MODOS DE ORGANIZAÇÃO E ACESSO À INFORMAÇÃO EM PERIÓDICOS
ELETRÔNICOS DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL
Resumo: Uma nova forma de comunicação científica se
iniciou com o surgimento dos periódicos científicos, tais como
Journal des Sçavans e Philosophical Transactions. Com o
advento da internet e do periódico científico eletrônico,
aumentou-se o número de periódicos científicos e publicações,
acarretando uma maior preocupação com o tratamento da
informação. Este estudo teve como objetivo a análise das
formas de organização da informação nos websites dos
periódicos científicos eletrônicos na área da Ciência da
Informação brasileira, com ênfase na recuperação e acesso à
informação. A metodologia foi a pesquisa descritiva, com
levantamento bibliográfico e documental, com coleta de dados
nas páginas dos websites dos periódicos científicos eletrônicos
classificados no Qualis A1 e A2. O resultado alcançado foi de
que 83% dos periódicos analisados utilizam softwares livre
para editoração científica, 33% dos periódicos apresentam um
índice de termos e o uso de tesauro para a seleção destes
termos. Concluiu-se que os periódicos científicos podem
explorar mais todos os recursos disponíveis para a
organização, recuperação e o acesso à informação do conteúdo
publicado.
Felipe Caldonazzo de Almeida Pereira
Mestrando em Ciência da Informação
pela Universidade Estadual
de Londrina (UEL).
fcaldonazzo@gmail.com
Maria Rosemary Rodrigues
Doutoranda em Ciência da Informação
pela Universidade Estadual
de Londrina (UEL).
rosemaryrodrigues42@gmail.com
Brígida Maria Nogueira Cervantes
Doutora em Ciência da Informação
pela Universidade Estadual
Paulista (Unesp), Marília.
brigidacervantes@gmail.com
Palavras-chave: Ciência da Informação; organização da
informação; representação da informação; comunicação
científica; vocabulário controlado.
ORGANIZING AND ACCESSING INFORMATION IN BRAZILIAN ELECTRONIC
SCHOLARLY JOURNALS OF INFORMATION SCIENCE
Abstract: The emergence of scholarly journals has introduced a new form of scholarly communication, such as
Journal des Sçavans and Philosophical Transactions. Since the Internet and the electronic scholarly journal
advent, it has been noticed an expressive increase of scholarly journals and publications, which intensifies the
concern towards information treatment. This study main objective was to analyze ways to organize information
on Brazilian Information Science’s electronic scholarly journals’ websites which had their emphasis on
information retrieval and its access. The methodology employed was a descriptive research of quali-quantitative
nature, and bibliographical documental survey at journals’ websites ranked as Qualis A1 and A2. The results
indicate that 83% of the analyzed journals use open source softwares to scientific publishing. Also, 33% of these
journals present index of terms and the usage of thesaurus for these terms selection. It is concluded that
scholarly journals are still able to seize the available resources to organizing and access published information.
Keywords: Information science; organization of information; information representation; scholarly
communication; controlled vocabulary.
1 INTRODUÇÃO
Com o surgimento dos periódicos científicos, no século XVII, na Inglaterra e na
França, iniciou-se uma nova forma de se realizar a comunicação científica das pesquisas
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produzidas. A mudança na forma de divulgação e disseminação só foi possível graças às
invenções de Gutenberg, no século XV, possibilitando a produção de diversos materiais
bibliográficos. Porém, os profissionais passariam a lidar em um novo mundo informacional (e
desordenado) e deveriam desenvolver formas de se organizar a informação a ser publicada.
Em um sistema de informação, a organização da informação é um processo de
arrumação do acervo tradicional ou eletrônico por meio da descrição física e temática de
objetos informacionais (CAFÉ; SALES, 2010), visto que tem como produto a representação
da informação.
A representação da informação, segundo Dias e Naves (2013), no âmbito do
Tratamento Temático da Informação, abarca disciplinas, técnicas, método e processo que
visam à descrição física e temática de um documento.
O Tratamento da Informação compreende, também, disciplinas como classificação,
indexação e catalogação, incluindo especialidades na área para a utilização de metadados e
ontologias. Este tratamento tem como atividades a classificação (extraí o conteúdo de um
documento para seu arquivamento no acervo); indexação e catalogação de assuntos (extraem
termos ou descritores do documento para a criação de entradas ou pontos de acesso em um
catálogo ou índice).
