3.3
A MATA TRANSATLÂNTICA
Afrodescendentes e transformação socioecológica no litoral da Bahia
Case Watkins*, Robert Voeks†
* Louisiana State University
† California State University
Tradução: A. G. Bustamante
Revisão técnica: D. C. Cabral
E
m seu livro clássico, Warren Dean atribuiu ao conhecimento indígena o
estabelecimento das bases para o comércio transatlântico. Décadas antes da chegada
dos primeiros colonos portugueses à América do Sul, comerciantes europeus já
forneciam machados de ferro aos indígenas que eles encontravam perto da costa, os quais, em
troca, identificavam, cortavam e embarcavam lucrativas toras de pau-brasil em navios com
destino à Europa. Com o início da colonização portuguesa, os colonos lusos começaram a
importar plantas domesticadas, técnicas de cultivo e regimes de trabalho escravo das colônias
das ilhas atlânticas para a construção da economia de plantation açucareira no Brasil.
Converter a Mata Atlântica em plantações de cana-de-açúcar, tabaco e alimentos requeria o
conhecimento de biomas e agroecologias tropicais com os quais os colonos mediterrânicos
não estavam familiarizados; mesmo os primeiros agricultores “treinados” nas ilhas da
Madeira ou de São Tomé enfrentaram condições assustadoramente exóticas no Novo Mundo.
Os primeiros colonos dependiam totalmente dos povos indígenas para suprimento de comida
e medicamentos, bem como para obtenção de informações geográficas e ecológicas
indispensáveis a sua sobrevivência.1
À medida que guerras e doenças limitavam a obtenção de trabalho indígena, os
portugueses voltavam-se cada vez mais para a África e o comércio transatlântico de escravos
para suprimento de mão de obra. No século XVII, a maioria das pessoas que morava e
trabalhava na Bahia era composta de africanos e afrodescendentes que, no papel de
agricultores, trabalhadores agrícolas, produtores e consumidores, tiveram imensa influência
150
na transformação das paisagens da Mata Atlântica. Embora descreva o encontro inicial dos
portugueses com a floresta em termos de apropriação de conhecimento, a monumental obra de
Dean negligencia muitas das contribuições africanas e afrobrasileiras para a mudança
ambiental, no Brasil.2
De fato, Dean retratou os afrodescendentes na Mata Atlântica como “refugiados em
terra alienígena”, ou meros veículos do “saber vagamente rememorado dos indígenas.”3 As
contribuições intelectuais indígenas para a
mudança ambiental foram igualmente
subestimadas pelo autor. Em sua abordagem do conhecimento de “africanos, caboclos e
mesmo muitos dos indígenas”, Dean considerou duvidoso que eles tivessem “retido intactas
as informações que seus ancestrais acumularam,” e reduziu as contribuições coletivas a um
punhado de topônimos e taxonomias duradouras.4 Embora tenha atacado “a destruição da
Mata Atlântica brasileira” como prejudicial e imprudente, sua caracterização da vontade e do
intelecto europeus como hegemônicos e decisivos obscurece a pluralidade dos conhecimentos
e das práticas ambientais que se conjugaram nas transformações das paisagens brasileiras e de
outras partes do Novo Mundo.5 Além disso, a análise de Dean – ainda que detalhada e
temporalmente abrangente – concentra-se nas mudanças ocorridas no sudeste do Brasil,
oferecendo pouco material sobre a Bahia antes do século XX. Em resposta, o presente
capítulo reúne evidências arquivísticas, etnográficas e geoespaciais para documentar e
analisar algumas das contribuições africanas e afrobrasileiras para a transformação ambiental
da Mata Atlântica da Bahia durante o período escravista, aproximadamente entre 1538 e 1888.
Destaca-se, em especial, a importância do conhecimento e das crenças espirituais africanas e
transatlânticas relacionados com botânica e agroecologia no processo de transformação
colonial das paisagens do nordeste brasileiro.
Afrodescendentes e a transformação das paisagens do Novo Mundo
Apesar da esmagadora violência física e psicológica do tráfico transatlântico de escravos, os
cativos conseguiram contribuir profundamente para as transformações coloniais das culturas e
paisagens desde o sul dos Estados Unidos até a Argentina e mesmo além. Estudos recentes
sobre a diáspora africana retrataram os cativos não como vítimas passivas, mas antes como
seres complexos envolvidos, em variados níveis, no processo criativo e nas redes que
transformaram o Novo Mundo. Ao examinar as contribuições cognitivas e corpóreas dos
afrodescendentes no hemisfério ocidental, esses estudos legitimamente recuperam as vozes
151
afrodescendentes nas histórias coloniais e revelam a complexidade e a pluralidade da
formação e da reprodução do mundo atlântico.6
Os estudiosos da escravidão, no Brasil, elaboraram o conceito de resistência, num
cenário de “negociação e conflito”.7 Desvendando insurreições violentas, fugas e formas mais
rotineiras de barganha, o conceito descreve os humanos como atores calculistas e inventivos.
A resistência não foi sempre direta ou violenta; mais frequentemente, manifestou-se de forma
subliminar, astuta e mundana. Qualquer afirmação de que a resistência ocorreu apenas por
meio de violência física reforça tropos machistas de subjugação e conquista, negligenciando
as estratégias cotidianas de subversão e sobrevivência que eram concebidas e empregadas por
mulheres e homens escravizados. A resistência é ubíqua em seu papel de resposta ao poder, e
os cativos constantemente trabalhavam para contrariar o poder expresso no sistema escravista
por meios variavelmente individuais, coletivos, ativos, passivos, violentos, conciliatórios e
perspicazes. Mobilizando uma miríade de formas de resistência – desde barganha e
manipulação rotineiras até revolta aberta –, os afrodescendentes modelaram suas próprias
experiências e contribuíram para o desenvolvimento de novas culturas e paisagens nas
Américas.8
Uma forma proeminente de resistência cotidiana baseou-se na ação cultural-ambiental,
ou socioecológica, dos cativos. Em lavouras de subsistência, hortas caseiras, pastos,
quilombos e mocambos, e até nas monoculturas de exportação, afrodescendentes cativos e
libertos usaram seus conhecimentos etnobotânicos e agrícolas para transformar as paisagens
coloniais. Ao aplicar e adaptar saberes culturais aos processos ecológicos, os humanos
escravizados exploraram estreitos espaços de negociação para satisfazer suas preferências
culinárias, espirituais, medicinais e econômicas. Desse modo, a diáspora africana contribuiu
para o Intercâmbio Colombiano, transformando as paisagens do Novo Mundo com aportes
biológicos, técnicos e intelectuais. Nesse sentido, as exuberantes paisagens da Mata Atlântica
ofereceram um local adequado para as atividades agrícolas e etnobotânicas dos colonos
europeus, dos ameríndios que eles encontraram, e dos milhões de africanos que foram
deslocados à força para o Brasil, a partir da década de 1530.9
Conflito, negociação e transformação socioambiental
Apesar das brutais restrições impostas pelo sistema escravista, os cativos na Bahia, como em
outros lugares, usavam de malícia, sacrifício, força e fugas para ter acesso à terra e a outros
recursos, transformando paisagens e culturas no processo. O Recôncavo Baiano era o coração
152
das paisagens açucareiras, mas, nas primeiras décadas de ocupação colonial, o povoamento
português estendia-se por todas as áreas costeiras do Atlântico sul, onde os colonos
“contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos,” conforme
escreveu o frade franciscano Vicente do Salvador, no começo do século XVII.10 Desde os
primeiros tempos, a costa meridional da Bahia foi uma região conflituosa, onde colonos e
grupos paramilitares portugueses disputavam o controle territorial com formidáveis bandos
ameríndios. Os Aimoré e outros grupos indígenas atacavam implacavelmente os engenhos
portugueses, desde o sul do Recôncavo, em Jaguaripe, estendendo-se pela costa meridional
até Ilhéus, forçando os colonos a abandonar tudo, com exceção de alguns dos primeiros
engenhos instalados na área.11 Já por volta de 1570, Soares de Sousa relatava que os
portugueses “despejaram a terra firme com medo dos Aymorés, que lhes destruíram as
fazendas e mataram muitos escravos,” abrigando-se nas aldeias jesuíticas de Cairu e Boipeba,
no arquipélago de Tinharé.12 Os portugueses conseguiam controlar apenas tenuamente a costa
meridional, já que os ataques indígenas se prolongaram até o século XVIII, incluindo uma
devastadora invasão da ilha de Cairu, em 1719, que levou a Coroa a formalmente declarar
guerra. A resistência Aimoré efetivamente limitou o povoamento e a mobilidade dos
portugueses, na capitania de Ilhéus, a uma estreita faixa costeira por nada menos de duzentos
anos, entre meados do século XVI e meados do século XVIII. Essa resistência modelou o
equilíbrio de poder, na Bahia dos primeiros tempos, ajudando a concentrar a agricultura de
exportação no Recôncavo e deixando a costa meridional escassamente povoada para os
incipientes e intermitentes esforços de produção de mandioca em fazendas menores. Assim
sendo, a resistência indígena provavelmente limitou o desflorestamento nos séculos iniciais
do colonialismo português.13
Estudiosos do tráfico transatlântico de escravos estimam que pouco mais de 5.600
cativos africanos desembarcaram, na Bahia, durante o último quartel do século XVI, mas esse
número aumentou oito vezes, chegando a mais de 46.200 no primeiro quartel do século
XVII.14 Uma vez no Brasil, muitos daqueles africanos acorrentados e seus descendentes
resistiram ao cativeiro, fugindo para as matas ao redor dos povoados e fazendas. Conforme
argumenta o historiador João José Reis, “colinas, matas, lagoas e rios aí localizados serviam
de suporte ecológico ao desenvolvimento de uma coletividade africana relativamente
autônoma e semiclandestina.”15 Comunidades de fugitivos conhecidas como mocambos, e
posteriormente quilombos, brotaram por toda parte na Bahia, onde os refugiados praticavam
ataques parecidos com os dos indígenas, causando significativas perdas econômicas para
senhores de engenho e autoridades portuguesas.16
153
No Brasil, os primeiros relatos sobre comunidades quilombolas vêm da Bahia, em
1575, poucas décadas após o início do tráfico transatlântico de escravos.17 A costa baiana ao
sul do Recôncavo abrigou mais quilombos e ataques quilombolas do que qualquer outra
região. Uma análise feita por Schwartz demonstra que, embora o Recôncavo tivesse muito
mais escravos, as vilas de Cairu, Camamu e Ilhéus, no litoral meridional, total e
proporcionalmente,
tiveram
incidências
consistentemente
maiores
de
formação
e
sobrevivência de quilombos (Mapa 1).18 Por todo o período escravista, esses povoados
clandestinos e os ataques que eles empreendiam constituíram uma ameaça à autoridade
portuguesa e, posteriormente, brasileira, e contribuíram para uma “tradição rebelde” que
permanece viva na paisagem e na vida regionais, na forma dos padrões contemporâneos de
assentamento quilombola.19
Mapa 1 –
Comunidades
quilombolas
registradas, no Estado
da Bahia (2012), e o
bioma Mata Atlântica.
