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Resiliência comunitária em contextos de pandemias e epidemias

2024, Remea - Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental

Resiliência comunitária em contextos de pandemias e epidemias: uma revisão integrativa Aline Ribeiro da Silva1 Universidade Salgado de Oliveira, Brasil ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5503-9306 Maria Angela Mattar Yunes 2 Universidade Salgado de Oliveira, Brasil ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4653-3895 Ana Maria Nunes El Achkar3 Universidade Salgado de Oliveira, Brasil ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1628-1006 Resumo: O estudo teve como objetivo apresentar uma revisão integrativa para identificar aspectos conceituais, metodológicos e da aplicabilidade dos resultados das pesquisas sobre o construto resiliência comunitária em situações de pandemias e epidemias. As bases utilizadas para a coleta dos dados foram: BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), PubMed, SciELO, PsycNet em Português, Inglês e Espanhol. A partir dos critérios de inclusão e exclusão chegou-se a uma amostra final de 13 artigos. Os resultados identificaram que o tema central da maioria dos artigos estava relacionado à pandemia da Covid-19. Os elementos que contribuíram para que as comunidades lidassem com as consequências da Covid-19 foram: a atuação das lideranças locais, o engajamento da comunidade e a comunicação com informação de qualidade. Espera-se que essa revisão possa gerar novas pesquisas sobre saúde comunitária em populações que enfrentam problemas psicossociais provocados por endemias, pandemias e outras formas de problemas na saúde global em seus territórios. Palavras -chave: resiliência comunitária, pandemia, epidemia, Covid 19. Resiliencia comunitaria en contextos de pandemia y epidemia: una revisión 1 Programa de Pós-graduação em Psicologia (Mestrado e Doutorado) na Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO. E-mail: green.alinee@gmail.com 2 Professora Associada no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO.E-mail: mamyunes@gmail.com 3 Professora Adjunta do Programa de Pós-graduação em Psicologia (Mestrado e Doutorado) na Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO. E-mail: anaelachkar@yahoo.com.br 317 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 Resumen: El estudio tuvo como objetivo presentar una revisión integradora para identificar aspectos conceptuales, metodológicos y de aplicabilidad de los resultados de la investigación sobre el constructo de resiliencia comunitaria en situaciones de pandemia y epidemia. Las bases utilizadas para la recolección de datos fueron: BVS (Biblioteca Virtual en Salud), PubMed, SciELO, PsycNet en portugués, inglés y español. En base a los criterios de inclusión y exclusión se llegó a una muestra final de 13 artículos. Los resultados identificaron que el tema central de la mayoría de los artículos estaba relacionado con la pandemia de Covid19. Los elementos que ayudaron a las comunidades a enfrentar las consecuencias del Covid-19 fueron: el accionar de los líderes locales, la participación comunitaria y la comunicación con información de calidad. Se espera que esta revisión pueda generar nuevas investigaciones sobre salud comunitaria en poblaciones que enfrentan problemas psicosociales causados por endemias, pandemias y otras formas de problemas de salud global en sus territorios. Palabras clave: resiliencia comunitaria, pandemia, epidemia, Covid 19 Community resilience in pandemic and epidemic contexts: an integrative review Abstract: This study aimed to present an integrative review to identify conceptual, methodological and applicability aspects of the results obtained in research on the community resilience construct in situations of pandemics and epidemics to date. The bases used for data collection were: VHL (Virtual Health Library), PubMed, SciELO, PsycNet in Portuguese, English and Spanish. Based on the inclusion and exclusion criteria, a final sample of 13 articles was obtained. The results identified that the central theme of most articles was related to the Covid-19 pandemic. The action of local leaders, community engagement, communication and secure information are elements that contributed to communities being able to deal with the consequences of Covid-19. It is hoped that this review can generate new research on the topic of community health in populations that face psychosocial problems with endemic diseases, pandemics and other adversities in their territories. Keywords: community resilience, pandemic, epidemic, Covid 19. Introdução Pandemias, epidemias ou desastres naturais, provocam imenso sofrimento em um grande número de pessoas. Estes e outros eventos inesperados estão presentes na história da humanidade desde os primórdios. Por exemplo, no século XIV, a peste negra e no século XX, a gripe espanhola foram acontecimentos devastadores em muitas culturas. Agora, em pleno século XXI fomos surpreendidos com a pandemia da Covid -19 e seus desdobramentos na saúde pública. A pandemia da Covid-19 trouxe impactos na vida de pessoas ao redor do mundo com consequências e reflexos não apenas nas áreas da saúde, mas também na educação e economia (BLANCO; SACRAMENTO, 2021). Detectada na China no primeiro semestre de 2020, como toda catástrofe social trouxe consigo a exacerbação de problemas já enfrentados há