Papers by Maura Voltarelli
FronteiraZ - Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP nº 32 - julho de 2024, 2024
Este artigo propõe outro modo de olhar a poesia de Drummond por meio da análise do poema "A loja ... more Este artigo propõe outro modo de olhar a poesia de Drummond por meio da análise do poema "A loja feminina". A partir de uma metodologia da montagem de tempos, gêneros e linguagens artísticas diversas, buscamos abrir, de maneira fantasmal e erótica (sem esquecer a ambiguidade do erotismo visto por Georges Bataille), um poema que, em um jogo cênico de espelhos, artifícios e ornamentos, explora a fascinação da palavra feita imagem, da imagem feita palavra. No desenlace da cena dramática, leitor e poeta se dissolvem no "enigma de formas permutantes", a restar como mais um, entre tantos, nomes da Ninfa, essa singular personagem teórica de Aby Warburg, reproposta na contemporaneidade por Georges Didi-Huberman, presença espectral a invadir os versos. Eis que, nos movimentos tardios dessa obra poética movediça, descobrimos uma vida mais intensa - a vida das imagens, pensada por Baudelaire, Walter Benjamin, Giorgio Agamben e Emanuele Coccia.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Revista do Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea, 2013
“Um hábito, talvez uma segunda natureza de todos os que têm o vício egrégio de conviver... more “Um hábito, talvez uma segunda natureza de todos os que têm o vício egrégio de conviver com mitos, com a circunstância inau-gural daquele mundo vicioso [...] de ninfas e de fontes, de deuses e de musas. [...] Como o Poema, a Grécia é hóspede e hospedeira permanente do Poeta” (Mourão, 1999, p. 31). Ao escapar por entre nossos ávidos dedos, a obra poética de Dora Ferreira da Silva se faz transpoética por excelência. Se tivéssemos que escolher um caminho para nos aproximar dela, seria aquele que aponta para o mundo dos gregos antigos: a Grécia Arcaica. Por isso, buscamos explorar as sombras de sua poesia, a fascinação do logos, o pensamento do mito, o equilíbrio que também transborda. Buscamos dizer que, nessa poesia, os elementos sempre se conciliam, os opostos se integram, tendo cada um sua importância, não sendo um maior que o outro, porque o destino maior dessa poética do mito é, antes de tudo, o poema; mas não qualquer poema e sim o poema como transpoema, ou seja, como mistério, passagem e transparência, como aquilo que não se vê, que está além do poeta, pois vem antes dele, mas que também está nele; o poema onde moram e sempre podem falar os deuses.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Teresa - Revista de Literatura Brasileira, 2023
Este artigo busca pensar as figurações da Ninfa enquanto forma feminina em movimento na poesia de... more Este artigo busca pensar as figurações da Ninfa enquanto forma feminina em movimento na poesia de João Cabral de Melo Neto. Para desdobrar o que vemos como uma luta tensa com o fluido na poética cabralina, propomos uma leitura de “Estudos para uma bailadora andaluza” em seus ritmos intermitentes de contenção e explosão, próprios do flamenco, em que as variações de um corpo em dança são também as variações de uma obra que se abre em sua tensão dialética fundamental.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Revista Letras, 2023
Este artigo tem como objetivo aproximar a figura de Diadorim daquela da Ninfa, tal como pensada p... more Este artigo tem como objetivo aproximar a figura de Diadorim daquela da Ninfa, tal como pensada pelo historiador da arte alemão Aby Warburg. Mais especificamente, a partir do trágico enlace de desejo, violência e morte, aproximamos Diadorim daquela que Georges Didi-Huberman chamou em recente estudo a Ninfa dolorosa, pensando nas imagens de lamento e imprecação, de dor e revolta, e mesmo na justa vingança que, ao lado da memória, move a constelação de imagens que tece a narração de Riobaldo. A partir dessa aproximação que existe como dobra de uma figura na outra, buscamos pensar o Grande Sertão: Veredas como um livro nínfico, ou seja, um livro cuja natureza (demoníaca) é de Ninfa, e a configuração na obra daquilo que chamamos uma "poética da imagem" que não conhece fim ou início, apenas o fluxo infinito da travessia.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Visualidades, 2022
