Research, Society and Development, v. 9, n. 10, e6419109049, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i10.9049
A presença da disciplina de dor orofacial e disfunção temporomandibular nas
faculdades de odontologia do nordeste brasileiro
The presence of the discipline of orofacial pain and temporomandibular disorders in the
colleges of dentistry in northeast Brazil
Presencia de la disciplina del dolor orofacial y la disfunción temporomandibular en las
escuelas dentales del noreste de Brasil
Recebido: 05/10/2020 | Revisado: 06/10/2020 | Aceito: 10/10/2020 | Publicado: 12/10/2020
Lucas Nunes de Brito Silva
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6251-5200
Universidade de Pernambuco, Brasil
E-mail: lucasnuns@hotmail.com
Elenisa Glaucia Ferreira dos Santos
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2964-2483
Universidade Federal de Alagoas, Brasil
E-mail: elenisaglaucia@gmail.com
Eryck Canabarra Ávila
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7323-5754
Universidade Federal de Alagoas, Brasil
E-mail: eryck_canabarra@hotmail.com
Lucya Giselle Costa Moreira
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3658-8163
Centro Universitário Tiradentes, Brasil
E-mail: lucya_giselle@hotmail.com
Matheus Corrêa da Silva
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0087-0041
Universidade Federal de Alagoas, Brasil
E-mail: matheuscorreas@icloud.com
Ingrid Torres de Almeida
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4661-1849
Universidade Federal de Alagoas, Brasil
E-mail: ingridtalmeida@gmail.com
1
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Emanuel Savio de Souza Andrade
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2165-4217
Universidade de Pernambuco, Brasil
E-mail: emanuel.savio@upe.br
Resumo
Os problemas relacionados à dor orofacial e disfunção temporomandibular afetam o
funcionamento psicossocial e a qualidade de vida dos indivíduos. Objetivo: Identificar a
presença da disciplina de dor orofacial e disfunção temporomandibular na matriz curricular das
Instituições de Ensino Superior da região Nordeste do Brasil. Metodologia: A pesquisa tratouse de um estudo transversal que se deu em duas etapas: inicialmente, realizou-se a busca pelas
instituições credenciadas pelo Ministério da Educação, sendo excluídas aquelas que
apresentavam o curso como não iniciado, interrompido ou extinto; em seguida, buscou-se a
matriz curricular de cada instituição, registrando a presença da disciplina, carga horária da
disciplina, ensino teórico ou teórico-prático, carga horária total da graduação e categoria
administrativa (pública ou privada). Foram excluídas as instituições que não apresentaram a
matriz curricular disponível em seus endereços eletrônicos. Resultados: Das 101 instituições
selecionadas, 49 apresentaram a disciplina de dor orofacial e disfunção temporomandibular em
sua grade, sendo 83% de categoria administrativa privada. A carga horária total do curso de
Odontologia correspondeu, em média, a 4.232 horas, entretanto, a carga horária da disciplina
apresenta um pouco mais de 1% do total ofertado. Menos da metade dos cursos, 43%, aborda a
disciplina de modo teórico-prático, sendo o restante apenas teórico. Conclusão: Ainda é baixa
a presença da disciplina de dor orofacial e disfunção temporomandibular nos cursos de
Odontologia do Nordeste brasileiro. Em razão da sua relevância, devem ser planejadas medidas
para que sua inclusão seja priorizada.
Palavras–chave: Ensino; Instituições acadêmicas; Educação em odontologia; Dor orofacial.
Abstract
Problems related to orofacial pain and temporomandibular disorders affect psychosocial
functioning and people’s life quality. Objective: To identify the discipline of orofacial pain and
temporomandibular disorder in the curriculum of universities in the Northeast of Brazil.
Methods: Research that deals with a cross-sectional study carried out in two stages: initially the
research was carried out by institutions accredited by the Ministry of Education, excluding
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participants who presented the course as not started, interrupted or extinguished; afterward, a
search was made for the curricular matrix of each institution, recording the presence of
discipline, subject hours, theoretical or theoretical-practical teaching, total undergraduate hours
and administrative category (public or private). Institutions that did not have a curriculum in
their e-mail addresses were excluded. Results: Of the 101 selected institutions, 49 presented the
discipline of orofacial pain and temporomandibular disorder in their grade, 83% of which were
private administration. The total workload of the Dentistry course corresponded, on average, to
4,232 hours, however, the workload of the discipline represents just over 1% of the total offered.
