007; MELÉNDEZ et al., 2009;
MOTL; MCAULEY, 2010; LAVY; OVADIA,
2011; EYRE; BAUNE, 2012).
De acordo com o Modelo Transacional de
Estresse (LAZARUS; FOLKMAN, 1984), as
experiências pelas quais os indivíduos passam
durante a vida e a maneira como avaliam cada
situação, são fatores que podem provocar o
desenvolvimento do estresse. Nesse contexto, a
prática regular de atividade física tem sido
considerada uma situação que promove desafios
aos idosos (KOLTYN, 2001; ARGIMON et al.,
2004) e que, consequentemente, proporciona o
bem-estar e a satisfação de vida, além de evitar a
ocorrência dos fatores estressantes danosos do
processo de envelhecimento (LAZARUS, 1993).
Percebeu-se também no presente estudo que a
prática de atividade física contribui para que idosos
não desenvolvam sentimentos de perda em relação
à vida, não permitindo a ocorrência de doenças
como a depressão e o estresse causados pelo
envelhecimento (Tabela 3). Desse modo, o idoso
ativo fisicamente tem mais chances de se sentir
satisfeito com a vida. Esse resultado pode estar
651
relacionado ao fato de a prática de atividade física
proporcionar ao idoso diversas interações sociais
com sujeitos da mesma idade e também de
diferentes faixas etárias, auxiliando assim a
melhora do estado emocional e evitando
sentimentos negativos como a depressão (MAZO
et al., 2005; LEE et al., 2012).
Os idosos praticantes de atividade física se
mostraram mais satisfeitos, menos estressados e
com menos sentimentos de perda em relação à
velhice se comparados aos não-praticantes
(Tabela 1). Esses resultados confirmam a
importância da atividade física para a satisfação
de vida, a inibição do estresse e,
consequentemente, para a melhor qualidade de
vida dos idosos (PICKERING et al., 2001;
BASTUG; DUMAN, 2010; EYRE; BAUNE,
2012; PORTO et al., 2012).
Apesar de os benefícios da prática de atividade
física serem vastamente expressados pela literatura,
Xavier et al. (2003) ressaltam que poucos são os
idosos que realizam essas atividades regularmente,
demonstrando a importância de estudos que
transmitam conhecimentos sobre a problemática do
envelhecimento e do papel essencial da atividade
física. Desse modo, tais pesquisas contribuíram
para a formação de profissionais competentes no
cuidado com a terceira idade e para a
conscientização dos idosos em relação à
necessidade
de
exercitar-se
fisicamente
(KOLTYN, 2001).
Notou-se que os idosos satisfeitos com a
vida apresentaram menor nível de estresse e
menos sentimentos de perda, isto é,
demonstraram
estar
vivenciando
o
envelhecimento saudável. A literatura aponta
que idosos satisfeitos com a vida são capazes de
enfrentar o estresse de maneira mais eficiente
(LAZARUS, 1993; JOIA; RUIZ; DONALÍSIO,
2007; FAGERSTROM et al., 2012), além de
desenvolver uma virtude importante para a
continuidade da vida madura, a sabedoria, que
consiste no resultado positivo do processo de
revisão e feedback da vida (CUPERTINO;
ROSA; RIBEIRO, 2007). Tais características
permitem ao indivíduo superar perdas e
experiências vividas durante o processo de
envelhecimento (ALBUQUERQUE; TRÓCCOLI,
2004).
Na mesma ótica, McArdle, Katch, F. e Katch,
V. (2008) afirmam que, quanto mais positivas as
Rev. Educ. Fis/UEM, v. 23, n. 4, p. 647-654, 4. trim. 2012
652
Nascimento Júnior et al.
condições psicológicas dos idosos, melhor é o
funcionamento das áreas que produzem hormônios
relacionados ao prazer e ao bem-estar, tanto físicos
como psicológicos. Ademais, os idosos que se
encontram satisfeitos com a vida também
apresentam mais estratégias de enfrentamento do
estresse (MELÉNDEZ et al., 2009).