Este artigo tem como objetivo pensar o filme Limite, de Mário Peixoto, em diálogo com alguns desd... more Este artigo tem como objetivo pensar o filme Limite, de Mário Peixoto, em diálogo com alguns desdobramentos da pesquisa sobre as sublevações que vem sendo desenvolvida, ao longo dos últimos anos, pelo filósofo e historiador da arte francês Georges Didi-Huberman. Limite nos apresenta o que chamamos uma sublevação do desejo-que encontra na imagem da Ninfa, tal como vista pelo historiador da arte alemão Aby Warburg, uma de suas máximas expressões. Essa sublevação do desejo seria construída a partir do protagonismo do elemento fluido, com o que nele há de inapreensível, tempestuoso e metamórfico, a costurar os muitos limiares que suspendem esse filme rítmico entre vida e morte, imobilidade e movimento, exuberância e melancolia, lamento e revolta.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Scripta Uniandrade , 2021
Esse artigo, com traços ensaísticos, busca pensar as figurações da Ninfa enquanto forma feminina ... more Esse artigo, com traços ensaísticos, busca pensar as figurações da Ninfa enquanto forma feminina em movimento, tal como vista pelo historiador da arte alemão Aby Warburg, na poesia de Carlito Azevedo. Para tanto, fazemos uma leitura de dois poemas publicados originalmente no livro Collapsus linguae que permitem ver o que chamamos uma sobrevivência dessa imagem vinda da Antiguidade e, ao mesmo tempo, sinalizam uma aproximação entre a ninfa e a escrita poética, ou, entre a imagem e a palavra. Ao conceber-se como imagem, a poesia de Carlito Azevedo se escreve de dentro mesmo de sua própria impossibilidade, criando uma outra temporalidade menos linear e mais anacrônica.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Revista Terceira Margem (UFRJ), 2021
Resenha crítica, de viés ensaístico, da obra Sombrio Ermo Turvo, de Veronica Stigger, publicada e... more Resenha crítica, de viés ensaístico, da obra Sombrio Ermo Turvo, de Veronica Stigger, publicada em abril de 2019.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Afluente: Revista de Letras e Linguística , 2020
A partir de uma zona de deslizamento entre a palavra e a imagem, este artigo busca pensar um dos ... more A partir de uma zona de deslizamento entre a palavra e a imagem, este artigo busca pensar um dos desdobramentos da imagem de Vênus na obra de Manuel Bandeira por meio da análise mais detida do poema "Balada das três mulheres do sabonete araxá". Em Ninfas (2012), Giorgio Agamben nos lembra que Vênus sempre foi vista na mitologia clássica como a "rainha das ninfas". É a partir desse vínculo entre o reino de Vênus e o das ninfas que trazemos neste artigo a figura da Ninfa enquanto forma feminina em movimento, tal como foi pensada pelo historiador da arte alemão Aby Warburg, e que é, na atualidade, objeto de estudo de nomes como Giorgio Agamben, Georges Didi-Huberman e Roberto Calasso. Os resultados ou as "conclusões" sugeridas pelo artigo, que adota como metodologia a ideia da montagem de imagem e tempo proposta por Warburg nas pranchas do seu Atlas Mnemosyne, apontam para um cenário em que ao surgir como uma espécie de metáfora para os "paraísos perdidos" aos quais se lança a todo momento a poética bandeiriana, essa imagem ambígua, de uma estrela que é também uma mulher, permite suspender tal poética em um entrelugar, deixando vir à tona vínculos insuspeitados entre essa poesia de destacados traços modernistas e um momento anterior , ainda sem um nome adequado em nossa historiografia literária, no qual essa fluida forma feminina, ao mesmo tempo sobrevivente do passado e índice histórico de sua época (DIDI-HUBERMAN, 2013); (AGAMBEN, 2012), (BENJAMIN, 2018), volta a nos assombrar.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Anais do XV Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada - ABRALIC, 2017