Fonte: Locações das
comunidades
quilombolas da
UFBA, Projeto
GeografAR,
http://www.geografar.
ufba.br (acesso em
nov. 2013) e pesquisas
de campo (20092015).
154
Os registros documentais são repletos de referências a ataques feitos pelos
quilombolas, e uma leitura cuidadosa indica os efeitos consideráveis e cumulativos dessas
incursões nas florestas costeiras e nas paisagens circundantes. No fim do século XVII, os
fugitivos saquearam várias fazendas em Camamu, espalhando medo pela região, e, em
resposta, a Coroa Portuguesa criou uma milícia especial para combater as comunidades de
escravos fugitivos em Ilhéus em 1696.20 Esses esforços iniciais fracassaram na repressão das
revoltas. Acredita-se que, em 1723, um quilombo em Cairu abrigava mais de quatrocentos
moradores21 e, décadas mais tarde, as milícias continuaram a combater grandes e complexas
comunidades quilombolas na região, como a de Oitizeiro, em Barra do Rio de Contas, bem ao
sul de Maraú, dispersado em 1804. Nessa comunidade incomum, perto de três dúzias de
fugitivos viviam ao lado de grupos menores de neobrasileiros de origem europeia e indígena.
Muitos desses habitantes, inclusive alguns quilombolas, mantinham afrodescendentes
escravizados para trabalhar nas roças de mandioca e vendiam a farinha produzida em
mercados locais e até para algumas fazendas das proximidades, de onde eles tinham fugido.22
Portanto, além das consequências de incursões, os quilombos e seus habitantes também
influenciaram as paisagens ao derrubar florestas para suas próprias comunidades e plantios,
transformando a Mata Atlântica em sua resistência ao domínio colonial.
A despeito dos compromissos oficiais para reprimir os quilombos, os fugitivos
continuavam a se unir em bandos e a atacar as forças coloniais e seus assentamentos. Em
1825, uma carta da câmara municipal de Camamu apelou ao governo da província para dar
apoio a suas forças de defesa depois que as incessantes incursões de escravos fugitivos
deixaram vários mortos, inclusive o capitão da milícia.23 Uma carta de Santarém datada do
mesmo ano relata incursões similares por uma “grande multidão dos escravos fugidos,”
resultando em “todos os lavradores refugiados nos lugares mais povoados.”24 Dois anos mais
tarde, outra carta de Camamu relatou que um “grande quilombo” estava atraindo escravos
fugitivos das “Vilas do norte e do Recôncavo” para as florestas em torno de Camamu,
incitando ataques sanguinários a fazendeiros, roubando provisões e destruindo roças de
mandioca.25 No mesmo ano, as autoridades provinciais de Salvador ordenaram que as
autoridades de Ilhéus produzissem registros diários de escravos fugitivos apreendidos em seu
território, de modo que seus donos legítimos no Recôncavo pudessem recuperá-los.26 Numa
série de cartas datadas de 1835, um juiz de paz de Camamu reportou que estava em
andamento uma “rebelião de africanos na cidade” e que “muitos [produtores] agrícolas tem
abandonado as suas lavouras, procurando o recinto do povoado para assim escaparem às
155
fúrias deste malvado bando.” Ele pediu ao governador policiais, soldados, armas, munições e
canhões para debelar a “insurreição qual a dos Africanos”.27
Juntos, esses relatos sugerem que a ameaça de violência era palpável no litoral sul da
Bahia e que, em alguns casos, ela efetivamente despovoou a zona rural, forçando os
fazendeiros a buscar refúgio nos povoados. Escravos fugitivos e outros excluídos se
deslocavam sem grande esforço entre o Recôncavo e o litoral sul, desafiando as autoridades
portuguesas e afetando a organização espacial do povoamento, no sul da Bahia, ao longo do
período colonial. Desse ponto de vista, a violenta resistência parece ter influenciado
profundamente as continuidades e mudanças da paisagem, na Mata Atlântica baiana.
Quilombolas e ameríndios revoltosos, afrodescendentes, entre outros, forçaram pequenos
agricultores a abandonar suas terras e mover-se para locais protegidos, em torno dos
povoados. Desse modo, uma resistência violenta limitou o desenvolvimento e o
desmatamento de muitas áreas do bioma.
Os quilombos também se formaram no Recôncavo e em torno de Salvador, mas a
importância da economia de exportação para as autoridades coloniais orientou a priorização
dos recursos para frustrar fugas e reprimir revoltas. Embora conflitos sangrentos tenham de
fato ocorrido em torno de Salvador e no Recôncavo, os trabalhadores escravizados da região,
mais freqüentemente, confiavam em formas mais sutis, mas ainda assim eficazes, de
resistência para melhorar sua situação – aquilo que Reis e Silva designaram “negociação.”28
Essa cooperação era quase sempre centrada em necessidades básicas, como alimento e abrigo.
Os proprietários rurais e trabalhadores escravizados negociavam sistemas de cotas e acordos
específicos, frequentemente de acordo com o calendário religioso (domingos e dias santos),
concedendo tempo aos trabalhadores e muitas vezes terra para cuidar de seu próprio
sustento.29 Essas concessões ocorriam já nos primeiros tempos da colônia. Em visita à Bahia
em 1610, o navegador francês Pyrard de Laval considerou “um grande prazer em dias santos e
domingos ver todos os escravos, homens e mulheres, reunidos, dançando e se divertindo em
locais públicos e nas ruas, pois nesses dias eles não estão submetidos aos seus senhores.”30
Soares de Sousa, proprietário de um engenho perto de Jaguaripe, fez referência a plantações
pertencentes a africanos escravizados, no final do século XVI.31 Essas hortas caseiras e
lavouras de subsistência eram espaços de resistência onde os trabalhadores escravizados
cultivavam alimentos para sua melhor nutrição e às vezes para vender. Quando o pintor e
viajante alemão Johann Moritz Rugendas chegou à Bahia, na década de 1820, essa prática
estava firmemente enraizada em todo o Brasil, beneficiando tanto os trabalhadores
escravizados quanto os proprietários das fazendas.