Os instrumentos para o tratamento temático são a Classificação Decimal de Dewey
(CDD), a Classificação Decimal Universal (CDU), os tesauros, a Lista de Cabeçalho de
Assuntos (LCA), a NBR 6028 (resumo) e a NBR 12676 (métodos de análise dos documentos,
determinação de assunto e indexação) (DIAS, 2012; DIAS; NAVES, 2013). Já para o
tratamento descritivo temos os instrumentos: Anglo-American Cataloguing Rules (AACR),
Resource Description and Access (RDA), MARC21, padrão de metadados e NBR 6023.
Os produtos do tratamento temático são os índices, resumos, palavras-chave,
descritores e ponto de acesso, do processo de descrição temática. Para a descritiva temos:
referências bibliográficas e catálogos (DIAS, 2012; DIAS; NAVES, 2013).
Além disso, a área do tratamento da informação utiliza-se de linguagens
documentárias para se realizar a indexação, o armazenamento e a recuperação da informação.
As linguagens documentárias mais conhecidas são os tesauros e os sistemas de classificação
bibliográfica e, além destas, Barité (2011) apresenta também como instrumentos para
organizar o conhecimento, sendo: Lista de cabeçalho, lista de descritores, lista de autoridade,
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anéis de sinônimos, taxonomias, ontologias, folksonomias, mapas conceituais, mapas de
tópicos e os diretórios.
Neste contexto, levando em consideração as técnicas e o conhecimento desenvolvidos
na temática da Organização e Representação da Informação e do Conhecimento na área da
Ciência da Informação, questionou-se se os periódicos eletrônicos estariam utilizando
instrumentos que auxiliam a organização e o acesso à informação nos periódicos científicos
eletrônicos.
Este estudo justificou-se em razão de o profissional da informação possuir o
conhecimento e a prática para desenvolver instrumentos para a organização, a
disponibilização, a disseminação e o acesso à informação nos periódicos científicos
eletrônicos. O profissional também possui know-how para realizar uma análise dos requisitos
referentes à organização e acesso à informação, reconhecer possíveis fragilidades em um
sistema de informação ou aprimorar funcionalidades, visando a recuperação da informação
nos periódicos científicos eletrônicos.
Um periódico científico que possua suas funções aprimoradas pode se tornar uma
importante fonte de informação para pesquisas vindas a fortalecer o desenvolvimento
científico da instituição e, em consequência, o desenvolvimento da sociedade como todo,
pois, como se pode constatar na literatura científica, um dos grandes problemas da
comunicação científica é a obsolescência do conteúdo publicado, sendo de grande
necessidade a identificação e avaliação das formas e dos instrumentos utilizados para a
organização do conteúdo científico e o seu posterior acesso, podendo auxiliar no
aproveitamento do conhecimento desenvolvido em pesquisas e disseminado por meio de
artigos científicos, permitindo o fomento de mais pesquisas científicas nas diversas áreas do
conhecimento.
Assim, o objetivo foi analisar as formas de organização da informação nos websites de
periódicos científicos eletrônicos em Ciência da Informação, com ênfase na recuperação e no
acesso à informação, por meio de procedimentos metodológicos caracterizados pela pesquisa
de natureza exploratória e descritiva, utilizando-se de levantamento bibliográfico e
documental.
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2 PERIÓDICO CIENTÍFICO ELETRÔNICO
O uso dos termos periódico científico ou revista científica variam conforme a
categoria profissional. Segundo Stumpf (1998), os bibliotecários preferem utilizar o termo
Periódico Científico, enquanto docentes, pesquisadores e estudantes utilizam o termo Revista
Científica.
Esses termos advêm do uso de algumas palavras, principalmente do inglês e francês,
relacionadas à jornal,1 vindo a ter o seu surgimento em Paris e Londres, no século XVII, com
a publicação do Journal des Sçavans, uma publicação com escopo nas áreas de humanidades,
e com a formação da Philosophical Transactions, da Royal Society, onde se debatia questões
filosóficas, mas sem cunho teológico ou político.