décadas por comunidades vulneráveis em muitos países e continentes 318 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 (BAMBRA et al., 2020; QIU et al., 2020). No Brasil, em particular, não foi diferente e ficou explícito que a pandemia da Covid-19 transcendia a área da saúde e trazia novas questões sociais decorrentes das inegáveis desigualdades estruturais que afetam o Brasil e a grande maioria das famílias brasileiras (BLANCO; SACRAMENTO, 2021). Sabe-se que independentemente de pandemias ou catástrofes da natureza, grande parte da população brasileira é excluída do “acesso aos bens públicos socialmente produzidos e ausente de participação legítima em processos decisórios no que se refere a políticas públicas que interferem na qualidade do ambiente em que se vive” (LOUREIRO, 2003, p.48). Isso vale para questões de segurança alimentar, educação e saúde em especial. Pandemias são definidas como doenças que possuem características similares com manifestações em alto nível de contágio, explosão dos números de casos em curto período de tempo e a transmissão ultrapassa barreiras geográficas (HENRIQUES, 2020; MORENS; FOLKERS; FAUCI, 2009). As notícias sobre a pandemia da Covid-19 no Brasil e no mundo foram divulgadas inicialmente por veículos de comunicação e seguida de pavor e angústia das populações. Por isso, veículos que transmitiam informações alarmistas e negativas mantiveram um papel positivo levando informações necessárias e mensagens de solidariedade e esperança para a sociedade (BUSS; ALCÁZAR; GALVÃO, 2020). Em situações desafiadoras como estas pode-se notar padrões de comportamentos nas comunidades que se adaptam e enfrentam as dificuldades (LOUREIRO, 2004; ZAPPE; YUNES; DELL´AGLIO, 2015). Para Loureiro (2004), este enfrentamento é crucial para a compreensão e reconhecimento das diferentes necessidades, interesses e relações entre os grupos sociais e a natureza na sua concepção mais abrangente. Este enfrentamento que leva ao bem estar coletivo é o que define o constructo de resiliência comunitária (NORRIS et al., 2008; OJEDA, 2005). Os primeiros estudos sobre resiliência comunitária surgiram relacionados com a psicologia comunitária. Suas investigações com grupos de minorias sociais trazem a luta por direitos sociais dos afro-americanos (SONN; FISHER, 1998). A partir desse período, os estudos de resiliência comunitária foram ganhando mais espaço na área de saúde pública 319 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 (BROWN; KULING, 1996,1997; NORRIS et al., 2008) com estudos que abordam formas da comunidade lidar com situações delicadas e perturbadoras. No ano de 1995, o pesquisador Nestor Suarez Ojeda apresentou o conceito de resiliência comunitária em seus estudos conduzidos na América do Sul. A partir daí, tornou-se reconhecido internacionalmente como um dos pioneiros do tema (OJEDA, 2005, p.49). A partir dos anos 2000 houve uma notável expansão nos estudos acerca da resiliência comunitária vinculados às situações de desastres de todos os tipos como terremotos, incêndios, secas e outros eventos. Nos dias atuais os estudos mais frequentes ainda versam sobre o constructo relacionado aos desastres naturais (BAUMANN et al., 2021; PATIN, 2020) e apresenta uma multiplicidade de definições. É fato que o tema é de grande complexidade e não se pode estancar o assunto em uma ou duas definições. Todavia, são duas as referências de conceitos que se destacam com frequência na literatura sobre o assunto. São elas: a referência latino-americana (OJEDA, 2005) e a referência norte americana (NORRIS et al., 2008), que traduz resiliência comunitária como capacidades, adaptação e estratégias das comunidades para enfrentar situações de desastres. Mais recentemente uma nova referência norte-americana foi publicada por Patel et al. (2017), que apresenta uma integração de elementos de estudos em resiliência comunitária também em cenários de desastres. Segundo Norris et al. (2008), para que se constate resiliência comunitária numa comunidade é necessário haver processos que garantam que as capacidades adaptativas proporcionem o enfretamento dos acontecimentos adversos com resultado de bem-estar e qualidade de vida da comunidade. Para que as capacidades adaptativas se desenvolvam é importante que os atributos dinâmicos também estejam presentes. Esses atributos são recursos que a comunidade tem acesso e pode acionar quando necessário. Os recursos são caracterizados como robustez, redundância e rapidez. Robustez refere-se a recursos resistentes e em abundância; redundância refere-se a recursos que podem ser trocados por outros; e, rapidez como o próprio nome sugere significa a velocidade com a qual esses recursos podem ser acionados. Segundo Norris et al. (2008) as capacidades adaptativas são: desenvolvimento econômico, capital social, informação/comunicação e competência 320 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 comunitária. Segundo a definição apresentada por Norris et al. (2008) o desenvolvimento econômico refere-se a recursos econômicos disponíveis e acessíveis para as comunidades. Os autores entendem que, capital social se configura pelos laços e relações na comunidade que proporcionam outros aspectos como a comunicação. Para os autores, comunicação e informação são meios de informações eficientes para a comunidade (NORRIS et al., 2008). Competência comunitária é compreendida por Norris et al. (2008) enquanto competência