156
Em cada fazenda existe um pedaço de terra que lhes é entregue, cuja
extensão varia de acordo com o número de escravos, cada um dos
quais cultiva como quer ou pode. Dessa maneira, não somente o
escravo consegue, com o produto do seu trabalho, uma alimentação
sadia e suficiente, mas ainda, muitas vezes, chega a vendê-lo
vantajosamente.32
Essas concessões de uso da terra asseguravam um grau de autonomia culinária e às
vezes aumentava a segurança alimentar dos escravos, ao mesmo tempo que ampliava os
lucros dos produtores pela redução das despesas com alimentos. Além disso, essas lavouras
serviam para introduzir e adaptar uma variedade de espécies que não agradavam muitos
europeus ou eram por eles desconhecidas, diversificando as paisagens agrícolas que estavam
transformando a Mata Atlântica.33
Hortas provisórias não eram, porém, a única fonte adicional de sustento dos escravos,
na Bahia colonial. Eles também usavam o seu tempo livre para caçar, pescar e coletar
nutrientes e proteínas vitais que muitas vezes faltavam em suas dietas. As plantações de canade-açúcar e fazendas de mandioca perto da costa aproveitavam os trabalhadores escravizados
que conheciam as técnicas de coleta de mariscos e outros frutos do mar e do manguezal,
inclusive caranguejos, ostras, camarões e lagostins.34 Os manguezais baianos eram repletos de
proteína. Passando pela Bahia, em 1880, um navegador inglês se declarou surpreso com “os
galhos dos mangues carregados de ostras penduradas como frutas.”35 Um plantador de
algodão de Camamu afirmou que os agricultores de mandioca perto da costa, cujas lavouras
eram frequentemente destruídas pelos implacáveis ataques de formigas, mal podiam
sobreviver sem acesso às riquezas do manguezal. “Os povos, não tendo uma certa
sustentação, não se animam a apartarem-se dos mangues, para lhes não faltar o sustento do
caranguejo.”36
Esse rico socioecossistema era familiar para muitos africanos do Novo Mundo,
especialmente aqueles ligados à costa africana, onde o mangue sustentara coletores e
agricultores por milênios.37 Para as comunidades afrodescendentes em todo a região
neotropical, o mangue serviu (e ainda serve) como refúgio e recurso.38 Na Bahia, como na
África ocidental, o mangue abrigava o dendezeiro (Elaeis guineensis), dentre os seus muitos
recursos. Trazido da África ocidental no início do período colonial, o dendezeiro rapidamente
se propagou nas zonas de entremarés logo acima dos mangues da Mata Atlântica baiana. Para
os trabalhadores livres, cativos, libertos e fugitivos que tinham a sorte de viver perto da costa,
o manguezal provia uma tábua de salvação vital. Os mangues forneciam os frutos do mar,
fonte primorosa de proteínas, e o óleo dos dendezeiros, muito apreciado, rico em calorias e
157
nutrientes, e que ligava os afrodescendentes desterrados à sua ancestral terra natal por meio de
tradições culinárias e culturais.39
De mais a mais, a legislação colonial portuguesa facilitou o acesso ao litoral. Com
solos salinos de pouca utilidade para agricultura, as áreas de maré foram reservadas como
propriedade pública por decretos reais. O mangue se tornou, na prática, uma área comunitária
para pesca, caça, coleta de crustáceos e outras atividades de subsistência e comerciais,
garantindo um acesso nada comum, no contexto colonial, a agricultores e trabalhadores
pobres livres, libertos ou escravizados. Surgiram conflitos, entretanto, pois a casca do
mangue-vermelho (Rhizophora mangle) era fonte do valioso tanino, usado na produção de
couro. Coletores de tanino raspavam a casca avermelhada das plantas, degradando habitats de
peixes e crustáceos de extrema importância local. Em resposta, no início do século XVIII, as
autoridades coloniais intervieram com proibições oficiais à extração de mangue, nos
povoados da costa meridional e em torno deles, priorizando o valor de subsistência coletiva
do ecossistema em relação a seu potencial comercial. Assim, a manutenção do manguezal
como fonte de sustento salvou grande parte das florestas costeiras da destruição.40
Embora muitos afrobrasileiros utilizassem regularmente o manguezal como área de
uso comum para buscar alimento, caçar e cultivar lavouras para subsistência e para venda,
outros procuravam-no para se refugiar. As comunidades quilombolas, no bioma Mata
Atlântica, se concentravam ao longo do litoral baiano, tanto no Recôncavo como mais ao sul,
onde o manguezal protegia afrobrasileiros fugitivos e livres.41 Séculos depois, ainda existem
no Brasil milhares de comunidades descendentes desses quilombos. As localizações e
contextos socioecológicos contemporâneos exemplificam relações duradouras entre geografia,
agricultura e resistência, na Mata Atlântica baiana (Mapa 1).42 As localizações dessas
comunidades revelam uma estratégia de subsistência voltada para ecótonos (áreas de transição
entre dois ou mais biomas), equilibrando o acesso ao mar e ao manguezal com a propriedade
comunitária das terras
florestadas dos tabuleiros, adequadas para policulturas de
subsistência.43
A construção de uma paisagem afrobrasileira
Na Bahia, a economia açucareira luso-brasileira se concentrava a oeste da capital, nas terras
férteis que circundavam a baía de Todos os Santos – o chamado Recôncavo. No século XVII,
uma geografia agrícola particular tinha se desenhado. Os barões do açúcar e seus engenhos se
instalaram ao longo da margem setentrional da baía, onde abundava o massapé, rico solo
158
argiloso. No Recôncavo ocidental, avançando pelo interior a partir da cidade de Cachoeira,
predominavam as fazendas de tabaco. Ao sul de Nazaré das Farinhas e Jaguaripe, em solos
mais arenosos e menos adequados para as principais culturas de exportação, roças de
mandioca se estendiam por centenas de quilômetros através da capitania – posteriormente
comarca – de Ilhéus. A farinha de mandioca era um produto básico indispensável que
alimentou os trabalhadores agrícolas livres e cativos da Bahia e da crescente área urbana da
capital, respondendo por mais de 87% do produto armazenado pelo celeiro público, de 1785 a
1849; desse modo, a sua produção era de grande importância estratégica e econômica para as
autoridades coloniais. A partir de 1639, sucessivos decretos régios obrigaram os agricultores
da costa meridional a plantar mandioca em lugar de cana-de-açúcar e tabaco. A Mata
Atlântica do sul da Bahia se tornou o celeiro da colônia, o que lhe rendeu o apelido de “a
Sicília da Bahia.”44
Em resposta ao ressurgimento da produção de açúcar e a um crescente mercado
interno de gêneros alimentícios, houve um grande aumento da população e das roças de
mandioca, na costa meridional, a partir da década de 1780. Essa expansão invadiu as florestas
reservadas pela Coroa para extração de madeira naval, abrindo a Mata Atlântica a um rush da
pequena policultura mista centrada na mandioca. Apesar da prevalência de agricultores pobres
e pequenos proprietários, nessa região, trabalhadores escravos constituíam mais de metade de
sua população total.45 De acordo com a análise minuciosa de Bert Barickman, as fazendas de
mandioca típicas, no litoral da Bahia, empregavam entre dois e oito trabalhadores
escravizados. Dos roceiros listados num levantamento de 1781, em Jaguaripe, 78%
declararam possuir escravos.46 Um censo de 1786, em Cairu, listou 188 fazendas de
mandioca, das quais 169 empregavam 635 cativos, uma média de 4,3 por fazenda.47 Contudo,
a presença afrobrasileira na região não se limitava aos escravos. Na Bahia, taxas de
manumissão relativamente altas haviam produzido um campesinato afrobrasileiro já no século
XVIII, grande parte do qual plantava mandioca na área costeira – alguns, inclusive, donos de
escravos.48 Assim, afrodescendentes – tanto escravos quanto livres – eram a população
predominante, na Mata Atlântica do litoral sul baiano.
Em toda a Bahia, os modos de produção agrícola refletiam uma hierarquia racial.
Agricultores de origem europeia tipicamente produziam para mercados de exportação (i.e.
açúcar, tabaco, café, algodão e cacau), embora alguns produzissem mandioca para mercados
regionais e urbanos. Com menos oportunidades nos mercados de exportação, trabalhadores de
origem africana, livres e libertos, dedicavam-se principalmente à produção de subsistência,
cultivando mandioca e outros gêneros alimentícios para consumo próprio e para venda de
159
excedentes, no mercado interno. No fim do século XVIII, se não antes, afrodescendentes
escravizados, libertos e livres predominavam entre os produtores de mandioca, no litoral sul
da Bahia.49
Embora a mandioca seja nativa da América do Sul, seu cultivo é extremamente
semelhante ao inhame, alimento básico na África ocidental, e as primeiras trocas oceânicas
tornaram ambos os tubérculos conhecidos em toda a bacia do Atlântico. Negociantes
portugueses introduziram o tubérculo americano, na África ocidental, no século XVI, e a
partir de então a mandioca se disseminou por todo o continente. O agricultor português Soares
de Sousa documentou a introdução dos inhames africanos, na Bahia, na década de 1570. Essas
primeiras trocas transatlânticas dispuseram as resistentes raízes cultivadas em sistemas
agroecológicos e paisagens semelhantes, em ambos os lados do Atlântico Sul, no início da era
moderna. No entanto, mesmo sem o conhecimento direto da mandioca, seus regimes de
cultivo teriam soado familiares para os habitantes da África central e ocidental, acostumados a
trabalhar com outras culturas de raízes, especialmente o inhame.50
Na Bahia, a tradicional agricultura de mandioca seguiu um regime de corte-e-queima
mais ou menos análogo ao cultivo do inhame, na África ocidental.51 Familiarizados somente
com o alimento africano, os primeiros portugueses que chegaram ao Brasil, ao avistarem os
povos indígenas cultivando mandioca, pensaram tratar-se de inhame. 52 O inhame e a
mandioca são ambos tubérculos tradicionalmente cultivados em florestas tropicais e se
desenvolvem melhor em sistemas com pousio relativamente longo, de cinco a quinze anos.