Este trabalho tem como objetivo pensar a imagem da Ninfa na poesia moderna e contemporânea brasil... more Este trabalho tem como objetivo pensar a imagem da Ninfa na poesia moderna e contemporânea brasileira. Objeto de reflexão de Giorgio Agamben, Georges Didi-Huberman e Aby Warburg, a Ninfa surge, no contexto da literatura brasileira, de forma mais expressiva no período chamado de "pré-modernismo" e continua a aparecer ao longo do século XX, chegando também à poesia contemporânea. A partir de sua complexidade, buscamos ver o quanto essa imagem desarranja as narrativas usuais da história da literatura moderna brasileira, permitindo encontrar, no lugar de simples rupturas, vínculos insuspeitados entre um momento e outro, dobras temporais, contra-movimentos sintomáticos. Palavras-chave: Ninfa; Poesia brasileira; Crítica literária; Imagem; Forma Eu quero a estrela da manhã/ Onde está a estrela da manhã?/ Meus amigos meus inimigos/ Procurem a estrela da manhã. Esses são os versos que abrem o livro Estrela da manhã, de Manuel Bandeira, publicado em 1936 em uma pequena edição de 47 exemplares. Nos poemas que compõem o livro, é possível perceber o movimento de "desentranhar a poesia do mundo", lembrado por Davi Arrigucci Jr. em Humildade, Paixão e Morte: a poesia de Manuel Bandeira (1990), e que corresponderia a um dos procedimentos modernos de sua poética, refletindo um diálogo com as discussões modernistas do período que buscavam justamente ampliar os limites, o espaço da literatura, fazendo com que esta fosse em direção ao simples imerso no cotidiano e dali conseguisse extrair "como quem tira o metal nobre das entranhas da terra" (ARRIGUCCI, 1990, p. 30), a poesia latente. Mas talvez seja interessante recuar um pouco no tempo e ver como Bandeira, nos seus primeiros livros, realiza algo como uma mescla de romantismo, simbolismo e parnasianismo no contexto de um período intervalar que, por falta de nome melhor, ficou conhecido como "pré-modernismo". Esse momento, que corresponderia ao período entre 1890 e 1920, é pensado por José Paulo Paes no ensaio "O art nouveau na literatura brasileira", presente em Gregos & baianos (1985).
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea (UFRJ), 2019
Este trabalho tem como objetivo pensar as figurações da Ninfa enquanto forma feminina em moviment... more Este trabalho tem como objetivo pensar as figurações da Ninfa enquanto forma feminina em movimento, tal como vista por Aby Warburg e Georges Didi-Huberman, em dois poemas de Donizete Galvão: “Os olhos de Charlotte Rampling”, de Pelo corpo (2002), e “Ruminadouro”, de Ruminações (1999). Mineiro de Borda da Mata, Donizete Galvão construiu uma poesia atravessada pela tensão entre delicadeza e profundidade, corpo e cosmo, morte e vida, construção e inspiração. “Antropófago da memória”, como observou Paulo Octaviano Terra, a infância e os mortos ocupam um lugar fundamental nessa “poesia menor” atenta aos fragmentos, aos resíduos e ruínas, à poeira das coisas desgastadas e levadas pelo tempo. Seguindo de perto os rastros de Drummond e, em alguns aspectos, os de Bandeira, a dimensão da “vida que podia ter sido e que não foi” também ocupa um lugar de destaque nessa poética do desejo, mas que deseja antes de tudo o perdido, o entrevisto, o que apenas passa diante de nossos olhos como um fantasma, um sintoma errante e convulsivo que inquieta nossos tradicionais modelos de temporalidade, deixando vir à tona vínculos insuspeitados entre a contemporaneidade poética e aquela que talvez possamos chamar uma cultura literária fin de siècle.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Revista Cerrados, 2018
Neste artigo, refletimos sobre algumas questões relacionadas à figura da Ninfa, tal como pensada ... more Neste artigo, refletimos sobre algumas questões relacionadas à figura da Ninfa, tal como pensada pelo historiador da arte alemão Aby Warburg, tomando como ponto de partida a sua complexidade enquanto imagem de natureza dialética que insiste em aparecer, como um sintoma que resiste e sobrevive, chegando até a modernidade e o contemporâneo, sendo capaz de ainda provocar fascínio e perturbação, de continuamente gerar novos sentidos e significados. A partir de uma reflexão sobre a imagem da Ninfa na modernidade, buscamos pensar as aparições dessa figura