Houve correlação positiva entre o estresse
percebido e os sentimentos de perda, indicando
que, quanto mais os idosos são afetados pelos
fatores estressantes do envelhecimento, mais
desenvolvem sentimentos negativos em relação à
vida. Esses resultados vão ao encontro das
conclusões de Joia, Ruiz e Donalísio (2007), os
quais verificaram que idosos que não se sentiam
satisfeitos com a vida e demonstraram sentimentos
de perda, estavam mais suscetíveis à solidão e ao
estresse.
Desta forma, os achados do presente estudo
possibilitam afirmar que a prática da atividade
física apresenta uma relação muito importante com
o processo de envelhecimento saudável, visto que
contribui para o aumento da satisfação de vida e
para a redução do estresse dos idosos, evitando o
aparecimento de sentimentos de perda em relação à
vida e à solidão.
No entanto, também podem ser apontadas
algumas limitações do presente estudo. Os
participantes pertenciam a uma instituição do
interior do Estado do Paraná, impossibilitando
a generalização dos resultados aqui descritos
para toda a realidade nacional. Além disso,
esta pesquisa restringiu-se à análise específica
do impacto da atividade física sobre a
satisfação de vida e o estresse em idosos,
contudo sabe-se que há outras variáveis que
podem intervir no estado psicológico dos
idosos. Por essa razão, são convenientes e
necessários estudos que focalizem os demais
fatores
que
influenciam a
condição
psicológica dos idosos, além de mais
investigações que ampliem o conhecimento a
respeito do papel da atividade física para a
manutenção de uma vida saudável depois de
atingida a terceira idade.
CONCLUSÃO
Percebeu-se que idosos praticantes de
atividade física estão mais suscetíveis ao
envelhecimento saudável nos aspectos psicológicos
relacionados à satisfação de vida e ao estresse. Ao
mesmo tempo, o exercício físico mostrou-se eficaz
ao evitar o aparecimento de sentimentos negativos
durante a velhice. Ressalta-se que a atividade física
é um meio de buscar o equilíbrio entre as perdas
comuns e a velhice, proporcionando aos idosos
uma forma de crescimento pessoal e de satisfação
de vida, além de ser uma aliada na superação dos
fatores estressantes. Como implicações práticas,
sugere-se o incentivo para a adesão de idosos em
atividades físicas, vistos seus benefícios durante o
processo de envelhecimento.
IMPACT OF PHYSICAL ACTIVITY ON PERCEIVED STRESS AND LIFE SATISFACTION OF ELDERLY
PEOPLE
ABSTRACT
This study investigated the impact of physical activity on the level of stress and life satisfaction of elderly people. The
subjects were 187 members of the Open University of Third Age of a city in the northwestern Paraná State. As instruments it
was used the Perceived Stress Scale and the Scale for Assessing Attitudes Toward Aging. For data analysis, it was applied
Kolmogorov-Smirnov, Mann-Whitney, Spearman correlation, Chi-square and Poisson regression (p < 0.05). The results
showed that physically active individuals had higher life satisfaction, and lower level of stress and feelings of loss in
comparison to non-practitioners (p = 0.001); the physical activity was associated with all variables (p = 0.001), indicating the
impact of the physical activity on stress and life satisfaction. In conclusion, the physical activity is a key element to perceive
the stress and the life satisfaction, contributing to a healthy aging.
Keywords: Stress. Life Satisfaction. Physical Activity.
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Rev. Educ. Fis/UEM, v. 23, n. 4, p. 647-654, 4. trim. 2012
Impacto da prática de atividade física no estresse percebido e na satisfação de vida de idosos
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Recebido em 24/04/2012
Revisado em 15/08/2012
Aceito em 22/09/2012
José Roberto Andrade do Nascimento Junior. Avenida Colombo, 5790, CEP 87020900, Jardim Universitário, Maringá-PR, Brasil. Email: jroberto.jrs01@gmail.com.
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