Fazendas baseadas na produção de mandioca tipicamente cultivavam também outros
alimentos e plantas medicinais, para uso próprio e para vender, entre as quais diversos grãos,
frutas e legumes – inclusive arroz, feijão, milho, abóboras e frutas cítricas – e até pequenas
quantidades de produtos de exportação, como cacau e café, enriquecendo a dieta e o mercado
em toda a Bahia e mesmo além. Espalhado por todo o litoral, o dendezeiro também se tornou
um acréscimo útil em muitas das fazendas policultoras da região. Os dendezeiros não exigiam
quase nenhum trabalho e ofereciam um óleo livre de riscos e rico em vitaminas para os
agricultores interessados em diversificar a produção.53
O cultivo itinerante de tubérculos propagou os dendezeiros, na Bahia, do mesmo modo
que na África ocidental e central. Quando se derrubavam trechos da Mata Atlântica para
plantar mandioca, os dendezeiros eram poupados; quando o terreno era deixado em pousio, o
dossel aberto favorecia o crescimento das palmeiras poupadas.54 A herança dessa história
agroecológica continua impregnada nas culturas e paisagens do litoral da Bahia. A etnografia
e a história oral da região ajudam a elucidar as transformações em andamento, na Mata
160
Atlântica baiana. Um representante da terceira geração de agricultores de mandioca e produtor
de óleo de palma, em Taperoá, explicou:
Antigamente [o dendê] não era plantado. Era os bichos que comiam
naqueles lugares que ainda tem muitos lugares que ainda tem muitos
pés de dendê. [...]. Botava roça de mandioca, roça para plantar
mandioca. Roça, ela que bota fogo, pronto, é a vida de sair o fogo. E a
outra lavoura não gosta de fogo..., mas isso aí [mandioca] é a vida de
fogo. Então eles não ensinavam, não dava dica nenhum de ensinar
como era que plantava, não porque a gente encontrava pronto, pelo
urubu. Como muitos falam, porque o urubu planta, justamente. Todo
bicho planta, que o rato gosta do dendê, porque todo bicho gosta do
dendê. E o dendê e o mandioca. […] E depois, está contaminado de
dendê!55
Diante de um campo recentemente limpo, outro agricultor apresentou uma explicação
semelhante.
Viu, aqui. Essa área de roça mesma aqui. Aqui pode em qualquer
momento nascer um pé de dendê. Pode a qualquer momento em algum
lugar que nasce um pé dendê. Pode ser que o urubu, pode ser o bicho
do mato, vem coloco um coco aí, nasce um pé de dendê. Não precisa
plantar nem adubar nada disso, ele fica aí e nasce e cresce, coloca a
cacho bonito, sem precisar muito cultivo. Porque a terra aqui é
propícia. O clima é propício bastante para dendê mesmo.56
Essas considerações do agricultor situam a expansão do dendezeiro dentro de um
sistema socioecológico de roça de mandioca, dentro da Mata Atlântica. Embora sejam rápidos
em destacar as influências da flora e da fauna, as declarações dos agricultores enfatizam a
agência humana envolvido na abertura de clareiras na floresta, deixando os dendezeiros em
pé. Em última instância, vários atores se interconectam para difundir os dendezeiros. Essa
resiliente palmeira suporta não apenas as áreas salinas de maré, ao lado das matas de mangue,
mas também o fogo que os humanos utilizam para abrir clareiras na floresta. O calor das
chamas pode fazer germinar sementes adormecidas de dendezeiros transportadas pela
gravidade, pela água, por urubus ou outras forças e animais; uma vez estabelecidas, as
palmeiras são extraordinariamente resistentes ao fogo, mesmo em comparação com outras
espécies da floresta tropical úmida.57 Um agricultor de mandioca e dendezeiro explicou como
a limpeza do terreno para roças de mandioca contribui para ativar as sementes de dendê que
os urubus espalham pela floresta:
Desde pequeninho que eu conheço isso aqui, até os urubús plantam
isso aqui. Porque ele, o passarinho, que ele leva isso aqui, pega no
bico e leva, chega dentro da mata, escapole de dentro do bico, e cai,
ali nasce. Outro pega outro, chega dentro da mata, cai, só vai fazendo
roça. Quando você compra uma mata, que roça todo, que queima.
Quando depois que faz aquela roça que tira madeira, queima tudo,
161
vem meio mundo de pé de dendê. Mas não sabe quem plantou,
pessoas nenhumas, foi o passarinho que plantou.58
Nesses processos socioecológicos, os agricultores de mandioca construíram redes de
cooperação com outros animais, plantas, ferramentas, fogo, além de condições e processos
ambientais do litoral da Bahia, atraindo os dendezeiros do manguezal para as fazendas em
terrenos mais altos, contribuindo para a formação de arvoredos densos, semi-selvagens ou
subespontâneos, nas florestas de tabuleiro da Mata Atlântica. Desse modo, os agricultores
fundiram os saberes culturais e ambientais africanos e brasileiros para ajudar a criar um marco
agroecológico afrobrasileiro que transformou paisagens e culturas do Novo Mundo. Baseado
em dendezeiros e tubérculos, esses sistemas agroecológicos alinharam o leste da América do
Sul e o oeste da África, contribuindo para uma homogeneização das paisagens atlânticas. No
século XVII, dendezeiros vicejavam na Bahia e, no oeste da África, plantava-se mandioca. E,
de ambos os lados do Atlântico tropical, agroflorestas de palmeiras perenes se desenvolveram
por cima de tubérculos herbáceos e outros produtos agrícolas. Rico em gorduras e
carotenoides, o azeite de dendê complementa os tubérculos ricos em carboidratos; assim, as
agroecologias mandioca-dendezeiro, na Bahia, forneceram um equilíbrio nutricional
semelhante ao complexo inhame-dendezeiro da África ocidental. O Atlântico Sul então
representava uma rede cultural-ambiental interconectada, hibridizada mediante circulações
caóticas de biota, conhecimento e tecnologia provenientes de três continentes. O
conhecimento ambiental e as práticas agrícolas dos afrobrasileiros transformaram vastas áreas
de florestas da Bahia em uma verdadeira mata transatlântica.59
Uma sinergia de geografia costeira e padrões agroecológicos criou condições para o
desenvolvimento do dendezeiro, na Bahia, e a subsequente paisagem afrobrasileira emergiu
de um amálgama de agências indígenas, européias e africanas, além das não humanas. Os
europeus tornaram obrigatório o cultivo de mandioca, ao longo do litoral sul; seus principais
produtores, contudo, eram os povos de origem africana. E, embora a Manihot esculenta –
juntamente com seu sistema de alqueive e suas técnicas de processamento – seja nativa do
nordeste da América do Sul, as relações tubérculo-dendezeiro provém de roças da África.
Além disso, a semelhança da mandioca com os inhames africanos e sua introdução na África,
no século XVI, significava que a maioria dos afrodescendentes, no Brasil, compartilhava um
grau de familiaridade com a planta e suas técnicas de cultivo. Os dendezeiros se espalharam
por toda a Mata Atlântica baiana por meio de processos socioecológicos favorecidos por uma
série de condições e influências ambientais, da flora e da fauna. O conhecimento e a
162
resistência afrobrasileiros, porém, mostraram-se decisivos no estabelecimento e na
manutenção das paisagens afrobrasileiras e plantações de dendê.