da comunidade em lidar e enfrentar coletivamente a situação com decisões e estratégias conjuntas. No âmbito latino americano, o autor Nestor Ojeda e seu grupo de pesquisadores se aproximam dos conceitos desenvolvidos por Norris et al. (2008). A partir de estudos em comunidades vulneráveis em uma região da América Latina, Ojeda (2005) identificou que essas comunidades apresentavam maneiras próprias de lidar com adversidades. Desde então, Ojeda (2005) passa a considerar estas formas de manejo de situações adversas como expressões de resiliência comunitária. O autor organiza os pilares fundamentais para manifestação do fenômeno da seguinte maneira: autoestima coletiva, identidade cultural, humor social e honestidade estatal. Autoestima coletiva é a percepção positiva que os indivíduos têm de sua comunidade e retrata como as pessoas da comunidade se sentem como parte daquele local. Já a identidade cultural são as características ligadas à cultura e aos valores existentes expressos por seus indivíduos e que distingue aquele ambiente de outros ambientes. Quanto ao humor social, Ojeda (2005) registra que são manifestações de humor diante da própria situação de dificuldade, ou seja, estratégias emocionais positivas para lidar com a adversidade. Em relação à honestidade estatal, o autor vai nos dizer que nada mais é do que o comportamento honesto dos responsáveis e líderes eficientes e comprometidos com lutas anticorrupção. A solidariedade é a adesão e disposição coletiva dos membros da comunidade para lidar com a situação de dificuldade e atender a todos indistintamente (OJEDA; LA JARA; MARQUES, 2007). Um estudo latino americano realizado no México em uma comunidade que sofria com a doença de Chagas (RANGEL; MONREAL; RAMSEY, 2016) identificou alguns dos pilares 321 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 referidos no modelo de Ojeda (2005) conforme mencionado acima. Os resultados encontrados pelos pesquisadores discutem que os pilares de autoestima coletiva, identidade cultural e honestidade estatal auxiliaram na criação de um grupo comunitário para enfrentar a doença de forma coletiva. Tais manifestações foram categorizadas como resiliência comunitária com destaque atribuído ao pilar da autoestima coletiva. Outro estudo importante tem como base as pesquisas norte americanas de Norris et al., (2008) e Patel et al., (2017) nas quais os autores enfatizam elementos da resiliência comunitária encontrados em situações de desastres e que podem ser utilizados em outros contextos quando for aplicável. Os referidos pesquisadores complementaram as pesquisas sobre resiliência comunitária identificando nove elementos e dezenove subelementos em situações de desastres. Segundo Patel et al. (2017), os elementos são: (i)Conhecimento local, conhecimento da comunidade relacionado à situação do desastre, local e preparação para lidar com o problema. (ii) Amizades e redes comunitárias, voltadas à relação e comunicação entre os membros e redes de amizades. (iii) Comunicação efetiva, diz respeito à comunicação eficaz e à compreensão entre os membros sobre a situação de crise. (iv) Saúde, relacionada aos recursos da saúde disponíveis para os membros da comunidade. (v) Governança e liderança, que se refere à eficácia dos líderes governamentais diante da situação do desastre local. (vi) Recursos, são todos os suprimentos disponíveis para a comunidade, como alimentação, água e outros essenciais para a manutenção. (vii) Investimento econômico, são os recursos referentes aos financiamentos econômicos para a comunidade. (viii) Preparação, refere-se às atividades que auxiliam na prevenção de um desastre. (ix) Outlook mental, diz respeito à percepção positiva da comunidade em relação ao desastre, esperança mesmo em situações de incertezas. Cabe ressaltar que a concepção de resiliência comunitária como um conjunto de processos coletivos e resultados de mudanças sociais e ambientais em situações de crise, pode ser acoplada a diferentes áreas do conhecimento, dentre as quais ressaltamos a Educação Ambiental. As pesquisadoras Juliano e Yunes (2014, p. 147) argumentam que “as causas da degradação ambiental e das crises nas relações sociais que repercutem nas vidas 322 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 de indivíduos, famílias, comunidades e meio ambientes possuem um conjunto de variáveis inegavelmente interconectadas”. As autoras sustentam que uma compreensão de resiliência comunitária sob escopo de preceitos da Educação Ambiental pode explicar as questões ecológicas de forma mais complexa e completa, pois incorpora os atores sociais participantes e ilumina as causas e consequências de desigualdades e injustiças socioambientais estruturais. Como dito anteriormente, resiliência comunitária é um constructo plural e conceituado a partir de uma variedade de definições indicadas por pesquisas nacionais e internacionais (JULIANO; YUNES, 2014; OLIVEIRA; MORAIS, 2017; PATEL et. al., 2017). A escassez de publicações nesse campo em território nacional motivou a busca para investigar estudos que abordassem esta temática não apenas no Brasil, mas em outros países. Portanto, a relevância do presente estudo está na realização de uma revisão integrativa que objetiva identificar aspectos conceituais, metodológicos e da aplicabilidade do construto resiliência comunitária em situações de pandemias e epidemias, bem como apontar os resultados obtidos em pesquisas