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qualidade e inovação na construção
deteção de anomalias em
revestimentos de ladrilhos por
termografia de infravermelhos
Tomás Caldeira Lourenço, Mestrado Integrado em Engenharia Civil, FCT-UNL, tc.lourenco@campus.fct.unl.
Luís Matias, Doutoramento em Eng. Civil, Departamento de Engenharia Civil, LNEC, lmatias@lnec.pt
Paulina Faria, Doutoramento em Eng. Civil, CERIS e Dep. Eng. Civil, Universidade NOVA de Lisboa, paulina.faria@fct.unl.pt
INTRODUÇÃO
O revestimento de fachadas com recurso
a ladrilhos cerâmicos aderentes é uma das
técnicas de revestimento mais complexas
e que é usada desde há muito tempo, sendo
uma das mais características de Portugal. A
sua complexidade deve-se ao facto de ser um
sistema constituído por três componentes
com diferentes características e requisitos
técnicos: o produto de colagem, sendo o
mais comum o cimento-cola (NP EN 12004;
2007/2014), o ladrilho cerâmico (EN 14411;
2016) e o produto de preenchimento de juntas
(EN 13888; 2009).
Por ser tão complexo, este tipo de revestimento encontra-se sujeito a um grande número de
anomalias nos seus diferentes componentes.
No entanto, o destacamento de ladrilhos merece especial atenção, não só por ser a anomalia
desde há muito mais comum neste tipo de
revestimento (representando cerca de 50%
das anomalias verificadas (Carvalho Lucas;
2001 citando Dufour; Della Giustina; 1948),
chegando a 71% no caso de Brasília (Bauer et
al.; 2014; Bauer et al.; 2011), mas também pelo
facto de ter graves consequências estéticas,
na redução do nível de desempenho da fachada
e sobretudo devido ao facto de implicar riscos
de segurança.
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JANEIRO/FEVEREIRO 2017
O destacamento de ladrilhos consiste na
perda de aderência entre duas ou mais das
seguintes camadas: suporte, cimento-cola
e ladrilho cerâmico. Esta perda de aderência
dá, inicialmente, lugar à criação de um vazio
entre camadas que pode ser preenchido por
ar ou água e que, no limite, provoca a queda
do ladrilho. As principais causas de destacamento de ladrilhos cerâmicos são (Carvalho
Lucas; 2001):
– deficiente preparação do suporte (deve ser
limpo antes da aplicação);
– escolha errada de materiais;
– colagem deficiente dos ladrilhos (por
exemplo usando colagem simples em vez
de colagem dupla);
– dimensionamento errado das juntas;
– deformações excessivas do suporte;
– presença de humidade.
Esta anomalia é atualmente analisada através
de métodos que, apesar de capazes de a identificar, são apenas aplicáveis a pequenas áreas
da fachada de cada vez, sendo necessário
extrapolar os resultados obtidos de uma parte
para o resto da parede; são de difícil utilização
para edifícios em altura e são por vezes destrutivos (por exemplo o ensaio de arrancamento).
Os métodos mais usados atualmente são
(Silvestre et al.; 2008):
–
–
–
–
ensaio de arrancamento;
ensaio de impacto de esfera (pavimentos);
ensaio de percussão;
ensaio de ultra-sons.
Face às limitações dos métodos correntemente usados para deteção de destacamentos, é
necessário encontrar um método mais fácil
e expedito de diagnóstico para este tipo de
anomalia.
A termografia de infravermelhos é um método
de diagnóstico não destrutivo cada vez mais
conhecido devido à variedade de áreas onde
pode ser aplicado (desde a área militar à saúde,
passando pela inspeção de edifícios, entre
outras). Usado cada vez mais na inspeção de
edifícios, este método é reconhecido pela sua
elevada capacidade de deteção de pontes térmicas e falta de isolamento térmico, infiltração
e exfiltração de ar, presenças de humidade e
anomalias em sistemas de impermeabilização
(Matias; 2012; Maladague; 2001; Melrinho;
2014).
O método de diagnóstico baseia-se na capacidade de todos os materiais de, a uma dada
temperatura, emitirem radiação térmica
(uma parte do espetro eletromagnético que
compreende parte da radiação infravermelha,
a radiação visível e parte da radiação ultravioleta). Sendo a radiação máxima emitida por
um corpo a uma temperatura da ordem de
grandeza dos 15-70°C (caso dos revestimentos em estudo) maioritariamente na zona do
infravermelho, cujo máximo poder emissivo
se encontra corresponde a comprimentos de
onda entre os 10,1μm e os 8,5μm, é nesta
região do espetro que a maioria das câmaras
termográficas opera, recebendo a radiação
eletromagnética e transformando-a em sinais
que são concretizados sob a forma gráfica de
um termograma.