Espíritos africanos na Mata Transatlântica
Assim como foram profundamente influenciadas pelo conhecimento agroecológico e pela
resistência de africanos escravizados ou livres, as paisagens da Mata Atlântica foram também
alteradas e redefinidas pela introdução de tradições espirituais africanas. Uma das mais
importantes era o Candomblé, um conjunto de crenças e práticas trazido por africanos
escravizados. Negociado e misturado, ao longo do tempo, com o catolicismo e outras
tradições africanas, os primeiros terreiros (templos ou lugares espirituais) de Candomblé
existiam, claramente, no início do século XIX, e alguns estudos rastreiam sua genealogia até
meados do século XVIII. 60 Os seus seguidores reconhecem a existência de um deus supremo,
Olórum, mas são os panteões de orixás, voduns, inkises e caboclos – embaixadores espirituais
do Candomblé – que estão diretamente ligados à saúde e ao bem-estar dos mortais. Mais de
uma dúzia dessas entidades espirituais encontra devotos, nos terreiros de Candomblé, e cada
uma, em troca, é associada a um domínio diferente do mundo natural – água, atmosfera,
plantas, animais e terra. É desses reservatórios primordiais que cada divindade coleta e
transmite axé, ou energia vital, para seus devotos.61
Embora separada da África ocidental por milhares de quilômetros de florestas e
savanas, a Mata Atlântica apresentava inúmeras características geográficas quase idênticas às
da terra natal dos escravos africanos – rios turbulentos, florestas antigas, pântanos de água
estagnada, entre outros –, muitas das quais vieram a ser percebidas como espaços sagrados
para os primeiros praticantes do Candomblé. A divindade africana Yemanjá tornou-se a
guardiã materna do oceano Atlântico, bem como a santa padroeira dos pescadores. A
divindade idosa Nanã tornou-se a "dona" da lagoa de água salgada. Oxóssi, o deus quixotesco
da caça e da floresta, ficou associado às florestas primárias da Mata Atlântica. E o calmo e
narcisista Oxum presidia córregos e rios de água doce da Bahia; banhar-se nas águas sagradas
de Oxum, ou passear pelos arvoredos de Oxossi, é colher as propriedades doadoras de saúde e
prosperidade desses espaços naturais africanizados. Na cidade de Salvador, por exemplo, as
águas sagradas do Dique do Tororó continuam a testemunhar cerimônias e oferendas rituais
dedicadas a divindades afrobrasileiras.62
Espécies agrícolas e a farmacopeia vegetal são fundamentais para as práticas culturais
dos africanos ocidentais. Mas, ao contrário de seus captores portugueses – que ansiosamente
163
(mas muitas vezes sem sucesso) introduziram seus alimentos mediterrânicos e plantas
medicinais durante os primeiros anos da colonização63 – os africanos escravizados foram
severamente constrangidos em sua capacidade de transportar e reunir suas etnofloras nativas,
nas Américas. Poucas espécies eram nativas tanto do Velho quanto do Novo Mundo, e o
Atlântico representava uma formidável barreira geográfica para o transporte e a aclimatação
de plantas por trabalhadores cativos. No entanto, por vários meios, africanos livres e
escravizados transformaram drasticamente a composição biótica e o significado espiritual da
Mata Atlântica. Algumas plantas podem ter sido contrabandeadas pelos africanos na época do
comércio de escravos, como comprovam relatos de história oral e registros dos primeiros
observadores.64 Anciãos da comunidade do Candomblé relatam que curandeiros africanos
atravessaram a chamada “Passagem do Meio” com as sementes de espécies medicinais e
mágicas escondidas em pequenas sacolas de couro, e que alguns desses diásporos se tornaram
a base para a difusão de plantas africanas, nas Américas.65 Embora a evidência para essa
transferência botânica direta seja principalmente anedótica, o médico holandês Guilherme
Piso, no Maranhão, comentou a introdução de "ervas úteis" trazidas pelos africanos –
gergelim, berinjela, e "quigombo" (quiabo) –, e que "os africanos ensinaram os indígenas
americanos como usá-los e prepará-los."66
Entre essas plantas introduzidas intencionalmente, destaca-se o quiabo, nome banto
pelo qual é hoje conhecido em todo o Brasil. Alimento sagrado para os orixás Xangô, Iansã e
Ibeji, o quiabo é servido em quase todas as cerimônias de terreiro em forma de caruru, um
guisado preparado com dendê e camarão. O caruru é particularmente associado à celebração
de Ibeji, os gêmeos míticos ioruba, e em muitas cidades é distribuído como uma obrigação
religiosa no dia 5 de dezembro. Entretanto, embora os ingredientes do caruru sejam
principalmente de origem africana, e sua preparação esteja associada com práticas culturais
africanas, a origem do caruru exemplifica a natureza fluida e transformadora das tradições
etnobotânicas transatlânticas. O caruru era originalmente um ensopado usado pelos indígenas
da América do Sul, feito com amaranto (Amaranthus sp.) cultivado, um grão nativo do Novo
Mundo, e era muito apreciado pelos portugueses, na época colonial. Ao longo dos anos,
vários desses amarantos comestíveis, bem como a tradição de prepará-los como caruru, foram
introduzidos pelos portugueses, na África ocidental. Com o tempo, os componentes sulamericanos dessa receita introduzida foram substituídos por quiabo africano e azeite-dedendê. Por fim, tendo sido adotado na cultura africana ocidental, esse caruru africanizado foi
reintroduzido no Brasil por escravos e seus descendentes, que continuam a preparar o que se
tornou um prato sagrado.67
164
Embora a documentação seja insuficiente, os portugueses devem ter sido agentes
importantes na introdução de plantas ornamentais africanas, no Brasil. Muitas delas tinham
significado espiritual, na África ocidental, e foram resgatadas por negros escravizados e livres
da Bahia. Entre essas se incluem a dracena (Dracaena fragrans), frondosa planta ornamental
africana que, na Bahia, manteve o nome iorubá: peregun. A dracena está atualmente dispersa
amplamente pelo Brasil, mas encontra seu significado espiritual em cerimônias do
Candomblé, nas quais é empregada para afastar espíritos ancestrais indesejados. Da mesma
forma, a espada-de-oxóssi e a espada-de-ogum são duas variedades da planta Sansevieria
aethiopica, nativa da África. Embora hoje essas plantas ornamentais sejam amplamente
cultivadas por brasileiros, sem conotação religiosa, os seus nomes evocam os arquétipos
belicosos de suas entidades espirituais e continuam a simbolizar a resistência cultural para a
comunidade do Candomblé.68
Embora o registro histórico fragmentado e eurocêntrico obscureçam as transferências
de muitas espécies africanas para o Brasil, as introduções botânicas constituíam apenas o
início de transformações ambientais significativas e duradouras, no Novo Mundo. Por
exemplo, a introdução do dendezeiro, agora onipresente ao longo de grande parte do litoral
baiano, continua apenas parcialmente compreendida. Alguns estudiosos, a começar pelos
naturalistas oitocentistas Spix e Martius, creditam aos próprios africanos a transferência da
palmeira para a Bahia, mas outros já supõem que foram os traficantes de escravos que
primeiro plantaram a palmeira na região.69 De qualquer modo, o conhecimento e as
preferências dos afrodescendentes ajudaram a palmeira a se enraizar nas culturas e ambientes
da Bahia. Seu azeite dourado liga as florestas secundárias da Mata Atlântica baiana às
expressões culinárias e espirituais, em Salvador e outras cidades, em todo o Brasil. Servindo
de base para moquecas e como óleo de fritar o icônico acarajé oferecido para Iansã, Xangô e
outras impetuosas divindades africanas, o azeite de dendê se tornou a seiva que alimentou a
cultura afrobrasileira.70
À introdução intencional das espécies alimentícias e ornamentais africanas, seja por
europeus ou africanos, adicionava-se a chegada inadvertida de ervas daninhas, ampliando
consideravelmente os aportes biológicos provenientes do Velho Mundo. A maioria entrou no
Brasil acidentalmente, nas centenas de navios trazendo escravos, açúcar e tabaco, e a maior
parte não foi percebida pelos observadores coloniais. Muitas eram conhecidas e utilizadas, na
África ocidental e, depois de descobertas, já como parte da vegetação baiana, foram
incorporadas à emergente etnoflora afrodescendente. Dentre essas espécies se encontrava a
Bryophyllum pinnata, planta perene que é tanto uma erva daninha quanto uma valiosa planta
165
medicinal e mágica. Nativa da África austral, ela se reproduz por viviparidade – i.e. pela
brotação de raízes e pequenos botões nos recortes serrilhados, nas margens das folhas – o que
inspirou seu nome em inglês: “everlife” ou “neverdie.” Na África ocidental, no Brasil e em
outros lugares, as suas folhas carnudas e suculentas são empregadas para aliviar dores de
cabeça ao serem pressionadas diretamente na testa. Na Bahia, entre adeptos do Candomblé, a
espécie é conhecida como folha-da-costa, sugerindo a origem na costa da África, e também
por seu nome ioruba, ‘ewe dudu.’71 Outra espécie africana daninha reconhecida rapidamente
foi a mamona (Ricinus communis), mencionada por Guilherme Piso, em 1648, como Ricino
Americano. Entre os afrodescendentes escravizados, nas Américas, a mamona ganhou um
significado cultural especial: utilizada pelos comerciantes de escravos para combater piolhos e
doenças de pele, em suas “peças”, ela se tornou simbolicamente impregnada pelo seu status
de instrumento de subjugação. No entanto, considerando o legado histórico do uso da espécie,
na África, a mamona foi adotada por muitos africanos do Novo Mundo como um marcador
cultural de sua terra natal. O arbusto é hoje conhecido pelos africanos ocidentais e seus
descendentes por seu nome iorubá, ewe lara, ou por seu nome banto, mamona. Entre os
seguidores do Candomblé, essa espécie é associada com Omolu, a divindade iorubá da varíola
e da doença infecciosa, talvez devido às cápsulas explosivas e ao temperamento
reconhecidamente explosivo da divindade.72
Nos casos em que a introdução de espécies – intencional ou acidental – não era
possível, substituíam-se as espécies africanas por similares baianas. Com sua biodiversidade,
a Mata Atlântica oferecia uma vasta gama de famílias e gêneros de plantas suficientemente
semelhantes às plantas africanas culturalmente significativas. Esse processo não só permitiu a
continuidade etnobotânica entre o Velho e o Novo Mundo, mas também, em alguns casos,
mudou fundamentalmente o significado cultural de elementos botânicos da Mata Atlântica.