O Royal Society tinha como uma de suas principais características a comunicação,
pois, os pesquisadores deveriam coletar pessoalmente as informações, conversar sobre as
novas pesquisas e resumir as informações coletadas nas viagens pelo mundo. Outra forma de
se descobrir publicações no exterior seria a troca de correspondências entre pesquisadores de
outras nacionalidades. Assim, com o crescimento e o acúmulo de cartas, houve a necessidade
de selecionar as informações mais importantes e organizá-las em uma fonte impressa e
distribuí-la.
Com influência direta da “república das letras” na publicação periódica do Journal dês
Sçavans (BURKE, 2003; GONÇALVES; RAMOS; CASTRO, 2006; MEADOWS, 1999),
determinou-se, após ter conhecimento da publicação francesa, que o Philosophical
Transactions fosse impresso na primeira segunda-feira de cada mês, se houvesse material para
isso. Também foi determinado que, antes de ser impresso, os textos deveriam ser revistos por
seus membros, sendo necessário a aprovação do Conselho (MEADOWS, 1999).
Pode-se, então, perceber as primeiras características que marcariam os periódicos
científicos modernos, como sendo uma publicação periódica e regular, contendo os resumos e
a avaliação pelos pares. Além destas, Volpato (2008) identifica duas características essenciais
para um periódico científico: a existência de análise crítica do conteúdo e ideias com respaldo
empírico, com um rígido discurso lógico e coerente.
Com relação a publicação de resumos, Meadows (1999, p. 31) lembra que o problema
não era em “[...] identificar material pertinente, mas também de ter acesso a ele”, portanto, o
1
Significa uma coletânea de artigos científicos, encadernados e distribuídos em um volume único, seguindo
intervalos regulares (MEADOWS, 1999).
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resumo era utilizado, também, como um substituto ao artigo original. Na década de 1960, as
publicações secundárias já eram aceitas por meio dos computadores, sendo os resumos
eletrônicos no mesmo molde dos resumos impressos, portanto, uma das primeiras formas de
organização e acesso às fontes secundárias se dava por meio das pesquisas por palavras-chave
nos títulos dos resumos.
Meadows (1999) lembra que as publicações eram em sua maioria de literatura
científica e técnica, mas na década de 1980, as áreas de ciências sociais e humanidades
começaram a disponibilizar suas publicações, graças, principalmente, à redução do custo dos
microcomputadores.
Foi na década de 1990 que as publicações periódicas científicas começaram a se
transformar em periódicos científicos eletrônicos. A primeira fase, que foi de 1990 a 1993, há
algumas publicações em CD-ROM e online. Nessa fase surgiram os arquivos de preprints, a
World Wide Web (WWW), vindo a despertar o interesse pelas publicações eletrônicas.
(TENOPIR et al., 2003).
Na segunda fase, no final da década de 1990 até o ano de 2003, existiam 15 mil
periódicos, sendo 12 mil eletronicamente acessíveis. Neste período, o surgimento de algumas
iniciativas para lançamento de softwares livres, tais como Dspace (para a construção de
repositórios digitais), em 2002, e Open Journal Systems (OJS), em 2001.
Na terceira fase, de forma embrionária ainda em meados da década de 1990, a
Sociedade Americana de Astronomia, a Editora da Universidade de Chicago e a NASA
desenvolvem em parceria a NASA Astrophysics Data System, um sistema que permite a busca
em metadados, resumos e textos completos, além de acesso à literatura da área desde meados
de 1800, além do uso de hyperlinks, citações, estatísticas, gráficos, entre outros. Como
resultado do sucesso desta terceira fase, em 2014, já existia um número próximo de 35 mil
periódicos científicos, em sua grande maioria somente eletrônicos (STM, 2015).
Essas modificações, no desenvolvimento do periódico científico, foram resultado do
surgimento de tecnologias da informação e comunicação para a publicação e editoração
científica.
Percebe-se, assim, as necessidades e formas de busca da informação e de acesso à
informação pelos pesquisadores e cientistas, também foram se modificando (MÁRDERO
ARELLANO; FERREIRA; CAREGNATO, 2005). Essas modificações, no desenvolvimento
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do periódico científico, foram resultado do surgimento de tecnologias da informação e
comunicação para a publicação e editoração científica.