Less than half of the courses, 43%, approach the discipline in a theoretical-practical way, with
the remainder being only theoretical. Conclusion: The presence of the discipline of orofacial
pain and temporomandibular disorders in Dentistry courses in Northeast Brazil is still low. Due
to their relevance, measures must be planned so that their inclusion is prioritized.
Keywords: Teaching; Schools; Dental education; Facial pain.
Resumen
Los problemas relacionados con el dolor orofacial y el trastorno temporomandibular afectan el
funcionamiento psicosocial y la calidad de vida de los individuos. Objetivo: Identificar la
presencia de la disciplina del dolor orofacial y la disfunción temporomandibular en el plan de
estudios de las instituciones de educación superior en la región noreste de Brasil. Metodología:
La investigación fue un estudio transversal que se llevó a cabo en dos etapas: inicialmente, se
realizó la búsqueda de instituciones acreditadas por el Ministerio de Educación, excluyendo las
que presentaron el curso como no iniciado, interrumpido o extinto; entonces, se buscó la matriz
curricular de cada institución, registrando la presencia de la disciplina, la carga de trabajo de la
disciplina Se excluyeron las entidades que no presentaron el plan de estudios disponible en sus
direcciones de correo electrónico. Resultados: De las 101 instituciones seleccionadas, 49
presentaron la disciplina del dolor orofacial y la disfunción temporomandibular en su red, 83%
de las cuales eran de categoría administrativa privada. La carga de trabajo total del curso de
odontología correspondió, por término medio, a 4.232 horas, sin embargo, la carga de trabajo
de la disciplina apenas supera el 1% del total ofrecido. Menos de la mitad de los cursos, 43%,
se acercan a la disciplina de forma teórico-práctica, siendo el resto sólo teórico. Conclusión:
La presencia de la disciplina del dolor orofacial y la disfunción temporomandibular en los
cursos de odontología en el noreste de Brasil sigue siendo baja. Debido a su pertinencia, deben
planificarse medidas para que se dé prioridad a su inclusión.
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Palabras clave: Eseñanza; Instituciones académicas; Educación en odontología; Dolor
orofacial.
1. Introdução
A dor orofacial/disfunção temporomandibular (DO/DTM) corresponde a entidades
patológicas capazes de afetar o funcionamento psicossocial e a qualidade de vida dos indivíduos
(Schiffman et al., 2014). A compreensão acerca das doenças que causam dor orofacial (DO) se
faz necessária para a construção do diagnóstico precoce e encaminhamento adequado,
prevenindo a cronificação. Estudos epidemiológicos indicam que entre 7% e 11% das
enfermidades causadoras da dor orofacial crônica acometem a população em geral (Ziegeler,
Wasiljeff & May, 2019).
A disfunção temporomandibular (DTM) refere-se a uma junção heterogênea de doenças
musculares e/ou esqueléticas que afetam o aparelho estomatognático e o sistema psicossocial
do paciente. A dor é considerada um sintoma comum da DTM, sobretudo, quando ocorre a
cronificação da doença (Österlund et al., 2018; Soares, Coelho, Ferreira & Guimarães, 2012).
O entendimento acerca da anatomofisiologia do complexo temporomandibular e anexos, das
sintomatologias e da sua correlação com os distúrbios associados à DTM, somado ao
reconhecimento do prognóstico e do manejo de pacientes acometidos, permite ao cirurgiãodentista (CD) o diagnóstico precoce, o que pode impedir o desenvolvimento de doenças
sintomáticas crônicas (Newton-John, Madland & Feinmann, 2001; Zakrzewska, 2007).
Tendo em vista que os pacientes acometidos com DO procuram inicialmente o
atendimento odontológico, se faz necessário que haja compreensão e conhecimento adequados
acerca desta especialidade odontológica (Aggarwal, Joughin, Zakrzewska, Crawford & Tickle,
2011). Uma problemática surge quando estudos revelam que o paciente portador de DO crônica
leva em média 4 anos até encontrar um especialista em DO/DTM e iniciar o correto tratamento
(Simm & Guimarães, 2013). Sabendo disso, pesquisas que avaliam o entendimento dos CD e
estudantes de Odontologia acerca da DO/DTM revelaram um baixo desempenho, tornando
evidente que o ensino dessa área, na graduação, tem sido insuficientemente abordado (Ziegeler
et al., 2019). O nível de conhecimento dos estudantes e profissionais recém-formados é baixo,
sendo necessário que o ensino sobre DO/DTM seja implementado nos currículos odontológicos
das instituições de ensino superior (IES) (Steenks, 2007).