Um bom exemplo envolve Iroko, o deus-árvore iorubá. Na África ocidental, essa entidade
espiritual está associada com a Milicia excelsa, uma árvore alta e de tronco largo, que
"sangra" um rico látex branco. Segundo a tradição, essa árvore não pode ser plantada, pois só
pode ser associada com Iroko se crescer espontaneamente. Na Bahia, o grupo mais próximo
de espécies que se assemelham ao Iroko africano é o gênero Ficus. Os figos baianos nativos
são quase sempre de tronco largo e também produzem látex branco quando a casca é cortada.
Hoje, numerosas espécies de figo são consagradas como Iroko, no Candomblé baiano, onde
decoram o jardim da maioria dos terreiros, além de serem árvores rituais comuns, em espaços
antropogênicos.
166
A associação de características geográficas naturais da Mata Atlântica com panteões
africanos, a homogeneização transatlântica de lavouras, plantas ornamentais e ervas daninhas,
e a substituição de espécies africanas por similares brasileiras levaram a uma reconfiguração
espiritual do espaço baiano nativo e também a uma africanização botânica da paisagem
tropical, cada vez mais humanizada. Ao longo do período colonial, a Bahia foi dominada
pelas instituições políticas e sistemas socioeconômicos introduzidos pelos portugueses. Mas a
composição botânica e o significado cultural da Mata Atlântica vieram a refletir muitos dos
atributos dos africanos escravizados e livres que trabalhavam, em suas florestas e seus
campos. Apesar dos obstáculos monumentais, os africanos foram agentes importantes de
transformação cultural e ambiental da Mata Atlântica.
Conclusões
Empregando uma miríade de formas de resistência, tanto violentas como sutis, os africanos e
afrodescendentes contribuíram profundamente para as transformações coloniais e póscoloniais da Mata Atlântica baiana, apesar das brutalidades da economia escravista. A mais
famosa dessas formas de resistência à escravidão colonial foi a formação de quilombos que
ajudaram a moldar os assentamentos do sul da Bahia. No entanto, formas mais mundanas e
sutis de resistência produziram efeitos mais profundos e duradouros, nas paisagens da Mata
Atlântica. Roças de subsistência serviram como laboratórios de cultivares originários de todo
o mundo atlântico, incluindo muitos da África, como inhame, feijão fradinho e quiabo.
Fazendas de policultura com mandioca e dendezeiros passaram a dominar grande parte do sul
da Bahia e vieram a constituir a área hoje chamada de “Costa do Dendê.” Nessa região, os
conhecimentos afrobrasileiros transformaram a costa em uma verdadeira Mata Transatlântica.
Combinada com a difusão dos sistemas de crenças e práticas inspirados na África, essa
homogeneização florística forneceu recursos espirituais e mágico-medicinais para gerações
subsequentes de afrodescendentes deslocadas para a Bahia por meio do comércio de escravos.
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4
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19
20
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21
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22
169
“Correspondência Recebida da Câmara de Camamú, 1823-1887,” Arquivo Público do Estado da Bahia,
Seção de Arquivos Colônias e Províncias, maço 1282.
23
“Correspondência Recebida da Câmara de Santarém, 1824-1859,” Arquivo Público do Estado da Bahia,
Seção de Arquivos Colônias e Províncias, maço 1419. Santarém é um nome anterior da atual Ituberá.
24
“Escravos Assuntos Diversos, 1825-1887,” Arquivo Público do Estado da Bahia, Seção de Arquivos
Colônias e Províncias, maço 2896.
25
“Correspondência Recebida do Comandante das Forças Navais: Embarcação, 1822-1833,” Arquivo Público
do Estado da Bahia, Seção de Arquivos Colônias e Províncias, maço 3176.
26
“Juízes de Camamú,” Arquivo Público do Estado da Bahia, Seção de Arquivos Colônias e Províncias, maço
2298.
27
28
REIS, João José, e DA SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: A resistência negra no Brasil escravista.
São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
29
Um decreto real, em 1701, formalizou a prática ao ordenar que produtores agrícolas fornecessem a
subsistência necessária para seus trabalhadores escravizados ou lhes permitissem folga aos sábados para
produzir seus próprios alimentos, deixando os domingos e dias santos para práticas religiosas; ver Arquivo
Público do Estado da Bahia, Seção de Arquivos Colônias e Províncias, Cartas Régias, 31 janeiro 1701, v. 07,
doc. 103. Os produtores resistiam à maior parte dos componentes dessa ordem, as horas provisórias
continuaram sendo uma característica comum nas propriedades com escravos na Bahia; ver LINHARES,
Maria Yedda Leite, e SILVA, Francisco Carlos Teixeira. História da agricultura brasileira: Combates e
controvérsias. São Paulo, Brasil: Brasiliense, 1981; SCHWARTZ, Stuart B. Sugar Plantations in the
Formation of Brazilian Society: Bahia, 1550-1835. Cambridge Latin American Studies 52. Cambridge:
Cambridge University Press, 1985; SCHWARTZ, Stuart B. Slaves, Peasants, and Rebels: Reconsidering
Brazilian Slavery. Blacks in the New World. Urbana; Chicago: University of Illinois Press, 1992.
30
PYRARD DE LAVAL, )UDQoois. The Voyage of François Pyrard of Laval to the East Indies, the Maldives,
the Moluccas and Brazil. Traduzido por Albert Gray e H. C. P. Bell, vol. 2, parte 2. London: Hakluyt Society,
1890, pp. 319-320.
31
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descriptivo do Brasil em 1587. São Paulo: Typographia de João
Ignacio da Silva, 1879 [1587].
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RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brazil. São Paulo: Livraria Martins Editora,
1954 [1827-1835], pp. 180.
33
VILHENA, /Xts dos Santos. A Bahia no Século XVIII. Vol. III. Salvador: Editora Itapuá, 1969;
SCHWARTZ, Stuart B. Sugar Plantations in the Formation of Brazilian Society: Bahia, 1550-1835.
Cambridge Latin American Studies 52. Cambridge: Cambridge University Press, 1985; SCHWARTZ, Stuart
B. Slaves, Peasants, and Rebels: Reconsidering Brazilian Slavery. Blacks in the New World. Urbana;
Chicago: University of Illinois Press, 1992; BARICKMAN, Bert J. A Bahian Counterpoint: Sugar, Tobacco,
Cassava, and Slavery in the Recôncavo, 1780-1860. Stanford: Stanford University Press, 1998.
BARICKMAN, Bert J. “‘A Bit of Land, Which they call Roça’: Slave Provision Grounds in the Bahian
Recôncavo, 1780-1860”. The Hispanic American Historical Review, vol. 74, no. 4, 1994, pp. 649-87;
CARNEY, Judith A., e ROSOMOFF, Richard Nicholas. In the Shadow of Slavery: Africa’s Botanical Legacy
in the Atlantic World. Berkeley: University of California Press, 2009.
34
BARICKMAN, Bert J. A Bahian Counterpoint: Sugar, Tobacco, Cassava, and Slavery in the Recôncavo,
1780-1860. Stanford: Stanford University Press, 1998; MILLER, Shawn William. “Stilt-Root Subsistence:
Colonial Mangroves and Brazil’s Landless Poor”. Hispanic American Historical Review, vol. 83, no. 2, 2003,
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KNIGHT, Edward Frederick. The Cruise of the “Falcon”: A Voyage to South America in a 30-Ton Yacht.
Vol. 1. 2 vols. London: Sampson Low, Marston, Searle, & Rivington, 1884, p. 69.
35
36
BETTENCOURT, José de Sá. Memoria sobre a plantação dos algodões, e sua exportação; sobre a
decadencia da Lavoura de mandiocas, no Termo da Villa de Camamú, Comarca dos Ilhéos, Governo da
Bahia ... offerecida a sua Alteza Real o Principe do Brazil ... Lisboa: Officina de Simão Thaddeo Ferreira,
1798, p. 21.
MOLONEY, Alfred. “Notes on Yoruba and the Colony and Protectorate of Lagos, West Africa”.
Proceedings of the Royal Geographical Society and Monthly Record of Geography, New Monthly Series, vol.
37
170
12, no. 10, 1890, pp. 596-614; CARNEY, Judith A. “The Role of African Rice and Slaves in the History of
Rice Cultivation in the Americas”. Human Ecology, vol. 26, no. 4, 1998, pp. 525-45; SOWUNMI, M. Adebisi.
“The Significance of the Oil Palm (Elaeis guineensis Jacq.) in the Late Holocene Environments of West and
West Central Africa: A Further Consideration”. Vegetation History and Archaeobotany, vol. 8, no. 3, 1999,
pp. 199-210. FIELDS-BLACK, Edda L. Deep Roots: Rice Farmers in West Africa and the African Diaspora.