feminina em movimento no poema "The Waste Land", de T.S. Eliot. Palavras-chave: Ninfa. "The Waste Land". T. S. Eliot. Poesia ABSTRACT: In this article, we reflect on some issues related to the figure of the Nymph, as thought by the German art historian Aby Warburg, taking as starting point her complexity as a dialectical image that insists on appearing as a symptom that resists and survives, reaching up to modernity and the contemporary, being able to still provoke fascination and disturbance, to continuously generates new senses and meanings. From a reflection on Nymph's image in modernity, we sought to think of the appearances of this female figure in motion in the poem "The Waste Land", by T.S. Eliot.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Cadernos do IL, 2018
O artigo tem como objetivo aproximar a reflexão sobre a antipoesia, desenvolvida pelo
poeta franc... more O artigo tem como objetivo aproximar a reflexão sobre a antipoesia, desenvolvida pelo
poeta francês Francis Ponge, da tradição moderna e contemporânea da poesia brasileira, pensando, particularmente, a questão da contrapoesia ou da antipoesia na obra do poeta Carlos Drummond de Andrade. O artigo se concentra no livro Claro Enigma, publicado em 1951, onde parece se realizar justamente uma intensificação da questão poética pelo aspecto de auto-crítica da poesia que atravessa a obra, reforçado, de certa forma, pelo seu tom de desencanto.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Revista de Letras Norte@mentos , 2018
A partir da importância do conceito psicanalítico de " trauma " para a cultura desde o início do ... more A partir da importância do conceito psicanalítico de " trauma " para a cultura desde o início do século XX, este artigo busca compreender como esse conceito aparece na obra de Baudelaire, obra fundamental para a compreensão da modernidade que, segundo Walter Benjamin, estaria marcada pela " vivência do choque ". Neste sentido, Benjamim pensa a poesia de Baudelaire como uma poesia que teria incorporado na sua própria estrutura a noção de choque. Ao passar pela relação ambígua do poeta com a multidão, Benjamin nos sugere uma relação ambígua de Baudelaire com a própria modernidade, deslocando a sua poesia dos lugares tradicionais.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Revista Palimpsesto , 2017
O artigo busca, a partir de uma análise das imagens do poema Cobra Norato, de Raul Bopp, estabele... more O artigo busca, a partir de uma análise das imagens do poema Cobra Norato, de Raul Bopp, estabelecer algumas relações com a teoria do Perspectivismo Ameríndio, do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, e também com a noção de Antropofagia, pensada no contexto do Movimento Modernista por Oswald de Andrade. A partir de um cruzamento dessas duas formas de pensamento com a forma literária do poema, a intenção é mostrar como Bopp construiu uma obra onde as questões fundamentais da cultura e pensamento indígena aparecem de forma bastante natural, como se o poeta, em um exercício antropófago, de fato "virasse índio".
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Revista Arte & Ensaios , 2017
Resenha da exposição Soulèvements, que teve curadoria do filósofo e historiador da arte francês G... more Resenha da exposição Soulèvements, que teve curadoria do filósofo e historiador da arte francês Georges Didi-Huberman.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Talks by Maura Voltarelli
Entrevista - Como eu escrevo, 2020
Entrevista concedida ao blog "Como eu escrevo", de José Nunes, em 15 de fevereiro de 2020.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Books by Maura Voltarelli
O Sequestro da Ninfa - Ofícios Terrestres Edições, 2024
O livro é fruto de pesquisa de pós-doutorado realizada no Departamento de Teoria Literária e Lite... more O livro é fruto de pesquisa de pós-doutorado realizada no Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da FFLCH/USP, com bolsa Fapesp e supervisão de Roberto Zular. A pesquisa foi complementada com um período de estudos na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris, sob a supervisão de Georges Didi-Huberman.