As inovações e os desafios diagnósticos da DO, como resultado dos avanços
tecnológicos e científicos, nas últimas décadas, indicam a necessidade de atualização constante
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nos métodos de ensino, buscando capacitar o futuro CD para o diagnóstico precoce, conduta e
encaminhamento do paciente (Klasser & Gremillion, 2013). Em 2002, a especialidade de
DO/DTM foi criada pelo Conselho Federal de Odontologia (Brasil, 2002), englobando uma
vasta área de atuação desses especialistas. Contudo, as informações na literatura sobre o ensino
da DO/DTM no Brasil ainda são vagas.
Embora alguns dos seus conteúdos possam ser incorporados em outras disciplinas, o
estudo específico da DO/DTM, como uma matéria exclusiva, durante a graduação, é essencial
na garantia de melhor capacitação dos profissionais. Diante disso, a presente pesquisa objetivou
identificar a presença da disciplina de DO/DTM na matriz curricular dos cursos de Odontologia
das Instituições de Ensino Superior do Nordeste brasileiro.
2. Metodologia
A pesquisa se configura como um estudo transversal descritivo quantitativo, utilizandose de metodologia similar à do estudo de Medeiros, Faria, Lopes, Oliveira e Fabri (2020). Na
primeira etapa houve a busca de todas as IES credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC),
dessa região do país, através dos registros do site do Ministério da Educação (e-MEC),
procurando-as por cada estado nordestino. Foram incluídas no estudo todas as faculdades que
possuíssem graduação em Odontologia, sendo excluídas aquelas onde esse curso superior
estava registrado, no sistema do MEC, em Julho de 2020, como não iniciado, interrompido ou
extinto.
Posteriormente, no site de cada IES, buscou-se a matriz curricular do curso de
Odontologia daquela instituição, registrando a carga horária total da graduação, se a mesma é
da categoria administrativa pública ou privada, além de averiguar a presença da disciplina de
DO/DTM, procurando os termos “Dor Orofacial”, “Disfunção Temporomandibular” ou
“DTM” na sua grade curricular. Verificou-se, ainda, a carga horária dessa disciplina e a
natureza da mesma, ou seja, se apenas teórica ou teórico-prática, e em qual período ela é
lecionada. Foram excluídas também aquelas instituições onde não se conseguiu obter a matriz
curricular através do seu endereço eletrônico/site.
Como os dados presentes no e-MEC e nos sites das IES são de domínio público, ou seja,
de livre acesso à população, bem como os nomes dessas instituições não vieram a ser divulgados
na pesquisa, não se fez necessário o envio deste estudo para a avaliação e parecer pelo Comitê
de Ética em Pesquisa (CEP).
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3. Resultados
Dos 156 cursos de Odontologia presentes no Nordeste brasileiro, 55 foram removidos
da pesquisa após aplicação dos critérios de exclusão. Dentre as 101 faculdades restantes, 49
apresentam essa disciplina, sendo o estado da Paraíba o que possui maior proporção de
graduações com disciplina DO/DTM nas suas matrizes curriculares, e o de Sergipe com a
menor, correspondendo, respectivamente, a 64% e 17% do total de IES com Odontologia dos
seus estados (Tabela 1).
Tabela 1 - Distribuição das IES com e sem a disciplina DO/DTM nos estados nordestinos.
Estado
Com
Sem
Total
n
%
n
%
n
%
Bahia
12
48
13
52
25
100
Sergipe
1
17
5
83
6
100
Alagoas
2
40
3
60
5
100
Pernambuco
7
54
6
46
13
100
Paraíba
9
64
5
36
14
100
Rio Grande do Norte
4
57
3
43
7
100
Ceará
8
57
6
43
14
100
Maranhão
3
38
5
62
8
100
Piauí
3
33
6
67
9
100
Total
49
48
52
52
101
100
Fonte: Elaborada pelos autores (2020).
Adicionalmente, a Tabela 1 demostra que apenas 4 estados (Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte e Ceará), dos 9 da região Nordeste, possuem a disciplina de DO/DTM em
mais da metade das suas instituições com graduação em Odontologia, entretanto, não
ultrapassando 64%.
Os cursos de Odontologia incluídos no estudo apresentam carga horária média de 4.232
horas, entretanto, em média, tais disciplinas representam apenas um pouco mais de 1% do total
de horas da estrutura curricular. Além disso, há a eventual possibilidade de essa ser nula, pois
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7 instituições incorporam as mesmas na forma de matéria optativa, ficando ao cargo do aluno
cursá-la ou não durante sua formação acadêmica (Tabela 2).
Tabela 2 - Obrigatoriedade da disciplina DO/DTM nas IES públicas e privadas.