Quando a radiação térmica incide sobre um
corpo, pode ser dividida em três partes: uma
parte é absorvida, outra é refletida e outra
parte é transmitida (Hart; 1991). O conhecimento destes processos é fundamental para
realizar uma boa inspeção termográfica, cujo
objetivo é medir a radiação emitida pelo objeto
em estudo, reduzindo ao máximo as radiações
que podem “contaminar” o termograma. São
os casos da radiação refletida pela superfície
e da radiação que é emitida pelo espaço de
ar entre a câmara e o alvo - duas frações de
radiação que, tal como a fração emitida pelo
objeto, sofrem atenuação atmosférica, função
da transmitância da atmosfera (Usamentiaga
et al., 2014). De forma a minimizar os erros e
conseguir uma boa imagem termográfica, é então necessário quantificar vários parâmetros
e introduzi-los no sistema (estes parâmetros
serão explicados no capítulo Campanha de
medições).
Existem dois tipos de técnicas de diagnóstico:
a termografia passiva e a termografia ativa.
O primeiro método consiste na interpretação
das temperaturas superficiais sem imposição
de qualquer tipo de fluxo térmico artificial
ao objeto em análise. Assim, as variações
térmicas que possam levar a um diagnóstico
dever-se-ão ou à ação do sol, em casos de exposição, ou a um fluxo térmico que atravesse
o elemento resultante de uma diferença de
temperatura entre os dois meios ambientes
separados pelo referido elemento.
Para uma inspeção de termografia ativa é
necessário provocar uma variação térmica,
quer seja da forma mais fácil, aquecendo o
objeto de estudo com uma lâmpada ou placa
de aquecimento, ou usando métodos mais
alternativos como a “vibro-termografia”, em
que se aplicam vibrações ao objeto que podem
realçar, por exemplo, a temperatura de fissuras
(Lourenço et al.; 2016).
A termografia ativa pode ainda ser dividida em
dois métodos: o método de reflexão, em que a
ação térmica é imposta do lado do objeto em
que vai ser realizada a termografia (sendo o
método indicado para deteção de anomalias
superficiais), e o método de transmissão, em
que o aquecimento é feito do lado do objeto
oposto ao que vai ser observado pela câmara
(o fluxo de calor que é criado neste método
pode ser útil para detetar anomalias mais
profundas).
De acordo com Lourenço et al. (2016), o vazio
criado no destacamento de ladrilhos cerâmicos, ao ser preenchido por um elemento diferente do cimento-cola, como ar ou água entre
as camadas do revestimento (Hart; 1991), cria
condições distintas em termos de comportamento térmico que irão possibilitar, através
do método adequado, a deteção da referida
anomalia por análise termográfica.
Este método de ensaio não destrutivo já foi
estudado por vários autores para deteção de
anomalias em ladrilhos (Bauer et al.; 2014; Edis
et al.; 2014) ou para propósitos diretamente
relacionados (Bauer et al.; 2014; Freitas et al.;
2014; Theodorakeas et al.; 2014; Melrinho et
al.; 2015; Freitas et al.; 2013), como o caso do
destacamento de argamassas de reboco. No
entanto, considera-se que deve ser realizada
mais investigação para eliminar as dúvidas e
pontos fracos associados ao método, como por
exemplo a falta de normas de ensaio.
MODELOS EXPERIMENTAIS
Para o presente estudo foram realizados um
total de quatro painéis com revestimento de
ladrilhos cerâmicos em duas fachadas viradas a Oeste de duas células experimentais situadas na Estação Experimental de Exposição
Natural de Revestimentos do LNEC (fig. 1). Na
primeira célula (célula 1), os ladrilhos foram
colocados sobre um suporte de ETICS (sistema de isolamento térmico pelo exterior); na
segunda célula (célula 2) os ladrilhos foram
colocados sobre a solução mais corrente de
reboco cimentício de regularização. Os dois
painéis feitos em cada célula diferem um
do outro na cor dos ladrilhos; assim, cada
fachada contém um painel de ladrilhos pretos
à esquerda e um painel de ladrilhos brancos
à direita.