Crítica e interpretação 2. Ensaios brasileiros 3. Literatura brasileira I. Título. 24-191064 CDD-B869.409 Todos os direitos desta edição reservados à Oficios Terrestres Edições
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Amar, depois de perder: uma poética da Ninfa (Ofícios Terrestres Edições) , 2021
A Ninfa de Aby Warburg adquire o estatuto de um personagem teórico que encarna alguns dos conceit... more A Ninfa de Aby Warburg adquire o estatuto de um personagem teórico que encarna alguns dos conceitos fundamentais desenvolvidos pelo historiador da arte alemão. Entre eles, estão a ideia de Pathosformel (a “fórmula de pathos”, a emoção, o desejo, o afeto, as paixões humanas expressas em gestos, fórmulas visuais que se repetem e se singularizam no tempo) e a de Nachleben, a vida póstuma das imagens, pensada por Warburg a partir da sobrevivência dos gestos da Antiguidade ao longo da cultura
ocidental e que se dá a ver em um dos seus projetos principais, o atlas de imagens Mnemosyne, essa exuberante montagem de imagem e tempo. Mas a Ninfa também alegoriza conceitos complexos pensados por Walter Benjamin, como aquele de “imagem dialética” (a constelação formada pelo choque do Outrora com o Agora) e mesmo o multifacetado e móvel conceito de “aura” (a aparição única de uma coisa distante por mais próxima que ela esteja). A Ninfa encarna um modo de pensamento dialético que se faz nos intervalos, nas tensões e nas fraturas; um
modo de pensamento por imagens que não prevê um sentido definitivo, uma essência última e primeira, que existe, ao contrário, no permanente trânsito entre as coisas, os tempos, os lugares, na travessia das relações subterrâneas desdobradas ao infinito.
A eternidade efêmera que se desprende desse ser de relance, convulsivo, metamórfico e indomável, que aparece apenas para desaparecer, deixando no ar um rastro de aroma antigo, parece estar refletida no que escreveu Marcel Proust: “os mais belos paraísos são aqueles que
perdemos”, e também no verso de Carlos Drummond de Andrade que compõe o título deste livro: Amar, depois de perder.
Esse estudo, que lança um outro olhar sobre as poéticas de Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Donizete Galvão e Carlito Azevedo é, antes de qualquer outra coisa, um abrir-se ao fascínio das imagens que só podem ser capturadas quando perdidas, como sucede com o real, com a própria vida.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Literatura, imagem e mídias - PUBLICAÇÕES ABRALIC 2020-2021, 2021
O texto apresenta os principais movimentos de nossa atual pesquisa de pós-doutorado, cujo objetiv... more O texto apresenta os principais movimentos de nossa atual pesquisa de pós-doutorado, cujo objetivo é pensar as figurações da Ninfa – entendida enquanto forma feminina em movimento – na obra de Carlos Drummond de Andrade. A partir da sobrevivência dessa imagem vinda da Antiguidade pagã e das suas metamorfoses na poesia de Drummond, pretendemos problematizar o lugar que tal obra ocupa em nossa historiografia literária,
vendo-a não como encarnação e expressão máxima da ideologia modernista marcada pela ruptura entre diferentes momentos históricos, mas sim como uma obra que talvez seja das mais complexas de nossa literatura, na qual o impulso rumo ao novo convive com toda sorte de anacronismos e sobrevivências. No lugar de superações e oposições, parecem se insinuar nas imagens poéticas de Drummond vínculos insuspeitados, enlaces de tempos que apontam para uma historiografia poética menos linear e mais sintomática. A Ninfa nos propõe, neste sentido, um modelo trans-histórico que implode os muros, os esquemas, os estilos, as identidades, abrindo caminho para pensar a obra de Drummond não como uma obra bem resolvida e acabada em si mesma, e sim como uma obra-acidente, atravessada por inquietudes fundamentais, mostrando-se errante, convulsiva, esquiva feito Ninfa. O desejo erótico, do qual a Ninfa é imagem, surge, em nossa hipótese, como uma espécie de rio subterrâneo a atravessar toda poesia de Drummond, assumindo diferentes posições nos três movimentos que propomos em nossa hipótese de leitura. Tal hipótese consiste em ver a obra de Drummond como uma sinfonia, ou uma coreografia poética, composta por três movimentos principais, que são também três modos de existência das ninfas, cujos contornos buscaremos delinear. Ao desejo “sequestrado” em um primeiro momento, restou a opção de se disfarçar, se deformar, se desfigurar, até que, na deflagração da crise, tal desejo acorre sutilmente à superfície, preparando um gesto poético visível nos últimos livros de Drummond que restitui ao erotismo seu estatuto político.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Thesis Chapters by Maura Voltarelli