2.1 O OPEN JOURNAL SYSTEMS (OJS)
O Open Journal Systems (OJS) foi uma das iniciativas de software livre para
editoração científica, desenvolvido pelo Public Knowledge Project (PKP), da University of
British Columbia, que foi a plataforma escolhida, traduzida para o português e customizada
por uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT),
inicialmente chamada de Serviço de Editoração Eletrônico de Revistas (SEER), sendo
conhecida como OJS/SEER. Segundo Brito e outros (2018), a partir da terceira edição,
convencionou-se a padronizar pelo nome OJS.
O software OJS tem o intuito de amparar o padrão editorial, organizar a informação
científica e a divulgação em meio eletrônico das publicações nacionais, além de possibilitar a
disponibilização dos metadados essenciais das revistas editadas por este software, com o
objetivo de diminuir espaços e custos de acesso à informação, vindo a facilitar a localização e
o armazenamento da informação incitando a pesquisa. (ALVORCEM, 2010).
O OJS ainda permite a utilização de módulos de extensão para expandir as suas
funcionalidades, estes módulos são programas de computador, nomeados de Plugins do
Sistema. Além de funcionalidades padrão, como de estatísticas, há a possibilidade de
instrumentos para a indexação para o Google Acadêmico, a utilização de plugins próprios ou
de terceiros.
Todos estes elementos operam dentro da lógica do protocolo OAI-PMH, utilizado na
transferência de dados para repositórios e periódicos eletrônicos de acesso aberto. Segundo
Bandeira (2017, p. 35), “Este protocolo tem duas interfaces: interoperabilidade e
extensibilidade. A interoperabilidade decorre da obrigatoriedade embutida no protocolo para
implementação do padrão Dublin Core (um padrão de metadados); já a extensibilidade,
advém da oportunidade de também se criar ou utilizar padrões de metadados diferentes do
Dublin Core [...].”
Este software livre permite a aplicação de uma variedade de instrumentos e
ferramentas para a organização e o acesso à informação nos periódicos científicos eletrônicos,
como o uso de tesauro para compatibilizar os descritores, pesquisas em resumos, plugins que
auxiliam o usuário em sua pesquisa, entre outros.
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Portanto, percebe-se a grande importância da filosofia do Acesso Livre segundo
estudo recente (SCIENCE-METRIX, 2018), no qual o Brasil é o país com a maior
disponibilização de publicações científicas com acesso livre no mundo, cerca de 75% de sua
produção. No tópico a seguir, uma breve discussão sobre metadados, recuperação e acesso à
informação.
3 METADADOS, RECUPERAÇÃO E ACESSO À INFORMAÇÃO
Com o desenvolvimento dos ambientes digitais para o armazenamento, organização,
recuperação e acesso à informação, a utilização de metadados se tornou imprescindível para
essas atividades. Schons (2007) lembra que os metadados permitem a descrição de
documentos e informações, possibilitam conectá-los a documentos para serem recuperados e
manuseados com eficácia, para isso, será necessário definir o padrão de metadados a ser
utilizado.
3.1 METADADOS
O Dublin Core é um dos padrões de metadados mais utilizado em ambiente web,
sendo um padrão criado especificamente para a descrição e recuperação dos conteúdos
digitais na web, visando um trabalho descritivo mais simplificado e eficaz para a recuperação
da informação (ALVES, 2010; GRACIO, 2002; MEY; SILVEIRA, 2009).
Segundo Paladini (2014) o Dublin Core possui 15 elementos em nível simples, tais
como: Título, autor, Assunto, Descrição, Editor, Contribuidor, Tipo de Recurso, Formato,
Identificador do recurso, Fonte, Idioma, Relação, Abrangência e Direitos Autorais. Estes
elementos também são utilizados nos websites dos periódicos científicos.
Alves e Santos (2013) apresentam um nível mais qualificado do padrão Dublin Core,
além dos 15 elementos de descrição, mais sete elementos adicionais e duas classes
qualificadoras. Sendo estes sete elementos: Audiência, Proveniência, Direitos autorais,
Métodos de instrução, regime de competência, periodicidade e política. As classes
qualificadoras servem para todos os elementos, simples ou qualificados, sendo: Elementos de
refinamento e Esquemas de codificação.
Os elementos de refinamento são qualificadores que refinam ou restringem o campo,
permitindo que se especifique e amplie o significado dos elementos descritivos. Já os
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esquemas de codificação identificam os esquemas para o valor dos elementos, esquemas
como vocabulário controlado, notações de sistema de classificação, entre outros.