Dentro de cada painel existem propositadamente ladrilhos bem aderentes e ladrilhos
cujo tardoz contém um espaço “vazio”, isto
é, sem argamassa de colagem, simulando o
destacamento dos ladrilhos. Os ladrilhos com
simulação de destacamento apresentam-se
com o mesmo posicionamento relativo em
cada painel. Na figura 2 encontra-se uma fotografia da fachada da célula com revestimento
do tipo ETICS associada a um esquema das
anomalias provocadas.
Os painéis foram realizados com recurso aos
seguintes materiais (designações comerciais)
antes do preenchimento das juntas:
– cimento-cola flexível para colagem de
peças cerâmicas de qualquer absorção de
água em paredes e pavimentos, interiores
e exteriores (Weber.col flex M);
– ladrilhos de grés porcelânico retificado
(0,30x0,30m 2) Revigres crom.branco
(ladrilhos brancos) e Revigres crom.preto
(ladrilhos pretos).
Na célula com suporte em ETICS (Weber), durante a execução do barramento do sistema
de isolamento pelo exterior, foram colocados
dois termopares em cada painel (sob os
ladrilhos) nos locais correspondentes a um
ladrilho destacado e a um ladrilho aderente.
Estes termopares destinam-se à medição
em contínuo das diferenças de temperaturas
entre os ladrilhos aderentes e destacados. A
instrumentação dos painéis com termopares
encontra-se esquematizada na figura 2.
Os ladrilhos foram então colados através
do método de colagem simples com talocha
dentada de 9mm e uma espessura de colagem
de cerca de 3mm. As juntas entre ladrilhos
distam de 5mm conforme recomendação
da APICER (2003). A simulação de anomalia
nos ladrilhos representados na figura 2 foi
conseguida aplicando a mesma espessura
de cimento-cola mas apenas nos cantos de
cada ladrilho, deixando assim um espaço
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qualidade e inovação na construção
de ar que simula o que acontece aquando do
destacamento de ladrilhos nos casos reais.
Na figura 3 pode-se ver a colocação dos
ladrilhos com anomalia, bem como o espaço
criado no seu tardoz.
CAMPANHA DE MEDIÇÕES
Como referido anteriormente, procurando
replicar os casos em obra em que pode ser útil
a informação acerca da qualidade da aplicação
dos ladrilhos antes de se proceder ao fechamento das juntas, foi realizada uma campanha
de medições durante um dia com sucessivas
termografias, de modo a verificar a possibilidade de detetar as referidas anomalias.
A câmara termográfica utilizada foi o modelo
ThermaCAM P640 da FLIR Systems, existente
no Núcleo de Isolamentos e Revestimentos do
LNEC e cuja gama espetral se situa entre os
7,5μm e os 13μm.
As medições foram realizadas utilizando um
método de termografia passivo, utilizando
a radiação solar como principal elemento de
aquecimento. Este método foi o escolhido
pois, para além de o aquecimento do lado da
superfície (método de reflexão) ser o mais indicado para deteção de anomalias superficiais,
este é também o mais simples. Responde-se,
assim, ao objetivo de encontrar um método
simples, expedito e não destrutivo de deteção
de anomalias.
De salientar que, para a campanha experimental, foi necessário reunir alguns parâmetros
a introduzir na câmara de forma a obter os
resultados o mais fidedignos possível. Os parâmetros medidos foram os seguintes:
– Emitância – este parâmetro é com certeza o
mais importante numa inspeção termográfica, sobretudo para materiais com baixa
emitância (onde uma pequena variação
de emissividade pode levar a grandes
variações nas temperaturas registadas).
O método utilizado para a medição deste
parâmetro foi o “método da fita preta”,
que consiste em usar uma fita preta de
>1
>2
>3
> Figura 1: Célula experimental 1 (a) e célula experimental 2 (b).
> Figura 2: Fotografia da fachada revestida com ETICS com representação esquemática das anomalias e instrumentação.
> Figura 3: Aplicação de um ladrilho com simulação de anomalia (a) e espaço criado no tardoz do ladrilho com anomalia (b).
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emitância conhecida que é colada ao material a estudar; o objeto é depois aquecido
preferencialmente até à temperatura a que
vai estar sujeito durante o ensaio e é obtida
uma termografia (com a emitância definida
para a fita preta). Posteriormente, através
de um método iterativo, muda-se a emitância nas configurações do equipamento até
se conseguir igualar as temperaturas do
objeto em estudo e da fita. O valor correspondente a esta igualdade é a emitância do
material. No caso dos ladrilhos em estudo,
a emitância foi medida em laboratório em
provetes constituídos pelos mesmos
ladrilhos aquecidos com uma placa de
aquecimento (Matias; 2012).