Indiana University Press, 2008.
38
FRIEDEMANN, Nina S. de, e AROCHA, Jaime. De Sol a Sol: Génesis, Transformación Y Presencia de
Los Negros En Colombia. Bogotá: Planeta, 1986; COE, Felix G., e ANDERSON, Gregory J. “Ethnobotany of
the Garífuna of Eastern Nicaragua”. Economic Botany, vol. 50, no. 1, 1996, pp. 71-107; CARNEY, Judith A.
Black Rice: The African Origins of Rice Cultivation in the Americas. Cambridge, Mass: Harvard University
Press, 2001; ESCOBAR, Arturo. Territories of Difference: Place, Movements, Life, Redes. Durham: Duke
University Press, 2008. MILLER, Ivor. Voice of the Leopard: African Secret Societies and Cuba. Oxford:
University of Mississippi, 2009.
WATKINS, Case. “Dendezeiro: African Oil Palm Agroecologies in Bahia, Brazil, and Implications for
Development”. Journal of Latin American Geography, vol. 10, no. 1, 2011, pp. 9-33; WATKINS, Case.
“African Oil Palms, Colonial Socioecological Transformation and the Making of an Afro-Brazilian Landscape
in Bahia, Brazil”. Environment and History, vol. 21, no. 1, 2015, pp. 13-42; WATKINS, Case. An AfroBrazilian Landscape: African Oil Palms and Socioecological Change in Bahia, Brazil. Tese de doutoramento.
Baton Rouge: Louisiana State University, 2015.
39
40
Arquivo Público do Estado da Bahia, Seção de Arquivos Colônias e Províncias, Cartas Régias, agosto 6,
1720, v. 6, doc. 98; MILLER, Shawn William. “Stilt-Root Subsistence: Colonial Mangroves and Brazil’s
Landless Poor”. Hispanic American Historical Review, vol. 83, no. 2, 2003, pp. 223-53.
41
SCHWARTZ, Stuart B. Slaves, Peasants, and Rebels: Reconsidering Brazilian Slavery. Blacks in the New
World. Urbana; Chicago: University of Illinois Press, 1992.
42
A constituição brasileira de 1988 consolidou o apoio federal aos quilombos, garantindo-lhes serviços
públicos e às vezes a titulação de terras para comunidades certificadas. O quilombo se tornou um instrumento
para políticas públicas, e a obtenção da formalização como quilombo é um processo político complicado e
frequentemente demorado, contestado por muitos atores sociais internos e externos. Muitas comunidades
aparentemente merecedoras consideram o processo de certificação inacessível por várias razões; MATTOS,
Hebe. “‘Terras de Quilombo’: Land Rights, Memory of Slavery, and Ethnic Identification in Contemporary
Brazil”. In: Sansone, L.; Soumonni, E.A.; Barry, B. (orgs.), Africa, Brazil, and the Construction of TransAtlantic Black Identities, Trenton; Asmara: Africa World Press, 2008, pp. 293-318. FRENCH, Jan Hoffman.
Legalizing Identities: Becoming Black or Indian in Brazil’s Northeast. Chapel Hill: University of North
Carolina Press, 2009; LEITE, Ilka Boaventura. “The Transhistorical, Juridical-Formal, and Post-Utopian
Quilombo.” In: Gledhill, J.; Schell, P.A. (orgs.), New Approaches to Resistance in Brazil and Mexico,
Durham: Duke University Press, 2012, pp. 250-268.
Em agosto de 2015, o governo brasileiro reconheceu oficialmente 2.606 comunidades quilombolas em
todo o país. A Bahia reuniu o maior número de comunidades certificadas, com 653, além de outras 189 em
vários estágios do processo. Para conhecer a certificação de quilombos em andamento, ver Fundação Cultural
Palmares, http://www.palmares.gov.br/ (acesso em agosto de 2015). Além da certificação federal, muitos
estados também reconhecem quilombos mediante processos formais separados.
43
Presente em paisagens atuais, essa estratégia de subsistência tem origem em antecedentes históricos.
Correspondência relativa a um conflito em torno do acesso a um manguezal em Cairu liga produtores de
mandioca com pescaria e outros usos do mangue em 1845, Arquivo Público do Estado da Bahia, Seção de
Arquivos Colônias e Províncias, maço 4839. E a “Relação dos terrenos occupados por differentes pessoas com
as informações a baixo declarados, 1860” do Arquivo Público do Estado da Bahia, Seção de Arquivos
Colônias e Províncias, maço 4839-1, lista pescadores igualmente dedicados ao plantio de mandioca perto de
Camamu. Ver também WATKINS, Case. “African Oil Palms, Colonial Socioecological Transformation and
the Making of an Afro-Brazilian Landscape in Bahia, Brazil”. Environment and History, vol. 21, no. 1, 2015,
pp. 13-42.
44
SCHWARTZ, Stuart B. Sugar Plantations in the Formation of Brazilian Society: Bahia, 1550-1835.
Cambridge Latin American Studies 52. Cambridge: Cambridge University Press, 1985, p. 87; SCHWARTZ,
Stuart. “Plantations and Peripheries, C. 1580 - C. 1750”. In: Bethell, L. (org.), Colonial Brazil, Cambridge:
Cambridge University Press, 1987, pp. 67-144. BARICKMAN, Bert J. A Bahian Counterpoint: Sugar,
Tobacco, Cassava, and Slavery in the Recôncavo, 1780-1860. Stanford: Stanford University Press, 1998;
171
GRAHAM, Richard. Feeding the City: From Street Market to Liberal Reform in Salvador, Brazil, 1780-1860.
Joe R. and Teresa Lozano Long Series in Latin American and Latino Art and Culture. Austin: University of
Texas Press, 2010.
45
SCHWARTZ, Stuart B. Sugar Plantations in the Formation of Brazilian Society: Bahia, 1550-1835.
Cambridge Latin American Studies 52. Cambridge: Cambridge University Press, 1985; SCHWARTZ, Stuart
B. Slaves, Peasants, and Rebels: Reconsidering Brazilian Slavery. Blacks in the New World. Urbana;
Chicago: University of Illinois Press, 1992; BARICKMAN, Bert J. A Bahian Counterpoint: Sugar, Tobacco,
Cassava, and Slavery in the Recôncavo, 1780-1860. Stanford: Stanford University Press, 1998.
46
BARICKMAN, Bert J. A Bahian Counterpoint: Sugar, Tobacco, Cassava, and Slavery in the Recôncavo,
1780-1860. Stanford: Stanford University Press, 1998, pp. 12-15.
47
SCHWARTZ, Stuart B. Slaves, Peasants, and Rebels: Reconsidering Brazilian Slavery. Blacks in the New
World. Urbana; Chicago: University of Illinois Press, 1992.
48
There were three major categories of manumission: gratis, wherein an enslaved person was freed
immediately and without condition; conditional (sometimes labelled oneroso, or onerous), wherein the
enslaved person is tasked with certain conditions to achieve freedom such as work, respect, or piety for a
certain period; and self-purchase, wherein authorities and/or manumitters assign a certain value to an enslaved
person, which he or she could pay to purchase freedom. Manumission helped foment a large population of free
and freed Afro-descendants relative to other slave-holding societies in the Americas. Manumission was most
frequent in urban areas, where earnings and knowledge of legal rights were more prevalent among the
enslaved, but the practice also occurred in rural areas, where surpluses grown in provisional plots could
generate income used to purchase freedom. By the early-nineteenth century, free and freed Afro-descendants
amounted to a majority of all residents in Bahia and elsewhere in Northeast Brazil. MATTOSO, Katia M. de
Queirós. “A Propósito de Cartas de Alforria: Bahia, 1779-1850”. Anais de História vol. 4, 1972, pp. 25–52;
SCHWARTZ, Stuart B. “The Manumission of Slaves in Colonial Brazil: Bahia, 1684-1745”. The Hispanic
American Historical Review vol. 54, no. 4, 1974, pp. 603–35; NISHIDA, Mieko. “Manumission and Ethnicity
in Urban Slavery: Salvador, Brazil, 1808-1888”. The Hispanic American Historical Review vol. 73, no. 3,
1993, pp. 361–91; KLEIN, Herbert S., and Francisco VIDAL LUNA. Slavery in Brazil. Cambridge; New
York: Cambridge University Press, 2010, cap. 9.
49
DIAS, Gentil Martins. Depois do latifúndio: continuidade e mudança na sociedade rural nordestina. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978; SCHWARTZ, Stuart B. Sugar Plantations in the Formation of Brazilian
Society: Bahia, 1550-1835. Cambridge Latin American Studies 52. Cambridge: Cambridge University Press,
1985; SCHWARTZ, Stuart B. Slaves, Peasants, and Rebels: Reconsidering Brazilian Slavery. Blacks in the
New World. Urbana; Chicago: University of Illinois Press, 1992.