Segundo Buckland (2006), o propósito original dos metadados é a descrição de
documentos, podendo diferenciar em metadados descritivos, administrativos e de conteúdo.
Alguns autores definem os metadados como descritivos, administrativos e estruturais
(CAPLAN, 2003; CATARINO, 2009), já outros autores organizam os metadados em quatro
tipos: administrativos, descritivos, de conservação, técnicos e de uso (GRACIO, 2002).
Tem-se, também, o Padrão Brasileiro de Metadados para Teses e Dissertações
(MTD-BR), padrão criado pelo IBICT, lançado em 2002, visando a normalização e adequação
às necessidades de descrição de teses e dissertações arquivadas online. O padrão MTD-BR foi
compatibilizado com as normas do Dublin Core e do Eletronic Thesis and Dissertation
Metadada Standard (ETD-MS), este último incluindo campos para descrição de titulação, grau
(ou nível acadêmico), área de estudo e a instituição que abriga o programa de pós-graduação.
(BAPTISTA; FERNEDA, 2016; MEY; SILVEIRA, 2009).
Especificamente sobre os aspectos da representação da informação por meio de
metadados, Gracio (2002, p. 113) afirma que “[...] a descrição através de metadados
proporciona, entre outras coisas, qualidade tanto para a representação de um recurso, como
para o resultado de uma pesquisa.”, vindo a facilitar a recuperação e o acesso à informação.
3.2 RECUPERAÇÃO E ACESSO À INFORMAÇÃO
O conceito de recuperação da informação surgiu na década de 1950, criado por
Calvin Mooers e compreende a representação, o armazenamento, a recuperação e o acesso à
informação. Nesse contexto, a Ciência da Informação está diretamente ligada à área da
recuperação da informação, esta área é responsável pelo desenvolvimento de produtos,
sistemas e serviços, além de introduzir componentes científicos e profissionais.
Os sistemas de recuperação da informação foram se modificando ao longo do tempo,
inicialmente, na década de 1940, em forma de um catálogo impresso, pré-coordenado,
utilizando-se de índices impressos e catálogos em fichas, posteriormente, na década de 1950,
fez uso de palavras-chave, ainda em meios impressos (LANCASTER, 2004; SANTIAGO,
2004).
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Foi somente na década de 1960 que houve um maior “[...] desenvolvimento
tecnológico das bibliotecas e sistemas de informação [...]” (SANTIAGO, 2004, p. 29), vindo a
possibilitar formas informatizadas de recuperação e intercâmbio de dados e informações,
como, por exemplo, a catalogação legível por computador. Assim, na década de 1960, surge
um padrão de metadados, o Machine Readable Cataloging (MARC). (FLAMINO, 2006;
SANTIAGO, 2004).
Saracevic (1996, p. 46) afirma que na década de 1970 “[...] o paradigma da
recuperação da informação deslocou-se em direção a uma contextualização mais ampla,
voltando-se para os usuários e suas interações.”
Portanto, pode-se perceber que, na área da recuperação da informação, há duas
visões, uma voltada para o usuário e outra para os sistemas computacionais, pois, na visão
computacional, a preocupação é com a construção de índices, processos de busca e
desenvolvimento de algoritmos que tornem a recuperação da informação mais eficiente e
precisa, já a visão humanista busca compreender o comportamento do usuário, suas
necessidades e sua relação com a organização do sistema. (SANTAREM SEGUNDO, 2010).
Para além da recuperação da informação, atualmente, deve-se levar em consideração
o acesso à informação desejada. Sendo o acesso a “[...] possibilidade de o usuário obter,
rápida e corretamente, a informação que procura" ou “a capacidade de acessar um recurso
independentemente do sistema de acesso a ele.” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 2).
É nesse sentido que Santarem Segundo afirma que (2010, p. 24) “[...] a grande
dificuldade no processo de recuperação da informação é conseguir atender à necessidade do
usuário, indicando o que é mais ou então menos relevante dentro do contexto de sua consulta
a um conjunto de informação.” Assim, em busca da solução deste obstáculo, foram
desenvolvidos alguns modelos de recuperação da informação.