– Temperatura refletida – este parâmetro
foi obtido segundo o método de reflexão
descrito no manual do equipamento
termográfico (FLIR Systems; 2006). Em
frente aos painéis foi colocada uma folha
de alumínio amarrotada e alisada (para
que a radiação refletida fosse o mais difusa
possível) e a sua temperatura (temperatura
refletida) foi então medida recorrendo
a uma termografia cujos parâmetros de
emitância e distância ao objeto são 1 e 0m
respetivamente.
– Temperatura ambiente – Este parâmetro
serve sobretudo para que o software da
>4
câmara consiga fazer os acertos relativos
à emissão da atmosfera entre o objeto a
medir e a câmara (Usamentiaga et al; 2014).
A temperatura foi medida com recurso a um
termo-higrómetro Rotronic Higrolog.
– Humidade relativa – Medida com recurso
ao mesmo equipamento que a temperatura
ambiente, a humidade relativa, em conjunto
com a distância ao objeto, é necessária
para o cálculo da transmitância da atmosfera (atenuação atmosférica).
– Distância – Como referido no ponto acima,
este valor serve para que sejam feitas as
correções dos valores devido à atenuação
atmosférica. Este valor foi medido com
recurso a uma fita métrica.
No cálculo das temperaturas por parte da câmara de infravermelhos são adotadas algumas
simplificações como a lei de Kirchhoff (para
uma determinada temperatura e comprimento
de onda a emissividade espetral e a absortividade espetral são iguais (Hart; 1991)).
Assim, assumindo que a absortância é igual à
emitância, facilmente se obtém o valor da refletância de um corpo opaco (de transmitância
nula) dado que a soma da absortância com a
refletância é igual à unidade. No entanto, esta
simplificação só é válida sem incidência de
radiação solar.
A determinação de parâmetros como a absortância ou o seu complementar, a refletância,
é fundamental para a fundamentação dos
fenómenos verificados (diferenças de temperaturas superficiais).
A determinação da refletância dos ladrilhos foi
realizada usando dois piranómetros Kipp & Zonen CM5 montados como se observa na figura 4.
Assim, através da adaptação da norma ASTM
E1918-06 (2006), destinada à determinação
da refletância de superfícies horizontais ou
de baixo declive, foi possível obter o valor da
refletância de cada painel, dividindo a intensidade da radiação refletida pela intensidade
da radiação incidente. Como resultado deste
ensaio obteve-se, tal como esperado, um
valor de refletância bastante superior no
painel de ladrilhos brancos (0,55) comparativamente ao de ladrilhos pretos (0,23). Analogamente, a absorção de radiação por parte
dos ladrilhos pretos será superior. Sendo os
valores de emitância iguais para os ladrilhos
de diferente cor (0,88), os painéis compostos
por ladrilhos pretos atingem temperaturas
superiores e emitem maiores quantidades
de radiação.
Com todos os parâmetros definidos, foram
realizadas várias termografias ao longo de
um dia (19/05/2016), espaçadas de cerca de
uma hora, sendo que os períodos de início da
incidência do sol e de início do arrefecimento
ao anoitecer tiveram uma maior densidade
de termografias, pois são aqueles em que se
espera maior variação das condições ambiente. Foram tiradas 6 termografias por célula: a
primeira com o objetivo de medir a temperatura
refletida; seguidamente foram tiradas duas
termografias ao painel preto (uma à parte superior e outra à inferior, procurando maximizar
a qualidade da imagem e minimizar os erros
devidos à atenuação atmosférica) e duas ao
painel branco; para finalizar foi registada uma
termografia geral apanhando toda a fachada
poente da célula.
Para além das termografias, durante 6 dias
consecutivos foi registada a evolução das
temperaturas (de 10 em 10min) com recurso
aos termopares anteriormente mencionados.
ANÁLISE DE RESULTADOS
A termografia de infravermelhos é um método gráfico de deteção de anomalias, isto
é, pretende-se que o resultado final de uma
campanha experimental deste tipo tenha como
resultado um conjunto de imagens que, só por
si, permitam a visualização das anomalias,
caso estas existam. Apesar da análi-se de uma
termografia ser, em geral, bastante simples
(conhecendo o objeto em análise), intuitiva até,
é importante nesta fase de estudo do método
de diagnóstico provar com dados concretos as
su-as capacidades.