realizadas até a atualidade. Método A revisão integrativa consiste em um estudo aprofundado, pois permite a inclusão de estudos experimentais e teóricos (POMPEO; ROSSI; GALVÃO, 2008). Esta revisão integrativa teve como base o protocolo de Souza, Silva e Carvalho (2010). As etapas seguidas foram: (1) elaboração da pergunta norteadora; (2) busca ou amostragem na literatura; (3) coleta de dados; (4) análise crítica dos estudos incluídos; (5) discussão dos resultados; (6) apresentação da revisão (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010). Como questão norteadora indagamos: quais são os aspectos conceituais, metodológicos e os resultados encontrados nos estudos de resiliência comunitária em situações de pandemias e epidemias? Para a coleta dos dados, os artigos foram pesquisados nos seguintes bancos e bases de dados: BVS, PubMed, SciELO, PsycNet. Para a busca nas bases selecionadas os descritores foram: Resiliência Comunitária, Pandemia, Epidemias e Covid- 19. As seguintes 323 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 combinações foram realizadas: “Resiliência Comunitária” AND Pandemia, Resiliência Comunitária AND Epidemias, Resiliência Comunitária AND Covid 19 em português, inglês e espanhol com os termos no singular e no plural. Na PubMed e Psynet utilizou-se apenas vocábulos em inglês. O termo Covid 19 foi incluído na busca por representar a Pandemia mais recente ocorrida no mundo no ano de 2020. Não foi delimitado um período de tempo para a busca dos artigos, pois o objetivo era identificar todos os artigos que tratavam de resiliência comunitária em situações de pandemias e epidemias até o ano do estudo (2021). A busca nos bancos e bases de dados ocorreu entre Abril e Junho de 2021 e os estudos foram selecionados a partir dos seguintes critérios de inclusão: (1) artigos publicados nos idiomas, inglês, português e espanhol; (2) sobre resiliência comunitária em situações de pandemia, epidemias e Covid- 19; (3) com os termos resiliência comunitária, pandemias, epidemias e Covid -19 no título/resumo/palavras chaves; (4) disponível na integra nos bancos e bases de dados; (5) definições explícitas do conceito de resiliência comunitária nos artigos. Nesse contexto, os critérios de exclusão adotados foram: (1) artigos duplicados; (2) artigos que apresentaram resiliência comunitária com outros assuntos que não fossem pandemias, epidemias e covid- 19; (3) artigos que abordavam o tema de resiliência comunitária sem apresentar definições do constructo; (6) artigos indisponíveis para leitura e download; (7) artigos em idiomas que não fossem inglês, português e espanhol; (8) artigos que tratavam do tema de forma tangencial. Após a eliminação dos estudos duplicados foram feitas as leituras dos títulos e resumos. Esta etapa teve a participação de juízes do programa de pós-graduação que, de forma consensual excluíram os artigos que não tratavam de resiliência comunitária em situações de pandemias, epidemias e Covid -19. Após esta etapa, os artigos restantes foram lidos na íntegra e sequencialmente a leitura foram excluídos os artigos que não apresentavam as definições do constructo de resiliência comunitária e que não contribuiriam para os objetivos desta revisão. Esta etapa também contou com a participação dos juízes. Os artigos recuperados foram lidos na íntegra mais uma vez e os dados extraídos 324 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 foram organizados em uma planilha Excel. Tais etapas da revisão podem ser verificadas na figura 1. Fluxograma 1. Etapas de inclusão e exclusão dos artigos. Fonte: Coleção particular Análise dos dados Para que os resultados fossem apresentados de forma compreensiva, utilizou-se dois tipos de análise: uma análise quantitativa e outra qualitativa. A análise quantitativa abrangeu os seguintes assuntos: bases de dados; idioma; país; tipo de estudo; delineamento; instrumentos; tamanho das amostras. Para a análise dos dados qualitativos, utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin (1977) para organização e sintetização dos dados. Foram elaboradas as seguintes categorias a partir dos eixos pesquisados: EIXO 1: Foco conceitual: a) Resiliência comunitária em situação de desastres e emergências; b) Resiliência comunitária focada na coletividade; c) Resiliência comunitária a partir da percepção dos integrantes da comunidade. EIXO 2: Metodologias utilizadas: a) Natureza dos 325 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 estudos e dos métodos; b) Instrumentos utilizados. Eixo 3: Resultados obtidos nas pesquisas a) O papel dos Representantes locais; b) A importância de recursos acessíveis e voltados para a demanda da comunidade; c) O engajamento da comunidade; d) A relevância de informação e comunicação segura. Resultados No que tange à descrição quantitativa dos dados pesquisados, observa-se que dos 13 artigos selecionados 12 foram identificados na PubMed e na BVS e apenas 1 na APA (Psyinfo). A Tabela 1 sintetiza as informações. Em relação ao idioma de publicação 100% dos artigos encontrados foram publicações no idioma inglês. Quanto aos países de realização das pesquisas, os estudos estavam distribuídos em 8 países, sendo 3 nos EUA, 3 em Israel e 2 na China. Os outros 5 artigos distribuíram-se entre Libéria, Cingapura, Canadá, Filipinas e Taiwan. Sobre o tipo de estudo, 85% dos artigos eram empíricos e 15% de revisão bibliográfica. Quanto à metodologia, 6 artigos utilizaram delineamentos qualitativos, 6 quantitativos, 1 aplicou metodologias mistas. Acerca dos instrumentos, constatou-se 46% utilizando escalas e questionários, 23% entrevistas, 23% revisão de literatura e 8% multimétodos (estudo bibliográfico e análises estatísticas). Dentre os artigos, 5 apresentaram escalas desenvolvidas para mensurar a resiliência comunitária. Quanto ao tamanho da amostra, desconsiderando os artigos de revisão bibliográfica, identificou-se desde estudos de natureza qualitativa com 13 participantes, até estudos com delineamento quantitativo com 12.000 participantes. Os estudos qualitativos apresentaram amostras que variaram de 13 a 36 participantes, enquanto os quantitativos exibiram amostras variando de 300 a 12.000 participantes. 