Repositório da Produção Científica e Intelectual da Unicamp, 2019
Este trabalho tem como objetivo pensar as figurações da Ninfa na poesia moderna e contemporânea b... more Este trabalho tem como objetivo pensar as figurações da Ninfa na poesia moderna e contemporânea brasileira. Estudada por nomes como Giorgio Agamben, Georges Didi-Huberman e Aby Warburg, a Ninfa é, antes de tudo, um personagem teórico que encarna ou representa os conceitos fundamentais formulados pelo historiador da arte alemão Aby Warburg. Entre eles, estão a ideia de Pathosformel (fórmula de pathos) e a de Nachleben, a vida póstuma das imagens, pensada por Warburg a partir da sobrevivência dos gestos da antiguidade ao longo da cultura ocidental e expressa em um dos seus projetos principais, o atlas de imagens que ele chamou "Mnemosyne". A partir da complexidade estética e temporal de uma imagem como a da Ninfa, buscamos pensar o quanto essa figura mítica desarranja as narrativas usuais da história da literatura moderna brasileira, nos permitindo ver vínculos insuspeitados entre os momentos moderno e contemporâneo, de um lado, e momentos anteriores, sobretudo aquele período que ficou conhecido, por falta de nome melhor, como "pré-modernismo". Ou seja, ali onde os historiadores literários marcados pelo discurso do modernismo veem (ou esperam ver) sobretudo rupturas (entre a cultura literária do século XIX - que talvez possamos chamar uma cultura literária fin de siècle - e a do século XX), podemos ver antes reaparições, continuidades intermitentes, enlaces de tempos, que apontam para uma historiografia poética menos linear e mais sintomática. A Ninfa nos propõe, neste sentido, um modelo trans-histórico que implode os muros, os esquemas, os estilos, as identidades. No lugar de obras bem resolvidas, acabadas em si mesmas, propomos compreender obras como a de Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, e, em direção ao momento contemporâneo, obras como a de Donizete Galvão e Carlito Azevedo, como obras complexas, errantes, convulsivas, que perturbam o tempo cronológico e criam uma outra temporalidade feita de anacronismos e sobrevivências. Vale ainda dizer que o que chamamos uma cultura literária fin de siècle é recuperada neste trabalho por reconhecermos no art nouveau e em sua estética do desejo o momento no qual a Ninfa, entendida enquanto forma feminina em movimento, acorre novamente à superfície, chegando ao início do século XX como uma forma sobrevivente do passado e, ao mesmo tempo, um índice histórico de sua época. A presença sintomática da Ninfa na poesia brasileira também nos permite pensar o quanto essa imagem ambígua, inapreensível, que se constitui de uma montagem e uma tensão de potências opostas, sendo ao mesmo tempo evanescente e corpórea, inocente e mortífera, impassível e erótica, tem a nos dizer sobre as próprias tensões que atravessam nossa historiografia poética. Da mesma forma, enquanto "imagem sobrevivente" que não cessa de fluir e refluir, encenando inúmeras metamorfoses (serva florentina, Salomé dançante, anjo protetor, mênade delirante, Vitória romana, Vênus impassível), a Ninfa encarna em si mesma a capacidade da poesia em resistir e reinventar-se nessa época hostil; em ser, como a Ninfa, aquela que vive depois de morta, uma espécie de fantasma do tempo.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Uploads
Papers by Maura Voltarelli
poeta francês Francis Ponge, da tradição moderna e contemporânea da poesia brasileira, pensando, particularmente, a questão da contrapoesia ou da antipoesia na obra do poeta Carlos Drummond de Andrade. O artigo se concentra no livro Claro Enigma, publicado em 1951, onde parece se realizar justamente uma intensificação da questão poética pelo aspecto de auto-crítica da poesia que atravessa a obra, reforçado, de certa forma, pelo seu tom de desencanto.