Sobre o enfoque à questão do acesso, Weitzel (2006, p. 103) afirma que a “[...]
ênfase no acesso trouxe alguns aspectos importantes que caracterizam o que vem se
apresentando como modelo OA”, alguns desses aspectos pode-se destacar: acesso livre à
literatura científica e o aumento na preocupação com metadados, interoperabilidade e
preservação digital.
Como bem destacaram Merlo e Konrad (2015, p. 34-35), “[…] o acesso se torna
moroso ou inexistente quando os registros informacionais não estão ordenados”, significando
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que, além do tratamento da informação, o uso de metadados com qualidade e de normas para
descrição dos dados aumentam a possibilidade de recuperação dos documentos.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este estudo realizou uma pesquisa de natureza descritiva e técnica de pesquisa
documental, com uma abordagem qualiquantitativa. Este estudo envolveu a coleta de dados,
no período entre os dias 07 e 21 de novembro de 2018, nos websites dos periódicos científicos
eletrônicos classificados no Qualis em A1 (Transinformação, Perspectivas em Ciência da
Informação e Informação & Sociedade) e A2 (Informação & Informação, Encontros Bibli e
Em Questão) e a análise das informações disponibilizadas para os usuários e os instrumentos
utilizados por estes periódicos. Cabendo ressaltar que houve uma nova coleta de dados, em
junho de 2020, para verificar possíveis atualizações nos periódicos eletrônicos.
A pesquisa teve quatro etapas, sendo a primeira etapa a seleção dos periódicos,
constituindo o corpus de análise; a segunda etapa foi a coleta de dados da organização dos
websites dos periódicos eletrônicos, com o preenchimento de formulários com as respectivas
informações, conforme o Quadro 1.
Quadro 1: Formulário para conteúdo de acesso geral
PERIÓDICO
PÁGINA INICIAL
PÁGINA SUMÁRIO
PÁGINA DO
ARTIGO
Fonte: elaborado por Pereira (2018).
A terceira etapa foi a coleta de dados sobre o uso de vocabulário controlado e outros
instrumentos para organização e acesso à informação, conforme o Quadro 2.
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Quadro 2: Formulário para vocabulário controlado e outros instrumentos
Instrumento Organização
Periódico
Instrumento Acesso
D
O
I
Instrumento Leitura
ITerm
VC
NT
IP
IT
PDF
HTM
L
ORCID
Fonte: elaborado por Pereira (2018).
ITerm = Índice de Termos / VC = Vocabulário Controlado / NT = Nuvem de Tags / IP = Instrumento Próprio /
IT = Instrumento de Terceiros / PDF = Leitor PDF online / OF = Outros Formatos / Ipers = Identificador
Persistente.
E a quarta, e última etapa, foi a análise dos dados coletados destes periódicos e sua
posterior comparação. Esta última etapa está presente na seção 6, sobre análise e resultados.
5 ANÁLISE E RESULTADOS
Na análise de dados, destaca-se a forma como as informações estão disponibilizadas e
os instrumentos utilizados nas páginas dos periódicos científicos eletrônicos. A seguir,
apresentam-se nas páginas dos periódicos científicos, conforme demonstra-se no Quadro 3.
PERIÓDICO
Transinformação
Perspectivas em
Ciência da
Informação
Quadro 3: Páginas dos periódicos científicos
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DOI
sem ferramentas no
menu lateral
No Quadro 3, a primeira coluna refere-se aos seis periódicos analisados:
Transinformação; Perspectivas em Ciência da Informação; Informação & Sociedade;
Informação & Informação; Encontros Bibli e Em Questão.
Nas páginas principais dos periódicos científicos pode-se visualizar um menu superior
e um menu lateral, onde se tem acesso às informações sobre o periódico, possibilitando
realizar uma pesquisa rápida, acessar a edição mais atual, entre outros. Ao selecionar uma
edição, apresenta-se uma página com o sumário, com a listagem das publicações. Ao
selecionar uma determinada publicação, acessa-se a página do artigo, possibilitando o acesso
ou o download do artigo, cabe ressaltar que ao se acessar a página do artigo, alguns periódicos
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disponibilizam ferramentas extras no menu lateral, permitindo a impressão, o contato com os
autores, a visualização dos metadados, a disponibilização da referência em diversos formatos,
entre outros.