326 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 Tabela 1. Informações dos Artigos Selecionados para a Revisão Tipo de pesquisa Ano País Título Metodologia/ Instrumentos Autor Understanding the role of community resilience in Alonge, O., Sonkarlay, S., addressing the Ebola virus disease epidemic in Liberia: a Entrevista semi-estruturada com os seguintes Gwaikolo, W., Fahim, C., p qualitative study (community resilience in Liberia) Cooper, J. L., & Peters, D. H. Recovering from an Epidemic of Teen Pregnancy: The Taylor, B., Croff, J. M., Story, Entrevistas semi-estruturada com líderes religio Role of Rural Faith Leaders in Building Community C. R., &Hubach, R. D. Resilience Qualitativa 2019 Libéria Qualitativa 2019 EUA Qualitativa 2020 EUA What is essential?: Understanding community resilience Entrevistas com bibliotecários and public libraries in the United States during disasters Qualitativa 2021 China CommunityDisaster Resilience in the COVID-19 Documentos, observações Quantitativa 2021 China The Influence of COVID-19 on Community Disaster Resilience Método Delphi(quantitativo) Quantitativa 2020 Israel Health-Care Services as a Platform for Building Community Odeya Cohen , AlaaMahagna , Questionário sociodemográfico; Escala de aval AsmaaShamia , OrtalSlobodin Quantitativa Quantitativa Quantitativa Quantitativa Bibliográfico Bibliográfica Bibliográfica Beth Patin Liwei Zhang , Ji Zhao , Jixin Wenping Xu , Lingli Xiang , David Proverbs , Shu Xiong Exploring state-level variabilities between perceived community resilience and posttraumatic stress 2021 EUA Questionários sociodemográfico;Instrumento dShigemoto, Yuki symptoms during the COVID-19 pandemic: Multilevel modeling approach. Socio-ecological determinants of distress in Filipino 2021 Filipinas Questionário e instrumentos John JamirBenzon R. Aruta adults during COVID-19 crisis Recovery from the COVID-19 pandemic: Distress and ShaulKimhi, Hadas Marciano , 2020 Israel Questionários resilience YohananEshel , BruriaAdinia Resilience and demographic characteristics predicting ShaulKimhi , Hadas Marciano , Questionários e entrevistas 2020 Israel distress during the COVID-19 crisis YohananEshel , BruriaAdinib Mental health in biological disasters: From SARS to 2021 Taiwan Revisão bibliográfica Kuan Ying et al., 2021 COVID-19 Social Cohesion and Community Resilience During Rae L Jewett , Sarah M COVID-19 and Pandemics: A Rapid Scoping Review to Mah , Nicholas 2021 Canadá Revisão bibliográfica Inform the United Nations Research Roadmap for COVIDHowell , Mandi M Larsen 19 Recovery Wanfen Yip , Lixia Ge , Andy Building community resilience beyond COVID-19: The HauYan 2021 Cingapura Revisão bibliográfica Singapore way Ho , BeeHoonHeng , WoanShi n Tan Amostra Colunas1 36 17 13 12000 392 548 401 300 1346 Fonte: Coleção particular Referente à análise qualitativa dos artigos selecionados identificamos eixos temáticos compatíveis com a pergunta de pesquisa: 1) Foco conceitual; 2) Metodologias utilizadas e; 3) Resultados obtidos nas pesquisas. Cada eixo é representado e explicado por categorias detalhadas abaixo. Eixo 1: Foco Conceitual Eixo delineado com base no foco das definições, noções e conceitos de resiliência comunitária apresentados em cada artigo. Detectou-se a ênfase em situações de desastres, em expressões coletivas e percepções de membros da comunidade. a) Resiliência Comunitária em Situação de Desastres e Emergências 327 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 A análise dos estudos evidenciou a predominância dos conceitos de resiliência comunitária relacionada aos eventos caracterizados como desastres e emergências. Assim, a resiliência comunitária foi definida como capacidade da comunidade responder a uma situação de desastre/emergências. Podendo ser naturais, como terremotos e inundações ou não naturais como conflito armado. Dois artigos (XU et al., 2021; ZHANG et al., 2021) utilizaram resiliência comunitária voltados exclusivamente para desastres que trazem exatamente essa nomeação para descrever o tema que possui semelhança com as demais definições com destaque ao termo “resiliência comunitária em/voltada a situação de desastre”. No entanto a maioria dos artigos apresenta os conceitos e definições de resiliência comunitária incluindo situações de emergências/desastres de forma geral. Os autores não explicitam uma definição do significado de desastres e emergências, mas equiparam a eventos e fenômenos que impactam e exemplificam como furacões, terremotos, incêndio entre outros. b) Resiliência Comunitária Focada na Coletividade Apesar da variedade conceitual na forma de definir resiliência comunitária encontramos