Talks by Maura Voltarelli
Books by Maura Voltarelli
Crítica e interpretação 2. Ensaios brasileiros 3. Literatura brasileira I. Título. 24-191064 CDD-B869.409 Todos os direitos desta edição reservados à Oficios Terrestres Edições
ocidental e que se dá a ver em um dos seus projetos principais, o atlas de imagens Mnemosyne, essa exuberante montagem de imagem e tempo. Mas a Ninfa também alegoriza conceitos complexos pensados por Walter Benjamin, como aquele de “imagem dialética” (a constelação formada pelo choque do Outrora com o Agora) e mesmo o multifacetado e móvel conceito de “aura” (a aparição única de uma coisa distante por mais próxima que ela esteja). A Ninfa encarna um modo de pensamento dialético que se faz nos intervalos, nas tensões e nas fraturas; um
modo de pensamento por imagens que não prevê um sentido definitivo, uma essência última e primeira, que existe, ao contrário, no permanente trânsito entre as coisas, os tempos, os lugares, na travessia das relações subterrâneas desdobradas ao infinito.
A eternidade efêmera que se desprende desse ser de relance, convulsivo, metamórfico e indomável, que aparece apenas para desaparecer, deixando no ar um rastro de aroma antigo, parece estar refletida no que escreveu Marcel Proust: “os mais belos paraísos são aqueles que
perdemos”, e também no verso de Carlos Drummond de Andrade que compõe o título deste livro: Amar, depois de perder.
Esse estudo, que lança um outro olhar sobre as poéticas de Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Donizete Galvão e Carlito Azevedo é, antes de qualquer outra coisa, um abrir-se ao fascínio das imagens que só podem ser capturadas quando perdidas, como sucede com o real, com a própria vida.
vendo-a não como encarnação e expressão máxima da ideologia modernista marcada pela ruptura entre diferentes momentos históricos, mas sim como uma obra que talvez seja das mais complexas de nossa literatura, na qual o impulso rumo ao novo convive com toda sorte de anacronismos e sobrevivências. No lugar de superações e oposições, parecem se insinuar nas imagens poéticas de Drummond vínculos insuspeitados, enlaces de tempos que apontam para uma historiografia poética menos linear e mais sintomática. A Ninfa nos propõe, neste sentido, um modelo trans-histórico que implode os muros, os esquemas, os estilos, as identidades, abrindo caminho para pensar a obra de Drummond não como uma obra bem resolvida e acabada em si mesma, e sim como uma obra-acidente, atravessada por inquietudes fundamentais, mostrando-se errante, convulsiva, esquiva feito Ninfa. O desejo erótico, do qual a Ninfa é imagem, surge, em nossa hipótese, como uma espécie de rio subterrâneo a atravessar toda poesia de Drummond, assumindo diferentes posições nos três movimentos que propomos em nossa hipótese de leitura. Tal hipótese consiste em ver a obra de Drummond como uma sinfonia, ou uma coreografia poética, composta por três movimentos principais, que são também três modos de existência das ninfas, cujos contornos buscaremos delinear. Ao desejo “sequestrado” em um primeiro momento, restou a opção de se disfarçar, se deformar, se desfigurar, até que, na deflagração da crise, tal desejo acorre sutilmente à superfície, preparando um gesto poético visível nos últimos livros de Drummond que restitui ao erotismo seu estatuto político.