Dos periódicos científicos eletrônicos analisados, 83% utilizam o software livre da
OJS, permitindo um mesmo padrão na estrutura das páginas dos periódicos, o que torna a
busca por informações mais familiarizadas pelos usuários ou autores, como o acesso aos
menus com informações para os autores ou acesso às edições antigas ou atuais, assim como as
ferramentas que permitem por buscas mais gerais ou específicas, por exemplo, sendo o
periódico Transinformação o único a utilizar o software de editoração da SciELO.
Todos os periódicos analisados disponibilizam um sumário para cada edição, onde
pode-se acessar os resumos, a autoria e o Digital Object Identifier (DOI). Isto significa que os
periódicos estão preocupados com as melhores práticas de editoração científica. Porém,
somente o periódico Informação & Informação exige a apresentação de um resumo
estruturado, em que se explicita a introdução, objetivo, métodos, resultados e conclusão,
conforme a NBR 6028.
Foram analisados os instrumentos utilizados pelos periódicos para a organização e o
acesso à informação. Sendo que os instrumentos de organização auxiliam na seleção,
apresentação e identificação do conteúdo das publicações como (por exemplo, na seleção de
palavras-chave/descritores ou na construção de índices de termos).
Já os instrumentos para o acesso auxiliam que os usuários acessem com mais
facilidade o conteúdo da publicação (por exemplo, disponibilizar a leitura on-line). Conforme
o manual do OJS (PUBLIC KNOWLEDGE PROJECT, 2006), diversos plug-ins podem ser
utilizados.
Após a coleta dos dados sobre os instrumentos utilizados para a organização e o acesso
à informação, pode-se perceber, pelo formulário para coleta de instrumentos, conforme
Quadro 4, que não há um padrão para utilização de instrumentos de organização da
informação.
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Quadro 4: Formulário para coleta de instrumentos
Instrumento Organização
Instrumento Acesso
Instrumento Leitura
Periódico
ITerm
VC
NT
IP
IT
DOI
PDF
ORCID
HTML
TRANSINFORMAÇÃO
PERSPECTIVAS EM CIÊNCIA
DA INFORMAÇÃO
INFORMAÇÃO & SOCIEDADE
INFORMAÇÃO &
INFORMAÇÃO
ENCONTROS BIBLI
EM QUESTÃO
Fonte: elaborado por Pereira (2018).
Legenda: verde = possui instrumento. Vermelho = não possui instrumento.
Explicando o quadro acima, observou-se que, dos seis periódicos analisados, somente
dois (Transiformação e Informação & Informação) disponibilizam um índice de termos, que
auxiliam os usuários em suas pesquisas. Isso equivale a somente 33% dos periódicos
analisados. Em relação ao uso de um Vocabulário Controlado, o uso do Tesauro, como bem
lembrado por Dias e Naves (2013), é um instrumento para o tratamento temático da
informação, porém, somente dois (Transiformação e Informação & Informação) dos
periódicos informam sobre o uso deste instrumento, que auxilia tanto na pesquisa quanto na
identificação de termos pelos autores no momento da submissão da publicação. O uso de
descritores otimiza o processo de recuperação da informação em um contexto no qual a
interoperabilidade entre os sistemas de informação é tão debatida, principalmente após o
surgimento do Movimento Acesso Livre (BANDEIRA, 2017).
Sobre o instrumento nuvem de tags, este é um plugin padrão do OJS, onde são
disponibilizadas as palavras-chave mais indexadas pelos autores. As palavras-chave como
lembra Lancaster (2004), é uma importante ferramenta para a recuperação da informação.
Somente dois periódicos (Transiformação e Em Questão) não utilizam este instrumento,
porém, fica evidente que o emprego deste instrumento não é o suficiente, já que em todos os
periódicos aparecem palavras-chaves duplicadas, significando que um mesmo termo é
indexado de maneiras diferentes.
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O quarto instrumento de organização identificado está presente em somente um
periódico eletrônico, sendo um instrumento que compatibiliza e padroniza os termos
indexados em sua base de dados, disponibilizando, além de um índice de termos, um
vocabulário controlado do próprio periódico. O controle do vocabulário, conforme Lancaster
(2004) afirma, disponibiliza uma lista de termos autorizados, auxiliando na recuperação da
informação.