50
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descriptivo do Brasil em 1587. São Paulo: Typographia de João
Ignacio da Silva, 1879 [1587]; JONES, William O. Manioc in Africa. Stanford: Stanford University Press,
1959; HARRIS, David R. “Traditional Systems of Plant Food Production and the Origins of Agriculture in
West Africa”. In: Harlan, J.R.; De Wet, J.M.J.; Stemler, A.B.L. (orgs.), Origins of African Plant
Domestication, The Hague: Mouton, 1976, pp. 311-356; CAMARGO, Maria Thereza Lemos de Arruda.
“Estudo Etnobotânico da Mandioca (Maniot esculenta Crantz Euphorbiaceae) na Diáspora Africana”. In:
Anais do Seminário Gastronomia de Gilberto Freyre, Recife: Fundação Gilberto Freyre, 2005, pp. 22-30;
VOEKS, Robert. “Ethnobotany of Brazil’s African Diaspora: The Role of Floristic Homogenization”. In:
Voeks, R.; Rashford, J. (orgs.), African Ethnobotany in the Americas. New York; London: Springer, 2012, pp.
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51
Ibid.
52
RIBEIRO, Orlando. Aspectos e Problemas da Expansão Portuguesa. Lisboa: Junta de Investigações do
Ultramar, Centro de Estudos Políticos e Sociais, 1962.
53
JONES, William O. Manioc in Africa. Stanford: Stanford University Press, 1959; HARRIS, David R.
“Traditional Systems of Plant Food Production and the Origins of Agriculture in West Africa”. In: Harlan, J.
R.; De Wet, J. M. J.; Stemler, A. B. L. (orgs.), Origins of African Plant Domestication, The Hague: Mouton,
1976, pp. 311-356; DIAS, Gentil Martins. Depois do latifúndio: continuidade e mudança na sociedade rural
nordestina. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978; BARICKMAN, Bert J. A Bahian Counterpoint: Sugar,
Tobacco, Cassava, and Slavery in the Recôncavo, 1780-1860. Stanford: Stanford University Press, 1998, pp.
12-15; CAMARGO, Maria Thereza Lemos de Arruda. “Estudo Etnobotânico da Mandioca (Maniot esculenta
172
Crantz Euphorbiaceae) na Diáspora Africana”. In: Anais do Seminário Gastronomia de Gilberto Freyre,
Recife: Fundação Gilberto Freyre, 2005, pp. 22-30;
54
HARLAN, Jack R., DE WET, Jan M. J. e STEMLER, Ann B. L. (orgs.), Origins of African Plant
Domestication. The Hague: Mouton, 1976.
55
Entrevista de 23 fevereiro de 2012.
56
Entrevista de 12 agosto de 2014.
57
VOEKS, Robert A. Sacred Leaves of Candomblé. Austin, TX: University of Texas Press, 1997; CORLEY,
R. H. V. e TINKER, P. B. H. The Oil Palm. 4th ed. Oxford; Malden: Wiley-Blackwell, 2003.
58
Entrevista de 27 fevereiro de 2012.
HARRIS, David R. “Traditional Systems of Plant Food Production and the Origins of Agriculture in West
Africa”. In: Harlan, J. R.; De Wet, J. M. J.; Stemler, A. B. L. (orgs.), Origins of African Plant Domestication,
The Hague: Mouton, 1976, pp. 311-356; VOEKS, Robert. “Ethnobotany of Brazil’s African Diaspora: The
Role of Floristic Homogenization”. In: Voeks, R.; Rashford, J. (orgs.), African Ethnobotany in the Americas.
New York; London: Springer, 2012, pp. 395-416.
59
60
CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia. Rio de Janeiro: Conquista, 1948.
61
VOEKS, Robert A. Sacred Leaves of Candomblé. Austin, TX: University of Texas Press, 1997.
62
VOEKS, Robert A. Sacred Leaves of Candomblé. Austin, TX: University of Texas Press, 1997;
RASHFORD, John. “Candomblé’s Cosmic Tree and Brazil’s Ficus Species”. In: Voeks, R.; Rashford, J.
(orgs.), African Ethnobotany in the Americas. New York; London: Springer, 2012, pp. 311-34. VOEKS,
Robert. “Ethnobotany of Brazil’s African Diaspora: The Role of Floristic Homogenization”. In: Voeks, R.;
Rashford, J. (orgs.), African Ethnobotany in the Americas. New York; London: Springer, 2012, pp. 395-416.
Aqui, estamos nos referindo especificamente aos orixás, divindades com base nas tradições Yoruba
(Candomblé Nagô), embora reconheçamos que os panteões de outras tradições africanas e brasileiras,
especialmente aquelas derivadas do Fon (Jeje) e do Bantu (Angola e Congo), se mantêm sempre presentes nas
paisagens e terreiros da Bahia.
63
NÓBREGA, Manuel da. Cartas do Brasil (1549-1560). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1886, p. 69.
64
CARNEY, Judith A., e ROSOMOFF, Richard Nicholas. In the Shadow of Slavery: Africa’s Botanical
Legacy in the Atlantic World. Berkeley: University of California Press, 2009.
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VOEKS, Robert A. Sacred Leaves of Candomblé. Austin, TX: University of Texas Press, 1997, p. 45.
66
PISO, Guilherme. História natural e médica da Índia Ocidental. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do
Livro, 1957 [1648], pp. 441-445.
67
PIRES, Vicente Ferreira. Viagem de Africa em o reino de Dahomé. Organizado por Clado Ribeiro de Lessa.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957; CAMARGO, Maria Thereza Lemos de Arruda. “Estudo
Etnobotânico da Mandioca (Maniot esculenta Crantz Euphorbiaceae) na Diáspora Africana”. In: Anais do
Seminário Gastronomia de Gilberto Freyre, Recife: Fundação Gilberto Freyre, 2005, pp. 22-30; LORDELO,
M. e MARQUES, J. “E o Caruru de Iansã se acabou? Resiliência Cultural de uma Festa de Comida em
Salvador e Feira de Santana (BA)”. II Congresso Latinamericano de Etnobiologia, Recife, 10 de novembro,
2010; VOEKS, Robert. “Ethnobotany of Brazil’s African Diaspora: The Role of Floristic Homogenization”.
In: Voeks, R; Rashford, J. (orgs.), African Ethnobotany in the Americas. New York; London: Springer, 2012,
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VOEKS, Robert A. Sacred Leaves of Candomblé. Austin, TX: University of Texas Press, 1997.
LEMAIRE, Charles Antoine. “Planche 487. ELAEIS GUINEENSIS.” L’Illustration Horticole: Journal
Spécial Des Serres et Des Jardins, Ou Choix Raisonné Des Plantes Les plus Intérressantes Sous Le Rapport
Ornemental, Comprenant Leur Histoire Complete, Leur Description Comparée, Leur Figure et Leur Culture
13 (1866): n.p. plate 487; CARNEIRO, Edison. Ladinos e crioulos: Estudos sobre o negro no Brasil. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1964, p. 72.
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CARNEY, Judith A. e VOEKS, Robert A. “Landscape Legacies of the African Diaspora in Brazil”,
Progress in Human Geography, vol. 27, no. 2, 2003, pp. 139-52; LODY, Raul Giovanni da Motta, (org.),
Dendê: Símbolo e Sabor da Bahia. Salvador: Editora Senac, 2009; CARNEY, Judith A. e ROSOMOFF,
Richard Nicholas. In the Shadow of Slavery: Africa’s Botanical Legacy in the Atlantic World. Berkeley:
70
173
University of California Press, 2009; CÂMARA CASCUDO, Luís da. História da alimentação no Brasil. 4a
ed. São Paulo: Global Editora, 2011; VOEKS, Robert. “Ethnobotany of Brazil’s African Diaspora: The Role
of Floristic Homogenization”. In: Voeks, R.; Rashford, J. (orgs.), African Ethnobotany in the Americas. New
York; London: Springer, 2012, pp. 395-416; WATKINS, Case. “African Oil Palms, Colonial Socioecological
Transformation and the Making of an Afro-Brazilian Landscape in Bahia, Brazil”. Environment and History,
vol. 21, no. 1, 2015, pp. 13-42; WATKINS, Case. An Afro-Brazilian Landscape: African Oil Palms and
Socioecological Change in Bahia, Brazil. Tese de doutoramento. Baton Rouge: Louisiana State University,
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PARSONS, J. J. “The ‘Africanization’ of the New World Tropical Grasslands”. Tubinger Geographische
Studien, vol. 34, no. 3, 1970, pp. 141-53; VERGER, Pierre. Use of plants in traditional medicine and its
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Leaves of Brazilian Candomblé.” Geographical Review, vol. 80, no. 2, 1990, pp. 118-131.
71
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PISO, Guilherme. História Natural do Brasil Ilustrada. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1948, pp.
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125; CARNEY, Judith A. “Seeds of Memory: Botanical Legacies of the African Diaspora”. In: Voeks, R;
Rashford, J. (orgs.), African Ethnobotany in the Americas. New York; London: Springer, 2012, pp. 13-34.
174