semelhanças na perspectiva que foi categorizada enquanto “foco na coletividade”. Para alguns autores resiliência comunitária seria a capacidade da própria comunidade recuperar-se ou retornar ao estado anterior a adversidade (ALONGE et al., 2019; TAYLOR et al., 2019 online). Identificou-se artigos que apresentam como capacidade de adaptar-se ao desastre ou emergência (JEWETT et al., 2021; ZHANG et al., 2021), adaptar ou lidar com a situação focando na ação comunitária coletiva. Além disso, as definições destacam capacidades e recursos acessíveis para que a resiliência comunitária aconteça, a exemplo do suporte social (KIMHI et al., 2020b). Essas definições apresentam semelhanças com Norris et al. (2008) que explica ser fundamental a presença de atributos dinâmicos e capacidades adaptativas que são recursos e elementos que compõe a resiliência comunitária. Na Libéria, com a epidemia do vírus ebola, as ações governamentais e comunitárias contribuíram para reduzir os impactos da epidemia nas comunidades (ALONGE et al., 2019). O relacionamento com as autoridades governamentais e da saúde 328 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 possibilitaram compreender melhor as necessidades da comunidade e a participação desta para auxiliar uns aos outros. c) Resiliência Comunitária a Partir da Percepção dos Integrantes da Comunidade A visão dos sujeitos sobre o contexto em que vivem e interagem com seus pares permite compreender como ocorrem as relações e ações coletivas. A definição de resiliência comunitária, através da percepção dos próprios indivíduos, refere-se ao quanto os sujeitos identificavam o desenvolvimento da comunidade em estratégias para enfrentar as dificuldades e o quanto os indivíduos são próximos uns dos outros para se organizarem e lidarem frente à adversidade. Ademais, apresenta a percepção dos indivíduos sobre a capacidade de sua comunidade enfrentar um problema. Dois artigos (ARUTA, 2021; SHIGEMOTO, 2021) destacaram a resiliência comunitária a partir da percepção dos próprios indivíduos da comunidade e a partir de estudos quantitativos responderam suas percepções sobre resiliência comunitária e se ela contribui para lidar com efeitos pandêmicos. Eixo 2: Metodologias utilizadas a) Natureza dos Estudos e dos Métodos Em relação à natureza dos estudos alguns artigos foram bibliográficos (JEWETT et al., 2021; YIP et al., 2021), pois traziam uma visão ampliada sobre o tema, como no caso do estudo de Cingapura que apresentou um panorama sobre pandemia da Covid19 e resiliência comunitária. Outros artigos (ALONGE et al., 2019; PATIN, 2020) foram de natureza qualitativa abordando assuntos complexos e pouco investigados, a exemplo da epidemia da gravidez nos EUA (TAYLOR et al., 2019). Os estudos quantitativos (COHEN et al., 2020; KIMHI et al., 2020a,2020b) investigaram a resiliência comunitária atrelada a outras variáveis como a resiliência individual e a nacional, averiguando a relação entre as variáveis e seus efeitos durante a pandemia. b) Natureza dos Instrumentos Os estudos qualitativos utilizaram entrevistas semiestruturadas. Os instrumentos utilizados foram as escalas Conjoint Community Resilience Assessment Measure (CCRAM-10) (LEYKIN et al., 2013) e Communities Advancing Resilience Toolkit (CART) (PFEFFERBAUM, et 329 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 al., 2015). A CCRAM é composta por cinco domínios: liderança, eficácia coletiva, preparação, confiança social e apego ao território. A escala CART quatro domínios: conexão e cuidado, recursos, potencial transformador e gestão de desastres. Ambas foram utilizadas em estudos conduzidos no contexto da Pandemia da Covid- 19. Eixo 3: Resultados obtidos nas pesquisas a) O papel dos Representantes locais Os estudos referentes aos eventos de pandemias e epidemias apresentam a ação e o movimento proativo de pessoas ou instituições que auxiliaram a lidar e enfrentar as consequências destes acontecimentos ameaçadores na saúde de pessoas. Tais representantes são conhecidos como líderes, representantes de organizações governamentais que estão na mesma área geográfica dos moradores e que conseguem melhor identificar suas principais necessidades, pois suas relações proximais parecem possibilitar. Na epidemia do vírus ebola na África os líderes e representantes locais desempenharam ações importantes, em especial na área de compreensão da situação e comunicação certeira com vistas a reduzir a propagação do vírus (ALONGE et al., 2019). b) A importância de Recursos Acessíveis e Voltados para a Demanda da Comunidade Cada comunidade possui suas especificidades e suas necessidades. Os estudos apresentaram ações que auxiliaram a comunidade nas suas principais demandas durante o período pandêmico/epidêmico. Em Cingapura, as autoridades desenvolveram estratégias para evitar a contaminação de grupos vulneráveis como idosos e pessoas com doenças crônicas (YIP et al., 2021). As autoridades de saúde adotaram a telemedicina para atender idosos sem que estes precisassem sair de casa e mantiveram as consultas para os pacientes com doenças crônicas para que não interrompessem o tratamento. Outros estudos também apresentaram ações governamentais de prevenção de acordo com as demandas da comunidade. A exemplo da África que no período da epidemia disponibilizaram profissionais com conhecimento local para atender as necessidades daquela população (ALONGE et al., 2019). c) O Engajamento da