Luiz Amorim, Marcio Cotrim, Rachel Coutinho e Xico Costa
U
ma revista é um desejo antigo da ANPARQ. Desde
2009, quando ocorreu o 1º Seminário Nacional de
Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (1º SeNAU), a intenção de criá-la se fez constante,
como observado no capitulo II do seu estatuto, que
trata das finalidades: “estimular e difundir os estudos,
a pesquisa e o avanço do conhecimento na área de
Arquitetura e Urbanismo”; “promover a divulgação de
estudos e informações referentes à sua área de atuação”; “e divulgar e produzir trabalhos técnico-científicos, através de publicações especializadas”. Apesar
das evidentes sobreposições, se considerarmos que
estimular, difundir e divulgar são os verbos-chave do texto que define as finalidades da associação e
que os três estão associados ao labor editorial, não é
de estranhar que a criação de uma revista seja algo
esperado e celebrado por nós: pesquisadores, professores, arquitetos e urbanistas.
*
Luiz Amorim, Marcio Cotrim, Rachel
Coutinho e Xico Costa.
Em agosto de 2012 foi criada uma comissão responsável por viabilizar o projeto editorial da revista , da qual
fizeram parte os quatro editores* que agora assinam
esse primeiro editorial. Consideramos que a revista
deveria, mais do que estimular, difundir e divulgar, ser
o lócus de reflexão sobre a produção dos programas
de pós-graduação da área de arquitetura e urbanismo;
nossa própria produção. Ou seja, criar as condições
para uma reflexão sobre nossas limitações, nossos
desafios e pretensões. Tais propósitos estruturam seu
primeiro número. A partir deste é possível, tal como
um problema, persegui-lo sem a certeza de solucioná
-lo, assim como uma hipótese, uma hypothesis.
REVISTA THÉSIS | 01
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EDITORIAL
Revista ou Cadernos da ANPARQ sempre nos pareceu um nome inadequado para descrever tal propósito. O nome da revista teve por inspiração a sugestão
dada por Antônio Agenor Barbosa à Abílio Guerra –
Em tese, depois simplificada, por sugestão de Luiz
Amorim, para Tese em sua grafia grega – Θεσις ou
Thésis. A palavra também está associada à Thésis a
deusa primordial da criação na mitologia grega. Thésis, portanto, pretende ser o lócus da criação.
Superado esse ponto crucial, os esforços foram depositados na definição da sua estrutura editorial e do seu
projeto gráfico. Foram definidas quatro seções, cada
qual com objetivos e produtos específicos: [Ensaios]
é destinada a divulgar a produção originada de pesquisas acadêmicas; [Arquivo] abriga textos clássicos, de notória relevância para a cultura arquitetônica, ainda não traduzidos para a língua portuguesa;
[Recensão] é destinada à publicação de resenhas de
documentos científicos relevantes, como livros publicados no Brasil e no exterior, e dissertações e teses
defendidas em universidades nacionais e estrangeiras; e [Passagens] é uma entrada [ou uma saída]
para narrativas experimentais que explorem velhas e
novas linguagens em insights sobre a arquitetura, a
cidade e o urbanismo.
Nossa hypothesis é que a intercessão entre as quatro
seções seja o lócus de reflexão e criação, como posto nos parágrafos anteriores. Oferecemos, portanto, o
encontro entre a produção científica acadêmica – caracterizada pelo rigor metodológico e pela busca pelo
ineditismo, e as narrativas experimentais desvinculadas de objetivos precisos, passando pela revisão dos
discursos do passado e do presente.
O projeto gráfico da revista e da página web, criado
pela parceria entre a None Design Gráfico e a Labasoft, buscou sobrepor ao Open Journal System (OJS)
– eficiente no que diz respeito às exigências da academia – máscaras que tornassem as interfaces mais
amigáveis e a navegação mais prazerosa. Em certo
modo, pode ser entendida como a síntese gráfica da
hypothesis exposta acima.
Este Número 01 tem um caráter piloto e é resultado das
decisões exclusivas dos editores. Gleice Elali e Maísa
Veloso, apresentam o número a partir de suas experiências na ANPARQ, percorrem os dez primeiros anos
da associação, de sua fundação até o III Enanparq e
traçam os “desafios futuros” que a associação e a área
deverão enfrentar. Exigem uma postura mais ativa e
crítica.
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REVISTA THÉSIS | 01
Janeiro / Junho 2016
EDITORIAL
Anthony Vidler e Fernando Lara ocupam a seção
Ensaios da revista. Vidler autorizou, generosamente, a publicação da palestra Design from the air: Le
Corbusier over Brazil to Rem Kollhaas over Nigeria,
proferida em setembro de 2012 na FAU-UFRJ, no Rio
de Janeiro, como convidado para o II Enanparq. Lara,
indicando a mudança de rumo no foco de suas pesquisas, aponta para a necessidade de, em um âmbito
latino-americano, darmos menor atenção para o processo de concepção dos projetos e maior atenção para
o arcabouço institucional que sustenta tal projeto e
tal obra. Segundo ele não há “nada mais urgente na
agenda política da profissão”.
O artigo Space Syntax - publicado originalmente no
periódico científico Environment & Planning B, em
1976 por Bill Hillier, Adrian Leaman, Paul Stansall e Michael Bedford - inaugura a seção Arquivo.
Edja Trigueiro e Diógenes Pereira fizeram um trabalho meticuloso de tradução do texto que fundamenta a teoria da lógica social do espaço, sintetizada por
Bill Hillier e Julienne Hanson no livro The social logic of
space (1984). Agradecemos o Professor Bill Hillier por
autorizar sua tradução e publicação.
[Recensão] é inaugurada com resenhas de documentos que receberam o Prêmio ANPARQ 2014 de
tese e livro autoral. Frederico de Holanda escreveu
a resenha da tese intitulada A noção de “ambiente”
em Gustavo Giovannoni e as leis de tutela do patrimônio cultural na Itália, de autoria de Renata Campello
Cabral. A investigação doutoral foi desenvolvida sob
a orientação dos professores Carlos Roberto Monteiro de Andrade, do Programa de Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU
-USP), e Andrea Pane, da Università degli Studi di
Napoli Federico II. Gustavo Rocha-Peixoto e Anat
Falbel escreveram sobre Roberto Segre e o livro de
sua autoria sobre o Ministério da Educação e Saúde,
agraciado com prêmios editoriais concedidos no Brasil
e no exterior.
Finalmente na seção Passagens, Abílio Guerra nos
oferece uma cidade que fala de maneira surpreendente; uma cidade sublinhada, sobreposta a outra, colada sobre muros, portas de ferro, postes, calçadas,
árvores; aderida a suportes taticamente frágeis, que
permitem um discurso sempre renovado e atualizado.
Enquanto Luciana Crepaldi foi convidada para realizar uma série de fotografias da cidade de Barcelona,
com a única condição de inspirar-se nos Trabalhos das
Passagens, de Walter Benjamin.
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