Disciplina DO/DTM
Privada
Pública
Total
n
%
n
%
n
%
Obrigatória
35
83
7
17
42
100
Optativa
5
71
2
29
7
100
Total
40
82
9
18
49
100
Fonte: Elaborada pelos autores (2020).
Segundo a Tabela 2, entre as faculdades onde o conteúdo dor orofacial e disfunção
temporomandibular é lecionado obrigatoriamente, na forma de uma disciplina exclusiva, 83%
são do ensino privado, bem como, observa-se que o conteúdo de DO/DTM é apresentado de
maneira obrigatória em uma proporção um pouco maior nas instituições da categoria
administrativa privada, quando comparadas às instituições públicas.
Das faculdades que informam a natureza da disciplina de DO/DTM, se teórica ou
teórico-prática, 17 possuem tal matéria com alguma carga horária prática. Nas 22 faculdades
que essa é exclusivamente teórica, não se exclui a oportunidade desta prática ser realizada em
disciplinas posteriores como, por exemplo, as Clínicas Integradas (Tabela 3).
Tabela 3 - Natureza da disciplina DO/DTM nas IES públicas e privadas.
Disciplina DO/DTM
Privada
Pública
Total
n
%
n
%
n
%
Teórica*
18
60
4
44
22
56
Teórico-prática*
12
40
5
56
17
44
Total*
30
100
9
100
39
100
* 10 IES não especificaram a natureza da disciplina DO/DTM em suas matrizes curriculares. Fonte:
Elaborada pelos autores (2020).
Além disso, verifica-se, a partir da Tabela 3, que mais da metade das instituições da
categoria administrativa pública apresentam a disciplina dor orofacial e disfunção
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temporomandibular de maneira teórico-prática, em contrapartida, sendo mais comum no
formato teórico entre as instituições do ensino privado.
Algumas faculdades não relatam em que período ocorre o estudo de dor orofacial e
disfunção temporomandibular, principalmente, por ser, nessas instituições de ensino, uma
matéria optativa. Das que especificam, o seu ensino é incluído, mais frequentemente, no quinto
período, embora também seja comum ser lecionada no quarto, sexto e oitavo semestres da
matriz curricular das IES do Nordeste brasileiro.
4. Discussão
Dos componentes curriculares analisados durante a pesquisa foi predominante o número
de IES de Odontologia que não incluíram a disciplina de DO/DTM em sua matriz curricular.
Os achados na literatura contribuem para a afirmação da hipótese de que o estudo específico da
DO/DTM é o meio para garantir a melhor capacitação de profissionais durante a graduação.
Desse modo, esse estudo demonstra a baixa presença da disciplina de DO/DTM nas IES do
Nordeste brasileiro, enquanto estudos anteriores afirmam a importância de sua inclusão na
grade curricular (Aggarwal et al., 2011; Steenks, 2007; Simm & Guimarães, 2013).
No Nordeste brasileiro, além da baixa presença da disciplina DO/DTM, quando
presente, essa representou apenas 1% do total da estrutura curricular das IES. Simm e
Guimarães (2013), estudando faculdades públicas, privadas ou outras, elaboraram e aplicaram
questionários com o intuito de avaliar a porcentagem da carga horária para o ensino da
DO/DTM nessas instituições, e observaram que a quantidade de horas dedicada era mínima e
insuficiente para um correto diagnóstico. Em um estudo símile, Hadlaq, Khan, Mubayrik,
Almuflahi e Mawardi (2019) observaram um baixo desempenho dos profissionais quando
submetidos a perguntas relacionadas à DO/DTM, atribuindo também o baixo índice de acertos
à ausência da disciplina ofertada na grade curricular ou à quantidade de horas insuficientes para
construção do conhecimento adequado. A capacitação profissional durante a graduação permite
ao CD desempenhar um atendimento adequado dentro dos requisitos que norteiam o
atendimento generalista, de forma que a ausência da disciplina de DO/DTM na grade curricular
representa um retrocesso no desenvolvimento da educação odontológica e implica na formação
de profissionais que não estão aptos a conduzir os casos desses pacientes que já representam
uma importante questão de saúde pública.
As faculdades com a disciplina de DO/DTM, frequentemente a desenvolvem durante o
5º período, quando ocorre a transição entre o ciclo básico e as atividades clínicas, mas apenas
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44% das IES desenvolvem atividades práticas. Klasser e Gremillion (2013) corroboram com a
ideia de que o ensino de DO/DTM em grade curricular é importante para que o aluno busque
aprimoramento e maior entendimento científico do assunto, no entanto, Alsafi, Michelotti,
Ohrbach, Nilner e List (2015) afirmaram que para adquirir competências em DO/DTM é
importante que o aluno seja exposto não apenas às atividades teóricas, mas também às clínicas.