Comunidade 330 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 Moradores e lideranças comunitárias proativos resultaram com destaque em grande parte das pesquisas. O trabalho dos próprios moradores em auxiliar e enfrentar as demandas coletivamente contribuiu para reduzir as consequências de contaminação pelo Coronavírus. Em Cingapura (YIP et al., 2020), moradores se mobilizaram para criar máscaras e distribuir às pessoas que não tinham recursos para comprar. Na China, voluntários se mobilizaram para levar informação a comunidades mais afastadas que tinham dialeto próprio para levar informações de prevenção sobre a doença (ZHANG et al., 2021). d) A Relevância da Informação e Comunicação Segura A comunicação e a informação foram das estratégias mais utilizadas para minimizar os efeitos pandêmicos. Estudos demonstraram a importância e a eficácia da comunicação segura e com veracidade para a comunidade. Verificar se a informação era verdadeira ou falsa foi uma das ações do governo Chinês adotadas para checar as informações, e depois repassadas para a população (ZHANG et al.,2021). Outros estudos também destacaram o apoio das lideranças representantes locais para levar informações seguras à comunidade (ALONGE et al., 2019; YIP et al., 2021). Por exemplo, durante a epidemia do ebola na África – os chefes locais recebiam informação das autoridades e trabalhadores da saúde e repassavam aos moradores da comunidade que compreendiam o recado e aderiam as instruções. Essa comunicação com pessoas que possuem uma forte relação e uma grande representação entre moradores pode ser considerada uma estratégia para chegar aos moradores que vivem em áreas distantes do centro e que não possuem, em alguns casos, informações suficientes para saber da situação problema. Levar informações de prevenção sobre a doença da COVID-19 no dialeto e/ou idioma das comunidades é algo imprescindível como já foi apontando na categoria do engajamento (ZHANG et al., 2021). Discussão Apesar dos impactos e consequências de epidemias e pandemias, pode-se observar que estratégias coletivas em comunidades contribuíram para minimizar a gravidade das sequelas causadas por essa catástrofe na saúde global. O objetivo dessa revisão foi 331 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 identificar aspectos conceituais, metodológicos e da aplicabilidade do construto resiliência comunitária em situações de pandemias e epidemias, bem como apontar os resultados obtidos nas pesquisas realizadas até a atualidade. A revisão identificou uma diversidade de definições e autores que pesquisam resiliência comunitária. No entanto, este resultado já era esperado, pois estudos recentes (JULIANO; YUNES, 2014; PATEL et al., 2017; OLIVEIRA; MORAIS, 2018) já apontavam para a variedade de conceitos acerca do tema. Ainda que os resultados demonstrem a variedade das definições, pode-se destacar as similaridades. Grande parte dos artigos utiliza o conceito de resiliência comunitária como capacidade da comunidade enfrentar, lidar ou adaptar-se a condições de desastres ecológicos. Esses conceitos apresentam proximidades com as ideias de Norris et al., (2008), que por sua vez é um dos autores mais utilizados nos estudos de resiliência comunitária. É importante destacar que o conceito latino americano de Ojeda (2005) cuja definição enfoca ações coletivas dos moradores para lidar e enfrentar os desastres não foi encontrado nos artigos pesquisados nesta revisão, bem como nenhum autor da Educação Ambiental conservadora ou crítica foi mencionado. Em relação aos métodos e instrumentos utilizados, constatou-se que parte considerável dos estudos sobre resiliência comunitária utiliza desenhos de natureza qualitativa (ALONGE et al., 2019). Para tanto, são realizadas entrevistas semiestruturadas que visam aprofundar as complexidades desse fenômeno menos exploradas. No que se refere à pandemia e seus impactos coletivos cada comunidade expressou dificuldades específicas em seus territórios de acordo com sua cultura e suas condições climáticas e geográficas. As singularidades regionais puderam ser verificadas no caso da epidemia do vírus ebola na África (ALONGE et al., 2019). Todavia, estudos que utilizaram métodos quantitativos também trouxeram resultados importantes associando a resiliência comunitária a outras variáveis com elementos de resiliência individual e resiliência nacional. Os estudos bibliográficos trouxeram evidências de um mapeamento com resultados mais abrangentes sobre os temas investigado. 332 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 Em relação aos resultados encontrados com mais frequência sobre resiliência comunitária, argumentamos que as capacidades adaptativas de Norris et al. (2008) como: capital social, interação e proatividade dos moradores (ALONGE et al., 2019; YIP et al., 2021) por meio de comunicação e informação (ZHANG et al., 2020) são apontadas como facilitadores para que a comunidade seja conscientizada da situação de crise ou desastre. Deve-se ressaltar que não se propõe que haja um volume exagerado de informações, visto que o excesso torna a maior parte delas “endemicamente desperdiçada, e de fato natimorta” (BAUMAN, 2008, p.55). Os resultados da maioria das pesquisas analisadas sublinharam os elementos de liderança e comunicação (ALONGE et al., 2019; NORRIS et al., 2008; PATEL et al., 2017; TAYLOR et al., 2019; YIP et al., 2021). Sendo assim, fica evidente que a