> Figura 4: Medição da refletância de um painel com ladrilhos pretos.
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Nas figuras 5 e 6 são apresentadas duas sequências de termografias onde se representa
a evolução das temperaturas ao longo do dia
para as duas células em estudo. As diferenças
de temperaturas são facilmente detetáveis,
sendo que, conforme as escalas apresentadas ao lado direito de cada ter-mograma, as
zonas mais esbranquiçadas correspondem a
temperaturas mais elevadas e, pelo con-trário,
as zonas a azul correspondem a temperaturas
mais baixas.
Na figura 5 encontram-se 3 termogramas gerais que apanham os painéis preto (à esquerda
e mais quente) e branco (à direita e mais frio)
executados na célula 1 (sobre o suporte de
ETICS). O mesmo acontece na figura 6 mas
desta vez para a célula 2 (sobre o reboco de
regularização). De notar que as escalas não
são iguais para todos os termogramas.
Observando as termografias apresentadas,
podem tirar-se várias ilações:
– Comparando as termografias com a representação esquemática das fachadas
das células (fig. 2), observa-se que os
destacamentos, em geral, são facilmente
identificáveis em determinados períodos.
– Tanto no caso da célula 1 como da célula 2, a
identificação de anomalias é perfeitamente
visível no início da incidência da radiação e
no início do arrefecimento (às 15h:30min e
20h:30min, respetivamente).
– As temperaturas obtidas são sempre superiores nos ladrilhos mais escuros.
– As temperaturas na célula 1 são superiores
às temperaturas da célula 2.
– A identificação de anomalias na célula 1
(sobre ETICS) é mais difícil que na célula 2.
– Nas termografias das 15h30min às zonas
destacadas correspondem temperaturas
mais elevadas do que às zonas aderentes,
>5
>6
> Figura 5: Termografias tiradas à célula 1 às 09h:10min (esquerda), 15h30min (centro) e 20h30min (direita).
> Figura 6: Termografias tiradas à célula 2 às 09h:10min (esquerda), 15h30min (centro) e 20h30min (direita).
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verificando-se o oposto nas medições
efetuadas às 20h30min.
Como se pode verificar, a identificação dos destacamentos é bastante simples; no entanto,
para comprovar as diferenças analiticamente
foi feita uma análise das temperaturas utilizando o software FLIR Tools.
Apesar das temperaturas obtidas serem as
mesmas, para a análise de temperaturas foram
usadas, para cada painel, termografias obtidas mais próximas das fachadas. Esta opção
justifica-se não só por se obter uma melhor
resolução mas sobretudo pelo facto de uma
termografia que apanhe dois painéis de cores
diferentes (como as apresentadas acima) ter
como desvantagem existir uma dificuldade
acrescida na definição de uma gama de temperaturas que se adeque às temperaturas observadas nos dois painéis simultaneamente,
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diminuir devido à menor intensidade da radiação solar, bem como à descida da temperatura
ambiente.
Analisando as diferenças entre as células
(figura 9), como seria de esperar, as temperaturas atingidas são superiores nos painéis
com ladrilhos pretos comparativamente aos
brancos (cerca de 17°C superiores na célula 1
e 13°C acima na célula 2).
Relativamente às temperaturas obtidas nos
diferentes tipos de suporte, verificam-se temperaturas superiores no caso da célula 1 (suporte de ETICS). Para os ladrilhos aderentes,
as temperaturas obtidas foram cerca de 7°C
superiores no caso dos painéis com ladrilhos
pretos e 3°C acima no caso dos painéis com
ladrilhos brancos.
Após a análise da evolução das temperaturas nos ladrilhos aderentes partiu-se para a
análise da diferença de temperaturas entre
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Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
que resulta numa menor resolução da imagem.
Para a análise da evolução das temperaturas
foi utilizada a média das temperaturas obtidas
para cada ladrilho destacado e aderente, respetivas a cada painel.
De seguida apresentam-se as curvas com a
variação de temperatura para os diferentes
painéis (figuras 7 e 8).
Pela análise dos gráficos das figuras 7 e 8
pode observar-se que as curvas obtidas têm
andamentos semelhantes para os diferentes
painéis. As temperaturas vão assim aumentando durante a parte da manhã, devido ao
aumento de temperatura do ar e à radiação difusa. Aproximadamente a partir das 14h00min,
o declive da curva de temperatura fica mais
acentuado devido ao início da incidência do
sol nas fachadas (a Oeste). As temperaturas
atingem um valor máximo entre as 17h00min
e as 18h00min e seguidamente começam a
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zonas com ladrilhos aderentes e destacados.