Thesis Chapters by Maura Voltarelli
poeta francês Francis Ponge, da tradição moderna e contemporânea da poesia brasileira, pensando, particularmente, a questão da contrapoesia ou da antipoesia na obra do poeta Carlos Drummond de Andrade. O artigo se concentra no livro Claro Enigma, publicado em 1951, onde parece se realizar justamente uma intensificação da questão poética pelo aspecto de auto-crítica da poesia que atravessa a obra, reforçado, de certa forma, pelo seu tom de desencanto.
Crítica e interpretação 2. Ensaios brasileiros 3. Literatura brasileira I. Título. 24-191064 CDD-B869.409 Todos os direitos desta edição reservados à Oficios Terrestres Edições
ocidental e que se dá a ver em um dos seus projetos principais, o atlas de imagens Mnemosyne, essa exuberante montagem de imagem e tempo. Mas a Ninfa também alegoriza conceitos complexos pensados por Walter Benjamin, como aquele de “imagem dialética” (a constelação formada pelo choque do Outrora com o Agora) e mesmo o multifacetado e móvel conceito de “aura” (a aparição única de uma coisa distante por mais próxima que ela esteja). A Ninfa encarna um modo de pensamento dialético que se faz nos intervalos, nas tensões e nas fraturas; um
modo de pensamento por imagens que não prevê um sentido definitivo, uma essência última e primeira, que existe, ao contrário, no permanente trânsito entre as coisas, os tempos, os lugares, na travessia das relações subterrâneas desdobradas ao infinito.
A eternidade efêmera que se desprende desse ser de relance, convulsivo, metamórfico e indomável, que aparece apenas para desaparecer, deixando no ar um rastro de aroma antigo, parece estar refletida no que escreveu Marcel Proust: “os mais belos paraísos são aqueles que
perdemos”, e também no verso de Carlos Drummond de Andrade que compõe o título deste livro: Amar, depois de perder.
Esse estudo, que lança um outro olhar sobre as poéticas de Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Donizete Galvão e Carlito Azevedo é, antes de qualquer outra coisa, um abrir-se ao fascínio das imagens que só podem ser capturadas quando perdidas, como sucede com o real, com a própria vida.
vendo-a não como encarnação e expressão máxima da ideologia modernista marcada pela ruptura entre diferentes momentos históricos, mas sim como uma obra que talvez seja das mais complexas de nossa literatura, na qual o impulso rumo ao novo convive com toda sorte de anacronismos e sobrevivências. No lugar de superações e oposições, parecem se insinuar nas imagens poéticas de Drummond vínculos insuspeitados, enlaces de tempos que apontam para uma historiografia poética menos linear e mais sintomática. A Ninfa nos propõe, neste sentido, um modelo trans-histórico que implode os muros, os esquemas, os estilos, as identidades, abrindo caminho para pensar a obra de Drummond não como uma obra bem resolvida e acabada em si mesma, e sim como uma obra-acidente, atravessada por inquietudes fundamentais, mostrando-se errante, convulsiva, esquiva feito Ninfa. O desejo erótico, do qual a Ninfa é imagem, surge, em nossa hipótese, como uma espécie de rio subterrâneo a atravessar toda poesia de Drummond, assumindo diferentes posições nos três movimentos que propomos em nossa hipótese de leitura. Tal hipótese consiste em ver a obra de Drummond como uma sinfonia, ou uma coreografia poética, composta por três movimentos principais, que são também três modos de existência das ninfas, cujos contornos buscaremos delinear. Ao desejo “sequestrado” em um primeiro momento, restou a opção de se disfarçar, se deformar, se desfigurar, até que, na deflagração da crise, tal desejo acorre sutilmente à superfície, preparando um gesto poético visível nos últimos livros de Drummond que restitui ao erotismo seu estatuto político.