comunicação é um dos elementos mais importantes para promoção de resiliência comunitária, pois formas eficazes de interações contribuem para levar informação com veracidade e geram segurança em moradores de comunidades que vivem situações adversas. No caso da epidemia do Vírus Ebola na Libéria, a comunicação foi central (ALONGE et al., 2019). O estudo identificou que líderes comunitários transmitiram informações eficazes, acessíveis e compreensíveis para as comunidades, principalmente para as mais afastadas do centro. Essa comunicação foi vital para os moradores e o resultado foi a adesão às estratégias de enfrentamento no combate à epidemia (ALONGE et al., 2019). Dessa mesma forma, a comunicação competente foi identificada em estudos realizados na China e Cingapura durante a pandemia da Covid-19. Isto porque, estratégias para avaliar a origem e a veracidade das informações foram adotadas pelos governos para repassar aos moradores (YIP et al., 2021). O estudo explica que esta ação permitiu que as comunidades aderissem às informações de medidas sanitárias e as aplicassem no cotidiano com o objetivo de reduzir os impactos e a propagação mais rápida do vírus (ZHANG et al., 2021). Um dos artigos mapeados versou sobre a epidemia de gravidez na adolescência (TAYLOR et al., 2019). Este evidenciou que a falta de interação e comunicação entre líderes evangélicos impactou de forma negativa no desenvolvimento de processos de resiliência 333 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 comunitária na comunidade e contribuiu para a permanência de um problema de saúde pública. Tal desconexão manifestada pela falta de aproximação desses líderes teve como consequência a falta de ação coletiva para promover estratégias para lidar com a saúde dos seus membros. Outro aspecto destacado na referida pesquisa foi a baixa percepção e compreensão dos líderes acerca da importância de discutir a temática da gravidez na adolescência com os membros da comunidade. A carência desses espaços comunitários de discussão e a escassez de comunicação na comunidade não combateram a epidemia de gravidez na adolescência (TAYLOR et. al, 2019). Sobre esse aspecto, Norris et al. (2008) afirmam que a comunicação é um elemento essencial em qualquer situação de crise coletiva. Para se atingir manifestações de resiliência comunitária, é preciso criar estratégias eficazes de propagação e diálogo. Outro aspecto importante detectado nessa revisão refere-se ao exercício das lideranças comunitárias e gestoras em situações de adversidade. O elemento de liderança foi identificado como relevante em dois estudos realizados antes e durante a pandemia da Covid- 19 (PATEL et al., 2017; ZHANG et al., 2020). A participação de organizações não governamentais é enquadrada como liderança nos achados de Patel et al. (2017). Na China, o fortalecimento do governo em organizações sociais demonstrou que a ação dessas lideranças na representação e luta pela comunidade gerou melhores resultados no enfrentamento da pandemia (ZHANG et al., 2021). O trabalho de voluntários também foi um dos elementos relacionados à resiliência comunitária e abordado com destaque em um dos artigos (ZHANG et al., 2021). Além da comunicação eficaz e das estratégias do governo no fortalecimento das organizações sociais, os voluntários são demonstrados como aqueles que auxiliaram no enfrentamento da Covid19 numa comunidade em Shangai. Os voluntários faziam a tradução das informações para o dialeto do grupo social (ZHANG et al., 2021) e, portanto, atuavam na área da Educação Ambiental e divulgação de forma eficaz. Outras dimensões essenciais na resiliência comunitária foram referidas nessa revisão como a coesão social (JEWETT et al., 2021) formada por relacionamentos de 334 Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental - FURG v. 41, n. 1, p. 317-340, jan./abr. 2024. E-ISSN: 1517-1256 cooperação, engajamento e apoio entre os membros. De acordo com Carvalho (2004) o papel da Educação Ambiental é também de fomentar princípios de coletividade que implementam o capital social e oferecem suporte para o envolvimento das pessoas no enfrentamento de conflitos e crises socioambientais de diferentes ordens. Considerações finais Os estudos de resiliência comunitária em situações de epidemias e pandemias analisados nessa revisão evidenciaram os seguintes elementos de proteção das comunidades: comunicação eficaz, o papel ativo das lideranças e engajamento da comunidade como minimizadores dos impactos sociais e das consequências das doenças. Foi constatada a importância de um Estado presente e responsável por ações governamentais que podem atuar na promoção de resiliência comunitária por meio de políticas sociais de educação, saúde e desenvolvimento humano individual e fortalecimento de movimentos sociais. Espera-se que os resultados obtidos nessa revisão possam motivar o desenvolvimento de novas pesquisas não apenas na área da Saúde Comunitária, mas integradas aos investigadores da Educação Ambiental. Essa associação de saberes pode despertar a consciência para a relevância da resiliência comunitária. Assim, poder-se-á construir e executar políticas públicas para promoção de forças coletivas em comunidades vulneráveis que enfrentam riscos socioambientais no cotidiano de suas vidas ou quando estas são atravessadas por pandemias e/ou epidemias. Referências ALONGE, Olakunle et al. 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