Na figura 10 representa-se a evolução do
diferencial de temperatura entre ladrilhos
destacados e aderentes ao longo do dia para
os diferentes painéis.
Observou-se, assim, que esta diferença de
temperaturas entre zonas destacadas e aderentes depende não só da solução adotada
(suporte e cor dos ladrilhos) mas sobretudo
depende da altura do dia. Apesar da temperatura máxima nos ladrilhos observada ser entre
as 17h00min e as 18h00min, altura do dia em
que os ladrilhos absorveram maior quantidade de radiação térmica, a máxima diferença
de temperatura ocorre após, cerca de, 1h e
30min de incidência de radiação (15h30min).
Observou-se também uma inversão do diferencial de temperatura entre as zonas destacadas
e aderentes quando o sol se põe. Nessa altura,
como a temperatura no espaço de ar criado no
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> Figura 5: Termografias tiradas à célula 1 às 09h:10min (esquerda), 15h30min (centro) e 20h30min (direita).
> Figura 6: Termografias tiradas à célula 2 às 09h:10min (esquerda), 15h30min (centro) e 20h30min (direita).
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CONCLUSÕES
Com os primeiros resultados deste estudo
foi já possível tirar as seguintes conclusões:
– A termografia de infravermelhos é uma
ferramenta capaz de diagnosticar destacamento de ladrilhos em fachadas com
juntas abertas, sendo útil para inspeções
da qualidade de aplicação precocemente,
antes das juntas serem fechadas.
6
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Temperatura (ºC)
tardoz do destacamento (zona anómala) varia
bastante mais rapidamente, a temperatura
nessas zonas anómalas é inferior à temperatura das zona aderentes.
As diferenças máximas de temperatura
(período de início da incidência da radiação
solar) e mínimas (período de arrefecimento)
encontram-se representadas na figura 11.
É percetível que a célula 2 apresenta maiores
diferenciais de temperatura entre zonas aderentes e destacadas, o que leva à conclusão
de que uma solução do tipo ETICS (maior isolamento térmico) dificulta a deteção de destacamentos devido a uma resistência térmica
superior que acaba por dissimular o efeito da
resistência térmica adicional do espaço de ar.
É também possível observar um maior diferencial de temperaturas para os painéis com
ladrilhos pretos. A explicação reside no facto
de uma maior absorção de radiação destes
ladrilhos levar a uma maior e mais rápida variação de temperatura, comportamento que é
potenciado pelos destacamentos.
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– A verificação da capacidade de destacamentos com juntas aber tas leva à
suposição da possibilidade da verificação
destas anomalias tanto nos casos de juntas
fechadas (fase seguinte do estudo) como
no caso de juntas degradadas ou quase inexistentes de alguns edifícios com fachadas
em mau estado.
– A verificação de anomalias de destacamento é mais fácil nas seguintes situações:
– fachadas de cor escura;
– fachadas sem isolamento térmico pelo
exterior.
– Para uma melhor qualidade das termografias, estas devem ser realizadas no início
da incidência de radiação na fachada (entre
30min e 1h após a incidência) ou no início do
arrefecimento (num intervalo até 1h após
o sombreamento da fachada).
– Para além das situações mencionadas em
epígrafe, salienta-se ainda que as medições
devem ser realizadas preferencialmente
em dias de céu limpo e com pouco vento.
AGRADECIMENTOS
Agradece-se a colaboração da empresa SaintGobain Weber Portugal pelo fornecimento do
material para execução do ETICS, respetiva
aplicação e colagem dos ladrilhos. Agradece-se
também à empresa Revigres pela cedência dos
ladrilhos cerâmicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
— APICER, 2003 – Manual de aplicação de revestimentos
cerâmicos. Associação portuguesa da in-dústria de
cerâmica (APICER), Coimbra.
— ASTM E1918-2006 - Standard test method for
measuring solar reflectance of horizontal and
low-sloped surfaces in the field. Technical report,
American Society for Testing and Materi-als, West
Conshohocken, PA.
— BAUER, E., et al., 2011 - Identification and
quantification of failure modes of new buildings
fa-çades in Brasília. XII International Conference on
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> Figura 10: Diferenças de temperatura entre ladrilhos destacados e aderentes.
> Figura 11: Diferenciais de temperatura entre ladrilhos aderentes e destacados nos painéis pretos e brancos das células 1 (C1) e 2 (C2).
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