No quesito instrumento de acesso, todos os periódicos disponibilizam a leitura online
direto na página, por meio do Portable Document Format (PDF). Porém, cabe ressaltar, que
somente um periódico disponibiliza a leitura por HyperText Markup Language (HTML). Esta
funcionalidade facilita o acesso por meio de um dispositivo móvel, onde a tela é menor,
assim, o texto pode se adequar ao tamanho desejado pelo usuário.
Em relação aos identificadores persistentes, todos os periódicos empregam o DOI para
suas publicações, acompanhando as melhores práticas de editoração científica para a
identificação de um objeto digital. Cabe ressaltar que o periódico Transinformação
disponibiliza um identificador persistente exclusivo da SciELO, chamado Permalink. Sobre o
ORCID, identificador persistente para os pesquisadores, somente dois periódicos apresentam
esta ferramenta ou exigem dos autores para a publicação.
Conforme os dados coletados entre os dias 07 e 21 de novembro de 2018, somente os
periódicos Transinformação e Informação & Informação disponibilizam um índice de termos
indexados. Estes instrumentos auxiliam na apresentação das informações dos conteúdos
publicados. No caso do periódico Informação & Informação, o índice ainda apresenta a
quantidade de vezes que os termos foram indexados.
O índice gerado no periódico Informação & Informação apresenta, além da lista de
termos, o vocabulário controlado da revista e a quantidade de artigos com o termo indexado.
Especificamente sobre a Informação & Informação, este periódico compatibiliza os termos
indexados com o Tesauro Brasileiro de Ciência da Informação, do Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) (PINHEIRO; FERREZ, 2014), o que permite
gerar um Vocabulário Controlado próprio para a revista, apresentando, inclusive, o perfil do
periódico, graças ao instrumento VCPC Tools (SANTOS, 2015).
O perfil do periódico permite a visualização das áreas de estudo e pesquisa dos artigos
publicados, sendo que as pesquisas mais publicadas se encontram nas áreas de: 1)
Epistemologia da Ciência da Informação; 2) Organização do Conhecimento e Recuperação da
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Informação; 3) Gestão da Informação; 4) Comunicação e Acesso à Informação e 5)
Tecnologias da Informação e Comunicação com, respectivamente, 206, 209, 195, 190 e 178
artigos publicados.
Outro ponto importante a ser ressaltado, é sobre os periódicos Em Questão,
Informação & Informação e Encontros Bibli, que disponibilizam uma ferramenta de
organização e acesso. Ambos os periódicos incorporaram suas publicações ao Google
Acadêmico, facilitando além do acesso, a organização deste acervo, como, por exemplo,
disponibilizar os periódicos mais citados, obter dados bibliométricos, como índice H, entre
outros.
Assim, observou-se que a maioria dos periódicos científicos eletrônicos analisados não
disponibilizam algum tipo de controle de vocabulário, mas exploram os recursos eletrônicos
disponibilizados pelos softwares de editoração, como a apresentação dos termos mais
indexados e o acesso diretamente do navegador aos documentos publicados.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os periódicos científicos eletrônicos se tornaram uma das principais fontes de
informação para as pesquisas científicas, para tanto, esta pesquisa teve como objetivo analisar
as formas de organização da informação com foco na recuperação e acesso à informação.
O resultado desta pesquisa reforça a necessidade de investigações futuras em um
universo mais amplo, onde poderá ser pesquisada a utilização de instrumentos e ferramentas
nos websites de outros periódicos, inclusive de outras áreas do conhecimento. O uso de
tesauros em um formato eletrônico pode dar agilidade no processo de compatibilização dos
termos. Pode-se pesquisar o uso de ontologias, o que permitirá a comparação dos resultados
segundo diferentes processos utilizados. Pesquisas futuras permitirão explorar as diversas
técnicas para o tratamento da informação que auxiliarão a área da comunicação científica,
facilitando a disseminação do conhecimento desenvolvido nas universidades.
Portanto, pode-se perceber que a Ciência da Informação tem importantes contribuições
para a disseminação e o desenvolvimento da ciência como um todo, tanto no desenvolvimento
de técnicas, instrumentos entre outras tecnologias, quanto na própria organização do conteúdo
publicado, auxiliando na recuperação e acesso à informação desejada.
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