Simm e Guimarães (2013) questionaram o preparo do CD no atendimento clínico de pacientes
com DO/DTM, e observaram, em seu estudo, que os profissionais se viam incapazes de
desenvolver competências e habilidades práticas para lidar com pacientes, considerando que
uma abordagem integrada entre as equipes de ensino básico, atrelada a experiências clínicas,
seria importante para ofertar uma base científica adequada e capacitar o aluno de graduação. A
DO/DTM é uma especialidade de ampla complexidade, sendo importante ser abordada não
apenas em disciplinas básicas, mas, sobretudo, de maneira aprofundada, visto que sua aplicação
clínica é de interesse na construção do conhecimento. A complexidade do tratamento da DO
requer o desenvolvimento de diretrizes clínicas que norteiem o atendimento do paciente e que
sejam abordadas durante a graduação. A inclusão da DO/DTM na grade curricular e sua
regulamentação permitem que o processo educacional se mantenha atualizado, para que oriente
o estudante de Odontologia a respeito dos cuidados e habilidades no atendimento de pacientes
com DO/DTM.
Comparações entre o ensino de graduação em Odontologia, em instituições públicas e
privadas, oferecem a oportunidade de harmonização da matriz odontológica brasileira. A maior
parte das IES do Nordeste brasileiro que dispõem desta disciplina são de ensino privado. Um
paralelo pode ser feito ao analisar que até o momento o tema DO/DTM não é considerado um
tópico obrigatório do conteúdo programático da graduação em Odontologia, como observaram
Carrara e Conti (2010) ao acrescentar que a semiologia incompleta subtrai do paciente a
oportunidade de um tratamento adequado e melhora na qualidade de vida, sobretudo, frente à
crescente presença de pacientes com acometimentos psicossociais, associados à sintomatologia
dolorosa, sendo esse um problema social e econômico que sobrecarrega a saúde pública. Hadlaq
et al. (2019) contextualizaram que para o bom gerenciamento clínico deste paciente, é
necessário que o futuro CD possua conhecimento e compreensão suficiente para fornecer
padrões de atendimento inicial ideal ao enfermo. Sendo assim, o atraso da atualização da grade
curricular no ensino público reduz a oportunidade de se trabalhar a conduta inicial de pacientes
com DO nas clínicas integradas das IES que ainda não incluíram DO/DTM em sua matriz
curricular ou que não desenvolvem de forma ampla, teórico-prático, a disciplina.
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Fica evidente a importância da disciplina de DO/DTM no aprimoramento teóricoprático dos alunos de graduação, cooperando para o atendimento precoce adequado aos
pacientes ainda na fase aguda. É fundamental que as instituições ampliem a discussão e
busquem transformações positivas. A atual pesquisa sugere a necessidade de discutir e
organizar a inclusão da disciplina de DO/DTM no ensino superior em Odontologia, além de
oferecer dados para o acompanhamento longitudinal da presença da disciplina de DO/DTM nas
IES do Nordeste brasileiro ao longo dos próximos anos.
5. Conclusão
É notória a baixa presença do ensino de DO/DTM nas IES, o que, consequentemente,
resulta no baixo nível de conhecimento dos CD recém-formados sobre a temática. O papel do
estudante de Odontologia e CD no atendimento primário do paciente com dor orofacial e/ou
disfunção temporomandibular é imprescindível para o melhor desempenho no tratamento,
refletindo, sobretudo, na redução das cronificações da doença, que correspondem um
importante problema social e econômico. Portanto, em razão da sua relevância, é preciso o
planejamento de medidas para que a inclusão desta disciplina seja priorizada na graduação em
Odontologia.
Para pesquisas futuras, utilizando-se da mesma metodologia, a fim da melhoria de
qualidade dos dados obtidos, faz-se necessário que todas as instituições de ensino superior do
país informem claramente, nos respectivos sites, suas grades curriculares, além de refinar as
informações contidas nestas, especificando detalhadamente a carga horária e a natureza de cada
disciplina.
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Porcentagem de contribuição de cada autor no manuscrito
Lucas Nunes de Brito Silva – 14,3%
Elenisa Glaucia Ferreira dos Santos – 14,3%
Eryck Canabarra Ávilla – 14,3%
Lucya Giselle Costa Moreira – 14,3%
Matheus Corrêa da Silva – 14,3%
Ingrid Torres de Almeida – 14,3%
Emanuel Sávio de Souza Andrade – 14,2%
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